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Anais do 43º Congresso Brasileiro de Cerâmica 17301

2 a 5 de junho de 1999 - Florianópolis – S.C.

ESTUDOS MICROESTRUTURAIS DE REFRATÁRIOS DE ALUMINA CONTENDO


AGREGADO MULITA-ZIRCÔNIA

C. R. Ferrari, J. A. Rodrigues
Universidade Federal de São Carlos - Grupo de Engenharia de Microestrutura de
Materiais - Rodovia Washington Luis, Km 235, 13565-905 – São Carlos, SP, Brasil.
e-mail: josear@power.ufscar.br

RESUMO

O desempenho dos materiais refratários, os quais são freqüentemente


submetidos a elevadas temperaturas e cargas, está intimamente relacionado com a
evolução microestrutural durante a sua vida em serviço. Neste contexto, foi realizado o
estudo da evolução microestrutural de refratários de alumina contendo diferentes
teores de agregado mulita-zircônia, submetidos à tratamentos térmicos de 2, 6 e 18
dias a 1400oC e 1500°C. Foram formulados ainda, alguns tijolos contendo microssílica,
que para comparação, foram submetidos ao tratamento térmico de 6 dias a 1500 oC. Os
tratamentos térmicos aplicados permitiram aproximar-se do uso do refratário
considerando apenas o efeito do tempo e da temperatura. Neste trabalho, foram
utilizadas as técnicas de microscopia eletrônica de varredura e difração de raios X para
identificação e caracterização das fases presentes. Aplicou-se o método de Rietveld
para a análise quantitativa das fases. Reações de interface alumina-agregado e
reações entre alumina e microssílica, ativadas pela temperatura, puderam ocorrer,
resultando na mulitização do sistema em questão. O efeito da mulitização foi
especialmente notado nos resultados de módulo de ruptura para os materiais que
continham microssílica.

Palavras-chaves: Refratários, Microestrutura, Tratamento Térmico, Agregado.

INTRODUÇÃO

Entre os diversos segmentos industriais, a siderurgia tem sido o principal


consumidor de refratários. Estudando-se a demanda de refratários pelos diversos
segmentos industriais, verifica-se que as mudanças de processos siderúrgicos
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influenciaram o perfil da demanda destes produtos. A tendência observada passou a


ser para refratários de melhor qualidade, exigindo-se maior conteúdo tecnológico.
Nesse contexto o projeto da microestrutura tem um papel relevante.
Foi observado(1) em estudos de refratários de alta alumina contendo agregado de
mulita-zircônia que a microestrutura resultante logo após a sinterização não é ainda
uma microestrutura de equilíbrio. O mais importante é que a transformação em direção
ao equilíbrio durante a operação do refratário em alta temperatura, em função do
tempo, promove uma melhoria significativa da resistência à fluência, que combinada
com o aumento da resistência ao dano por choque térmico devido à presença do
agregado, coloca sobre esses refratários boas perspectivas de aplicação tecnológica.
Observou-se naquele agregado usado(1,2), que na sua composição após o resfriamento
da eletrofusão, havia pequena quantidade de fase vítrea a qual foi um dos fatores que
causaram a degradação da resistência mecânica e resistência à fluência dos tijolos
refratários estudados. Após tratamento térmico de 10 dias a 1400 oC a formação de
mulita promoveu um aumento da resistência mecânica desses materiais. Isto foi
explicado através de transformações de fase que se processam ao longo do tempo, na
busca pelo equilíbrio entre a matriz de alumina e as partículas de agregado.
Dessa forma, para uma melhor compreensão dos comportamentos mecânico e
termomecânico desses materiais, o objetivo deste trabalho foi o estudo da evolução
microestrutural para os refratários de alta alumina contendo diferentes teores de
agregado mulita-zircônia tratados termicamente a diferentes temperaturas durante
diferentes períodos.
No presente trabalho, foi utilizado um agregado com uma nova composição, a
qual resulta em um caminho de cristalização diferente daquele que ocorre com os
agregados utilizados nos estudos anteriores(1,2) e que assim, não contém fase vítrea.
Dessa forma, optou-se pela utilização de um agregado mais refratário com a intenção
de se obter um tijolo mais resistente à fluência.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais e preparação dos tijolos refratários

