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HISTÓRIA LOCAL: O RECONHECIMENTO DA IDENTIDADE

PELO CAMINHO DA INSIGNIFICÂNCIA


MÁRCIA DE ALMEIDA GONÇALVES

PROF. DR. DAVISON HUGO (PROFHISTÓRIA/UNIFESSPA)


MÁRCIA DE ALMEIDA GONÇALVES

• Possui Licenciatura em História, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1987), mestrado em
História, pela Universidade Federal Fluminense (1995) e doutorado em História Social, pela
Universidade de São Paulo (2003). Professora Associada na UERJ, atuando nas áreas de História do
Brasil e Teoria da História, com ênfase em: política e cultura na sociedade imperial, historiografia
brasileira, escrita biográfica, memorialismo, história local, educação patrimonial, ensino de história e
formação docente. Jovem Cientista do Estado pela FAPERJ, entre 2010 e 2016. Coordenadora
Institucional do PIBID-UERJ (2011-15). Coordenadora do Programa de Pós Graduação em História do
IFCH/UERJ (2015-2019). Cientista do Nosso Estado pela Faperj, a partir de 2017. Coordenadora
adjunta do Mestrado Profissional em Ensino de História - ProfHistória - da UERJ. Coordenadora do
Núcleo de Estudos sobre Biografia, História, Ensino e Subjetividades - NUBHES. Pesquisador 2 CNPQ.
OBJETIVO GERAL

• Pensar e conceber a história local como campo de produção de uma consciência histórica, cujos
usos, valores e sentidos nos interessam investigar.
HISTÓRIA LOCAL E A INSIGNIFICÂNCIA NO
GRANDE ESQUEMA DAS COISAS

Para Gaddis, “o estabelecimento da identidade requer o reconhecimento de nossa relativa


insignificância no grande esquema das coisas”. Este seria, no seu entender um dos significados da
maturidade das relações humanas e mais, do próprio valor de uso da consciência histórica.
PROCURANDO SENTIDOS PARA A
PRODUÇÃO HISTÓRICA

• Citado as ideias de outro historiador, Geoffrey Elton, Gaddis afirma que “o caminho da
insignificância” conforma um aprendizado capaz de fazer com que esse sujeitos humanos, tão
viciosamente inclinados a relacionar o mundo para si mesmos, passem a se relacionar com o
mundo.
HISTÓRIA LOCAL E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

• A história local e a consciência histórica estão intimamente relacionadas e se influenciam


mutuamente. Ambas desempenham um papel fundamental na compreensão do passado, na
construção da identidade e na participação de sujeitos como protagonistas e comunidades.
A NOÇÃO DE IDENTIDADE E PERTENCIMENTO
DENTRO DA HISTÓRIA LOCAL

• A história local desempenha um papel fundamental na formação da identidade das comunidades.


Ao conhecer e compreender sua história local, as pessoas desenvolvem um senso de
pertencimento e conexão com sua comunidade, seus antepassados e seu território. A
consciência histórica permite que as pessoas se situem em uma tradição histórica e
compreendam como suas experiências individuais e coletivas se relacionam com o passado local.
A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NO PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM DE FORMA DINÂMICA

• A história local desempenha um papel significativo na educação histórica, pois permite que os
estudantes se envolvam com o passado próximo e compreendam como a história afeta suas
vidas.
• A consciência histórica encoraja a inclusão da história local nos currículos escolares, para que os
estudantes possam aprender sobre seu ambiente imediato e desenvolver uma conexão pessoal
com a história.
O PROJETO HISTÓRIA DE SÃO GONÇALO:
MEMÓRIA E IDENTIDADE

• No passo de nossas investigações, a associação entre a história de São Gonçalo e o local, como
eixo de problematizações, não se estabeleceu a priori, tendo sido articulados a partir de uma
intensa complementaridade entre o fazer das práticas de pesquisas e as dúvidas e definições
teóricas que informam, tanto quanto foram informadas, essas mesmas práticas de pesquisas.
A HISTÓRIA LOCAL REDIMENSIONA AS
NARRATIVAS DO LUGAR

