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N
Euclides de Freitas Couto
Da ditadura a ditadura
rio, supõe competência histórica e sua relação com a política e com
tas e de consagrações. Nessa linha de análise, integra-se o livro de
paixão pelo futebol. Euclides Couto Euclides Couto, resultado de meticulosa pesquisa documental e da governos, que inúmeras vezes fize-
atende a esses dois pressupostos. consulta a preciosas fontes orais, cujos dados instigantes e depoi- ram dos resultados positivos nos
mentos reveladores pontuam as relações nem sempre harmoniosas estádios ingredientes de propa-
Lucilia de Almeida Neves Delgado ganda governamental. Em contra-
entre Estado e futebol. As implicações analíticas de Couto são subs-
Historiadora – UnB e UFMG ponto à usual associação futebol
tanciais para se perceberem diferentes temporalidades históricas
do Brasil, identificadas politicamente pela experiência autoritária e e políticas governamentais, Couto
por agentes sociais que se utilizaram de sutilezas simbólicas, através também analisou as dissensões de
do futebol, para expressar a insatisfação à ordem estabelecida. alguns jogadores frente ao discur-
so político oficial nos anos de 1970,
Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro quando o autoritarismo da ditadu-
Historiador – PUC-Minas ra implantada em 1964 alcançou
seu ápice e iniciou sua lenta der-
rocada. Nesse caso, vale conferir a
postura de Afonsinho, Paulo Cezar
ISBN 852281017-6
Caju, Reinaldo e Tostão. Baseado
em ampla pesquisa que contem-
plou livros, jornais, revistas, docu-
mentários e entrevistas, o livro des-
9 7 8 8 5 2 2 8 1 0 1 7 8
Da ditadura à ditadura:
uma história política do futebol brasileiro
(1930-1978)
Niterói, 2014
Copyright © 2014 by Euclides de Freitas Couto
Direitos desta edição reser vados à Editora da UFF - Editora da Universidade Fede-
ral F luminense - Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 242 20-9 0 0
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Bibliografia p. 259
ISBN 978-85-228-1017-8
BISAC HIS 024000 HISTORY / Latin America / General
Comissão Editorial
Presidente: Mauro Romero Leal Passos
Ana Maria Martensen Roland Kaleff
Eurídice Figueiredo
Gizlene Neder
Heraldo Silva da Costa Mattos
Humberto Fernandes Machado
Luiz Sérgio de Oliveira
Marco Antonio Sloboda Cortez
Maria Lais Pereira da Silva
Editora filiada à
Renato de Souza Bravo
Rita Leal Paixão
Simoni Lahud Guedes
Tania de Vasconcellos
A Dani, que me despertou paixões
para além das quatro linhas.
Prefácio, 17
Introdução, 19
1. A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas
para o mesmo fim (1930-1962), 37
João P. Furtado
Historiador –UFMG
Introdução
1 Vale recordar que a taça original, feita em ouro, foi furtada em dezembro de 1983 da
sede da CBF, localizada no Centro do Rio de Janeiro. Posteriormente, o capitão da
Seleção Brasileira em 1970, Carlos Alberto Torres, cedeu à entidade uma réplica da
taça que, após ser reproduzida, se encontra novamente exposta.
2 JORNAL DOS SPORTS, 24 jun. 1970, p. 3.
20
Introdução
***
7 Essa percepção ganhou força principalmente a partir dos trabalhos produzidos pelos
pensadores ligados à Escola de Frankfurt. Segundo ADORNO, 1986, o esporte moderno,
ao se inserir na racionalidade capitalista, absorveu simultaneamente as funções de
disciplinamento e entretenimento dos indivíduos. Na primeira delas, o objetivo é
treinar o atleta para que ele possa se adequar à lógica da competição, princípio
basilar das relações capitalistas; na segunda, o esporte, vítima da mercantilização
promovida pela indústria cultural, tornar-se-ia um mecanismo de despolitização da
sociedade, na medida em que o engajamento no jogo e o envolvimento emocional na
torcida afastariam os indivíduos das discussões políticas.
