Você está na página 1de 104

© Copyright 2022 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

Direitos reservados e protegidos pela Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.


É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa do IFCE.

Presidente Pró-reitor de Administração


Jair Messias Bolsonaro e Planejamento  IFCE
Ministro da Cidadania Reuber Saraiva de Santiago
João Inácio Ribeiro Roma Neto Diretor do Centro de Referência
Secretário Especial do Esporte  MC em Educação a Distância  CREaD/IFCE
Marcelo Reis Magalhães Igor de Moraes Paim
Secretario Nacional de Futebol Diretor Geral do IFCE Campus Fortaleza
e Defesa dos Direitos do Torcedor  MC José Eduardo Souza Bastos
Ronaldo Lima dos Santos Diretor de Extensão e Relações Empresariais do
Assessor da Secretaria Nacional de Futebol IFCE Campus Fortaleza
e Defesa dos Direitos do Torcedor  MC Edson da Silva Almeida
Luís Antônio Verdini de Carvalho Coordenador-geral e organizador
Assessor da Secretaria Nacional de Futebol Emmanuel Alves Carneiro
e Defesa dos Direitos do Torcedor  MC Coordenador dos cursos e organizador
Wagner Barbosa Martins (in memoriam) Kleber Augusto Ribeiro
Coordenador Nacional do Programa Coordenadora técnico-pedagógica e organizadora
Academia e Futebol  MC Lívia Maria de Lima Santiago
Rogério Gedeon de Araújo Designers educacionais
Ministro da Educação Luciana Andrade Rodrigues
Milton Ribeiro João Paulo Correia
Secretário de Educação Profissional Ilustração/pesquisa iconográfica
e Tecnológica  MEC Suzan Pagani Maranhão
Ariosto Antunes Culau Design gráfico
Reitor do IFCE Tamar Couto Parentes Fortes
José Wally Mendonça Menezes Web designers
Pró-reitora de Extensão  IFCE Fabrice Marc Joye
Ana Cláudia Uchoa Araújo Carla Machado Paiano
Pró-reitora de Ensino  IFCE Operadora audiovisual
Cristiane Borges Braga Luciana Gomes Santos
Pró-reitora de Pesquisa, Autor
Pós-graduação e Inovação  IFCE Marcelo Cunha da Paz
Joélia Marques de Carvalho Kleber Augusto Ribeiro
Pró-reitor de Gestão de Pessoas  IFCE Revisão
Marcel Ribeiro Mendonça Vanessa Pinto Rodrigues Farias

Capa e projeto gráfico: Tamar Fortes


Capa: Montagem com foto de pressfoto/freepik. Disponível em:
https://bityli.com/GIA2CH. Acesso em: 05 maio 2021.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
Sistema de Bibliotecas – SIBI | Campus Fortaleza

P348g Paz, Marcelo Cunha da.


Gestão de clubes de futebol/Marcelo Cunha da Paz; Kleber Augusto Ribeiro. Fortaleza: IFCE, 2022.

104 p. il.

Obra integrante do Programa Academia e Futebol, da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor
/ Secretaria Especial do Esporte / Ministério da Cidadania, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará – IFCE, sob a organização dos professores: Kleber Augusto Ribeiro, Emmanuel Alves Carneiro e Lívia
Maria de Lima Santiago.

Ebook no formato PDF 17.942 KB

ISBN: 978-65-86520-15-6

1. Esportes. 2. Futebol. 3. Clube de futebol – Gestão . I. Ribeiro, Kleber Augusto . II. Carneiro, Emmanuel Alves (Org.). III.
Título.

CDD (20. ed.) 796.334

Bibliotecária responsável: Erika Cristiny Brandão F. Barbosa CRB N° 3/1099

O IFCE empenhou-se em identificar todos os responsáveis pelos direitos autorais das imagens e dos textos reproduzidos neste livro. Se porventura for
constatada omissão na identificação de algum material, dispomo-nos a efetuar, futuramente, os possíveis acertos.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
Programa Academia e Futebol

Gestão de Clubes de Futebol


Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Fortaleza
2022
Prefácio

A
o assumir a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa do Direito do
Torcedor, tinha como objetivos colimados, entre outros: a capacitação e
a consequente melhoria dos profissionais que atuavam no futebol, bem
como a criação de uma bibliografia que pudesse orientar estes profissionais, porque
a vivência no mundo futebolístico nos mostrava jovens buscando bibliografia de
renomados técnicos do exterior que haviam anteriormente aprendido no Brasil as
técnicas de treinamento que publicavam.

E como fazê-lo? Buscando parcerias com as entidades de ensino.

Surgiu assim o programa Academia & Futebol, onde por intermédio das
universidades e Institutos Federais, incentivamos a pesquisa para o desenvolvimento
do futebol, a capacitação dos profissionais por intermédio de cursos e simpósios,
e a iniciação desportiva para a revelação de novos atletas proporcionada pelo
programa Seleções do Futuro.

Hoje, o programa está disseminado nas 27 unidades da federação, por


intermédio de 32 termos de execução descentralizada e uma das nossas grandes
parceiras é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

No segmento do esporte, o IFCE é referência na formação de professores


de educação física e de gestores do esporte. Na área da educação física o IFCE
possui 3 cursos de licenciatura, nos municípios de Juazeiro do Norte, Canindé e
Limoeiro do Norte, sendo este último o mais bem avaliado do estado pelo MEC
(Nota 5 no último ENADE). Na área da gestão do esporte o IFCE possui um dos
três cursos de graduação do país com oferta regular e o mais bem avaliado do
país. O Curso Superior Tecnológico em Gestão Desportiva e de Lazer do IFCE –
Campus Fortaleza obteve nota máxima (5) na recente avaliação do Ministério da
Educação, realizada no ano de 2019, sendo hoje, o mais bem avaliado do país.
Além disso, o curso do IFCE é o nono curso com maior procura no SISU no estado
do Ceará, entre todos os cursos públicos ofertados, sendo referência na formação e
estudos em gestão do esporte no país.
Desta parceria, a SNFDT, por intermédio do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), instituição pública, federal e centenária, que
tem se configurado como referência na formação nas áreas da gestão do esporte e
da educação física no país, desenvolverá e ofertará para todo o Brasil 8 cursos de
formação inicial e continuada de 40 horas, na modalidade a distância, em diversas
dimensões das áreas do futebol e do futsal; e como produto final da parceria SNFDT
e IFCE, o Programa Academia e Futebol publica este livro que ora apresentamos,
desenvolvido com rigor técnico e científico por profissionais com destaque no
cenário nacional, de finalidade didática, que contempla os conteúdos e avaliações
dos oito cursos desenvolvidos e ofertados pela parceria SNFDT e IFCE.

Esperamos que esta iniciativa do IFCE seja o embrião e a fonte incentivadora para
que nossos profissionais e pesquisadores do esporte publiquem suas experiências,
para que possamos fortalecer o futebol, com uma identidade genuinamente
brasileira.

Boa leitura.

Ronaldo Lima
Secretário Nacional de Futebol e Defesa do Direito do Torcedor
Sobre os autores
Marcelo Paz
Administrador, formado pela Universidade
Federal do Ceará (UFC). Possui formação em
Gestão Técnica no Futebol pela Universidade do
Futebol e atuou como Presidente da Associação
dos Jovens Empresários de Fortaleza (AJE), em
2014. Foi membro da Diretoria do SINEPE e é
proprietário do Colégio Darwin. Atuou na Unopar
(Fortaleza) e na LFG Fortaleza. Exerceu também
as funções de diretor (2015 a 2016) e vice-
presidente (2017) no Fortaleza Esporte Clube,
sendo eleito, ainda em 2017, presidente do clube.
Nesse período, obteve as seguintes conquistas:
bicampeão cearense (2015/2016); campeão da Taça dos Campeões Cearenses
(2016); vice-campeão brasileiro, série C (2017); acesso à série B do Brasileiro
(2018); campeão Brasileiro da série B (2018); acesso à série A do Brasileiro (2019);
campeão cearense (2019); bicampeão Cearense: 2019/2020; tricampeão cearense:
(2019/2020/2021) e campeão da Copa do Nordeste (2019).

Kleber Ribeiro
Possui graduação (licenciatura plena) em Educação Física pela Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS), especialização em Administração e Marketing
Esportivo pela Universidade Castelo Branco (UCB), mestrado em Educação
pela UFMS e cursa (em 2021) doutorado na linha Gestão, Políticas, Marketing e
Comunicação em Esporte e Educação Física
na Escola de Educação Física e Esporte da
Universidade de São Paulo (USP). Atualmente
é diretor da Associação Brasileira de Gestão
do Esporte (Abragesp), professor efetivo
e pesquisador do Curso de Graduação em
Gestão Desportiva e de Lazer do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará (IFCE), campus de Fortaleza, onde
é responsável pelo Laboratório de Gestão do
Esporte e ministra disciplinas relacionadas
à gestão de organizações, de eventos e
de infraestruturas do esporte e de práticas
profissionais em gestão do esporte.
Sumário

Apresentação 8

Unidade 1  Formação de equipe técnica para a condução


de melhores resultados esportivos 9
Tópico 1  Como formar um time campeão
além das quatro linhas 10
Tópico 2  A importância da engrenagem 22
Lista de figuras 41
Referências 42

Unidade 2  Os stakeholders do futebol 45


Tópico 1  Ambientes dos clubes de futebol e os stakeholders 46
Tópico 2  Conhecendo os principais stakeholders
dos clubes de futebol 51
Lista de figuras 67
Referências 68

Unidade 3  Engajamento do torcedor 70


Tópico 1  O torcedor e o clube 71
Tópico 2  Engajamento do torcedor 78
Lista de figuras 86
Referências 87

Unidade 4  O presidente e o futebol do clube 89


Tópico 1  O presidente do clube 90
Tópico 2  O presidente e suas relações
com o futebol do clube 94
Referências 102
Gestão de Clubes de Futebol

Apresentação

N
o Brasil, o futebol constitui-se como um fenômeno social de alta
popularidade. Possui uma dimensão econômica crescente e que
representa uma parcela significativa da chamada indústria do esporte,
setores da economia que envolvem produtos e serviços relacionados ao esporte. O
desenvolvimento do segmento do futebol no país tem demandado, das organizações
e sistemas desse setor, profissionalização da gestão e consequente atenção às
questões jurídicas que envolvem as diversas relações estabelecidas nesse contexto.
Nesse sentido, o direito desportivo, enquanto ramo jurídico, ganha importância e
demanda por formação específica.

Pensar em formação específica para o futebol, de forma acessível, gratuita e


de qualidade, tanto na dimensão jurídica, da gestão ou na área técnica desportiva,
é fundamental para a promoção da empregabilidade no mercado do futebol, para o
sucesso das organizações esportivas e, consequentemente, para o desenvolvimento
do esporte nacional.

Nesse sentido, a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania,


por intermédio da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor
(SNFDT), estabeleceu o Programa Academia e Futebol, que, em parceria com o
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), tem como
objetivo desenvolver e ofertar, para todo o Brasil, cursos de formação inicial e
continuada, presencial e a distância, em diversas dimensões da gestão e da área
técnica do futebol e de suas variações.

Como produto de cada curso ofertado, o Programa Academia e Futebol publica


um livro com finalidade didática, desenvolvido com rigor técnico e científico por
profissionais com destaque no cenário nacional.

O presente livro é relativo ao curso Gestão de Clubes de Futebol, que tem por
finalidade apresentar conceitos teóricos, métodos e técnicas aplicadas e exemplos
práticos relacionados à gestão de clubes futebol, organizações complexas com
características específicas e ambiente amplamente competitivo.

Espera-se que as ações de promoção e difusão do conhecimento do Programa


Academia e Futebol alcancem a todos que almejavam, buscavam ou aguardavam
por formação pública, gratuita, acessível e de qualidade nas áreas do futebol e do
futsal e variações.

8
Unidade 1
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Formação de equipe técnica


para a condução de melhores
resultados esportivos

Caro leitor, seja bem-vindo!

N
esta primeira unidade do curso Gestão de Clubes de Futebol, vamos
abordar a importância da estrutura organizacional e dos valores para a
formação da equipe que encabeçará todas as áreas do clube e para o
sucesso esportivo.

Trataremos de cada área, desde a presidência até o setor de futebol, passando


pelo marketing, jurídico, administrativo, licenciamento, entre outros, enfatizando a
importância de cada uma dessas áreas para o funcionamento do clube e o que é
exigido do profissional responsável por cada setor.

Nosso intuito é que você perceba a relevância desses setores para as conquistas
de um clube, ou seja, são esses espaços que contribuem para trilhar o caminho de
vitórias do time, bem antes dos jogos e dos campeonatos propriamente ditos.

Bons estudos!

Objetivos

€
Compreender a importância da gestão de um clube de futebol para obtenção
de resultados esportivos
€
Entender a importância da estrutura organizacional e dos valores na formação
de uma equipe técnica para a gestão das diversas áreas de um clube de futebol

9
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 1 Tópico 1

Como formar um time campeão além das quatro linhas

O
futebol, considerado o esporte mais popular do mundo, cresce a cada
ano em todas as suas esferas (FIFA, 2018). Se no campo há uma exigência
por evoluções táticas, fora dele exige-se mais gestão e profissionalização
das equipes que compõem os setores estratégicos, administrativos e operacionais
de um clube de futebol.

Durante muito tempo, o foco da mídia e dos torcedores estava voltado


simplesmente para os resultados em campo, contudo isso vem mudando nas últimas
décadas.

Figura 1 – Futebol como um negócio de entretenimento

Fonte: Foto de Caio/Pexels.

Segundo Sampaio e Almeida (2018), a mercantilização do futebol teve início


no século XX, no entanto, os autores acreditam que somente no século XXI essa
modalidade atingiu um patamar expressivo no Produto Interno Bruto (PIB) nacional
e mundial. Saiba que dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de 2018

10
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

demonstram que o impacto da cadeia produtiva da modalidade no PIB do Brasil foi


de 0,72%, o que representou R$ 52,9 bilhões de reais movimentados e mais de 156
mil empregos gerados (CBF, 2018).

No link a seguir, você confere o relatório da Confederação Brasileira


de Futebol, que apresenta a contribuição direta e indireta da cadeia produtiva
do futebol brasileiro na economia do país, bem como o mapeamento do
cenário competitivo do futebol brasileiro em 2018.
Disponível em: https://conteudo.cbf.com.br/
cdn/201912/20191213172843_346.pdf. Acesso em: 16 out. 2021.

Trata-se, portanto, de um mercado que movimenta bilhões de reais por todo o


planeta e, como todo negócio em crescimento, o ambiente se torna cada vez mais
competitivo, com necessidade de ampliação de investimentos e profissionalização
da gestão, para que a engrenagem das organizações gire e alcance seu objetivo
principal: a satisfação do seu torcedor (ou cliente).

Parte integrante do sistema ou da estrutura do futebol brasileiro, os clubes têm


apresentado crescimento econômico contínuo no país, movimentando receitas cada
vez mais consideráveis e diversificadas. Esse cenário tem transformado a realidade
dessas organizações esportivas, independentemente do seu formato jurídico ou
modelo de propriedade (associação ou empresa), exigindo uma gestão altamente
especializada, formada por profissionais com formação e perfil adequados (RIBEIRO;
CARNEIRO; MARINHO, 2020).

Figura 2 – Estrutura esportiva do futebol brasileiro

Fonte: Adaptada de CBF (2018).

11
Gestão de Clubes de Futebol

Como em qualquer empresa, em um clube de futebol não existe resultado


positivo sem acertos na dimensão administrativa. Confira abaixo alguns pontos que
podem impactar os resultados:

Figura 3  Pontos que podem impactar os resultados de clubes de futebol

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tendo ciência disso, vamos supor que você foi eleito ou escolhido para ocupar
o cargo de presidente de um clube de futebol. Vai começar o seu mandato. O que
fazer? Qual o primeiro passo? Bom, inicialmente, pense na estrutura organizacional e
defina sua diretoria como um grupo gestor compromissado, competente e pautado
na estratégia, objetivos e metas do clube.

Mas, afinal, você sabe o que é estrutura organizacional? Na sequência,


apresentamos um infográfico com definições e dimensões da estrutura
organizacional.

12
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 4  Estrutura organizacional

Fonte: Elaborada pelos autores.

Segundo Pires e Sarmento (2001), a crise do desporto moderno é caracterizada,


entre outros, pela aplicação de modelos inadequados de gestão. Pesquisas como
a de Ribeiro, Carneiro e Marinho (2020) e a de Zanatta et al. (2018) indicam que
a gestão da maioria das organizações esportivas é realizada por pessoas sem
formação específica, fato que pode estar diretamente relacionado com a falta de
sustentabilidade dessas entidades.

13
Gestão de Clubes de Futebol

Dessa forma, foque em escolher pessoas que já possuem formação e resultados


reais nas áreas que você deseja preencher, não necessariamente profissionais que já
tenham experiência dentro do mercado esportivo, mas pessoas que saibam trabalhar
nos setores pelos quais serão responsáveis.

Exemplificamos três setores fundamentais de um clube de futebol: o jurídico,


o de marketing e o setor técnico de futebol.

Figura 5  Setores de um clube de futebol

Fonte: Elaborada pelos autores, com fotos de freepik/Freepik; Canva Studio e Anastasia Shuraeva/Pexels.

Além do que já foi citado, é essencial que esses gestores tenham remuneração
alinhada aos demais setores do clube e ao que você, enquanto presidente, pretende
implementar em termos de gestão, certo?

14
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Uma característica que não deve


ser um impeditivo para a contratação
Na formação da desses profissionais é a divergência
equipe que irá compor
de pensamento. A pluralidade de
os diversos setores de um clube
de futebol (financeiro, marketing, pensamento é saudável e benéfica
comercial, pessoal etc.), fuja de dentro de uma organização. Entretanto,
indicações políticas e amarras o alinhamento de valores é fundamental,
eleitorais. pois eles facilitarão a compreensão
dos cenários, a execução dos objetivos
traçados ao longo do período da gestão e, principalmente, guiarão a caminhada
com unidade e harmonia entre todos do clube.

Cada setor/equipe de trabalho poderá ter uma variação na quantidade


de colaboradores. Essa definição irá variar com base no volume de demandas,
relevância do setor para estratégia do clube, disponibilidade orçamentária
e outros fatores. Como destacou Fredrickson (1986, p. 280), a “estrutura
organizacional segue a estratégia”, ou seja, tem que ser definida para atender
às demandas de realização dos objetivos estratégicos da organização.

Como podemos observar até aqui, cada setor precisa ser liderado por um gestor
especialista no assunto, que tenha a autonomia necessária para montar sua equipe
e para tomar decisões na busca da realização dos objetivos estratégicos traçados
pelo clube. Assim, é fundamental para o clube possuir um bom time de gestores,
especialistas em cada dimensão da gestão, para o aumento da eficiência e da
eficácia organizacional e para que o presidente possa descentralizar, com confiança
e segurança, tomadas de decisões de áreas complexas e altamente especializadas
do clube.

Segundo Slack e Parent (2006), autores referência na gestão do esporte,


para gerenciar uma organização esportiva com eficiência e eficácia é essencial que
o gestor entenda os vários elementos de sua estrutura organizacional e a inter-
relação entre eles. Para os autores, a alta especialização e a descentralização da
estrutura são características importantes para a gestão profissional de organizações
esportivas complexas.

15
Gestão de Clubes de Futebol

Tudo isso é fundamental para o bom desenvolvimento de um clube de futebol,


então, procure pessoas que sejam mais especialistas que você naquelas áreas de
atuação, para que possam contribuir mais na gestão.

Vejamos a seguinte afirmação: “se todo mundo está pensando igual, então
ninguém está pensando”. Logo, é importante que, para a formação da equipe,
sejam agregadas pessoas que pensam diferente, que possam dialogar, questionar
e trazer outros conhecimentos para o dia a dia da gestão de um clube de futebol.
Vale ressaltar, novamente, que os valores da equipe precisam estar alinhados. Isso é
fundamental!

Então, para ficar mais claro, vamos falar um pouco sobre o que são valores
organizacionais? Bem, de acordo com Barrett (2000), em uma organização, os
valores dizem e os comportamentos fazem. Portanto, os valores organizacionais
podem ser definidos como princípios que guiam a vida da organização, tendo
um papel tanto de atender aos objetivos organizacionais quanto de atender às
necessidades dos indivíduos.

A partir dessa definição, você pode notar que os valores organizacionais são
princípios morais e éticos que balizam a conduta de administradores e colaboradores
de uma gestão.

E quanto aos valores organizacionais no esporte? Para os autores


Kikulis, Slack e Hinings (1992), os valores organizacionais envolvem as seguntes
dimensões: a orientação; o domínio; os princípios da organização; e os critérios
de eficácia organizacional adotados. Essas dimensões dos valores variam
de acordo com cada tipo de organização esportiva, devido às diferenças de
finalidade e de estratégia entre elas.
ƒ Orientação: relacionada à finalidade da instituição, com ou sem fins lucrativos.

