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18 a 22 de maio de 2009

Águas de Lindóia/SP
FZEA/USP-ABZ

A DIGESTIBILIDADE DA TORTA DE MACAÚBA (Acrocomia aculeata) EM TILÁPIAS DO


1
NILO (Oreochromis niloticus)
2 3 3
Moisés Sena Pessoa , Leonardo Campos Vieira , Alan Kênio dos Santos Pereira , Antônio Cleber
4
da Silva Camargo
1
Parte de projeto de pesquisa financiada pelo PIBIC/CNPq/UFMG
2
Aluno do curso de graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Minas Gerais. email:
moisessena@yahoo.com.br
3
Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais.
4
Prof. Adjunto II - Instituto de Ciências Agrárias - ICA, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.

Resumo: Há muitos peixes cuja criação está sendo realizada atualmente e dentre essas espécies
destaca-se a tilápia: um dos peixes de maior importância econômica na piscicultura brasileira,
sendo a segunda espécie de peixe mais produzida no mundo. As condições ambientais
requeridas pela tilápia fazem da região Norte de Minas uma área potencialmente utilizável para a
sua criação. A alimentação na aqüicultura corresponde à maior parcela dos custos totais de
produção nas criações semi-intensivas. Dessa forma, alternativas que possam aproveitar a
matéria-prima existente no local podem representar um fator importante para a alimentação dos
peixes e, assim o sucesso nessa atividade. Entre as espécies vegetais que caracterizam o
Cerrado norte mineiro, encontra-se a Macaúba. O objetivo deste estudo foi verificar a
digestibilidade da torta de macaúba pela Tilápia do Nilo. Os valores e comparações realizadas
neste estudo permitem inferir que a torta de macaúba pode ser utilizada como complemento em
rações para tilápia, ressalvando que estudos mais aprofundados são necessários. Os resultados
dessa pesquisa pretendem contribuir nas discussões em torno do desenvolvimento sustentável
integrado ao aproveitamento de frutos nativos do cerrado, o que constitui em mais uma alternativa
de geração de renda para o produtor rural.

Palavras–chave: dieta, frutos nativos do cerrado, piscicultura, peixe

The digestibility of the pie of macaúba (Acrocomia aculeate) for the tilápia of the nile
(Oreochromis niloticus)

Abstract: It has many fish whose creation is being carried through currently and amongst these
species it is distinguished tilápia: one of the fish of bigger economic importance in the Brazilian
pisciculture, being the second produced species of fish more in the world. The ambient conditions
required by the tilápia make of the region North of Mines a potentially usable area for its creation.
The feeding in the aquiculture corresponds to the biggest parcel of the total costs of production in
the half-intensive creations. Of this form, alternatives that can use to advantage the existing raw
material in the place can represent an important factor for the feeding of the fish and, thus, the
success in this activity. Between the vegetal species that characterize the Open pasture mining
north, it meets Macauba. The objective of this study was to verify the digestibility of the pie of
macauba for the Tilapia of the Nile. The values and comparisons carried through in this study allow
to infer that the pie of macauba can be used as complement in rations for tilapia, excepting that
deepened studies more are necessary. The results of this research intend to contribute in the
quarrels around the integrated sustainable development to the exploitations of native fruits of the
corral, what it constitutes in plus an alternative of generation of income for the agricultural
producer.

Keywords: diet, native fruits of the corral, pisciculture, fish

Introdução
A tilápia (Oreochromis niloticus) é um dos peixes de maior importância econômica na piscicultura
brasileira. É nativo do continente africano e da Ásia menor são peixes predominantemente de
águas quentes, com concentrada produção em climas tropicais e subtropicais.

1
As condições ambientais requeridas pela tilápia fazem da região Norte de Minas uma área
potencialmente utilizável para a sua criação. A economia dessa região é baseada principalmente
na pecuária e no extrativismo vegetal. Como exemplo, tem-se a macaúba, que produz frutas
comestíveis que contêm um óleo semelhante ao azeite de oliva, muito utilizado nos setores de
alimentos e farmacêutico. A palmeira de macaúba é uma espécie de palmeira nativa brasileira,
ocorrendo em toda a região central e nordeste do país. Da macaúba tudo se aproveita, pois é
uma árvore ornamental, cujos frutos são comestíveis: da amêndoa se extrai um óleo fino, do miolo
do tronco se faz uma fécula nutritiva, as folhas são forrageiras e as fibras têxteis são usadas para
fazer redes e linhas de pescar, a madeira é usada em construções rurais.
Dessa forma, os objetivos específicos deste trabalho são: (1) verificar a aceitação dos
peixes quanto à torta de macaúba na alimentação; (2) Contribuir com elementos para discussão
da viabilidade econômica da torta de macaúba na alimentação dos peixes.