23
8 De acordo com TOLEDO, 2001, p. 134, a incursão das ciências sociais no universo
esportivo teve início em meados da década de 1970, especialmente em centros
de excelência acadêmica. Impulsionados, sobretudo, pelas investigações dos
fenômenos urbanos, os estudos sobre os esportes passaram lentamente a ocupar
espaço entre os temas consagrados nesse campo.
9 De acordo com a formulação de BOURDIEU, 1990, p. 161-162, no âmbito objetivo, as
lutas simbólicas são deflagradas pelas representações individuais ou coletivas que
procuram concretizar de modo visual ou oral determinadas realidades circunscritas
ao espaço social.
10 Embora a Seleção Brasileira tenha participado das duas edições anteriores da Copa
do Mundo Fifa, realizadas, respectivamente, no Uruguai (1930) e na Itália (1934),
sua efetiva apropriação política pela propaganda estatal se manifestou na Copa do
Mundo de 1938, ocorrida na França.
24
Introdução
11 A historiadora Ângela de Castro Gomes, 2005, p. 31, sinaliza que a categoria cul-
tura política pode ser considerada como um conjunto de representações que são
compartilhadas por aqueles indivíduos e grupos cujo nível de participação varia de
acordo com sua adesão a determinado ambiente cultural.
12 DAMO, 2012, p. 54.
25
44 NORA,1993, p. 16.
45 NEVES, 2000, p. 112.
46 Referimo-nos, especialmente, à coletânea intitulada O universo do futebol: esporte e
sociedade brasileira organizada pelo antropólogo Roberto Da Matta, publicada em
1982.
33
1 Segundo Bercito (1990), dentre elas merecem destaque a Igreja Católica, os sindicatos,
a educação e o esporte.
39
2 A maior parte dos clubes esportivos fundados nas primeiras décadas do século 20
se caracterizava pela falta de organização e pelas relações pessoalistas (tal qual
definidas por Sérgio Buarque de Holanda na obra clássica Raízes do Brasil) mantidas
com suas associações, o que tornava o campo esportivo uma instância essencial-
mente conflituosa.
40
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
7 NOGUEIRA, 2006, p. 232-233; FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 79; AQUINO, 2002, p. 59-
60; FRANZINI, 2003, p. 85; SILVA, 2004, especialmente no capítulo 2, intitulado “A
conquista do mundial de 1938 como uma das formas de propaganda de regimes
políticos”.
8 Na década de 1930, o movimento de pacificação do futebol brasileiro relaciona-se
diretamente com as políticas de integração nacional impulsionadas pelo Governo
Vargas. Nesse período, o futebol adquiriu funções estratégicas para a difusão do
projeto integrador nacionalista. Assim, deveria ser representado e controlado por
uma entidade que defendesse os interesses nacionais em detrimento das rivali-
dades locais e regionais (SILVA, 2004, p. 124-125).
43
9 Essa ideia é analisada nos estudos de Lenharo (1986, p. 17-18), conforme aborda-
mos anteriormente neste livro.
10 Nos primeiros anos do século 20, era comum realizar-se entre os torcedores dos
principais clubes brasileiros de futebol a eleição da “Madrinha do Clube”. Estes
eventos contavam com ampla participação da comunidade e dos órgãos de impren-
sa e se tornaram, ao longo do tempo, atividades tradicionais no universo futebolís-
tico do país (COUTO, 2003, p. 115-122).
44
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
composta pelas rádios Cosmos e Cruzeiro do Sul, de São Paulo, pela Rádio Clube de
Santos e pelas Rádio Clube do Brasil e Cruzeiro do Sul, ambas situadas na capital
federal (ORTRIWANO, 2001, p. 2). Além das transmissões radiofônicas, o Jornal dos
Sports e O Globo foram os órgãos brasileiros responsáveis pela cobertura jornalísti-
ca da Copa. É importante frisar que todas essas empresas tiveram o patrocínio do
Cassino da Urca, o que revela o interesse das empresas privadas em associar seu
nome aos eventos esportivos nesse período.
