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UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS APLICADOS A PROJETOS DE
ESTABILIDADE DE REFORÇO
Elaboração
Giovanna Monique Alelvan
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS APLICADOS A PROJETOS DE ESTABILIDADE DE REFORÇO..................................................... 5
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE TENSÃO E DEFORMAÇÃO ............................................................................................................................ 5
CAPÍTULO 2
TEORIA DO EMPUXO E RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO ..................................................................................... 13
CAPÍTULO 3
CONCEPÇÃO DE PROJETOS DE ESTABILIDADE ........................................................................................................... 19
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................24
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CONCEITOS BÁSICOS
APLICADOS A PROJETOS
DE ESTABILIDADE DE
UNIDADE I
REFORÇO
Para elaborar um projeto de reforço em encostas, é necessária a compreensão de diversos
outros temas paralelos. Neste capítulo, são apresentados alguns dos conceitos essenciais
para o entendimento e a elaboração de projetos geotécnicos, especificamente de reforço
de encostas.
Capítulo 1
CONCEITO DE TENSÃO E DEFORMAÇÃO
1.1. Tensão
Todos os pontos de um maciço de solo estão sujeitos a esforços. Esses esforços são
provenientes do peso próprio e de forças externas. Quando um ponto da massa é
solicitado por esses esforços, conforme Figura 1, eles podem ser representados pelas
suas resultantes, por meio de vetores nas direções normais e tangenciais.
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Quando essa análise é feita sobre um plano qualquer de área A, definem-se os estados
de tensão normal ( σ α ) e tensão cisalhante ( τ α ) para um plano α, sendo:
Rα
σα =
A (1)
Rα
τα =
A (2)
Uma vez que se conhecem essas tensões, pode-se determinar as tensões atuantes em
qualquer outro plano (Figura 3) por meio das equações de equilíbrio de força. Para um
plano qualquer, elas são dadas por:
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pnx σ x τ yx τ zx cos ( n, x )
pny = τ xy σ y τ zy cos ( n, y )
pnz τ xz τ yz σ z cos ( n, z ) (3)
» Planos Principais:
Os planos chamados de principais são aqueles em que as tensões cisalhantes são nulas,
e as tensões normais são dadas por σ 1 > σ 2 > σ 3
» Invariantes de tensão
Os invariantes de tensão são valores obtidos por meio do tensor de tensão que independem
da orientação dos eixos. Os três principais invariantes são designados por: ( I1 ; I 2 ; I 3 ) e
são calculados por:
I1 = σ x + σ Y + σ Z = σ 1 + σ 2 + σ 3 (4)
I 2 = σ 1σ 2 + σ 2σ 3 + σ 3σ 1
(5)
I 3 = σ 1σ 2σ 3
(6)
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» Plano octaédrico:
Apresenta inclinação constante com relação aos planos principais. As tensões normais
e cisalhantes aplicadas nesse plano são calculadas por:
(σ 1 + σ 2 + σ 3) I1
=σ oct =
3 3 (8)
1
1
(σ 1 − σ 2 ) + (σ 2 − σ 3 ) + (σ 3 − σ 1 ) 2
2 2 2
τ oct=
3 (9)
A condição de deformação plana ocorre quando uma das dimensões é muito maior que
as demais. Por isso, na direção maior, as deformações são consideradas desprezíveis.
Um exemplo ocorre nos muros de contenção, em que se considera que as deformações
acontecem apenas no plano ortogonal a face do muro (Figura 4).
1.1.1.2. Axissimétrica
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Círculo de Mohr
O círculo de Mohr é uma representação gráfica dos estados de tensão que passam
por um ponto. Nesse modelo, o eixo das abscissas representa as tensões normais, e
as ordenadas as tensões cisalhantes.
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1.2. Deformação
As deformações em volume representativo de solo podem ser duas origens: tensões
normais ou tensões cisalhantes. As deformações que são originadas exclusivamente pelas
tensões normais podem ser calculadas pelas relações entre o comprimento deformado
e o comprimento inicial, conforme:
∆x ∆y ∆z
=εx = ;ε y = ;ε z
x y z (12)
Quando se faz a soma de todas as parcelas de deformações geradas por forças normais,
determina-se a deformação volumétrica do corpo:
∆x ∆y ∆z
εv = + +
x y z (13)
Por outro lado, as deformações que são geradas devido às deformações cisalhantes
levam a uma distorção angular no corpo. Esse parâmetro é, então, calculado entre a
configuração do ângulo inicial e a final, conforme:
∆x
γ zx =
z * (14)
*(válido apenas para pequenas deformações) (14)
As elásticas são aquelas recuperáveis. Isso quer dizer que, quando um corpo é
carregado, ele sofre uma quantidade de deformações. Essas deformações são
totalmente recuperáveis se o corpo for descarregado.
