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Bruno de Lima Preto 1; Gustavo Maciel Pizzato 1; Wagner Cotroni Valenti 1,2
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a hipótese de que os camarões Macrobrachium
amazonicum aceitam alimentação em bandejas. Seis viveiros foram estocados com 10 juvenis II (1,2
± 0,7 g) por m2 em 14/02/2003. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com
2 tratamentos (método convencional e alimentação em bandejas) e três repetições. As médias do
peso dos camarões, sobrevivência, produtividade e das variáveis físicas e químicas da água foram
comparadas entre os tratamentos por meio do teste “t” de Student. O peso médio, a sobrevivência
e a produtividade foram, respectivamente, 7,2±0,3 g, 46,8±7,8% e 335±45 kg/ha no tratamento
com bandejas e 6,8±0,1 g, 85,8±5,2% e 586±42 kg/ha no tratamento a lanço. A sobrevivência e a
produtividade diferiram significativamente entre os tratamentos (p<0,05), enquanto que o peso
médio não diferiu. Possivelmente, devido ao comportamento territorial e agressivo, a espécie
Macrobrachium amazonicum necessita de maior número de bandejas por área.
Palavras-chave: Macrobrachium amazonicum, fase de engorda, bandejas de alimentação
ABSTRACT
The aim of this experiment was to evaluate the hypothesis that the M. amazonicum prawns accept
feeding in trays. Six ponds were stocked with 10 juveniles II (1.2 + 0.7 g) per m2 in 02/14/2003.
An entirely randomized experimental design with 2 treatments (feeding in trays or feeding to
the throw) and 3 replicates was used. Prawn average weight, survival, productivity, and physical
and chemical variables of the water were compared between treatments using “t” test of Student.
Average weight, survival and productivity were, respectively, 7.2 ± 0.3 g, 46.8 ± 7.8% and 335
± 45 kg/ha in feeding tray treatment and 6.8 ± 0.1 g, 85.8 ± 5.2% and 586 ± 42 kg/ha in feed to
the throw treatment. Survival and productivity differed significantly (p<0.5), while that average
weight didn’t differ significantly. M. amazonicum needs to use further number of trays per area,
possibly due to territorial and aggressive behavior.
Key words: Macrobrachium amazonicum, grow-out phase, feeding in trays
peso médio de 1,2 ± 0,7 g no povoamento. Estes Para avaliar as condições de cultivo, as principais
foram produzidos no Setor de Carcinicultura variáveis da água de interesse para a aqüicultura
do CAUNESP e permaneceram em berçário I foram analisadas. O oxigênio dissolvido, a porcenta-
por 40 dias e em berçário II por 60 dias, para gem de saturação, o pH e a condutividade foram
posterior engorda. O delineamento experimental analisados duas vezes por semana, às 7:30h e às
foi inteiramente casualizado com 2 tratamentos 16:30h. Para a determinação do oxigênio dissolvido e
(método convencional e alimentação em bandejas) da porcentagem de saturação foi utilizado o oxímetro
e três repetições (viveiros). YSI modelo 55. Para analisar o pH e a condutividade
Foram comparados o método convencional e o foi utilizado o peagômetro e condutivímetro YSI
arraçoamento utilizando bandejas de alimentação. modelo 63. A transparência foi analisada duas vezes
No primeiro, o alimento foi fornecido a lanço por por semana, às 16:30h, por meio de disco de Secchi.
toda a superfície do viveiro e, no segundo, foi A temperatura foi monitorada diariamente, por meio
colocado em bandejas. Neste tratamento foi utilizada de termômetros de máxima e mínima, instalados na
uma bandeja por viveiro, construída a partir de virola superfície e no fundo do viveiro. O nitrogênio amo-
de pneu de carro. A essas virolas foram costuradas niacal e a alcalinidade foram determinados respecti-
telas de malha 1 mm, enquanto as laterais receberam vamente pelos métodos descritos por Solorzano
um cordão a fim de possibilitar a imersão na água e (1969) e Boyd (1984), quinzenalmente, às 7:30h e às
posterior remoção. Garrafas plásticas vazias foram 15:30. O fluxo de água foi monitorado diariamente.
amarradas aos cordões servindo de flutuadores As médias do peso dos camarões, sobrevivência,
para auxiliar a localização das bandejas. Estas eram produtividade e das variáveis físicas e químicas da
posicionadas no centro e no fundo do viveiro. Nos água foram comparadas entre os tratamentos por
dois tratamentos o alimento era fornecido uma meio do teste “t” de Student.
