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SANGUE INTIMORATO E AS NOBILÍSSIMAS TRADIÇÕES

( A CONSTRUÇÃO DE UM SÍMBOLO PAULISTA : O BANDEIRANTE )

TESE APRESENTADA AC DEPARTAMENTO VE


HISTÓRIA VA FACULVAVE VE FILOSOFIA
LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS, VA UNI -
VERSIVAVE VE SAO PAULO, PARA OBTEN
ÇÀO VO GRAU VE VOUTOR.
ORIENTADORA : ORA. LAIMA MESGRAUTS

U L O
ÍNDICE

Introdução 0]

Capítulo I

A Proto-História do Bandeirante 14

Capítulo II

A Construção dos Herdeiros 61

Capítulo III

A Cristalização da Imagem 109

Capítulo IV

A Manipulação do Conhecimento

Conclusão

Bibl iograf ia ‘ 1?
02.

São bastante conhecidas as expressões gráficas,


visuais artísticas onde "paulista" ê substituído por bandei¬
rante - nas ruas , nas praças, nos discursos políticos, nos
hinos e nas homenagens a São Paulo é muito frequente essa subs
tituição . o bandeirante, sem sombra de dúvida, é a figura
que, por excelência, representa a entidade paulista.

A finalidade deste trabalho é estudar a histó¬


ria da construção do conhecimento sobre as bandeiras paulis¬
tas e investigar os mecanismos e relações que levaram ã cons
tituição do bandeirante como o maior símbolo do ho¬
mem do estado de São Paulo.

Construída ao longo do tempo por perspectivas'


divergentes de análise, como figura histórica, o bandeirante'

e o movimento bandeirista centralizam uma polêmica. Descrito

por um lado como ’’ tobos vesttdos de pZeíeó de ooejas, unos


htpccA-ttones ... Que andam bobando y despojando das -ígtestas
e atando Indtcs, matando e despedazando ntnos...", verdadei¬

ros assassinos de extrema crueldade pelos jesuítas espanhóis,


os bandeirantes receberam a pecha de instrumentos selvagens
do poder da classe dominante escravocrata. Por outro viés da

História o bandeirante transformou-se no construtor da nacio

nalidade, no elo que ligou as longínquas regiões da América


Meridional, cujo anexação deu o traçado geral do mapa do Bra¬

sil. Seu nome se tornou sinónimo de bravura, integridade, ar

rojo, progresso, superioridade racial, e até de democracia.


I

>
03.

*
»* Qualquer das versões está marcada pelos conflitos cue a so¬
ciedade enfrentava no momento em que a produziu.

Os religiosos organizadores das reduções je-


suíticas do Paraguai traçaram com fortes pinceladas a imagem
negativa, a "Legenda Negra" do bandeirantismo. Montoya, Jar-'
I que e, posteriormente Charlevoix, Vaisette são nomes sempre
lembrados, quando a imagem bandeirista se torna escura, pelos
crimes que teria praticado. 0 horror que àqueles significou
o ataque dos bandeirantes ãs suas organizações missionarias '

provocou o aparecimento de uma literatura indignada ,que criou


uma visão do bandeirante , ainda hoje retomada em algumas
obras de divulgação, publicadas recentemente.

Esta versão não foi refutada pelos seus conter


porâneos. Somente no século XVIII, o seguinte ã formação da

"Legenda Negra", começou-se a construir a "Legenda Dourada",a


nova versão sobre os paulistas e as expedições que tinham cr
ganizado e levado, para além do Meridiano de Tordesilhas, a

posse portuguesa na América. Nesse período a História da pe¬

netração no território começou a se confundir com a História'


de São Paulo - a formação territorial do Brasil passou a

ser vista como uma parte da História de São Paulo. E a par¬

tir desse momento o bandeirante ocupou um lugar de destaque

na História do Brasil, mas sobretudo, se tornou a principal

figura histórica de São Paulo. O movimento bandeirista é

com certeza, o tema que centraliza a História de São Paulo no


período colonial.
04.

Como objeto de estudos históricos teve dois mo


mentos marcantes:

no século XVIII, quando aparecem como tema


na obra de historiadores do período

nas três primeiras décadas do século XX ,


período áureo da produção histórica sobre'
o bandeirantismo.

