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RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
No Brasil, de 1996 a 2002, menos de 1 milhão de novas residências foi conectado à rede elétrica
e no mesmo período o consumo de energia elétrica passou para 2 mil kWh/ano/habitante; na
Noruega, por exemplo, chega-se a 26 mil kWh/ano/habitante (ABDIB, 2003).
O crescimento contínuo dos picos de demanda de energia elétrica é um problema comum nas
distribuidoras de energia de todo o mundo. Para equilibrar a curva de demanda, os grandes
consumidores recebem incentivos para uso da energia disponível em horários de baixo
consumo. Esse benefício é particularmente viável na climatização shopping centers e as
indústrias têxteis, onde são instalados sistemas de termoacumulação. Tapia et al (1996)
mostraram a viabilidade desse tipo de equipamento aplicado a uma indústria têxtil, mediante o
uso de eletricidade nos horários de baixa demanda para resfriamento de fluido destinado à
climatização.
TERMOACUMULAÇÃO
ISOLAMENTO TÉRMICO
Isolantes térmicos podem ser fabricados a partir de materiais vegetais, minerais ou sintéticos.
Nos compostos de fibras, pós ou flocos, o material sólido se encontra finamente disperso num
espaço contendo ar e a condutividade térmica (k) depende das propriedades radiantes da
superfície do material sólido, assim como da natureza e da fração volumétrica do espaço entre
as partículas.
O EPS é um tipo de isolante de uso bastante difundido na construção civil, sendo restringido
apenas em casos onde exigem-se resistências mecânica e à temperaturas elevadas. Aplicado
tanto para enchimento de lajes como para isolamento térmico de paredes e teto, também pode
ser utilizado como agregado em bloco de concreto leve, usado na fabricação de
termoacumuladores.
Limitações de espaço podem obrigar a construção de tanques enterrados no solo. Nesse caso,
tanques de PVC, fibrocimento ou concreto não são indicados devido aos problemas com o
isolamento, tanto no que tange a durabilidade como a manutenção. Eliminar o isolamento, por
outro lado, compromete a eficiência do termoacumulador devido à transferência de calor do
solo, ainda que em taxas reduzidas. Essas limitações podem ser superadas quando se utiliza
material com resistência térmica alta o suficiente para dispensar o uso de isolamento. Esse é o
caso do bloco de concreto leve, constituído de cimento com agregado de EPS. Nesse caso,
quanto maior a quantidade de EPS no traço (cimento / areia / água / plastificante), menor a
densidade do bloco e maior sua resistência térmica; conseqüentemente, menor será a taxa de
transferência de calor entre o meio e o fluido contido pelo reservatório construído com esse
tipo de material.
O concreto leve é um concreto convencional, onde a brita é substituída pelo EPS em forma de
pérola pré-expandida, ou em flocos moídos. Sua densidade pode variar entre 400 e 1600
kg/m³, enquanto a resistência mecânica deve ser mantida dentro dos valores estabelecidos
pelas normas de segurança para usos não estruturais. Sua rigidez pode ser aumentada
utilizando-se placas de EPS para preencher as cavidades centrais do bloco. Com EPS como
agregado do cimento e na forma de placas, sua resistência térmica aumenta e,
conseqüentemente, diminui o fluxo de calor entre o meio e o fluido de trabalho.
METODOLOGIA
Os blocos de concreto leve foram fabricados nos traço 6-10 (60 litros de flocos de EPS e 100
litros de areia grossa), 10-6 e 8-8. Em cada traço foram gastos um saco de cimento de 50 Kg,
30 litros de água e 100 ml de plastificante. O bloco utilizado na base de cada reservatório
media 73x45x10cm, enquanto os que compunham as paredes tinham (45x27x10)cm.
Na união dos blocos que compunham cada reservatório, foi utilizada uma massa de cimento
com traço de 3 de areia fina para 1 de cimento. Duas demãos de “Sika Top 107” conferiram
impermeabilização aos blocos. Quatro termopares tipo K, ligados a três termômetros digitais,
foram fixados em cada reservatório, de acordo com a seguinte disposição: T1 (imerso em
água); T2 (inserido num ponto localizado na metade da parede); T3 (inserido na parede
externa) e T4 (ambiente), ver Figura 1.
Parede interna de
placa de EPS
Parede externa
Estrado de compensado
Base
20 20
Bloco " 6-1 "
°C
°C
T água
15 15 T meio parede
T ext parede
T amb
10 10
5 5
0 0
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
min min
(a) (b)
35 35
30 30
25 25
Bloco "8-8"
Bloco "1-6" T água
T água 20 T meio parede
20
T meio parede T parede ext
T parede ext T amb
°C
°C
15 T amb 15
10 10
5 5
0 0
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
min min
(a) (b)
A maior diferença entre as temperaturas ambiente (T-4) e no meio da parede (T-2) foi de
12,9°C no padrão, 19,8°C no bloco leve 6-10, 16,7°C no termoacumulador com bloco leve
10-6 e 16,3°C no termoacumulador com bloco leve 8-8. Enquanto no termoacumulador
padrão a temperatura da mistura levou cerca de 60 min para estabilizar-se, no com bloco leve
“6-10” foram 120 min; no “10-6” ocorreu após 270 min e no “8-8” após 300 min.
