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CONFORTO TÉRMICO EM PROTÓTIPOS RESIDENCIAIS DE

MADEIRA UTILIZANDO TELHADO VERDE


CHAGAS, Gilmara Rayanne da Silva (1); MACÊDO, Ayanne Silva (2);
CAVALCANTI, Alan Barbosa (3); OGATA, Igor Souza (4)
(1) Graduanda em Eng. Civil, gilchagas150@gmail.com
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
(2) Graduanda em Eng. Civil, ayannemacedo@gmail.com
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
(3) Mestre em Engenharia Civil e Ambiental, profalancavalcanti@gmail.com
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
(4) Doutorando em Engenharia Civil e Ambiental, igor_ogata@hotmail.com
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

RESUMO
Em virtude da importância do conforto ambiental térmico, a aplicação de telhados verdes torna-se solução
sustentável para usufruir das condições térmicas adequadas. Este artigo apresenta o comportamento de variáveis
sob influência do telhado verde, sendo elas temperatura do ar (TA), temperatura de globo preto (TG), umidade
(UR) e temperatura de globo de bulbo úmido (IBUTG), apresentando a intervenção das transferências de calor,
por meio de convecção, radiação e evaporação. A metodologia implantada para análise desse comportamento,
procedeu-se da comparação das medições das variáveis, realizadas no ambiente interno de dois protótipos de
madeira, com cobertura de fibrocimento, sendo um dos protótipos coberto com camada vegetal gramínea.
Constatou-se que a técnica de telhado verde em relação ao telhado convencional, apresenta melhor
funcionamento tanto para os períodos frios, quanto para os de calor, além de adequar o ambiente no valor
permitido de exposição ao calor segundo a NR 15.

Palavras-chave: Conforto térmico. Telhado verde. IBUTG.

ABSTRACT
Due to the importance of thermal environmental comfort, the implementation of green roofs becomes a
sustainable solution to take advantage of the suitable thermal conditions. This article presents the behavior of
variables under the influence of the green roof, being air temperature (TA), black globe temperature (TG),
humidity (UR) and wet bulb globe temperature (IBUGT), presenting the intervention of the heat transfer, by
means of convection, radiation and evaporation. The methodology established for the analysis of this behavior
was proceeded on the comparison of the measurements of the variables carried out in the internal environment
of two wood prototypes with asbestos cement cover, one of the prototypes being covered with a grassy vegetal
layer. It was verified that the green roof technique in relation to the conventional roof, presents better
functioning for both the cold and the hot periods, besides adjusting the environment to the allowed value of
exposure to heat according to NR 15.

Keywords: Thermal comfort. Green roof. IBUTG.

1. INTRODUÇÃO
A sensação de bem-estar de uma pessoa em um determinado ambiente é derivada do conforto
térmico, o qual é subjetivo e dependente da decorrência de inúmeros fatores ambientais, como
a temperatura do ar ou temperatura de bulbo seco (TBS), a temperatura média radiante
(TMR), a umidade relativa, a velocidade do ar e fatores do indivíduo representada pela taxa
metabólica, e a resistência térmica da vestimenta utilizada (SILVA; GONZALEZ; FILHO,
2011).
O corpo humano transforma o excesso de energia produzida pelo metabolismo em calor, que
tem que ser imediatamente liberado para o meio, com o intuito de manter a temperatura
interna do corpo em equilíbrio, garantindo uma sensação térmica agradável a uma faixa de
temperatura, denominada de zona de conforto térmico. Esta realização da troca de calor
ocorre através dos mecanismos de condução, radiação, convecção e transpiração (RUAS,
1999).
O conforto térmico é de fundamental importância para o bem-estar do homem. A alteração
das temperaturas saindo da zona de conforto causa fadiga térmica, o que provoca mal-estar,
queda de rendimento no trabalho e problemas de saúde (LAMBERTS et al., 2012 e FROTA;
SCHIFFER, 2001). Em vista dessa importância, é essencial que o ambiente proporcione
condições térmicas adequadas, sendo assim a aplicação de telhado verde torna-se uma
possível solução sustentável para usufruir de conforto térmico.
Telhado verde, cobertura verde ou eco telhado é uma metodologia de implantação de uma
cobertura vegetal, com plantas gramíneas, em lajes ou telhados convencionais que
proporciona retenção de calor, promovendo modificações térmicas no interior dos ambientes.
A proposta desse telhado é tornar a cobertura mais densa com o uso do substrato e a
vegetação, impedindo a total passagem de calor. Sendo assim permite que o calor no interior
do ambiente seja menor nos períodos mais quentes, assim como em tempos mais frios a
cobertura não permite perda de calor em demasia, mantendo estável a temperatura interna
(SILVA, 2011).
Este trabalho visa apresentar a análise das possíveis alterações da temperatura em ambientes
internos coberto com telhado verde, através da comparação de dados de determinadas
variáveis, como: temperatura do ar (TA), umidade (UR), temperatura de globo preto (TG) e a
temperatura de globo de bulbo úmido (IBUTG), esta que é a variável mais importante para o
conforto térmico por avaliar o índice de calor sobre o ser humano. Para isto, estas variáveis
foram medidas no ambiente interno de protótipos de madeira, com cobertura de fibrocimento,
sendo um dos protótipos coberto com camada vegetal gramínea e outro sem, a fim de verificar
a influência da técnica do telhado verde no conforto térmico em habitações nestas condições.

