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O TRABALHO DAS QUEBRADEIRAS DE COCO E A

MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA1
Eliseu Riscarolli

“Ô não derrube essas palmeiras


Ô não derrube os palmeirais
Tu já sabes que não podes derrubar
Precisamos preservar as riquezas naturais”.

Estrofe cantada pelas quebradeiras durante o trabalho.


Autoria João Abelha

1 INTRODUÇÃO

Não é mais novidade pra ninguém que as mulheres estão atuando nos mais
diferentes setores da vida produtiva. Da cozinha à gerência de empresas multinacionais a
participação delas cresce a cada dia. No entanto, velhas questões da divisão social e sexual
do trabalho, base da opressão da mulher na sociedade e na família, devem ser buscadas da
combinação do espaço cotidiano da empresa, do sindicato e da família da trabalhadora
(Souza-Lobo. 1991. p. 42). Muitas são as discussões necessárias e urgentes, porém, aqui
estaremos refletindo sobre o trabalho (ou a falta dele) das quebradeiras de coco de
Campestre – Ma, tendo como pano de fundo o desmatamento do babaçual provocado pela
instalação da Usina Caiman, das conseqüências ambientais e de saúde para a população,
principalmente para as mulheres uma vez que a empresa instituiu a política de não contratar
mulheres para os trabalhos de campo ou na maquinaria, exceto para funções de limpeza.
Estas mulheres trabalham com uma matéria prima produzida pelo babaçueiro
(Orbignya phalerata martiana e oleifera – AREACACEAE). Por sua vez, esta é uma
palmeira que pode atingir até 20m de altura, natural nas terras dos estados do Maranhão,
Piauí, Mato Grosso, Rondônia, oeste do Pará e norte do Tocantins. Da planta tudo se
aproveita: palha, tronco e fruto. Do coco, que cresce em cachos com ate 500 frutos, pode
se fazer carvão, extrair o óleo de babaçu que tem propriedades medicinais além de servir
para produção de sabonetes, shampus, cremes e combustível para as lamparinas; da palha,

1
Este trabalho foi realizado em parceria com a aluna Neusani Oliveira Ives e apresentado pelo autor
em 2005 no Congresso Internacional Educação e Trabalho realizado na Universidade de Aveiro –
Portugal. Com revisões e acréscimos para esta publicação.

1
cobertura para as casas do sertanejo, confecção de cestos, chapéus, peneiras, janelas; do
tronco, madeira para suprir as necessidades da vida cotidiana das famílias que habitam a
mata dos cocais, nome dado à região onde a abundância de palmeiras é constante, entre
elas a babaçu. Alem disso, o tronco apodrecido serve de adubo natural nas pequenas
plantações ao fundo dos quintais das casas.
O nome babaçu é de origem tupi e seu nome científico faz referência ao
paleontologista francês Dórbgny, que visitou a região entre os anos de 1826 a 1834. Esta
planta tem sido fonte de renda de milhares de famílias na região de transição do nordeste
brasileiro para a Amazônia e se constitui, fundamentalmente, num trabalho desenvolvido
por mulheres sertanejas – quebradeiras de coco - que fazem desta atividade sua principal
fonte de recursos econômicos para manutenção de sua família, visto que na maioria das
vezes o marido se encontra longe da casa, também trabalhando em atividades
precariamente remuneradas.
Este trabalho tem despertado nas comunidades rurais um interesse em aumentar a
discussão sobre a sustentabilidade econômica-social dos envolvidos, uma vez que tem
aumentado o avanço das áreas agrícolas mecanizadas, sobretudo cana-de-açúcar, soja e
milho na região em questão. Além disso, a procura por produtos fabricados artesanalmente
e de natureza orgânica tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Uma das
tentativas de fomentar e dar organicidade a programas de sustentabilidade agroambiental
esta sendo a implantação do Consórcio de Segurança Alimentar de Desenvolvimento
Sustentável Local – CONSAD, um sub-projeto do programa Fome Zero. Este projeto esta
sendo implantado na região do Bico do Papagaio – Estado de Tocantins.
Neste sentido, a discussão empreendida a seguir objetiva refletir sobre a vida das
mulheres no sertão, especialmente das quebradeiras de coco babaçu do município de
Campestre do Maranhão – Ma, das relações que elas estabelecem com o meio ambiente e
dos desafios que são vencidos no cotidiano de modo a custear a subsistência da família em
condições adversas e sem muita opção de escolha. Pretende-se ainda identificar as
estratégias que elas utilizam(ram) para fazer frente às adversidades que o mundo do
trabalho impõe aos trabalhadores do mundo moderno, seja na organização especifica delas,
seja nas questões comum aos dois gêneros como a luta pela manutenção dos direitos
trabalhistas e previdenciários.