51
17 Os jornais que circulavam nas grandes cidades brasileiras durante a década de 1920
constituem-se como fontes importantes para a compreensão desta questão, pois
nos relatam, por meio das crônicas e fotografias, a ampla mobilização popular nos
dias de jogos entre os clubes de futebol. Em relação ao interesse popular pela Se-
leção Brasileira, as pesquisas de Pereira (2000) e Franzini (2000, 2003), permitem
afirmar que, a partir do Campeonato Sul-Americano de Futebol realizado na cidade
do Rio de Janeiro em 1919, houve um grande interesse da população, especialmente
na capital federal, pela competição que, nesse ano, foi vencida pela Seleção Brasilei-
ra. No entanto, em outras importantes cidades do país, como São Paulo, Salvador e
Recife, a mesma mobilização não ocorreu. O fato pode ser explicado pela ausência,
nesta época, de transmissões radiofônicas, que ainda não haviam sido dissemina-
das pelo país, e pela própria falta de representatividade nacional do selecionado
brasileiro, que era formado, substancialmente, por jogadores paulistas e alguns
poucos cariocas (FRANZINI, 2003, p. 16).
52
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
18 Sobre esta questão, Eco (1984) oferece uma discussão aprofundada sobre a socia-
bilidade promovida a partir das conversas sobre o futebol que permeiam o cotidi-
ano das cidades. Segundo o autor, os meios de comunicação de massa, especial-
mente o rádio e a televisão, seriam os grandes fomentadores destes debates.
19 Dentre as várias ações direcionadas diretamente ao futebol pelo Estado Novo, já
destacamos anteriormente o “o movimento de pacificação do futebol”, a “campanha
do selo” e todo o apoio técnico, logístico e financeiro prestado à delegação brasile-
ira que embarcou para a Copa de 1938.
53
20 Segundo Silva (2004, p. 146), o locutor Gagliano Neto e os jornalistas Thomaz Maz-
zoni, Afrânio Vieira e Everardo Lopes viajaram à França em 1938 como membros
oficiais da delegação brasileira. Esse fato demonstra os fortes laços que uniam a
imprensa esportiva e as proposições do regime estado-novista.
55
24 Utilizaremos, a partir deste ponto, as iniciais NFB para nos referirmos ao livro de
Mário Filho.
59
28 Hobsbawm 1995, p. 260) aponta que as demandas de alta tecnologia exigidas pela
Segunda Guerra foram absorvidas pela indústria civil e disseminadas maciçamente
na sociedade após 1945. Dentre os produtos que entraram em circulação para o con-
sumo civil, e cuja tecnologia advém das pesquisas bélicas, o autor destaca o motor
a jato, a televisão e os gravadores de fita cassete.
66
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
36 Bourdieu (1983b, p. 138), ao se apropriar da teoria elisiana dos campos sociais, ar-
gumenta que, no momento em que as atividades físicas e os esportes de forma geral
passaram a ser organizados, administrados e conceituados pelas entidades perten-
centes ao Estado ou à própria sociedade civil, começaram a constituir um campo
esportivo.
74
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
37 Antunes (2004, p. 219) relata que Nelson Rodrigues foi um dos primeiros cronistas
a sugerir a incorporação de um psicólogo à comissão técnica da Seleção Brasileira,
fato que viria a ocorrer na Copa do Mundo de 1958.
78
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
48 O paralelismo entre as descrições das honras prestadas pelos helenos aos heróis
olímpicos da antiguidade e as homenagens aos heróis da Copa de 58 no Brasil
permite associar os dois momentos aos sentimentos de identidade coletiva e
nacionalismo, ambos ligados às conquistas esportivas. Sobre as honras esportivas
e a identidade coletiva na Grécia Antiga, consulte Andronicos et al. (2004, p. 153).
99
57 Vale ressaltar que, além das conquistas da Seleção Brasileira de futebol, contribuíram
para a conformação do nacionalismo as conquistas do bicampeonato da Taça
Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Santos F. C. em 1962 e 1963; o bicam-
peonato do Torneio de Wimbledon conquistado pela tenista Maria Esther Bueno
em 1958 e 1960, além do título mundial dos pesos galo conquistado pelo pugilista
Éder Jofre em 1961. Cabe ainda mencionar a conquista do bicampeonato mundial
pela Seleção Brasileira de basquete em 1959 (Chile) e 1963 (Brasil).