ƒ Domínio: relaciona-se aos tipos de serviços ofertados e às manifestações


esportivas desenvolvidas e priorizadas.

ƒ Princípios da organização: dizem respeito ao modo como as relações, as


normas e os processos são estabelecidos e realizados internamente.

ƒ Critérios de eficácia: são os parâmetros organizacionais estabelecidos para


avaliar o desempenho da instituição, como resultados esportivos, satisfação
dos membros, entre outros.

16
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Segundo Chiavenato (2003), os valores, quando compartilhados em uma


organização, proporcionam a definição de uma identidade institucional. Já quando
são somados a crenças, pensamentos, expectativas, ideias e rotinas consolidadas,
constituem o que é chamado de cultura organizacional. Para o autor, essa cultura
influencia fortemente a conduta dos membros da organização e orienta a estratégia
institucional.

Compreendidos a estrutura, os valores, a cultura da organização e definida a


equipe inicial de trabalho é hora de estruturar o planejamento das atividades no
âmbito macro, ou seja, o planejamento estratégico do clube, com a definição dos
objetivos, indicadores, metas e ações que serão desempenhadas pelos setores vitais
da organização.

Assim como nas empresas, nas organizações do futebol é necessário planejar


de maneira estratégica. Para isso, é importante ter clareza sobre a missão, a visão e
os valores de sua organização. Veja a seguir o que alguns autores falam sobre o tema.

Figura 6  Planejamento estratégico

Fonte: Elaborada pelos autores

17
Gestão de Clubes de Futebol

De forma resumida, a visão organizacional é o norte da gestão, é como a


instituição pretende ser vista e o que pretende alcançar em um futuro definido,
seja em um ano, seja em quatro anos, seja em oito anos ou mais. Os valores, como
mencionados, são princípios, ideias e crenças que irão nortear as decisões e a vida
da organização. Já a missão é o propósito do clube, a finalidade da organização.

Agora, entenda quais são os passos do planejamento estratégico:

De acordo com Kotler (2005), é fundamental o alinhamento, junto à equipe,

1 da tríade: valor - missão - visão. Esse é o passo inicial do planejamento


estratégico e é fundamental a participação de todos os setores do clube.

Após a fase inicial, passa-se à definição dos objetivos estratégicos,


dos indicadores para mensuração da realização desses objetivos, das
2 respectivas metas e das ações que serão tomadas para realização dos
objetivos (OLIVEIRA, 2006; KAPLAN; NORTON, 2004).

Por fim, é fundamental estabelecer um sistema de controle e avaliação da


realização do planejamento estratégico e do desempenho organizacional
do clube. No contexto organizacional, a avaliação do desempenho ou da
3 eficácia organizacional representa uma questão importante e crítica para
todos os tipos de organizações, inclusive as esportivas (CHELLADURAI,
1987; WINAND et al. 2014).

A disponibilidade de métodos válidos para medir o desempenho organizacional


representa, segundo Baraldi (1998), uma questão decisiva para as organizações,
pois permitem não apenas avaliar e melhorar as práticas de gestão, indispensáveis
para enfrentar, mudar e manter uma posição competitiva, mas preservar também
a legitimidade e o respeito junto à sociedade. Para Corrêa (1986), um modelo de
avaliação de desempenho deve contemplar cinco características, confira:

18
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 7  Características do modelo de avaliação de desempenho organizacional

Fonte: Adaptada de Corrêa (1986).

Para ficar mais claro todo esse conteúdo apresentado sobre planejamento
estratégico, abordaremos, como exemplo prático, uma experiência desenvolvida
por uma organização esportiva do estado do Ceará, o Fortaleza Esporte Clube, que
atualmente integra a elite do futebol nacional.

Em 2018, a presidência do clube contratou uma empresa


especializada para construção do planejamento. Como primeiro passo, foi
realizado um workshop que durou de 2 a 3 dias, em que foram discutidas
as diversas ações do clube (missão). Cada diretor escolheu e sugeriu o que
desejava fazer na sua diretoria, por meio de um método muito bem conduzido
pelos consultores da empresa.
Cada um apresentou suas contribuições que, em seguida, foram discutidas
em grupo e, a partir disso, foram selecionados quais eram os itens prioritários,
delegando atividades, criando metas e indicadores para uma avaliação
futura. Nesse ano, o clube foi campeão do Campeonato Brasileiro - Série B,
conseguindo acesso para a elite da competição nacional.

19
Gestão de Clubes de Futebol

Cabe destacar, entretanto, que o planejamento estratégico não pode ficar só


no papel, isto é, precisa ir para a prática, ser amplamente divulgado e conhecido por
todos os níveis da estrutura organizacional do clube e ser constantemente checado.

No caso do Fortaleza Esporte Clube, a ferramenta administrativa utilizada


para gerir a execução do planejamento foi o ciclo PDCA, um método criado na
década de 1920 por Walter Andrew Shewart, e popularizado na década de 1950
pelo professor William Edwards Deming. O ciclo PDCA é assim chamado devido às
iniciais dos termos em inglês de cada uma de suas quatro etapas: planejar (plan);
fazer/desenvolver (do); checar/avaliar/controlar (check); e agir (action). Esse ciclo
pode ser utilizado em qualquer ramo de atividade.

Figura 8 – Ciclo PDCA

Fonte: Adaptada de Campos (1996).

Outros métodos e técnicas podem ser utilizados para a gestão estratégica


organizacional. Dentre eles, citamos o Balanced Score Card (BSC), desenvolvido por
Kaplan e Norton em 1992, e o Modelo de Excelência Gerencial (MEG), da Fundação
Nacional de Qualidade. Vale a pena pesquisar sobre eles!

Na medida em que você planeja, faz-se necessária a realização do controle


da execução das atividades. Por isso, ao longo do ano, é preciso realizar reuniões
de checagem do planejamento estratégico para verificar se o que foi traçado
inicialmente está sendo cumprido. Caso contrário, é importante discutir o porquê
da não realização, mensurar o que foi concretizado parcialmente ou totalmente e se
houve alguma dificuldade no meio do caminho, alguma crise que foi ou não prevista,
por exemplo.

20
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Sabemos que o maior e mais almejado resultado no futebol é o gol. Esse


resultado não vem por acaso e decorre da soma do esforço coletivo, ou seja, da
contribuição de cada um dos setores do clube:

Fonte: Elaborada pelos autores.

Enfim, esse somatório ajuda o


clube a ter uma boa gestão e sucesso
desportivo. Criado pelos clubes, o
programa sócio torcedor é um
Até aqui estudamos a serviço em que os torcedores se
importância da montagem de uma associam ao seu clube pagando
equipe de gestão, a necessidade do determinada mensalidade em
troca de vantagens, a exemplo de
planejamento estratégico, do controle
descontos em ingressos. Os planos
dos resultados e do alinhamento de sócio torcedor são determinados
entre todos os membros do clube por cada entidade (PEREIRA, 2014).
para o alcance dos objetivos traçados
inicialmente. Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre as diversas áreas da
gestão de um clube de futebol, que trataremos como diretorias ou setores, como
engrenagens que fazem a organização funcionar.

21
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 1 Tópico 2

A importância da engrenagem

N
este tópico, continuaremos nossos estudos sobre os diversos setores
que compõem um clube de futebol, bem como sobre o papel de cada
um deles para a execução do planejamento estratégico e para o sucesso
do time. Como estratégia pedagógica, utilizaremos exemplos práticos, os cases, do
Fortaleza Esporte Clube, locus de atuação de um dos nossos autores.

2.1 Diretoria Administrativa


Uma diretoria administrativa é composta por muitos profissionais e esse
número irá variar em função da necessidade, dimensão e da capacidade financeira
de cada clube. Vamos conhecer algumas atribuições dessa área?

Bom, um clube de futebol funciona como uma empresa, isto é, paga impostos,
contrata pessoas, tem obrigações sociais, estabelece objetivos e metas, realiza
controle financeiro e contábil, dentre muitas outras atividades. A gestão vai além de
disputar campeonatos, vencer jogos e gerir jogadores.

O Fortaleza Esporte Clube, por exemplo, tem mais de 300 colaboradores


diretos e indiretos. Em dias que ocorre a chamada operação de jogo, ou seja, todo o
movimento operacional do clube para a realização e a participação em uma partida,
o número de colaboradores aumenta.

Saiba que o administrativo é o coração desse “sistema”, é “o camisa 10” do time,


aquele que faz a junção entre os diversos setores do clube, desde os de planejamento,
contabilidade e financeiro até os da área fim, como os setores de futebol profissional
e de base. Tudo passa, pelo menos um pouco, pelo setor administrativo. Assim, o
gestor administrativo e seu time precisam dominar rotinas e processos, relações
humanas e comunicação institucional.

O diretor administrativo tem um papel vital dentro de um clube de futebol.


É esse profissional quem conduz os processos de planejamento e de controle da

22
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

gestão e é responsável, sobretudo, pela integração e pelo suporte às diversas áreas


do clube.

2.2 Diretoria Financeira


O gestor financeiro ou diretor financeiro possui grande relevância no time.
Como já mencionado, clubes de futebol podem movimentar grandes cifras e sofrer
sazonalidade no volume de receitas. O fluxo financeiro em clubes de futebol, via de
regra, não é linear. Manter o orçamento equilibrado exige planejamento, já que em
alguns meses do ano o clube pode ter mais ou menos receitas. Diante desse cenário,
é preciso um gestor financeiro qualificado.

Na prática, por exemplo, citamos o período do fim do ano, em que equipes


que disputam o Campeonato Brasileiro da Série A têm aumento nas suas receitas
provenientes de premiação, que podem variar de acordo com a sua performance.
Já o início do ano, início de uma nova temporada esportiva no Brasil, é demandado
um maior investimento pelo clube e, consequentemente, uma maior capacidade
financeira. Afinal, é nesse período que se iniciam as contratações de jogadores,
os gastos de logística em geral como passagens aéreas, filiação e inscrições de
jogadores, obras estruturais do clube, entre outros.

O Campeonato Brasileiro é uma importante competição nacional


que foi criada em 1959 pela Confederação Brasileira de Desportos
(CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Para mais informações,
leia o artigo Campeonato Brasileiro, disponível no site:
https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/campeonato-brasileiro.htm.
Acesso em: 18 set 2021.

O equilíbrio financeiro faz parte de uma instituição de sucesso e um ponto


chave, para tanto, é o cumprimento das obrigações salariais. Cabe destacar que
no contexto do futebol, os elevados valores de remuneração de alguns jogadores
têm gerado problemas financeiros para essas organizações e essas questões podem
influenciar diretamente o desempenho do time no campo de jogo.

Você percebeu a importância desse setor para que o gol aconteça? Tudo está
interligado e faz diferença.

O próximo departamento que veremos, também não entra em campo, mas, em


alguns casos, colabora bastante para quem estará lá.

23
Gestão de Clubes de Futebol

2.3 Diretoria Jurídica


A diretoria jurídica é outro setor fundamental dentro de um clube de futebol.
Segundo Kumpel (2012), não há esporte se não há regra. Dessa forma, não há esporte
sem direito, uma vez que o direito é o conjunto de regras das ações humanas na vida
social.

Um setor jurídico eficiente e eficaz é o que conta com profissionais


especializados e que mantém absoluto controle de documentos, de prazos, que
realiza boas análises contratuais e evita vícios, erros que podem onerar ou mesmo
gerar prejuízos ao clube.

No futebol, é comum ouvir casos de clubes que se endividaram por


descumprimento de obrigações legais ou contratuais, fatos que acabaram gerando
gastos extras e multas junto aos órgãos públicos, à justiça, bem como às entidades
do sistema desportivo, como federações estaduais e confederação nacional.

Para conhecer mais sobre a atuação jurídica no âmbito dos clubes


de futebol, recomendamos a leitura do artigo A estruturação
jurídica dos clubes de futebol: iniciativas legislativas e sobreposição das
práticas de gestão às formas de organização, de autoria de Ferraz e Serra
(2021), disponível em https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/
article/view/24367. Acesso em: 18 set 2021.

As contratações e rescisões contratuais, as demandas da justiça desportiva


como jogos anulados ou sem torcida e suspensão de jogadores são apenas algumas
das matérias recorrentes no setor jurídico de um clube de futebol.

O setor jurídico de um clube de futebol pode atuar em diversos ramos do


direito e em diferentes instâncias, como a internacional, quando envolver relações
com atletas de outros países e disputa de competições internacionais. Muito além
da atuação na dimensão da justiça trabalhista e desportiva, o jurídico de um clube
pode, também, se envolver em questões de licenciamento de produtos e marcas,
contratação de serviços, aquisição de equipamentos, questões de direito da
infância e da juventude das categorias de base, entre outros assuntos. Portanto,
o conhecimento desse setor abrange o Direito Comercial, Penal, da Infância e
Juventude, Cível, Trabalhista, Administrativo e Internacional, além do Desportivo.

24
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 9 – Ilustração de diretor jurídico de um clube de futebol

Fonte: Imagem de Leandro Aguilar/Pixabay.

Na dimensão esportiva, a atuação mais comum do setor jurídico é a defesa


de aplicação de regras e regulamentos e de atletas em questão disciplinar de
competição, em julgamentos por expulsões em jogos. Nesses casos, os advogados
do clube realizam a defesa do jogador e buscam, ao máximo, reduzir a pena para
que o atleta fique o menor tempo possível fora do time. Isso pode ser determinante
para uma competição e para um título, dependendo do momento e da importância
do jogador para o time.

No futebol brasileiro, quem dispõe sobre os princípios, as infrações disciplinares


e as normas processuais que devem ser observadas para processos da Justiça
Desportiva é o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).

Confira o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), disponível em:


https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201507/20150709151309_0.pdf. Acesso
em: 29 set 2021.

Esperamos que você tenha entendido a relevância da diretoria jurídica na


composição de um clube de futebol. A seguir, estudaremos a diretoria responsável
por gerir a estrutura física de um clube.

25
Gestão de Clubes de Futebol

2.4 Diretoria de Patrimônio


A área de patrimônio do clube tem muito impacto na visibilidade da organização.
Além disso, proporciona uma ótima impressão junto ao torcedor e aos investidores.

Figura 10 – Reflexões positivas de um torcedor

Fonte: Montagem com foto de macrovector/Freepik.

Esse setor deve ser gerido por um profissional que tenha conhecimento
técnico na área de construção, edificações e gestão de espaços e materiais,
preferencialmente um engenheiro, um arquiteto ou um profissional com formação
específica de gestão desportiva ou de instalações esportivas. A gestão patrimonial
do clube trabalha com o planejamento e a manutenção do gramado, da academia,
do hotel (ou alojamento para concentração antes do jogo), de espaços de suporte
ao departamento de futebol e aos setores administrativos.

Para que não haja trabalho a ser refeito ou os famosos “puxadinhos”, que vão
acontecendo de acordo com o crescimento do clube de forma desordenada, é
necessário que se tenha um plano diretor na instituição, um planejamento de médio
e longo prazos relacionado à infraestrutura.

De maneira mais direta, buscando ilustrar como esse setor contribui com o
resultado em campo, podemos fazer as seguintes relações: quanto melhor for o
campo de treino, melhores tendem a ser os treinamentos e menos lesões tendem

26
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

a acontecer entre os jogadores; quanto melhor for o hotel e as acomodações,


melhores tendem a ser os momentos em que os atletas precisam repousar; e assim
sucessivamente.

Agora vamos tratar de marketing e comunicação, temas essenciais para o clube.

2.5 Diretoria de Marketing e Comunicação


Essa diretoria é responsável por estabelecer a ponte direta do relacionamento
diário entre o clube e a sua torcida. Gera conteúdo, interesse por meio da informação,
diálogo, posicionamento de marca, engajamento e consumo, utilizando-se de
criatividade e conhecimentos técnico e científico aplicados.

A seguir, confira a definição de marketing e outras informações sobre sua


relação com o futebol.

Figura 11 – Marketing e futebol

Fonte: Montagem com fotos de Canva Studio e Daria Sannikova/Pexels.

O marketing tem o papel de envolver a torcida em experiências e novos


produtos, gerar interesse e vontade em participar das ações do clube e de possuir
os produtos e as marcas relacionadas. Obviamente, apenas quem entende das
relações de identificação de torcedores e de comportamento de consumo é capaz
de se comunicar e estimular vendas de forma adequada.

E afinal, como você acha que pode ser constituída uma diretoria de marketing?
Bem, de acordo com Rocco Junior e Carlassara (2021), compreender a indústria

27
Gestão de Clubes de Futebol

do futebol é fundamental para qualquer profissional que trabalhe com gestão do


marketing e da comunicação de clubes de futebol.

Esse setor pode reunir atribuições de comunicação, gestão de redes sociais,


TV e eventos e deve ser integrado por pessoas qualificadas para cada uma dessas
atividades, especialmente preparadas para gerar conteúdo, engajamento, realizar
monitoramento e mitigar crises envolvendo imagem do clube, quando necessário.
Por exemplo, o que vai ser gerado de comunicação após uma vitória com vista
a ampliar o engajamento e o consumo do torcedor? E após uma derrota com a
finalidade de manter o apoio da torcida ao time? Logo, esse setor desempenha um
papel que deve ir além do conhecimento técnico ou do monitoramento de métricas,
ele precisa ter criatividade, feeling e conhecer bem de perto a torcida.

É importante destacar que esse setor é incumbido de gerar


campanhas ousadas, criativas e corajosas para “levantar a bola” para temas
polêmicos, que gerem reflexão, impacto e fortalecimento da marca junto à
sociedade, como você pode ver na premiada campanha do Fortaleza Esporte
Clube intitulada “Câmera do Desrespeito”, disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=GlBRbdm6JNU, acesso em 18 set 2021.

Sendo assim, uma boa diretoria de marketing deve ter a capacidade de gerar
uma comunicação que vai estreitar os laços com os torcedores, elevar a marca do
clube, gerar receita, além de trazer uma série de outros benefícios ao clube.

No próximo tópico, trataremos de outro setor que também tem a


responsabilidade de atuar junto ao torcedor do clube. Vamos lá?!

2.6 Setor de sócio torcedor


Os programas de sócios surgiram com a finalidade de criar um relacionamento
mais produtivo e duradouro entre os clubes e os seus torcedores, transformando
essa relação em ganho financeiro por meio de benefícios e vantagens. O impacto
financeiro desses programas tem sido vital para os clubes de futebol, visto que
garantem uma receita mensal recorrente para os clubes (SILVA; DIAS; RIBEIRO,
2020).

Conforme já foi citado, sabemos que existem meses em que os clubes não têm
jogos e, consequentemente, não possuem uma série de receitas como bilheteria,

28
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

direitos de transmissão e outras relacionadas ao dia do jogo. Possuindo um


programa de sócio torcedor ativo, o clube pode garantir receitas regulares o ano
todo. Assim, o gestor do clube, responsável pelos dados relativos aos sócios, precisa
ter conhecimento na área de análise de dados, pois, dependendo do tamanho da
base de dados pela qual ficará responsável, esse controle e análises podem se tornar
um problema e serem comprometidos.

Reflita! Esse setor vai lidar com sistema de identificação e acesso, documentos,
situação de pagamento, oferta de benefícios junto a parceiros ou descontos nas lojas
do clube, entre outros. São muitas funções, não é mesmo? Assim, o investimento em
tecnologia e em relacionamento humano é fundamental e tudo isso tem que ser
feito por um gestor especialista e que tenha competência para lidar com o público
diretamente. Isso porque o sócio deve se sentir muito especial dentro do clube
futebol, visto que é ele quem contribui mensalmente com recursos vitais para a
organização, independentemente do resultado esportivo.

Figura 12 - Sócio torcedor

Fonte: Montagem com fotos de asierromero/Freepik e PikPng.

O programa de sócio torcedor é fundamental para um clube de


futebol. Alguns possuem mais benefícios que outros. No entanto,
o acesso à experiência de jogo parece ser o benefício mais valorizado e
consumido pelo torcedor.

29
Gestão de Clubes de Futebol

A partir do que vimos até aqui, você pode perceber o quanto um setor se
relaciona e depende dos outros em um clube de futebol: como o setor de sócio
torcedor precisa do marketing para criar e divulgar as campanhas e as promoções;
como o marketing precisa do administrativo para suporte de suas ações; como o
jurídico está orbitando em cada uma dessas áreas, seja validando contratos, seja
resguardando juridicamente as iniciativas.

Enfim, todos esses setores compõem uma equipe, um time e todos devem
atuar de forma colaborativa. Todavia, ressaltamos que, para que tudo isso funcione
de forma harmônica, faz-se necessário que os gestores sejam qualificados, pois isso
fará a diferença.

Para gerir a venda dos produtos do clube junto aos torcedores é essencial o
trabalho da diretoria comercial, setor que iremos tratar na sequência.

