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CENTRO DE TECNOLOGIA
NÚCLEO INTERDISCIPLINAR PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO
SOCIAL MESTRADO PROFISSIONAL TECNOLOGIA PARA O
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
2023
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Introdução
O capitalismo tem intensificado cada vez mais a desigualdade entre a população brasileira.
A lógica neoliberal do capital está tão entranhada na sociedade que até o ato de acompanhar seu
time de coração vem sendo cada vez mais ceifado da população mais pobre, que tenta a sua
maneira participar do esporte mais popular do país. O subúrbio carioca é uma das regiões mais
pobres da cidade e portanto uma das que mais sofre com o constante movimento de segregação
social imposta pelo capitalismo. Uma das formas que os suburbanos cariocas têm encontrado
para lutar contra essa lógica excludente que vem sendo imposta a eles é a prática de futebol
amador, as famosas "peladas de fim de semana", e o circuito que se forma em torno da
organização dessa peladas tem sido um é um importante movimento social de resposta exclusão
promovia pela elitização do popular esporte bretão. Se os autos preços dos ingressos impedem a
parcela mais pobre do subúrbio de frequentar os estádios e acompanhar seu time de coração nos
estádio, eles formam seu próprio campeonato com times formados por amigos, se não tem
dinheiro para bancar várias plataformas de streaming para ver o jogos, do seu time, transmitem os
jogos de graça pelas plataformas digitais para que todos possam assistir. Assim o suburbano vai
bolando maneiras de lutar contra o constante processo de exclusão promovido pelo capitalismo
que engoliu até o mais popular esporte do Brasil.
O futebol é sem sombra de dúvidas o esporte com maior abrangência e nível de penetração
social do Brasil. O brasileiro respira futebol e isso independe da região, religião ou classe social.
Seja nos campos gramados e bem equipados dos vários clubes de lazer espalhados pelas regiões
mais nobres, ou nos diversos campos “rala coco1”, dos subúrbios e periferias, fato é que a bola
sempre rola.
É bem verdade que essa popularidade e relevância não são exclusividades do Brasil, não
sendo nenhum exagero apontar o futebol como o esporte mais popular do mundo. Um fado que
exemplifica bem isso está no torneio olímpico de futebol, que diferente de todas as outras
modalidades esportivas que compõem as Olimpíadas, não é formado pelos atletas de elite. Os
melhores jogadores de cada país, não são selecionados para participar do torneio, o comitê
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Expressão muito usada no subúrbio para caracterizar um campo de qualidade ruim, sem gramado, ou
com o gramado desnivelado e esburacado, longe das condições ideais para a bola rolar.
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olímpico de cada país fica limitado a convocar apenas jogadores com idades abaixo de 21,
podendo levar no máximo 3 atletas acima dessa idade, para formar a selecionado que irá disputar
o torneio olímpico. Os melhores jogadores, que compõem a seleção principal, são reservados
para disputar um torneio separado, dedicado exclusivamente a prática do esporte bretão. A Copa
do Mundo de futebol, que, assim como as Olimpíadas, acontecem de 4 em 4 anos, tendo
proporções econômicas, sociais e políticas tão grandes ou maiores que ela.
No Brasil, porém, o futebol tem a peculiaridade de transcender a barreira esportiva já que
é tido como um dos principais elementos de formação da identidade nacional. Não à toa ocupa
lugar de enorme relevância no debate público. Os principais canais de mídia dedicam horas para
debater sobre o esporte, encaixando em sua grade diversos programas onde o esporte bretão é
destaque. Na TV aberta ou fechada, na rádio ou internet, o futebol sempre aparece como destaque
e recebe muita audiência do público em geral. Com o advento das redes sociais essa exposição e
dedicação só fez aumentar, chegando ao ponto de existirem diversas contas, nas mais variadas
redes, dedicadas a falar exclusivamente sobre futebol, tratando desde um determinado clube em
específico, a temas sobre o jogo de maneira geral.
É de se se imaginar que com essa enorme importância o futebol penetrou rapidamente nos
mais variados espectros da sociedade brasileira, ocupando naturalmente espaço de destaque no
cotidiano das pessoas que se dedicam, de alguma maneira, a compreender e retratar a sociedade.
