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PESQUISAS APLICADAS NO
RIO GRANDE DO SUL
Organizadores:
Maciel Donato
Lauren da Cunha Duarte
Porto Alegre - RS
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Geociências
2016
Gemas, Joias e Mineração: Pesquisas Aplicadas no Rio Grande do Sul.
/ Organizadores: Maciel Donato; Lauren da Cunha Duarte. –
Porto Alegre : IGEO/UFRGS. 2016.
120 p.
ISBN: 978-85-61424-47-3
1. Gemas. 2. Jóias. 3. Mineração. I. Donato, Maciel. II. Duarte,
Lauren da Cunha. III. Centro Tecnológico de Pedras, Gemas
e Jóias do Rio Grande do Sul. IV. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul: Instituto de Geociências. V. Título.
CDU 552/553
Biblioteca Geociências - UFRGS
Renata Cristina Grün – CRB 10/1113
Maciel Donato
Lauren da Cunha Duarte
Organizadores
3
Sumário
5
A interação entre a lava e o sedimento e sua
relação com o preenchimento dos geodos silicosos
no Rio Grande do Sul, Brasil: O exemplo da região do
Distrito Mineiro de Salto do Jacuí (DMSJ)
Michelin, C.R.L 1; Mizusaki, A.M.P.2
2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Escola Politécnica – Avenida Unisinos, 950, São Leopoldo,
Rio Grande do Sul, Brasil.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências -Avenida Bento Gonçalves, 9500,
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil (cassimichelin@gmail.br, ana.mizusaki@ufrgs.br)
1. Introdução
No Rio Grande do Sul os geodos preenchidos por minerais silicosos (ágata, ame-
tista, citrino, opala) estão hospedados em rochas da Bacia do Paraná, cuja porção de topo é
caracterizada pela presença de um espesso pacote constituído por derrames de rochas vulcâ-
nicas básicas e ácidas, eventualmente intercalados por intertraps de arenitos. Tal ocorrência
permitiu a interação destes arenitos e das lavas, ocasionando feições características como
brechas, diques de arenito e fraturas preenchidas por sedimentos. Feições de interação entre
lava e sedimentos também podem ser observadas em outros locais da Bacia do Paraná e,
em outras regiões como no Karroo (África do Sul) (Jerran et al., 1999), equivalente a esta
formação.
No entanto, é na região do Distrito Mineiro do Salto do Jacuí (DMSJ), na porção
mais ao sul da Bacia do Paraná (Fig. 1), onde ocorre a maior produção mundial de ágata,
que esta situação se torna interessante. Isto porque muito se tem discutido sobre a interação
entre as lavas e os sedimentos, mas poucos estudos referentes à sua possível influência na
mineralização de ágata foram desenvolvidos.
O Distrito Mineiro do Salto do Jacuí (DMSJ, Santos et al. 1998) abrange uma
área de 250 km2 sendo que o município de Salto do Jacuí está inserido no Distrito e repre-
senta o maior produtor de ágata, embora o distrito também compreenda os municípios de
Campos Borges, Fortaleza dos Valos, Segredo, Sobradinho, Espumoso e Arroio do Tigre.
Esta área foi individualizada com base nas informações disponíveis nos títulos minerários,
isto é, relatórios finais de pesquisa, licenciamentos, planos de lavra e permissões de lavra
garimpeira, complementado através de pesquisas bibliográficas. Segundo o autor, a maioria
das frentes de lavra estão localizadas nas margens do rio Jacuí e de seus afluentes, onde os
geodos são extraídos a céu aberto (Santos et al., 1998).
No derrame vulcânico mineralizado, a ágata ocorre associada a opala, calcedônia,
quartzo incolor e calcita, preenchendo geodos com forma elíptica-alongada e diâmetros
entre 10 e 25 cm, conforme figura 1. A relação existente entre os depósitos de ágata e in-
teração entre lava e sedimento até o momento não é um consenso entre os pesquisadores
da área. Para os garimpeiros, o arenito é chamado de “remonte” e é considerado como um
guia prospectivo para a explotação da ágata. Para outros autores, no entanto, não se observa
6
nenhuma relação entre a presença de arenito e a ágata (Matzui et al., 1974).
Com o intuito de trazer novas informações sobre a ocorrência de ágata no DMSJ,
foram analisadas as feições de interação entre lava e sedimento na região e sua possível
associação com as mineralizações de ágata. Além de um trabalho de campo detalhado, prio-
rizando as principais feições resultantes desta interação, estas foram estudadas com análises
petrográficas.
Inseridas na Bacia do Paraná, as unidades de interesse deste estudo, que são as
rochas vulcânicas da Formação Serra Geral e os sedimentos eólicos da Formação Botucatu,
constituem, no conjunto, a Supersequência Gondwana III (Supersequência jurássica-eocre-
tácea) proposta por Milani (1997).
A Formação Botucatu apresenta uma área superior a 1,6 milhões km2, cobrindo
porções do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, com espessuras entre 80 e 400 m, sendo
que as maiores espessuras se encontram na porção noroeste da Bacia (Milani, 1997). O
contato basal é discordante com os depósitos areno - pelíticos da Formação Rio do Rastro e
o contato superior é concordante a interdigitado com os derrames da Formação Serra Geral.
Esta unidade é constituída por arenitos de cor rosada, granulometria fina a média, grãos
arredondados e de aspecto fosco. Estas características associadas a presença de estratificação
cruzada tangencial, de médio a grande porte, numa assinatura faciológica característica,
possibilita o reconhecimento do chamado “Deserto Botucatu”. A presença de lentes de are-
nito intertrap na base da Formação Serra Geral é indicativa de que as condições desérticas
persistiram durante o evento vulcânico (Milani et al., 1998).
A manifestação magmática que origina a Formação Serra Geral, associa-se aos
estágios precoces da ruptura do Gondwana e abertura do Atlântico Sul, que resultou no
empilhamento de até 2.000 m de basalto sobre os sedimentos da Bacia do Paraná.
Figura 1: Localização do DMSJ na Bacia do Paraná. Detalhe dos garimpos a céu aberto (modif. GOOGLE
EARTH 2014). Detalhe dos geodos e modo de ocorrência no derrame mineralizado. A – Derrame mineralizado,
demarcando geodo de ágata e basalto com feições de alteração proeminentes. B – Geodo de ágata ainda no derrame 7
mineralizado. C – Geodo preenchido predominantemente por ágata.
2. Métodos
3. Resultados e discussões
Figura 2: Esboço esquemático representativo das feições de interação entre lava e sedimento.
8
Como diques de arenito são designadas as fraturas verticalizadas, da base para o
topo dos derrames e preenchidas por sedimentos. O contato entre a rocha vulcânica encai-
xante e o arenito é nítido e marcante. Na região do DMSJ, o arenito de preenchimento é
de cor rosa a castanha, predominantemente quartzoso, de granulometria fina a média, con-
tatos pontuais e porosidade primária que pode atingir até 20%. No entanto, a porosidade
é preenchida por opala de difícil identificação, pois esta é microporosa e adquire a cor do
corante de impregnação utilizado durante a confecção da lâmina petrográfica. Nestes casos
torna-se muito resistente aos processos intempéricos e forma ressaltos nos afloramentos.
Nos locais de lavra, os garimpeiros evitam as proximidades das regiões onde ocorre a maior
concentração de diques de arenito, pois observam que nesta situação, os geodos são raros e
preferencialmente preenchidos por quartzo macrocristalino.
Encontram-se também geodos preenchidos por clastos de pelitos de cor vermelha
onde se destacam fragmentos micáceos orientados. Os clastos pelíticos encontram-se ci-
mentados por sílica, algumas vezes, sob a forma de calcedônia.
As fraturas preenchidas por sedimentos dispõem-se do topo para a base dos der-
rames. Não são muito extensas, porém apresentam paredes retilíneas, bem marcadas e sem
alterações significativas. O sedimento de preenchimento é um arenito quartzoso, granu-
lometria fina a média, grãos subarredondados, bem selecionado, de cor rosada e com a
presença eventual de clastos com dimensões entre 0,5 cm e 2 cm, de basaltos, dacitos e raros
pelitos. Muitas vezes observa-se uma estratificação muito incipiente e o cimento dominante
é opala ou calcedônia.
Outra feição resultante da interação entre lava e sedimentos são as brechas. A
brecha sedimentar corresponde àquela formada por clastos de basalto e de dacito, angulosos
a subarredondados, com dimensões entre 5 a 20 cm, em matriz de granulometria fina a
média, grãos arredondados a subarredondados de quartzo e feldspato. As brechas vulcânicas
têm clastos angulosos de basalto ou dacito em uma matriz sedimentar, semelhante aquela
descrita nas brechas sedimentares, porém com maior teor de fração argila. Muitas vezes
associam-se clastos de pelitos, cor castanha com fragmentos micáceos orientados e corres-
ponderiam aos peperitos de Waichel et al. (2006). As brechas posicionam-se na base dos
derrames junto ao contato com o intertrap e a partir destas ocorre a ramificação dos diques
de arenito. No derrame portador, os geodos preenchidos por quartzo incolor são raros, a
rocha vulcânica é alterada e vesicular.
Em alguns pontos observa-se uma brecha caracterizada por clastos subangulosos a
subarredondados de basalto, textura fina a vítrea, homogêneos, cimento carbonático. For-
mam depósitos localizados, sem estruturas e de pequenas dimensões tendo sido caracteriza-
do como uma autobrecha.
Na figura 3 estão expostas fotografias de feições de interação entre lava e sedimen-
to descritas no DMSJ.
9
Figura 3: Exemplos de interações; A) brecha sedimentar; notar os fragmentos de basalto imersos em uma matriz
arenosa de granulometria fina a média, e associação com intertrap arenoso; B) brecha vulcânica com clastos de
basaltos e dacitos com diâmetros entre 1 e 2 cm, imersos em matriz sedimentar fina (tipo 1); C) dique de arenito,
espessura que varia entre 1 e 4 cm, cortando derrame basáltico vesicular; D) geodo preenchido com sedimento, frag-
10 mentos de siltito (Tipo 3), cor vermelha) cimentados por calcedônia; E) fratura preenchida por sedimentos.
Ar – arenito; Sil – siltito; Calc. – calcedônia; Bas – basalto; Dac – dacito.
4. Conclusões
Figura 4: A, B e C - Arenito do tipo 1; A) amostra macro; B) fotomicrografia do arenito tipo 1, (LN, 10 X); C)
cimentação silicosa (MEV, 1.000 X, ES); D, E e F - Arenito do tipo 2; D) amostra macro E) fotomicrografia
evidenciando a textura com granulometria; cimento silicoso (LP 20X); F) cimento silicoso recobrindo os grãos do
arcabouço. (MEV, 1.000 X, ES); G, H e I - Siltito do tipo 3; G) amostra macro, H) fotomicrografia evidencian-
do os fragmentos micáceos (LN 10 X). I) lamelas micáceas marcadas pelas setas (MEV, 8000 X, ES).