Esses resultados deveram-se à taxa de transferência de calor entre a mistura e o ambiente,
maior no padrão, sobre as correntes de convecção presentes na mistura.
O ∆T da mistura água-gelo entre o início e o fim dos experimentos foi de 10,2°C para o
termoacumulador padrão, 5,2°C para o com bloco leve “6-10”, 2,2°C para o “10-6” e de
apenas 1°C para o “8-8”, conforme Tabela 1, abaixo.
Na Tabela 1 constata-se que o termoacumulador “8-8” foi o que apresentou menor diferença
entre a temperatura final e a inicial, durante o intervalo de tempo considerado.
14
12
10
8
°C
6
4 BP
6-10
2
10-6
8-8
0
0 100 200 300 400 500 600
min
FIGURA 5. COMPARAÇÃO DA VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DA MISTURA DOS 4
TERMOACUMULADORES
18
16
°C
14
12
10
Observa-se na figura acima que, durante o intervalo de tempo compreendido entre t = 100min
e t = 500min, a temperatura da parede interna do termoacumulador “6-10” manteve-se entre
6°C e 8°C. Nas paredes dos termoacumuladores “8-8” e “10-6”, a temperatura indicada pelo
termopar “2” (ver fig. 4), apresentou uma variação média de 1°C, mantendo-se entre 13°C e
14°C no período de t = 100min a t = 500min. No termoacumulador “BP”, a temperatura
variou de 14°C a 19°C no mesmo período de tempo considerado nas análises descritas acima.
28
27
26
25
°C 24 BP
6-10
23
10-6
22 8-8
21
20
19
18
17
0 100 200 300 400 500 600
min
Constatou-se uma diminuição nas temperaturas das paredes externas durante o período de t = 0
min até cerca de t = 150min. Após esse período, a temperatura da parede de “BP” passou de
18°C para 20,5°C (∆T = 2,5°C). Nos construídos com concreto leve, a partir de t = 150min a
temperatura variou cerca de 0,5°C (em “6-10”), 1,5°C (em “8-8”) e 1°C (em “10-6”). Portanto,
nesses a temperatura da parede externa sofreu variação média de 1°C durante todo o intervalo
de tempo considerado nos experimentos. Ao final de 500min, a diferença entre as temperaturas
das paredes externas dos termoacumuladores de concreto leve e padrão foram, respectivamente:
5°C em relação ao “6-10”, 6°C em relação ao “8-8” e 7°C em relação ao “10-6”.
Os testes de resistência à compressão dos blocos de concreto leve foram realizados de acordo
com as normas NBR 6461 (ABNT, 1983a) e NBR 7171 (ABNT, 1983b). Os resultados
obtidos nos ensaios, mostrados abaixo, na Tabela 2.
Para poder ser utilizado como elemento construtivo em alvenaria de vedação, o valor mínimo
a ser obtido nos ensaios deveria ser de 2 MPa. Os testes com corpos de prova dos blocos “6-
10”, “10-6” e “8-8” foram realizados numa máquina de ensaio de compressão do Laboratório
de Concreto – LC, do Núcleo de Tecnologia Industrial da UFRN. Analisando-se os dados
apresentados na Tabela 2, constata-se que os valores encontrados para os três blocos estão
dentro das normas estabelecidas pela ABNT, para elementos construtivos que podem ser
utilizados como alvenaria de vedação (Costa et al., 2003).
CONCLUSÕES
Além do fato de proporcionar economia de energia, outro aspecto relevante da pesquisa diz
respeito ao problema ambiental. Não existe, até a presente data, técnica que possibilite o
reaproveitamento do EPS de modo economicamente viável.
Nos experimentos realizados, os blocos de concreto leve foram fabricados utilizando-se EPS
reaproveitado a partir do lixo. Assim, a pesquisa disponibilizou uma forma viável de
contribuição para redução do problema causado pelo descarte do EPS no meio ambiente.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao apoio obtido junto aos seguintes fomentadores da pesquisa: Direção
do Núcleo Tecnológico Industrial – NTI da UFRN; Direção do Centro de Tecnologia – CT da
UFRN e a Equipe CT ENERG da UFRN e da UFPI. A realização da pesquisa descrita neste
trabalho só se tornou possível graças ao financiamento do CNPq, através do Projeto CT
ENERG – Processo N° 552.372/01-3.
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1983a). NBR 6461. Bloco Cerâmico para
Alvenaria – Verificação da Resistência à Compressão, Método de ensaio.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1983b). NBR 7171. Bloco Cerâmico para
Alvenaria – Especificações.
Costa et al. (2003). Estudo da Resistência Mecânica de Bloco de Concreto Leve. In: Simpósio
sobre Desempenho Térmico de Sistemas Construtivos Alternativos. Natal – RN, Agosto de
2003. Anais em CD-ROM.
Kreith, F.(1977). Princípios de Transmissão de Calor. Edgard Blücher Ltda, São Paulo, 550p.