2.7 Diretoria Comercial


No clube, o setor comercial é o responsável pela gestão das vendas dos produtos
e dos serviços da organização. Para tanto, ele necessita, antes de tudo, ter profissionais
especializados em vendas, ou seja, bons vendedores, pessoas que entendam do
mercado, do comércio e, sobretudo, dos produtos e dos serviços que são ofertados
pelo clube. No ramo comercial, costuma-se dizer que “só vende quem investe em
venda", então, é fundamental os investimentos nos colaboradores responsáveis pela
venda, pelo pós-venda e pela promoção dos produtos e dos serviços.

O senso comum pode acreditar que as receitas de patrocínio de um clube podem


se resumir ao nome do patrocinador na camisa de jogo. No entanto, existem muitas
outras propriedades que podem ser vendidas por um time de futebol, por exemplo
o naming rights, que representa a exposição paga do nome de uma empresa em um
espaço do clube, como é o caso do Allianz Parque, arena da Sociedade Esportiva
Palmeiras, um dos principais clubes de futebol do Brasil. Além dos naming rights,
tem-se ainda a venda dos direitos de transmissão da TV, dos espaços comerciais
nas lojas, das placas de publicidade no estádio, dos diversos produtos licenciados,
especialmente de vestuário.

30
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 13 – Naming rights: Allianz Parque

Fonte: Foto de Sérgio Souza/Pexels.

A maximização de fontes de renda por parte dos clubes de futebol é


fundamental para manutenção e melhora do desempenho esportivo e a viabilidade
econômica dessas organizações passa pela diversificação das receitas (ESTENDER,
2013; GARCIA et al., 2015).

Além do grande potencial de vendas de produtos do clube, dada a popularidade


do futebol, muitas marcas buscam associar-se aos diversos clubes como estratégia
de promoção de suas marcas e venda de seus produtos. Pela estreita relação das
vendas com a promoção e com o posicionamento de marcas, o setor comercial deve
atuar em conjunto com o setor de marketing no clube.

Na relação comercial entre clube e patrocinador, saiba que o setor comercial,


em parceria com o setor de marketing, deve estar focado em gerar negócios, ativar
a marca do parceiro, fazê-lo vender mais, para que essa relação seja duradoura.

31
Gestão de Clubes de Futebol

Como falamos até aqui, os clubes precisam investir na venda de


seus produtos e buscar constantemente elementos que os diferenciem dos
demais times, para que, assim, atraiam novos torcedores. Leia mais sobre
isso na reportagem Banco digital do Flamengo atinge marca de 1 milhão de
contas abertas, disponível em https://www.lance.com.br/flamengo/banco-
digital-atinge-marca-milhao-contas-abertas.html. Acesso em: 18 set 2021.

Ainda dentro do ambiente comercial, temos o setor de licenciamento,


responsável pelos produtos e licenciamento de marca.

Uma das coisas que os torcedores mais gostam e se identificam é a marca, é


o símbolo do clube, concorda? Afinal, os jogadores, os dirigentes, os treinadores,
todos passam, mas a marca do clube permanece.

Grande parte dos torcedores vai ao estádio pela ligação com a marca, pela
relação estabelecida e pela experiência que ela proporciona.

Figura 14 – Produtos licenciados de um clube de futebol

Fonte: Foto de Patrick Blaise/Pixabay.

A marca, segundo Rocco Junior e Carlassara (2021), é um conceito muito mais


profundo do que simplesmente uma imagem ou uma lembrança, por isso, requer,
num clube de futebol, gestão específica e profissional.

Assim, ter um setor comercial e de licenciamento especializado é fundamental


para o sucesso financeiro do clube, pois gerir produtos e espaço de venda é uma

32
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

tarefa desafiadora. Essas ações demandam


conhecimento, know how (saber prático), de

Markup é um venda, de estoque, de produto, de precificação,


índice utilizado na formação de markup, da área fiscal, da exposição de
do preço de venda de um produtos na vitrine, entre outros.
produto ou serviço, que
aparece na definição do seu Quando falamos de licenciamento de
custo. marcas, devemos nos lembrar de que os
clubes de futebol são organizações esportivas
especialistas em futebol, ou seja, seu coração (core) está relacionado à prática
esportiva e não à produção. Os clubes, em princípio, não sabem fazer relógio, caneta,
vinho, linha pet, linha infantil, mas têm empresas que sabem fazer isso e que buscam
parceiros comerciais.

Então, o setor de licenciamento busca essa


diversificação e licencia (permite o uso) da marca,
por meio de contrato, e estabelece um modelo com Os royalties
garantias. Por exemplo, dependendo da quantidade tratam da
de produto, esse contrato pode ser fixado apenas quantia paga por
determinada empresa
nos royalties da venda ou por meio de conferência
para utilização legal
mensal, mas sempre algo organizado. Atualmente
da marca de outro, no
existem softwares de controle que fazem com que caso do clube, seria seu
os clubes acompanhem desde a produção até a escudo, por exemplo.
venda dos seus produtos licenciados, no intuito de
evitar evasão.

Outro desafio dos clubes, relativos à venda e ao licenciamento de seus produtos,


é combater a pirataria. No Brasil, há um comércio paralelo que produz produtos
com a marca dos clubes sem o devido licenciamento. Muitas vezes, esse tipo de
combate pode ser apenas em vão. Dificilmente um clube vai conseguir fazer com
que os diversos produtores ilegais, chamados de piratas, deixem de ser produzidos
e comercializados.

Quando se identifica um produto "pirata", o primeiro passo que sugerimos é o


de tentar licenciá-lo, ou seja, trazê-lo para a formalidade. Com isso, demonstrar que
o produto está ligado ao clube de uma maneira legal, formal e documentada, o que
promoverá mais credibilidade e, consequentemente, mais vendas.

Perceba que isso exigirá a inter-relação dos diversos departamentos. Note que
o jurídico participa com a formalização do processo, o licenciamento faz o trabalho
de trazer aquele produto para dentro do clube, o marketing passa a promover tais

33
Gestão de Clubes de Futebol

produtos e o setor comercial os vende. Dessa forma, toda a equipe multidisciplinar


está trabalhando, gerando resultados e, portanto, receita para o clube.

O clube deve sempre estar pronto para atuar nessas dimensões citadas em
momentos oportunos que podem aumentar o consumo, como após as vitórias
(conquistas de títulos e vitórias em clássicos). Logo, essa integração entre marketing,
comercial, licenciamento de produtos e lojas faz toda a diferença em um clube.

É muito importante ter capilaridade de lojas, ou seja, ter pontos de


vendas espalhados por diversos locais. Por exemplo: um torcedor pode estar
passando em frente a uma loja do seu clube de coração e, por curiosidade e
atração pela marca, acabar entranto. Isso pode gerar uma venda.

Possuir um bom mix de produtos, localização adequada, preço justo e promoção


assertiva são fundamentais para vender, principalmente nos bons momentos do seu
clube. O esporte tem uma vantagem em relação aos demais segmentos econômicos,
que é a fidelidade e a paixão do seu torcedor. O torcedor de um clube de futebol
não compra do concorrente. Aliás, será que existe um concorrente?

Figura 15 – Variedade de produtos licenciados

Fonte: Observatório do Esporte (2013).

34
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Em circunstâncias normais, é improvável que um torcedor do Flamengo


compre uma camisa do Fluminense, ou o torcedor do Fortaleza compre uma camisa
do seu rival Ceará. Você deve ter em mente que os torcedores são fiéis ao clube
e vibram com a sua marca. Vale ressaltar, que esse comportamento refere-se aos
torcedores, não aos simpatizantes, isto é, aquelas pessoas que gostam do clube,
mas não possuem um vínculo mais forte.

Conhecer e sempre analisar o comportamento de consumo dos torcedores,


associado à construção de relacionamento, tornam-se ações importantes para
potencializar as estratégias comerciais das equipes, visto que diversos fatores
influenciam o comportamento de consumo e podem impactar, de forma positiva ou
negativa, as pontes construídas entre as entidades e os seus torcedores (ROCCO
JUNIOR, 2019).

Nesse sentido, o papel do setor comercial, do marketing e do licenciamento


é gerar mais engajamento, mais oportunidades de consumo, maior variedade de
produtos, enfim, estratégias que estimulem as pessoas a consumirem produtos do seu
clube. Esse consumo vai proporcionar ampliação das receitas do clube e consequente
melhoria na capacidade competitiva do time, que, por sua vez, ampliará a satisfação
do torcedor, que consumirá mais, gerando um ciclo virtuoso para o clube.

2.9 Setor de responsabilidade social


Parece existir hoje, um entendimento global sobre a importância de as
instituições voltarem seus olhares e esforços em prol da sociedade e do mundo. A
adoção de ações de responsabilidade social e ambiental pelas organizações é uma
realidade e tem ganhado importância no mundo corporativo e esportivo.

O esporte, principalmente o futebol pela sua popularidade, é um instrumento


poderoso para o desenvolvimento de valores sociais positivos entre os seus
praticantes, atribuição reconhecida pela Federação Internacional de Futebol (FIFA)
(SMITH; WESTERBEEK, 2007).

Os clubes, pela relevância social que possuem e pelo alto poder de influenciar o
comportamento de seus torcedores, têm a obrigação de se posicionar, no sentido de
contribuir com o desenvolvimento social e ambiental das comunidades em que eles
estão inseridos. Trazer temas que suscitem uma boa discussão, que levem à reflexão
e que produzam ações para melhorias da sociedade são grandes oportunidades de
contribuição socioambiental que podem reverter, inclusive, no fortalecimento da
própria marca do clube.

35
Gestão de Clubes de Futebol

Responsabilidade social corporativa

Segundo a ISO 26000, a responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo


propósito das organizações em incorporarem considerações socioambientais
em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas
decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Isso implica um
comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento
sustentável, que esteja em conformidade com as leis aplicáveis e seja
consistente com as normas internacionais de comportamento. Também
implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a organização,
que seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes
interessadas.
A ISO 26000 é uma norma de diretrizes e de uso voluntário; não visa e nem
é apropriada para fins de certificação. Para conhecê-la melhor, acesse o link a
seguir:
http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/iso26000.
asp. Acesso em: 28 set 2021.

Os setores que tratam das questões sociais de um clube têm uma infinidade
de possibilidades de promover ações socioambientais. Walker e Parent (2010)
elencam: participação e desenvolvimento comunitário, que pode se dar por meio de
uma escolinha de esporte social dentro das comunidades que atuam; filantropia, por
meio de arrecadação de alimentos e mobilização de recursos para pessoas que estão
em situação de vulnerabilidade social; apoio à saúde, por meio de campanhas de
incentivo à doação de sangue; meio ambiente, por meio de campanhas ambientais,
recolha e destinação correta de resíduos em estádios; diversidade cultural, por meio
de campanhas de enfrentamento ao racismo e desigualdades de gênero e étnicas;
entre outras.

A figura a seguir ilustra a realização de um projeto social de futebol, desenvolvido


pelo Instituto Federal do Ceará em parceria com o Grêmio Recreativo Pague Menos,
clube de futebol profissional do estado do Ceará.

36
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 16 − Programa Academia e Futebol

Fonte: Acervo do Programa Academia e Futebol (IFCE).

O gestor que está à frente desse setor precisa ter sensibilidade, conhecimento
sobre assunto, ampla visão social e uma rede de contatos para mobilizar outras
pessoas e instituições em momentos delicados e desafiadores.

A responsabilidade social corporativa precisa estar institucionalizada, estar no


DNA do clube, até porque, hoje em dia, muitos consumidores dão preferência às
empresas e às organizações que possuem marcas preocupadas com o que está
acontecendo ao seu redor, com questões sociais, ambientais e políticas – marcas
que não querem apenas vender, mas dar algum tipo de retorno à sociedade.

Pensando na responsabilidade social, os clubes investem em


diversas ações de cunho social. Confira um exemplo que consta na
matéria "Sede do Fortaleza é pichada em ação de marketing contra o suicídio",
disponível em:
https://ge.globo.com/ce/futebol/times/fortaleza/noticia/sede-do-fortaleza-e-
pichada-em-acao-de-marketing-contra-o-suicidio.ghtml. Acesso em: 18 set 2021.

No caso do futebol, parece existir uma relação muito direta do orgulho do torcedor
com as questões éticas e o posicionamento socioambiental do time. Então, é importante
entender a importância desse papel social para o desenvolvimento do clube.

Estamos nos aproximando do campo. É hora de falar do jogo.

37
Gestão de Clubes de Futebol

2.10 Operação de jogo e matchday (dia do jogo)


O setor de operações de jogo é muito importante dentro de um clube de
futebol. Ele é responsável pela gestão do dia do jogo, o matchday. Afinal, o jogo
é o grande evento do futebol. O clube trabalha dias e semanas pensando nos 90
minutos de jogo dentro do campo e na experiência que irá oferecer para o torcedor
fora dali.

O torcedor fanático sempre vai ao jogo, independentemente de como o time


esteja, em que divisão se encontre. O torcedor sempre estará lá, concorda? O grande
desafio é ampliar esse público, fazendo com que os torcedores compareçam com
suas famílias.

Para isso, é necessário oferecer um alto nível de serviço, que se estenda


desde a hora em que o torcedor decide ir ao jogo até sua saída do estádio em
segurança. Esse serviço deve contemplar comodidades na entrada do estádio, como
estacionamento, informações, fan fest (festa para os torcedores que vão ao jogo,
normalmente ocorre no entorno do estádio ou nas esplanadas), espaço infantil,
lugar agradável para refeições, assentos confortáveis, segurança, tranquilidade,
luminosidade, limpeza, entre outros.

38
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 17 – Equipe preprando o gramado para o jogo

Fonte: Imagem de bolzplatzmeister/Pixabay.

Por ser o principal evento do clube, o jogo acaba por envolver quase todos os
setores da organização, instituições públicas e privadas parceiras. As atividades de
preparação para o jogo demandam dezenas de ações nas semanas que antecedem
ao matchday, bem como outras que acontecem no dia do jogo. Os profissionais que
atuam no matchday, muitas vezes, iniciam o trabalho no estádio com, no mínimo,
quatro horas de antecedência e ficam em média mais três horas após a conclusão
do jogo, para as medidas de pós-evento. O trabalho dessa equipe tem relação direta
com a experiência que o torcedor vivenciará no estádio (fan experience), que pode
ser positiva ou negativa.

Chegou a hora de falarmos sobre o coração do clube, a diretoria de futebol.

2.11 Diretoria de Futebol


A diretoria ou departamento de futebol é o setor em que “grande parte dos
profissionais quer trabalhar”, pois gere e trata do coração do clube, do time e da
prática do futebol.

39
Gestão de Clubes de Futebol

As pessoas que fazem parte da gestão do clube ou têm alguma ligação com
ele, sempre querem saber a escalação, quem vai ser contratado, quem está de saída,
quando o time viaja, como foi o treino e mais. Faz parte da curiosidade e, por isso,
o departamento de futebol precisa ser muito bem gerido e “blindado”, ou seja, ter
sua privacidade protegida.

O departamento de futebol é composto por uma equipe multidisciplinar


e gerido por um profissional que tem a atribuição de mediar as dimensões
administrativas e técnicas do campo de jogo. Em outra unidade, aprofundaremos
o estudo sobre esse setor.

Chegamos ao final da unidade 1. Aqui, tratamos sobre a estrutura organizacional,


os valores organizacionais e a montagem de um time campeão fora das quatro linhas,
como elementos importantes para o sucesso de um clube de futebol. Conhecemos
a importância e a maneira de construir um planejamento estratégico, que balizará
todos os passos da gestão e do clube. Abordamos também, as principais áreas de um
clube de futebol e seus respectivos papéis dentro da engrenagem da organização.
Na próxima unidade, vamos conhecer os stakeholders do clube.

Até a próxima!

40
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

UNIDADE 1 Lista de figuras

Figura 1
Fonte: Foto de Caio/Pexels. Disponível em: https://bityli.com/Hl91mw. Acesso em:
26 out. 2021.

Figura 5
Fonte: Elaborada pelos autores, com fotos de freepik/Freepik; Canva Studio e
Anastasia Shuraeva/Pexels. Disponíveis em: https://bityli.com/HFsRe, https://
bityli.com/gHuTg e https://bityli.com/SpkqM. Acesso em: 14 jan. 2022.

Figura 9
Fonte: Imagem de Leandro Aguilar/Pixabay. Disponível em: https://bityli.com/
sNRej. Acesso em: 3 fev. 2022.  

Figura 10
Fonte: Montagem com foto de macrovector/Freepik. Disponível em: https://bityli.
com/pEdiV1. Acesso em: 31 out. 2021.

Figura 11
Fonte: Montagem com fotos de Canva Studio e Daria Sannikova/Pexels.
Disponíveis em: https://bityli.com/pFmeEu e https://bityli.com/BDGDJy. Acesso
em: 31 out. 2021.

Figura 12
Fonte: Montagem com fotos de asierromero/Freepik e PikPng. Disponíveis em:
https://url.gratis/y07OrN e https://url.gratis/qST3to. Acesso em: 30 jul. 2021.

Figura 13
Fonte: Foto de sergio souza/Pexels. Disponível em: https://bityli.com/pzvKZT.
Acesso em: 31 out. 2021.

Figura 14
Fonte: Foto de patrick Blaise/Pixabay. Disponível em: https://bityli.com/67OaTz.
Acesso em: 31 out. 2021.

Figura 15
Fonte: Informação esportiva/Observatório do Esporte (2013).Disponível em:
https://url.gratis/DkehO9. Acesso em: 2 nov. 2021.

Figura 17
Fonte: Imagem de bolzplatzmeister/Pixabay. Disponível em: https://bityli.com/
bMgHh. Acesso em: 17 jan. 2022.

41
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 1 Referências

ARAUJO, Paulo H. M.; YAMANAKA, Guilherme K.; MAZZEI, Leandro C.


Planejamento estratégico como um dos fatores de sucesso das organizações
esportivas: um estudo sobre os clubes esportivos brasileiros que atuam no
contexto olímpico. In: Motrivivência, v. 32, n. 63, p. 01-19, julho/dezembro, 2020.
BARALDI, Stefano. Management control systems in NPOs: a Italian survey. In:
Financial Accountability and Management, 14, 141/164, 1998.
BARRETT, Richard. Libertando a Alma da Empresa: como transformar a
organização numa entidade viva. São Paulo: CULTRIX, 2000.
CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento pelas diretrizes. Belo Horizonte -MG:
Fundação Christiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG, 1996.
CHELLADURAI, Packinanathan. Multidimensionality and Multiple Perspectives of
Organizational Effectiveness. In: Journal of Sport Management, 1(1), 37-47, 1987.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
CBF - CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Impacto do
futebol brasileiro. 2018. Disponível em: https://conteudo.cbf.com.br/
cdn/201912/20191213172843_346.pdf. Acesso em: 7 ago. 2020.
CORRÊA, Hamilton L. O “Estado da Arte” da Avaliação de Empresas Estatais.
Tese (Doutorado em Administração). Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1986.
ESTENDER, Antonio C. A importância da administração profissional para os clubes
de futebol. In: Revista Administração em Diálogo, 15(3), 18-32, 2013.
FERRAZ, Daniel A.; SERRA, Rafael C. B. A estruturação jurídica dos clubes de
futebol: iniciativas legislativas e sobreposição das práticas de gestão às formas
de organização. In: Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 7, n. 2, p. 13610-
13631, fev., 2021.

FIFA. Activity Report 2018. Disponível em: https://digitalhub.fifa.com/


m/24674f9441b74d22/original/yjibhdqzfwwz5onqszo0.pdf. Acesso em: 24 set.
2021.
FREDRICKSON, James W. The Strategic Decision Process and Organizational
Structure. In: Academy of Management Review, v. 11, n. 2, 1986.
GARCIA, Sheila et al. Impacto das inovações de marketing na receita de clubes
de futebol: O caso do Corinthians. In: PODIUM Sport, Leisure and Tourism Review,
4(1), 48-61, 2015.