2. METODOLOGIA
Para avaliar a influência da técnica de telhado verde foram construídos dois protótipos
residências de madeira, do tipo compensado, com dimensões de 0,6 x 0,8 x 1,0 m, ambos com
cobertura em telha de fibrocimento, inclinada a 30% no sentido de Leste (Figura 1a). Em um
dos protótipos foi instalado um telhado verde sobre a cobertura de fibrocimento, constituído
de leivas de grama esmeralda, selecionada devido à pouca necessidade de irrigação e
facilidade de obtenção na região nordeste.
A fim de manter o telhado verde se desenvolvendo adequadamente, evitando o contato das
raízes diretamente com o telhado de fibrocimento e o excesso de umidade na cobertura devido
a água de irrigação, foram instalados lona plástica de cor preta e sobre esta uma camada de
argila expandida (Figura 1b). A argila expandida foi instalada pois é um substrato leve que
minimiza o peso da estrutura, que possui uma capacidade de isolamento térmico e acústico,
impede o apodrecimento das raízes e facilita o escoamento da água. Sobre o substrato de
argila expandida foi instalada uma manta geotêxtil, a qual possui o objetivo de separar a terra
adubada da camada de argila e por fim as leivas de grama esmeralda foram instaladas sobre a
terra adubada.
Figura 1 – Protótipos residenciais em madeira a) e substrato de argila expandida b)

Os protótipos foram instalados em pátio sobre um terreno gramado, em local capaz de receber
a radiação solar em sua plenitude, pois não havia sombreamento. O local de instalação foi no
município de Araruna, que segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2005) está
inserido num clima do tipo Aw, segundo classificação de Köeppen, com pluviosidade média
anual de 815 mm, concentrados nos meses de Março a Julho e temperatura média de 21,6 ºC.
A coleta dos dados ocorreu durante um período de três dias consecutivos, a cada hora, nos
dias 18, 19 e 20 de dezembro caracterizado por estar num período estiado e temperatura mais
quente. A medição ocorreu no interior dos protótipos residenciais, medindo a TA, TG, UR e o
Índice de Bulbo Úmido e Temperatura de Globo (IBUTG ou WBTG). Para realizar essas
medições foram utilizados o termômetro de globo, do modelo ITWTG-2000 da Instrutemp
(Figura 2). Os valores medidos ao longo dos três dias foram apresentados no formato de
média aritmética de hora em hora, para verificar o perfil de temperatura ao longo do dia no
interior dos protótipos construídos.

Figura 2 – Termômetro de globo modelo ITWTG-2000 da Instrutemp


Os indicadores de TA, TG, UR e IBUTG foram selecionados, pois representa todas as formas
que as transferências de calor podem influenciar no conforto térmico. TA baseia-se na perda
de calor pelo diferencial de temperatura entre o ar e a pele, caracterizado pela transferência de
calor por meio de convecção (LAMBERTS et al., 2016). A TG pode ser definida como a
temperatura de equilíbrio medida no centro da esfera oca de cobre, pintada externamente de
preto fosco, que realiza troca de calor por meio de radiação, entre o globo e as superfícies
circundantes (RUAS, 1999). UR caracteriza-se pela quantidade de vapor d’água contido no ar
úmido em relação a quantidade de vapor d’água contido no ar saturado para uma determinada
condição de temperatura e pressão, intervém na troca de calor por meio de evaporação, tem-se
que quanto maior a umidade relativa, menor a eficiência da evaporação na remoção de calor
(LAMBERTS et al., 2012). IBUTG avalia o índice de exposição de calor no ambiente. O
IBUTG pode ser definido em ambientes internos ou externo sem carga e ambiente externo
com carga solar através das respectivas equações (BRASIL, 1978).

