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MINIMIZANDO O USO DO AR CONDICIONADO POR MÉTODOS DE

CLIMATIZAÇÃO NATURAL EM FASE DE PROJETO 1

Eduardo Eugenio Mendes Baptista2

RESUMO

Haja vista a preocupação mundial com o consumo de energia, a utilização de


métodos de condicionamento térmico naturais é uma alternativa econômica e sustentável
para se obter conforto no interior das edificações. Este trabalho discute o uso de técnicas
construtivas e intervenções no entorno que possibilitem atingir níveis adequados de
conforto térmico, minimizando, ou até mesmo dispensando o uso do ar condicionado. Na
sua elaboração foi utilizada somente a pesquisa bibliográfica. Foram verificados o
funcionamento e a eficácia de diversos métodos de climatização natural, assim como suas
limitações. Mas independente dos métodos a serem utilizados, é na fase de projeto que as
condicionantes térmicas devem ser observadas a fim de se adequar a construção ao
conforto.

1. INTRODUÇÃO

A discussão mundial em torno de questões ambientais, como o consumo de


energia e o crescimento das cidades sem uma adequação das construções se aos seus
contextos climáticos, justificou esta pesquisa bibliográfica voltada a elucidar se é
possível, em fase de projeto, promover a otimização das condições térmicas no interior de
uma residência para que se minimize ou até mesmo se dispense o uso do ar-condicionado.

1
Artigo apresentado à Central de Cursos de Extensão e Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho
como requisito parcial para a Conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Engenharia Civil: Sistemas
Construtivos de Edificações
2
Arquiteto da Empresa Municipal de Obras Públicas (EMOP), e-mail: eduembap@estadao.com.br
A fim de discutir a possibilidade do uso de técnicas construtivas e intervenções no
entorno que possibilitem o adequado condicionamento térmico das edificações, foi
necessário: demonstrar que elementos do clima atuam sobre a percepção térmica do
homem influenciando na sua sensação de conforto; demonstrar como proporcionar
conforto térmico no interior das edificações utilizando-se soluções construtivas adequadas
ao contexto climático, e, finalmente, indicar métodos de atenuação dos efeitos da radiação
solar no interior da edificação com vistas a se minimizar a temperatura interna.

2. ELEMENTOS DO CLIMA E SUAS INFLUÊNCIAS NO CONFORTO


TÉRMICO:

2.1. Temperatura, umidade e trocas de calor.

2.1.1. Temperatura

De acordo com Frota; Schiffer (1995), o homem é um animal homeotérmico. Isto


significa que seu organismo é mantido a uma temperatura interna sensivelmente constante
na ordem de 37°C, com limites estreitos – entre 36,1 e 37,2°C. Para que esta temperatura
permaneça constante, o corpo humano utiliza o mecanismo de termorregulação que
comanda a redução dos ganhos ou o aumento das perdas de calor. Quando as perdas de
calor do corpo são inferiores às necessárias para a manutenção da temperatura de 37°C, o
organismo reagirá por seus mecanismos automáticos, proporcionando condições de troca
de calor mais intensas entre o corpo e o ambiente, ocasionando a dilatação dos vasos
sanguineos e a exsudação (emissão de suor), causando a sensação térmica de calor.

2.1.2. Umidade do ar

Frota; Schiffer (1995) explicam ainda que, quanto mais úmido estiver o ar, maior
será a quantidade de água em suspensão. Sendo que, as partículas de água, além do
consequente aquecimento pela radiação solar, vão funcionar, na fase diurna, como uma
barreira da radiação que atinge o solo e, durante a noite, funcionarão como barreira ao
calor dissipado pelo solo.

Desta forma, o grau de umidade relativa do ar terá impacto na amplitude térmica de


uma região. Isto equivale a dizer que quanto mais seco for o clima, mais acentuadas serão
as diferenças entre as temperaturas máximas e mínimas durante o dia.
2.1.3. Trocas de calor

Conforme Camargo; Freitas (2006), as principais trocas de calor entre o homem e a


construção são:

Condução: caracteriza-se pela transferência de calor através do contato entre superfícies.