42
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

INMETRO. ISO 26000. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/qualidade/


responsabilidade_social/iso26000.asp. Acesso em: 28 set 2021.
KAPLAN, Robert; NORTON, David. Kaplan e Norton na prática. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
KIKULIS, Lisa M.; SLACK, Trevor; HININGS, Bob. Institutionally Specific Design
Archetypes: A Framework for Understanding Change in National Sport
Organizations. In: International Review for the Sociology of Sport, 27: 343, 1992.
KOTLER Philip. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
KUMPEL, Vitor F. Noções gerais de direito e formação humanística. Planos de
efeitos da norma: existência, validade, eficácia e efetividade. São Paulo: Saraiva,
2012.
LUPORINI, Carlos Eduardo. Sistemas Administrativos: uma abordagem moderna
de 0 & M. São Paulo: Atlas, 1986.
MAXIMIANO, Antonio C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à
revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
MELO NETO, Francisco P. Marketing Esportivo: o valor do esporte no século XXI.
Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.
MINTZBERG, Henry. La estructuración de las organizaciones. Editorial Planeta:
Barcelona, 2012.
OLIVEIRA, Diego P. R. Planejamento Estratégico: Conceitos, Metodologias
e Práticas. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
PEREIRA, Leandro F. O Torcedor-Consumidor: Identificação com os Clubes e
Barreiras para a Adoção do Programa Sócio-Torcedor. (Dissertação de Mestrado
em Administração de Empresas). Programa de Pós-Graduação em Administração
de Empresas, Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2014.
PIRES, Gustavo M. V. S.; SARMENTO, José P. S. Conceito de Gestão do Desporto.
Novos desafios, diferentes soluções. In: Revista Portuguesa de Ciências do
Desporto, 1(1), 88-103, 2001.
RIBEIRO, Kleber A.; CARNEIRO, Emmanuel A.; MARINHO, Robson O. Perfil
dos Gestores dos Clubes de Futebol da Cidade de Fortaleza. In: Revista
Intercontinental de Gestão Desportiva, v. 10, 2020.
ROCCO JÚNIOR, Ary J. Marketing e Gestão do Esporte. São Paulo: Atlas, 2012.
ROCCO JUNIOR, A. J. Evolução do Consumidor do Esporte: da distinção social à
imersão digital. (Tese de Livre-Docência), Escola de Educação Física e Esporte da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
ROCCO JUNIOR, Ary J.; CARLASSARA, Eduardo. Gestão da Comunicação e do
Marketing em Clubes de Futebol. Fortaleza: IFCE, 2021.
SAMPAIO, Pedro F.; ALMEIDA, Fernanda M. O futebol visto como negócio – Fatores
determinantes para a geração de receita de clubes brasileiros. In: Revista de
Gestão e Negócios do Esporte, 3(1), 88-105, 2018.

43
Gestão de Clubes de Futebol

SILVA, Raquel F.; DIAS, Sara M. B.; RIBEIRO, Kleber A. Gestão Financeira no Futebol
– Um Estudo das Receitas dos Principais Clubes do Estado do Ceará, Brasil. In:
Revista de Gestão e Negócios do Esporte, v. 5 n.1, 44-59, jan./jun., 2020.
SLACK, Trevor; PARENT, Milena M. Dimension of Organizational Structure. In:
Understanding Sport Organizations – the application of Organization Theory.
Champain: Human Kinetics, Chapter 4, p. 59-84, 2006.
SMITH, Aaron; WESTERBEEK, Hans. Sport as a Vehicle for Deploying Corporate
Social Responsibility. In: Journal of Corporate Citizenship, (25), 43–54, 2007.
TAMAYO, Alvaro; GONDIM, Marina G. C. Escala de valores organizacionais. In:
Revista de Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP). São Paulo, v.
31, n. 2, p. 62-72, abr./jun. 1996.
WALKER, Matthew; PARENT, Milena. Toward na integrated framework of
corporate social responsibility, responsiveness, and citizenship in sport. In: Sport
Management Review, 13, 198-213, 2010.
WINAND, Mathieu et al. A unified model of non-profit sport organizations
performance: perspectives from the literature. In: Managing Leisure, 19(2), 121-150,
2014.
ZANATTA, Thaís C. et al. O perfil do gestor esportivo brasileiro: revisão sistemática
de literatura. Movimento, 24(1), 291-304, 2018.

44
Unidade 2
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Os stakeholders do futebol

Olá, caro leitor!

A
partir de agora daremos início à unidade 2, porém, antes de adentrarmos
nela, vamos rapidamente relembrar o que abordamos na unidade anterior.

Na unidade 1, falamos sobre as ações iniciais que devem ser


realizadas pelo gestor do clube, como formar uma equipe técnica competente para
a estrutura organizacional e realizar um bom planejamento. Além disso, também
tratamos da especificidade do trabalho dos principais setores de um clube de
futebol, suas interrelações e a parcela de contribuição nas vitórias e conquistas da
organização.

Nesta unidade, vamos falar de um tema que pode parecer um pouco diferente
para alguns, mas muito conhecido no mundo empresarial do futebol: stakeholders de
um clube de futebol. Além disso, citaremos e detalharemos cada grupo de interesse
do clube e o tipo de relação que o gestor esportivo deve ter com esses grupos
para que o clube funcione perfeitamente. Iniciaremos a unidade apresentando os
ambientes em que o clube está inserido, os quais reúnem as mais diversas categorias
de stakeholders.

Bons estudos!

Obetivos

€
Conhecer os principais ambientes de negócio e de atuação de um clube de
futebol
€
Estudar os diferentes stakeholders de um clube de futebol

45
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 2 Tópico 1

Ambientes dos clubes de futebol e os stakeholders

N
este tópico, iremos apresentar os ambientes de negócio e de atuação
de um clube de futebol e suas respectivas partes envolvidas, bem como
o conceito do termo stakeholders, amplamente utilizado no contexto
dos negócios do futebol. Vamos lá!

Certamente, você já deve ter ouvido falar no termo stakeholders, mas afinal, o
que isso significa? Bem, stakeholders é um termo da língua inglesa, usado na prática
da administração em geral e na literatura dessa ciência e área de conhecimento, que
pode ser traduzido como “partes interessadas”. Esse termo refere-se aos grupos de
interesse de qualquer empresa ou organização e, no âmbito do clube de futebol,
representa os grupos, pessoas e instituições, que com ela estabelecem relações e
têm algum tipo de interesse.

Segundo Freeman e Reed (1983), stakeholders é qualquer indivíduo, grupo ou


instituição que pode afetar a realização dos objetivos de uma organização ou que é
afetado pela realização desses objetivos. No contexto das organizações do esporte,
o relacionamento com as partes interessadas e a compreensão das influências que
os stakeholders estabelecem sobre o outro e sobre a organização é fundamental
(KASALE et al., 2019).

Grande parte das organizações esportivas, como os clubes de futebol, é


configurada como organizações sociais associativas, sem fins lucrativos e constituída
por vários grupos de stakeholders (diretores, funcionários, voluntários, sócios,
conselhos, treinadores, atletas, torcida, entre outros), que funcionam juntos para
atingir as metas organizacionais e buscam a satisfação de suas próprias necessidades
ou expectativas (CHELLADURAI, 1987; PAPADIMITRIOU; TAYLOR, 2000; WINAND
et al., 2014).

Além dos diversos grupos que integram os clubes de futebol, que podemos
chamar de stakeholders internos, ainda temos os stakeholders externos à organização,

46
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

que embora não sejam formalmente parte do clube, estabelecem relações com ele,
ou seja, são influenciados e influenciam sua existência, cultura, estratégia, gestão
e resultados. Nessa perspectiva, é fundamental ao gestor que atua em um clube
de futebol conhecer os ambientes interno e externo da organização, suas partes
integrantes e as diversas relações que são estabelecidas nesses contextos.

A figura a seguir evidencia os ambientes de negócio de uma instituição de


prática esportiva, tipo de organização do esporte em que os clubes de futebol
estão enquadrados segundo a Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé), norma jurídica federal do
esporte brasileiro.

Figura 18 – Ambiente de negócios das instituições esportivas

Fonte: Adaptada de Mattar (2013, p. 9).

Segundo Mattar (2013), temos o macroambiente e o ambiente tarefa como


ambientes externos às organizações esportivas. O macroambiente de negócio que
o clube esportivo integra é representado por elementos e fatores que determinam,
afetam e influenciam as organizações esportivas e seu ambiente proximal ou

47
Gestão de Clubes de Futebol

ambiente tarefa. Nessa dimensão, questões socioculturais como cultura esportiva da


população, questões econômicas como PIB, renda e emprego e questões políticas
e governamentais como legislação e políticas públicas são fatores importantes a
serem considerados na gestão de um clube de futebol.

No ambiente proximal ou tarefa de uma organização esportiva temos pessoas


e instituições que estabelecem relações diretas e muitas vezes regulares com a
entidade. Neste ambiente temos, entre outros:

ƒ o sistema desportivo ou estrutura de poder que o clube pode integrar ou


estar filiado, composto por ligas, federações, comitês e confederação;

ƒ os órgãos e entidades públicas gestoras de esporte que o clube estabelece


relações, seja de parceria, como cessão de uso de infraestruturas, seja
de financiamento, como patrocínio público, seja de submissão à normas
jurídicas emanadas por essas instituições;

ƒ os fornecedores de produtos, como de materiais esportivos, e prestadores


de serviços do clube, como a empresa de conservação e limpeza;

ƒ os clientes e parceiros em iniciativas esportivas, sociais e comerciais, como


patrocinadores, licenciados, franqueados, empresas de comunicação e
outros;

ƒ os consumidores dos produtos e serviços do clube, como os usuários,


torcedores e simpatizantes, entre outros.

É possível constatar que um clube esportivo estabelece relações com um


grande número de stakeholders do ambiente externo à organização. Na figura a
seguir, é apresentada a estrutura dos principais entes do futebol brasileiro, publicada
no relatório denominado Impacto do futebol brasileiro de 2018, pela Confederação
Brasileira de Futebol (CBF). Na figura, podemos identificar, de forma resumida,
algumas das principais partes envolvidas do sistema do futebol, como os clubes,
federações, confederação e atletas.

48
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 19 - Estrutura esportiva do futebol brasileiro

Fonte: Adaptada de CBF (2018).

Outra representação que nos permite identificar a estrutura sistêmica do


esporte nacional e seus entes é a proposta elaborada por Meira e Bastos (2011),
fundamentada no Sistema Brasileiro do Desporto, estabelecido pela Lei Pelé,
conforme figura a seguir:

Figura 20 - Estrutura organizacional brasileira do esporte de alto rendimento

Fonte: Adaptada de Meira e Bastos (2011).

49
Gestão de Clubes de Futebol

Todas as partes interessadas dos ambientes externos citadas somam-se aos


diversos stakeholders internos do clube, como os sócios, a diretoria, os órgãos
colegiados, os gestores profissionais, os colaboradores voluntários, os funcionários
diversos, como comissão técnica, atletas e outros.

Elucidado o conceito de stakeholders e identificados os ambientes de negócio


e de atuação de um clube de futebol, bem como suas respectivas partes envolvidas,
iremos passar, no tópico 2, ao detalhamento dos principais grupos para os quais
uma gestão de futebol trabalha.

50
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

UNIDADE 2 Tópico 2

Conhecendo os principais stakeholders


dos clubes de futebol

N
este tópico, iremos apresentar os diversos stakeholders que estão
diretamente ligados ao funcionamento de um clube de futebol, tanto na
dimensão interna quanto externa, bem como detalhar o papel dessas
principais partes envolvidas e a relação do clube com cada uma delas. Vamos lá!

Inicialmente, fundamentado em nossa experiência de gestão de clube de


futebol da primeira divisão nacional e no Guia de Gestão de Clubes da Associação
Europeia de Clubes de Futebol, elencamos os mais significativos stakeholders desse
tipo de organização, conforme quadro a seguir:

Figura 21 - Principais stakeholders do futebol

Fonte: Adaptada de Jarosz, Kornakov, Soderman (2018).

51
Gestão de Clubes de Futebol

Como é possível identificar na figura anterior, são diversos os grupos que estão
conectados a um clube de futebol. Diante disso, qual é o grande segredo para um
bom relacionamento com essas partes envolvidas? Inicialmente, propomos conhecer
cada uma delas, suas atribuições, suas demandas e o grau de importância de cada
para a realização dos objetivos do clube.

Segundo Chelladurai (1987), uma das maiores referências dos estudos sobre
organizações esportivas no mundo, dada a diversidade de stakeholders de uma
organização esportiva e dada a diferença de necessidades de cada grupo, é preciso
estabelecer a prioridade de atendimento dessas partes pelo gestor do clube. Essa
priorização deve acontecer em função da relevância de cada stakeholders para a
realização dos objetivos do clube e deverá pautar as ações estratégicas da instituição.

Para você, caro leitor, é possível imaginar as particularidades e nuances que


estão imersas nas diversas relações estabelecidas num clube de futebol? Diante
disso, as habilidades de se relacionar e de se comunicar com os mais variados
grupos, nos mais diversos momentos e ambientes são fundamentais para o trabalho
de um gestor de clube de futebol.

Agora, pense que todos esses stakeholders mencionados, com os quais o


gestor do clube estabelece um relacionamento regular, podem avaliar a gestão e o
clube. Dependendo da relação estabelecida entre os gestores do clube de futebol e
a comunidade interna e a externa, essas pessoas podem ter uma opinião positiva ou
negativa sobre o clube. Por isso, é necessário um trabalho contínuo do gestor do
clube no sentido de dispensar tratamento adequado às diversas partes envolvidas.

Embora todos os stakeholders demandem atenção e tratamento adequado,


as grandes diferenças entre essas partes desperta para peculiaridades no trato do
gestor. Protocolos ou formalidades estabelecidas para o tratamento de autoridades
públicas e de setores privados não se aplicam aos demais stakeholders, como
jogadores de futebol e colaboradores do clube.

Diante disso, iremos apresentar e detalhar alguns dos principais stakeholders


de um clube de futebol.

1 Torcedores
Passando à apresentação dos principais stakeholders dos clubes de futebol,
temos os torcedores, que podem ser considerados a razão de ser e um dos elementos
que demonstra a grandeza de um clube.

52
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Para Hunt et al. (1999) e Maia (2020), a relação de um indivíduo com uma
organização esportiva pode acontecer com maior ou menor grau de intensidade, a
depender do nível de fã que aquele indivíduo é, demonstrando a existência de tipos
distintos de torcedores.

É importante compreender que nem todos os torcedores de esportes são


igualmente apaixonados e fanáticos, nem se relacionam ou usam sua equipe
para confirmar suas identidades (REDDEN; STEINER, 2000). Alguns consomem
regularmente jogos no estádio, enquanto outros somente ocasionalmente ou
preferem acompanhar pela TV ou pela internet (SAMRA; WOS, 2014). Desta forma,
o grau de fanatismo do torcedor e o tipo de relacionamento que estabelece com seu
clube determinam tratamentos distintos por parte dos gestores do clube a cada um
desses grupos de fãs.

Figura 22  Torcedores esportivos

Fonte: Imagem de Khusen Rustamov/Pixabay. Fonte: Imagem de Luis Wilker WilkerNet/Pixabay.

Vários pesquisadores da área de gestão do esporte estudaram o torcedor e sua


relação com o time, propondo classificações para diferentes tipos de fãs. O quadro
a seguir apresenta algumas dessas proposições que nos ajudam a compreender a
diversidade de tipos de fãs do esporte.

Quadro 1 – Classificação dos fãs do esporte

Autores Forma de classificação


Aficionados, frequentadores de teatro, apoiadores,
Stewart e Smith (1997) apaixonados, seguidores de campeões e apoiadores
solitários.
Temporários, locais, dedicados, fanáticos e
Hunt et al. (1999)
disfuncionais.
Funk e Pastore (2000) Sem lealdade, lealdade moderada e alta lealdade.

53
Gestão de Clubes de Futebol

Bristow e Sebastian
Fãs menos leais e fãs obstinados (extremamente leais).
(2001)
Tapp e Clowers (2000) Fanáticos, regulares e casuais.

Giulianotti (2002) Fã, apoiador, seguidor e descompromissado.

Apostolopoulou et al.
Ávidos, moderados e fracos.
(2006)

Indiferentes, curiosos, gastadores, colecionadores,


Rein et al. (2008)
agregados, conhecedores e fanáticos.

Fonte: Adaptado de Ribeiro et al. (2021).

Numa perspectiva prática, identificamos algumas categorias de torcedores


comuns em estatutos de clubes brasileiros de futebol, entre elas:

ƒ torcedor comum: que vai ao estádio e que consome produtos do time,


porém não possui vínculo formal com o clube ou com torcida organizada;

ƒ torcedor associado: que possui vínculo formal e regular com o clube, com
direitos estatutários como o uso dos ambientes sociais da organização e
direito de participar de processo eleitoral e assembleias deliberativas;

ƒ sócio torcedor: que possui vínculo formal com o clube por meio de contrato
específico de plano de sócio, que garante privilégios, como acesso gratuito
ou com desconto a jogos em troca do pagamento de mensalidade ou
anuidade ao clube;

ƒ torcedor organizado: que possui vínculo com entidade associativa (torcida


organizada), que tem como finalidade reunir e representar torcedores
do clube. Esse torcedor, enquanto grupo organizado, possui grande
representatividade no contexto do clube e principalmente nos jogos do
time, onde são responsáveis por promover ações de apoio (torcer), como
exibição de faixas, bandeiras, mosaicos, cantos, hinos, entre outros;

ƒ torcedor das embaixadas ou consulados: que representa um novo tipo de


torcedor, que se vincula a uma representação do clube em localidade diferente
da sede do time, comumente chamada de embaixada ou consulado do time.
Essas organizações promovem ações de apoio ao clube e de representação
de seus associados torcedores, principalmente quando o time joga naquela
localidade.

54
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Importante destacar que, com o torcedor, principalmente em dias de jogo, é


preciso ter a habilidade para lidar com a emoção e o comportamentos exaltados
desses stakeholders, comuns nessas ocasiões. Nas redes sociais, é preciso adotar
uma outra forma de posicionamento e tratamento, mais cautelosa. Assim como
também é diferente a linguagem quando estamos com o mesmo torcedor em uma
loja física do clube, ocasião em que ele se apresenta como consumidor do clube.

2 Imprensa
Embora um clube de futebol seja, na maioria das vezes, uma associação sem
fins lucrativos, que tem como atividade principal a prática do esporte, ele possui
uma alta relevância social e atuação pública.

De acordo com sua dimensão e popularidade, um clube precisa emitir, com


frequência, informações para seu associado, torcedor e comunidade em geral.
Nesse contexto, a imprensa representa um stakeholders fundamental no processo
de comunicação externa do clube, pois transmite muitas informações à sociedade.

A relação do gestor do clube com


os stakeholders dos diversos meios de
comunicação constitui uma dimensão É preciso destacar a
da comunicação institucional, que liberdade jornalística
segundo Kunsch (2003), contribui desses stakeholders, seja da crítica
ou do elogio, seja da informação
com a construção da credibilidade da
que agrada ou da que não agrada à
organização e com a consolidação de gestão, seja da informação bem ou
sua personalidade. mal comunicada.

Em um clube de futebol, o gestor


se relaciona diretamente e diariamente com a imprensa, podendo num determinado
sábado ou domingo à noite, por exemplo, receber uma ligação solicitando uma
entrevista ou esclarecimento sobre um fato. Dependendo do nível do clube, isso
tudo pode ocorrer com bastante frequência, inclusive pode envolver meios de
comunicação ou imprensa internacional, fato que exigirá mais do gestor.

Hoje, com as diversas mídias digitais, o gestor de um clube tem contato com
rádios, jornais, programas de TV, sítios de internet, blogs em geral e revistas. Nesse
contexto, é necessário, também, ter uma boa assessoria de imprensa, para dar
suporte e orientá-lo sobre qual a linguagem a ser adotada e o formato de cada
veículo. Uma entrevista de jornal, por exemplo, ocorre de uma maneira, já no rádio
ou em um podcast, ocorre de outra forma. O conteúdo de uma entrevista de 5

55
Gestão de Clubes de Futebol

minutos, em um canal de TV, poderá ser editado para 30 segundos ou, ainda, ser
publicada de forma escrita como resumo em um jornal.

Figura 23  Entrevista de um gestor esportivo a uma empresa de comunicação

Fonte: Imagem de Jacques GAIMARD/Pixabay.

Nesse sentido, é necessário preparo por parte do gestor para se relacionar


e compreender o que cada veículo quer de informação. Além disso, é importante
entender os profissionais que compõem essas empresas de comunicação, pois por
um lado podemos lidar com jornalistas mais antigos e experientes, com um modo
específico de trabalho, por outro podemos ter novos profissionais, com pouca
experiência, mas muita vontade e disposição.

É comum, como gestor de um clube, receber ligação de um


jornalista do Paraná, de Goiás, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul ou do
Ceará, que tenha uma curiosidade sobre o trabalho que você desempenha
no clube ou que tenha uma pergunta sobre uma situação que repercutiu em
nível nacional. É necessário estar pronto, aberto e disponível para entender a
demanda e se relacionar bem com esses stakeholders.

Por fim, é vital para um gestor de futebol saber lidar com a imprensa, pois o
ato de comunicar ao seu torcedor, a sua comunidade e ao seu mercado é uma parte
importantíssima do trabalho da gestão de uma organização social como um clube
de futebol.

56
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

3 Agente ou empresário de futebol


Outros stakeholders importantes dentro de um clube de futebol são os
agentes ou empresários de futebol. Uma figura presente em praticamente todos os
contextos futebolísticos do mundo e que é, muitas vezes, “mal vista” por algumas
pessoas. Pode-se ter a ideia de que o empresário de futebol interfere negativamente
no ambiente do clube, que só se preocupa com vantagens financeiras e não com
a carreira e bem-estar do jogador. Na gestão do futebol, percebemos que a maior
parte dos empresários tem uma visão de suporte, de bom relacionamento com o
clube e procura defender os interesses do seu cliente, o jogador.