Desta maneira logo no início da implementação do esporte no Brasil, já surgiram vários trabalhos
dedicados a compreender e registrar a importância que o esporte já vinha ocupando no cenário
sócio-econômico da época. É bem verdade que essa percepção nunca foi uma unanimidade, da
mesma forma que existiam pessoas que encaravam o violento esporte bretão com seriedade,
existia uma parcela relevante e influente da sociedade que considerava o futebol uma futilidade,
algo de menor ou nenhuma relevância, achando inclusive uma tremenda perda de tempo dedicar
energia para melhor estudá-lo. Uma parcela enorme da elite intelectual brasileira, considerava
inclusive o futebol como algo danoso à sociedade. Por muito tempo se propagou a ideia de que o
futebol, o carnaval e diversas outras manifestações populares coletivas dessa natureza, eram os
grandes responsáveis pela alienação das massas, os culpados pelo subdesenvolvimento do país,
“o ópio do povo”. Apesar dessa linha de pensamento não estar totalmente morta e encontrar eco
em alguns setores da sociedade até os dias de hoje, desde o final dos anos 1970, quando o futebol
passou a ser tema mais frequente dentro do ambiente acadêmico, há um certo consenso a respeito
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“Por outro lado, a profissionalização reflete mais o contexto socioeconômico do que o amor pelo esporte. Em
Bangladesh, por exemplo, 6 milhões de pessoas jogam regularmente futebol, mas não existe nenhuma que o faça
profissionalmente. Em termos de praticantes amadores, a China, com 26 milhões, os Estados Unidos, com 25,5, a
Índia, com 20,5, estão à frente do Brasil e seus 13 milhões. Esses 7% da população brasileira também ficam bem
atrás dos 27% da Costa Rica e 20% da Alemanha.” (Franco Jr. 2013, p. 48
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futebol.
As maneiras de torcer, praticar e vivenciar o violento esporte bretão no Brasil, vão muito
além do que simplesmente assistir ao jogo do seu clube de coração, seja no estádio ou em casa.
Muitas vezes o seu clube de coração sequer joga em um estádio, pode ser desde o grupo de
peladas que sua família participa a anos ou a equipe amadora que a pessoa joga ou acompanha
nos campeonatos de várzea espalhados pelos subúrbios e periferias do país. Basta uma ida num
domingo de manhã a uma praça pública dotado de um campo de futebol no subúrbio carioca que
a bola vai estar rolando e a cena que se encontra é a de várias pessoas extremamente envolvidas
com o jogo, praticando, organizando ou assistindo. Os impactos vão do comerciante local, que
tem seus lucros aumentados consideravelmente por conta das peladas de fim de semana, e em
alguns casos vivem basicamente disso, aos moradores e participantes do evento que muitas vezes
tem nele sua única forma de lazer e envolvimento com o esporte mais importante do país.
Ao me deparar com isso surgiram alguns questionamentos. Porquê algo tão relevante tem
pouco espaço nos grandes veículos de mídia e nos estudos acadêmicos? O que explica o
envolvimento diferenciado que o suburbano carioca tem com a prática do futebol com relação aos
moradores das outras regiões? Existem na história da formação e expansão do futebol e dos
clubes do subúrbio elementos que os diferenciam dos clubes da elite e ajudam a explicar essa
relação mais intensa com a prática do futebol amador?
A elitização do futebol é algo cada vez mais perceptível na sociedade brasileira, e vem
acompanhando o avanço do capitalismo. Com a expansão das políticas neoliberais da década de
90 a desigualdade se intensificou, como o futebol está inserido nesse contexto social não é
nenhuma surpresa que ele acabe espelhando a intensa exclusão social em que vivemos. O antes
popular esporte está cada vez mais excludente para com a população menos abastada da
sociedade, cenário que vem se intensificando nos últimos anos, sobretudo após o mundial de
seleções organizado pela FIFA em 2014 no Brasil. A Copa do Mundo trouxe o fenômeno da
arenização dos estádios de futebol, excluindo ainda mais os pobres dos estádios, que se viram
incapazes de bancar os altos valores cobrados pelos ingressos das badaladas arenas. A
fragmentação dos meios de transmissão dos jogos por diversas empresas de streamers foi uma
espécie de pá de cal no processo de elitização, pois com isso nem o direito de assistir aos jogos na
televisão aberta o pobre tem mas, já que os jogos ficaram espalhados por vários canais de
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streaming diferentes o torcedor tem que gastar muito mais para acompanhar seu clube de coração,
o que acaba segregando do ainda mais o futebol, já que em um país tão desigual como o nosso
são poucos os que podem gastar dinheiro para acompanhar seu clube de coração.