Os refratários foram obtidos a partir de misturas das seguintes matérias-primas:


alumina tabular, Alcoa T-60; alumina calcinada, Alcoa APC-2011SG; agregado mulita-
zircônia, Elfusa TP-35 e microssílica, Elkem 971D.
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As matérias primas foram misturadas em um misturador planetário com a adição


de 2%-p (porcento em peso) de água e 2%-p de um aditivo de conformação (dextrina),
conforme a tabela I. Com relação a granulometria, foram preparados dois tipos de
materiais: Um com granulometria considerada fina (GF), para facilitar mudanças
microestruturais durante os tratamentos térmicos. Neste, a distribuição do tamanho de
partículas variou entre menor que 45m até 297m, sendo que, neste caso, o
agregado mulita-zircônia forma a parte “grosseira” do tijolo refratário (tamanho de
partícula <297m). Outro com granulometria considerada grosseira (GG), o qual foi
feito para simular os efeitos de tempo e temperatura dos refratários que são
efetivamente utilizados na prática. Dentro da distribuição granulométrica utilizada, o

Tabela l: Composições dos tijolos refratários estudadas


(unidade em %-p)
Matérias-primas Denominação das Composições
0% 20% 40% (20+5)%
Alumina Tabular T-60 90 70 50 65
Alumina Calcinada APC-2011SG 10 10 10 10
Agregado Eletrofundido TP-35 - 20 40 20
Microsílica 971-D - - - 5

material GG foi projetado para ser o mais denso possível. A distribuição do tamanho de
partículas, para este material variou entre menor que 45m até 6300m, sendo que,
neste caso, a alumina tabular formou a parte grosseira do tijolo refratário (tamanho de
partícula <6300m). Após a mistura, as composições foram compactadas em
paralelepípedos de 40x40x160mm, sob pressão de 23 MPa e sinterizados a 1510C
por 12 horas.
Os tratamentos térmicos, para a busca do equilíbrio, foram realizados em duas
temperaturas e três tempos diferentes: 1400C e 1500C por 2, 6 e 18 dias. A notação
que será utilizada daqui em diante para a denominação dos tijolos refratários, conterá
além da indicação da composição química, o tratamento térmico aplicado e
granulometria, como por exemplo: n%(x/y)-z. Assim, n indica a quantidade de agregado
utilizado na preparação; x o período de tratamento térmico; y a temperatura de
tratamento térmico e z a granulometria.
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Materiais e preparação das amostras de controle para a técnica de Rietveld

O método de Rietveld foi aqui utilizado para se poder fazer uma análise semi-
-quantitativa das fases presentes nos materiais estudados. A vantagem da sua
aplicação é que se dispensa outras metodologias muito mais trabalhosas de análise
com padrões e curvas de calibaração. Para o seu uso, basta se obter um bom
difratograma do material a ser analisado e se ter o conhecimento prévio das fases
presentes. O programa computacional que executa o método de Rietveld necessita dos
dados cristalográficos das fases presentes no material. Através da otimização de
diversos parâmetros, o programa emite como resultado, por exemplo, a quantidade
relativa de cada fase presente no material(3).
As amostras de controle foram preparadas com o objetivo de serem utilizadas no
auxílio e controle dos resultados de análise quantitativa de fases por difração de
raios-X empregando-se o método de Rietveld. Com os resultados destas amostras
pretendeu-se avaliar principalmente a confiabilidade do programa de cálculo do método
de Rietveld.
As matérias-primas utilizadas foram: alumina tabular, Alcoa T-60 (<45m);
zircônia, Elfusa ZNE (<45m) e quartzo. Os pós foram misturados e moídos em
almofariz de ágata nas proporções apresentadas na tabela II.

