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MARÍLIA - 2020
Resumo
A partir de um levantamento bibliográfico, leis, cartilhas e reportagens sobre o
futebol, faremos uma contextualização histórica, social, econômica e política do
futebol brasileiro para entendermos o processo de coisificação do jogador de futebol
profissional. Assim, poderemos então, a partir de entrevistas semiestruturadas,
saber o quanto esse processo afeta os jogadores. Num contraponto, destacamos o
técnico e psicólogo Fernando Diniz que acredita que o futebol é uma máquina de
moer gente e se coloca contrário ao sistema atual, buscando fazer um futebol
humanizado. Por meio de observação participante e entrevistas não dirigidas,
tentaremos responder as perguntas: Será Diniz, no Brasil, um precursor de um
futebol humanizado? Qual o seu papel na vida dos jogadores que o tem ou já o
tiveram como técnico? Como o seu posicionamento pode contribuir para termos um
esporte mais humanizado? Esse projeto irá contribuir para levantarmos esse tipo de
debate no meio acadêmico, visto que diante dos estudos na sociologia do futebol
não encontramos nada nesse sentido.
Introdução
Notamos que desde sempre as manifestações culturais estão intimamente
ligadas ao contexto político, econômico e social do país em que estão inseridas.
Elas não são somente um reflexo de determinado momento, mas estão também
inseridas no processo histórico de uma sociedade. Para que possamos entender
essa relação no futebol, é importante fazermos um levantamento histórico do próprio
esporte. Levine em Esporte e Sociedade: o caso do futebol brasileiro (1982) divide a
história em quatro períodos e depois, Rodrigues, em Modernidade, disciplina e
futebol: uma análise sociológica da produção social do jogador de futebol (2004)
acrescenta mais um período, sendo os cinco: a) primeira fase (1894-1904), b) fase
amadora (1905-1933), c) fase do profissionalismo (1933-1950), d) fase do
reconhecimento internacional e da comercialização do futebol (1950-1970) e e)
modernização e comercialização do futebol (1970 aos dias atuais).
O futebol não ficou fora disso, a chamada ginga brasileira, uma técnica
futebolística, foi considerada um elemento importante na construção da identidade
nacional. Gilberto Freyre (1945) considera o futebol brasilero a expressão da
mistura das três raças e a ginga dos atletas dentro de campo fundou o estilo próprio
de jogar futebol.
Como já dito, esse estilo de jogo ficou conhecido como futebol-arte e então,
adentramos numa breve explicação da diferença entre este último e o futebol-força.
Podemos colocar aqui como futebol brasileiro (futebol-arte) e futebol europeu
(futebol-força), onde o primeiro é marcado pelas categorias: improviso, malandro,
artístico, individual, natureza, dom, habilidade, intuição, artístico e espetáculo;
enquanto o segunda é marcado pelas categorias: racional, eficiência, rigidez,
clássico, força, escola, competitivo, coletivo e aprendizado (DAMO, 2002, p.125).
Essa disciplina é o que vai moldando o que Florenzano (1998) define como
corpo-máquina. O autor faz uma crítica à essa repressão imposta pela
modernização do futebol, pois o jogador que foge às regras é tido como
jogador-problema.
1
Entrevista de José Paulo Florenzano ao site Ludopédio em 12 de outubro de 2009. Disponível em:
https://www.ludopedio.com.br/entrevistas/jose-paulo-florenzano-parte-2/. Acesso em 18 de setembro
de 2020.
coisas. No futebol podemos perceber isso na venda de jogadores, tomando o
caráter de mercadoria e na combrança excessiva da torcida, como se os jogadores
fossem objetos que precisem entregar sempre os melhores resultados.
2
Tweet retirado do usuário @FIFAcom em 06 set.2020, 7:54 p.m.
<https://twitter.com/FIFAcom/status/1302741962240544769> Acesso em 20 set.2020.
Guarulhos, foram abordados com xingamentos, intimidação e ameaça de agressão
física.3
3
<https://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/noticias-corinthians-protesto-ameac
a-torcedores-jogadores.ghtml> Acesso em 20 set.2020.
4
<http://www.espn.com.br/noticia/567682_chamado-de-cone-fred-desabafa-queria-entrar-num-b
uraco-e-nao-sair> Acesso em 20 set.2020.
5
<https://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/07/13/astro-alemao-em-1990-critica-excess
o-de-choro-de-brasileiros-na-copa.htm?cmpid=copiaecola> Acesso em 20 set.2020.
Podemos dar luz à essas atitudes com um apontamento de Anatol Rosenfeld (2007,
p.106): “Assim, o futebol leva a uma catarse das massas, a uma descarga do ser
animal (...) e a uma sublimação de tensões que, como se mostrou, contam, no
Brasil, com uma abundância extraordinária de pontos de cristalização e de
condensação”.