• Pensar e escrever sobre a história de São Gonçalo nos levou a história local, na mesma medida
que nossas informações sobre a história local redimensionaram possibilidades de narrar histórias
de um lugar chamado São Gonçalo.
A CONSTRUÇÃO DE OUTRAS TRAMAS DE
CONHECIMENTO

• A história, como conceito polissêmico, remete a dois grandes sentidos, quais sejam, a historia
como experiência, a história como conhecimento. O adjetivo local, por sua vez, responde a uma
qualificação que estabelece a circunscrição de um lugar. Esse sentido, se manifesta mais
claramente no uso do verbo localizar, qual seja, situar algo em um lugar, o que por outro lado,
nos leva a uma ação. A história local, é intrínseca complementaridade, conjunto de experiência de
sujeitos em um lugar, é também, o conhecimento sobre o conjunto dessas experiências.
A HISTÓRIA LOCAL ENTRE AÇÃO E LUGAR

• Em suas indagações sobre o objeto local, Bourdin, em grande parte interessado em caracterizar
efeitos e marcas políticas de mundialização de valores culturais, em especial quanto às práticas
políticas, privilegia o local como categoria de análise de processos nos quais se manifesta a
relação entre ação e lugar.
• Nesses termos, o local seria um recorte em espaços sociais delimitados pelas proporções do
que o saber matemático, no estabelecimento de medidas e grandezas, identifica como unidade.
A HISTÓRIA LOCAL COMO EXPRESSÃO DE
MÚLTIPLAS VARIAÇÕES DO LUGAR

• Diferente da lógica matemática, contudo, o recorte do local, para sociólogos, historiadores,


antropólogos, e tantos outros estudiosos de sujeitos humanos em suas vidas mundanas, não
segue rigidamente os ditames de uma classificação ordenadora de sua extensão.
• Nas suas materialidades históricas, e exatamente pelas múltiplas variações que elas assumem, o
que é reconhecido e identificado como pertencente ao âmbito local possui configurações
diversificadas.
AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE LOCAL

• A título de exemplificação, o local pode ser associado a uma aldeia, a uma cidade, a um bairro, a
uma instituição – escolas, universidades, hospitais - , e, como escolha por vezes recorrente, a um
espaço político-administrativo, como distritos, freguesias, paróquias, municipalidades.
A HISTÓRIA LOCAL COMO SINÔNIMO DE
COMUNIDADE

• A despeito das variações, como destaca Alain Bourdin, o local é um lugar de sociabilidade
marcado pela proximidade e pela contiguidade das relações entre os sujeitos que se estabelecem
e talvez, por isso, seu uso, entre sociólogos, em muito tenha sido articulado ao conceito de
comunidade.
REDIMENSIONANDO O CONCEITO DE LOCAL

• Alain Bourdin propõe chaves conceituais e teóricas para categorizar o local, pautando-se no
mais das vezes, nos estudos de autores sobre comunidades rurais da França. Por outro lado,
explicita que uma reflexão sobre o objeto local, nos últimos trinta anos, se estabeleceu em
estreita conexão com os estudos sobre os efeitos da globalização, destacando entre eles, os
revisionismos e debates sobre a questão nacional.
A HISTÓRIA LOCAL COMO LUGAR DE PRODUÇÃO
DE CONHECIMENTOS

• A nós, interessa, no entanto, destacar a concepção de história local que a entenda como
conhecimento histórico produtor de consciência acerca das relações entre ações de sujeitos
individuais e/ou coletivos em um lugar, dimensionando em sua ordem de grandeza como unidade.
• O estabelecimento desses lugares/unidades, por seu turno, se materializa na ação de homens no
mundo, ou seja, no curso de suas experiências históricas, nas quais se inserem os atos de
nomear, leiam-se identificar e localizar, os lugares onde se vive.
O DEBATE EM TORNO DA ESCALA DE
OBSERVAÇÃO

