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RESUMO
O objetivo deste trabalho foi produzir telhas do tipo “romana” (capa-canal) de escória de alto-
forno (resíduo da produção de aço) e de cimento Portland comum (CP III RS), reforçadas com
rejeito de fibras celulósicas de eucalipto e analisar o comportamento térmico da cobertura.
Para o desenvolvimento deste estudo foi realizada uma análise comparativa do
comportamento térmico do interior de dois protótipos habitacionais idênticos, submetidos às
mesmas variações climáticas. A única variante foi a composição das telhas, à base de cimento
de escória de alto-forno ou de cimento Portland. Os protótipos de 7,5 m2 foram localizados no
Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (Crhea), da Universidade de São Paulo, em
São Carlos, SP, Brasil, onde as informações do clima local (radiação global, temperatura do
ar, umidade relativa, precipitação, velocidade e direção do vento) e os dados de temperatura
interior dos protótipos foram monitorados. Foi empregada metodologia da zona de conforto e
também foram avaliadas as propriedades físicas e mecânicas das telhas. Os resultados
revelaram a potencialidade de fibrocimentos alternativos, produzidos por meio de técnicas
simples e de baixo consumo de energia, direcionados à autoconstrução urbana e rural de baixo
custo. Trata-se ainda de importante ferramenta para contribuir na conservação do ambiente, à
medida que transforma resíduos sólidos industriais em matérias-primas de componentes
construtivos.
PALAVRAS-CHAVE
Para Nããs (1989), o desempenho animal (ganho de massa e produção de leite) é conseqüência
do funcionamento do seu sistema homeotermo. O animal torna-se mais saudável e produtivo,
pois, dentro, de uma variação de temperatura denominada zona de conforto ou de
termoneutralidade, ocorre o menor desgaste do animal.
Quanto ao ser humano, o conforto térmico é importante para o seu bem-estar. Este pode ser
visto como “um estado mental que reflete satisfação com o ambiente que envolve a pessoa -
nem quente nem frio” (ASHRAE, 1985). A edificação é um dos fatores responsáveis para que
tal sensação agradável ocorra, pois esta é a ligação entre o ambiente interno e as variações
climáticas externas.
Para Silva (2001), a edificação necessita estar adequada ao sítio onde está localizada, pois o
bem estar térmico está diretamente relacionado, entre outras variáveis, ao projeto apropriado
da edificação, aos materiais construtivos empregados e à localização geográfica. O clima
exterior sofre constantes variações e as construções devem possibilitar a regularização e a
adaptação às condições exteriores, conforme as exigências de conforto.
Este trabalho tem como meta determinar o comportamento térmico da telha de cimento de
escória de alto-forno reforçada com polpa celulósica em substituição ao uso do cimento
Portland (de custo elevado) e da fibra de amianto (prejudicial à saúde humana).
PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS TELHAS ALTERNATIVAS
As telhas produzidas neste estudo possuem formato semelhante à telha cerâmica comercial
tipo romana “capa canal”, com aproximadamente 50 cm de comprimento, 25 cm de largura e
9 mm de espessura. Foram empregadas matérias-primas alternativas, consideradas resíduos
industriais: um cimento composto de 88% de escória básica de alto-forno moída, ativada com
2% de cal hidratada CH-I e 10% de gipsita. Essa matriz foi reforçada com 5% de polpa de
celulose de eucalipto (Eucalytus grandis). A relação água-aglomerante foi igual a 0,5 com uso
de 2% de aditivo superplastificante (porcentagens em relação à massa de aglomerante).
Para efeito comparativo das telhas, também foi produzida uma série com 95% de cimento
Portland CP III RS, 5% de sílica ativa, relação água-aglomerante de 0,50 com uso de 3% de
aditivo superplastificante, reforçado com 5% de polpa de celulose de eucalipto, conforme
Tabela 1.
A polpa de celulose residual de eucalipto oriunda da Aracruz Celulose, ES, Brasil, foi
submetida à dispersão com o uso de um liqüidificador de alta rotação (concentração de 5,6 g
de fibra por litro de água), drenada por simples filtragem, particulada com o uso de uma
batedeira laboratorial e mantida hermeticamente fechada em ambiente refrigerado, até o uso.
Destaca-se a vantagem da fibra se encontrar em forma de polpa, a qual necessita apenas
desintegração em água fria (baixo consumo de energia de processamento), por ser de fácil
homogeneização na matriz de cimento e apresentar grande disponibilidade e custo reduzido.