vez ao dia, às 16:30h. A taxa de arraçoamento foi
inicialmente 9% da biomassa dos camarões, sendo RESULTADOS
alterada para 4% a partir do segundo mês, supondo- A Tabela 1 mostra os valores médios das variáveis
se mortalidade de 4% ao mês. físicas e químicas da água medidos durante o
Os animais foram alimentados com dieta comer- período de estudo. A temperatura máxima foi
cial extrusada, indicada para camarões peneídeos 34 °C, a mínima 23 °C e a taxa de renovação diária
(Laguna CMS 37). Os níveis de garantia por Kg do de água foi aproximadamente 100%. A variação do
produto eram: 13% de umidade; 37% de proteína peso médio dos camarões ao longo do experimento
bruta; 7% de extrato etéreo, 7% de matéria fibrosa; está representada na Figura 1. Pode-se observar que
14% de matéria mineral; 4% de cálcio; 1% de fósforo. os animais cresceram uniformemente entre os dois
O enriquecimento por Kg do produto era: Vit. A 6.500 tratamentos obtendo-se, na despesca final, pesos
UI; Vit. D
�3 1.500 UI; Vit. E 100 mg; Vit. K3 4 mg; Vit. B1 semelhantes. Por outro lado, a sobrevivência e a
10 mg; Vit. B2 20 mg; Vit. B6 10 mg; Vit. B12 50 mcg; produtividade apresentaram diferenças significativas
Vit. C 200 mg; Niacina 100 mg; Biotina 1 mg; Inositol entre os tratamentos (p<0,05). A Tabela 2 mostra que
100 mg; Ácido Fólico 8 mg; Ácido Pantotênico 50 mg; estas variáveis foram superiores quando os camarões
Colina 10 mg; Cobalto (Co) 1 mg; Cobre (Cu) 100 mg; foram arraçoados a lanço. Também foi observado,
Zinco (Zn) 85 mg; Selênio (Se) 0,2 mg; Iodo (I) 4,6 mg; que a ração praticamente não era consumida nas
Antioxidante 200 mg. bandejas.
Para avaliar o crescimento dos camarões e
estimar a biomassa nos viveiros foram realizadas DISCUSSÃO
duas biometrias, por meio de amostras aleatórias Estudos sobre estratégias de alimentação na
(30 animais de cada viveiro), 41 e 70 dias após o produção de camarões marinhos (Salame, 1993;
povoamento. A despesca total foi realizada em 08 Martinez-Cordova et al., 1998; Nunes,
de maio 2003, totalizando 84 dias de experimento. 2003) mostraram que a utilização de bandejas de
Na ocasião, foi realizada a última biometria, para alimentação pode melhorar a qualidade da água. No
a obtenção do peso médio final dos camarões. presente trabalho isto não ocorreu, provavelmente
Utilizou-se uma amostra aleatória de 70 animais de devido à elevada taxa de renovação de água,
cada viveiro. Nesta, os viveiros foram esgotados e os que foi ao redor de 100% ao dia. De acordo com
camarões contados para estimar a sobrevivência. Zimmermann (1998a) e Boyd e Zimmermann
(2000), os valores ideais dos parâmetros da água os níveis ideais; contudo Tavares (1994) afirma
para a criação de camarões de água doce são os que valores até 70 cm são aceitáveis em aqüicultura.
seguintes: temperatura entre 25 e 32° C; alcalinidade As demais variáveis permaneceram na faixa ade-
(CaCO3) entre 20 e 60 mg/L; N-amoniacal entre 0,1 quada. Deve-se destacar que esses valores ideais
e 0,3 mg/L; oxigênio dissolvido entre 3 e 7 mg/L; são recomendados para o cultivo de M. rosenbergii,
pH entre 7 e 8.5 e transparência entre 25 e 40 cm. pois não há estudos concluídos para a criação de
Os valores médios da transparência ultrapassaram M. amazonicum.