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2 AS MULHERES NO SERTÃO

O Bico do Papagaio é uma região de grandes contrastes: rica e pobre, verde e seca,
cobiçada e desprezada. Ali é muito comum a presença de uma floresta de palmeiras de
babaçu, responsável pela sobrevivência de milhares de famílias. Ela se localiza na
confluência dos rios Araguaia e Tocantins, extremo norte do estado de Tocantins.
Mas os conflitos na região Amazônica não surgiram agora. Ela já enfrentou três
ondas diferentes de ocupação/exploração e nesse contexto a mulher, de uma forma ou de
outra esteve presente. Com os bandeirantes no século XVII e XVIII aparecem as primeiras
notícias sobre as atividades desenvolvidas por mulheres tem-se a idéia de que “as relações
sociais capitalistas desde o século XVIII até hoje, se equilibram precariamente na crença
que as mulheres mais “ajudam” do que “trabalham” (Maluf, apud Bittar, 1995). Aqui as
mulheres aparecem como simples esposa doméstica, como concubina ou na condição de
escrava, seja para trabalhar na agricultura, seja para servir aos caprichos sexuais do dono.
Raramente na condição de quem tem poder – um exemplo que foge a regra é Teresa de
Benguela, líder de um quilombo no MT. No século XIX, essa invisibilidade vai sendo
“descoberta” à medida que os relatos de naturalistas e viajantes, ou mesmo das próprias
mulheres que vão se tornando público. Nesta direção, aparecem Cora Coralina (Goiás),
Carlota Carvalho (Maranhão), entre outras.
Relatos de Tocantins (1877), Pinkas (1885), citados na obra de Simonian (2001) dão
conta de quão opressivas eram as condições em que as mulheres viviam na floresta –
seringais, castanhais e balatais. O certo é que elas sempre estiveram presentes na produção
da vida material, muito embora desvalorizadas, invisibilizadas, silenciadas.
No século XX, com a chegada dos governos militares ao poder, novas orientações
foram definidas no sentido de reorientar as políticas de ocupação, manuseio do solo, a
posse das terras e da riqueza sob o pretexto de ocupar as fronteiras dos espaços vazios;
finalmente implantando a política de preservar as riquezas naturais sob pressão dos países
ricos. Contraditoriamente estes mesmos países devastaram suas reservas, mas, no entanto,
se reservam no direito de decidir sobre a vida dos habitantes da floresta, sejam eles
indígenas, quebradeiras de coco, ribeirinhos, pescadores entre outros.

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Mesmo assim, depois da metade do século, a Amazônia foi alvo de uma ocupação
desordenada, durante o chamado milagre econômico do governo militar. O pensamento da
época não priorizou a educação ambiental. Muitas cidades foram criadas em Rondônia,
Mato Grosso, Pará, Amazonas e Tocantins. Junto havia a promessa de que a ocupação da
Amazônia serviria para cuidar das fronteiras. Lá estavam, também, as mulheres cuja tarefa
era:
[...] as mulheres, de modo geral, tem sido incumbidas de certas tarefas
sociais cujo trabalho desobriga os homens, isto é, os libera da necessidade
de cuidar não só de seu próprio corpo, como ainda dos lugares que
habitam. Isentos disso, estão livres para ingressar num mundo mais
abstrato, em conseqüência disto só tomam como real o que se ajusta ao
seu mundo mental, o que contribui para que o trabalho das mulheres deixe
de ser visto e representado como atividade humana real (Maluf, apud
Bittar, ano, p 76).

Como em outras regiões do país, a diversidade também é constante por aqui. Sertanejos e
camponeses que há 300 anos cultivam a terra e usufruem a floresta para a sobrevivência de
suas famílias, indígenas, que lutam incessantemente pela manutenção de suas tradições e
pelo direito de ser diferente, ribeirinhos, que às margens dos rios Araguaia e Tocantins
fazem das águas sua condição de existência.
O Bico ficou conhecido com a movimentação provocada pela Guerrilha do
Araguaia2 nos anos 60 e mais tarde com os conflitos e assassinatos de posseiros e padres3
por causa da posse pela terra. É nesta região que encontramos a mata dos cocais, uma
região cuja floresta é rica em palmeiras de variadas espécies4 e que fornecem a subsistência
de milhares de famílias – homens, mulheres e crianças. Das palmeiras tudo se aproveita,
conforme já referido acima. A palha, o coco, a madeira e a sombra nos dias em que o sol
escaldante torra a palha do capim e as esperanças do povo sombra que protege homens,
mulheres e o gado. Sabonete, chapéus, cestos, redes, cosméticos e madeira são algumas das
utilidades dadas às palmeiras da região.