Quando uma molécula começa a vibrar, ela pode passar parte desta vibração para as
moléculas que estão a sua volta, causando movimento intermolecular entre os corpos em
contato. Nas construções, ocorrem do contato entre o corpo e toda a superfície em que ele
toca, através das paredes.

Convecção: caracteriza-se pela transferência de calor no contato entre um fluido (líquido


ou gás) em movimento e uma superfície, quando os dois se encontram em temperaturas
diferentes. Ocorrem entre o corpo e o ar que está em seu contato direto e entre o ar e as
paredes (externa e internamente).

Radiação: caracteriza-se pela transmissão de calor por intermédio de ondas


eletromagnéticas. Nesse processo, somente a energia se propaga, não sendo necessário
nenhum material. Ocorrem entre o sol e a construção, entre a abóboda celeste e a
construção, entre o corpo e as paredes e entre as próprias paredes.

2.1.4. Níveis adequados de temperatura e umidade para o conforto

Segundo Frota; Schiffer (1995) a arquitetura, como uma de suas funções, deve
proporcionar ao homem condições térmicas compatíveis com os níveis adequados de
conforto no interior dos edifícios, sejam quais forem as condições climáticas externas.

De acordo com Camargo; Freitas (2006), a temperatura ideal varia no inverno de


20 a 22C⁰ e no verão é de 25 a 26C⁰, com nível de umidade entre 40 e 60%. As teorias de
conforto evidenciam que temperaturas inferiores a 18C⁰ são consideradas com condição
de stress ao frio e temperaturas acima de 26C⁰ de stress ao calor.

2.2. Climas quentes e elementos a serem controlados

Para Mascaró (1983), a associação de dados climáticos às formas arquitetônicas e


aos materiais construtivos é relativamente simples para os climas tropicais, sendo que, o
projeto climático não deve se limitar somente ao espaço interior, estendendo-se também
ao entorno da edificação. Um exemplo de intervenção no ambiente externo pode ser
verificado no item 3.1.1.2. – ventilação por ação dos ventos.
Para Frota; Schiffer (1995), nas regiões predominantemente quentes do Brasil, a
arquitetura deve contribuir para minimizar a diferença entre as temperaturas externas e
internas, propiciando ambientes que sejam, no mínimo, tão confortáveis quanto aos
espaços ao ar livre em climas amenos.

Adotou-se neste trabalho a classificação climática utilizada por Romero (1988


apud FERREIRA, 1965) para os climas tropicais: clima quente e seco, clima quente e
úmido e clima tropical de altitude.

2.2.1. Clima quente e seco

Camargo; Freitas (2008) explicam que, nos climas quentes e secos, a amplitude
térmica é maior durante o dia, mas o desconforto fisiológico aumenta devido à menor
presença de umidade. Por outro lado, durante a noite, a variação de temperatura já não é
tão significativa.

Segundo Romero (1988) nestes climas deve-se reduzir a produção de calor devido
à condução e convecção do ar do exterior, aumentar a umidade com a introdução de
superfícies de água (espelhos d´água), reduzir a absorção de radiação solar e promover sua
perda. Também é necessário diminuir o movimento do ar durante o dia e ventilar à noite.

2.2.2. Clima quente e úmido

Nestes climas, como explica Romero (1988), as variações de temperatura são


pequenas durante o dia, a radiação solar difusa é muito intensa e o teor de umidade
relativa do ar é alta. Os ventos são fracos, com direção dominante sudeste.

Este autor ainda explica que nas regiões de clima quente e úmido as variáveis que
devem ser controladas são: a intensa radiação solar e a temperatura elevada associada à
alta taxa de umidade do ar. Deve-se reduzir a absorção de radiação, incrementar o
movimento do ar, evitar a absorção da umidade, procurar a perda de calor pela evaporação
e pela convecção.

2.2.3. Clima tropical de altitude

Este clima, conforme Romero (1988), ocorre predominantemente entre 400 e


1200m de altitude e entre 14 e 16⁰ latitude Sul. Caracteriza-se por uma estação quente-
úmida, que se inicia no verão, e outra seca no inverno. Temperatura média entre 19 e 26⁰
durante o dia, caindo à noite. Há forte perda por radiação noturna no período seco.

Nestes climas deve-se reduzir a produção de calor na época seca diurna,


incrementar o movimento do ar no período úmido e aumentar a umidade na época seca
diurna e noturna, como explica o autor.