Tabela 1. Médias (± desvio padrão) das variáveis da água obtidas durante o cultivo
Manhã Tarde
Bandeja Lanço Bandeja Lanço
OD (mg/L) 5,23 ± 0,29A 5,36 ± 0,13A 7,67 ± 0,06B 7,95 ± 0,12A
% de saturação 65,85 ± 3,90A 66,37 ± 1,13A 97,01 ± 2,01B 101,62 ± 1,16A
pH 7,28 ± 0,14A 7,25 ± 0,08A 7,67 ± 0,20A 7,62 ± 0,09A
Cond. (mS/cm) 71,11 ± 0,74A 71,72 ± 1,18A 73,28 ± 0,18A 73,81 ± 1,20A
N-NH4+ (µg/L) 51,67 ± 24,07A 39,25 ± 1,75A 34,60 ± 16,92A 25,08 ± 11,14A
Alcalinidade (mg/L
26,50 ± 0,62A 26,33 ± 1,05A 26,84 ± 0,33A 25,47 ± 0,66B
de CaCO3)
Transp. (cm) ------------ ------------ 62,83 ± 6,97A 59,29 ± 1,89A
Médias obtidas no mesmo período (manhã ou tarde) seguidas por letras iguais não diferem entre os tratamentos.
Tabela 2. Médias (± desvio padrão) de peso, sobrevivência e produtividade de M. amazonicum obtidos ao final do
experimento
A aceitação de alimento fornecido em bandejas de água doce a dieta artificial é responsável por
foi observada para camarões marinhos (Cook e menos da metade da alimentação do camarão. O
Clifford, 1997 e 1998; salame, 1993; Martinez- restante é fornecido pelos organismos bentônicos e
Cordova et al.,1998; Nunes, 2003), diferindo dos pelos detritos do fundo. Portanto, o uso de bandejas
resultados obtidos no presente trabalho. Na maioria pode ter reduzido a disponibilidade de alimento
das vezes que a bandeja era retirada do viveiro, autóctone para os camarões.
observava-se que o alimento praticamente não De acordo com NUNES (2003), o número de
havia sido consumido. Mesmo não consumindo o bandejas utilizadas na criação de camarões mari-
alimento nas bandejas, os camarões deste tratamento nhos deve ser de uma bandeja/ha para cada 10.000
apresentaram crescimento parecido aos que foram camarões/ha. Segundo Cook e Clifford (1998),
alimentados com dieta fornecida a lanço, obtendo- no periodo de engorda de camarões marinhos
se peso médio final semelhante. Isto se deve, devem ser utilizadas 25 bandejas/ha. O Centro de
provavelmente, à elevada mortalidade dos camarões Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente (CTA)
alimentados por meio de bandejas, que resultou recomenda a utilização de 100 a 150 bandejas/ha na
em diminuição da densidade de animais dentro do criação de M. rosenbergii (comunicação pessoal). No
viveiro. A elevada taxa de renovação de água pode ter entanto, para viveiros pequenos, menores que 500 m²,
reduzido a produção de alimento natural, no entanto, talvez essa quantidade seja insuficiente para atender
não foi realizada analise dos bentos verificando esta todos os animais.
hipótese. Apesar disso, o canibalismo e a presença Os resultados obtidos neste trabalho sugerem
de alimento natural devem ter sido suficientes para que, devido ao comportamento territorial e agressivo,
a alimentação dos camarões sobreviventes. a espécie Macrobrachium amazonicum necessita de
A produtividade obtida no tratamento em que maior número de bandejas por área.
se utilizou bandejas foi baixa, devido à elevada
mortalidade. De acordo com Valenti (1996), REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ocorrência de canibalismo são características de MCT/CNPq. p.33-72.
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1977 e 1979) deve ocorrer também no camarão-da- Boyd, C. e Zimmermann, S. 2000 Grow-out system
amazônia. Assim, a concentração do alimento em – water quality and soil management. In: New, M.
uma bandeja/75 m² deve ter sido a responsável B.; Valenti, W. C. (Ed.). Freshwater prawn culture:
pelo aumento do comportamento agonístico. the farming of Macrobrachium rosenbergii. Oxford:
Provavelmente, o comportamento agonístico foi Blackwell Science, p.221-238.
responsável pela baixa sobrevivência dos camarões
desse tratamento. Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente
Além de restringir o alimento a poucos animais, (CTA). Rua Tereza Zanoni Caser, 385 Pontal
o uso de bandejas de alimentação reduz a formação de Camburi - Vitória / ES - CEP: 29.062-070
de detritos. Estes são responsáveis pela alimentação fone: ++ 55 27 3345-4222 (comunicação pessoal em
do bentos e por parte da alimentação dos camarões 30/08/2007).
(Valenti, 1998). Segundo Valenti (1996 e Cook, H.L.; Clifford, H.C. 1997 Feed management for
1998), os organismos bentônicos desempenham semi-intensive shrimp culture: part 2. Aquaculture
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