Tabela II: Composições das amostras de controle (unidade em %-p)


Matérias-Primas Denominação das composições
80A19Z1S 80A20Z 60A40Z 40A60Z
Alumina T-60 80 80 60 40
Zircônia ZNE 19 20 40 60
Quartzo 1 - - -

Como não se esperava encontrar quantidades muito baixas de sílica cristalina nos
tijolos retratários estudados, a adição de apenas 1% em peso de quartzo nas amostras
de teste foi realizada para se analisar a sensibilidade do programa de Rietveld frente a
uma quantidade pequena deste componente nos materiais.
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Caracterização

Para a caracterização microestrutural as amostras foram cortadas e polidas


usando-se pasta de diamante de até 1m e observadas em microscópio eletrônico de
varredura Cambridge Stereoscan S400. Para a análise quantitativa de fases, foi
utilizada a técnica de difração de raios X com o auxílio do método de Rietveld. Os
difratogramas foram obtidos passo a passo em um difratômetro Siemens D5000, com
radiação CuK, num intervalo de varredura 2 entre 15o e 60o com incremento 2=
0.033o e tempo de contagem, por ponto, de 3 segundos. O programa DBWS9411 (3) foi
utilizado para a análise quantitativa de fases, segundo o método de Rietveld.
Para a caracterização mecânica foram realizadas as medidas de módulo de
ruptura (MOR ou f) à temperatura ambiente para os materiais com granulometria
grosseira, com e sem tratamento térmico. Para o cálculo desta propriedade, foi
empregado o ensaio de flexão em três pontos em corpos de prova sem entalhe,
fraturado catastroficamente. Para a caracterização física foram realizadas, nos
materiais com granulometria fina e grosseira, com e sem tratamento térmico, medidas
de porosidade aparente (P.A.) através do método de imersão em água (método de
Arquimedes) e medidas de intrusão de mercúrio pela técnica de porosimetria de
mercúrio. As medidas de intrusão de mercúrio foram realizadas em um porosimetro da
Micromeritics, modelo Porosizer 9320.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Confiabilidade dos resultados da análise quantitativa de fases

A reprodutibilidade dos resultados da análise foi estudado obtendo-se


difratogramas de três diferentes amostras da mesma composição. Foi utilizada a
composição 40%(18/1500)-GF. Os resultados mostraram que o espalhamento das
medidas é menor que 7,8%.
Na tabela III são apresentados os resultados das análises quantitativas de fase
das amostras de controle. Nela, pode ser visto a porcentagem do desvio da
composição, em colchetes, obtida das análises em relação aos valores nominais
(tabela II). Apresenta-se também os índices de R-Bragg entre parênteses. Os sinais “-“
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e “+” representam o sentido do desvio. Como pode ser visto, a porcentagem de erro
variou entre 2 e 15,79% em relação ao nominal, com exceção da sílica que apresentou
um erro de até 60% demostrando a dificuldade de se medir uma concentração tão
pequena.

Tabela III: Análise quantitativa de fase das amostras de controle


(unidade em %-p).
Fases
Composição Al2O3 ZrO2 SiO2
80A19Z1S 83,60 [+4,5%] (2,67) 16,00 [-15,8%] (6,20) 0,40 [-60,0%] (12,71)
80A20Z 82,80 [+3,5%] (6,10) 17,20 [-14,0%] (7,88) -
60A40Z 61,20 [+2,0%] (12,01) 38,80 [-3,0%] (13,09) -
40A60Z 45,50 [+13,8%] (8,09) 54,50 [-9,2%] (7,28) -

Os valores de R-Bragg variaram de amostra para amostra, demostrando melhor


ajuste para algumas amostras do que para outras. No entanto, de modo geral, os
valores apresentados estão dentro do aceitável.

Análise quantitativa de fases do agregado mulita-zircônia

Foi realizada a análise quantitativa de fases pelo método de Rietveld do


agregado de mulita-zircônia e o resultado é mostrado na tabela IV juntamente com a
composição obtida no catálogo do fornecedor.