2.3. Radiação solar

De acordo com Romero (1988), ao se considerar um determinado espaço, este


receberá, além das radiações solares diretas e difundidas pela atmosfera, os raios solares
refletidos pelas superfícies que o cercam. A radiação solar aumenta com a altura do sol,
atingindo o seu máximo quando este está a 90⁰ acima do horizonte, decrescendo
novamente quando de ângulos menores. Esta radiação é parte absorvida e parte refletida.
No período noturno, cessando a radiação solar, os espaços construídos perdem calor pelas
suas faces externas.

3. VENTILAÇÃO NATURAL x AR CONDICIONADO

3.1. Ventilação natural

A ventilação natural é o deslocamento de ar no edifício, através de


aberturas, umas funcionando com entradas e outras como saída. Assim, as
aberturas para ventilação devem estar dimensionadas e posicionadas de modo a
proporcionar um fluxo de ar adequado no recinto.” (FROTA; SCHIFFER, 1995,
p.124)

3.1.1. Tipos de ventilação natural

A força dos ventos promove a movimentação do ar através do ambiente,


produzindo a ventilação denominada ´ação dos ventos´. O efeito da diferença de
densidade provoca o ´efeito chaminé´. Quando a ventilação natural de um
edifício é criteriosamente estudada verifica-se a conjugação dos dois processos
(FROTA; SCHIFFER, 1995, p.124 e 125)

3.1.1.2. ventilação por ação dos ventos

Segundo Frota; Schiffer (1995), o vento, considerado aqui como o ar que se


desloca paralelamente ao solo em movimento lamelar, ao encontrar um obstáculo - o
edifício – sofre um desvio de seus filetes, e, ultrapassando o obstáculo, tende a retomar o
regime lamelar.

Frota; Schiffer (1995) explicam que obstáculos podem ser utilizados para dirigir a
ventilação como vemos nas figuras a seguir:
Figura 1 – Distância entre obstáculo e edificação com relação ao sentido da ventilação interna.

(FROTA; SCHIFFER, 1995, p. 130)

3.1.1.3. ventilação por efeito chaminé

De acordo com Frota; Schiffer (1995) os ganhos de calor a que um edifício está
submetido ocasionam a elevação de temperatura do ar contido no seu interior. O ar
aquecido torna-se menos denso e sobe. Se um recinto dispuser de aberturas próximas ao
piso e próximas ao teto ou no teto, o ar interno, mais aquecido que o externo, tenderá a
sair pelas aberturas altas, enquanto o ar externo, cuja temperatura é inferior à do interno,
encontrará condições de penetrar pelas aberturas baixas. Frota; Schiffer (1995) observam
ainda que o fluxo de ar será tanto mais intenso quanto mais baixas forem as aberturas de
entrada de ar e quanto mais altas forem as saídas de ar.
Figura 2 - Possibilidades de ventilação pelo efeito chaminé

(COSTA, 2008, p.184)

3.2. O ar condicionado

Segundo Frota; Schiffer (1995), em localidades onde o valor da temperatura


externa média é superior ao limite do conforto humano, ou seja, 28⁰C não é possível
garantir, internamente às construções, temperaturas dentro da faixa de conforto apenas
utilizando-se de recursos naturais e que, para os locais onde a temperatura externa média é
inferior a 28°C, existem condições de se obterem temperaturas internas dentro do limite
de conforto humano, utilizando-se apenas os recursos de climatização natural.
De acordo com Montenegro (1984), o ar condiconado recircula o mesmo ar do
ambiente durante horas seguidas. O filtro retém parte da poeira, a umidade é reduzida,
mas o oxigênio vai sendo, progressivamente, substituído por gás carbônico.

Figura 3 – Ar condicionado: o problema da recirculação.

(MONTENEGRO, 1984, p. 18)

3.2.1. Métodos de climatização que dispensam o uso do ar condicionado:

Apesar de Frota; Schiffer (1995), no item 3.2, afirmarem não ser possível garantir
temperaturas internas compatíveis com o nível de conforto apenas valendo -se dos métodos
de climatização natural, quando a temperatura externa ultrapassa os 28⁰C, esta pesquisa
demonstra algumas soluções que mesmo em climas quentes, em época de verão,
dispensam o uso do ar condicionado. São elas: tomadas de ar por meio de túneis, telhados
verdes e a chaminé solar.