• Se o local é condicionado pela história de vida dos sujeitos individuais e coletivos, se é como
unidade, campo no qual se estabelecem relações marcadas pela proximidade e pela contiguidade,
a possibilidade de estudá-lo e conhece-lo hoje está profundamente está profundamente
relacionada a escala de observação.
INFORMAÇÕES SOBRE COMUNIDADES OU
GRUPOS HUMANOS

• O debate surge porque há diferentes abordagens e perspectivas sobre qual escala de


observação é mais relevante ou abrangente para o estudo histórico. Alguns argumentam que a
história local é essencial para compreender a diversidade e a complexidade das experiências
humanas em contextos específicos. Eles afirmam que é necessário ir além das generalizações
globais e analisar as particularidades locais para obter uma compreensão mais completa do
passado.
ESCALA DE OBSERVAÇÃO E SUAS CONEXÕES
DENTRO DO TRABALHO HISTORIOGRÁFICO

• Os defensores da escala de observação mais ampla argumentam que é importante considerar as


conexões e os padrões que transcendem as fronteiras locais. Eles afirmam que a história global
ou regional oferece uma perspectiva mais abrangente das forças históricas subjacentes, como os
processos econômicos, políticos e culturais em larga escala, além de permitir análises
comparativas e identificação de padrões históricos.
OS EFEITOS DE CONHECIMENTO SENDO PENSADO A
PARTIR DE OUTRA FORMA APRESENTAR A NARRATIVA
HISTÓRICA
• Revel acrescenta que a micro-história se pautou na mudança das escolas de análise, com isso
produzindo diferentes efeitos de conhecimento. Como no uso de uma lente objetiva, em uma
fotografia, o enquadramento do objeto focado não se limita a mera ampliação ou redução do
mesmo, mas à própria maneira de apresentar a sua forma.
UM OLHAR PRÓXIMO PARA A FRONTEIRA

• Ao delimitar lugares sociais de sujeitos e coletividades, ao circunscrever efeitos de


conhecimento próprios, o conceito de escala de observação nos insere ao entendimento de que
uma fronteira não é o ponto onde termina algo, mas, como os gregos reconheceram, “a fronteira
é o ponto a partir do qual algo começa a se fazer presente”.
ABERTURA PARA AS ESPECIFICIDADES DO LUGAR

• Ao elegermos o local como perspectiva de abordagem para as histórias de São Gonçalo,


estabelecemos um recorte, uma fronteira onde algo começou a se fazer presente: sociabilidades
diversas, em temporalidades e territórios variados, passaram a ganhar forma, retratadas que
eram na busca de outros efeitos de conhecimento.
ESCOLHA DE UM PONTO DE PARTIDA NA
FRONTEIRA

• Nesse ponto de reflexão uma interrogação de faz necessária. Em que medida a eleição local, sob
a ênfase da valorização das escalas microscópicas de abordagem das relações sociais, se
antagoniza ou desqualifica escolhas centradas em outras perspectivas, como as delegadas às
histórias da nação?
UM OLHAR ESPECÍFICO PARA ELEIÇÃO LOCAL

• A eleição do local não diminui ou reduz ou simplifica o número de aspectos, variantes e


interferentes de uma trama social. No recorte priorizador do local, cada detalhe mais ou menos
aparente pode adquirir significação própria, o que não ocorre em uma abordagem centrada em
planos mais macroscópicos de análise.
OBSERVAM-SE AS REDE E OS JOGOS DE NEGOCIAÇÃO,
APROPRIAÇÃO E CIRCULAÇÃO DE GRUPOS E
INDIVÍDUOS.
• As análises sobre história local permitem redimensionar a aparente dicotomia centro/periferia,
deslocando tais categorias por intermédio da noção de rede e de jogos de negociação,
apropriação e circulação que informam as relações entre grupos e indivíduos, em especial, no
campo das micropolíticas do quotidiano, espaços marcados pela proximidade e pela contiguidade
das relações.

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