Material e Métodos
O presente estudo foi realizado no Laboratório de Nutrição de Peixes do Instituto de
Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Regional de Montes Claros,
o o
com localização na latitude 16 51’38’’ S e longitude 44 55’00’’ W.
Foram utilizados 45 juvenis de tilápia com peso médio de 20 g. Oriundos da Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), de Minas Gerais. Os peixes foram
distribuídos em 3 incubadoras cônicas de 200 litros, com tubo coletor na parte inferior da
incubadoras, e submetidos a um período de adaptação aos aquários experimentais de 7 dias, de
acordo com recomendações de Sakomura & Rostagno (2007).
A ração teste foi composta por 69% da ração referência, 30% de torta de macaúba e 1% de
indicador externo (cinza insolúvel em ácido – CIA). Essas porcentagens foram trituradas em
moedor industrial e, em seguida, peneiradas. O material foi misturado para homogeneização e
peletizado, com auxílio de moedor de carne caseiro. A ração obtida foi seca em estufa e
armazenada em freezer.
O período experimental teve duração de 7 dias, com a coleta de fezes a partir do segundo
dia, nos quais recebiam as dietas no período da manhã, após a alimentação, o sistema era limpo,
com o objetivo de evitar a contaminação do material a ser coletado, e no dia seguinte as 8:00
horas da manhã eram coletadas as fezes para posterior análise.
Após a retirada das fezes, as mesmas foram armazenadas em congelador até se obter a
quantidade suficiente para as análises laboratoriais. Obtidas tais quantidades, o material foi
descongelado e seco em estufa de ventilação forçada por um período de 72 horas a uma
temperatura de 55°C. Após esse período, o material foi triturado em moinho e armazenado para
posterior análise.
Foram realizadas análises de Matéria Seca (MS), Proteína Bruta (PB), Fibra Bruta (FB) e
Extrato não-nitrogenado (ENN) para ração de macaúba (teste), para ração referência e para as
excretas. As análises de PB, MS, ENN e FB foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal,
do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, campus Pampulha.
De posse dos resultados das análises do indicador e nutrientes das dietas e excretas, os
coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) das dietas-referência e dieta-teste foram
calculados conforme Nose apud Sakomura & Rostagno (2007).

CDA*(%)= 100 – 100 %marcador na dieta x % nutriente nas fezes


%marcador nas fezes % nutriente na dieta

* Coeficiente de Digestibilidade Aparente

DAN*(%) = (100/30) X [Teste – (70/100 x Referência)]


* Digestibilidade Aparente do Nutriente
Teste = Digestibilidade aparente da proteína e energia presente na dieta teste.
Referência = Digestibilidade aparente da proteína e energia presente na dieta referência.

Por haver ambigüidade de nomenclatura na literatura, para efeito de comparação durante


os resultados e discussão será adotado o nome CDA para menção ao DAN.

Resultados e Discussão

2
Na tabela 1, são apresentados os resultados da digestibiladade aparente dos nutrientes (DAN), e
a composição da dieta referência e a dieta teste (ração + macaúba).

Tabela 1. Composição das dietas utilizadas no experimento.


Parâmetros Dieta Referência Dieta teste (ração + DAN
macaúba)
MS 93,8 % 92,56 % 66,7%
PB 29,21 % 22,29 % 88,86%
FB 9,67 % 17,13 % 59,19%
ENN 52,15 % 37,66 % 53,72%

A tabela 2, a seguir foi elaborada com base em três trabalhos publicados sobre diferentes
ingredientes em rações para peixes. A primeira linha da tabela apresenta os valores de CDA da
torta de macaúba obtidos nessa pesquisa.

Tabela 2. Comparação da digestibilidade de diferentes ingredientes em rações para peixes.


Ingredientes MS % PB % FB % ENN %
Torta de 66,7 88,63 59,19 5,28
Macaúba
1
Torta de Dendê 54,80 75,76 0,00
1
Farelo de Coco 72,63 83,35 38,77
2
Milho 52,52 91,66
2
Farelo de Soja 71,04 91,56
Farelo de 53,11 74,87
2
Algodão
Farinha de 51,46 78,55
2
Peixe
Farinha de 46,97 73,19
2
Carne
Farinha de 53,30 50,69
2
Sangue
Quirera de 70,9 85,9
3
Arroz
3
Glúten de Milho 77,3 90,2
1 2 3
FONTE: Organizado a partir de Oliveira et. al. (1997), Pezzato et al. (2002), Oliveira Filho e
Fracalossi (2006).