12
Os geodos onde coexistem opala e calcedônia, conforme pode-se observar na figu-
ra 5, ocorrem preferencialmente no derrame basáltico portador nas porções de topo do der-
rame, associados com veios de opala, raramente com quartzo macrocristalino. Importante é
o fato de que nestes geodos são descritos sedimentos do tipo 3 (pelito micáceo).
Figura 5: “Geodo de
sedimento” preenchido por
fragmentos de rochas
siliciclásticas do tipo 3
(siltito de cor vermelha)
cimentados por calcedônia
e opala.
5. Agradecimentos
Heemann R. 2005. Modelagem estrutural Reis., G.D. 2013 A Formação Serra Geral
e tridimensional para a prospecção e ava- (Cretáceo, bacia do paraná) – como aná-
liação dos depósitos de ágata do distrito logo para os reservatórios ígeno-básicos da
mineiro de Salto do Jacuí (RS). 150 f. Tese margem continental brasileira. Disserta-
(doutorado) - Universidade Federal do ção de mestrado, 100 p. UFRGS-IG-PP-
Rio Grande do Sul. Escola de Engenharia. Ggeo.
UFRGS, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Minas, Metalúrgica e de Ma- Santos, E.L.; Maciel, L.C. e Filho, J.A.Z.
teriais, Porto Alegre, RS. Distritos Mineiros do Estado do Rio
Grande do Sul. DNPM. 1º Distrito/ Pro-
Jerram D, Mountney N, Holzforster F, grama Nacional de Distritos Mineiros.
Stollhofen H (1999) Internal strarigra- 35p. 1998.
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in the Huab Basin, NW Namibia: un- Strieder, A.J., Heemann, R. 2006. Struc-
derstanding the onset of flood volcanism. tural constraints on Paraná basalt vol-
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geode mineralization (Salto do Jacuí, RS,
Matzui, E.; Salati, E., Marini, O. J.1974. Brazil). Pesquisas em Geociências 33: 37-
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Soc. Am. Bull. 85: 577-580. A.; Lubachesky, R. 2006. Peperite formed
by lava flows over sediments: An exam-
Milani, E.J. 1997. Evolução Tectono- Es- ple from the central Paraná Continental
tratigráfica da Bacia do Paraná e seu Rela- Flood basalt, Brazil. Journal of Volcano-
cionamento com a Geodinâmica Fanero- logy and Geothermal Research 159, 343-
zóica do Gondwana Sul-Ocidental. Porto 354.
Alegre. 255 p. Tese de Doutorado em Ge-
ociências, instituto de Geociências, uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul.
15
AMETISTA SINTÉTICA NO COMÉRCIO
DE SOLEDADE (RS)
Pedro Luiz Juchem1, Jurgen Schnellrath2, Carolina Souza Santiago2.
1. Resumo
2. Introdução
Figura 1 – Exemplos de cristais de quartzo sintético. A – cristal tabular de quartzo incolor, chamado no mercado
de “quartzo de barra”, com parte da “semente” visível (seta). B – pedaço de ametista onde é facilmente visível a fatia
de quartzo natural incolor que foi utilizada como “semente” (seta). C – Cristal de ametista de contorno hexagonal,
semelhante à natural.
Imagens adaptadas de Balitsky et. al. (2004) e http://www.quartzpage.de
4. Metodologia
4.2 Geminações
Figura 3 – Cristal ideal de ametista e a geminação polissintética Brasil. A e B – Desenho esquemático de um cristal
ideal de ametista visto lateralmente (A) e um vista superior (B), mostrando as formas presentes: o prisma hexagonal
(m) estriado transversalmente e os romboedros positivo (r) e negativo (z). C – Desenho esquemático da geminação
polissintética possível de ser observada ao microscópio em um corte transversal à porção superior do cristal.
20
D – Geminação polissintética vista ao microscópio em uma ametista natural.
Imagens adaptadas de http://www.quartzpage.de/crs_twins.html
A figura 3A mostra um cristal ideal de ametista, que exibe um contorno hexagonal
e as extremidades terminadas em pontas, lembrando pirâmides. Na verdade, essas faces das
pontas dos cristais constituem duas formas combinadas, denominadas de romboedro posi-
tivo (r), em geral mais desenvolvido, e romboedro negativo (z), em geral menos desenvol-
vido. Esses romboedros crescem um sobre os outros gerando o prisma hexagonal (m), que
mostra estrias transversais como marcas do crescimento superposto dos vários romboedros
(Fig. 3A e 3B).
A ametista natural apresenta geminação polissintética no romboedro positivo (r)
e quando examinada ao microscópio gemológico com os dois polarizadores cruzados, em
uma posição perpendicular à porção superior do cristal bruto, exibe uma alternância de la-
melas coloridas, como mostrado esquematicamente na figura 3C e ao microscópio na figura
3D. Essas lamelas em geral têm espessuras que não ultrapassam 1,0 mm. Para as diferentes
configurações de geminações nos cristais por vezes são dados nomes e esta geminação é
conhecida na literatura como “Geminação Brasil” (Klein & Dutrow, 2008).
Muitos pesquisadores descreveram a presença da Geminação Brasil como um in-
dicativo seguro da origem natural da ametista (e.g. Crowningshield et al., 1986). Entretan-
to, essa geminação já foi identificada em alguns tipos de ametista sintética, mas nesse caso
as lamelas são descritas como tendo contorno irregular, semelhantes a labaredas de fogo
(flame-like pattern); as lamelas de geminação da ametista natural ocorrem com ângulos
de 600 e 1200, fato que não seria observado nas sintéticas (Crowningshield et al., 1986;
Notari et al., 2001). No entanto, já foram descritos cristais de ametista natural com ângulos
diferentes entre as lamelas de geminação e também ametista natural sem a Geminação Bra-
sil . Dessa forma, somente o estudo dessa geminação na ametista, embora por algum tempo
tenha sido considerado como definitivo, nem sempre é efetivo para determinar sua origem
natural ou sintética (Fritsch & Koivula, 1989).
4.3 Espectroscopia no infravermelho
5. Resultados
22
Tabela 1 – Principais características físicas e ópticas das amostras estudadas
Índices de refração (IR): No = índice do raio ordinário, fixo; Ne = índice do raio extraordinário, variável;
we= birrefringência (variação entre o IR máximo e mínimo). U(+) = uniaxial positivo.
Lupa/microscópio: a) Geminação polissintética; b) Faces do romboedro com diferentes tonalidades de cor;
c) Sem geminação; d) Linhas de crescimento paralelas, fracas e mal definidas.
Infravermelho: número de ondas em cm-1; p=picos de absorção; b=bandas de absorção menos salientes.
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Figura 4 – Espectros de absorção no infravermelho das gemas estudadas. Todas apresentam uma absorção forte em
3585 cm-1 e bandas de menor intensidade em 3614 cm-1, com exceção da gema Am-3, que por sua vez tem uma ban-
da quase imperceptível em 3595 cm-1, típica de ametista natural. Bandas não muito intensas em 3543 cm-1, típicas
de ametista sintética, só aparecem nas gemas Am-1 e Am-5. Linhas vermelhas = ametista sintética; linhas violeta
= ametista natural (resultados obtidos incluindo a interpretação da análise microscópica).
Figura 5 - Exemplos de feições diagnósticas identificadas nas amostras de ametista natural ao microscópio gemoló-
gico. A – Zoneamento de cor marcado por setores poliédricos com diferentes tonalidades de cor; as porções pretas nos
extremos direito e esquerdo da imagem são as garras da pinça que prende a amostra. B – Geminação polissintética
em uma face do romboedro positivo (porção direita da figura) e face do romboedro negativo sem geminação (parte
central da figura), vista com polarizadores cruzados. Fotomicrografias obtidas da amostra Am-3.
Figura 6 - Exemplos de feições diagnósticas identificadas nas amostras de ametista sintética ao microscópio
gemológico. A – Linhas de crescimento muito fracas, paralelas à subparalelas; as porções pretas na parte superior e
inferior da imagem são as garras da pinça que prende a amostra. B – Cores de interferência que variam conforme a
espessura da pedra, observadas na secção perpendicular ao alongamento do cristal bruto. Fotomicrografias obtidas da
amostra Am-4.
25
6. Considerações finais
O Rio Grande do Sul é uma das regiões de maior produção de ametista do plane-
ta, o que gerou nos últimos anos o desenvolvimento de uma forte indústria de beneficia-
mento e de comércio de gemas. No entanto, esse desenvolvimento comercial não foi acom-
panhado de cuidados técnicos quanto à procedência dos materiais gemológicos trabalhados
e comercializados. Como resultado, são cada vez mais comuns as dúvidas de comerciantes e
dos consumidores finais sobre a autenticidade de gemas vendidas não só em Soledade, mas
em todo o estado. No caso específico da ametista, sabe-se que os geodos preenchidos com
esses minerais são exportados em sua maioria no estado bruto, ou no máximo como pedras
marteladas e que a lapidação de gemas foi praticamente abandonada no RS. Essa ametista
volta ao Brasil lapidada, com um alto valor agregado e, como pode ser visto no exemplo do
lote estudado neste trabalho, pode estar misturada a gemas sintéticas, cuja análise requer
técnicas de tecnologia avançada nem sempre disponíveis e cujo custo pode superar o valor
da própria pedra examinada
7. Referências Bibliográficas
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pg. 90-92.
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V.P., Balitskaya, L.V., 1975. Process for Fritsch, E., Koivula, J.I. 1989 The growth
producing an amethyst crystal. England, of Brazil-twinned synthetic quartz and the
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sued October 8, 1975. on the Brazil law. Gems and Gemology,
V.25, N.3, pg. 159-164.
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40. N. 2, pg. 146-161. gião do Alto Uruguai, RS. Curso de Pós
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and Gemology, N. 23(vol. 1), pg. 18-26. Juliano Tonezer da Silva e Maciel Donato.
Vol. 01, pg. 37-44. Editora da UFRGS, de Gemas, Ouro Preto. Resumos, pg 39.
Porto Alegre Coordenadoria de imprensa e Editora da
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from synthetic amethysts. Bulletin of the 138/139, pg. 74-80.
Geological Society of Greece, vol. XXX-
VII, pg. 805-815
Resumo
Extraídas de jazidas minerais, as gemas são tratadas e chegam aos olhos do consu-
midor via comércio. No Rio Grande do Sul, cidades de Soledade e região são favorecidas por
situarem-se próximas a jazidas de geodos no distrito mineiro de Ametista do Sul, tornando
este tipo de comércio um dos mais rentáveis para a região. Sua lucratividade as tornam pro-
pícias a falsificações devido ao desconhecimento das gemas. A técnica de Microscopia Ele-
trônica de Varredura (MEV) acoplado a um Sistema de Energia Dispersiva (EDS, do inglês:
Energy Dispersive Spectrometer), além de análises complementares como índice de refração
e densidade relativa, objetivaram caracterizar e certificar gemas deste comércio para auxiliar
a inibir a falsificação. Apesar do MEV proporcionar um aumento de até 300.000 vezes,
foram suficientes 10.000 vezes para que fosse possível observar a topografia das amostras,
como incrustações e fraturas. Os raios-X captados pelo EDS forneceram informações sobre
a presença de certos tipos de átomos de elementos e suas devidas proporções nas amostras. A
análise de gemas por MEV-EDS se mostrou eficaz no que diz respeito à topografia de amos-
tras. Entretanto, por se tratar de técnica semiqualitativa e semiquantitativa, outras análises
que possam comprovar a composição atômica elementar de amostras são aconselháveis para
caracterizações e certificações.