IBUTG=0,7 tbn+ 0,3tg(1)

IBUTG=0,7 tbn+ 0 ,tbs+0,2 tg(2)


Onde: tbn = temperatura de bulbo úmido natural;
tg = temperatura de globo;
tbs = temperatura de bulbo seco.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados coletados foram construídos gráficos referentes as médias dos valores
horários de TA, TG, UR e IBUTG, dos três dias consecutivos em que houveram as medições.
A elaboração dos gráficos foi através de planilha eletrônica e possuem o objetivo de
apresentar a variação desses indicadores ao longo do dia no interior dos protótipos,
possibilitando avaliar a influência do telhado verde no conforto térmico.
A primeiro gráfico a ser apresentado é referente a TA (Figura 3), neste caso é possível
observar que não houve diferença significativa entre a temperatura para o protótipo com e
sem telhado verde, pois devido a abertura referente a porta houve troca de ar entre o ambiente
externo e interno, favorecendo o equilíbrio da TA. Apesar que nas horas mais quentes e mais
frias do dia houve, uma diferença em torno de 1 ºC entre os protótipos, sendo que o protótipo
com telhado verde se manteve mais frio nos horários mais quentes e mais quente nos horários
mais frios.
Figura 3 – Perfil horário da Temperatura do Ar (ºC) no interior dos protótipos com e
sem telhado verde

Ao avaliar a TG é possível verificar a notória variação de temperatura entre os protótipos na


Figura 4. É possível analisar que durante o período de maior radiação solar, entre 9 horas às
16 horas, o sistema de cobertura verde apresenta uma redução em média de 3 °C em relação a
cobertura sem vegetação, chegando em alguns momentos, como no horário de 11 horas, a
quase 5 ºC de diferença. Sendo assim, é possível comprovar que o sistema vegetal possui boa
capacidade de captar a incidência solar, impedindo a passagem dessa forma de calor para o
interior do ambiente, tornando-o mais agradável em comparação com o convencional.
De mesmo modo, nota-se uma inversão de funcionalidade dos telhados, durante o período da
noite e madrugada. O telhado verde passa a deixar o ambiente mais aquecido, pela capacidade
de isolamento térmico, mantendo o calor alcançado ao longo do dia dentro da edificação.

Figura 4 – Perfil horário da Temperatura de Globo (ºC) no interior dos protótipos com e
sem telhado verde

Na interpretação referente a UR, é possível notar na Figura 5, que houve pouca diferença
entre os protótipos, pelo fato de os protótipos possuírem aberturas que proporcionam a
circulação de ar e consequentemente da umidade externa, equilibrando as condições de UR
em ambos os casos.
Figura 5 – Perfil horário da Umidade (%) no interior dos protótipos com e sem telhado
verde

Em análise ao gráfico da Figura 6, repara-se o comportamento do IBUTG, responsável por


representar a sensação térmica no ambiente, por este lado torna-se a variável mais importante
nesse estudo de conforto térmico. Ao avaliar o gráfico, é perceptível a eficácia do telhado
verde em reduzir o índice de temperatura nos períodos mais quente do dia (entre 9 e 16
horas), obteve-se em média 2 ºC de redução em relação ao telhado convencional, chegando
em alguns casos até a 3º C como no caso do horário de 11 horas.
Ainda observa-se no gráfico que a partir das 16 horas há uma inversão no comportamento do
gráfico, o interior do ambiente com telhado convencional passa a ser mais frio e o de telhado
verde passa a ser mais quente, o que implica dizer que o telhado verde além da capacidade de
reduzir a sensação térmica nos períodos mais quentes do dia, tem a capacidade de manter o
ambiente aquecido durante o período mais frio.

Figura 6 – Perfil horário do Índice de Bulbo Úmido e Temperatura de Globo (ºC) no


interior dos protótipos com e sem telhado verde

Na Tabela 1 é apresentado o limite permissível do IBUTG segundo a NR 15, para ambientes


de trabalho com exposição ao calor. Infelizmente não existe nenhuma norma brasileira com
definição para conforto térmico em habitações. Portanto, esse padrão da NR 15 foi utilizado
para verificar a adequação dos protótipos.
Sendo assim, é possível verificar que independentemente da condição da exposição ao calor e
da atividade a ser realizada, o protótipo residencial com telhado verde esteve dentro do valor
permissível de IBUTG, mesmo que o ambiente seja utilizado para trabalho pesado e contínuo.
Vale a pena ressaltar que esse resultado é bastante influenciado pelo clima local, que já é
ameno, mesmo assim, a condição com o telhado verde apresentou IBUTG de menor valor.
Todavia, para o ambiente sem o telhado verde, este só poderia ser utilizado para trabalho
moderado com pelo menos 50% do tempo de descanso ou trabalho pesado com pelo menos
75% de tempo de descanso, ou condições de trabalho leve.