2
Movimento armado ocorrido na década de 60 às margens do Rio Araguaia que tinha por objetivo
combater a política instituída pelo regime militar com apoio do governo dos E.U.A. Alguns dos
integrantes do grupo armado foram exilados, outros mortos. Entre os integrantes do grupo de
rebeldes estavam José Genuíno e José Dirceu, membros do governo Lula.
3
O caso mais noticiado de assassinato ocorrido no Bico do Papagaio foi o Pe Josimo Tavares
ocorrido em 1985 no escritório da Comissão Pastoral da Terra, na cidade de Imperatriz – MA.
4
Entre as espécies da mata de cocais estão: buriti, babaçu, buritirana, jussara, tucum, bacaba,
piaçaba, pupunha, macaúba entre outras.

4
Às mulheres está reservado um importante papel neste cenário de transição do
cerrado para a floresta amazônica. Delas depende a vida de muitas famílias. No côco de
babaçu está a sobrevivência de milhares de pessoas, sobretudo mulheres e crianças.
A presença das mulheres na região do Bico do Papagaio não é um fato novo. Elas
aparecem na literatura a partir do século XVIII com mais freqüência. Relatos de Carlota
Carvalho5 sobre a vida cotidiana da região são um exemplo disso. Mas outras personagens
fortes marcam a história deste lugar. D. Apolônia, fundadora da cidade de Boa Vista, atual
Tocantinópolis; Beata Joana, braço direto do Frei Francisco; as intelectuais de Carolina –
Josina Ayres, Maria Luiza e Chrisantina Monturil. Se considerarmos o séc. XIX, a figura
de Cora Coralina não pode ser esquecida já que o Tocantins não existia enquanto unidade
federada.
Para falar de mulheres na região do Bico do Papagaio é preciso falar em dona
Raimunda. Quebradeira de coco, agente sindical que incorporou a tarefa de organizar as
mulheres que, por décadas, ficaram à margem das decisões políticas e sociais das cidades e
do próprio Estado. Raimunda é uma mulher que tem personalidade forte que não se abate
por conversas de políticos de plantão. De estatura baixa, mas com voz forte impõe respeito.
Ela já andou pelo Brasil defendendo o direito de homens e mulheres que não tem nada além
da esperança de poder satisfazer seu desejo de ter com a terra uma relação amorosa, alem
de fonte de riqueza para a sobrevivência.

3 GÊNERO, TRABALHO E MEIO AMBIENTE

Se a participação de mulheres nos processos produtivos remonta as discussões de


Marx (2002), as questões teóricas sobre gênero e desenvolvimento sustentável são bastante
recentes, começaram a florescer nos anos de 1970. Assim, abordar o trabalho de mulheres
relacionado ao desenvolvimento sustentável requer que mencionemos a questão da
degradação do solo em virtude do desmatamento, das queimadas que na maioria das vezes
é o único recurso para o pequeno camponês preparar sua roça, da escassez de água devido a
falta de conscientização das populações, da utilização de herbicidas nas grandes plantações

5
Letrada residente no Maranhão que viajou pelos rios Tocantins e Araguaia fazendo relatos de suas
impressões sobre a vida cotidiana. Filha da Elite maranhense, sua obra de maior prestigio é O sertão
– subsídios para a historia e geografia do Brasil. Ética. 2000.

5
de soja, trigo, cana-de-açúcar e milho que se destinam a abastecer principalmente os
mercados da Europa. Da necessidade de organização dessas guerreiras surge por volta de
1980 o movimento das quebradeiras de coco babaçu como forma de protesto pela ocupação
das terras pelos fazendeiros.
O termo quebradeiras está associado a afinidades como parentesco, vizinhança,
credo religioso e até afinidade política. De posse de um machado e um pedaço de madeira
roliça partem para a floresta de babaçu para quebrarem o coco. Aquelas mais ágeis
conseguem até 10 kg de amêndoas depois de oito horas de trabalho diárias. O grande
desafio das quebradeiras e a distância que devem percorrer para apanhar o coco já que os
proprietários de terras na maioria das vezes as proíbem de quebrá-los dentro das fazendas.
Cerca de 300 mil mulheres estão envolvidas na atividade de quebrar o coco de
babaçu nos estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará. Tais famílias
tinham e tem ainda dois desafios: uma relação com a natureza e outra com os fazendeiros,
fato que fica evidenciado na fala a seguir:

Antes a gente era sujeito a quebrar e depois de quebrar ainda enfrentar o


fazendeiro, enfrentar o vaqueiro, enfrentar. Ir lá fazer o empecilho das
derrubadas, então para a gente é uma mudança muito grande, muito
embora economicamente a gente não sinta grande evolução, mas só o fato
da gente dizer a palavra babaçu livre, para entrar e sair, coletar e quebrar,
já é uma mudança grande (Maria Alaídes Alves de Souza, depoimento
colhido via página da Assema, ver nota 13).