Por outro lado, as deformações plásticas são aquelas permanentes ao corpo. Isso quer
dizer que, após um ciclo de carregamento e descarregamento, existirão alterações
na configuração do corpo que não podem mais ser recuperadas.
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A depender do material, essas relações podem ou não ser linear. No caso dos solos, já
se comprovou que essa relação é não linear, já que a inclinação da curva varia de acordo
com o nível de tensões e a trajetória de carregamento ou descarregamento feita.
Quando há uma relação linear entre duas variáveis, elas podem ser representadas por
uma reta. Já uma relação não linear, os pontos entre as variáveis não são compatíveis
com uma reta.
Na mecânica dos meios contínuos, na qual se enquadra a mecânica dos solos, são usados
módulos para definir a inclinação das curvas de tensão-deformação. Esses módulos, que
podem ser chamados de módulo de elasticidade, módulo de deformabilidade, módulo
de Young, são medidos para certo nível de tensão.
50% tensão
de ruptura Tensão de ruptura
Eur
Tensão
E50
Resposta elástica no
descarregamento
Em que Ei é o módulo tangente inicial; E50 módulo secante, passando pela origem e a
50% da tensão na ruptura; Eur módulo de descarregamento.
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A interação entre essas três fases é que gera as respostas durante uma solicitação. A
partir dessa abstração, Terzaghi (1943) desenvolveu o Princípio das Tensões Efetivas.
Esse princípio busca representar o comportamento tensão-deformação dos solos: para
os solos saturados, uma parcela da tensão normal é transmitida pelos grãos e outra pela
água. A tensão de cisalhamento é apenas transmitida pelos grãos, já que se considera
que a água não resiste a tensões cisalhantes.
Desde o tópico anterior, quando falamos sobre deformação, usamos o termo “mudança
de configuração”. Nesse sentido, o princípio das tensões efetivas deixa isso ainda mais
claro. Isso porque, segundo Terzaghi, a compressibilidade dos solos está relacionada
a mudança de posição das partículas. Como o solo é um meio poroso, quando
carregado, as partículas mudam de local e ocupam os vazios. Segundo o autor, esse
deslocamento é muito mais significativo do que qualquer compressibilidade que
o grão possa apresentar.
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Capítulo 2
TEORIA DO EMPUXO E RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO
Empuxo de terra são as ações horizontais que o maciço produz nas estruturas que estão
em contato com o solo/rocha. No caso de estruturas de contenção, é muito importante
que a distribuição desses empuxos seja conhecida em toda a extensão do elemento, para
que se avaliem as necessidades estruturais e os possíveis deslocamentos que possam
ocorrer.
Para melhor entender como o empuxo atua nas estruturas, serão apresentados três
conceitos: empuxo no repouso, empuxo ativo e empuxo passivo.
As tensões iniciais que existem em um maciço são aquelas originadas pelo peso próprio
dele. Geralmente, adotam-se algumas simplificações para o estabelecimento de um
padrão de distribuição mais simplificado, chamado de distribuição geostática, sendo elas:
Essas simplificações fazem com que seja possível admitir os planos verticais e horizontais
como planos principais, já que não existem tensões cisalhantes atuando nessas direções.
Além disso, o cálculo da magnitude da tensão horizontal também passa a ser possível,
já que se considera que a deformação horizontal é nula. Veja na Figura 7 um esquema
de distribuição dessas tensões.
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No caso de algumas das simplificações não serem verdade, como no caso de um talude
de face inclinada, as direções vertical e horizontal deixam de ser as direções principais
(em função do aparecimento de tensões cisalhantes), e a tensão horizontal se torna
indeterminada.
σ 'h = K 0σ 'v (15)
Dessa maneira, conforme o princípio das tensões efetivas, o empuxo total é obtido por
meio da soma da parcela efetiva mais a parcela de poropressão ( u ):
σ h K 0σ 'v + u
=
(16)
O valor de K0 pode ser obtido por meio de ensaios de campo e de laboratório. Contudo,
existem na literatura alguns valores típicos (Tabela 1):
Solo K0
Areia fofa 0,55
Areia densa 0,40
Argila de alta plasticidade 0,65
Argila de baixa plasticidade 0,50
Fonte: Gerscovich et al. (2016).
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Em termos simples, em obras que são feitas estruturas para suportar o maciço de solo,
este tende a criar esforços horizontais no sentido de “empurrar” a estrutura, a qual
reage tentando afastar-se do maciço. Nesse caso, diz-se que o empuxo é de natureza
ativa (Figura 8).
Figura 8. Exemplos de obras de natureza ativa. (a) muro de proteção contra erosão superficial; (b)
muro de gravidade.
(a) (b)
O empuxo passivo é quando a estrutura é empurrada contra o solo. Nesse caso, diz-se
que a força exercida pela estrutura sobre o solo é de natureza passiva (Figura 9).