106
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
Mas o caso não seria tão sério, seriam talvez naturais veemên-
cias do nosso temperamento tropical, se a possível vitória do
Brasil no Chile e as vitórias parciais que lá conquistou o nos-
so selecionado não fossem tão descaradamente exploradas
pelos chamados “nacionalistas”, em apoio dos seus supostos
“postulados”.
64 Conforme os relatos de Franco Júnior (2007, P. 137) e Castro (1995, p. 257), o referi-
do bandeirinha uruguaio, ex-árbitro da Federação Paulista, havia recebido pas-
sagens aéreas de dirigentes brasileiros e embarcado para Paris na manhã seguinte
ao jogo.
112
Capítulo 1 – A capitalização política do futebol: diferentes estratégias empregadas para o mesmo fim (1930-1962)
65 Segundo Jessé Souza (2009, p. 39), o mito nacional, fornecedor de “ilusões com-
pensatórias” permite à sociedade brasileira se alienar das mazelas produzidas
pela desigualdade social, estruturante das relações sociais no país.
113
*****
De modo geral, a sociedade não se empolgaria pela luta arma-
da. Os ecos das comemorações pelos gols marcados no México
pela seleção tri-campeão (sic) mundial ressoariam mais altos,
e cobririam, os gritos dos que estavam nas câmaras de tortura
118
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
7 Dreiffus (1981, p. 369) elucida as estreitas ligações entre os militares e o Ipes. Segun-
do ele, diversos membros da Escola Superior de Guerra (ESG), órgão responsável
pela condução ideológica dos militares, participavam ativamente das decisões do
instituto.
121
8 Dentre as várias organizações civis cooptadas pelo Ipes e que tiveram participação
fundamental no processo de difusão e legitimação da ideologia anticomunista, podemos
citaraAssociaçãodeDirigentesCristãosdeEmpresa(ACDE),aUniãoNacionaldeAmparoà
Pesquisa(Unap),aAssociaçãoCristãdeMoços(ACM)eoGrupodeEducaçãoSeletiva(GEP)
(Dreifuss, 1981, p. 257-258)..
122
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
9 Conforme argumenta Castro (1984, p. 80), vale frisar que, oficialmente, a Igreja
Católica apoiou o golpe militar. A maioria dos padres e bispos assumiu o discurso
anticomunista, direcionando suas pregações a favor dos grupos conservadores.
Betiato (1985, p. 71), relata que o Padre Patrick Peiton veio diretamente dos Estados
Unidos para lançar a Campanha do Rosário em Família. A partir da liderança exercida
sobre as classes médias, o religioso anticomunista travou uma grande “cruzada”
contra o governo João Goulart. Por outro lado, grupos progressistas presentes
no interior da Igreja Católica, como aqueles ligados à Teologia da Libertação, e
vozes dissonantes como a de Dom Hélder Câmara, arcebispo da diocese de Olinda
e Recife, constituíram-se como uma das principais frentes de oposição ao golpe e,
posteriormente, à ditadura militar.
10 Empregamos, de forma proposital, o conceito formulado por Pierre Bourdieu. Para
o sociólogo francês, a classe social em que o indivíduo se encontra define, entre
outras questões, aspectos de distinção social, valores de consumo e preferências
estéticas (BOURDIEU, 2005b, p. 74).
123
11 A categoria grupos subalternos a que nos referimos foi desenvolvida por Gramsci
(2002, p. 138-145). Nessa elaboração, o filósofo sardo amplia a noção de classe so-
cial presente na teoria marxiana, inserindo no proletariado os grupos explorados e
marginalizados pela sociedade capitalista.