3.2.1.1. tomadas de ar por meio de túneis

Costa (2008) demonstra um método de ventilação do ambiente habitado, com


resfriamento no verão por meio da terra. Funciona através de tomadas de ar por meio de
túneis, que forçam o ar a entrar em contato com a crosta terrestre, em profundidades onde
a temperatura é praticamente estabilizada em 22⁰C.
Figura 4– Ventilação por meio da crosta terrestre

(COSTA, 2008, p.248)

Costa (2008) demonstra outra solução onde se conjugam o aquecimento do ar por


meio da radiação solar, durante o inverno, e resfriamento por meio da terra durante o
verão.

Figura 5 – Aquecimento por meio do sol e resfriamento por meio da terra

(COSTA, 2008, p.249)

3.2.1.2. telhados verdes

Ruic (2012, online) mostra um exemplo de técnica de atenuação de calor utilizada


em um edifício, em São Paulo-SP, onde o uso do ar condicionado é dispensado no verão:

Estudos conduzidos pela EPA (Enviromental Protection Agency), órgão do


governo americano para o meio ambiente, apontaram que a temperatura média no
verão em um telhado verde pode ser registrada entre 33 e 48 graus, enquanto que,
num telhado convencional, chega a atingir a marca de 76 graus. A disseminação dos
tetos verdes pode tornar o uso do ar condicionado obsoleto, pois a estrutura de
vegetação que protege uma laje assume o papel de escudo contra o calor do verão
tropical e reduz até 30% a temperatura dentro de uma casa, por exemplo. Durante o
inverno, a estrutura funciona como isolante térmico ao impedir que o calor
armazenado internamente seja liberado.
Figura 6 - Edifício com telhado verde em São Paulo-SP

(RUIC, 2012, online)

3.2.1.3. chaminé solar

Outro exemplo de solução técnica que dispensa o uso do ar condicionado é a


chaminé solar. Este método de climatização natural é explicado no site Terra – Chaminé
Solar (2012, online):

Renovar e resfriar o ar que circula no interior de edifícios são as


principais funções da chaminé solar. O sistema é capaz de gerar 5,5 renovações do
ar a cada hora em ambientes com área aproximada de 12 metros quadrados em
condições típicas de verão em São Paulo, sem usar energia elétrica - uma chaminé
convencional alcança uma taxa de 3,7. O incremento de quase 50% na ventilação
natural lança o projeto como uma boa estratégia na arquitetura bioclimática,
auxiliando na redução da temperatura, na otimização do conforto térmico e na
economia de energia. A chaminé funciona com um coletor solar, que possui uma
superfície de vidro, uma câmara de ar e uma superfície negra que absorve os raios
solares que atravessam o vidro. O mecanismo aquece o ar no interior do canal e,
ao mesmo tempo, impede a perda de calor, simulando um efeito estufa. [...] o ar
quente é menos denso e tende a se elevar no interior da chaminé, provocando a
sucção do ar do ambiente interno. Por isso, quanto maior é a temperatura do ar na
chaminé solar, maior é a ventilação.
Figura 7 – Célula de teste experimental de uma chaminé solar

(CHAMINÉ..., 2012, online)

4. ATENUAÇÃO DOS EFEITOS DA RADIAÇÃO SOLAR

4.1. Elementos construtivos para controle da radiação solar

Segundo Camargo; Freitas (2006), com a finalidade de se proteger as edificações


da radiação solar direta é usual a seguinte recomendação para os climas tropicais: na
fachada leste e oeste usa-se proteção vertical (brises verticais e venezianas, por exemplo);
fachada norte usa-se proteção horizontal (a exemplo dos beirais, marquises e brises
horizontais) e na fachada sul não há a necessidade de proteção. Para fachadas situadas a
noroeste e nordeste é recomendável o uso das duas proteções (horizontal e vertical) e para
as fachadas a sudoeste, a vertical.