Tabela IV: Composição do agregado mulita-zircônia


(unidades em %-p).
Fases catálogo Rietveld
mulita 60 70,3 (3,99)#
zircônia 38 26,1 (3,98)
alumina - 3,5 (7,14)
Impurezas 2 -
# Valores de R-Bragg.
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Valores bastante diferentes do catálogo foram obtidos após análise de Rietveld,


tanto nas quantidades de mulita e zircônia, como na presença de uma pequena
quantidade de alumina; demostrando assim, os desvios que ocorrem na composição
das matérias-primas.

Análise quantitativa de fases dos refratários completos, sem microssílica

A partir da composição do agregado mulita-zircônia obtida através do método de


Rietveld, foi calculada a composição química esperada dos tijolos refratários utilizados
neste trabalho, as quais são apresentadas na tabela V. Nas tabelas VI e VII são
apresentados os valores das análises quantitativas de fases de alguns tijolos para o
grupo das composições contendo 20% e 40% de agregado, respectivamente. Além do
R-Bragg, estas tabelas apresentam os valores que estão entre colchetes que são a
porcentagem da diferença entre as quantidades obtidas pelo método de Rietveld em
relação ao que era esperado (tabela V); indicando, dessa forma, além da precisão do
programa, os desvios devido às matérias-primas e ao processamento.

Tabela V: Composições calculadas dos tijolos refratários. Unidade em %-p.


Composições
Fases 20% 40% *
Alumina 80,70 61,40
Mulita 14,10 28,20
Zircônia 5,20 10,40

A sílica foi introduzida nas análises pois podia estar ocorrendo em todos os
materiais. No entanto, dos resultados obtidos não se pode afirmar sua presença, pois
esta fase apresentou-se com quantidades muito baixas, e como visto nas análises das
amostras de controle, estes valores podem estar dentro do erro experimental. Além
disso, os R-Braag obtidos para esta fase são muito elevados.
Comparando-se ainda as quantidades obtidas para os tijolos refratários com o
que era inicialmente esperado (tabela V), percebe-se uma tendência de que as
quantidades de alumina obtidas são sempre maiores do que foi inicialmente calculado;
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as quantidades de mulita sempre menores e de zircônia bastante próximas ao que foi


inicialmente calculado. Com relação aos tratamentos térmicos, nenhuma tendência foi
observada.

Tabela VI: Porcentagens em peso das fases contidas nos


refratários de 20%-p de agregado.
Composições e tratamento térmico
Fases 20% (S)-GF 20% (2/1400)-GF 20% (6/1500)-GF 20% (18/1500)-GF

Alumina 86,80 [-7,6%] 88,40 [-9,5%] 85,03 [-5,4%] 86,20 [-6,8%]


#
(5,56) (4,04) (4,61) (3,06)

Mulita 8,30 [+41,1%] 4,60 [+67,4%] 7,30 [+48,2%] 7,20 [+48,9%]


(16,71) (16,51) (15,70) (20,50)
Zircônia 4,80 [+7,7%] 6,70 [-28,8%] 7,70 [-48,1%] 6,30 [-21,2%]
(8,06) (12,71) (10,78) (8,85)
Sílica - 0,30 (29,00) - 0,21 (23,35)

# Valores de R-Bragg, Não era esperado.

Assim, conclui-se que se no agregado utilizado estivesse presente a sílica, esta


poderia facilmente reagir com alumina (com tamanho de partícula pequena), ativada
pela temperatura, para formar mulita, o que não fica claro através dos resultados
obtidos. Além disso, se a reação não pudesse ocorrer, esta fase amorfa deveria então
se cristalizar durante os tratamentos térmicos prolongados, o que também não se pode
afirmar através dos resultados obtidos.