Neste ponto, percebe-se claramente o alerta de Marx (2002. p. 67)6 “[...] o trabalhador não
tem apenas de lutar pelos meios físicos de subsistência, deve ainda lutar por alcançar
trabalho”. Esta fala da quebradeira sobre os impedimentos para a realização do trabalho faz
referencia à Lei do Babaçu livre.
Com base na Lei Estadual N. 4734 de 1986 a associação das quebradeiras inicia um
movimento pela aprovação de leis municipais7 em alguns municípios do estado do

6
Marx. K. Manuscritos Econômicos e Filosóficos. Martin Claret. São Paulo. 2002. p. 67.
7
No geral esse instrumento jurídico estabelece áreas de preservação do babaçu e áreas de cultivo da
roça. Garante o livre acesso das quebradeiras ao babaçual, independente da área ser pública ou
privada. Também trazem no seu bojo princípios de educação ambiental além de estabelecer multas
em caso de desmatamento desordenado. Nos municípios de Capinzal do Norte, Lima Campos,
Itapecuru, Dom Pedro e Timbiras o projeto se encontra em fase de discussão nas câmaras
municipais.

6
Maranhão, entre eles Lago do Junco Lei N. 005/97; Lago dos Rodrigues Lei N. 032/99;
Esperantinópolis Lei N. 255/99 e São Luiz Gonzaga Lei N. 319/2001 que tornam os
babaçuais espaços de livre acesso para o trabalho das quebradeiras.
Os babaçuais cobrem uma área de cerca de 18 milhões de hectares, numa região de
transição entre o semi-árido nordestino e a floresta amazônica. Muitas vidas foram ceifadas
na defesa do espaço de trabalho das famílias. Mais tarde com a construção das rodovias
Belém-Brasília e Transamazônica, as famílias começam uma outra batalha: a de defender o
espaço dos babaçuais dos grileiros e jagunços que a mando dos proprietários de fazendas
invadem as terras para garantir a posse ao patrão (Martins. 1989.)
A vida na floresta depende uma negociação continua, seja entre os membros da
família, seja entre os grupos de extrativistas e aqueles que querem a terra para negócio, para
lucrarem ou mesmo para servir de camuflagem às práticas ilegais como trabalho escravo e
refúgio de traficantes, esta última luta ganhou visibilidade nos chamados empates8. Mesmo
assim, as mulheres da Amazônia brasileira estão dando um novo colorido às lutas e
desnudando as inúmeras facetas da exploração que o capital impõe as mulheres – indígenas,
ribeirinhas, quebradeiras de coco, camponesas, afro-descendentes, prostitutas entre outras.
Os traços colonizadores do Tocantins, Maranhão, Pará, Goiás e Mato Grosso
mesmo apresentando características diferenciadas, têm, também traços comuns.
Independente da época de colonização, todos foram ocupados para suprir a avidez dos
bandeirantes pelas riquezas da região. Com eles veio o gado e com isso a ocupação de
grandes áreas para as fazendas foi empurrando os posseiros e indígenas para o sertão e mais
tarde, expulsando uns para as cidades e confinando outros em reservas.
Aqueles/as que permaneceram no campo se depararam com uma segunda situação
de desconforto: a chegada da modernização agrícola e a mecanização de milhares de
hectares de terras na região Centro-Oeste e alguns estados da região norte como Rondônia e
Tocantins.

8
Segundo Simonian, empate é uma ação socio-politica que visa impedir o desmatamento da
floresta, especificamente dos seringais, foram organizados em fins de 1970 sob a liderança do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e de Xapuri.

7
4 DESAFIOS DO TRABALHO NA FLORESTA

Mas a vida na floresta não é apenas o que Rede Globo mostra em sua tela. O IDH
na Amazônia é extremamente baixo, praticamente inexistente. No caso do Estado do
Tocantins o índice é o 17° da nação brasileira, com 0,710 (2000)9. Já no caso do Estado do
Maranhão o IDH é de 0,647. Este índice diminui se tomarmos como exemplo os
municípios que instituíram a lei do Babaçu10. No relatório de 2001, o Brasil foi considerado
um país com médio IDH. Já a Costa Rica e a Suíça estão classificados como países de alto
IDH, fato no mínimo estranho para dois países em que um pode ser classificado como de
primeiro mundo e o outro de ´terceiro´.
Políticas de desenvolvimento sustentável têm tomado conta das discussões dos
grupos organizados que dependem da vida direta das riquezas da floresta, rios e outros
ecossistemas da natureza do qual algumas milhares de famílias estão diretamente
dependentes quanto a sua sobrevivência. Além da questão do desenvolvimento sustentável,
outros dois fatores influenciam diretamente a qualidade de vida das famílias amazônicas: o
acesso à educação e à saúde pública.
Se verificarmos o nível de acesso e produção do conhecimento na região amazônica,
veremos que ela oferece uma riqueza de oportunidades. Entretanto, a considerar-se que são
as universidades que detêm a supremacia sobre o desenvolvimento de tecnologias do
mundo moderno, na região enfocada, temos apenas sete universidades federais das 54
existentes no país11. É também nesta região, que se concentra o maior índice de
analfabetismo do país, juntamente com o nordeste brasileiro.
Na questão da saúde, os dados não são muito animadores. A distância é um dos
fatores “naturais” com o qual os habitantes da floresta têm de conviver. A falta de hospitais
com equipamentos e de profissionais que se dispõe a trabalhar no interior da Amazônia são
fatores complicadores. Desnutrição e problemas ligados às verminoses, malária, dengue são