124
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
Quando surgiu o CPC, nos fins dos anos 50, começo dos 60, me
chamaram porque eu tinha feito o “Zelão”, que saiu no meu
primeiro disco, e as pessoas começaram a achar que eu tinha
condições de fazer uma coisa mais social. E o CPC tinha muito
a ver com isso. Aí eu fui compondo as minhas coisas um pouco
mais voltadas pra realidade social porque, quando viemos pro
Rio, o meu pai conseguiu, com um pouquinho da reserva que
ele tinha, comprar uma casinha no Jacarezinho. Então, lá eu ti-
nha contato com a favela. Passava perto da favela e tal e come-
çava a ver essas injustiças sociais. Depois que eu comecei a tra-
balhar, a gente foi morar no Humaitá, onde nosso apartamento
dava pro morro. Foi nesse morro que uma vez eu assisti, da
janela, [a] um desbarrancado de uma pedreira lá, e com a chu-
va houve um grande desmoronamento de terra, uma movimen-
tação de terra, e cobriu um barraco. Eu fiquei apavorado com
aquilo, achei aquilo uma loucura. E, ao mesmo tempo, aquele
temporal daquele ano levou o Rio de Janeiro a uma catástrofe
danada. As pessoas, as vítimas da chuva, quase que todos fa-
velados, acabaram sendo abrigados no Maracanã enquanto se
descobria uma forma... quer dizer, ninguém descobriu forma
nenhuma pra eles sobreviverem. Eles que tiveram que se virar.
Foi aí que nasceu a minha música “Zelão”. Foi nessa situação
de preocupação com essa coisa que me emocionei muito com
essa situação e escrevi a música. (Informação verbal)14
18 Ver, por exemplo, a crônica intitulada “A hora dos intelectuais”, publicada pelo
jornalista Carlos Heitor Cony em maio de 1964. No texto, que ganharia feições de
um manifesto, o autor convoca os intelectuais a participarem da resistência contra a
repressão e o autoritarismo impostos pela ditadura militar. Ao denunciar uma série
de arbitrariedades cometidas pelos militares, o jornalista legitima os intelectuais
como a única classe capaz de organizar a resistência no país.
19 Temos como exemplos mais contundentes desta reação, na década de 1960, a arte
plástica engajada (FREITAS, 2004), o afloramento da imprensa alternativa (KUCINS-
KI, 2003), os festivais da canção, o cinema novo e o teatro engajado (FURTADO,
2004).
129
23 Apesar de ter nascido na cidade de Três Corações, situada no sul do estado, Pelé
não era considerado mineiro pela crônica esportiva. Desde o período de sua
infância, no interior de São Paulo, os cronistas o consideravam um representante
“nato” do futebol paulista.
24 Para as análises formuladas neste item foram consultados os seguintes periódicos
circulantes no ano de 1966: os jornais Diário de Minas, Estado de Minas, O Diário e O
Estado de S. Paulo, além das revistas Foto Esporte, Manchete, O Cruzeiro e Realidade.
134
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
35 Cf. “Admildo Chirol: venceu nova mentalidade”, JORNAL DOS SPORTS, 25 jun. 1970, p. 8.
36 Um dos itens da doutrina, conhecido como estratégia de ação indireta, visava inserir
a propaganda psicológica com o objetivo de controlar ideologicamente as grandes
massas. O futebol, especialmente no período da Copa do Mundo de 1970, tornou-se
um dos símbolos mais requisitados pela Agência Especial de Relações Públicas (Aerp)
para a promoção da imagem do governo (ALVES, 1989, p. 39; FICO, 1997, p. 103).
145
46 Sugeria-se, por exemplo, a criação de concursos para os jovens que mais se destacas-
sem nas escolas, o empregado mais eficiente dos órgãos públicos, o cidadão mais
idoso de determinada cidade etc (FICO, 1997, p. 93).
47 Dentre os elementos exaltados pelas peças publicitárias produzidas pela Aerp, de-
stacavam-se a valorização da família e o culto aos heróis e símbolos nacionais.
153
50 Essa afirmação pode ser verificada através da análise dos periódicos que circu-
lavam na época. Sobre essa temática foram consultados os seguintes periódicos:
os jornais Correio da Manhã, Estado de Minas, Jornal dos Sports, além das revistas
Placar e Manchete.
51 “Ministro recebe o plano do fundo Pelé”. JORNAL DOS SPORTS, 10 abr. 1970, p. 3.