Palavras-chave: gemas, caracterização, MEV-EDS.
Introdução
Figura 1: Representação da ionização gerada por feixe de elétrons (a). Fonte: Duarte et al., 2003. e topografia
obtida por MEV de superfície metálica (b). Fonte: Dedavid, Gomes e Machado, 2007.
Material e Métodos
Figura 2: Amostras. Fonte: Acervo fotográfico do autor. Fonte: Acervo dos autores.
Figura 3: Amostra em stubb antes (a) e após metalização (b). Fonte: Acervo dos autores.
Resultados e Discussão
Análises em MEV-EDS
Topázio Branco
Água-Marinha
Lápis-Lazúli
Labradorita
32
Turmalina Verde
Com superfície lisa e algumas irregularidades. Foi assim que a Turmalina Verde
se apresentou durante observação no MEV-EDS. Não foram observadas incrustações na
gema. Os átomos de elementos detectados pelo EDS foram alumínio, cálcio, manganês,
ferro, oxigênio, silício e sódio e através de seu espectro é que suas porcentagens foram de-
terminadas: O (37,2%), Al (28,4%), Si (28,1%), Mn (2,3%), Na (1,8%), Fe (1,5%) e Ca
(0,7%). Os resultados gráficos estão apresentados na Figura 9.
Cianita Azul
33
Iolita
Apesar da Iolita utilizada para análise ser polida, a partir de 2.000 vezes de au-
mento sobre a amostra foi possível observar irregularidades na superfície. O (26,7%), Si
(25,1%), Al (21,3%), Na (17,8%), Cl (8,9%), Fe (0,2%) foi a composição atômica ele-
mentar determinada pelo EDS para Iolita. Os resultados gráficos estão apresentados na
Figura 11.
Rutilo Dourado
Foi observado, em aumento de 7.000 vezes, que o rutilo apresenta superfície rugo-
sa e possui incrustações. Dois tipos de átomos de elementos foram detectados pela técnica:
silício e oxigênio. A composição atômica elementar para rutilo, em EDS, foi de Si (65,4%)
e O (34,6%). Os resultados gráficos estão apresentados na Figura 12.
34
Para a comparação de valores encontrados pelo EDS, utilizou-se a base de dados
da literatura e a Mineralogy Database (MD, 2015; DUARTE et al., 2003; HENN e MILI-
SENDA, [s.d.]) .
Os principais materiais gemológicos são minerais. Mas a quantidades de minerais
utilizados como gemas é limitado.
A composição de uma gema varia de acordo com o sítio geológico, mas a composi-
ção química da gema apresenta valores médios padrão. Os grupos de gemas, de acordo com
a característica química, são chamados substâncias gemológicas.
Na Tabela 1 apresentam-se as composições encontradas comparadas com as da
literatura consultada.
Tabela 1: Relação entre composição encontrada neste trabalho e composição das referências consultadas.
35
As substâncias gemológicas apresentam diferentes variedades e propriedades. Ava-
liando-se diversas propriedades das gemas, pode-se identificar a mesma, e consequentemen-
te a que substância gemológica pertence sua composição.
A Água-Marinha é uma variedade de gemas que pertence à substância gemo-
lógica Berilo. Sua composição química básica é Be3Al2(Si6O18). A composição química
padrão e a composição química obtida pelo MEV-EDS, indica uma diferença, que pode se
apresentar, em função do sítio geológico extraído.
A Cianita Azul é uma substância gemológica de composição química básica Al-
2SiO5. Os valores encontrados pelo MEV-EDS são compatíveis com a literatura.
O Lápis-Lazúli, também denominado lazurita é uma substância gemológica de
composição química (Na,Ca)8(AlSiO4)6(SO4,S,Cl)2 e a análise química pelo MEV-EDS,
se aproxima da composição na literatura.
O Topázio Branco é uma substância gemológica de composição química Al-
2SiO4(F,OH)2, e os valores do MEV-EDS diferem da composição química da literatura.
A Turmalina é uma substância gemológica de composição química de (Na,Ca)
(Li,Mg,Al)(Al,Fe,Mn)6(BO3)3(Si6O18)(OH)4 e apresenta diversos tipos, que podem
apresentar valores de composição química variáveis. Como na compra não foi definida a
espécie, os valores obtidos pelo MEV-EDS, não fornecem definições mais precisas.
No comércio de gemas, uma variedade macrocristalina da substância gemológica
quartzo é conhecido por quartzo rutilado, mas vendido com o nome de rutilo. O Rutilo é
um mineral de composição química TiO2, é um mineral polimorfo. O rutilo é encontra-
do como mineral acessório em algumas rochas ígneas. É frequentemente encontrado em
cristais incrustrados em quartzo. Pequenas agulhas de rutilo são encontradas em algumas
gemas, e são responsáveis pelo fenômeno óptico denominado asterismo, que aparece em
safiras, rubis e outras gemas. As leituras no MEV-EDS não apresentaram titânio, portanto
a gema investigada não é rutilo.
A Labradorita é uma variedade da substância gemológica feldspato. É uma impor-
tante família de minerais, do grupo dos tectossilicatos, constituintes de rochas que formam
cerca de 60% da crosta terrestre. O plagioclases são os chamados feldspatos calcossódicos, e
devido à complexidade da composição química do feldspato, os valores obtidos pelo MEV-
-EDS, são compatíveis com a literatura.
A Iolita é uma substância gemológica que deriva do mineral metamórfico, cordie-
rita. A composição química da cordierita é Mg2Al4Si5O18, e os valores encontrados pelo
MEV-EDS, são compatíveis com a literatura. A iolita é uma variedade gema de cor azul
violeta, que no passado foi chamada de safira de água.
Considerações Finais
Nas análises de gemas por MEV-EDS realizadas neste estudo, foi possível obter in-
formações sobre características físicas como a topografia de amostras e caracterizá-las quan-
to a sua composição atômica elementar. Além destas análises, a determinação de densidades
relativas e índices de refração foram realizados para as gemas.
A variação entre as percentagens de cada tipo de átomo de elemento na amostra e
36 o que consta na literatura é atribuída ao caráter semiqualitativo e semiquantitativo da técni-
ca. O EDS pode apresentar interferentes como o carbono utilizado para fixar a amostra ao
stubb. Ainda, o software gera a porcentagem de cada tipo de átomo encontrado. Havendo
desprezo de alguma quantidade de átomos de elemento no tratamento dos dados, altera-se
a porcentagem de cada elemento para que a soma iguale 100%.
A variabilidade química dos sítios geológicos, onde são extraídas as gemas, muitas
vezes diferem quimicamente dos dados de literatura. Os valores obtidos pelo MEV podem
indicar diferenças na composição, mas em algumas vezes, podem definir as variedades ge-
mológicas específicas da origem.
A técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura acoplado a um Sistema de Ener-
gia Dispersiva produziu informações confiáveis em relação aos objetivos propostos pela
pesquisa destas gemas analisadas. É uma ferramenta robusta complementar para a identi-
ficação, embora de alto custo, pode junto com outras técnicas, definir, aproximando-se da
realidade da identidade da gema estudada.
Referências
Resumo
1. Introdução
Figura 1 – Beneficiamento e produtos disponíveis para venda no comércio em Soledade: (A) chapas de ágata tingida
40 e expostas para venda, (B) artefato decorativo em formato de borboleta; (C) relógios com a utilização de chapas de
ágata e (D) peças decorativas com gravação a laser
O laser é caracterizado por uma fonte de luz que, devido à forma com que gera ra-
diação eletromagnética, acaba tendo características específicas (HECHT; TERESI, 1998).
É uma ferramenta que permite ao usuário controlar a forma e a quantidade de energia
dirigida a um determinado lugar (THOMPSON, 2011), sendo que os principais tipos de
laser são gasoso, sólido e líquido (HECHT; TERESI, 1998). Entretanto, para o beneficia-
mento de gemas, o meio ativo mais utilizado é o gasoso de dióxido de carbono, CO2, no
qual é constituído por uma ampola contendo uma mistura de dois gases: nitrogênio, N2,
e o CO2.
Na gravação, o laser passa nos locais delimitados eletronicamente por software,
sem interferir no detalhamento da peça (DUARTE et al., 2010; THOMPSON, 2011).
Durante o processo há a incidência de radiação eletromagnética, ocorrendo no equipamen-
to os fenômenos de reflexão, refração, espalhamento e transmissão, resultando na absor-
ção do feixe pelo material (DAHOTRE; HARIMKAR, 2008). A absorção desta radiação
resulta no aquecimento, derretimento, vaporização, solidificação, entre outros efeitos na
superfície dos materiais (DAHOTRE; HARIMKAR, 2008). Os resultados obtidos com a
gravação dependem das características da interação entre laser e material.
3. Microcápsulas
4. Métodos utilizados
Para modificar a superfície da ágata e gerar uma porosidade secundária, foi utili-
zada a gravação a laser com o equipamento Mira, da empresa Automatisa Sistemas®, loca-
lizado no Laboratório de Design e Seleção de Materiais - LdSM, da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul / UFRGS, com meio ativo para a geração da radiação CO2 dopado
com N2. A movimentação do feixe laser funciona com sistema galvanométrico e a área
de trabalho da máquina possui limitações devido aos tipos de lentes acopladas. A lente
utilizada neste equipamento, para esta pesquisa, é do tipo convexo-côncava, ou seja, uma
das superfícies é esférico-convexa e a outra esférico-côncava, com área máxima de trabalho
de 10 cm x 10 cm (100 cm²). Esta lente foi selecionada por possibilitar maior intensidade
para o feixe, devido à área de trabalho ser menor (ZHOU; MAHDAVIAN, 2004) e ter
aproximadamente a intensidade de 1,8 x 109 w/m2 (CIDADE, 2012). Outro parâmetro a
ser utilizado no equipamento foi a potência máxima de 60 W e a velocidade de 30 m/min
(CIDADE, 2012).
Foram desenvolvidos e exportados, em software bidimensional vetorial, dois dese-
nhos em arquivo com extensão PLT (arquivo de plotadora HPGL), para serem gravados em
duas amostras de ágata. As formas consistem em dois círculos concêntricos com diâmetros
externos idênticos, sendo o primeiro contendo a adição de uma sequência de círculos me-
nores, paralelos e concêntricos, com distanciamento entre linhas de 0,2 mm; e o segundo
com distanciamento entre linhas de 2 mm, resultando um total de três círculos concêntri-
cos. Estes desenhos foram criados com o intuito de obterem-se duas áreas de gravação para
o alojamento de microcápsulas, uma com linhas juntas e a outra com traços afastados.