9
www.rankbrasil.com.br acesso em 12/07/2004.
10
Campestre do Maranhão que ainda não possui uma lei especifica mas se constitui no lócus deste
trabalho tem IDH de 0,633. Os municípios que instituíram a lei são: Lago do Junco com IDH de
0,567; Lago dos Rodrigues com IDH de 0,575; Esperantinópolis com IDH de 0,593 e São Luiz
Gonzaga do Maranhão com IDH de 0,543. www.frigoletto.com.br/GeoEcon/idhMA.htm acesso em
12/07/2004.
11
www.capes.gov.br acesso em 12/07/2004.

8
as doenças mais comuns. Mesmo assim, os dados da OMS (2002) indicam que a esperança
de vida para mulheres é de 72 anos contra 65 anos para homens. Dados como estes são
importantes para podermos compreender a luta das mulheres e homens que ficam
esquecidos pelo poder público local, estadual e federal. Somente são lembrados quando se
aproxima o período eleitoral.
O estudo das condições de trabalho antes e pós implantação da usina se caracteriza
numa tentativa de identificar as situações socioeconômicas vividas por essas famílias que
inicialmente viviam do extrativismo vegetal, da roça de subsistência e da pecuária de
poucas rezes. Agora se vêem inseridas num processo imposto pelo modelo econômico onde
a tecnologia dita as regras e a monocultura passa a ser a única forma de trabalho.
Uma comunidade que por muito tempo vivera da atividade de extração do coco
babaçu se vê agora com seu meio de subsistência usurpado. Tal fato porem não eliminou
por completo essa atividade, ela ainda é desenvolvida apenas com finalidade de suprir
necessidades caseiras mais prementes. A introdução de outra forma de produção não
impede de que as mulheres preservem traços da cultura local, dos costumes invisíveis e
subvalorizados pelo processo de modernização da produção.
Segundo dados preliminares colhidos na entrevistas com quebradeiras do município
de Campestre - MA, depois da instalação da Usina Caiman um alto índice de pessoas com
diabetes passou a fazer parte da população (este fato depende de verificação na secretaria
de saúde municipal/estadual a fim de comprovar ou não sua veracidade. Pode ser um
resultado da mudança cultural nos hábitos alimentares, ou então algum elemento químico
utilizado na produção do açúcar que tenha provocado tal manifestação). Tem aumentado
consideravelmente a intoxicação de crianças devido ao uso do fogo na época da colheita da
cana. Além disso, os babaçuais foram exterminados para dar lugar à monocultura da cana.
Agora é preciso caminhar em média até dez quilômetros para poder encontrar algum
capão de babaçu para poder retirar o óleo que será utilizado na cozinha, principalmente nas
festas grandes. Ainda de acordo com as entrevistadas, não se vive mais do babaçu, apenas é
usado para consumo próprio das famílias. Se não, veja-se:
[...] a gente não quebra como quebrava antes, porque nem tem, mas a
gente comia, vestia e calçava era do coco (Maria da Cruz Almeida – 70).
Desde os 12 anos comecei a quebrar coco, hoje ainda quebro, não como
antigamente, quando cheguei neste lugar, comia, vestia e calçava ‘as

9
custas do coco, era o que a gente tinha aqui, hoje não dá mais, só quebro
pra tirar azeite pra comer (Maria Dinalva dos Santos Carneiro – 52)12.

Quando indagadas sobre a chegada da usina na região, as opiniões divergem. Apesar de


reclamarem que os babaçuais foram dizimados, elas reconhecem que a chegada da empresa
foi um bem para o município, mesmo não tendo clareza acerca dos malefícios e de que
estes são maiores do que os benefícios.
[...] melhorou a vida das pessoas que trabalha nela, muitos sobrevivem às
custas da usina, tem casas boas, móveis bons. Mas também destruiu
muitas coisas, como o coco, a mata pra fazer roça... A Caiman acabou
com tudo. Mas não maldigo a Caiman, porque se não tivesse ela como o
povo iria viver? Só do coco? Não dá mais pra viver só do coco. Com a
usina há trabalho no verão e no inverno, si você querer (Maria Dinalva
dos Santos Carneiro).