Comparando os dados de CDA da torta de macaúba com os valores obtidos por Oliveira et.
al. (1997) pode-se observar que os valores de MS foram menores que o farelo de coco, mas
maiores que os da torta de dendê. Contudo, chama a atenção o fato de o valor de PB da torta de
macaúba ter sido maior que os valores de PB do farelo de coco e da torta de dendê obtidos por
Oliveira et. al. (1997). O mesmo aconteceu com o valor de FB. A comparação deve levar em
consideração que a espécie estudada é diferente, porém os valores de CDA permitiram apontar
que é viável a introdução dos ingredientes nas rações para pacu. Da mesma forma, a
comparação dos valores, permite inferir que os dados de CDA da presente pesquisa indicam ser
viável a introdução da torta de macaúba na alimentação de tilápias.
Pezzato et al. (2002) verificaram o aproveitamento de diversos ingredientes pela Tilápia do
Nilo (Oreochromis niloticus), analisando conforme a classificação em energéticos, protéicos
vegetal, protéicos animal. Dos ingredientes analisados pelos autores, conforme aparece na tabela
2. Comparando os dados do presente estudo com a pesquisa de Pezzato et al (2002), é possível
verificar que a porção MS da torta de macaúba tem um coeficiente de digestibilidade superior a
cinco (Milho, Farelo de Algodão, Farinha de Peixe, Farinha de Carne e Farinha de Sangue) dos
seis ingredientes destacados do estudo desses autores, sendo que o valor de MS foi inferior
apenas ao farelo de soja. Mesmo assim cabe destacar que o valor da porção MS do farelo de soja
é superior apenas 4,34 %, que a torta de macaúba. Dessa forma, os valores de MS a macaúba
apresentou um bom coeficiente de digestibilidade.
Ainda de acordo com o estudo de Pezzato et al. (2002), a fração PB da torta de macaúba
apresentou um bom coeficiente de digestibilidade com valor de 88,63% em comparação com o
maior valor encontrado pelos autores, de 91,66% referente ao milho.

3
Outro trabalho utilizado como parâmetro para comparação dos valores do coeficiente de
digestibilidade é o apresentado por Oliveira Filho & Fracalossi (2006). Estes autores analisaram
os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, proteína e energia dos ingredientes quirera do
arroz e glúten de milho para juvenis de jundiá (Rhamdia quelen). Os autores concluíram que os
maiores coeficientes de digestibilidade foram obtidos para o glúten de milho (95,0% para proteína,
88,0% para energia e 82,2% para MS) e os menores para quirera de arroz, valores de 80,7% para
proteína, 64,8% para energia e 60,5% para a MS. A comparação dos dados desses autores com
os valores de CDA da torta de macaúba possibilita destacar que, ainda que inferiores aos valores
do glúten de milho apresentam bons valores de digestibilidade.
Em estudos de digestibilidade, devem-se observados algumas questões quando se
estabelecem comparações entre parâmetros diferentes. Bomfim & Lanna ( 2004) apontam que há
uma grande variação nos coeficientes de digestibilidade aparente obtidos para um mesmo
alimento entre e dentre as espécies de peixes. Segundo os autores, vários são os fatores que
influenciam os coeficientes de digestibilidade, tais como a metodologia utilizada para a coleta de
fezes, técnicas, espécie, idade, composição do alimento, salinidade, temperatura da água e o tipo
de processamento do alimento (Bomfim & Lanna, 2004).

Conclusões
Pode-se concluir que a torta pode ser utilizada na alimentação de tilápia, pois, além dos
bons valores de coeficiente de digestibilidade, observou-se que não houve rejeição à dieta teste,
tampouco mortalidade de peixes, e pode ser utilizada como complemento em rações para tilápia,
ressalvando que estudos mais aprofundados são necessários.

Literatura citada
BOMFIM, Marcos Antonio Delmontes; LANNA, Eduardo Arruda Teixeira. Fatores que influenciam
os coeficientes de digestibilidade nos alimentos para peixes. Revista Eletronica Nutritime, v.1,
1/1, p. 20-30, julho/agosto de 2004. Disponível em
http://www.nutritime.com.br/arquivos_internos/artigos/003V1N1P20_30_JUL2004.pd
f. Acesso em: 21 de setembro de 2008.
CAMARGO, Andréia Silva Oliveira. Digestibilidade em Rações para Tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus) em Diferentes Temperaturas. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) -
Universidade José do Rosário Vellano, 2005.
OLIVEIRA, Ana Cristina B. de. Cantelmo, Osmar Ângelo. Pezzato, Luiz Edivaldo. Ribeiro, Maria
Angélica R., Barros, Margarida Maria. Coeficiente de digestibilidade aparente da torta de
dendê e do farelo de coco em pacu (Piaractus mesopotamicus). Revista UNIMAR 19(3):897-
903,1997.Disponível
em:<http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevUNIMAR/article/viewFile/4568/
311>. Acesso em: 12 de Nov. 2008.
OLIVEIRA FILHO, Paulo Roberto Campagnoli de; FRACALOSSI, Débora Machado. Coeficientes
de digestibilidade aparente de ingredientes para juvenis de jundiá. Revista Brasileira de
Zootecnia, Brasília, Distrito Federal, v. 35, n. 4, p.1581-1587, 14 maio 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbz/v35n4s0/a02v354s.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2008.
PEZZATO, L.E.; MIRANDA, E.C.; BARROS, M.M. et al. Digestibilidade aparente de ingredientes
para a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.4,
p.1595-1604, 2002.
SAKOMURA, Nilza Kazue; ROSTAGNO, Horácio Santiago. Métodos de Pesquisa em Nutrição de
Monogástricos. Jaboticabal: FUNEP, 2007.

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