O método utilizado para a obtenção das microcápsulas foi o processo físico-quí-
mico de encapsulamento Sol-gel, com cápsulas de casca cerâmica com óleos essenciais
42
em seu núcleo. Este por sua vez ocorre pela transição do sistema sol para o sistema gel
(GHOSH, 2006). O termo sol pode ser entendido como partículas em escala coloidal (en-
tre 1 e 100 nm) dispersas estavelmente em um líquido (GHOSH, 2006). Logo, o termo gel
indica um sistema formado por uma estrutura rígida de partículas coloidais (gel coloidal) ou
por cadeias poliméricas (gel polimérico) que promovem a imobilização da fase líquida sol
(GHOSH, 2006). A obtenção dá-se através da mistura de uma emulsão (água deionizada,
ácido clorídrico e surfactante) a um precursor cerâmico (água deionizada, TEOS – tetra-
metil ortosilicato e óleo essencial), sob agitação. As substâncias da emulsão são responsáveis
pelo núcleo da cápsula, e o precursor cerâmico é responsável pela casca. Para esta pesquisa,
foram utilizados dez tipos de óleos essenciais, tais como rosas, pitanga, erva-doce, camomi-
la, lavanda baby, maracujá, chocolate, tutti-frutti, laranja e alga-marinha (Tabela 1).
Tabela 1 – Métodos utilizados para a obtenção de microcápsulas aromáticas cerâmicas, com variação de óleos essen-
ciais, volume de óleo, quantidade de água deionizada, surfactantes, quantidade de surfactante, ácido clorídrico, TEOS
e observações de modificações de agitação
As dimensões dos poros na ágata são um fator condicionante para conter ou não
as cápsulas. Desse modo, o objetivo dos ensaios com óleos essenciais variados foi verificar
quais obtiveram os melhores resultados para a formação de microcápsulas para posterior
aplicação na ágata. Assim, as microcápsulas deverão ter dimensões máximas de 5 µm, de-
vido a estudos preliminares (CIDADE et al., 2012) que determinam estes tamanhos como
satisfatórios para alojamento nas cavidades da porosidade secundária da ágata. Para analisar
as características das cápsulas, tal como dimensões e formas, bem como se ocorreu a in-
serção na região gravada a laser, utilizou-se a microscopia eletrônica de varredura (MEV)
em equipamento Hitachi® modelo TM 3000, com imagens eletrônicas do tipo BSE (back
scatered electron), localizado no Laboratório de Design e Seleção de Materiais - LdSM, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul / UFRGS. A aceleração do feixe de elétrons uti-
lizada foi de 15 KeV, sendo que o equipamento opera com aumentos de até 30.000 vezes.
Para a impregnação das microcápsulas com dimensões satisfatórias na ágata, foi
utilizado um béquer de 1000 ml, onde as duas amostras gravadas foram inseridas dentro
do recipiente (Figura 3 A). As microcápsulas foram peneiradas para limitar o tamanho dos
grumos, tornando-as um pó mais homogêneo (Figura 3 B). Estas foram pesadas em uma
balança de precisão (Figura 3 C). Foram inseridos 700 ml de água deionizada no béquer 43
com as amostras de ágata, submergindo-as (Figura 3 D), e dentro do mesmo foi introdu-
zido um agitador mecânico equipado com uma hélice centrífuga. As microcápsulas penei-
radas foram derramadas cuidadosamente no interior do béquer (Figura 3 E) e a mistura foi
colocada sob agitação com a rotação de 400 rpm. O processo ficou sob agitação por cerca
de 24 horas (Figura 3 F). Após, a mistura foi filtrada para a retirada das amostras de ágata
(Figura 3 G) e inserida no dessecador por aproximadamente 12 horas.
Figura 3 - Processo de impregnação de microcápsulas cerâmicas em ágata gravada a laser: A) posicionamento das
amostras no interior do béquer; (B) preparação das microcápsulas; (C) pesagem das microcápsulas; (D) preparação
com água deionizada; (E) adição de microcápsulas no recipiente, sob agitação; (F) amostras imersas; (G) filtragem
das microcápsulas após o processo de impregnação
5. Resultados e Discussões
Com a utilização dos diferentes óleos essenciais, obteve-se uma gama de massas
resultantes (Figura 4). Os óleos de alga-marinha, chocolate, erva-doce, lavanda baby, pitan-
ga e rosas obtiveram resultados insatisfatórios, com formação restrita de cápsulas (Figura 4
A). Mesmo com esta aparência, todas as amostras foram observadas via MEV. O óleo de
camomila resultou em microcápsulas com dimensões maiores que 5μm, sem a presença de
cápsulas menores (≈1 a 5 μm), sendo classificado, também, como insatisfatório. Os ensaios
que obtiveram resultados satisfatórios, com uma boa formação e algumas com dimensões
adequadas para a impregnação, foram com a utilização de óleos de maracujá, laranja e tut-
ti-frutti. Nas microcápsulas de óleo essencial de maracujá, podemos identificar a presença
de cápsulas menores, com cerca de 1,27 µm, em grande quantidade, e dimensões maiores,
de aproximadamente 5,29 µm (Figura 4 B). Com óleo de laranja, as microcápsulas apre-
sentaram-se com uma uniformidade maior (Figura 4 C). Já as de tutti-frutti (Figura 4 D),
a grande maioria mostrou-se disposta de forma regular, com dimensões homogêneas em
44 torno de 1,78 a 3,15 µm.
Figura 4 – Imagens eletrônicas dos resultados obtidos com os óleos de: (A) rosas, com indicação de setas da formação
restrita de cápsulas, (B) maracujá, (C) laranja e (D) tutti-frutti
Figura 5 - Imagens eletrônicas de varredura das amostras impregnadas com óleo essencial de maracujá, com indicação 45
de setas, das microcápsulas alojadas no interior das cavidades (A) e nas superfícies (B)
Na gravação do desenho contendo uma sequência de círculos concêntricos, obte-
ve-se uma área mais porosa, resultando em um maior número de cápsulas alojadas. Isso se
deve à maior concentração de linhas gravadas em relação à amostra com três círculos.
6. Considerações Finais
Agradecimentos
Ao Laboratório de Design e Seleção de Materiais (LdSM), localizado na Escola
de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foram utilizados os
equipamentos de gravação a laser e microscopia eletrônica de varredura (MEV); à Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e à bolsista de iniciação
científica Letícia Pavoni Grasselli. Esta pesquisa teve apoio financeiro do MCT/CNPq –
Universal – 014/2008, intitulado: Tecnologia de gravação e corte a laser, como ferramenta
de inovação para o design de gemas e joias.
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47
Seleção de materiais e Design: projeto
conceitual de luminária de ágata e cortiça
bioinspirada na corticeira-do-banhado
Felipe Luis Palombini, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Design - PGDesign, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul - UFRGS felipe.palombini@ufrgs.br
Camila Civardi Rissato, Graduanda, Design de Produto, UFRGS
camila.civardi@gmail.com
Liane Roldo, Professora do Departamento de Materiais e do PGDesign, UFRGS liane.roldo@ufrgs.br
Resumo
1. Introdução
Esse trabalho visa a contribuir com o design de produto na medida em que atua
com a aplicação de materiais naturais. Como materiais inspiradores, foram utilizadas a
cortiça e a ágata, sendo esta um elemento de valorização da identidade cultural do Rio
Grande do Sul. Destaca-se o design como uma atividade pluri e interdisciplinar capaz de
transformar elementos culturais em produtos originais, incorporando conceitos e caracte-
rísticas locais no projeto.
Segundo ASHBY e JOHNSON (2011), a seleção de materiais é um aliado do
designer na atividade projetual, na determinação das melhores alternativas com base em
critérios pré-definidos. Segundo os autores, a seleção de materiais dá-se por quatro tipos
principais, os quais inspiração, síntese, similaridade e análise. A seleção de materiais por
síntese segue um processo definido pela escolha de um conceito, onde atributos simbólicos
são considerados (ASHBY; JOHNSON, 2011). Nesse sentido, esta pesquisa aborda a sele-
ção de materiais por síntese e por inspiração. Para tanto, é apresentado o projeto conceitual
de uma luminária bioinspirada na corticeira-do-banhado (Erythrina crista-galli L.) e na
valorização da identidade cultural através de gema do RS.
A ágata é um material gemológico encontrado em grandes quantidades na região
central do Rio Grande do Sul, com possibilidades de concepção de diversos artefatos deco-
rativos (CIDADE, 2012). Estima-se que o volume de exportação de ágata no estado esteja
na ordem de 400 toneladas mensais (IBGM, 2012). Apesar da grande produção do material
48 no estado, cerca de 90% da mesma é vendida em estado bruto, com o restante eventual-
mente utilizada para fabricação local de produtos não ligados à joalheria (CIDADE, 2012;
IBGM, 2012). Enquanto as técnicas de joalheria com a ágata são impulsionadas com novas
pesquisas (BARP, 2009; CIDADE, 2012; SILVA, 2013; SILVEIRA, 2011), no estado, os
produtos feitos com o material restringem-se a peças artesanais e com pouco valor agregado.
A ágata é um material resistente, com aspecto translúcido a opaco. Possui dureza
entre 6,5 e 7 na escala Mohs, índice de refração entre 1,530 e 1,540 e densidade de 2,60
a 2,64 g/cm³ (SCHUMANN, 2006). É uma variedade formada por sucessivas bandas de
calcedônia, ocorrendo como um material compacto, preenchendo geodos (DEER et al.,
1981). Os geodos são cavidades total ou parcialmente alojadas em rochas vulcânicas, com
formas arredondadas e ovoides (STRIEDER; HEMANN, 2006; JUCHEM et al., 2007).
O bandamento pode ser composto por camadas sucessivas de calcedônia ou estar mesclado
com opala (SCHUMANN, 2006).
O beneficiamento dado à ágata geralmente se dá a partir de chapas cortadas em
espessuras de 2 a 6 mm, as quais podem ser trabalhadas em processos como o de usinagem
por jato d’água ou gravação a laser CO2 (CIDADE; DUARTE, 2014; BARP et al., 2015).
O processo de corte das chapas é efetuado por equipamentos automatizados com serras cir-
culares diamantadas sobre refrigeração de água, óleo marinho ou biodiesel (SCHUMANN,
2006). Uma vez cortadas, as chapas são limpas e podem ser tingidas com corantes orgânicos
e inorgânicos, nas tonalidades rosa, vermelha, verde, azul, verde azulado, roxo e preto. (CI-
DADE, 2012; SILVA, 2006).
Ainda que o material gemológico apresente características de translucidez, são
pouco os produtos que exploram esta propriedade (KUAMOTO, 2014). Da mesma for-
ma, estudos quanto as propriedades de translucidez da ágata tingida ainda são escassos.
As chapas tingidas costumam ser aplicadas, em sua maioria, na criação de artefatos como
móbiles, chaveiros, relógios, entre outros. O estudo das propriedades de translucidez da
ágata, portanto, pode levar ao estímulo para diferentes aplicações, auxiliando na promoção
do material.