Essa atividade de quebrarão de coco, ainda persistente mesmo que apenas para consumo
doméstico, para utilização do leite e do azeite no preparo de temperos, carnes, bolos além
do uso na medicina caseira para cicatrização de ferimentos, eliminação de manchas ou
ingerido como purgante se mantém como um dos traços da cultura regional.
Outra questão que elas abordam nas falas diz respeito ao trabalho das mulheres na
usina. Ou melhor, à eliminação dos postos de trabalho ocupados por elas e que foram
suprimidos.
[...] seu menino, pra mim foi bom uns tempos, mas aí entrou outro gerente
e tirou as mulheres, elas ficaram sem trabalho. Trabalhei nove meses com
carteira e mais alguns de diária. Antes da usina a gente vivia do babaçu,
mas ela chegou a acabou. Eu fazia qualquer serviço. Cortava cana,
capinava, plantava. Mas isso acabou. Ouvi falar que a usina não ia
contratar mais mulheres porque elas ficavam grávidas (Maria da Hora
Oliveira, 55).

Embora haja contradição nas falas das mulheres, essa é a condição daquelas que não
tiveram acesso aos bens culturais produzidos pela sociedade, como a educação. Mesmo que
em outras épocas homens fossem encontrados na atividade de quebração, ela é
essencialmente uma atividade feminina, pouco valorizada economicamente.
Conseqüentemente, essa modalidade de trabalho sofre de dupla discriminação, por
atividade feminina e por não ser um atrativo econômico. Tal situação, segundo Simonian

12
As informações deste e dos dois depoimentos seguintes foram colhidos em entrevistas com as
quebradeiras de Campestre do Maranhão em novembro de 2003.

10
(2001) se caracteriza pela invisibilidade do trabalho das mulheres em algumas atividades,
fato que não se coloca como problema para elas próprias. Logo, se não vêm
reconhecimento de seu próprio trabalho, seja social ou econômico, não conseguem
compreender que as questões ligadas a esse reconhecimento limitam seu campo de visão
fazendo com trabalhem com a dubiedade de que mesmo destruindo a floresta de babaçu,
provocando intoxicação pela fumaça da queimada, pela exploração do trabalho, pela não
contratação do trabalho das mulheres, a fabrica seja a salvação de muitas famílias.
De fato, elas não conseguem perceber e compreender que alem de usurpar o espaço
natural do babaçual à usina nega a estas mulheres o direito ao trabalho, condição primária
de subsistência de toda comunidade humana. Todavia, o desvelar dessa condição é
sobretudo uma tarefa das próprias mulheres. Romper as amarras do patriarcalismo, do
capitalismo e da discriminação que em certos momentos é reforçada por elas próprias. O
desafio e lento, mas não impossível.

5 ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES

O trabalho das mulheres no Bico pode ter começado com algumas mulheres
isoladas, mas à medida que tempo foi passando elas se organizaram. Elas se articulam
numa série de entidades que se propõem a desencadear ações desde a conscientização para
o uso racional dos furtos da terra, até a proposição de políticas públicas para viabilizar a
permanência dos camponeses no campo com condições de trabalho.
Entre as organizações que atuam no Bico estão o Conselho nacional dos
Seringueiros – CNS; a Alternativa para Pequena Agricultura TO – APA-TO; o Fórum de
Desenvolvimento Local Sustentável (FDLIS); a Comissão Pastoral da Terra (CPT); a
Associação das Mulheres do Bico do Papagaio – ASMUBIP; Visão Mundial; Sindicato de
Trabalhadores Rurais –STR e inúmeras associações de pequenos produtores. No estado do
Maranhão a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA,
criada em 1989 é a entidade que oferece assessoria técnica e apoio à organização dos
trabalhadores rurais, dentre eles as quebradeiras. Também na região Tocantina, em virtude
da criação da Reserva Extrativista do Ciriaco – Dec. N. 534/90; da Reserva Extrativista da

11
Mata Grande – Dec. N. 532/90 e da Reserva Extrativista do Extremo Norte do Tocantins –
Dec. N. 535/90 surge em 1998 a Associação Intermunicipal de Mulheres da região
Tocantina - ASSIMT13. Fruto dessa articulação nos municípios e regiões de alguns estados
surge na década de 90 o Movimento Interestadual das Quebradeiras de coco Babaçu -
MIBCQ14.
Alguns poderiam se perguntar, porque as mulheres não se organizam em entidades
exclusivamente de mulheres já que durante muito tempo elas foram deixadas à margem do
processo de construção de ações de cidadania e política. Isso pode parecer correto mas, na
primeira conversa com essas mulheres elas são categóricas em afirmar que a vida cotidiana
não é feita apenas por mulheres e sim em companhia de seus maridos companheiros e ou
amigos. Todavia, num primeiro momento não negam que a construção da identidade da
mulher é importante e é lá que elas, inicialmente, se reconhecem enquanto sujeitos no
processo de reconhecimento de sua identidade enquanto trabalhadoras.
Segundo as próprias mulheres essa compreensão limita o campo de atuação delas
frentes as políticas sociais. Embora defendam a participação das mulheres nos movimentos,
querem que ao mesmo tempo os homens façam parte da luta, pois entendem que a divisão
já se estabelece pela questão de serem pobres. Embora considerem importante a
preservação dos babaçuais, suas falas não abrem mão de um “emprego” cujo estabilidade
de à família uma condição possível de sobrevivência.
No caso em questão, as mulheres quebradeiras do município de Campestre - MA,
são uma pequena representação deste trabalho que encontra-se na sua primeira fase de
execução. Através de entrevistas com mulheres cuja atividade principal era a quebrarão de
coco, pode-se constatar inúmeros problemas advindos da modernização tecnológica:
eliminação da floresta de babaçu; não contratação de mulheres como mão de obra nos
canaviais; agravamento das condições de saúde de crianças e adultos devido a queimada
na época da safra e do alto grau de diabetes decorrência da safra mal elaborada no início
das atividades da Usina Caimann – fato que ainda precisa ser constatado via dados da
secretaria de saúde.