O empresário sabe que precisa do jogador e do clube, então, necessita se


relacionar bem com ambos, mediar os possíveis conflitos e não os gerar. No ambiente
do futebol, a relação estabelecida entre os gestores do clube e os empresários ou
agentes de atletas é fundamental para o funcionamento da organização.

Os agentes são responsáveis pela condução da vida profissional dos atletas e,


com o desenvolvimento da indústria do futebol, a valorização e complexificação dos
contratos e dos compromissos comerciais dos jogadores, esses empresários estão
cada vez mais presentes no ambiente dos clubes, desde as categorias de base até
o time profissional.

O presidente, o diretor de futebol ou o gerente executivo de futebol precisam


ter redes de relacionamento (network) com vários empresários, não somente para
fazer um negócio ou realizar uma contratação de jogador, mas para esclarecer
dúvidas, buscar uma informação de mercado ou útil para o clube.

Neste grupo de stakeholders estão presentes diversos tipos de empresários,


como:

ƒ o empresário experiente, que possui empresa consolidada, que trabalha


com jogadores altamente valorizados e que possui assistentes trabalhando
próximo ao atleta e ao clube;

ƒ o empresário que está iniciando no mercado, que possui menor estrutura de


trabalho e conhecimento;

ƒ os intermediários ou freelancers, que intermediam negociações de atletas


de outros empresários.

Nesse contexto permeado por empresários, é recomendado aos gestores do


clube que identifiquem, junto ao jogador, quem é realmente seu agente para proceder

57
Gestão de Clubes de Futebol

as negociações e tratativas contratuais. Na prática, se você deseja contratar alguém,


ligue e diga: "amigo, temos interesse em sua contratação, sou do clube tal, quem é
o seu representante, quem é o seu agente?". A partir disso, a conversa terá maior
possibilidade de fluir e ele indicará a pessoa que o representa naquele momento.
Assim, você poderá evitar qualquer mal-entendido, evitar o atravessador e, dessa
forma, fazer o negócio acontecer de maneira correta, profissional e ética.

Ainda, nesse sentido, cabe ao gestor do clube discutir com o empresário as


relações contratuais, se é empréstimo ou compra, o tempo de contrato, o salário,
o auxílio moradia, as cláusulas rescisórias, o percentual de comissão cobrado
pelo empresário naquela operação, entre outros. Atuando de forma clara, ética e
profissional, com apoio de assessoria jurídica e entendendo que o empresário faz
parte deste contexto, os negócios do clube tendem a ser realizados com sucesso.

4 Patrocinadores
Os patrocinadores são stakeholders de grande importância para um clube de
futebol, pois representam as empresas que acreditam no potencial do clube para o
fortalecimento da sua marca e de seus produtos. Em contrapartida da associação da
sua marca com o clube, esses patrocinadores investem valores que são importantes
fontes de receitas para a gestão e sustentabilidade de um clube de futebol.

A relação com as empresas patrocinadoras precisa ser feita de forma profissional,


não só pela gestão máxima do clube, mas pelos setores comercial, de marketing e
jurídico, visto que as relações estabelecidas entre as partes são formalizadas em
contratos, como negócios que são.

É fundamental ter um bom relacionamento com esses stakeholders e estar


sempre atento às demandas expostas por eles. Existem empresas com contratos
de duração mais curta, outras com contratos de duração mais longa e/ou aquelas
que você deve convidar para o que denominamos “degustação”, isto é, exibir sua
marca em 2 ou 3 jogos para que a empresa identifique a possibilidade de retorno
que terá caso opte por patrocinar o clube. Portanto, é necessário ter habilidade em
negociação e profissionalismo para lidar com os patrocinadores.

Alguns desses patrocinadores se notabilizaram nos últimos anos por serem


grandes parceiros do esporte. Existem marcas que são fortemente associadas a
clubes de futebol, cujos símbolos e representações estão sempre presentes nos
jogos, a exemplo: a Crefisa e a Parmalat no Palmeiras; a Kalunga no Corinthians; a
Santana Têxtil no Fortaleza Esporte Clube; a Coca-Cola que patrocinou diversos
clubes de futebol do Brasil na década de 1980, entre outras.

58
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 24  Marca de patrocinadores presentes nos jogos de futebol

Fonte: Montagem com fotos de Douglas Teixeira (CC BY 2.0); Sepguilherme (CC BY-SA 4.0); Tadeáš Bednarz (CC
BY-SA 4.0); e Agência Brasília (CC BY-SA 4.0)/Wikimedia Commons.

Você consegue perceber a importância dessa lembrança pelo torcedor?

Essa lembrança representa uma associação do torcedor ou do espectador


com a marca, que pode influenciar a decisão e a atitude de consumir o produto
do patrocinador. Gomes (2015) reforça essa afirmação dizendo que a marca se
relaciona ao ato de marcar, ou seja, penetra na mente dos consumidores, tal como
o ferro faz na carne dos animais. É isso que as empresas buscam ao patrocinar um
clube de futebol.

Segundo Melo Neto (2013), a relação das empresas patrocinadoras com o


futebol é bastante particular, pois nesse esporte tudo vira marca. Nesse contexto
de parceria, é necessária uma boa relação com esse público que fomenta o futebol,
pois é beneficiado pela exposição e negócios que o clube proporciona e, em
contrapartida, ajudam a bola rolar com recursos essenciais.

5 Organizações do esporte
Mesmo sendo configuradas como instituições autônomas do ponto de vista
jurídico e administrativo, os clubes de futebol, geralmente, estabelecem vínculos e
associam-se à outras organizações e sistemas esportivos para a realização de sua
missão institucional. Nesse contexto, os outros clubes de futebol, as ligas esportivas,
as federações estaduais e a confederação nacional, organizações que compõem o
sistema esportivo do futebol, figuram como importantes stakeholders do clube.

59
Gestão de Clubes de Futebol

A estrutura organizacional do esporte brasileiro, estabelecida pelo Sistema


Brasileiro do Desporto e pelo (Sub) Sistema Nacional do Desporto, é composta por
entidades privadas de administração e de prática desportiva, além de organizações
públicas de esporte (BRASIL, 1988). No Brasil, um clube de futebol está, geralmente,
ligado ou filiado a uma federação estadual, que é uma entidade que administra
a modalidade naquele estado. Um clube de futebol estabelece, entre outras, as
seguintes relações com uma federação estadual:

ƒ registro de jogadores e membros de comissão técnica;

ƒ recolha de taxas de filiação e participação em eventos;

ƒ inscrição de equipes em competições;

ƒ participação em reunião de consulta e elaboração de tabela de campeonatos


e programação de jogos;

ƒ operações de jogos oficiais;

ƒ participação em processo eleitoral para a escolha de presidente da federação;

ƒ participação em reuniões e assembleias deliberativas;

ƒ participação nas sessões do Tribunal de Justiça Desportiva.

Da mesma forma, essas relações são estabelecidas com a Confederação


Brasileira de Futebol (CBF), que é a entidade máxima que administra o futebol
brasileiro. Você registra jogadores e contratos, se relaciona com profissionais de
diversos setores de interesse, conversa sobre uma mudança de tabela de jogos,
sobre a competição, entre outras ações. Enfim, são organizações fundamentais para
o clube e para o ecossistema do futebol.

O gestor de um clube de futebol


relaciona-se, constantemente, com
outros clubes e com ligas de dentro do
estado e em nível regional, nacional e até
A Confederação
internacional. Por exemplo, no futebol Brasileira de Futebol
nordestino existe a Liga do Nordeste, (CBF) tem como principal objetivo
que é responsável por realizar a Copa liderar, promover e fomentar
a prática esportiva do futebol
do Nordeste. Em nível nacional, um
no Brasil. Mais informações
clube relaciona-se com os demais que
disponíveis no site:
participam do Campeonato Brasileiro e
https://www.cbf.com.br/a-cbf/
da Copa do Brasil. Em nível internacional, institucional/index/a-cbf. Acesso
embora pareça uma realidade distante, em: 01 jul 2021.

60
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

tem-se a possibilidade de se relacionar com clubes de outros países e, assim, ampliar


os horizontes estratégicos do clube.

Caso prático

O Fortaleza Esporte Clube, após a definição do confronto da Copa Sul-


Americana em 2020 contra o Independiente da Argentina, estabeleceu
a primeira relação com o adversário para negociar como seria a venda de
ingressos para o jogo na Argentina (assunto de total interesse dos torcedores
do Fortaleza, que sonhavam em assistir ao clube jogando fora do país). Na
oportunidade, os gestores do Fortaleza trocaram gentilezas e informações
com os gestores do clube argentino, no sentido de estreitar o relacionamento.
O mesmo processo aconteceu no jogo da volta, no Brasil.

Há uma prática muito interessante entre os clubes no Brasil e que precisa ser
registrada. Por exemplo, quando um time A vai jogar na cidade de Goiânia, para
enfrentar o Goiás, precisará treinar um dia antes e, para isso, o Vila Nova, outra
equipe local, cede sua instalação para isso. Por sua vez, quando o Vila Nova vai jogar
no estado do time A, esse time cede sua instalação, devolvendo a gentileza. Tudo
isso faz parte de uma rede de relacionamento, de uma network de stakeholders que
estão ligados ao mesmo ecossistema e que precisam se relacionar e estreitar laços
para potencializar suas ações e seus resultados.

6 Associados
Além dos diversos stakeholders externos ao clube, já citados, temos outros
grupos internos à organização. O primeiro grupo que apresentamos é o de associado
ou o sócio, que em um clube de futebol associativo pode ser subdividido em várias
categorias, a depender de sua norma fundante – do seu estatuto. Entre as mais
comuns categorias estão os sócios:

ƒ patrimoniais ou usuários, de acordo com os direitos junto ao clube;

ƒ remidos ou contribuintes, de acordo com o dever ou não de pagamento de


mensalidades ou anuidade;

ƒ fundadores, conselheiros, beneméritos, honorários, comuns, entre outros,


de acordo com o nível e tempo de relacionamento com o clube e previsão
estatutária.

61
Gestão de Clubes de Futebol

Esse grupo é constituído por sócios titulares ou dependentes, com direitos


políticos e administrativos e de uso das instalações, produtos e serviços do clube.
Geralmente, como cultura clubística, a posição de destaque de algumas categorias
de sócio, como conselheiro, é passada do titular para seu filho ou filha como um
título de sucessão. Essas e outras peculiaridades demandam a atenção dos gestores
de um clube de futebol.

7 Estrutura de poder (poderes eleitos)


Outros stakeholders de grande relevância e que fazem parte da conjuntura dos
clubes de futebol, sobretudo no Brasil onde temos um modelo predominantemente
associativo, são os poderes eleitos, ou seja, os órgãos institucionais estratégicos da
estrutura organizacional do clube. Entre os principais poderes, com constituição e
atribuição definidas pelo estatuto social do clube, temos:

ƒ Assembleia Geral: órgão colegiado de maior poder no clube associativo,


constituído pelos sócios com direitos estatutários garantidos, que tem como
finalidade decidir sobre as questões mais relevantes da organização.

ƒ Conselhos: órgãos colegiados consultivos e/ou deliberativos, com


constituição e atribuições específicas estabelecidas pelos estatutos sociais
do clube. Os mais comuns são: o conselho fiscal, responsável pela fiscalização,
controle, análise e aprovação de questões relativas à gestão administrativa e
financeira do clube; conselho deliberativo ou de administração, responsável
por decisões e orientações estratégicas junto à diretoria executiva do clube;
e conselho de ética, responsável por julgar e aplicar penalidades relativas a
descumprimento de normas e princípios da organização.

ƒ Diretoria: órgão executivo de gestão do clube, constituído por poderes e


respectivas atribuições estabelecidas pelo estatuto do clube, entre eles,
temos a Presidência, a(s) Vice-Presidência(s) e as Diretorias responsáveis
pelos diversos setores do clube, como de administração, jurídico, de
marketing, de ações sociais, de futebol, entre outros.

A Diretoria Executiva, o Conselho Deliberativo, o Conselho de Ética


e o Conselho Fiscal são órgãos ou poderes independentes no clube, sendo
necessário diálogo, respeito, transparência e, se possível, harmonia entre
eles. O atrito entre os poderes do clube pode refletir na gestão, no campo e
diretamente no torcedor.

62
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

2.8 Ex-presidentes e ex-dirigentes


Um grupo não formal no clube, mas também importante, é o dos ex-presidentes
e dos ex-dirigentes. São pessoas que já passaram pela gestão da instituição, que
conhecem os desafios e as potencialidades do clube e, por sua vez, podem ter algo
a contribuir. Alguns desses profissionais preferem o anonimato, outros querem
algum tipo de reconhecimento, gratidão ou privilégio por parte da atual gestão do
clube. Muitos desses ex-gestores se dedicaram com afinco e de forma voluntária
ao clube e, por isso, os atuais gestores devem dispensar boa relação, respeito e
reconhecimento a esses stakeholders.

9 Colaboradores e funcionários
Os colaboradores voluntários e funcionários remunerados do clube também
são partes importantes do universo da organização. Eles podem atuar em atividades
administrativas e de suporte ou em atividades finalísticas do clube, no caso, no setor
de futebol. Cada profissional exerce uma função essencial para funcionamento do
clube, seja em nível operacional, seja em nível gerencial. O relacionamento com
esses profissionais funciona como em qualquer outra empresa e, por sua vez, faz-
se necessária a estruturação da área de recursos humanos para apoiar a gestão de
pessoas do clube.

No âmbito da área técnica do futebol, destacamos três grupos distintos de


funcionários: os profissionais do setor de futebol, os profissionais da comissão
técnica (treinador, preparador físico, preparador de goleiros, auxiliares, etc.) e os
jogadores.

Os profissionais do setor de futebol, sejam gestores, analistas, técnicos ou


operacionais, na maioria dos clubes, já pertencem ao quadro de funcionários há
muitos anos e, por sua vez, já passaram por muitas gestões diferentes. Nesse contexto,
grande parte desses profissionais já enfrentou fases boas e ruins, dificuldades e
conquistas, derrotas e vitórias. Diante disso, é necessário reconhecer o conhecimento
e a experiência desses stakeholders e engajá-los nas ações do clube.

A comissão técnica de um clube de futebol, geralmente, é o setor que mais sofre


mudanças em seu quadro de profissionais, isto é, nem todos os clubes conseguem
permanecer com uma comissão técnica por muito tempo. Segundo estudo da
Pluri Consultoria (2019), o tempo médio dos treinadores dos maiores clubes do
futebol brasileiro, no período de 2010 a 2019, foi de seis meses, demonstrando a alta
rotatividade deste setor.

63
Gestão de Clubes de Futebol

Quando um treinador chega ou se desliga do clube, outros profissionais que


compõem a comissão técnica (auxiliar, preparador físico, preparador de goleiros)
também costumam acompanhá-lo, como uma equipe. Assim, quando da chegada
de nova comissão técnica é importante fazer com que esses novos profissionais
consigam entender a cultura organizacional e se alinharem aos objetivos do clube.
Nesse processo, é necessário ter o envolvimento dos funcionários que já estão no
clube há mais tempo.

Caso prático
Um técnico considerado inteligente e profissional é aquele que quando
chega em um novo clube, procura conhecer as pessoas do relacionamento
mais próximo do time, como os roupeiros, os massagistas, o nutricionista, os
cozinheiros, o psicólogo, os médicos e outros. Como exemplo, temos o caso
de Juan Pablo Vojvoda, treinador contratado pelo Fortaleza Esporte Clube em
2021, que veio do exterior, juntamente com sua comissão técnica, trazendo
suas ideias e filosofia de trabalho. Ao chegar
ao clube, o treinador organizou reuniões
Figura 25 - Pablo Vojvoda, com todos os setores e pessoas envolvidas
técnico do Fortaleza EC
diretamente com o clube, para entender
como trabalhavam, obter informações
relevantes e realizar uma análise interna da
situação. Além disso, fez questão de morar
no próprio clube para conhecer, entender e
se conectar com a organização e com todos
seus funcionários, o mais rápido possível.
Veja uma matéria jornalística que detalha
esse caso, publicada pelo Globo Esporte
Ceará, no dia 11/05/2021, disponível em:
https://ge.globo.com/ce/futebol/times/
fortaleza/noticia/vojvoda-troca-vista-para-
o-mar-e-decide-morar-no-ct-do-fortaleza-
Fonte: Imagem de Leonardo Moreira/
em-imersao-no-clube.ghtml. Acesso em: 11
Acervo Fortaleza Esporte Clube. jan. 2022.

64
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Quanto aos jogadores, todos nós sabemos que é a parte mais vista de um
clube de futebol. Esse grupo é constituído por atletas com características distintas,
especialmente por jovens profissionais cheios de sonhos. Dependendo do clube,
podemos encontrar jogadores em diversos estágios da carreira, entre eles podemos
mencionar:

ƒ atletas jovens em formação inicial;

ƒ atletas com carreira consolidada e bem resolvidos financeiramente;

ƒ atletas em ascensão na carreira e sonhando em ser um grande jogador;

ƒ atletas mais velhos em fase descendente, se preparando ou não para o


término da carreira e pós-carreira.

Antes de finalizar nossa unidade, vamos tratar um pouco da operação de jogo,


pois nesta ação, uma das principais de um clube de futebol, devido sua complexidade,
envolve inúmeros stakeholders.

No ambiente de operação de jogo, especialmente no dia do jogo (matchday)


muitos stakeholders se encontram: o clube que está com seus jogadores, comissão
técnica e funcionários; o torcedor, seja comum, organizado ou sócio; o convidado, o
espectador com privilégios contratados ou o turista que, em passagem pela cidade
soube do jogo e comprou o ingresso para assistir; as autoridades que vão para
os camarotes, entre outros. Além desses públicos, teremos também a imprensa
presente no dia de jogo com seus mais diversos veículos de comunicação, a federação
ou confederação, dependendo de qual for o campeonato (local ou nacional), os
patrocinadores e suas equipes de suporte, de marketing e ativação comercial, o
clube adversário e os agentes ou empresários do futebol.

Vale ressaltar que para a operação de um jogo fluir é preciso que haja segurança,
logo a polícia estará presente, assim como o Ministério Público e o Corpo de
Bombeiros. Além desses agentes públicos, teremos, é claro, a presença essencial do
pessoal de apoio, como os seguranças privados, catraqueiros, controladores de acesso,
funcionários de lojas, de bares, de restaurantes e de estacionamento. No entorno do
estádio, mesmo que de maneira informal, temos os vendedores ambulantes de camisa,
de churrasquinho, de cachorro-quente, de cerveja, guardadores de carro, entre outros.

Como podemos evidenciar, a execução de um jogo de futebol é um ecossistema


completo e complexo, com o qual os gestores têm que saber se relacionar e entender
como ele existe e opera.

65
Gestão de Clubes de Futebol

A partir do que vimos até aqui, é possível perceber a diversidade de stakeholders


que se relacionam com um clube de futebol, não é verdade? Segundo Winand et al.
(2014), na dinâmica organizacional do esporte, cada grupo de stakeholder possui
sua própria percepção do que a entidade deve fazer e cada um desses grupos
exige um grau mínimo de satisfação. Diante disso, é importante que o gestor saiba
como se relacionar com todas as partes envolvidas e como atender suas demandas
e expectativas de acordo com o grau de importância e de prioridade de cada
stakeholder para o clube, conforme ensinou Chelladurai (1987).

Portanto, encerramos esta unidade que teve como objetivo tratar de um


tema muito importante para a gestão de um clube de futebol: os ambientes do
clube e seus stakeholders. Nesta unidade, você conheceu as diversas partes que
permeiam o ambiente interno e externo de um clube de futebol, os relacionamentos
estabelecidos e as contribuições de cada uma dessas partes envolvidas para o
sucesso da organização.

Por fim, destacamos a importância de o gestor de um clube de futebol em


manter um bom relacionamento com todos esses stakeholders. Até a próxima
unidade!

66
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

UNIDADE 2 Lista de figuras

Figura 22a
Fonte: Imagem de Khusen Rustamov/Pixabay. Disponível em: https://bityli.com/
qTWsB. Acesso em: 27 jan. 2022.  

Figura 22b
Fonte: Imagem de Luis Wilker WilkerNet/Pixabay. Disponível em: https://bityli.
com/EjspT. Acesso em: 27 jan. 2022.  

Figura 23
Fonte: Imagem de Jacques GAIMARD/Pixabay. Disponível em: https://bityli.com/
jHITR. Acesso em: 27 jan. 2022.  

Figura 24
Fonte: Montagem com fotos de Douglas Teixeira (CC BY 2.0); Sepguilherme (CC
BY-SA 4.0); Tadeáš Bednarz (CC BY-SA 4.0); e Agência Brasília (CC BY-SA 4.0)/
Wikimedia Commons.