Para moldagem das telhas, a argamassa é colocada sobre um filme plástico e é adensada por
vibração a 2200 rpm por 2 minutos, adquirindo a forma de placa retangular, com uma
saliência em uma das extremidades. Posteriormente, é inserido um furo, para servir de
amarração das peças, caso deseje-se fixá-las no ripamento com um arame. A seguir, o quadro
é levantado e a placa recém-moldada segue sobre o filme plástico, para a fôrma de formato da
telha. Após 24 h, as telhas são desformadas e os filmes plásticos retirados, sendo
encaminhadas para cura imersa em água saturada de cal por 14 dias. Após 28 dias foram
realizados os ensaios laboratoriais (Figura 2).
O experimento foi realizado em Itirapina, Estado de São Paulo, Brasil, na bacia hidrográfica
do Ribeirão do Lobo. A região apresenta coordenadas geográficas: 22º01’22” de latitude sul e
48º57’38”de longitude oeste, e altitude na cota de 733 m. O estudo aconteceu na área da
Estação Climatológica do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (Crhea), que faz
parte do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo.
Por meio da estação meteorológica automática CR10X (Campbell Scientific Inc.), foram
monitorados dados climáticos externos tais como: temperatura e umidade relativa do ar,
pressão atmosférica, radiação solar, velocidade dos ventos e precipitação.
Chamixaes (1991) estudou a radiação solar média na bacia do Lobo, que variou de 306,36 a
539,64 cal*cm-2*dia-1 no período de junho e dezembro de 1988 respectivamente. Os valores
de radiação solar registrados diariamente no verão eram mais elevados do que os valores
registrados no inverno.
40
38
36,34
36
34
32
30,09
29,27
Temperatura (ºC)
30
28
27,41
26
24
22
20
18,38
18
18,23 18,04
16
17,02
14
4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 9 9 9 9
Dias
tbs = temperatura de bulbo seco
tsi = temperatura superficial interna Escória tbs (2m) Escória tsi Cimento tbs (2m) Cimento tsi
Na Figura 5, observa-se que a máxima temperatura superficial (tsi) foi de 36,34ºC no sistema
de cobertura com telhas de cimento Portland, e de 29,27ºC no sistema com telhas de cimento
de escória de alto-forno. A diferença entre temperaturas de superfície foi de aproximadamente
7ºC.
Com relação à temperatura de bulbo seco (tbs), constatou-se que os dois sistemas de cobertura
estavam dentro da faixa de conforto térmico proposta por Givoni (1992) entre os limites de
18ºC a 29ºC. De acordo com a metodologia utilizada por Vecchia (1997), isso pode ser
explicado pelo fato de ambas as telhas serem do mesmo tipo (romana) e reforçadas com a
mesma polpa de celulose de eucalipto. A única diferença entre elas é o tipo de matriz
utilizada: cimento Portland ou cimento de escória de alto–forno. A telha de cimento de
escória apresenta coloração mais clara (fenômeno de carbonatação superficial), em relação à
de cimento Portland, o que a torna mais favorável à reflexão da radiação. Além disso, o
compósito com matriz de escória apresentou maior porosidade permeável (Tabela 2). Esses
fatos podem explicar parcialmente as diferenças entre os valores de tsi dos dois sistemas.
COMENTÁRIOS FINAIS
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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Universidade de São Paulo, São Paulo. 204p.
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Cyted/Universidad del Valle, Cali. p.23-40. (Artículo 03).
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Engenharia Agrícola. Anais. Sbea, Jaboticabal. p.1-4. (CD-Rom).
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Fortaleza. (CD-Rom).
Devito, R.A.; Savastano Jr., H.; Cunha, L. (2002). Matrizes à Base de Cimento Reforçadas
com Celulose de Eucalyptus grandis. Engenharia Agrícola, vol.22, n.1, p.11-21.
Devito, R.A.; Savastano Jr., H.; Vecchia, F.A.S. (2000). Telhas de Cimento de Escória de
Alto-Forno Reforçado com Fibras Celulósicas Residuais. In: Simpósio do Curso de Pós-
Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, 6. e Simpósio do Curso de Especialização
em Educação Ambiental, 5. Anais., PPG-SHS-EESC-USP, São Carlos. 1p. (Disquete).
Givoni, B. (1992). Comfort, Climate e Analysis and Building Design Guidelines. Energy and
Building, vol. 18.
Gram, H.-E.; Gut, P. (1994). Directives Pour le Controle de Qualite. Skat/BIT, St. Gallen.
69p. (Serie Pedagogique TFM/TVM: Outil 23).
Nããs, I.A. (1989). Princípios de Conforto Térmico na Produção Animal. Ícone, São Paulo,
183p.
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