52 Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a Comenda da Ordem do Rio Branco
foi “instituída pelo Decreto n° 51.697, de 05 de fevereiro de 1963, com o fim de
galardoar as pessoas físicas, jurídicas, corporações militares ou instituições civis,
nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos excepcionais, se
tenham tornado merecedoras dessa distinção” (Disponível em: <http://www2.mre.
gov.br/Cerimonial/RioBranco/Regulamento-RB.htm> Acesso em: 8 fev. 2008).
53 “Pelé recebe sua comenda e abraços dos ministros”. JORNAL DOS SPORTS, 21 abr.
1970, p. 7..
156
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
54 Segundo Ridenti (1993, p.111), são elas: Ala Vermelha do Partido Comunista do
Brasil (ALA), Ação Libertadora Nacional (ALN), Comandos de Libertação Nacional
(Colina) e Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
158
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
57 “Médici enaltece a vitória como homem do povo”. JORNAL DOS SPORTS, 22 jun.
1970, p. 10, grifo nosso.
162
Capítulo 2 – Futebol no regime autoritário: cultura e política
Porque falo o que penso e antes penso no que vou falar e sei o
que devo e posso falar, sou muito visado, muito criticado. Não sei
se pela barba, pelo cabelo, por deter meu próprio passe ou por
ter a cabeça no lugar. Só tem uma coisa: não abro mão de nada
disso. Eu falo mesmo. E também assumo a responsabilidade de
meus atos.
2 Góis Júnior (2006, p. 123) salienta que, nesse período, o cenário acadêmico da Edu-
cação Física foi marcado pela transição entre os modelos de conhecimento empíri-
co e científico. Segundo ele, após a publicação, em 1968, da coletânea de artigos
intitulada Introdução à moderna ciência do treinamento desportivo, organizada pelo
professor Lamartine Pereira DaCosta, houve uma verdadeira revolução nos siste-
mas de treinamento esportivo no país. Tais mudanças foram rapidamente absorvi-
das pelo futebol profissional brasileiro.
3 Na década de 1970, uma das poucas manifestações coletivas de descontentamento
por parte de jogadores brasileiros ficou conhecida como o Manifesto de Glascow.
Durante uma excursão pela Europa, os jogadores da seleção, liderados por Piazza,
lançaram uma “lei do silêncio” em atitude de protesto por se sentirem “perseguidos”
pela imprensa até em seus momentos de folga. (Disponível em: <http://noticias.uol.
com.br/pelenet/porondeanda/ult2657u139.jhtm>. Acesso em: 7 abr. 2009).
171
5 Em declaração dada à imprensa, logo após a derrota para Portugal, Pelé dizia-se
desiludido com seu futuro na Seleção Brasileira. Segundo ele, os jornalistas não
compreendiam seus problemas de ordem física, exigindo que ele tivesse uma
performance igual à de 1958. Assim, afirmava que pretendia abandonar a Seleção
Brasileira e quiçá o futebol ( “Desiludido o Rei do Futebol”. ESTADO DE MINAS, 22
jul. 1966, 2a seção, p. 1a)
6 Embasando-se teoricamente nos fundamentos da sociologia interpretativa, GUEDES,
1998, p. 45, argumenta que os jornalistas esportivos usam da sua credibilidade
com o grande público para “transformar em realidade” determinadas ideologias e
interpretações.
173
teatro que não tem uma Sarah Bernhardt ou uma Duse. Em fute-
bol, como em tudo o mais, o craque é decisivo. Evidentemente
que os onze são indispensáveis. Mas o que leva o público e
faz a bilheteria é o craque. Eu diria que, no time de Pelé, só
ele existe e o resto é paisagem. (O GLOBO, 4 ago. 1966 apud
RODRIGUES, 1994, p. 129-130, grifo nosso)
8 “Aimoré vai à Europa ver tudo sobre o futebol”, JORNAL DOS SPORTS, 11 jan. 1968,
p. 12.
176
Capítulo 3 – A esquerda contra-ataca: a rebeldia intra e extracampo
9 “Um debate sinistro”. JORNAL DOS SPORTS, 4 dez. 1968, p. 3, grifo nosso.
