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1. Introdução.
5. Conclusões.
1. Introdução
de 2000 raças com os mais diferentes fenótipos e tamanhos (25 a 200 kg).
(Lynch et al., 1992). Desde então temos procurado controlar o pastejo destes
ovinos sob este prisma convencional, do tipo “utilize tal espécie forrageira”. Ao
os ovinos nos ensinem a lógica dos seus procedimentos em pastejo, na qual eles
disponibilizarmos aquilo que o animal nos indica que lhe é melhor. Trata-se de
ocorreu.
gosta de pasto baixo”. Esta frase, tão repetida ao longo dos anos, é fruto da
infeliz. Por exemplo, no Rio Grande do Sul (RS), expoente da exploração ovina,
Nabinger et al., 1999) este campo apresenta espécies com os mais diferentes
campo alto, no RS, significa campo grosso. São espécies cespitosas quase
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das situações. O campo baixo, por sua vez, é composto, em geral, por espécies
animais não se dá pela altura, e sim pelo teor de fibra, ou seja, a preferência
pelo extrato inferior não se dá pela altura absoluta, mas se dá por razões
presente. Isolando-se o fator qualitativo, quanto mais alto for o pasto, maior a
B
Consumo (kg MS/dia)
Altura (cm)
Massa de forragem (kg MS/ha)
Índice de área foliar
qualidade da dieta ingerida por ele, a relação entre desempenho e altura segue
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animal.
pastejar baixo, ao contrário de uma vaca; em uma pastagem rapada uma vaca
vitais. A capacidade do rúmen, por sua vez, apresenta relação isométrica com o
tamanho do animal (PV1,0), o que indica que quanto maior os animais, maior a sua
e Van Soest, 1985), determinaram uma relação entre tamanho do animal e tipo
animais pequenos, como uma ovelha (50 kg), obrigatoriamente exijam dieta de
vaca (450 kg), ao contrário, pode se permitir ingerir forragens mais grosseiras
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Ovelhas
Vacas
não é muito diferente, 6-7 cm para ovinos e 8-9 cm para bovinos. Segundo, na
(Figura 3).
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Bocados/min
Tempo de pastejo (hs)
maior a altura das plantas, mais o animal pasteja “com boca cheia”. A massa do
do fato de que, com a “boca cheia”, maior o intervalo de tempo para conseguir
dos bocados visando compensar a diminuição da massa de cada bocado que ela
faz somente pastejar ao longo do dia. Ele requer tempo para ruminar o que
comeu, para beber água, descansar, exercer atividades sociais, etc. Por isto,
perene com alturas inferiores a 6 cm são limitantes para o consumo dos ovinos,
ou seja, não permitem aos animais pastejar à sua plena capacidade de ingestão.
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Aquele arguto, sempre de plantão, diria agora: “mas isto é para azevém
perene, não deve ser assim para as nossas pastagens”. Infelizmente não
al., 1999), caprinos (Gordon et al., 1996), bovinos (Laca et al., 1992), e os mais
Demment, 1995; Wilmshurst et al., 1999). Portanto, são respostas mais que
animal presume ser bom para ele hoje, não necessariamente o é amanhã. Mesmo
a localização das boas áreas de pastejo são variáveis, pois a fenologia das
plantas deve cumprir suas diferentes fases. Além disto, não somente a
animais são dinâmicas no tempo. Tudo isto faz com que os animais tenham o
de ingestão de matéria seca com menor qualidade e/ou com algum grau de
(1990) demonstrou não somente que os ovinos selecionam plantas mais escuras,
como também selecionam as mais altas. Carvalho (1997) constatou este fato
confirmou que a média de altura dos perfilhos desfolhados pelas ovelhas era
superior à média de altura dos perfilhos não desfolhados, sendo esta diferença
cordeiros duplos procedem da mesma forma (Carvalho et al., 1999b). Isto, mais
(1995). É sabida a preferência que os ovinos têm pelo trevo branco (Trifolium
repens) em relação ao azevém perene (mas vide Newman et al., 1992), e que
por cabras. A análise da dieta dos cordeiros revelou que os animais seguem
menos trevo (38%) que aqueles amamentados por ovelhas (45%). Ainda em
nova alimentação (Lynch et al., 1992). Cordeiros podem requerer até três
animais jovens. Tudo aquilo que é novo representa, inicialmente, perigo para o
retirados de suas mães e deslocados para áreas que lhes são desconhecidas