Tabela 1 – Limite permissível de exposição ao calor em IBUTG


Regime de trabalho/descanso Leve Moderado Pesado
Trabalho contínuo 30 ºC 26,7 ºC 25 ºC
75% trabalho, 25% descanso 30,6 ºC 28 ºC 25,9 ºC
50% trabalho, 50% descanso 31,4 ºC 29,4 ºC 27,9 ºC
25% trabalho, 75% descanso 32,2 ºC 31,1 ºC 30 ºC
Sem trabalho > 32,2 ºC > 31,1 ºC > 30 ºC

De maneira geral, para todos os protótipos e indicadores medidos é possível perceber que há
pior condição de conforto térmico entre os períodos de 9 as 16 horas, referente ao momento
em que receberam maior radiação solar, aumentando a TA, TG e IBUTG e diminuindo a UR.
Contudo, assim como anteriormente discutido, para o ambiente com telhado verde o IBUTG
esteve sempre dentro do valor permitido pela NR 15, mesmo que em trabalho pesado e
contínuo.

Outro aspecto relevante é que para os indicadores TA e UR entre os horários de 7 e 15 horas o


telhado verde possui o papel de esfriar o ambiente a partir de 15 horas até as 7 horas do outro
dia ela mantem a temperatura e aumenta a umidade. Por sua vez, para a TG e o IBUTG esse
período de esfriamento ocorre entre 7 e 16 horas e a manutenção da temperatura a partir das
16 horas até as 7 horas do próximo dia.

Por fim, ao avaliar os indicadores medidos é possível verificar que a TG é a grandeza que
mais é influenciada pelo telhado verde, deixando claro que essa técnica possui maior
capacidade na retenção da radiação solar, tanto impedindo sua entrada em demasia no
ambiente quanto a sua saída nos períodos mais frios. Portanto, dentre as formas de
transferência de calor o telhado verde afeta muito mais a radiação, que a condução e
convecção.

4. CONCLUSÃO
Em função do conforto térmico, os resultados desse trabalho provam que a técnica de telhado
verde amenizou a temperatura nos períodos mais quentes do dia, melhorando a sensação
térmica, medida através do IBUTG. Além disso, adequou o ambiente a qualquer uso deste,
segundo o valor permitido de exposição ao calor da NR 15.
A cobertura verde apresentou melhor funcionamento que a cobertura sem vegetação, tanto
para os períodos de frio e quanto para os de calor. Nos períodos quentes o sistema de telhado
verde apresentou um índice de calor menor que o sistema sem vegetação. Já em períodos frios
há uma inversão, o sistema verde passa a manter o interior aquecido, enquanto o telhado sem
o sistema tornou-se mais frio.
O sistema de telhado verde possui maior influência na transferência de calor por radiação do
que por condução ou convecção, pois os valores de TG foram os que apresentaram maior
variação ao longo do dia.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Nº 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES. Brasília: Ministério do
Trabalho, 1978.
CPRM. Diagnóstico do Município de Araruna – PB. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.
FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R. Manual de Conforto Térmico. 5ª ed. São Paulo: Studio
Nobel, 2001.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. Eficiência Energética na Arquitetura. Santa
Catarina: PW Editores, 2012.
LAMBERTS, R.; GHISI, E.; ABREU, A. L. P.; CARLO, J. C.; BATISTA, J. O.;
MARINOSKI, D. L.; NARANJO, A.; DUARTE, V. C. P. Desempenho térmico de
edificações: Apostila do curso de Engenharia Civil, ECV 5161. 4 edição. Florianópolis:
UFSC, 239p. 2016.
RUAS, A. C. Conforto térmico nos ambientes de trabalho. São Paulo: Fundacentro, 1999.
SILVA, I. M.; GONZALEZ, L. R.; FILHO, D. F. DA S. Recursos naturais de conforto
térmico: um enfoque urbano. REVSBAU, Piracicaba, v. 6, n. 4, p. 35-50, 2011.
SILVA, N. C. Telhado verde: sistema construtivo de maior eficiência e menor impacto
ambiental. Belo Horizonte: UFMG, 2011. Originalmente apresentada como monografia da
Especialização em Construção Civil, Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas
Gerais, 2011.

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