179
Além dos requisitos físicos exigidos para a função que lhe era
incumbida, Zico tornou-se também padrão de caráter e comporta-
mento. Orientado periodicamente pelos psicólogos do clube, o joga-
dor incorporou à sua habilidade com a bola adjetivos comportamen-
tais indispensáveis: educado, disciplinado e conhecido por possuir
uma vida extracampo irretocável, a trajetória vitoriosa de Zico se
tornou modelo para a educação esportiva dos garotos das gerações
seguintes. O sucesso nos gramados estava sempre relacionado à reti-
dão de sua conduta pessoal. Em contraposição ao modelo dionisíaco
de jogador de futebol, tão presente nas narrativas biográficas de ído-
los como Leônidas e Garrincha, exemplos emblemáticos que vigora-
ram até a metade dos anos 1960, o novo paradigma futebolístico pre-
conizava a justaposição dos papéis sociais de homem e jogador. Na
184
Capítulo 3 – A esquerda contra-ataca: a rebeldia intra e extracampo
13 Na imprensa esportiva, o apelido Yustrich é grafado ora com “Y”, ora com “I”.
Ao consultar seu apelido, atribuído pela incrível semelhança física com o goleiro
argentino Juan Elias Yustrich, constatamos que a grafia correta se faz com o “Y”.
185
18 “Paulo César se queixa da perseguição das vaias”, JORNAL DOS SPORTS, 28 abr.
1970, p. 3.
19 Reportamo-nos aqui ao conceito de estigma social desenvolvido pelo sociólogo
Erving Goffman. Influenciado pela sociologia simmeliana, em sua abordagem,
prevalece a ideia de que a sociedade estabelece modelos de comportamento, de
estética, de valores morais e éticos. Espera-se que, em sua maioria, os indivíduos
se adaptem a tais modelos. Quando ocorre o confronto de sujeitos ou grupos
aos padrões preestabelecidos, os demais indivíduos, assim como as instituições
sociais, passam a rejeitá-los, inferiorizá-los, convertendo-os em algo perigoso e
maléfico (GOFFMAN, 1993, p. 11).
195
20 “Paulo César desafia o diretor”, JORNAL DOS SPORTS, 01 out. 1971, p. 04.
21 “Nilton Santos diz que não é babá de ninguém”, JORNAL DOS SPORTS, 1 out. 1971, p. 4.
197
22 “O exemplo eterno de N. Santos”, JORNAL DOS SPORTS, 01 out. 1971, p. 04, grifo
nosso.
198
Capítulo 3 – A esquerda contra-ataca: a rebeldia intra e extracampo
29 “O caminho do tetra III: Parreira pede revolução nos clubes”, JORNAL DOS SPORTS,
9 jul., 1970, p. 12, grifo nosso.
204
Capítulo 3 – A esquerda contra-ataca: a rebeldia intra e extracampo
Fui pro hotel! Fui pro hotel e procurei a direção. Eles me dis-
seram que iam se reunir com o treinador e tal. Eu aguardei e
não aconteceu nada. Fui isolado, eu falei: – Olha, vocês dis-
seram que ia ter uma solução desde os episódios anteriores.
Então não havia mais nenhum argumento. Não existe nenhum
argumento, que agora eu não posso aceitar mais essa situa-
ção, não é? Aí ele (diretor) disse: “Não, tá certo”. Eu já tinha
saído do Botafogo porque fiz um acordo que ficaria e porque
Foi nessa época também que eu tive uma informação que eles
estavam de olho em mim. Na universidade a gente sabia que
estava toda ocupada por agentes e essa coisa toda. E havia
passeata e aquela coisa toda. Quando eu fui pro Santos é que
me ficharam lá no DOPS, mas eu tinha informações deles tam-
bém. Achavam que quando ia viajar nas excursões do time que
eu iria aproveitar pra visitar embaixadas dos países da corti-
na. Eu até tinha interesse na época, mas não, isso não aconte-
ceu. Não que eu não quisesse, eu não tive oportunidade de ir.