Figura 25
Fonte: Imagem de Leonardo Moreira/ Acervo Fortaleza Esporte Clube, cedida
para o Programa Academia e Futebol. Disponível em: https://fortaleza1918.com.
br/fotos/. Acesso em: 11 jan. 2022.

67
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 2 Referências

BRASIL. Lei nº 9.615 de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre


desporto e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1998].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm. Acesso
em: 28 fev 2021.
CHELLADURAI, P. Multidimensionality and Multiple Perspectives of Organizational
Effectiveness. Journal of Sport Management, 1(1), 37-47, 1987.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Impacto do futebol brasileiro. 2018.
Disponível <https://tinyurl.com/y4oel944> Acesso em: 07 ago 2020.
FREEMAN, R. Edward; REED, David L. Stockholders and Stakeholders: A New
Perspective on Corporate Governance. California Management Review, 25(3),
88–106, 1983.
GOMES, Maurício de Brito. Gestão de Produtos e marcas. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2015.
HUNT, K. A.; BRISTOL, Terry; BASHAW, R. Edward. A conceptual approach to
classifying sports fans. Journal of Services Marketing, 13(6), 439-452, 1999.
JAROSZ, Olivier; KORNAKOV, Konstantin; SODERMAN, Sten. ECA Club
Management Guide – Extract. 3. Ed. European Club Association, 2018.
KASALE, L. L.; WINAND, M.; MORROW, S. A stakeholder approach to performance
management in Botswana National Sport Organisations, Managing Sport and
Leisure, 24:4, 226-243, 2019.
KUNSCH, Margarida M. Krohling. Planejamento de relações públicas na
comunicação integrada. São Paulo: Summus, 2003.
MAIA, Bruno. Inovação é o novo marketing. Rio de Janeiro, 2020.
MATTAR, Fauze Najib. Indústria do Esporte e seu Ambiente de Negócio. In:
MATTAR; MATTAR, 2013 (Org.). Gestão de Negócios Esportivos. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.
MEIRA, Tatiana de Barros.; BASTOS, Flávia de Cunha. Estrutura organizacional
esportiva. In: BÖHME, Maria Tereza Silveira (Org.). Esporte infanto-juvenil:
treinamento a longo prazo - talento esportivo. São Paulo: Phorte, 2011.
MELO NETO, Francisco Paulo. Marketing Esportivo: o valor do esporte no século
XXI. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.
PAPADIMITRIOU, Dimitra; TAYLOR, Peter. Organisational Effectiveness of
Hellenic National Sports Organisations: A Multiple Constituency Approach. Sport
Management Review, 3, 23-46, 2000.

68
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

REDDEN, J.; STEINER, C.J. Fanatical consumers: towards a framework for research,
Journal of Consumer Marketing, vol. 17, no. 4, pp. 322-337, 2000.
RIBEIRO, Kleber A.; CARLASSARA, E. O. C.; MORAES, I. F.; ROCCO JUNIOR, A. J.
R. Relacionamento entre torcedores e clubes e o consumo em jogo de futebol:
análise dos espectadores do classico entre Fortaleza e Ceará. Working Paper:
Grupo de Estudos em Esporte, Cultura e Lazer (IFCE) e Grupo de Pesquisa em
Comunicação e Marketing Esportivo (USP), 2020.
SAMRA, Balwant; WOS, Anna. Consumer in Sports: Fan typology analysis. Journal
of Intercultural Management. 6(4), p. 263–288, 2014.
WINAND, Mathieu; VOS, Steven; CLAESSENS, Manu; THIBAUT, Erik; SCHEERDER,
J. A unified model of non-profit sport organizations performance: perspectives
from the literature. Managing Leisure, 19(2), 121-150, 2014.

69
Gestão de Clubes de Futebol

Unidade 3
Engajamento do torcedor

Olá leitor!

N
a sequência do nosso livro Gestão de Clubes Futebol iremos tratar
da importância do torcedor e de seu engajamento junto ao time
para a existência, sustentabilidade e sucesso de um clube de futebol.
Pretendemos demonstrar, nesta unidade 3, que o torcedor é parte fundamental para
a geração de identidade, grandeza e de receitas para um clube de futebol.

Vamos lá?!

Objetivos

€
Entender o papel e a relação do torcedor com o clube de futebol
€
Compreender a importância do engajamento do torcedor para um clube de
futebol

70
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

UNIDADE 3 Tópico 1

O torcedor e o clube

O
torcedor, como já afirmamos na unidade anterior, pode ser considerado a
razão de ser de um clube de futebol e um dos elementos que demonstra
a grandeza de um time. Essa categoria de stakeholder é constituída,
dependendo da dimensão e popularidade do clube, por massas de pessoas, que de
forma organizada e/ou individualmente, se relacionam com o clube, vão ao estádio,
compram camisa do time, decoram sua casa e mesa de trabalho com itens do clube,
fazem festa de aniversário com tema do clube, envolvem sua família na relação e
influenciam a preferência do filho e da filha em torcer pelo time.

Existem pessoas que são conhecidas pelo clube de futebol que torce. É comum
no Brasil, dada à popularidade da modalidade, falarmos entre colegas: "fulano que
torce pelo Grêmio" ou "sicrano que torce pelo Palmeiras" ou "beltrano é torcedor
fanático do Fortaleza". A paixão pelo futebol gera identificação no e do torcedor
e se traduz em envolvimento com o clube e consumo de produtos e serviços da
organização. Nesse sentido, dada sua importância social e econômica, o torcedor
deve ser uma figura central e estratégica em um clube de futebol.

Sobre a importância econômica do torcedor para um clube de futebol


traremos, na sequência, alguns dados que apresentam o volume e evolução das
receitas advindas diretamente desse importante stakeholder.

Os clubes de futebol, independentemente de sua configuração jurídica


(associativa ou empresarial), possuem fontes de arrecadação de receita comuns,
como: patrocínio e publicidade, direitos de transmissão de jogos, bilheteria dos
jogos, mensalidades/taxas de sócios, programas de sócio torcedores, licenciamento
e venda de produtos, comercialização de produtos e serviços no estádio no matchday,
negociação de direitos de atletas, financiamento público, cota de participação e de
premiação em eventos, entre outros (SILVA; DIAS; RIBEIRO, 2020; SOUZA, 2004;
COSTA, 2005; BLUMENSCHEIN, 2013; PEREIRA, 2014).

71
Gestão de Clubes de Futebol

A composição e o montante das receitas dos clubes de futebol profissional


podem variar de clube a clube. É notório que algumas fontes de receita são
exclusividade dos clubes que disputam as principais competições do sistema
do futebol, como os direitos de transmissão de jogos. Certas fontes de recurso
podem ser consideradas mais sustentáveis economicamente que outras, como as
mensalidades de sócios e sócios torcedores, e venda de produtos licenciados em
relação à premiação por títulos e/ou venda de direito de jogadores.

Refletindo sobre essa realidade


de composição orçamentária, é
possível perceber a importância No link a seguir, você
encontra o Levantamento Financeiro
das receitas advindas dos maiores
dos Clubes Brasileiros – 2020 (Ernst
parceiros do clube, os torcedores. & Young, 2021). Disponível em:
https://assets.ey.com/content/
A figura a seguir foi extraída
dam/ey-sites/ey-com/pt_br/topics/
do Relatório de Levantamento media-and-entertainment/ey-sports-
Financeiro dos Clubes Brasileiros – levantamento-financas-clubes-2020.
2020, publicado pela Ernst & Young pdf. Acesso em: 24 nov 2021.
(2021) e apresenta a evolução
das receitas dos 23 principais clubes de futebol do país em 2020, de acordo com
classificação da Série A do Campeonato Brasileiro e Ranking da Confederação
Brasileira de Futebol.

Figura 26 – Evolução das Fontes de Receitas dos Clubes de Futebol Brasileiros 


2011 a 2020 (valores em milhões de R$)

Fonte: Adaptada de Ernst & Young (2021)

72
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

As receitas comerciais, constituídas em grande parte por venda de produtos


a torcedores e consumidores, tiveram uma evolução de aproximadamente 65%
no intervalo de 2011 a 2019. As receitas do matchday, compostas por bilheteria,
programas de sócio torcedor dos clubes, venda de camarotes, de cadeiras cativas,
serviços de estacionamento, de alimentos e bebidas, entre outros, tiveram um
aumento de aproximadamente 180% de 2011 a 2019. Embora no ano de 2020 essas
receitas relacionadas diretamente ao torcedor tenham decrescido devido à pandemia
da Covid-19, sofreram evolução considerável na última década e representam fontes
relevantes para os clubes.

Podemos confirmar essa constatação na figura a seguir, que apresenta o


percentual de cada fonte de receita na composição financeira total dos principais
clubes do país.

Figura 27 – Evolução das fontes de receitas dos Clubes


de Futebol Brasileiros 2011 a 2020 (%)

Fonte: Adaptada de Ernst & Young (2021).

Na figura apresentada anteriormente sobre o relatório da Ernst & Young (2021)


é possível identificar que as receitas de matchday chegaram a compor 20% das
receitas dos principais clubes brasileiros em 2014.

Silva, Dias e Ribeiro (2020), ao analisarem as finanças dos principais clubes


do futebol cearense, identificaram que no Fortaleza Esporte Clube, quando
disputava a segunda divisão nacional em 2018, as receitas de bilheteria e com
sócios representaram aproximadamente 41% do total do ano no clube. Esses dados

73
Gestão de Clubes de Futebol

demonstram a importância do torcedor para a sustentabilidade econômica dos


clubes de futebol do país e confirmam a necessidade de um olhar mais atentivo a
este stakeholder.

Como estamos falando de torcedor, é importante antes de tudo, conhecer o


significado desse termo.

Você sabe dizer de onde veio a palavra torcedor na perspectiva do esporte?

Segundo a página da web oficial do Fluminense Futebol Clube (2021) e o site


torcedores.com (https://www.torcedores.com/noticias/2019/09/torcer-origem-
palavras-futebol), o uso do termo torcedor remonta ao início do século passado,
quando o futebol era um esporte aristocrático, ou seja, praticado e apreciado pela
alta sociedade. As mulheres que iam assistir aos jogos de futebol levavam consigo
lenços e luvas e, durante o jogo, elas iam tirando devido ao forte calor. À medida
que o time atacava ou defendia, marcava ou sofria gols, elas torciam seus lenços ou
luvas como uma atitude emocional, de nervosismo ou ansiedade. Acredita-se que
desse gesto veio a expressão torcedora, que logo foi atribuído a todos os gêneros,
transformando-se em um temo geral para expectador aficionado ou fã: o torcedor,
a torcedora, a torcida.

O fã ou torcedor esportivo, para Hunt, Bristol e Bashaw (1999), é um devoto


entusiasta de alguma modalidade esportiva, equipe ou atleta, ou seja, um indivíduo
que possui conexão afetiva e comportamental com o esporte. Já os consumidores
esportivos são os indivíduos que se relacionam com o esporte, com ou sem conexão
afetiva, em busca de produtos e serviços relacionados ao bem-estar, saúde, ao
entretenimento, ao lazer, ao trabalho, entre outros (MORGAN; SUMMERS, 2008).

Segundo Morgan e Summers (2008), todo fã é um consumidor e essa relação com


a organização esportiva pode acontecer com maior ou menor grau de intensidade.
Assim, o nível de associação, a escala de motivação e o comportamento variam
entre os torcedores, demonstrando a existência de tipos distintos de fãs, o que
acaba por determinar o grau de afetividade e de relacionamento com a modalidade,
organização ou atleta (HUNT; BRISTOL; BASHAW, 1999).

74
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 28 – Tipos de torcedores

Fonte: Imagem de Damon Nofar/Pixabay. Fonte: Imagem de JESHOOTS.com/Pexels.

Os fãs ou torcedores manifestam seu apego ou fanatismo por meio


de comportamento em relação ao objeto (clube, liga, atleta, time, marca ...).
Além disso, um fã é um consumidor entusiasmado o que significa que ele
ou ela está motivado para se envolver em comportamentos de consumo
relacionados aos esportes (HUNT; BRISTOL; BARSHAW, 1999).

Para Mullin, Hardy e Sutton


(2000), não existe um perfil único e
Lembrem-se das diversas
infalível de torcedor esportivo, seja
classificações de fãs
em nível nacional ou internacional.
e consumidores do esporte que
Para os autores, mesmo sendo um foram estabelecidas em pesquisas
tema complexo, muitas organizações científicas da área da gestão e do
do esporte têm desenvolvido ou marketing esportivo e os tipos de
torcedores elencados pelos autores
demandado pesquisas com vistas a
desse curso, todos apresentados na
conhecer melhor seu torcedor e seu
unidade 2.
comportamento de consumo.

No contexto do futebol, o estudo de Tap e Clowers (2002) identificou três


segmentos de torcedores na Premier League da Inglaterra, de acordo com o valor
ou consumo para o clube: fanáticos, regulares e casuais.

ƒ Fanáticos: são aqueles que possuem forte relação de consumo de jogos e


produtos do clube, incomparável com relações de consumo que o mesmo
indivíduo estabelece com outros setores da economia. Ele coleciona

75
Gestão de Clubes de Futebol

produtos, frequenta grande parte dos jogos e coloca o clube como algo
prioritário na sua vida.

ƒ Torcedor regular: de categoria intermediária, consome produtos e jogos


do seu time de forma regular, mas não intensa. Para esse tipo de torcedor,
a equipe e sua relação com ela não são consideradas prioridades e não
definem sua autoimagem.

ƒ Torcedores casuais: são caracterizados como os de pouca relação e


identificação com o clube e, consequentemente, de menor consumo de
produtos e de jogos, se interessando mais pelo entretenimento do que pelo
resultado esportivo da equipe.

Já o sociólogo Richard Giulianotti (2002) propõe, fundamentado no contexto


inglês, um modelo de classificação e compreensão de espectadores ou torcedores
em quatro categorias: fã, apoiador, seguidor e flâneur. O principal critério de
classificação dos espectadores utilizado pelo autor diz respeito ao tipo de relação
identitária e de consumo estabelecidas com os clubes, ilustrado na figura a seguir.

Figura 29 – Modelo de classificação/categorias


de espectadores-torcedores de futebol

Fonte: Adaptada de Giulianotti (2002).

76
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Na figura acima é possível identificar e localizar os torcedores nos quatro


quadrantes, cada um com suas respectivas características que variam: de frio a
quente quanto ao relacionamento e identificação; e de menor a maior consumo de
produtos e serviços do clube.

O modelo de Giulianotti (2002), a classificação de Tap e Clowes (2002), os


conceitos e os dados apresentados demonstram a existência de diferentes tipos de
torcedores, que se relacionam com o clube e que consomem de formas distintas e,
nesse sentido, exigem tratamento e estratégias específicas do clube.

Dessa forma, isso tudo demonstra a importância de os clubes de futebol


empreenderem pesquisas e análises de dados para conhecerem seus torcedores e, a
partir dessas informações, terem condições adequadas para estabelecer estratégias
e iniciativas para o fortalecimento dessa relação e ampliação do engajamento,
consumo e satisfação desses fãs.

No próximo tópico, estudaremos a importância do engajamento do torcedor


para promoção e crescimento de um clube de futebol.

77
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 3 Tópico 2

Engajamento do torcedor

O
torcedor, em grande parte dos clubes de futebol profissional do país, é
a razão de ser da organização e, por isso, seu engajamento, ou seja, seu
envolvimento com o clube precisa ser desenvolvido. Esse engajamento,
em nossa visão, é um dos maiores desafios de um clube de futebol.

No ambiente do futebol, quem nunca ouviu um dirigente dizendo:


"estamos trabalhando para satisfazer nossa torcida". Quem nunca ouviu um
jogador falando nas entrevistas: "fizemos o gol e a vitória é para nossa torcida
maravilhosa". Quem nunca viu uma matéria da imprensa tratando da torcida
de determinado clube, de seu envolvimento, comportamento e satisfação.

O torcedor e seu engajamento com o clube é ou deveria ser tema central


nas organizações do futebol, entretanto, surgem alguns questionamentos:
como engajar esse fã? Como fazer com que ele seja uma força positiva para
o clube? Como estabelecer um ciclo virtuoso de envolvimento, consumo e
satisfação com esse torcedor?

Nesse desafio de ampliação do envolvimento, do consumo e da satisfação


do torcedor, o marketing e a comunicação são dimensões fundamentais
(ROCCO JUNIOR; CARLASSARA, 2021).

78
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Marketing esportivo é o processo de elaborar e implementar


atividades de produção, formação de preço, promoção e
distribuição de um produto esportivo para satisfazer as necessidades ou
desejos de consumidores e realizar os objetivos da empresa (PITTS; STOTLAR,
2002, p. 90).

A comunicação é definida como um processo vital para o ser humano de


transmitir e compartilhar ideias entre indivíduos (SANT’ANNA, 2002). Já
comunicação institucional é definida como “um conjunto de procedimentos
destinados a difundir informações de interesse público sobre as políticas,
práticas e objetivos de uma instituição, interna e externamente” (RABAÇA;
BARBOSA, 2001, p. 176).

Como já dito no tópico anterior, na última década, um dos focos de pesquisas


publicadas nas principais revistas especializadas do mundo tem sido o marketing
esportivo e, em especial, sobre o engajamento e comportamento de consumo de
espectadores e fãs do esporte (FUNK et al., 2016). Essas pesquisas têm crescido
em importância, popularidade e sofisticação e seus resultados têm fornecido
novos conhecimentos sobre o torcedor e suas relações com as organizações do
esporte. Esses resultados têm permitido o entendimento desses stakeholders e o
estabelecimento de estratégias e ações com vistas à ampliação do seu engajamento,
ou seja, a mudança do perfil do torcedor para um tipo mais envolvido e de maior
consumo.

Segundo Morgan e Summers (2008), o processo de consumo é influenciado


por fatores internos e externos e segue etapas básicas como:

79
Gestão de Clubes de Futebol

Sobre os fatores de influência, as autoras citam:

ƒ Fatores internos: os referentes à formação enquanto indivíduo, à


personalidade, à percepção, aos aprendizados e atitudes.

ƒ Fatores externos: cultura, grupos de referência, influências sociais,


econômicas e do ambiente.

Kotler (1998) apresenta como influenciadores do processo de consumo os


fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos.

Figura 30 – Fatores de influência no processo de decisão de compra

Fonte: Adaptada de Kotler (1998, p.163).

Os fatores culturais envolvem a


cultura do indivíduo, subculturas e classe
social. Os fatores sociais envolvem os
A grande maioria das
grupos de referência, como da religião, a pesquisas sobre consumidores
família, os amigos, os colegas de trabalho de esportes tem se centrado
ou torcedores de um determinado clube de nas características psicológicas
futebol, por exemplo. Os fatores pessoais das experiências esportivas
(FUNK et al., 2016).
estão relacionados à idade e estágio do
ciclo de vida do indivíduo, ocupação,
condições econômicas, estilo de vida
e personalidade. Já os fatores psicológicos envolvem a motivação, percepção,
aprendizagem, além das crenças e atitudes de cada pessoa.

Segundo Rocco Junior e Carlassara (2021), dominar e entender como os


torcedores se comportam a partir de suas influências interna e externa é uma
tarefa complexa, mas fundamental para o desenvolvimento ideal de qualquer ação

80
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

de marketing esportivo, seja no futebol ou em outra modalidade esportiva. Após


conhecer o perfil de tais consumidores, segundo os autores, fica extremamente fácil
segmentar as ações e as estratégias de marketing e de comunicação dentro do
clube e, consequentemente, elevar a assertividade e a efetividade dessas iniciativas.

A compreensão dos fatores de influência sobre o comportamento de consumo


e do perfil do torcedor ou consumidor permite ao setor de marketing dos clubes
estabelecer o denominado mix de marketing, constituído pelos conhecidos 4
Ps correspondentes às ações de definição de: produto, preço, praça de oferta e
promoção (KOTTLER, 1998).

Na dimensão do consumo, a promoção representa uma ação fundamental


de comunicação com o torcedor ou consumidor. Segundo Vasconcelos (2009),
ferramentas de comunicação compõem o P de Promoção do mix de marketing.

A comunicação, para além de sua importância nas ações promocionais de marketing,


segundo Matos (2004), estabelece um papel fundamental para a permanência de um
clube no mercado competitivo e mantém o torcedor informado de tudo que acontece
dentro e fora do clube. Esse processo de comunicar ao torcedor representa uma ação
estratégica fundamental para a promoção do engajamento do torcedor.

Figura 31 - Coletiva de imprensa como instrumento de comunicação

Fonte: Imagem de Lucas Figueiredo/CBF.

Fundamentados na prática da gestão de um clube de futebol, acreditamos


ser fundamental, no processo de comunicação do gestor com o torcedor, a
transparência. Temos presenciado, no dia a dia da gestão, que os torcedores gostam

81
Gestão de Clubes de Futebol

de ouvir a verdade e de forma direta. Assim, o gestor não deve omitir informações
da realidade do clube, tais como: processos de contratação de jogadores (valores,
quando possível), realidade economia e financeira e outras que podem promover
a tranquilidade e o envolvimento dos torcedores. Além disso, a transparência de
dados e de informações, como uma dimensão da governança ou boas práticas de
gestão, deve fazer parte da cultura organizacional.