Tabela VII: Porcentagens em peso das fases contidas nos


refratários de 40%-p de agregado.
Composições e tratamento térmico
Fases 40% (S)-GF 40% (2/1400)-GF 40% (6/1500)-GF 40% (18/1500)-GF

Alumina 63,60 [-3,6%] 63,35 [-3,2%] 62,80 [-2,3%] 65,48 [-6,6%]


(3,37)# (4,16) (4,32)
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Mulita 24,90 [+11,7%] 25,40 [+9,9%] 23,80 [+15,6%] 23,08 [+18,2%]


(4,65) (16,91) (15,61)
Zircônia 11,30 [-8,7%] 10,55 [-1,4%] 12,60 [-21,1%] 11,17 [-7,4%]
(5,63) (9,77) (8,77)
Sílica 0,15 (1,67) 0,65 (16,13) 0,80 (39,54) 0,70

# Valores de R-Bragg,  Não era esperado.


 Média aritmética obtida após três análises de três amostras diferentes da mesma composição

Análise quantitativa de fases dos refratários completos, com microssílica

Na composição com 20%-p de agregado, foi adicionado 5%-p de microssílica


amorfa para se promover a formação de mulita.
A tabela VIII apresenta a composição inicial calculada a partir da composição
química do agregado e da adição de microssílica e a composição esperada no caso de
toda a microssílica reagir para formar mulita. A tabela IX apresenta os resultados da
análise quantitativa de fases e as porcentagens da diferença entre o obtido e o
esperado, para esse material.
Comparando-se então as tabelas VIII e IX, conclui-se que houve uma diminuição
da quantidade de alumina em relação à composição inicial calculada e um aumento da
quantidade de mulita. Indicando assim, uma proválvel reação com formação de mulita
como era desejado. As composições obtidas pelo método de Rietveld, estão entre os
extremos da tabela VIII. Como pode ser visto ainda, na tabela IX, uma quantidade da
microssílica adicionada cristalizou-se, indicando provavelmente que localmente não
havia suficiente alumina fina para a reação.

Tabela VIII: Composições calculadas dos refratários (20+5)%.


Unidade em %-p.
Fases Composição inicial calculada Composição final esperada

alumina 75,70 62,97


mulita 14,10 31,83
zircônia 5,20 5,20
sílica 5,0 0,0
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Tabela IX: Porcentagem em peso das fases contidas nos


refratários (20+5)%.
Composição e tratamento térmico
Fases (20+5)%(S)-GG (20+5)%(6/1500)-GG
Alumina 70,30 [+11,6%] (4,26)# 69,90 [+11,0%] (4,40)

Mulita 22,90 [-28,1%] (13,23) 21,20 [-33,4%] (11,03)


Zircônia 4,50 [+13,5%] (11,70) 5,90 [-13,5%] (13,58)
Sílica 2,30 (15,03) 3,30 (14,59)
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Caracterização mecânica

Medidas de módulo de ruptura à temperatura ambiente foram realizadas nos


materiais com granulometria grosseira contendo 20% de agregado mulita-zircônia
sinterizados e tratados termicamente por 2, 6 e 18 dias à 1400oC e 1500oC.
Para o estudo do efeito da mulitização do sistema sobre esta propriedade
mecânica, foram ensaiados ainda os corpos contendo 5%-p de microssílica [(20+5)%
(S)-GG e (20+5)%(6/1500)-GG] com granulometria grosseira. Os resultados são
apresentados na tabela X.
Afim de se comparar o MOR dos materiais, com diferentes valores de
porosidades, aplicou-se correção de acordo com a equação (A)(5), abaixo, e ocupando-
se os valores de porosidade da tabela X. Os resultados de MOR foram normalizados
em relação ao refratário menos poroso, sublinhado na tabela X, (20+5)%(S)-GG.

(A)

Na equação (A), P é a porosidade e b uma constante adimensional. Neste caso foi


utilizado o valor de b=4(5,6). Como pode ser observado na tabela X, a adição de 20% de
agregado mulita-zircônia em uma matriz de alumina teve um efeito benéfico para o
material da ref.1, promovendo um aumento na resistência mecânica. No entanto, para
os materiais aqui estudados esta adição apresentou um efeito deletério. Esta
comparação pode ser feita uma vez que os materiais contendo apenas alumina, de
ambos os trabalhos, apresentaram valores de f normalizados próximos.
Aparentemente, a distribuição do tamanho de partículas das matérias-primas dos
materiais deste trabalho limitou a resistência mecânica pela criação de grande falhas
como pode ser observado pelos resultados de porosimetria de Hg (ver tabela XI). Os
poros formados entre os grãos destes materiais possuem diâmetro equivalente dentro
da faixa 20-30m (composição 20%-GG). Considerando-se a equação de Griffith(5),

(B)
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onde Y é um fator geométrico, eff é a energia efetiva de superfície; E é o módulo


elástico e a é o defeito crítico.