Apesar de haver essa diferenciação entre a natureza do empuxo, é comum encontrar nas
obras geotécnicas situações em que ambos ocorrem, como é o caso de estacas pranchas
com parte enterradas, conforme Figura 10.
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Ativo
Passivo
Distribuição Real Distribuição
Simplificada
» O solo é homogêneo.
» O solo é isotrópico.
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θ '
=K a tan ² 45 −
2 (17)
θ '
=K p tan ² 45 +
2 (18)
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Atrito
Resistência
entre partículas
Resistência ao
Coesão
cisalhamento
Imbricamento
(interlocking)
a. Atrito: dentro da mecânica dos solos, o atrito entre duas partículas é simulado
de forma análoga ao deslizamento de um corpo rígido sobre uma superfície. A
tensão tangencial para promover o deslizamento depende da tensão normal e do
coeficiente de atrito entre o corpo e o plano.
b. Coesão: a coesão entre partículas é vista na mecânica dos solos como um aglutinador
(uma cola) entre elas. A coesão está, então, relacionada às ligações físico-químicas
entre as partículas, especialmente importantes nos solos argilosos e em solos
cimentados.
(a) (b)
Veja nas videoaulas deste capítulo a apresentação dos modelos de ruptura dos solos.
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Capítulo 3
CONCEPÇÃO DE PROJETOS DE ESTABILIDADE
Execução de investigação de campo para identificar as características do maciço e definir o nível freático
Identificar as condições críticas de operação da estrutura, avaliando todas as etapas da vida útil
Esses tipos de amostras são aquelas retiradas em campo que mantêm a estrutura
original do solo. São utilizadas em ensaios de laboratório para identificar propriedades
de campo e em ensaios para análise tensão-deformação. Para saber mais sobre os
procedimentos de obtenção dessas amostras, veja a ABNT NBR 9604/2016.
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Onde:
» FS = 1 – Ocorre ruptura
» FS < 1 não tem significado físico, pois as tensões mobilizadas são maiores que a
resistência e, por isso, a estrutura não suportaria.
Uma vez que seja definido o nível de segurança associados à consequência do rompimento,
podem ser definidos fatores de segurança para deslizamentos, a partir da Tabela 3:
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Conceitos Básicos Aplicados a Projetos de Estabilidade de Reforço | UNIDADE I
A ABNT NBR 11682:2009 descreve “os requisitos exigíveis para o estudo e controle
da estabilidade de encostas e taludes resultantes de cortes e aterros realizados em
encostas”. Veja mais no site https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=51490.
Nos métodos de equilíbrio limite, é feito o cálculo do equilíbrio de uma massa ativa
do solo, isto é, da massa sobre uma superfície de ruptura que se deslocará em caso de
ruptura. Em suma, esse método assume as seguintes características:
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» considera-se que todos os pontos dessa superfície atinjam FS=1 ao mesmo tempo;
Na próxima unidade, uma visão mais detalhada desses métodos será apresentada.
Esse tipo de método é utilizado nas análises computacionais, sendo eles o método dos
elementos finitos (MEF) ou o método das diferenças finitas (MDF). Ele apresenta diversas
vantagens, das quais destacam-se:
» não homogeneidade;
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Figura 14. Definição da superfície de ruptura – Comparação entre os métodos do equilíbrio limite e
o método de análise de tensões.
Aterro
Superfície de ruptura
Equilíbrio limite
Análise de tensões
Além dos tópicos aqui abordados, é muito importante para projeto que as propriedades
dos materiais sejam apropriadamente definidas. A norma ABNT NBR 11682:2009
estabelece quais as investigações geotécnicas devem ser feitas. A partir da definição
das propriedades, o projetista deve avaliar qual análise mais se aproxima das condições
reais (inclusive avaliando a influência da água).
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REFERÊNCIAS
BRAJA, M. Das. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. Thomson Learning. São Paulo: São
Paulo, 2016.
GERSCOVICH, DENISE M. S. Estabilidade de Taludes. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
GUIMARÃES, K. P. Cortinas atirantadas: estudo de patologias e suas causas. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2015.
PALMEIRA, E. M. Utilização de geotêxteis como reforço de aterros sobre solos moles. 282 f.
Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 1981.
PALMEIRA, E. M. Geossintéticos em geotecnia e meio ambiente. São Paulo: Oficina de Textos, 2018.
PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas. 3. ed., São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
TAYLOR, D. W. Fundamentals of soils mechanics. Nova York: John Wiley e Sons, 1948.
TERZAGHI, K. & PECK, R. B. Theoretical soil mechanics. Nova York: John Wiley e Sons, 1948.
UNSPLASH. The internet’s source. Disponível em: https://unsplash.com/. Acesso em: jun. 2020.
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