A adoção de práticas transparentes e éticas de gestão pelas


organizações do esporte é estabelecida na Lei Pelé, norma jurídica do esporte
brasileiro (BRASIL, 1998). Dessa forma, os clubes devem possuir e manter
atualizados seus canais de comunicação e, sempre que possível, seu portal de
transparência.

Segundo Kunsch (2003), a comunicação institucional procura construir a


credibilidade da organização, sua identidade e seus valores. O clube e o gestor
precisam de credibilidade e, para essa conquista, a comunicação transparente é
fundamental.

Na prática da gestão, para Rocco Junior e Carlassara (2021), a comunicação


realizada numa perspectiva integrada, representa uma importante ferramenta para
as entidades esportivas, especialmente em um momento em que a sociedade espera
dessas organizações posicionamentos sociais com relação a diversos temas, como
racismo, homofobia e outras causas.

Clubes de futebol como o Fortaleza Esporte Clube e Esporte Clube Bahia


são exemplos atuais de organizações esportivas que têm se posicionado, com
frequência sobre questões sociais sensíveis da sociedade e essas iniciativas têm
gerado repercussão nacional e podem estar fortalecendo a identidade e a marca
desses clubes.

82
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Vídeos de campanhas sociais do Fortaleza Esporte Clube


Campanha de Prevenção ao Suicídio. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=TjrCoCGI7R8 ou https://www.youtube.com/
watch?v=8uPGoyjVQe4. Acesso em: 24 nov 2021.
Ação de combate à violência contra as mulheres. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=GlBRbdm6JNU. Acesso em: 24 nov 2021.

Vídeos de campanhas sociais do Esporte Clube Bahia


Campanha de combate à homofobia. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=BsaPLQbc0vU Acesso em: 24 nov 2021.
Campanha #ZeroViolência. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=hYKRY4AKa6g. Acesso em: 24 nov. 2021.

Outro fator que acreditamos ser fundamental para gerar o engajamento da


torcida é o ato de ouvir este stakeholder. Sugerimos que o clube escute o seu fã, seja
no dia a dia quando um gestor é abordado por um torcedor na rua, seja nas redes
sociais ou em um instrumento de ouvidoria. O gestor do clube deve ser acessível a
questionamentos e solícito às demandas por atenção, naturais do comportamento
do torcedor fanático.

De forma geral, os fãs querem fazer ou se sentir parte do clube, serem ouvidos
e informados. Ao gestor cabe analisar o que recebe das torcidas e tomar as melhores
decisões para a instituição.

Embora a comunicação seja uma ação de gestão importante para o torcedor,


por experiência própria, identificamos que o fã valoriza uma gestão, também, pelas
vitórias e conquistas esportivas. As conquistas são fundamentais para o engajamento
dos torcedores. O que o torcedor mais quer do seu time? Vitória! As conquistas
geram afetividade, motivação em se relacionar com o clube, em ir ao estádio e
consumir produtos do time. As conquistas marcam e eternizam dirigentes, ídolos e
gerações vitoriosas.

Outro conceito ou perspectiva que tem feito parte, cada vez mais, das
organizações do esporte, é o de fan experience, ou seja, o entendimento das relações
do torcedor com o clube como uma experiência de entretenimento que precisa ser
melhorada para gerar mais satisfação aos fãs. Segundo Mondello e Gordon (2015),
identificar variáveis do estádio ou arena ​​que são importantes para a criação de uma

83
Gestão de Clubes de Futebol

experiência positiva no jogo pode ajudar a construir e manter uma base de fãs leais.
Para os autores, melhorando a experiência do torcedor, as organizações esportivas
podem gerar benefícios tangíveis e intangíveis adicionais ao clube.

Mosaicos como
Figura 32 – Performance dos torcedores experiência de fãs
e símbolo de engajamento dos
torcedores

Os mosaicos, elaborados
coletivamente pelos torcedores
nas arquibancadas dos estádios,
têm se tornado cada vez mais
comuns nos últimos anos. Ao redor
do mundo inteiro é possível assistir
a essas performances, inclusive
Fonte: Imagem de Leonardo Moreira/ no Brasil, onde os torcedores dos
Acervo Fortaleza Esporte Clube, cedida
para o Programa Academia e Futebol.
times cearenses, Fortaleza e Ceará,
têm se destacado nessas ações. O
mosaico é uma demonstração coletiva de amor pelo clube e de engajamento.
Os torcedores passam a noite toda, anterior ao jogo, trabalhando de forma
voluntária na montagem desses mosaicos. Isso é um exemplo belíssimo de
engajamento, que geralmente não se vê em outros setores da economia e
da sociedade, somente no esporte e, especialmente, no futebol, modalidade
esportiva mais popular do Brasil e do mundo. Nos vídeos a seguir, você
encontra alguns exemplos de mosaicos.
https://www.youtube.com/watch?v=K1llm7dJ4AQ. Acesso em: 24 nov. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=0xrKeYZ9jOo. Acesso em: 24 nov. 2021.

Em pesquisa de Ribeiro et al. (2021) sobre o consumo do torcedor no


jogo denominado Clássico Rei, entre Fortaleza e Ceará, pelo Campeonato
Brasileiro de 2019, foram identificados os principais problemas encontrados
pelos espectadores dentro do estádio, que podem reduzir a satisfação e o
engajamento dos torcedores. Os dados da pesquisa são apresentados no
gráfico a seguir.

84
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Figura 33 – Problemas indicados pelos torcedores


no Clássico Rei Fortaleza x Ceará em 2019

Fonte: Adaptada de Ribeiro et al. (2021).

A segurança interna do estádio, o comportamento desrespeitoso de alguns


torcedores e a dificuldade de acesso e de apoio no local foram os principais problemas
relatados pelos torcedores frequentadores do jogo pesquisado. A questão da
segurança, que parece sensível no país, também foi identificada em outras pesquisas
no futebol brasileiro, como Borba (2006), Carlassara et al. (2018) e Pereira e Costa
(2018), demonstrando a necessidade de atenção pelos gestores dos clubes. Além do
mais, esse tema demonstra a necessidade de os gestores dos clubes empreenderem
ações estratégicas no sentido de ampliar a qualidade da experiência oferecida ao
seu torcedor nas diversas relações com o clube, especialmente no jogo, principal
momento do futebol.

A melhoria da experiência vivenciada pelo espectador nos estádios, somada


a uma comunicação estratégica e a ofertas de produtos e serviços adequados
aos diversos perfis de torcedor podem contribuir, sobremaneira, com a ampliação
do engajamento do fã com o clube. O torcedor engajado é mais ativo, vai para o
estádio, se torna sócio torcedor, adquire o pay-per-view do clube, compra produtos
licenciados para si e para presentear filhos, familiares e amigos. Dessa forma, o
engajamento reverte em satisfação, em consumo, em experiências positivas e em
desenvolvimento do clube de futebol.

Encerramos aqui a unidade 3 e já lançamos o tema da próxima e última unidade


do curso: o presidente e o futebol do clube.

85
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 3 Lista de figuras

Figura 28a
Fonte: Imagem de Damon Nofar/Pixabay. Disponível em: https://bityli.com/zbdEY.
Acesso em: 28 jan. 2022. 

Figura 28b
Fonte: Imagem de JESHOOTS.com/Pexels. Disponível em: https://bityli.com/
UCCwmR. Acesso em: 9 dez. 2021.

Figura 31
Fonte: Imagem de Lucas Figueiredo/CBF. Disponível em: https://bityli.com/nOtox.
Acesso em: 28 jan. 2022.

86
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

UNIDADE 3 Referências

BLUMENSCHEIN, Fernando. A cadeia produtiva do futebol no Brasil. In C. Campos


et al. Futebol e desenvolvimento socioeconômico. Caderno FGV Projetos, 22, 78-
85, 2013.
BORBA, S. L. M. Marketing no futebol: uma análise dos serviços oferecidos nos
estádios de Fortaleza. (Dissertação de Mestrado), Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2006.
BRASIL. Lei nº 9.615 de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre
desporto e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1998].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm. Acesso
em: 28 out. 2021.
CARLASSARA, E. O. C.; ROCCO JUNIOR, A. J.; REIS, L. C. Fortaleza (CE): a “cidade
do sol” e o Castelão. In: A. J. Rocco Junior & L. C. Mazzei (Eds). Os estádios e
arenas do futebol brasileiro e o legado da Copa do Mundo 2014: o padrão FIFA, o
consumidor e o entretenimento. (pp. 317-385). Sarapuí: OJM Casa Editorial, 2018.
COSTA, Jorge Vieira. Tratamento contábil dos direitos federativos – Algumas
propostas para reflexão. Boletim IOB – Temática Contábil e Balanços, 7, 2005.
ERNST & YOUNG. Levantamento Financeiro dos Clubes Brasileiros 2020 – release
1.0.. Ernst & Young, 2021. Disponível em: https://assets.ey.com/content/dam/ey-
sites/ey-com/pt_br/topics/media-and-entertainment/ey-sports-levantamento-
financas-clubes-2020.pdf. Acesso em: 26 out. 2021.
FUNK, Daniel; LOCK, Daniel; KARG, Adam; PRITCHARD, Mark. Sport Consumer
Behavior Research: Improving Our Game. Journal of Sport Management,
30(30):113-116, 2016.
GIULIANOTTI, R. Supporters, followers, fans, and flaneurs: A taxonomy of spectator
identities in football. Journal of Sport & Social Issues, 26(1), 25-46, 2002.
HUNT, Kenneth. A.; BRISTOL, Terry; BASHAW, R. Edward. A conceptual approach
to classifying sports fans. Journal of Services Marketing, 13(6), 439-452, 1999.
KOTLER, Philip. Marketing. São Paulo: Atlas, 1998.
KUNSCH, Margarida. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação
integrada. 4. ed. São Paulo: Summus, 2003
MATOS, Gustavo Gomes. Comunicação sem Complicação: como simplificar a
prática da comunicação nas empresas. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
MONDELLO, Michael; GORDON, B. The NBA Fan Experience: a case study of a
professional sport franchise. Journal of Contemporary Athletics, V. 9, n. 4, 2015.

87
Gestão de Clubes de Futebol

MORGAN, Melissa J.; SUMMERS, Jane. Marketing esportivo. São Paulo: Cengage
Learning, 2008.
MULLIN, Bernard J.; HARDY, S.; SUTTON, W. Marketing Esportivo. Porto Alegre:
Bookman, 2000.
PEREIRA, Leandro de França. O Torcedor-Consumidor: Identificação com os
Clubes e Barreiras para a Adoção do Programa Sócio-Torcedor. (Dissertação
de Mestrado em Administração de Empresas). Programa de Pós-Graduação em
Administração de Empresas, Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janeiro, 2014.
PEREIRA, H. P.; COSTA, L. O. O impacto da logística na gestão dos jogos de futebol
da Arena Castelão. Anais 29º ENANGRAND, São Paulo, Brasil, 2018.
PITTS, Brenda G.; STOTLAR, David K. Fundamentos de marketing esportivo. São
Paulo: Phorte, 2002.
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo. Dicionário de comunicação. Rio de
Janeiro: Campus, 2001.
RIBEIRO, K. A.; CARLASSARA, E. O. C.; MORAES, I. F.; ROCCO JUNIOR, A. J.
Produção Técnica Relacionamento entre Torcedores e Clubes e o Consumo em
Jogo de Futebol: Análise dos Espectadores do Clássico entre Fortaleza X Ceará.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará: Relatório Técnico do
Grupo de Estudos em Cultura, Esporte e Lazer, 2021.
ROCCO JÚNIOR, Ary Júnior; CARLASSARA, Eduardo. Gestão da Comunicação e
do Marketing em Clubes de Futebol. Fortaleza: IFCE, 2021.
SANT’ANNA, Arnaldo. Propaganda: teoria, técnica e prática. São Paulo: Pioneira,
2002.
SILVA, R.F.; DIAS, S.M.B.; RIBEIRO, K.A. Gestão Financeira no Futebol - Um Estudo
das Receitas dos Principais Clubes do Estado do Ceará, Brasil. Revista de Gestão e
Negócios do Esporte, v. 5 n.1, 44-59, jan.-jun.,2020.
SOUZA, Fábio Augusto Pera. Um estudo sobre a demanda por jogos de futebol
nos estádios brasileiros. São Paulo: FEA/USP, 2004.
TAPP, A.; CLOWES, J. From “carefree casuals” to “professional wanderers”:
Segmentation possibilities for football supporters. European Journal of Marketing,
36(11/12), 1248-1269, 2002.
VASCONCELOS, Luciene Ricciotti. Planejamento de Comunicação Integrada:
Manual de sobrevivência para as organizações do século XXI. São Paulo: Summus
Editorial, 2009.

88
Unidade 4
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

O presidente e o futebol do clube

O
lá! Chegamos à quarta e última unidade do livro Gestão de Futebol do
Programa Academia e Futebol.

Nas unidades anteriores, tratamos de temas que julgamos


fundamentais para a gestão de clubes de futebol, utilizando abordagens que
alinharam fundamentos teóricos e exemplos de casos práticos. Na unidade 1,
vimos a importância do planejamento, da estrutura organizacional e da formação
de uma equipe de profissionais qualificados e alinhados aos valores e cultura
organizacional. Abordamos também, na unidade 2, os ambientes de negócio e seus
respectivos stakeholders. Já na unidade 3, apresentamos o torcedor como um dos
principais stakeholders do clube e seu engajamento como fator fundamental para a
sustentabilidade e grandeza da organização.

Nesta unidade 4, vamos tratar de um tema que consideramos muito importante


para a gestão de um clube de futebol: o presidente e sua relação com o futebol do
clube. Como deve ser essa relação? Para responder a essa questão e tratar desse
tema, optamos por uma abordagem fundamentada em nosso relato de experiência
de caso prático de gestão, vivenciado em um clube que se encontrava, na ocasião
da elaboração deste curso (2021), entre os primeiros colocados da principal divisão
do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Ao final desta unidade e, consequentemente do curso, esperamos que você


consiga compreender, de forma geral e inicial, elementos e dimensões fundamentais
para a gestão profissional de um clube de futebol.

Objetivos

€
Entender o papel do presidente ou do dirigente máximo de um clube futebol
€
Compreender as relações estabelecidas entre o gestor principal e o setor de
futebol do clube

89
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 4 Tópico 1

O presidente do clube

O
presidente de um clube de futebol, na condição de gestor ou dirigente
máximo da entidade, é o protagonista da administração do clube e parte
fundamental na estrutura organizacional da instituição.

É comum nos estatutos e organogramas dos clubes de modelo jurídico


associativo, o presidente constituir-se como líder da diretoria executiva da
organização, ou seja, o líder político e executivo chefe da instituição.

Figura 34  Florentino Perez, presidente de um dos maiores clubes


do futebol mundial, o Real Madrid, da Espanha

Fonte: Diario de Madrid (CC BY 4.0)/ Wikimedia Commons. Disponível em: https://bityli.com/atTAU.
Acesso em 1º fev. 2022.

Embora figure como a principal liderança política e administrativa de um clube


associativo, o presidente está subordinado, na estrutura de poder da entidade, aos

90
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

órgãos colegiados como a Assembleia Geral, constituída pelo coletivo de sócios


ativos e em situação regular no clube.

O presidente de um clube de futebol e sua diretoria executiva têm suas


atribuições e competências estabelecidas no estatuto ou contrato social da
organização. Entre as atribuições do presidente, citamos algumas extraídas de
estatutos vigentes de clubes nacionais:

ƒ Representar o Clube nos âmbitos judiciais e extrajudiciais, ativa e


passivamente, nos atos e contratos de qualquer natureza ou finalidade,
inclusive naqueles que importem em responsabilidade financeira de qualquer
natureza ou finalidade [...] (CLUBE ATLÉTICO MINEIRO, 2015, p. 16).

ƒ Constituir procuradores ou representantes; cumprir e fazer cumprir o


Estatuto, suas próprias decisões e as deliberações dos demais Poderes;
elaborar a proposta orçamentária; nomear e exonerar os diretores; contratar,
demitir, dispensar, premiar e punir os empregados; autorizar as despesas
previstas no orçamento e ordenar o respectivo pagamento; apresentar ao
Conselho de Administração o relatório anual sobre as atividades do exercício
anterior [...] (CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO, 2020, p. 40).

ƒ O presidente tem, na administração, a chefia geral executiva e representativa


do clube, nas suas relações internas e externas, inclusive em juízo ativa e
passivamente e, além de presidir a diretoria executiva, deve supervisionar
todos os departamentos, fazendo com que seus diretores recebam e cumpram
orientações adequadas para o bom desempenho de cada departamento [...]
(FORTALEZA ESPORTE CLUBE, 2018, p. 17).

Conheça mais atribuições do presidente e dos demais poderes


do clube acessando os estatutos sociais publicados pelos clubes de futebol
do país:
Clube de Regatas do Flamengo. Disponível em: https://fla-bucket-s3-us.
s3.amazonaws.com/public/arquivos/transparencia/38/1594917891053.pdf.
Acesso em: 09 nov 2021.
Clube Atlético Mineiro. Disponível em: https://transparencia.atletico.com.br/
documents/estatutos/24-08-2015-ESTATUTO.pdf. Acesso em: 09 nov 2021.
Fortaleza Esporte Clube. Disponível em: https://fortaleza1918.com.br/wp-
content/uploads/2018/08/Estatuto-do-Fortaleza-Esporte-Clube-atualizado-1.
pdf. Acesso em: 09 nov 2021.

91
Gestão de Clubes de Futebol

O presidente de um clube de futebol pode estabelecer relação jurídica


específica com a entidade (remunerada ou não, estatutária ou contratual), possuir
perfil característico e adotar práticas diversas de gestão e de liderança.

Em nossa opinião, não existe um modelo ou tipo único de dirigente. É possível


identificar presidentes de clube de futebol com o perfil mais estravagante ou mais
discreto, mais técnico ou mais político, mais profissional ou mais amador, boleirão,
como é chamado no meio do futebol.

Diversas pesquisas científicas nacionais objetivaram conhecer o perfil dos


gestores de clubes de futebol brasileiros. O que é possível identificar de comum nos
resultados dessas pesquisas é um perfil caracterizado, quase que exclusivamente,
por homens, que desempenham a função de presidente de forma voluntária, sem
receberem remuneração pelo trabalho e que, por isso, possuem outra atividade
laboral, condição que o impede de dedicar-se exclusivamente ao clube. Além dessas
características, é comum um perfil de dirigente com formação diversa, sendo uma
minoria com formação em gestão, principalmente em gestão aplicada ao esporte.

Pesquisas científicas que objetivaram conhecer o perfil dos


gestores de clubes de futebol brasileiros:

Azevedo, Barros e Suaiden (2004), que investigaram o perfil dos dirigentes


dos principais clubes do futebol do Distrito Federal. Disponível em: https://
bityli.com/Ewhvs. Acesso em: 25 nov. 2021.

Ribeiro, Carneiro e Marinho (2020), que pesquisaram o perfil dos gestores


do futebol da cidade de Fortaleza. Disponível em: https://bityli.com/jjmw6O.
Acesso em: 25 nov. 2021.

Machado et al. (2020), que analisaram e construíram o perfil de gestores de


clubes da série A do Campeonato Brasileiro, entre 1987 e 2019. Disponível em:
https://bityli.com/ulYz27. Acesso em: 25 nov. 2021.

Os estudos sobre os gestores do futebol demonstram que não existe um perfil


único de dirigente de clube, mesmo algumas características sendo mais comumente
identificadas entre esses profissionais. No mesmo sentido, é possível identificar tipos
e processos de lideranças distintas em uma organização.

92
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

A liderança, segundo Weese e Beard (2012), tem atraído a atenção organizacional


e é comumente vista como a principal causa de sucesso ou fracasso da instituição
esportiva. Segundo os autores, líderes eficazes usam sua inteligência e experiência
para ler situações e identificar novas possibilidades para a equipe e organização.

Segundo Barbosa (2014), a qualidade dos processos de liderança é um fator


determinante da eficácia organizacional no esporte, ou seja, do resultado atingido
por um clube de futebol, por exemplo. Para Castro (2010), o papel da liderança em
uma organização esportiva está ligado à função do gestor líder em direcionar seus
subordinados por um caminho organizado e coerente para a conquista de resultados
e esse processo envolve tarefas de gestão e de relações humanas ou interpessoais.

Devido à diversidade de perfis pessoais e profissionais dos gestores e da


amplitude e complexidade das dimensões da liderança, torna-se difícil estabelecer
um padrão único de presidente de clube de futebol, assim como não existe um padrão
de gestor de uma padaria, de uma escola ou de uma universidade. No entanto, para
qualquer tipo de organização, existem perfis e práticas mais adequados para uma
gestão profissional e com mais condições de sucesso.