A ágata também pode ser valorizada ao ser combinada com outros materiais natu-
rais, no desenvolvimento de produtos diferenciados. Um material já utilizado em conjunto
é a cortiça, através da produção de apoios de copos. A seleção deste material, dá-se por sua
propriedade aderente e isolante, fundamentais para sua funcionalidade. Contudo sua tex-
tura e propriedades táteis não são exploradas, uma vez que se encontram na parte posterior
do produto. Segundo LEFTERI (2014) a cortiça é um material natural que, em oposição
à ágata, é muito leve e maleável, além de possuir boas propriedades de conformação, em
manufatura.
A cortiça é um tecido vegetal extraído da casca do Sobreiro (Quercus suber). As
células que a compõem têm suas paredes altamente suberizadas que, portanto, levam à
morte do tecido ao passo que protegem as células vivas no interior da planta do ambien-
te externo (SCHULTZ, 1972). A composição química desse material é responsável por
suas principais propriedades físicas, como impermeabilidade, isolação térmica e acústica. A
forma fechada das células do tecido torna-o um material com característica de espuma de
baixa densidade, com propriedades mecânicas isotrópicas e com possibilidade de diversas
aplicações (ASHBY; JOHNSON, 2011).
Atualmente, o principal uso do material é na fabricação de rolhas para vinhos (por
cortes cilíndricos em prensas) e de pele de cortiça (por laminação), empregada como tecido 49
em diversos produtos, como bolsas, carteiras e demais acessórios (MESTRE; GIL, 2011). A
manufatura desses produtos leva à geração de resíduos oriundos das regiões do material que
não foram utilizadas. Estes resíduos, contudo, podem ser aproveitados através da moagem e
compactação, levando à cortiça aglomerada. Esse material secundário pode ser conformado
em diversos formatos, conforme a aplicação, mantendo sua textura e propriedades mecâni-
cas. Dessa forma, além de ser mais facilmente encontrado no Brasil, o aglomerado é mais
adequado em projetos em que predominam formas curvilíneas, onde o uso de lâminas seria
inviável (LEFTERI, 2014). A Figura 1 apresenta exemplos de cortiça na sua forma natural,
em pele (Figura 1A) e aglomerada, em placa (Figura 1B).
Figura 1 - Exemplo de tecido de cortiça: (A) natural, em pele e (B) aglomerada, em placa.
2. Experimental
50
O ensaio de absorção térmica por irradiação nos materiais foi adaptado da norma
ASTM C1044-12. Assim para analisar as amostras, foi desenvolvido um dispositivo, de
acordo com a Figura 2, que consiste de uma caixa de material isolante e opaco, com a fina-
lidade de direcionar a luz e o calor em um único orifício circular de saída, com diâmetro de
20 mm (Figura 2A). Em seu interior, foi instalada primeiramente uma lâmpada fluorescen-
te de 26 W (para o ensaio de translucidez) e, após, uma lâmpada incandescente de 60 W
(para o ensaio de absorção térmica). Como a norma ASTM é flexível quanto aos parâmetros
de distância entre a fonte de calor e o referencial de medição, o orifício foi posicionado a 50
mm da fonte de luz, onde foram fixadas as amostras para a medição (Figura 2B).
51
Figura 2 - Esquema do dispositivo utilizado: (A) perspectiva isométrica e (B) vista lateral.
3. Resultados e discussão
52
A amostra com a maior translucidez, definida pelos maiores níveis de iluminância,
foi a sem tingimento (amostra 1), cerca de 28% menos translúcida que o controle. As dife-
renças entre as medições nas regiões de bandamento apresentaram pouca variação, levando
a um desvio-padrão relativamente baixo. As amostras de tingimento vermelho, rosa e verde
(respectivamente, amostras 2, 3 e 5) apresentaram a maior translucidez dentre as tingidas,
i.e., os maiores níveis de iluminância no ensaio, com cerca de 65% de perda, em compa-
ração à amostra sem tingimento. Dentre estas, a amostra que apresentou os níveis mais
homogêneos de translucidez foi a com tingimento vermelho, devido ao desvio-padrão das
medições inferior a 2 lx. A placa de cortiça apresentou níveis próximos à total opacidade,
A Figura 3 apresenta as imagens obtidas do dispositivo pelo termógrafo, durante
o ensaio de controle. O equipamento utiliza a combinação de uma câmera digital con-
vencional (Figura 3A) com uma câmera infravermelho (Figura 3B). A região de interesse
para análise da temperatura foi determinada no orifício circular, na frente do dispositivo.
A graduação apresentada mostra o gradiente de temperatura total na imagem, de 18,1°C a
60,2°C.
Figura 3 - Ensaio controle de absorção térmica: (A) imagem digital, (B) termografia e (C) histograma.
53
O dispositivo utilizado obteve sucesso em sua propriedade de isolar a temperatura,
mantendo-se proporcional à temperatura ambiente de cerca de 21°C. Os resultados dos
ensaios de absorção térmica são mostrados na Tabela 2, onde são apresentados os valores de
temperatura (em °C) mínimos, máximos e médios das termografias, a partir da região de
interesse circular. Na determinação destes valores, a região de interesse nas termografias foi
segmentada em um histograma (Figura 3C), onde são calculados os valores limitantes e a
média da região, para cada amostra.
A Tabela 2 indica que a amostra de ágata com tingimento roxo apresentou a maior
temperatura média, com 31,6 °C, seguida pelas tingidas em azul, verde e verde azulado.
As chapas de tingimento preto e vermelho obtiveram resultados próximos, com média de
27 °C. Já as amostras com tingimento rosa e sem tingimento obtiveram valores próximos
a 25 °C. A partir dos resultados, é possível relacionar e agrupar as médias obtidas com os
comprimentos de onda de cada cor dos tingimentos, de modo que amostras com cores pró-
ximas tendem a apresentar resultados semelhantes (ASHBY, 2012). É possível verificar que
as diferenças entre as temperaturas máximas e mínimas das amostras ágata, definidas nas
termografias, permaneceram entre 1,4 e 4,9 °C. Estes valores correspondem a uma variação
de 5 a 17 % ao ser considerada uma média total de 28,1 °C, indicando que a presença de
bandamento não influencia significativamente na sua capacidade relativa de absorção tér-
mica. A chapa de cortiça, entretanto, alcançou uma temperatura média alta, semelhante à
ágata com tingimento roxo. Contudo, a homogeneidade no tamanho de partícula de aglo-
merado (Figura 1B) levou a uma menor variação de temperatura na superfície do material.
Isto se deve ao processo de aglutinação de um material naturalmente isotrópico, formando
um material com propriedades mecânicas ainda mais uniformes.
Os resultados dos ensaios mostraram que a utilização de chapas de diferentes tin-
gimentos leva a uma grande variação nas propriedades de translucidez. Isto se deve ao fato
de tingimentos de cores diferentes tornarem o material mais ou menos opaco. Da mesma
forma, foi verificado que as maiores variações na translucidez em uma mesma amostra
ocorrem nas chapas com tingimentos mais escuros. Como nem todas as regiões do banda-
mento são tingidas no processo de beneficiamento, nota-se um maior contraste, i.e., maior
variação na translucidez, em amostras com tingimentos mais escuros. Já quanto à absorção
térmica, o uso de tingimentos diferentes em ágata apresenta variação menor nos resultados.
Desse modo, com base na seleção de materiais e nos dados levantados, é possível
definir um índice de mérito específico para o projeto, em que é buscada a eficiência (In) na
capacidade de transmitir luz com uma menor absorção térmica. São utilizados, então, os
54 valores das médias da translucidez ( L ) e das temperaturas (T ), na relação:
A Tabela 3 apresenta os resultados do índice de eficiência (In ) dos ensaios, para o
projeto.
Com base nos resultados finais da Tabela 3, é possível definir que após a amostra
incolor (amostra 1), as amostras com o melhor índice de eficiência são as de tingimento
rosa, vermelho e verde, com In respectivamente igual a 5,789; 5,031 e 4,881 lx/°C. Estas
amostras, portanto, são consideradas candidatas para desenvolvimento do projeto conceitu-
al. Cabe ressaltar, também, que a amostra de cortiça mostrou-se com o menor índice (0,127
lx/°C), representado por sua opacidade e maior absorção térmica.
Projeto Conceitual
Figura 4 - Flor da corticeira do banhado (E. crista-galli L.); FONTE: Adaptado de UFRGS FLORA 55
DIGITAL (2016).
A Figura 5 apresenta as simulações gráficas dos projetos conceituais. Em destaque,
a cúpula da luminária da Figura 5A é composta de faixas intercaladas de cortiça e ágata.
Já a luminária da Figura 5B possui cúpula dividida em duas partes, sendo que a superior é
conformada em cortiça aglomerada e a inferior constituída por chapas trapezoidais de ágata.
Ambas as chapas são fixadas por canaletas de aço inoxidável e tingidas, preferencialmente,
de rosa ou vermelho. De acordo com a Tabela 3 esses tingimentos apresentam os melhores
índices de eficiência para o escopo.
Figura 5 - Simulações gráficas da luminária: (A) faixas intercaladas de cortiça e ágata; e (B) cúpulas isoladas.
5. Considerações Finais
RESUMO
Para se efetuar uma análise superficial, primeiramente foi escolhida uma amostra
que atendesse resultados e discussões ao longo do experimento, esta amostra se deu através
de uma pedra denominada ágata. A partir desta escolha, a amostra foi colocada em um
aparelho de medição de superfícies tradicional, o rugosímetro digital, para que houvesse a
obtenção dos resultados das rugosidades. Após a medição no aparelho tradicional, a amos-
tra foi inserida em uma nova tecnologia, a Microtomografia de raio-X, um aparelho que
é utilizado para realização de análises internas não destrutivas de materiais, porém, para
essa metodologia, foi implementado para a análise superficial, e que juntamente com uma
linguagem computacional, retirou o perfil da superfície da amostra a ser testada. Com a
retirada do perfil da amostra testada, se iniciou um tratamento no software de cálculos para
que se pudesse obter o valor das rugosidades. Contudo, já com os valores das rugosidades da
amostra medida em um rugosímetro digital e através dos resultados encontrados no método
de microtomografia de raio-X, a comparação dos métodos pode ser efetuada, e os resultados
obtidos são regulares no que tange a rugosidade superficial de materiais.
1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As superfícies consideradas reais, por mais perfeitas que possam parecer, apresen-
tam heranças do método usado para sua obtenção, por exemplo: torneamento, fresamento,
retífica, brunimento, lapidação, etc.. Segundo Silva (2006) as superfícies assim produzidas
se apresentam como um conjunto de irregularidades, com espaçamento regular ou irregular
e que tendem a formar um padrão ou textura característicos em sua extensão. De acordo
com Gonzáles (1998) a rugosidade é formada por sulcos ou marcas deixadas pelo agente
que atacou a superfície no processo de usinagem e se encontra superposta a um perfil de on-
dulação provocado por deficiência nos movimentos da máquina, deformação no tratamen-
to térmico, tensões residuais de forjamento ou fundição, etc. De acordo com Silva (2002)
e González (1998), a rugosidade pode ser dividida em superfície geométrica, real e efetiva.