Os primeiros documentos historiogrãficos signifi


cativos centrados no bandeirismo foram os trabalhos de Frei
Gaspar da Madre de Deus e de Pedro Taques de Almeida Paes Le
me. O primeiro destacou a figura do mameluco no movimento ex
pansionista, e o segundo além de engrandecer os bandeirantes'
em sua Nobiliãrquia,colecionou toda uma documentação referen
te ãs Minas descobertas pelas bandeiras.

Ao defender os sertanistas contra os ataques


dos jesuitas, aqueles dois historiadores iniciaram o processo
de formação da imagem do bandeirante, que, mais tarde, refor
çado pelos historiadores que vieram se tornou o símbolo da

sociedade paulista. A imagem que construíram perdurou no sêcu


lo seguinte, exaltado por viajantes e poetas, diluído porém ,
nas páginas dos historiadores. Ressurgiu, nas décadas ini¬

ciais do séculoXX com mais força e brilho nas páginas dos es


tudiosos de história. Foram esses historiadores, Ellis Jr. ,

Taunay, Paulo Prado, Alcântara Machado, entre outros que, com


f*

*
r

f suas pesquisas aprofundaram o conhecimento sobre as


1 bandei¬
ras e sobre os bandeirantes, que permitiu que se cristalizas
se a imagem que Frei Gaspar e Pedro Taques tinham esboçado.
Desse conhecimento emergiu um símbolo , que São Paulo, ( ou o
Brasil), haveria de se utilizar cada vez que sentisse necessi

dade.

Os estudos formais sobre o bandeirismo produ¬


ziram um conhecimento que fundamentou a crónica popular, as
sociando a gana dos bandeirantes por oportunidades, riquezas'
e aventuras ao desenvolvimento alcançado por São Paulo, a
partir da expansão cafeeira, em seu território. O discurso
histórico intervêm numa realidade social, ou seja, naquela em
que foi produzido, pois sua eficácia não pode ser resumida
ao mero aspecto cognitivo. A produção histórica não é neutra,
no sentido de estar desvinculada das contradições e conflito
que atingem a sociedade. Além de sua função de conhecimento
" também ama função òociat cajas modatidadc^ não
e,xc£u-6Íva.ó, nem pA.imoA.dia£mente de caxãtex teõlicc" ' 1

Há portanto, duas dimensões do discurso histó¬


rico a serem considerados: o conhecimento produzido sobre

determinado objeto e a utilização que dele faz a sociedade


que constitui seu público e que , como elemento de pressão

(1) PEREYRA, Carlos


quê? 5a. ed.
-
História, para quê? In: História para
México:siglo Veinteuno Editores,1984.,p. 1 1-
TTT
06.

interfere na escolha do objeto a ser estudado pelo historia¬


dor. Todo discurso histórico, além de possuir uma validade
que lhe ê conferida pela sua eficácia cognitiva, intervém nu
ma realidade social onde ê ou menot útZZ pa^a aó dZ^z-
-tenZe^ ^oh^clò em c.on^ZZto"

Estas duas dimensões do conhecimento histórico


sobre os Bandeirantes serão objeto deste trabalho, que pre¬
tende questionar as condições que levam ã necessidade de sua
criação, enquanto forma de conhecimento e à sua utilização co
mo símbolo, na medida em que se considera que tal necessidade
ê fruto da própria dinâmica social. As mudanças que ocorrem
no seio da sociedade provocam o aparecimento de novos pontos'

de referência , repensados em função de um novo conjunto de


símbolos. Identificar que elementos agem como pressionadcres
no sentido da construção da simbologia bandeirantista e os me

canismos mesmos dessa construção é o ponto central da discus


são que norteia este trabalho.

A evocação do Bandeirante como símbolo e ruico

frequente nos estudos sobre a sociedade paulista. Love "


,
Chauí \
Capellatto
(5)
a ele se referem como elemento simbc
lico , procurando cada um deles em seu respective trabalho,

(2) PEREYRA, Carlos - op . cit.