Dowling, Edwards e Washington (2014), discutindo o conceito de


profissionalismo na gestão do esporte, destacam elementos que caracterizam uma
gestão profissional:

ƒ formação específica e competências do gestor;

ƒ vínculo de trabalho com remuneração;

ƒ tomada de decisão orientada em dados e evidências; e

ƒ prática e modelo de gestão fundamentados em conhecimentos técnicos e


científicos.

Finalizando este tópico da unidade 4, reafirmamos a importância do presidente


como principal gestor de um clube de futebol e de seu perfil, liderança e prática
profissional para a eficácia e sucesso organizacional. No próximo tópico, último do
nosso curso, vamos abordar a relação do gestor máximo com a atividade principal
do clube: o futebol.

93
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 4 Tópico 2

O presidente e suas relações com o futebol do clube

A
gestão da área técnica do futebol é o coração ou o carro-chefe de um
clube de futebol. O clube de futebol vive em função dos seus times, dos
seus jogadores e de suas comissões técnicas na busca por conquistas,
tanto para o seu desenvolvimento, quanto para para a satisfação de seus sócios e
torcedores.

No ambiente técnico do futebol, de gestão, de treinamento e de jogo,


acreditamos serem fundamentais as relações estabelecidas pelo presidente do
clube. No entanto, como deve ser essa relação?

Fundamentados em nossa experiência prática de gestão de clube de futebol,


acreditamos que é importante que o presidente tenha uma participação ativa e
decisiva, pois na condição de gestor máximo da organização, ele é o responsável
pela instituição e seus resultados. Em clubes de futebol sem finalidade lucrativa,
o resultado esportivo é um dos principais objetivos estratégicos e indicador de
desempenho (CHELLADURAI, 1987; WINAND et al., 2014).

Nesse contexto, mesmo o presidente não entrando em campo para jogar e


mesmo o clube possuindo gestores e técnicos especializados na área do futebol,
o dirigente máximo é o responsável pelas decisões tomadas e pelos resultados
alcançados.

Dito isso, vamos apresentar algumas práticas que adotamos e que julgamos
importantes em algumas relações do presidente com o futebol do clube.

2.1 Nos processos de contratações


Iniciamos essa seção refletindo sobre os seguintes questionamentos: qual deve
ser o papel do gestor do clube nos processos de contratações de equipe técnica

94
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

(comissão técnica e jogadores)? O presidente deve descentralizar a ação para o


gestor executivo de futebol ou participar ativamente?

Entendemos que a contratação de uma comissão técnica ou de um jogador é um


processo dos mais importantes em um clube de futebol. É um processo que envolve
a imagem, a cultura e os desempenhos técnico e administrativo do clube. Cada atleta
ou membro da comissão técnica que veste a camisa do clube representa a imagem
da organização e impacta as finanças do clube e a performance esportiva do time.

No Fortaleza Esporte Clube, por exemplo, a estrutura organizacional contempla


um setor responsável pela prospecção, análise e negociação de atletas. No entanto,
a contratação passa pela análise do presidente, que a efetiva fundamentado em um
conjunto de informações de várias áreas do clube, como a financeira, a jurídica e a
técnica. A participação efetiva do presidente pode trazer agilidade e gerar confiança
no jogador contratado.

O jogador, por exemplo, é um dos ativos


mais relevantes do clube e dessa forma, o
gestor máximo da instituição deve participar
do processo de contratação.
Fonte: Imagem de Karim Georges/Acervo Fortaleza Esporte
Clube, cedida para o Programa Academia e Futebol.

2.2 Na relação com jogadores

Como deve ser a relação do presidente com os jogadores?

Os jogadores são os artistas principais do espetáculo do futebol e, nessa


perspectiva, são importantes para a imagem, desempenho técnico e sustentabilidade
econômica dos clubes. Além de desempenharam suas atividades como atletas em
campo, os jogadores representam ativos fundamentais na economia dos clubes e
atuam, também, fora de campo, em ações comerciais e sociais.

Na relação do presidente com os jogadores, o dirigente máximo deve


compreender as especificidades da atividade e da vida de um atleta de futebol,
como sua dedicação física e técnica, as incertezas e instabilidades da carreira, os
sacrifícios como distância da família e excesso de viagens e as pressões diversas por
desempenho advindas do clube, da família, do empresário, da mídia e dos torcedores.

95
Gestão de Clubes de Futebol

O jogador de futebol, assim como qualquer outro profissional, precisa sentir


confiança em sua organização e em sua gestão. Grande parte dos atletas é composta
por jovens que precisam de suporte da organização, especialmente nos momentos
difíceis, seja na dimensão pessoal ou profissional.

De forma geral, a carreira de


atletas é caracterizada por momentos
de melhor e pior desempenhos, altos O presidente do clube
e baixos, variações ocasionadas por deve zelar por um relacionamento
profissional, transparente e
inúmeros fatores de natureza física,
igualitário, sem privilégios que
emocional, social, entre outros. Nos condenem a confiança e o ambiente
momentos difíceis, de grande pressão do clube.
interna e externa, o presidente tem
papel significativo na mediação e
resolução de conflitos, manutenção da estabilidade do ambiente e suporte ao atleta.
Nesse contexto, o gestor do clube deve ter habilidade e liderança para realizar as
cobranças quando for necessário, sempre de forma particular e nunca em público,
pois a exposição negativa do atleta é considerada no ambiente do futebol como
uma quebra de confiança, uma “trairagem” na linguagem do futebol.

Na estrutura organizacional do clube, a sequência hierárquica ou de poder,


deve ser respeitada sempre que possível e, nesse sentido, o presidente deve ser
acessível, mas não acionado sempre que o jogador tiver uma demanda. Para isso
existem os diversos setores da estrutura do clube, inclusive o setor específico no
qual o atleta está inserido, e os profissionais aos quais é diretamente subordinado,
como o técnico e o gestor do futebol.

A presença do dirigente nos treinamentos, nas viagens e nos jogos é importante


para fortalecer o sentimento de equipe e demostrar que o gestor também faz parte
das derrotas e das vitórias, que sofre e que comemora junto com a equipe. Nesses
momentos, o presidente do clube deve compreender seu papel de gestor, respeitar e
reconhecer a autoridade da gestão do futebol e, principalmente, da comissão técnica.

Por fim, um dos principais determinantes para uma boa relação dos dirigentes
com os atletas é o cumprimento da palavra e dos contratos. No ambiente do futebol,
com a profissionalização da gestão, os acordos são constituídos de maneira formal,
por meio de contratos; entretanto, ainda é comum acordos informais ou de boca, que
estabelecem premiações e concessões. Esses acordos informais devem ser evitados e,
caso existam, devem ser honrados pelos gestores. Entre os profissionais do futebol é
comum circular informações sobre clubes e dirigentes que não cumpriram seus acordos.

96
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Além de perda de credibilidade, o não cumprimento de acordos e contratos


pode gerar processos judiciais e influenciar negativamente a performance esportiva
de atletas e equipe.

2.3 Na relação com a Comissão Técnica


E a comissão técnica? Como deve ser a relação
do presidente com o técnico e sua comissão técnica?

Nos clubes com melhores estruturas de trabalho, as comissões técnicas são


constituídas por um rol de especialistas em diversas áreas relacionadas à preparação,
suporte e saúde do atleta e sua equipe. Anteriormente, essas comissões resumiam-se
ao treinador, ao auxiliar técnico, ao treinador de goleiro e ao preparador físico. Hoje, as
equipes multidisciplinares envolvem também fisiologistas, nutricionistas, psicólogos,
médicos, fisioterapeutas, massagistas, mordomos ou roupeiros, podólogos, analistas
de desempenho e auxiliares diversos. São muitos os profissionais que integram a
comissão técnica de um clube de futebol e esses são geridos, em primeira instância,
pelo técnico de futebol, o líder da equipe, o head coach.

A comissão técnica, por meio de seus profissionais, é um setor chave no


desempenho de um clube de futebol, pois tratam do principal produto ou serviço
da organização: o time de futebol.

O presidente do clube, na relação com a comissão técnica e com assuntos


de ordem técnica, deve reconhecer e respeitar os conhecimentos dos diversos
especialistas dessa equipe multidisciplinar. Por isso, é recomendável que o clube
contrate e disponha de profissionais altamente especializados, para evitar que o
presidente e os demais gestores conflitem decisões técnicas da comissão.

O treinador ou o técnico da equipe é uma figura estratégica para o clube, por


isso, a relação com o presidente deve ser de confiança. Problemas no relacionamento
do gestor máximo com o treinador pode refletir no campo de jogo e nos resultados
da equipe.

Embora o modelo de jogo do time seja geralmente definido pelo técnico,


este pode estar relacionado com a cultura do clube e, nesse contexto, deve haver
alinhamento de ideias e de valores entre o clube, o gestor e o técnico, com vistas
a não ocorrerem interferências dos dirigentes no campo de jogo. O presidente não
deve se meter em escalação ou substituição de jogadores, em sistema e táticas de
jogo. Isso é tarefa do treinador. A contratação do treinador resulta na confiança de
seu trabalho e decisões.

97
Gestão de Clubes de Futebol

O gestor do clube dispõe de momentos adequados na rotina administrativa da


organização em que pode avaliar, questionar e até participar de decisões técnicas do
time, entretanto, a competência da decisão é da comissão técnica. Cabe ao dirigente
do clube, nessa dimensão técnica, dar suporte, referendar decisões e proporcionar
condições adequadas de trabalho para o treinador e sua equipe.

Uma questão que surge de forma recorrente no meio do futebol é:


o presidente deve estar no vestiário no dia do jogo?

Fundamentado em nossa experiência prática, compreendemos o vestiário do


estádio em dia de jogo como um ambiente “sagrado” para jogadores e comissão
técnica. Do ponto de vista estratégico é um espaço sensível onde o planejamento
é repassado, avaliações são realizadas, cobranças são feitas, discussões acontecem,
enfim. Existem dirigentes que preferem não estar presentes, pois acreditam que esse
ambiente é o espaço e o tempo da equipe técnica. Por outro lado, outros dirigentes
acreditam ser importante suas presenças no vestiário, logicamente respeitando o
espaço do jogador e da comissão técnica.

Na relação do presidente com a comissão técnica no vestiário de jogo, é


fundamental que o gestor conheça e respeite os rituais e processos que estão
envolvidos desde a chegada da equipe ao estádio até sua saída após o final do
jogo, como: tempo de vestir uniforme e se equipar, massagem, alongamento e
aquecimento, reunião final com o treinador, oração e concentração, entre outros.
Nesses momentos, é fundamental o presidente saber a hora certa de falar e o
melhor local para permanecer dentro do vestiário. Nossa experiência ensinou que
estar próximo da comissão técnica e falar quando ela o faculta é a melhor opção.

Dependendo do resultado do jogo, ainda no vestiário, são exigidas atitudes


e decisões específicas do presidente. Nos casos de vitória, é comum a euforia dos
jogadores e da comissão técnica e, nesse momento, o presidente é chamado a
ofertar premiações e conceder regalias, como fornecer camisas e produtos do time,
aumentar o bicho (prêmio pecuniário por vitória), conceder folgas, entre outros.
Ao gestor, cabe administrar esse momento e não tomar decisões inadequadas
e influenciadas pela emoção. Nos casos de derrota, é importante respeitar a
necessidade do silêncio e de saber o momento correto de falar.

98
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

O presidente do clube precisa entender de futebol? Ele precisa ser


um especialista na modalidade? Qual sua opinião?

Especialista diríamos que não, porém é necessário entender de futebol, pois é a


atividade fim de um clube de futebol. O dirigente máximo deve ter conhecimento
geral, mesmo que não aprofundado, das dimensões táticas e técnicas da
modalidade, de organização e sistemas de competição, das características e
nível dos adversários, do seu elenco, das características, qualidade e potencial
de cada jogador da equipe. Acreditamos que é muito importante o dirigente
entender do produto que gere, assim como qualquer gestor tem que entender
da área em que atua. Se uma pessoa gere uma empresa de confecção, ela tem
que entender do mercado, processo produtivo, do maquinário, das costureiras
e dos produtos. Se a pessoa gere uma faculdade, ela tem que entender da
área de gestão acadêmica, dos processos de ensino e aprendizagem, dos
professores e dos estudantes. Isso é fundamental. Nem todos os dirigentes
de clubes de futebol possuem conhecimento aprofundado da modalidade,
visto que a dinâmica política dos clubes pode ocasionar alta variabilidade na
gestão dessas entidades, ou seja, troca constante de dirigentes pelo término
do mandato de gestão. No caso dos dirigentes não especialistas, é necessário
contar com profissionais qualificados para assessorá-lo na gestão do clube.

Passando para o momento final da unidade, trazemos outra questão que


permeia muito o ambiente do futebol: como o dirigente deve se comportar em
momentos de crise técnica do futebol?

O ambiente dos clubes futebol do Brasil é caracterizado por alta competitividade


e ciclicidade, ou seja, alta incerteza e variabilidade de resultados. No início de uma
temporada ou de uma competição, é muito difícil afirmarmos, com certeza, quem
será o melhor time ou o campeão. Isso é um fator positivo do ponto de vista do
esporte, da possibilidade real de competitividade pelos clubes, porém é um fator de
instabilidade organizacional, pois um clube pode obter ou não sucesso nas disputas.

Na realidade do esporte competitivo, para um clube vencer é necessário que seu


adversário seja derrotado e, nesse contexto, existem tantas vitórias quanto derrotas e
nem todos alcançam o resultado que pretendiam. Projetos esportivos estabelecidos
pelos clubes, com bom elenco de atletas e comissão técnica especializada, não
são garantia de sucesso nas competições e de bola na rede, porém geram grandes
expectativas dos gestores, sócios e torcedores. Quando existe uma expectativa
maior do que a satisfação pelos resultados alcançados pelo time, as cobranças
começam a acontecer e uma crise de ordem técnica pode ter início no clube.

99
Gestão de Clubes de Futebol

Nesse momento o presidente o clube deve exercer sua liderança e tomar


decisões profissionais como gestor e não como torcedor, fundamentado na razão
e não somente na emoção. Ciente que a performance esportiva de uma equipe de
futebol é influenciada por inúmeros fatores internos e externos (físicos, técnicos,
táticos, psicológicos, administrativos e ambientais, como qualidade dos adversários),
e que essa instabilidade ocasiona momentos de alto e de baixo desempenho numa
competição ou em uma temporada, o gestor não pode simplesmente trocar a
comissão técnica ou alguns jogadores sempre que a cobrança aumenta e uma crise
técnica aconteça.

Figura 35 – Crise técnica no futebol e responsabilização dos técnicos

Fonte: Imagem de Alexander Böhm (CC BY-SA 4.0) /Wikimedia Commons. Disponível em:
https://bityli.com/ITync. Acesso em: 1º fev. 2022.

Trocar a comissão técnica em momentos de crise técnica parece ser uma


prática comum no futebol brasileiro, mesmo com medidas regulamentares sendo
implantadas pelas entidades dirigentes da modalidade com vistas a limitar
essa ação dos clubes. Estudos como o de Azevedo, Almeida e Ramalho (2021)
analisaram a eficácia da troca de treinadores no desempenho de clubes de futebol
e verificaram que essa mudança não se mostrou uma estratégia efetiva de melhoria
de performance.

100
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

Nesse contexto, o líder deve transmitir tranquilidade para a comissão técnica,


para o grupo de jogadores e para sua própria diretoria que, em muitos casos, é
muito influenciada e pressionada por sócios e agentes externos, como torcidas,
grupos políticos contrários, meios de comunicação, entre outros. Como gestor
máximo da organização, o presidente do clube deve assumir a responsabilidade
pelos resultados do seu time e reduzir, assim, a pressão que geralmente recai sobre
técnico e jogadores.

Quando a pressão pública vem


do gestor máximo do clube, o efeito
negativo sobre o grupo técnico pode O dirigente deve ter
ser maior e o clima organizacional equilíbrio e profissionalismo
pode ser comprometido. Assim, no tanto nos momentos de vitórias
processo de liderança, o presidente e conquistas, quanto nos de crise
deve se assegurar que as medidas e derrotas. Acreditamos que um
líder se destaque nas situações de
administrativas e de relações
crise e destaca seus liderados nos
humanas sejam adequadas à
momentos de conquista.
intensidade da crise, até que o
momento seja superada e os gols
e as vitórias voltem a acontecer.
Quando esse ciclo virtuoso voltar a
acontecer, o líder deve promover o
reconhecimento e dar o destaque à
equipe de trabalho, principalmente
para quem está na linha de frente Fonte: Imagem de Karim Georges/Acervo Fortaleza Esporte
Clube, cedida para o Programa Academia e Futebol.
da organização, nesse caso, para a
comissão técnica e jogadores.

Finalizando a unidade 4 e, consequentemente, o livro Gestão de Clubes de


Futebol, agradecemos sua confiança e dedicação. Buscamos selecionar e apresentar
conhecimentos teóricos e experiências práticas que julgamos importantes para a
formação inicial de um gestor de clubes de futebol. Esperamos ter contribuído
com sua formação, com a ampliação de seus conhecimentos e inspiração para
continuar estudando e militando na área do futebol e em prol do desenvolvimento
do esporte brasileiro.

101
Gestão de Clubes de Futebol

UNIDADE 4 Referências

AZEVEDO, Caio Oliveira; ALMEIDA, Aléssio T. Cavalcanti; RAMALHO, Hilton M.


Brito. Rotatividade de treinadores e o desempenho das equipes de futebol no
Brasil. Economia Aplicada, 25(1), 5-32, 2021. DOI: https://doi.org/10.11606/1980-
5330/ea171487.
AZEVÊDO Paulo Herinque; BARROS JF, SUAIDEN S. Caracterização do perfil do
gestor esportivo dos clubes da primeira divisão de futebol do Distrito Federal e
suas relações com a legislação esportiva brasileira. Revista da Educação Física/
UEM, 15(1):33-42, 2004.
BARBOSA, Cláudio Gomes. Liderança na gestão do esporte universitário:
proposta da criação de uma rede de dados. Dissertação (mestrado) -
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2014.
CASTRO, Ana Luísa Neves. O gestor desportivo e o processo de liderança: análise
e caracterização do estilo de liderança adoptado na piscina municipal de Rio
Tinto Gondomar. Dissertação (Mestrado em Gestão Desportiva) – Faculdade de
Desporto, Universidade do Porto, 2010.
CHELLADURAI, P. Multidimensionality and Multiple Perspectives of Organizational
Effectiveness. Journal of Sport Management, 1(1), 37-47, 1987.

CLUBE ATLETICO MINEIRO. Organograma. Disponível em https://transparencia.


atletico.com.br/documents/organogramas/CAM%20-%20Organograma%20Geral.
pdf. Acesso em 09 de novembro de 2021.
CLUBE ATLETICO MINEIRO. Estatuto do Clube Atlético Mineiro. 2015. Disponível
em https://transparencia.atletico.com.br/documents/estatutos/24-08-2015-
ESTATUTO.pdf . Acesso em 09 de novembro de 2021.
CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO. Estatuto Social. 2020. Disponível
em https://fla-bucket-s3-us.s3.amazonaws.com/public/arquivos/
transparencia/38/1594917891053.pdf . Acesso em 09 de novembro de 2021.
DOWLING, Mathew; EDWARDS, Jonathon; WASHINGTON, Marvin. Understanding
the concept of professionalisation in sport management research. Sport
Management Review, 2014). DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.smr.2014.02.003.
FORTALEZA ESPORTE CLUBE. Estatuto Social do Fortaleza Esporte Clube.
2018. Disponível em https://fortaleza1918.com.br/wp-content/uploads/2018/08/
Estatuto-do-Fortaleza-Esporte-Clube-atualizado-1.pdf. Acesso em 09 de
novembro de 2021.

102
Marcelo Paz | Kleber Ribeiro

MACHADO, Alexandre J.; FREITAS JÚNIOR, Miguel Arcanjo; PEDROSO, Bruno;


CAPRARO, André Mendes. Análise do perfil da gestão dos clubes de futebol
brasileiros através da Teoria das Elites. Revista da Alesde, v. 12, n. 2, p. 90-105,
2020.
RIBEIRO, Kleber AUGUSTO; CARNEIRO, Emmanuel Alves; MARINHO, Robson
Oliveira. Perfil dos Gestores dos Clubes de Futebol da Cidade de Fortaleza – Brasil.
Revista Intercontinental de Gestão Desportiva, v. 10, e10005, 2020.
WEESE, W. J.; BEARD, S. Rethinking the Teaching of Leadership in Sport
Management. Sport Management Education Journal, 2012, 6, 1-7, 2012.
WINAND, Mathieu; VOS, Steven; CLAESSENS, M.; THIBAUT, E.; SCHEERDER, J. A
unified model of non-profit sport organizations performance: perspectives from
the literature. Managing Leisure, 19(2), 121-150, 2014.

103
Foto de jcomp/Freepik.

Você também pode gostar