Para ser realizada a medição da rugosidade, a mesma deve ser separada da ondu-
lação e dos desvios macro geométricos, esta separação é feita através da filtragem, sendo
que o filtro de rugosidade difere o perfil de rugosidade dos demais desvios de forma. O
comprimento de onda do filtro se chama “cutt-off” e determina os dados que devem ser
usados na análise superficial.
No decorrer do processo de medição da rugosidade, o rugosímetro apalpa a su-
perfície a ser medida, sendo assim, podendo definir vários percursos e/ou comprimentos na
medição, Figura 1.
Figura 1 - Parâmetros de percursos durante o processo de medição de rugosidade. Fonte: NBR ISO 4287 (2002).
Segundo Silva (2006, pg. 61) o parâmetro Ra é definido sendo a média aritmética
dos valores absolutos das ordenadas de afastamento, Z (x), dos pontos do perfil de rugosi-
dade em relação à linha média como mostrado na Figura 2, dentro de um comprimento de
amostragem (cutoff).
A rugosidade parcial Z é definida como a soma dos valores absolutos das ordena-
das dos pontos de maiores afastamentos (acima e abaixo da linha média) existentes dentro
de um comprimento de amostragem le, como visto anteriormente. Este valor representa a
altura entre os pontos máximo e mínimo do perfil, dentro do comprimento de amostragem
e é representado pela Equação (2).
Este parâmetro também é conhecido como rugosidade RMS (Root Mean Squa-
re), por utilizar a média dos quadrados, que é mais sensível aos picos e vales do que o valor
definido por Ra. Segundo Silva (2006) este valor de Rq é empregado em superfícies onde o
acabamento mostra os riscos de usinagem bem orientados e principalmente em superfícies
onde o parâmetro Ra tem resolução mais baixa.
61
3 METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO
Para dar início as tarefas, optou-se por recolher uma amostra que aten-
desse as necessidades impostas na medição da superfície através do método tradicional dado
pelo rugosímetro e também através do método da microtomografia de raio-X, com auxílio
de uma linguagem computacional.
A amostra analisada, para que se pudesse dar início a metodologia, foi
uma pedra denominada ágata, Figura 4, encontrada em grande escala no município de
Soledade/RS, visto que a indústria da região é voltada para esse tipo de beneficiamento em
pedras.
3.1.1 Obtenção da amostras
analisada
O equipamento de tomografia do
Centro Tecnológico de Soledade é um Ins-
peXio SMX-90CT, Figura 6, de uma empresa
japonesa, a Shimadzu. Este equipamento é Figura 5 - Área da pedra ágata que
geralmente utilizado para analises não destru- foram realizados os testes. Fonte: Autor.
tivas de materiais, ou seja, para que se possa
analisar os materiais inter-
namente sem quebra-los ou
abri-los. Juntamente com
o SMX-90CT, é utilizado
um programa cujo nome é
VGStudio, o qual realiza a
montagem das imagens ob-
tidas na micotomografia,
possibilitando assim peças
tridimensionais que são ana-
lisadas superficialmente e in-
ternamente.
63
Figura 6 - Microtomógrafo SMX-90CT do Centro Tecnológico de Soledade. Fonte: Autor.
Para o estudo em si, o aparelho de tomografia não foi utilizado para uma análise
interior dos materiais, mas sim para uma análise superficial dos mesmos, portanto foram
testados diferentes parâmetros para a obtenção de uma imagem com resoluções adequadas
para análise da pedra ágata e do tecido.
Para que esta tarefa do cálculo da rugosidade pudesse ser efetuada, uma série de
etapas foi desenvolvida ao longo da programação no software de cálculos.
Assim, foram estudadas e criadas diversas técnicas e segmentos para que o feitio
dos cálculos computacionais pudessem obter um padrão e assim serem utilizados em qual-
quer outra linguagem de cálculos, conforme é mostrado na Figura 8 um passo a passo da
rotina de cálculos desenvolvida na linguagem computacional.
Figura 8 - Passo a passo para o calculo da rugosidade através da programação computacional. Fonte: Autor
Com a obtenção do perfil da rugosidade através do gráfico gerado pela programa-
ção, foi dado o próximo passo, que consiste em calcular o valor absoluto de todo o vetor de
dados. Este valor absoluto do vetor se faz necessário devido ao fato que para o cálculo da ru-
gosidade os dados analisados precisam estar nessa formatação para obtenção dos resultados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS dimensional a laser no desenvolvimento e ca-
TÉCNICAS. Especificações geométricas do racterização de texturas aplicadas ao design de
produto (GPS) - Rugosidade: Método do perfil produtos. 2006. 179 f. Dissertação de Mestrado
- Termos, definições e parâmetros da rugosidade: - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
ABNT NBR ISO 4287, Rio de Janeiro, 2002. (UFRGS). Porto Alegre 2006.
Resumo
1 INTRODUÇÃO
O estado do Rio Grande do Sul possui papel de relevância no setor mineral, com-
70
petindo com o mercado nacional e internacional, além de destacar-se como grande produ-
tor de gemas como ametista, citrino, ágata entre outras. Entretanto, apesar do potencial da
atividade de mineração, o setor ainda necessita de melhor infraestrutura para bom desen-
volvimento e valorização das atividades. Dentre essas, pode-se listar a formalização dos empreen-
dimentos junto aos órgão competentes, como também a observância ao licenciamento ambiental
e aos processos operacionais padrão para o beneficiamento mineral.
Nesse cenário, faz-se relevante a estruturação de sistemas técnicos e operacionalmente
viáveis para o setor, tanto economicamente quanto ambientalmente, objetivando a melhoria do
valor agregado às gemas lavradas e beneficiadas ao longo da cadeia produtiva mineral, em confor-
midade com a legislação vigente.
Segundo CETEM (2010), o valor agregado e o preço de mercado de um determinado
bem mineral, importante para a definição de uma jazida e o tipo de beneficiamento, está condi-
cionado a um elevado número de variáveis. Entre estas, pode ser salientadas a frequência em que
ocorrem esses minerais na crosta terrestre, a complexidade na lavra e beneficiamento, a distância
da mina ao mercado consumidor etc. Vale ressaltar o aspecto circunstancial, pois em dependência
da conjuntura político-econômica um depósito pode passar a ser uma jazida ou vice-versa. Neste
contexto, desenvolveu-se a análise de métodos e processos de tingimento pesquisados no APL de
Pedras, Gemas e Joias, onde identificaram-se diferentes procedimentos de tingimento empregado
nas gemas, sem controle de técnicas e processos operacionais.
Assim, verificou-se diversos tipos de tonalidades para as gemas, a partir de reagentes
inorgânicos e orgânicos, sendo que estas podem ser tingidas nestas diversas cores, conforme a
demanda e necessidade local. Desta forma, evidencia-se a relevância de estudos no que diz respeito
ao mecanismo em que se processam todas as etapas envolvidas nos procedimentos e métodos de
tingimento de ágatas.
Neste sentido, buscou-se a padronização dos processos e métodos de tingimento, por
meios quantitativos e qualitativos, visando à minimização do impacto ambiental gerado pelo
beneficiamento do mineral e a produção de efluente. Assim como, a quantificação dos reagentes
participantes do processo tendo em vista suas características físico-químicas. E, ainda, levando em
consideração a composição natural que cada mineral possui, comprovando a influência direta-
mente ou indireta da solução tingidora aplicado às ágatas.
Para tanto, a amostragem fora classificada conforme tipologias atribuídas às suas carac-
terísticas predominantes, buscando-se análises espectrofotométricas antes e depois do tingimento
e, ainda, após o polimento de cada peça. Contudo, após a análise de dados e interpretação destes,
preconiza-se a qualidade do tingimento, além da minimização de custos no processo visando a
sustentabilidade do empreendimento.
A prática desenvolvida objetivou-se primeiramente na classificação das gemas confor-
me a tipologia aderida pelo segmento mineral local do APL, seguindo com pesquisa in situ com
identificação dos processos de tingimento, sendo estes replicados, padronizados e otimizados no
Laboratório LAPROM da UFGRS e Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Gran-
de do Sul, com o intuito de reduzir o custo do processo operacional, reduzir a energia envolvida
no sistema, medir comprimento de onda das amostras analisadas e confrontar com o fluxo de
mercado do setor mineral local, visando normas técnicas e sustentáveis para o empreendedor.
2 MÉTODOS
Figura 7. Amostras de lâminas de ágata, da categoria “bandada”, posterior ao processo de beneficiamento, comtem-
plando o tingimento em solução verde, na numeração de 101 a 105, e tingimento em solução vermelha, na numeração
de 106 a 110.
Figura 8. Amostras de lâminas de ágata, da categoria “bandada”, posterior ao processo de beneficiamento, comtem-
75
plando o tingimento em solução preta, na numeração de 111 a 115, e tingimento em solução azul, na numeração de
117 a 120.
As amostras de ágatas também foram submetidas ao processo de polimento após o
tingimento, com equipamento apropriado. Lavou-se as amostras em quantidade mínima e
suficiente de água. Após, separou-se o sistema, armazenando, novamente, o efluente gerado
no processo.
A amostragem selecionada foi submetida, ainda, à analises por espectrofotome-
tria em três momentos: antes do tingimento, entre o tingimento e o polimento e após o
polimento. As leituras se executam com o auxílio do espectrofotômetro MINOLTA CM
– 2600d, com esfera de integração associada a um filtro ultravioleta. Usou-se como ilumi-
nante o D65, o qual representa a repartição espectral da luz do dia. Executa-se a calibração
do aparelho no início do trabalho, a partir do POP desenvolvida para a amostragem em
questão. Foram arbitrados cinco pontos por face, neste caso, dez por peça. Para a demar-
cação dos pontos, segue-se padronização de posicionamento, sendo um ponto próximo de
cada gravação a laser, um ponto na posição central da face, em peças sem concavidade, e um
par de pontos nas bordas ao lado do ponto central.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 9. Ilustração do gráfico representando o índice de cor refletida, sendo os índices a* e b* e a evolução e espectro-
gráficas desta escala.
Analisando as amostras em questão e avaliando o espectro de reflectância, pôde–se
obter os parâmetros colorimétricos L*, a* e b* determinados pela CIE (Comission Interna-
tional de l’Eclairage). Segundo Silva et al. (2007), esses parâmetros representam os eixos de
um diagrama tridimensional, onde os valores de a* indicam cores vermelhas e verdes; os va-
lores de b* demonstram cores amarelas azuis; e L* é uma medida da escala de cinza em uma
faixa de medida que varia de 0 a 100. A cor é definida pela combinação destas três escalas.
A Figura 9, representa a análise do índice de cor refletida, focando-se nas amostras
da submetidas no tingimento em verde. Inicialmente, identificou-se como notória a mu-
dança significativa de cor após o tingimento (indo do azul e vermelho esmaecidos aos verde 77
mais intensos), assim como a intensificação desta mudança após o polimento, visto que a
escala L* pondera o quão clara ou escura encontram-se as amostras analisadas, conforme
visualiza-se na Figura 10, a seguir.