(3) LOVE, Joseph L.- A Locomotiva .São Paulo na Federação Brasileira.
1889-1937. trad .Vera Alice Cardoso da Silva, Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1982.
(4) CHAU1 , Mari lena-Apontamentos para uma crítica da Ação Integral ista
Brasileira. In: Ideologia e Mobilização Popular; Rio de Janeiro, Paz
e Terra:Centro de Estudo de Cultura Contemporânea, 1978.
(5) CAPELATTO , Maria Helena. O Movimento de 1932. A Causa Paulista, São
Paulo, Brasiliense, 1981, (Tudo é História, 15) .
07.

a explicação para sua utilização em determinados contextos só


cio-políticos, isentando-se porém de procurar a génese do sim
bolo nas obras de historiadores.

Maria Helena Capelato aborda o assunto a re¬

constituir o quadro de valores que compuseram o ideário da

Revolução de 1932 e nota que o "bandeirante-histórico" foi ,


no momento da Revolução, "trans formado em sZmboto de heroZsmo
e vZgo-i da raça" e que "os bandetrantes não etam apresentados
como dos representantes das tradccZonaZs ^amZttas '

paaLZstas .Essa versão, .... -óe revestta agora, de outra eo_


notação . Bandetrante era todo pauítsta que ie dtspusesse
a parttr para a tuta" . ‘

Ao estudar o pensamento autoritário, Marilena

Chaui também faz uso do papel que a simbologia do Bandeirante

pode exercer como substituto de mito de origem europeia, nas

operações teóricas dos pensadores integralistas. O Bandeiran

te e outras figuras místicas caboclas (o Sertanejo, o Gaú¬

cho), quando " entram em cena ^unctonam como palavbu encanta

tortas que permttem a apttcação de esquemas cu'icpcus so cuc

nos envergonhemos detes" . '

Love é o que mais se estende sobre o assunto.

Baseando-se nas teorias de Johan Galtung e

(7) CHAUÍ , Marilena - op. cit., p.37.


08.

Ernst Haas, sobre as formas de integração (8 , explica-o' co


mo um conjunto de símbolos que os paulistas usaram ao enfren
tar algumas questões que lhes foram peculiares durante a
Primeira República, ou seja os diferentes processos de inte
gração que emergem na história de São Paulo. Considera ele
que foi o " bandeZA-anZZámo Que a cotação Azmbo£ic.a
pa'La o pnoblíma da tzatdade. dZvid^cda, que. ií dív^a ao Eitado
e ã Nação" . 1

Ao glorificar as diversas etnias que haviam

contribuído para criar como tipo único o Bandeirante, justi¬

ficaria implicitamente a assimilação de imigrantes e migran¬

tes de outros estados. Seu apelo maior, porém, deriva da

adesão implícita ao "federalismo hegemónico" ou seja, da "cren

ça na sunerioridade de São Paulo". Nesse contexto o Ban

deirante compatibilizaria o regionalismo e o nacionalismo ,

identificando o Estado ã Nação.

(8) Segundo Love, Johan Galtung distingue três formas de inte


gração: organizacional ou vertical ; associativa ou hori¬
zontal, e regional. A primeira depende do grau de divi¬
são do trabalho , enquanto que a associativa ou horizontal
baseia-se em formas de comunicação voluntária que se de¬
senvolvem em função da similaridade de posições e valo
res partilhados por indivíduos ou grupos e a regional^
fundamenta-se na proximidade espacial . Essa conceituação '
é complementada pela de Ernst Haas que definiu integra- ,
ção como sendo "o processo pelo qual atores políticos a
atuando em dif erentes (...) contextos , sao persuadidos
transferir sua lealdade e espectativas , bem como um novo
ponto de referÇencia cujas instituições já possuem, ou demandam , ju
risdi ção sobre as (unidades) pré-existentes" (L£ME,J.L.-op.cit .n.298-
299)
(9) idem, p. 297-298.
(10) idem, o. 297.
Os três autores citados acima, embora o façam
em diferentes momentos históricos, estudando objetos de pes¬
quisa distintos, identificam a presença do Bandeirante como
símbolo em contextos onde a procura de unificação, (ou como
quer Love de integração), ê patente. 0 Bandeirante símbolo
deriva do Bandeirante histórico. Isto é, os estudos de histõ
ria sobre o movimento bandeirista produziram um conhecimento
que permitiu que a simbologia fosse criada sobre o pano de
fundo da unificação - seja racial (a Bandeira era composta
de brancos, (portugueses , espanhóis , índios, negros, mesti¬

ços); seja territorial e política (o movimento bandeirantista

incorporou ao domínio português imensas regiões da América Me


ridional); seja económica (enviou mão de obra indígena ãs di
versas capitanias; o ouro que descobriu enriqueceu a Europa).