Diante disso, o que não encontramos com facilidade são apoiadores de Diniz.
Enquanto o técnico busca um futebol mais humano, é cobrado por resultados e nem
sempre humanização e resultados estão no mesmo ritmo. Numa analogia com a
música, são como notas em compassos com valores de tempos diferentes, elas
podem existir e coexistir, mas cada uma no seu ritmo, mas ambas fazem parte da
música como um todo. Exemplo disso foi a quantidade de críticas que Fernando
Diniz recebeu por escalar Gabriel Sara como titular em vários jogos seguidos e esse
jogador não apresentava o resultado esperado pela torcida. Em coletiva de
6
<https://videos.bol.uol.com.br/video/fernando-diniz-futebol-e-uma-maquina-de-moer-gente-e-causar-
sofrimento-0402CD1B3464C0C16326> Acesso em 20 set.2020.
imprensa em setembro de 2020, após empate de São Paulo e Santos com dois gols
de Gabriel Sara, Diniz coloca:
Justificativa
Como apontou Bourdieu (2004), a sociologia do esporte encontra muitos
obstáculos pois, por muito tempo, ela foi desdenhada pelos sociólogos e
desprezada pelos esportistas.
Quando fazemos um levantamento das pesquisas em torno do futebol,
notamos alguns temas mais explorados, sendo eles: a história do futebol, o futebol
como identidade nacional, o futebol enquanto organização, a profissionalização e
modernização do futebol, torcidas organizadas, o uso político desse esporte e o
7
Coletiva de imprensa pós jogo São Paulo e Santos no canal do Youtube do São Paulo:
<https://www.youtube.com/watch?v=qRnRM9bZ0eE&t=947s> Acesso em 20 set.2020.
racismo no futebol. É partindo desses estudos que entenderemos os aspectos
relacionados ao futebol para que assim possamos entender o processo de
coisificação de jogadores profissionais e levantar como contraponto o processo de
(re)humanização desses jogadores, tendo como um expoente desse pensamento de
esporte humanizado o técnico Fernando Diniz.
A importância dessa pesquisa se dá pelo fato de ser um assunto de grande
relevância, visto as consequências da coisificação do ser humano, assunto
praticamente inexistente dentro da sociologia do esporte. Como apontado, os
estudos dessa sociologia se dá prioritariamente no viés cultural e não nas relações
mercantis aqui expostas.
Objetivo Geral
Esse projeto tem como objetivo contextualizar o futebol brasileiro dentro dos
aspectos históricos, sociais, econômicos e políticos para conhecer o processo de
coisificação do jogador profissional de futebol e compreender como discursos e
atitudes de sujeitos diretamente ligados ao futebol podem contribuir para o processo
de (re)humanização do jogador de futebol, ou seja, como construir, a longo prazo,
um esporte humanizado?
Objetivos Específicos
Procedimentos metodológicos
Nos últimos anos, alguns trabalhos merecem atenção e destaque por
apresentarem análises teórico-metodológicas expressivas sobre o futebol brasileiro,
contribuindo para o enriquecimento da produção científica e acadêmica num viés
histórico e cultural. Historiadores e sociólogos, preocupados com os possíveis
diálogos entre futebol, história e sociedade, acabaram por apresentar análises
significativas que nos despertam o interesse e consequentemente nos remetem à
futuras pesquisas.
Sabendo que os fatos sociais não podem ser analisados isoladamente, mas
que precisam ser pensados em meio às influências políticas, econômicas e
culturais, acrescentaremos a observação participante no clube no qual Diniz estará
inserido durante o desenvolvimento da pesquisa, como mais uma técnica de
pesquisa, pois ela possibilita o exame de sentidos de “um grupo, evento ou
indivíduo de um contexto.” (VICTORA; KNAUTH, HASSEN, 2000, p. 63).
ANTUNES, Fatima Martins Rodrigues Ferreira. O futebol nas fábrica. In: Revista
USP. São Paulo, v. 22, p. 102-109, 1994.
DAMO, Arlei Sander. Futebol e identidade social: uma leitura antropológica das
rivalidades entre torcedores e clubes. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2002.
_______. O ethos capitalista e o espírito das copas. In: Gastaldo E, Guedes SL,
organizadores. Nações em campo: Copa do Mundo e identidade nacional. Niterói:
Intertexto; 2006.
FREYRE, Gilberto. Futebol brasileiro e dança. In: Seleta para jovens. Rio de
Janeiro: Editora José Olympio, 1971.
MELANI, R, Negrão RF. Passe para a servidão. Discorpo - PUC, São Paulo, nº 4,
abr.1995;
RODRIGUES, Franciso Xavier Freire. In: Sociologias. Porto Alegre: ano 6, nº 11,
jan/jun 2004, p. 260-299.