Figura 10. Ilustração do gráfico representando a luz refletida (L*) nas diferentes etapas do beneficiamento da
ágata, para o tingimento em verde.
4 CONCLUSÕES
Ao constatar a realidade que o setor mineral encontra-se na região de Soledade/
RS, é notória a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao proces-
samento mineral. Assim como, também, a implantação de técnicas e processos de padro-
nização dos sistemas de tingimento. Nesta linha, o mercado e economia mineral se apro-
ximariam um pouco mais no que diz respeito as diretrizes, normas e legislações vigentes,
inclusive às ambientais.
Tendo em vista a padronização, a partir de procedimentos operacionais, para o
preparo das soluções tingidoras, obteve-se resultado satisfatório no quesito tingimento,
considerando que todo o processo fora realizado sem o uso de aquecimento, bem como a
redução do efluente gerado, o qual deve ser adaptado a realidade local do empreendedor.
Neste contexto, insere-se o processo como consoante à minimização do impacto ambiental
acarretado pelo beneficiamento do mineral, assim como de seus efluentes gerados.
Com base nas leituras espectrofotométricas, observa-se eficiência no processo de
tingimento em verde, assim como para as demais colorações, tornando o processo viável,
uma vez que não ocorreu distinção visual entre as ágatas tingidas em laboratório e as tingi-
das por processos rudimentares desenvolvidos na região.
78
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
84
A melhor conversão de substrato em células foi obtida com a concentração de
20% (20% de efluente de tinturaria e 80% de água residuária). Nestas condições verifica-
-se que 1,47mg de biomassa foram produzidas para cada miligrama de carbono orgânico,
entre os 48,50% removidos do efluente. O menor tempo de geração (29 horas) foi alcan-
çado com a diluição de 60%, evidenciada pela maior velocidade máxima específica de
crescimento, sendo de 0,023h-1. Nesta condição, verifica-se a maior concentração celular
(1006,46mg/L), seguida da diluição de 20% (973,13m/L) que apresentou melhor produ-
tividade em biomassa (1,45mg/L.h).
Com relação à remoção de carbono orgânico presente no efluente, a melhor con-
dição para o tratamento e efetiva eficiência de remoção, se deu no emprego do efluente sem
prévia diluição. Este perfil deve-se ao fato da menor concentração de carbono orgânico,
expressa em DQO, quando comparada aos demais experimentos em que empregou-se a
adição de água residuária para a realização das diluições.
A Figura 1 apresenta a evolução da produção celular (biomassa) para os cultivos empregando diferentes
concentrações do efluente de tinturaria 3 diluído em água residuária
4. CONCLUSÃO
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Augusto Capum Rodrigues 1, Cassiano Rossi dos Santos 2, Ivo André Homrich Schneider 3
Laboratório de Tecnologia Mineral e Ambiental (LTM) –Departamento de Engenharia de Minas (DEMIN),
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais (PPGE3M) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
augusto.capum@ufrgs.br1, cassiano_eng@hotmail.com2, ivo.andre@ufrgs.br3
RESUMO
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
Proveniência e caracterização do efluente industrial bruto
90
Tabela 1:Concentração de reagentes utilizados para tratamento do efluente industrial com proporção mássica de
1:5(Fe2+/H2O2).
RESULTADOS
Figura 2: Remoção de cor em relação ao efluente industrial bruto em função da concentração de reagentes
(FeSO4.7H2O, H2O2(35%)).
Figura 3: Imagem mostrando coloração do efluente industrial bruto e após o tratamento com diferentes
concentrações de reagentes (FeSO4.7H2O / H2O2(35%)).
Figura 4: Processo de tratamento pela técnica Fenton em proporção mássica Fe2+/H2O2 de 1:5 e concentrações de
reagentes FeSO4.7H2O/H2O2(35%) 25,256g/50mL por litro de efluente.
Após o tratamento pela técnica de Fenton, metade do volume do efluente foi
tratado com a adição de 2g/L de carvão ativado em pó. O efluente industrial bruto tratado
somente pela técnica de Fenton e tratado pela técnica de Fenton e pela adição de carvão 95
ativado podem ser visualizados na Figura 5. Nota-se que a cor residual não retirada pela
técnica de Fenton foi completamente removida pelo carvão ativado (Tabela 5).
Tabela5: Resultados finais comparativos entre o efluente industrial bruto, o efluente tratado com reação de Fenton e o
efluente tratado com reação de Fenton e carvão ativado.
Figura 5: Resultados finais comparativos entre o efluente industrial bruto, o efluente tratado com reação de Fenton e o
efluente tratado com reação de Fenton e carvão ativado.
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ATRIBUTOS QUÍMICOS DE SOLOS AGRÍCOLAS
SUBMETIDOS À APLICAÇÃO DE PÓ-DE-BASALTO
HIDROTERMALIZADO E EFEITOS NA PRODUÇÃO
VEGETAL 1
Jackson Korchagin(2); Clarissa Trois Abreu (3); Luana Dalacorte(4); Vanei Tonini(5); Rafael Muller(5);
Laurent Caner(6); Edson Campanhola Bortoluzzi(7)
Resumo
Introdução
Material e métodos
Local de estudo
O estudo foi realizado em uma propriedade rural no interior do município de
Soledade, no Rio Grande do Sul. O clima da região é classificado como subtropical Cfb, de
acordo com Köppen. Os experimentos foram instalados em dois locais: i) área sob campo
nativo e ii) área sob lavoura, cultivada com trigo. 99
A área sob campo nativo, com coordenadas geográficas de 28°47’35”S e
52°35’40”O, e altitude de 586 m, tem o solo classificado como Argissolo Vermelho Amare-
lo Alumínico, de acordo com Streck et al. (2008). Nesta região, quando os campos naturais
são bem manejados, a presença de solo descoberto é baixa, pois no estrato inferior as espé-
cies dominantes são rizomatosas, representadas pelo capim-forquilha (Paspalum notatum)
nos topos e encostas das coxilhas e estoloníferas como a grama-tapete (Axonopus affinis) nas
baixadas úmidas. O capim-caninha (Andropogon lateralis) é presença constante, destacan-
do-se no estrato superior (Boldrini, 2009).
A área sob lavoura, com coordenadas geográficas de 28°47’42”S e 52°36’01”O, e
altitude de 602 m, tem o solo classificado como Neossolo Regolítico, de acordo com Streck
et al. (2008). No verão, essa área é cultivada com soja (Glycine max (L.) Merr.) e no inverno
ocorre uma alternância entre o cultivo de trigo (Triticum aestivum L.) e o cultivo de azevém
(Lolium multiflorum Lam.), destinado ao pastejo de bovinos e ovinos.
Na Tabela 1 podem ser visualizadas as características químicas dos solos em estudo
antes da aplicação das doses de pó-de-basalto hidrotermalizado.
Tabela 1. Caracterização química de Argissolo Vermelho Amarelo Alumínico (AV) sob
campo nativo e de Neossolo Regolítico (NR) sob lavoura onde foram realizados os testes de
aplicação de pó-de-basalto hidrotermalizado, Soledade, RS
100
Figura1. Britador localizado próximo às minas de exploração de geodos de onde foi coletado o material utilizado
nos experimentos, Ametista do Sul, RS.
O valor de pH (em H2O) do material é de 9,6 e a composição química total da
rocha basáltica encontra-se na Tabela 2. Os elementos macro e traço foram determinados
por espectrometria de emissão, ICP, seguido de fusão em lítio metaborato/tetraborato dilu-
ído em ácido nítrico para digestão (Análises no ACME, Analytical Laboratories Vancouver,
Canadá).
Tabela 2. Composição química total da rocha de basalto hidrotermalizado, Ametista do Sul, RS
A B
Figura 2. (a) Fenocristais de plagioclásio (minerais mais claros) e grãos de piroxênio (minerais acinzentados) ao
centro da imagem; material esverdeado – com argilominerais celadonita e esmesctita, dentro de cavidades diktaxíticas 101
– à esquerda da imagem; (b) Cristais de apatita na forma de agulhas. Abreu et al. (2014).
A B
Figura 3. (a) Imagem capturada com o auxílio de um microscópio eletrônico de varredura de uma amostra de rocha
de basalto hidrotermalizado (argilomineral ao centro da imagem); (b) Análise semiquantitativa de elementos quími-
cos determinada com auxílio de raios-X por energia dispersiva. Abreu et al. (2014).
Em área de campo nativo foram delineados quatro blocos ao acaso e cinco doses
de pó-de-basalto (0, 1.000, 2.000, 4.000, 8.000 kg ha-1), aplicadas sobre a superfície do
solo em julho de 2014. O experimento totalizou vinte unidades experimentais (UE) com
dimensões de 2x2 m. A área foi demarcada e isolada ao gado no momento da instalação do
ensaio. No mês de novembro de 2014 coletaram-se amostras de solo (8 subamostras por
parcela) na camada de 0-10 cm, usando-se um trado calador (Figura 4a). A pastagem foi
mecanicamente cortada a 5 cm de altura do solo em toda a parcela usando-se uma roçadeira
costal (Figura 4b). O material coletado foi encaminhado para o Laboratório de Uso e Ma-
nejo do Território e dos Recursos Naturais da Universidade de Passo Fundo.
A B
Figura 4. (a) Amostragem de solo em campo nativo submetido à aplicação de pó-de-basalto hidrotermalizado; (b)
Coleta de massa verde em diferentes parcelas do experimento em de campo nativo, Soledade, RS.
A B
Figura 5. (a) Instalação do experimento com aplicação de diferentes doses de pó-de basalto hidrotermalizado e (b)
colheita das parcelas de trigo, Soledade, RS.
As amostras de solo foram secas ao ar, moídas e peneiradas em malha 2,00 mm.
Nelas, determinou-se o pH em água (relação 1:1); o índice SMP, com o qual estimou-se a
acidez potencial (H + Al) do solo; os teores de Al3+, extraído com KCl 1M e determinado
por meio de titulação ácido-base usando-se NaOH 0,0125 M; e os teores de P e K disponí-
veis, determinados pelo método Mehlich-I (Tedesco et al., 1995).
A produção de matéria seca em campo nativo foi estimada por pesagem das amos-
tras após secagem em estufa a 45º C. Para avaliação dos componentes de rendimento na
cultura do trigo, o material colhido foi trilhado, seco e pesado para determinação do rendi-
mento de grãos. Determinou-se também o peso hectolitro (PH) e o peso de mil sementes
(PMS).
Análise estatística
103
Resultados e discussão
O solo da região é naturalmente ácido (pH 4,9). Após quatro meses da aplicação
do pó-de-basalto, verificou-se: i) o aumento do pH em 0,3 pontos entre a testemunha e a
maior dose; ii) a diminuição dos teores de Al3+ e de H+Al de 1,8 para 1,3 cmolc kg-1 e de
17,7 para 12,2 cmolc kg-1, respectivamente (Figura 6) e; iii) aumento na produção de MS
de 600 para 1400 kg ha-1 (Figura 7).