Tinha os torneios jogados em Buenos Aires, no Peru, no Chile,
no México. Tinha um também na Tchecoslováquia, outro na
Iugoslávia que se aprovassem a gente jogaria lá. Então os caras
acabavam cruzando todas essas informações e concluindo que
Tarso – Eu, por exemplo, morro de medo de dizer que sou de-
mocrata, você entende? Se você tivesse que se definir politica-
mente, você acha que o homem tem o direito de dizer o que
quer, defender o pensamento que ele acredita que seja certo
em qualquer situação?
estejam reunidas as condições para que ela seja capaz de obter im-
portância que a elas se concede (BOURDIEU, 2003, p. 150).
A ilustração sobre a filosofia utilizada pelo sociólogo francês per-
mite compreender o alcance das ações protagonizadas pelos atores
citados. Tanto os atletas norte-americanos quanto o jogador brasileiro
tinham em mente, com certa precisão, o público que iriam atingir.
through me, from somewhere in the crowd of some 100,000 to end my life because I
had dared to make my presence – as a black man, as a representative of oppressed
people all over America, as spokesman for the ambitious goals of the Olympic Project
for Human Rights – know to the world.
226
Capítulo 3 – A esquerda contra-ataca: a rebeldia intra e extracampo
Figura 22 – Tommie Smith, Peter Norman e John Carlos: pódio dos 200 metros rasos,
Estádio Olímpico do México, 1968
Fonte: <http://www.tommiesmith.com>. Acesso em: 21 dez. 2008.
Não acho legal vaiar ninguém. Mas é preciso ver que o campo
de futebol é um dos poucos lugares onde o povo pode expres-
sar com mais sinceridade o que sente. Desconfio das pessoas
68 Idem.
69 Podemos verificar essa informação nas entrevistas concedidas pelo próprio
jogador, assim como nos depoimentos concedidos pelos ex-jogadores Sócrates e
Afonsinho.
70 “Frei Beto escreve”, Folhetim, FOLHA DE S. PAULO, 13 mai. 1979, p. 13.
71 “O caso Reinaldo: inocente ou culpado”, ESTADO DE MINAS, 11 jul. 1981, p. 2.
239
72 “Porque querem acabar com ele”, ESTADO DE MINAS, 11 jul. 1981, p. 2, grifo nosso.
240
Capítulo 3 – A esquerda contra-ataca: a rebeldia intra e extracampo
80 Id.
81 Id.
82 Na mesma entrevista, Reinaldo relata que, apesar de todos os percalços impostos
pela profissão, conseguiu concluir o segundo grau e ingressar no curso de
Comunicação Social da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo
Horizonte (Fafi-BH).
245
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2. PERIÓDICOS
A) JORNAIS
A NOITE. Rio de Janeiro, 1938.
CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, 1970.
DIÁRIO DE MINAS. Belo Horizonte, 1958-1966.
ESTADO DE MINAS. Belo Horizonte, 1958-1981.
FOLHA DE MINAS. Belo Horizonte, 1958.
FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, 1972-1979.
JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, 1938-1962.
MINAS SPORT. Belo Horizonte, 1925.
MOVIMENTO. São Paulo, 1978.
O DIÁRIO. Belo Horizonte, 1966.
O GLOBO. Rio de Janeiro, 1970.
O ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo, 1966-1972.
O PASQUIM. Rio de Janeiro, 1970.
OPINIÃO. Rio de Janeiro, 1972-1974.
276
Considerações finais
B) REVISTAS
FOTO ESPORTE. Belo Horizonte, 1962.
ISTO É. São Paulo, 1976-1977.
MANCHETE. Rio de Janeiro, 1958-1970.
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro, 1958-1972.
PLACAR. São Paulo, 1970-1975.
REALIDADE. São Paulo, 1966.
VEJA. São Paulo, 1969-1978.
VITA. Belo Horizonte, 1913-1914.
3. FONTES FONOGRÁFICAS
4. MEIOS ELETRÔNICOS
Lista de Entrevistados:
6. Instituições pesquisadas
7. ACERVO PARTICULAR