13
Informações colhidas na pagina da revista eletrônica www.tipitima.hpg.ig.com.br acesso em
27/05/2004.
14
O MIQCB promoveu quatro encontros interestaduais. São Luís (1991); Teresina (1993); São Luís
(1995) e Imperatriz (2001).

12
Com a implantação da usina a fonte de renda das centenas de mulheres foi
eliminada no município. Muito embora elas não sejam beneficiarias de contratação por
parte da empresa, contraditoriamente defendem a permanência da usina no município pois
assim seus esposos e filhos têm uma fonte mais segura de renda, ao menos durante a safra-
já que nem todos têm contrato por prazo indeterminado. Não conseguem perceber que os
malefícios são maiores que os benefícios oferecidos pela usina.

6 DISCUSSÃO E NOTAS CONCLUSIVAS

Tomando os temas apresentados até aqui – trabalho, meio ambiente e gênero – é necessário
fazermos algumas reflexões sobre essas relações, nem sempre conscientemente construídas
ou compreendidas por parte dos sertanejos, mas que é consciente na ação do capital.
Como afirmou Engels (1995. p. 2) “[...] fator decisivo na historia é, em última instância, a
produção e a reprodução da vida imediata”. Produzir e reproduzir a vida imediata tem sido
a luta das quebradeiras nos últimos 50 anos de história da região da mata dos cocais.
Inicialmente lutando contra as adversidades de uma região inóspita, depois contra os
pistoleiros a mando de fazendeiros que nos anos 60/70 tomaram posse de imensas fazendas
e hoje lutando contra a investida do capital agroindustrial que avança sobre os estados do
norte/nordeste para, a qualquer custo, reproduzir sua estratégia de lucro. A luta,
independente de como se manifesta, é a forma de suprir as necessidades primárias do ser
humano. Porém, é preciso ressaltar algumas observações:
1- Se em tempos passados, para o capital, o trabalho das mulheres foi um componente
importante para sua reprodução, agora, a despeito das novas tecnologias que
permite a automação de grande parte do processo produtivo, ele pode simplesmente
descartar o trabalho não só de mulheres como o dos homens, principalmente se tiver
idade superior a 35/40 anos, se forem analfabetos, entre outros. È claro que esse
descarte tem nuances, em determinadas situações toda e qualquer mão-de-obra será
bem vinda, principalmente nestes tempos de fabricas temporárias que migram como
migra o lucro de banco em banco e de país para país.
O descarte do trabalho das mulheres, sob o pretexto de que elas engravidam com
freqüência, foi a estratégia adotada pela Usina Caiman. Também é importante
registrar a abundancia de mão-de-obra masculina uma vez que não há outras