Figura 6. Valores de pH, acidez potencial (H+Al) e teores de alumínio (Al3+) na camada
0-10 cm de um Argissolo sob campo nativo após a aplicação de diferentes doses de pó-de-basalto
hidrotermalizado, Soledade-RS. *Letras iguais não diferem significativamente pelo teste Tukey
(p<0,05). Dalacorte et al. (2015).
104
Os cátions básicos substituem os pontos ocupados pelos íons H+ e, ou, Al3+ que
são dessorvidos da superfície dos coloides após a reação da hidroxila, formada pela reação
do íon silicato com a água (Alleoni et al., 2009).
De acordo com Alcarde & Rodella (2003), o silicato de Ca é 6,78 vezes mais solú-
vel que o carbonato de Ca (CaCO3 = 0,014 g L-1 e CaSiO3 = 0,095 g L-1), apresentando
um potencial químico para correção da acidez do solo. No entanto, as mudanças químicas
no solo vão depender da concentração de minerais reativos no material aplicado, da granu-
lometria e da dose.
O aumento do pH do solo favorece a precipitação do Al3+ na forma de Al(OH)3
apesar de não alcançar o valor de pH cuja precipitação do Al3+ seria total (Figura 4).
Essas condições acabam favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular da
maioria das espécies vegetais com reflexos no ganho de biomassa. Esse efeito pode ser obser-
vado na produção de matéria seca da pastagem em campo nativo, onde os aumentos foram
de 63, 76, 55 e 101% respectivamente para as doses de 1.000, 2.000, 4.000 e 8.000 kg ha-1
de pó-de-basalto hidrotermalizado em relação à testemunha (Figura 7).
Figura 7. Produção de
matéria seca (MS) em pas-
tagem de campo nativo após
a aplicação de diferentes
doses de pó-de-basalto hidro-
termalizado, Soledade-RS.
*Letras iguais não diferem
significativamente pelo teste
Tukey (p<0,05). Dalacorte
et al. (2015).
Vale ressaltar que os resultados aqui apresentados são referentes aos componentes
da acidez do solo avaliados 4 meses após a aplicação do pó-de-basalto.
Tabela 4. Resultados de produtividade de trigo, peso de mil sementes (PMS) e peso hectolitro (PH) em relação a
doses de pó de metabasalto aplicadas em um Neossolo Regolítico, no município de Soledade, RS.
Considerações finais
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A influência da silicose nas atividades
diárias dos trabalhadores de mineração
Tamires Patrícia Souza 1*; Rafaela Souza 2; Alaíde Mezalina Gusso 3; Jorge Alan Souza 4;
Marli Maria Knorst1,3,5; José da Silva Moreira 1
Resumo
Introdução
Figura 1. Processo de adoecimento e principais regiões do trato respiratório afetadas pela sílica.
Fonte: Adaptado de LIPPMANN (1999).
A exposição a qualquer fator no ambiente de trabalho, seja ele, biológico, am-
biental ou relacionado à situação econômica, atuando isoladamente ou em interação com
fatores genéticos, pode causar dano à saúde do indivíduo. O tempo de exposição é um
componente importante para a mensuração, pois tanto a data do início da exposição aos
fatores ambientais do trabalho, quanto a duração são cruciais para a avaliação da quantidade
acumulada de determinadas substâncias (GONÇALVES et al., 2010).
No Brasil, o Ministério do Trabalho é responsável pelo estabelecimento de normas
de segurança para manter a saúde do trabalhador, e pela fiscalização do seu cumprimento.
Para tanto, existem algumas normas regulamentadoras (NRs), como a NR-15, que esta-
belece os limites de exposição no ambiente de trabalho para poeiras minerais de três tipos
de substâncias: sílica, asbesto e manganês; A NR-7, que trata do controle médico de saúde
ocupacional e prevê a elaboração de um programa de controle médico com o objetivo de
promover e preservar a saúde dos trabalhadores e a NR-9, que abrange o programa de
prevenção de riscos ambientais, estabelecendo a obrigatoriedade da elaboração e implemen- 109
tação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, dessa política preventiva de acidentes e de exposição a produtos prejudiciais à
saúde (GONÇALVES et al.,2010).
Diversas medidas para controlar a exposição ocupacional foram implementadas
no transcorrer dos últimos anos, reduzindo o risco de inalação de poeiras no ambiente de
trabalho. Entre as principais medidas consideradas coletivas, pode-se destacar: i) modi-
ficações nos processos de produção, nas máquinas e nas ferramentas; ii) implantação de
umidificação nas operações que geram poeira; iii) instalação de sistemas de ventilação local
exaustora; iv) isolamento ou enclausuramento de fontes geradoras de poeira; v) implantação
de programa de manutenção, entre outros processos (Figura 2) (KULCSAR NETO et al.,
2010).
Figura 2: Umidificação dos processos geradores de poeira e sistema ventilação local exaustora.
Fonte: Adaptado de KULCSAR NETO et al., 2010.
Materiais e Métodos
Resultados e Discussões
Figura 3. Apresentação da avaliação funcional dos trabalhadores com e sem silicose. Os dados originais foram
112
transformados linearmente em uma escala de 0 a 1, onde o grupo de participantes que teve o maior valor recebeu score
1 e o outro grupo recebeu escore proporcional.
morbidade em relação as doenças respiratórias. O que o remeteu a pensar na grande rota-
tividade de trabalhadores neste ramo, o que de certa forma seleciona os trabalhadores mais
saudáveis para permanecerem nestas indústrias (SALÍCIO et al., 2013).
O grau de dispneia avaliado pela escala MMRC, não demonstrou nenhum tipo
de desconforto respiratório durante as atividades diárias, mesmo no grupo de participantes
com silicose. Por outro lado, a dispneia avaliada pela mesma escala no estudo de Delourme
et al. (2012), foi relatada por todos os participantes (DELOURME, et al., 2012).
A silicose e as variáveis relacionadas confirmaram a relação entre os sintomas res-
piratórios e a silicose, bem como a função pulmonar comprometida. Por outro lado, foi
possível observar que quanto menor o dano pulmonar, ou quando este é inexistente, a fun-
ção respiratória apresenta-se normal. Entre os sinais e sintomas mencionados é comum que
sejam identificados mais de um sintoma no mesmo trabalhador, o que é influenciado pela
gravidade da doença, tabagismo, nutrição e outras comorbidades associadas.
Estudos anteriores sobre testes de função pulmonar e testes de esforço físico des-
crevem resultados bastante diversos, como no estudo de Florêncio et al.(1989), que encon-
trou alteração em menos trabalhadores. Por outro lado, já foram encontrados resultados
com diminuição da capacidade respiratória em todos os trabalhadores estudados (COWIE
et al., 1998). Os achados pulmonares também podem ser diversos, uma vez que não se pode
padronizar a forma como são conduzidos os estudos relacionados à saúde dos trabalhadores
expostos a sílica, bem como não se pode padronizar a forma de leitura dos achados nos
locais de coleta dos dados (LOPES et al., 2008).
Na figura 4 podem-se observar os equipamentos de proteção individuais (EPIs)
mais utilizados pelos trabalhadores de ambos os grupos. O uso da máscara de proteção P53
foi relatado pela maioria dos trabalhadores (97%), sendo 217 (99%) trabalhadores sem
silicose e 119 (92%) trabalhadores com silicose. O uso de botas de borracha durante as
atividades de trabalho também foi relatado por grande parte dos trabalhadores. Referiram o
uso de botas de borracha 217 (99%) trabalhadores sem silicose e 113(88%) trabalhadores
com silicose.
Figura 4. Apresentação dos EPIs utilizados pelos trabalhadores com e sem silicose. Os dados originais foram trans-
formados linearmente em uma escala de 0 a 1, onde o grupo de participantes que teve o maior valor recebeu score 1 e 113
o outro grupo recebeu escore proporcional.
Os trabalhadores de ambos os grupos também relataram o uso de capacete (85%).
Porém, assim como nos outros EPIs, a maior proporção de uso deste equipamento de pro-
teção, se deu no grupo de trabalhadores sem silicose (89%) em comparação ao grupo com
silicose (79%). O uso do avental e do protetor auricular foi raramente relatado, quando
comparados aos outros equipamentos.
Embora nos dias atuais existam inúmeras maneiras de diminuir a concentração
de poeira no ambiente de trabalho, seja pelo sistema de ventilação, ou pela perfuração de
rochas a úmido, o uso dos EPIs ainda é a principal ferramenta de proteção ao alcance dos
trabalhadores (DNPM, 2006; RIBEIRO, 2010). Em nosso estudo, foi encontrada alta pre-
valência de trabalhadores que referiram o uso de máscara (97%), botas de borracha (95%)
e capacete (85%).
No entanto, sabe-se que essa realidade pode ser modificada de acordo com in-
fluências externas, como a temperatura do ambiente, o fornecimento dos equipamentos
adequados, ou a possibilidade de compra e manutenção desses equipamentos pelos próprios
trabalhadores (BAGATIN et al., 2006).
Em estudo realizado com trabalhadores de mineração na Paraíba, não foi verifi-
cado o uso adequado dos EPIs por nenhum dos trabalhadores (CABRAL et al., 2012). A
ausência do uso de EPIs também foi encontrada no estudo de Leite (2013), onde além dos
trabalhadores não utilizarem os equipamentos adequadamente, as empresas não possuíam
equipamentos de proteção coletiva visando à diminuição da emissão de poeiras contendo
sílica respirável.
A baixa escolaridade desses trabalhadores também pode influenciar negativamen-
te na compreensão da importância da proteção individual, na tentativa de retardar ou de
impossibilitar o surgimento das doenças ocupacionais a que estão expostos. Isso pode ser
observado em estudo realizado previamente com trabalhadores do processamento de ágata,
onde os que tinham menor acesso a educação usavam menos os EPIs, quando comparados
aos trabalhadores com cinco ou mais anos de estudo (AGGARWAL et al., 2013).
Conclusão
Conclui-se que, embora o teste de esforço físico não tenha demonstrado diferenças
estatísticas significativas entre os grupos de trabalhadores com e sem silicose, deve-se desta-
car que a doença é lenta e progressiva, assim, quando as atividades diárias forem influencia-
das negativamente por ela, o dano pulmonar pode apresentar-se muito elevado. Portanto,
torna-se relevante a avaliação periódica dos trabalhadores para diagnóstico mais precoce e
afastamento das atividades que possam prejudicar ainda mais sua situação de saúde.
Os esforços realizados pela COOGAMAI e pelo CDST demonstraram
melhora das condições de trabalho e de atendimento à saúde, contudo, para que haja con-
trole da exposição a poeiras no ambiente de trabalho é necessário que medidas efetivas,
tanto de abrangência coletiva como de proteção individual sejam utilizadas com seriedade
pelos trabalhadores. Adicionalmente, todos devem estar cientes do risco da exposição ocu-
pacional e da necessidade do uso pleno das medidas e equipamentos de prevenção.
114
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