4.2. Proteção das coberturas

Segundo Costa (2008), o efeito da insolação nas coberturas é normalmente muito


maior do que nas paredes, desta forma, a proteção pode ser feita com o uso de forro, telhas
com cores claras, isolantes térmicos e materiais de grande inércia térmica (vide item
4.3.2).
Este autor afirma ainda que dessas soluções a mais econômica e permanente é o
uso de uma camada de ar móvel junto à cobertura, a qual se consegue com forro
adequadamente projetado.

Figura 8 - Exemplo de projeto adequado de cobertura para ventilação

(COSTA, 2008, p. 185)

4.3. Propriedades térmicas dos materiais de construção

Segundo Camargo; Freitas (2008), a correta aplicação de um material de


construção quanto a sua condutividade térmica e inércia térmica representa um importante
fator para o conforto ambiental.

4.3.1. Condutividade térmica e isolamento térmico

Segundo Camargo; Freitas (2008), a condutividade térmica é a propriedade física


dos materiais que descreve a habilidade destes em conduzir calor. Materiais que possuem
alta condutividade térmica são maus isolantes. Por outro lado, materiais com pequena
condutividade térmica possuem grande resistência térmica, ou seja, são bons isolantes.

Camargo; Freitas (2008) mostram alguns coeficientes de condutibilidade térmica


(K) em W/ m*K para alguns materiais de construção, como pode ser observado na Tabela
1 a seguir:
Tabela 1 – Exemplo de materiais e seus coeficientes de condutibilidade térmica

Material Condutibilidade
térmica(K) (W/mK)
Aço 52,9
Tijolos de barro 4,0
Concreto comum 1,0
Madeira 0,11
Fibra de vidro 0,05

(CAMARGO; FREITAS, 2008, p.171)

Para Cunha; Neumann (1979), o isolamento térmico proporciona economia porque


permite a redução do tamanho dos equipamentos de ar condicionado e, consequentemente,
diminui o consumo de energia elétrica.

Os autores demonstram como o isolamento térmico de uma cobertura contribui


para a economia energia elétrica. A título de exemplo foi adotado um compartimento
hipotético de 100 m², com temperatura externa máxima de 35⁰C e temperatura interna
desejada de 24⁰C. Para compensar o calor que entra pela cobertura, sem considerar outras
fontes de calor, tais como paredes, janelas, pisos, iluminação, pessoas; seriam necessários,
sem isolamento térmico, dois aparelhos de ar condicionado de 12.000 BTU. Utilizando-se
como material isolante espuma de cimento de 12,5cm de espessura, aplicado sobre laje de
concreto de 10 cm, chegou-se aos resultados expressos na Tabela 2.

Tabela 2 – Economia de energia com e sem isolamento térmico (valores atualizados para dez 2009)

Área 100m²
Fluxo de calor Consumo de
kcal/hora energia R$/hora
Valor Valor Valor Valor
Médio Máximo Médio Máximo
Sem isolamento 7,559 10,948 1,38 2,01
Com isolamento 1, 533 2,146 0,28 0,40
Índice de
economia 6,026 8,802 1,11 1,61

(CUNHA; NEUMANN, 1979, p.140; PARADA FILHO, 2012, online)


Verifica-se assim uma economia de até R$ 1,61 por hora de uso, o que representa
80% em relação ao mesmo ambiente sem o isolamento térmico.

4.3.2. Inércia Térmica


“Inércia térmica de um corpo é a sua capacidade de contrariar as variações de
temperatura no seu interior devido a sua capacidade de acumular calor.” (CAMARGO;
FREITAS, 2006, p.29)

Frota; Schiffer (1995) apresentam os valores de inércia térmica de alguns materiais


de construção. A inércia térmica é medida em J/kg C⁰.

Tabela 3 – Exemplo de materiais e suas inércias térmicas

Material Inércia térmica (c)


(J/kg C⁰)
Cerâmica 837

Concreto celular (bloco) 963

Concreto comum 1005

Cortiça em placas 1423

Areia seca 2093

(FROTA; SCHIFFER, 1995, p.184)

No item 4.2. verifica-se que a utilização de materiais de alta inércia térmica nas
coberturas das edificações vem a contribuir para minimizar os efeitos da radiação solar.

