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Angela de Castro Gomes

 O interesse cada vez maior dos leitores, a partir do que pode se observar nos
títulos das livrarias, pelo que chamamos de escrita de si, colocadas através do
gênero biográfico e autobiográfico.

 “Cartas, diários íntimos e memórias, entre outros, sempre tiveram autores e


leitores, mas na última década, no Brasil e no mundo, ganharam um
reconhecimento e uma visibilidade bem maior, tanto no mercado editorial, quanto
na academia. A despeito disso, não são ainda muito numerosos os estudos que se
dedicam a uma reflexão sistemática sobre esse tipo de escritos na área da história
no Brasil. As iniciativas que constituem exceções provêm muito mais do campo da
literatura e, recentemente, de estudos de história da educação.” (p. 08)
 A produção literária é atravessada pela escrita de si de seus principais
intelectuais, que desejam registrar seus desejos, visões e angústias.

 No campo da história da educação a importância da escrita de si se dá tanto pela


importância do exercício de escrita de cartas no processo de ensino-
aprendizagem quanto pelo fato de que muitos docentes eram do sexo feminino,
que, com poucas possibilidades de expressar seus sentimentos, os colocavam
através de cartas e diários íntimos.

 “A escrita auto-referencial ou escrita de si integra um conjunto de modalidades do


que se convencionou chamar produção de si no mundo moderno ocidental. Essa
denominação pode ser mais bem entendida a partir da idéia de uma relação que
se estabeleceu entre o indivíduo moderno e seus documentos.” (p. 10)
 “O ponto central a ser retido é que, através desses tipos de práticas culturais, o
indivíduo moderno está constituindo uma identidade para si através de seus
documentos, cujo sentido passa a ser alargado. [...]” (p. 11)

 “As práticas de escrita de si podem evidenciar, assim, com muita clareza, como uma
trajetória individual tem um percurso que se altera ao longo do tempo, que decorre por
sucessão. Também podem mostrar como o mesmo período da vida de uma pessoa
pode ser “decomposto” em tempos com ritmos diversos: um tempo da casa, um tempo
do trabalho etc. E esse indivíduo, que postula uma identidade para si e busca registrar
sua vida, não é mais apenas o ‘grande’ homem, isto é, o homem público, o herói, a quem
se autorizava deixar sua memória pela excepcionalidade de seus feitos. Na medida em
que a sociedade moderna passou a reconhecer o valor de todo indivíduo e que
disponibilizou instrumentos que permitem o registro de sua identidade, como é o caso
da difusão do saber ler, escrever e fotografar, abriu espaço para a legitimidade do
desejo de registro da memória do homem “anônimo”, do indivíduo “comum”, cuja vida
é composta por acontecimentos cotidianos, mas não menos fundamentais a partir da
ótica da produção de si.” (p. 13)
 A escrita de si e os perigos da ilusão biográfica.

 A relação entre texto e autor: o que é, afinal, o autor?

 A escrita de si pode constituir também parte de um “teatro da memória”, de forma


que o indivíduo se mostra uma espécie de personagem de si mesmo.

 Muitos textos também trazem consigo elementos pertinentes às condições de


existência de seu tempo.

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