nem tudo é tão simples. Ovelhas adultas podem apresentar neofilia, como foi o
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caso demonstrado por Parsons et al. (1994). Ovelhas que somente conheciam
é o fato de que ovelhas consomem mais trevo branco pela manhã e mais azevém
preferência dos ovinos (Parsons et al., 1994). Preferir consumir azevém à tarde
pastejo não limitaria o tempo total de pastejo uma vez que o animal teria toda
a noite disponível para ruminar (Parsons et al., 1994). Além disto, a ingestão
preferencial de trevo pela manhã e de azevém pela tarde parece ser uma
tempo total) se dá nas quatro horas que antecedem o pôr do Sol. Seria isto
baixo. Porém, com o passar dos dias, o número de locais de alto valor visitados
animais parecem usar dois tipos de memória (Bailey et al.,1996), uma de curto
cada passo que o animal dá e a cada local em que ele se encontra, o valor
altura (6 cm cada um) ou que tinham a mesma média (6 cm), mas com o azevém
tinham a mesma altura, quando o trevo tinha uma altura bem inferior à do
de azevém e trevo branco, Carrère et al. (1995) observaram que os animais que
Portanto, ainda que prefiram trevo, se existe algo ao lado que lhes é mais
preferência, pois os ovinos sempre preferem (ou quase sempre) aquilo que lhes
O processo de pastejo não é tão simples nem os ovinos são tão tolos
quanto possam parecer. Otimizar o uso da pastagem pelo animal significa dar
oportunidade ao mesmo de expressar suas preferências.
que o indivíduo tem, ou seja, a quantidade de pasto de que o animal dispõe. Ela
e a qualidade do alimento que o animal tem à sua disposição, o bom manejo das
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mais, ou perdem menos peso que ovelhas mais pesadas ou de maior condição
Cordeiros desmamados/ovelha
Consumo (kg MS/ovelha/dia)
a pastagem tenha uma massa de forragem verde elevada para permitir que a
ovelha possa colher aquilo que lhe é colocado em oferta. Pastagens rapadas com
pouca massa (baixa altura) limitam a ingestão mesmo em altas ofertas pelos
para que as ovelhas atinjam este nível de ingestão. Uma ovelha nesta fase pode
perder até 5% do seu peso vivo, sem representar prejuízo ao peso do cordeiro
seca/dia.
em aproximadamente 20%.
O cordeiro ao pé da mãe
Ofertas de forragem
(kg MS/ovelha/dia)
peso (Scott et al., s.d.). A ingestão de forragem dos cordeiros então começa a
vida. Ganhos de peso nessa fase, em geral, diminuem, atingindo 200 a 250
1986). Além disto, cordeiros nesta fase ao pé da mãe têm baixa exigência
simples desafio nutricional para aquele que deve, então, substituí-lo por uma
Mês de lactação 1 2 3 1 2 3
para a ovelha e sua cria têm, pois, efeitos distintos sobre o cordeiro segundo a
ganhos de peso dos cordeiros não são muito afetados. O efeito negativo de
parasitária.
imagina que tenha capacidade de ruminante e nossa arrogância, mais uma vez,
nos faz seguir pelo caminho que acreditamos ser o mais “fácil” . Scott et al.
peso vivo ao longo do terceiro mês de vida (para desmames com 8 semanas),
verminose neste ciclo de 4-5 meses é muito mais simples que a interrupção da
Recria
pode ser utilizada para “limpar” a área infestada (Vipond, 1999). Pastejo misto
nesta fase também pode ser uma prática interessante (Carvalho e Rodrigues,
crescimento do cordeiro.
Exigências
Taxa de crescimento Dias para Por dia (kg) Total (kg)
(g/dia) terminação
100 100 1,0 100
200 50 1,4 70
300 33 1,7 55
processos não produtivos. Um animal com crescimento lento, seja por uma
insuficiente, utiliza duas vezes mais alimento que um outro cordeiro cujo
potencial não esteja sendo, de alguma forma, limitado. Além disto, um menor
ganhos por animal. Os máximos ganhos de peso obtidos foram da ordem de 122
ganho de peso dos animais esteve longe de ser atingido com os níveis de oferta
5. Conclusões
As ações que conhecemos por manejo num sistema de produção ovina são
Continuamos a encenar os papéis que nos foram delegados pela natureza e seu
planta-animal. Plantas e animais têm, cada um, suas exigências particulares que,
tantos técnicos declinarem deste desafio, optando por sistemas mais simples,
através do manejo, a estas novas exigências. Não é sem razão que a produção
compreendê-la.
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