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indústrias na região e o poder público – prefeituras e Estado – não consegue
absorver nem oferecer trabalho a toda a população economicamente ativa.
Contraditoriamente, essa prática da usina nega dados de pesquisas em que o
trabalho de mulheres é apresentado como sendo mais produtivo porque elas são
mais assíduas, disciplinadas, organizadas, tem visão de futuro, etc (Souza-Lobo.
1991; Kofes. 2001; Bruschini & Pinto. 2001; Pereira. 2003; Costa & Camino.
2003). Tais fatos são reforçados pelos dados do IBGE (2000) que aponta o aumento
do numero de mulheres chefes de família.
Todas essas questões têm seu fundo de verdade, porém, há muitas armadilhas
subsumidas nas intenções do capital. Uma delas é que a trabalhadora rural teria mais
condições de implementar ações para a emancipação completa em relação às fontes
de opressão (Fiúza. 2001). Ledo engano, pois as mudanças tecnológicas podem sim
alterar a divisão sexual e social do trabalho, mas vai continuar a reproduzir material
e simbolicamente a relação operária x patrão (Bourdieu. 1996). Logo, também é
ilusório pensar que essa relação simbólica pode ser vencida apenas pela
conscientização. Oferecer oportunidade de estudo, qualificação, participação
política, gestão e controle da produção da vida material e espiritual são elementos
importantes, diria fundamental. Também é necessário reconhecer que a participação
das mulheres nas diferentes esferas da vida pública tem crescido, sobretudo pelo
trabalho desenvolvido por inúmeras entidades como as que já citamos
anteriormente.
2- Outro ponto a ser destacado nesta reflexão diz respeito à relação mulheres e meio
ambiente. Ela é reflexo da cultura regional. Dificilmente vemos hortas caseiras por
aqui, as já existentes são iniciativas de associações de moradores que objetivam
muito mais complementar a renda das famílias do que propriamente criar o hábito
de ingerir legumes e verduras. É bem verdade que à medida que as mulheres vão
cuidando e produzindo na horta comunitária, o hábito, lentamente, vai sendo criado.
O fato é que a idéia de que a recuperação do meio ambiente pode estar mais
relacionada às atividades da mulher tem ganhado força, inclusive na política
governamental, quando estabelece como princípio a titulação da terra em nome da
mulher. Esta pode ser uma estratégia interessante, porém, não resolve nem o

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problema da reforma agrária, nem o da degradação ambiental e muito menos os
ligados ás questões das mulheres, pois, tão importante quanto o título da terra, são a
implementação de uma política eficaz, garantia de preço, capacitação técnica, vias
de transporte, bem como saúde e educação de qualidade no campo. Do contrário, as
iniciativas que visem valorizar o trabalho das mulheres até mesmo em setores do
mercado controlado por homens, acabam reforçando a idéia de que o trabalho delas
é “perfumaria” (Fiúza. 2001. p. 94). Essa concepção atribui à mulher mais
intimidade com a natureza e só serve para quem pensa a relação homem/mulher
com a natureza em termos de oposição, retomando a velha tese de que a mulher está
para a natureza assim como o homem está para a cultura, tese já refutada a um bom
tempo.
3- Por ultimo, restam algumas palavras no que se refere à questão da emancipação da
mulher. Engels (1995. p.182) afirma que “[...] a emancipação da mulher só será
possível quando ela participar, em grande escala, em escala social, da produção e
quando o trabalho doméstico lhe tomar um tempo insignificante. Tal condição será
alcançada com a indústria moderna, que permite o trabalho da mulher em grande
escala e tende, cada vez mais, a transformar o trabalho doméstico em uma indústria
pública”. A afirmação não é de todo falsa, pois o trabalho na fábrica cria melhores
perspectivas de emancipação pelo fato de o coletivo ser, em tese, mais homogêneo,
mas ao mesmo tempo acentua a exploração para obter mais valia, tome-se como
exemplo a indústria de calçados, onde o espaço de trabalho está sendo deslocado da
fábrica para a casa dos trabalhadores/as sob a forma de trabalho terceirizado. Desse
modo, o trabalho executado pela mulher, cuidando da terra e dos animais, é
fundamental para assegurar a subsistência da família enquanto o companheiro se
ocupa no trabalho da usina ou migra a procura de trabalho na época de entressafra.
Todavia este trabalho da mulher não pode ser visto apenas como “ajuda” ou
“perfumaria”. Nem pode ser responsabilizado pelas questões ambientais produzidas
pelo capital. No caso das quebradeiras de Campestre, a indústria as alijou
duplamente: por exterminar o babaçual, fonte de trabalho original e por impedir a
contratação de mulheres para os quadros da empresa. Diante disso, um fato que
causa estranheza é que não vimos nem ouvimos nenhuma manifestação por parte

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das (ex) quebradeiras no sentido de organizar-se. Isso, de certa forma, reflete a
posição do Maranhão no índice do IBGE, quando constata entre na população de 25
anos ou mais, apenas 2% tem escolaridade em nível superior. O estado ocupa a
última posição do ranking brasileiro (IBGE. PNAD. 2002.).
De todo modo, o trabalho das quebradeiras, sua organização e resistência não
podem ser pensadas simplesmente para satisfazer a indústria de cosméticos ou a
indústria do turismo ecológico; é preciso repensar a política agrícola, as formas de
capacitação, a implementação da Lei do Babaçu Livre nos outros municípios onde
este recurso existe, do financiamento para projetos, entre outros, caberia finalizar
dizendo que a emancipação da mulher é antes uma tarefa dela, mas não só dela, e
que a cada nova mulher eu se liberta do machismo e da opressão, liberta com ela
outras mulheres e homens e, se no caminho as pedras e espinhos são freqüentes, há
sempre a beleza da floração dos ipês, dos cajueiros e porque não dizer das
margaridas. É a luta para não ser estrangeira em sua própria terra (Woolf. 1977.
apud Falcon. 1991).

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