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Resumo
INTRODUÇÃO
Portanto, por centenas de anos, os pensadores ocidentais se tornaram os únicos legítimos para a
produção de conhecimento tornando os espaços acadêmicos hegemonicamente eurocêntricos.
Diante destes pressupostos, apontamos para o Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior
Indígena da Universidade Federal de Goiás (UFG) como um importante objeto de análise desta
pesquisa e de seus desdobramentos, pois por ser um curso voltado para a interculturalidade de
povos de diferentes etnias dentro de um espaço acadêmico ainda europeizado e colonizado
epistemologicamente, compreendemos que este curso pode ter uma grande relevância por sua
trajetória de resistência e formação de professores para a educação das comunidades indígenas.
Com tais questões em tela, surge uma instigação maior para a investigação que opera as
seguintes problemáticas: como a constituição de um curso para a formação de professores
indígenas, dentro de um espaço que valoriza as bases epistêmicas eurocêntricas, pode favorecer a
uma educação decolonial? Decolonizar a educação é propor a criação de novas condições
sociais, políticas, culturais e epistemológicas que fogem do parâmetro do conhecimento
europeizado. Portanto, buscamos investigar a formação da licenciatura indígena, refletindo sobre
como os seus caminhos de (re)existência para a consolidação da educação escolar indígena
poderiam, de certo modo, criar possibilidades para a formação de professores indígenas dentro
da perspectiva de decolonialidade. Além disso, compreender o lema de “licenciatura
intercultural” defendida pelo NTFSI nos traz outro questionamento: esta relação intercultural
entre os saberes indígenas e não indígenas desta licenciatura configura-se em uma
interculturalidade crítica questionadora, ou apenas num multiculturalismo funcional? Partindo
deste problema, podemos investigar as propostas de interculturalidade do curso e em como
desenvolvem este processo por meio das interações dos diferentes conhecimentos para a
construção de um novo espaço epistemológico.
Para tanto, este trabalho está estruturado de forma que primeiramente seja traçado a
contextualização dos surgimentos das licenciaturas interculturais no Brasil. Após este percurso,
pretende-se apresentar o Núcleo Takinaraky de Formação Superior Indígena, sua história e seu
modelo de educação a partir da análise documental do Projeto Político-Pedagógico da
Licenciatura Intercultural e os programas de Temas Contextuais que compõem a ementa do
curso. Posteriormente, serão apresentados os resultados parciais da análise documental a partir
das discussões imbricadas aos referencias teóricos selecionados para a pesquisa. Em seguida, as
considerações finais do trabalho propõe refletir acerca das contribuições da licenciatura indígena
para a construção de uma educação e formação de professores indígenas pela perspectiva
decolonial.
Antes de tudo, é importante apresentar o objeto deste estudo, mas não para ser
enxergado apenas como mero objeto, mas como algo que foi construído por diferentes sujeitos
históricos. O Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena não é apenas um curso da
UFG, mas sim uma licenciatura intercultural que perpassou por uma longa trajetória de luta e
resistência para se efetivar dentro da instituição. Segundo o PPP (2006) esta licenciatura está
sob a direção da Faculdade de Letras da UFG e foi fundada no ano de 2007 com a colaboração
de diferentes especialistas indígenas e não indígenas. O NTFSI estabelece princípios de
interculturalidade devido a interação de diferentes povos com as diferentes áreas do saber.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
1
Referências retiradas no site da Universidade Federal de Goiás-UFG, portal do Núcleo Takinahakỹ de Formação
Superior Indígena. Disponível em: <https://intercultural.letras.ufg.br/>. Acesso em: 17 de maio de 2021.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como finalidade investigar propostas outras que possibilitam para
uma formação de professores e educação escolar para além de uma prática pedagógica e
educativa ocidentalizada, hierarquizada e eurocêntrica. Ao analisar o PPP e os programas de
Temas Contextuais, compreendeu-se que, apesar de ainda haver resquícios de saberes e
metodologias de ensino tradicional e ocidentalizado, este projeto de educação articulado por
meio da relação intercultural entre saberes “universais” e saberes “indígenas” constitui um
caminho para a decolonização do saber. Compreende-se que a formação de intelectuais
indígenas proporciona a construção de novas bases epistêmicas que podem contribuir
efetivamente para os próprios modos de vida da comunidade indígena. Formar intelectuais
pesquisadores indígenas é levar para essas comunidades e para o resto do mundo a
possibilidade da construção de um conhecimento não colonizado, ou seja, um conhecimento
político, biológico, sociológico, antropológico, histórico e geográfico de raiz não-ocidental.
Com a abertura do espaço acadêmico para a formação de professores indígenas, o
processo de construção do conhecimento pode considerar os saberes destes sujeitos, suas
próprias resistências e de suas próprias trajetórias para a ocupação deste ambiente da
intelectualidade como é o ensino superior. A formação de professores indígenas de modelo
intercultural e multilíngue passou a ser um mecanismo de resistência contra o silenciamento
dos saberes das ancestralidades de seu povo. Além desses fatores, decolonizar as licenciaturas,
decolonizar a educação escolar, decolonizar o conhecimento e decolonizar a própria formação
de professores para públicos indígenas não é uma tarefa fácil, mas pode ser construído por
meio de pequenas mudanças como foi o exemplo da criação dos Temas Contextuais e do
esforço de uma elaboração de uma educação intercultural. Neste sentido, as propostas
presentes no PPP e nos Temas Contextuais constroem uma nova perspectiva de formação de
professores pautada na pesquisa e investigação que traz aspectos dos conhecimentos indígenas
e que constroem novos conhecimentos não colonizados. Sendo assim, concluímos também que
outras licenciaturas têm muito o que aprender com a educação intercultural, pois a prática da
interculturalidade é um efetivo caminho para a formação da educação diferenciada,
multilíngue, multicultural e consequentemente, decolonial.
REFERÊNCIAS
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2002.
LOPES DA SILVA, Aracy. A questão da Educação Indígena. São Paulo: Brasiliense, 1981.