Tabela X: Resultados de MOR e porosidade aparente (P.A).


para os refratários com granulometria grosseira deste trabalho
ensaiados após diferentes tratamentos térmicos. Nas duas
últimas linhas apresenta-se como referência os valores extraídos
da ref. 1.
Código da Tratamento f (MPa) P.A. (%-vol) f normalizado
composição térmico (MPa)
0% Sinterizado 11,6250,484 19,84 14,273

20% Sinterizado 3,3350,415 15,77 3,479

20% 2dias/1400oC 3,6520,275 18,70 4,284

20% 6dias/1400oC 3,1110,328 19,64 3,789

20% 18dias/1400oC 3,1910,431 - -

20% 2dias/1500oC 3,4180,245 19,46 4,133

20% 6dias/1500oC 3,3450,356 18,48 3,889

20% 18dias/1500oC 3,4990,203 18,32 4,043

(20+5)% Sinterizado 6,0800,420 14,71 6,080

(20+5)% 6dias/1500oC 4,9280,458 21,21 6,391

0% (ref. 1) Sinterizado 14,100 15,30 14,437


20% (ref.1) Sinterizado 17,600 15,30 18,020

Para o material contendo apenas alumina de granulometria grosseira (0%-GG), os


poros formados possuem diâmetro equivalente na faixa de 2-3m. Considerando-se
estas grandes falhas como o defeito crítico e introduzindo-se estes valores na equação
(B) e fixando-se os demais valores, chega-se à conclusão que f do refratário completo
é 0,3 vezes o f do material contendo somente alumina, o que concorda com os valores
encontrados na tabela X. A adição de 5% em peso de microssílica, no entanto,
acarretou um aumento significativo no MOR quando comparado com os materiais sem
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microssílica (ver tabela X). Este aumento foi ainda maior para o material, desta mesma
composição, tratado termicamente por 6 dias à 1500 0C quando o efeito da porosidade
é normalizado.
Acredita-se que a adição de microssílica contribuiu no processo de coesão da
microestrutura através da formação de mulita, promovendo o surgimento de
interligações entre os grãos.

Tabela XI: Distribuição de tamanho de poro obtida através da


porosimetria de Hg.
Composição Tratamento térmico Faixa do diâmetro médio do poro (m)

0%-GG Sinterizado 2-3


20%-GG Sinterizado 20-30
20%-GG 18dias/1500oC 20-30

0%-GF Sinterizado ~1,5


20%-GF Sinterizado ~2
20%-GF 18dias/1500oC ~2

As figuras 1a e 1b mostram imagens de MEV da composição com microssílica e


sem microssílica, respectivamente. Na figura 1a podem ser observados grandes grãos
do agregado mulita-zircônica e grandes grãos de alumina tabular envoltos em matriz
fina de alumina (alumina tabular + alumina calcinada + microssílica). Na figura 1b, da
composição sem microssílica, a matriz fina de alumina foi “perdida” durante o processo
de corte e polimento da superfície o que demonstra a fraca ligação entre os grandes
grãos do agregado e a matriz.
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Figura 1: Micrografias das superfícies polidas das composições (a) (20+5)%(6/1500)-


GG e (b) 20%(18/1500)-GG. MEV com detector de elétrons secundários.