5. CONCLUSÃO

No desenvolvimento do trabalho, mediante a análise dos diversos métodos de


atenuação da temperatura das edificações, verifica-se que o clima é um fator fundamental
a ser considerado na elaboração de um projeto de arquitetura. Edificações implantadas em
regiões de climas quentes e úmidos e quentes e secos necessitam de análise dos fatores
bioclimáticos ainda em fase de projeto de modo que se aproveite a ventilação natural e se
faça o controle da radiação solar.
O isolamento térmico das coberturas mostrou-se eficiente a fim de minimizar o uso
do ar condicionado. É possível mesmo em temperaturas por volta de 35⁰C, conseguirmos
uma economia de até 80% no consumo de energia destes aparelhos.

Foi abordado que em localidades onde o valor da temperatura externa média é


superior ao limite do conforto humano, ou seja, 28⁰C, não é possível garantir,
internamente às construções, temperaturas dentro da faixa de conforto apenas utilizando -
se de recursos naturais. Para locais onde a temperatura externa média é inferior a 28⁰C,
existem condições de se obterem temperaturas internas dentro do limite de conforto
humano, utilizando-se apenas os recursos de climatização natural.

No entanto, soluções inovadoras para controle da temperatura nos ambientes


internos apontam um caminho diferente. Foram apresentadas algumas técnicas que
demonstram ser possível dispensar o uso do ar condicionado, mesmo nos climas quentes
em épocas de verão, a exemplo do telhado verde e da chaminé solar.

Já a eficácia de ventilação pela crosta terrestre como demonstrada no item 3.2.1.1 é


passível de um estudo mais aprofundado, já que considerando a temperatura da crosta
estabilizada em 22ºC, o que seria suficiente para climatizar o ambiente interno através do
ar canalizado, não é possível afirmar se este processo é contínuo, de maneira a manter a
temperatura interna nos níveis adequados de conforto.
REFERÊNCIAS

CAMARGO, Gicéli Santos; FREITAS, Márcio de. Arquitetura: provas resolvidas e


comentadas de concursos públicos 2004/2006, 1.ed. Curitiba: Supera, 2006.

CAMARGO, Gicéli Santos; FREITAS, Márcio de. Arquitetura: provas resolvidas e


comentadas de concursos públicos 2007/2008, 1.ed. Curitiba: Supera, 2008.

CHAMINÉ solar proporciona ventilação de ambientes. Terra Networks Brasil S.A,


2012. Seção Inovações Tecnológicas. Disponível em:
<http://tecnologia.terra.com.br/inovacoes tecnologicas/noticias/0,,OI6213412-EI20541,00
Chamine+solar+proporciona+ventilacao+de+ambientes.html>. Acesso em: 10 nov. 2012

COSTA, Ennio Cruz da. Arquitetura ecológica: condicionamento térmico natural. 4.ed.
São Paulo: Blücher, 2008.

CUNHA, Aimar G. da; NEUMANN, Walter. Manual de impermeabilização e isolamento


térmico: como projetar e executar. 5. ed. Rio de Janeiro: Texsa, 1979.

FERREIRA, P. C. Alguns dados sobre o clima para a edificação em Brasília. 1965.


Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília,
Brasília, 1965.

FROTA, Anésia Barros; SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual de conforto térmico. 2.ed.
São Paulo: Studio Nobel, 1995.

MASCARÓ, Lúcia Raffo de. Luz, clima e arquitetura. 3.ed. São Paulo: Nobel, 1983.

MONTENEGRO, Gildo. Ventilação e cobertas: a arquitetura tropical na prática. 2.ed.


São Paulo: Edgard Blücher, 1984.

PARADA FILHO, Américo Garcia. BTN – bônus do tesouro nacional. Cosif.e - Portal da
Contabilidade, Megale, 2012. Seção Legislação. Disponível em:
<http://www.cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=mtvm_btn>. Acesso em: 24 nov. 2012.

ROMERO, Marta Adriana Bustos. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano.


19.ed. São Paulo: Projeto Editores Associados, 1988.

RUIC, Gabriela. TELHADOS verdes podem dispensar o uso do ar condicionado.


Exame.com. Abril, 2012. Disponível em:
<http:/exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/telhados-verdes-podem-dispensar-o-uso-de-
ar-condicionado>. Acesso em: 10 nov. 2012.

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