Apesar de ter se intensificado nos últimos, a elitização do futebol não é um fenômeno novo,
e encontra raízes históricas na chegada e posterior expansão do esporte no Brasil. O jornalista
carioca Mário Filho (1994), um dos primeiros cronistas esportivos do país, apontava em sua obra
que não havia lugar para pobres e pretos na prática do violento esporte bretão. A proibição de
negros, operários, trabalhadores braçais, além do impedimento da profisinoalizção do esporte
eram algumas das pricnpais estratégias para pertmitir que somente a camada mais favorecida da
sociedade pudesse jogar futebol. A despeito dos já citados esforços da elite para impedir a prática
do velho esporte bretão pelas classes populares, o futebol se espalhou rapidamente pelo subúrbio
carioca, tornando-se o esporte mais popular dessa região, demonstrando que desde sua chegada
ao brasil a população suburbana encontrou maneiras de se organizar e resistir a lógica excludente
das elites.
Objetivos
O presente trabalho tem por objetivo estudar a prática do futebol amador no subúrbio do
Rio de janeiro, especificamente nos bairros de Campo Grande e Realengo, e identificar a
importância cultural, social e econômica dessa prática na região, olhando para o futebol como um
elemento de lazer e afirmação da identidade do suburbano carioca. Além de ser uma resposta a
constante exclusão promovida pelo processo de elitização do futebol espetáculo.
ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA
enriquecedora contribuição para a pesquisa pois demonstra como o futebol é plural e vai muito
além da forma espetacularizada, elitista e mercantilizada do futebol profissional. É justamente
por conta dessa diversidade que se faz necessário não só falar de futebol no plural, mas pensá-lo
dessa maneira, indo em contraponto ao mainstream que majoritariamente exclui, ou delega menor
importância, às outras formas de manifestação do esporte na sociedade.
O fato de esse campo esportivo constituir um enorme mercado que movimenta milhões
de reais todo ano, tem enorme importância nisso, sobretudo em uma sociedade capitalista como a
nossa. Para além da dimensão material, vale ressaltar o enorme simbolismo contido nessa
diferenciação entre amador e profissional. Diferenciação que não se limita ao esporte bretão.
Bourdieu, ao tratar dessa questão nos traz uma importante reflexão a respeito da formação do
esporte moderno e como essa diferenciação entre amadores e profissionais foi ganhando outras
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Cronograma.
Resultados
O principal resultado que pretendo alcançar com essa pesquisa é a formulação de uma
cartilha que sirva de modelo para que outros bairros que passam pela mesma situação de exclusão
social e econômica dos bairros estudados tenham um norte, um modelo que sirva para direcionar
a organização de campeonatos e práticas de lazer em torno do futebol amador. Essa cartilha deve
ser construída junto com comunidade que organiza e participa, usando os conceitos da
pesquisa-ação (THIOLLENT, 2004) e pensando essa cartilha não como algo engessado, e sim
como algo interativo onde a população que vá utilizar tenha liberdade para acrescentar ideias nos
moldes da educação popular (FREIRE, 1987). pois não se pretende ensinar nada mais sim
construir junto à população ferramentas que permitam que outras pessoas possam também se
organizar e resistir a constante exclusão quem sendo promovida pelo capital que cooptou até o
simples ato de torcer.
Referências.
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BOURDIEU, Pierre. 1983. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero. p 136-153.
DAMO, Arlei Sander. Futebóis: apresentação. FuLiA / UFMG. Belo Horizonte, v. 3, n. 3, p. 3-9,
2018.
FILHO, Mario. O Negro no Futebol Brasileiro. 4ª Edição, Rio de Janeiro: Mauad, 2003.
FRANCO JÚNIOR, H. Brasil, país do futebol?. Revista USP, [S. l.], n. 99, p. 45-56, 2013.
DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i99p45-56. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/76216. Acesso em: 28 set. 2023
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 44–69.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 13a edição. São Paulo: Cortez, 2004,
p.7-45.