Dessa forma, comparando-se os dois materiais, pode-se observar uma


microestrutura mais interligada e portanto mais resistente dos materiais contendo
microssílica. Assim, a utilização deste agregado, embora seja mais refratário do que o
agregado utilizado em trabalhos anteriores(1,2), promoveu pouca resistência mecânica
devido a formação de uma microestrutura onde há falta de ligação matriz/agregado.
Uma maior coesão da microestrutura é favorecida com a adição de uma pequena
quantidade de microssílica, a qual irá auxiliar, durante a sinterização e tratamentos
térmicos usados, a formação de mulita promovendo assim uma microestrutura mais
interligada e portanto mais resistente mecanicamente. A reação completa da
microssílica não permitiria a formação de fases vítreas e portanto não comprometeria a
resistência à fluência.

CONCLUSÕES

(i) Os refratários formulados com granulometria grosseira, embora projetados para


serem densos, possuem resistência mecânica baixa devido principalmente à uma
microestrutura na qual ocorre a falta de ligação entre a matriz fina e os grandes grãos
do agregado e da alumina tabular;
(ii) Os resultados de análise quantitativa de fases utilizando-se o método de Rietveld
mostram que o agregado utilizado neste trabalho apresenta as fases mulita, zircônia e
uma pequena quantidade de alumina. Sem a presença de fase vítrea, este agregado é
mais refratário. No entanto, mesmo após a aplicação de tratamentos térmicos
prolongados, não foi observada a ocorrência de reação entre o agregado de mulita-
zircônia e a alumina.
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(iii) Os resultados de MOR mostraram a importância da adição, de uma pequena


quantidade de sílica nestes refratários, pois a formação de mulita promove uma
microestrutura mais resistente mecanicamente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio financeiro e ao Prof. Dr. C. O. Paiva-Santos, da


Unesp-Araraquara, pela orientação nas análises quantitativas de fases utilizando-se o método de
Rietveld.
Anais do 43º Congresso Brasileiro de Cerâmica 17316
2 a 5 de junho de 1999 - Florianópolis – S.C.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1). WOLF, C., et al. Effect of Mullite-Zirconia Additions on the Creep Behaviour of High-Alumina
Refractories. Journal European Ceramic Society, v.15, p.913-920, 1995.
(2). SALVINI,V.R., Propriedades Termomecânicas de Refratários no sistema Al2O3-3Al2O3.2SiO2-
ZrO2. São Carlos, 1995, 134 p., Dissertação de Mestrado em Engenharia de Materiais, Universidade
Federal de São Carlos.
(3). YOUNG, R. A., et al. Rietveld Analysis of X-Ray and Neutron Powder Diffraction Patterns In: User’s
Guide to Program DBWS-9411, Atlanta, 1995, 60 p.
(4). YOUNG, R. A. The Rietveld Method. International Union of Crystallography Book Series, 1995.
(5). ZANOTTO,E.D., MIGLIORE,A.R., Propriedades Mecânicas de Materiais Cerâmicos: Uma Introdução.
Cerâmica, v.37, n.247, p. 7-16, 1991.
(6). DÖRRE, E., HÜBNER, H. Mechanical Properties In: ____. Alumina. Springer-Verlag, 1994. p. 74-
103.

MICROSTRUCTURAL STUDIES OF ALUMINA REFRACTORIES CONTAINING MULITE-ZIRCONIA


AGGREGATE

ABSTRACT

Due to the application of refractories, these materials are frequently submitted to high temperatures
and loads. The performance under such hard conditions is closely related to the microstructural evolution
and changes during use. This work is focused on microstructural evolution of high-alumina refractories
containing mullite-zirconia aggregates in various concentrations. The materials were submitted to heat
treatments at 1400oC and 1500oC, for periods of 2, 6 and 18 days to bring the characteristics of
refractories in use. Some formulations incorporated microssilica, with very fine granulometry, in order to
induce mullitization, though reaction with alumina. These compositions were heat treated at 1500 oC for 6
days. Scanning electronic microscopy and X-ray diffraction were employed to phase characterization. For
the quantitative phase analysis Rietveld technique was used. Reaction in the interface alumina-aggregate
and alumina-microsilica tooke place as a result of heat treatments, causing mullitization. This effect was
mainly noted for results of modulus of rupture at room temperature for compositions containing
microsilica.

Key words: Refractories, Microstructure, Heat Treatment, Aggregate.

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