A História das Bandeiras, em qualquei dos se. .


aspectos traz sempre tal conotação - a da Bandeira ser um
elo de união entre dois polos.

A noção de unidade presente ne conceito


Bandeirismo se alia a noção de "superioridade", racial, so¬

cial, psicológica do Bandeirante. O nivelamento, a expressão

da igualdade e da integração, se faz através das qualidades '


positivas, que o bandeirante carrega implícitas, no seu pró¬

prio conceito.

Os estudos de História resgataram do Pande i: ao


te esse tipo de qualidades, e isso foi o fator predominante
10.

para que, ã sua validade teórica se unisse a


utilidade ideolõ
gico -poli tica , nos momentos da história paulista
em que emer
giu a necessidade de integração social, de nivelamento entre
as diferentes classes ou entre segmentos de uma mesma
classe,
com o objetivo de dirimir conflitos possíveis, de garantir
a permanência de instituições jã existentes ou de
criar
condiçoes para o aparecimento e desenvolvimento de outras...

Neste trabalho, como jã foi dito, pretende-se'


reconstituir o caminho que seguiu o bandeirante, de objeto de
um conhecimento histórico, que permitiu que se transformasse'
num símbolo paulista. Para isso, as obras selecionadas fo¬
ram as consideradas formalmente como obras de História, de
autores que criaram ou desenvolveram uma forma de conhecimen¬
to, matriz, usado depois por autores de obras menores. Assim,
deu-se preferência ãs obras sobre bandeiras de Pedro Taques ,
Taunay, Frei Gaspar, Ellis Jr. e Alcântara Machado, o cue
não impediu que se recorresse a outros trabalhos de diferen¬
tes historiadores, seguidores das diferentes vertentes repre
sentadas nas obras dos primeiros. Procurou-se retirar, de
cada um dos trabalhos analisados, os traços mais fortes co*

os quais os autores caracterizaram a figura do bandeirante,

pois cada um deles enfatizava um asoecto esoecial.

Um estudo de historiografia , campo espe/m i a

pesquisa histórica, envolve procedimentos metodolõqi cos pró¬

prios, inclusive o uso de fontes específicas e embora outras

formas de expressão, como a ficção , a imprensa periódica ,


a literatura didática de nível médio, possam ser utilizadas ,
não cabiam na proposta deste trabalho. Por este motivo, a

obra de historiadores foram privilegiadas , e se recorreu ãs


demais, como auxiliares.

A pesquisa teve como centro as obras de Histõ


ria, consideradas matrizes de uma forma de conhecimento, de
1
fendida por outros veículos que a reproduziram. Procurou-se
esclarecer as ligações entre o conhecimento produzido, no seu
aspecto meramente cognitivo e sua eficácia como interventor

na realidade social da qual é produto, uma vez que a "uXZZZ-


dade. Zde.c£cgZco-poZZiZc.a [da obaa hZitoxZca) não e. ama maçnZ
tu.de. dtx.eJame.nte. paopoxcZcnaZ a iaa vaZZdade teoxZca" .

Dessa forma pretende-se ir ã raiz do conheco-

mento histórico sobre as bandeiras, localizar a perspective

cue o construiu, decobrir a maneira de pensar e interpretar

a vida social do grupo que apresenta esse conhecimento


como
A
universal, definir seus compromissos sociais e históricos.
reconstitua a
análise desses aspectos deve permitir que se
da história", tanto da elaboração do seu aspecto

cognitivo, como da manipulaçao que se fez do conhecimento


borado para fins políticos ideológicos.

(11) PEREYRA, Carlos - op. cit., p.13.


12.

Para reconstruir a História da história das


bandeiras e os mecanismos e relações que transformaram o ban
deirante num símbolo paulista, seguiram se os caminhos, que
abaixo se discriminam:

No primeiro capítulo procurou-se recuperar as


primeiras narrativas escritas sobre o bandeirismo, as cróni¬
cas dos contemporâneos do movimento bandeirista e o motivo
pelo qual tardaram a surgir. Deu-se atenção especial ao fato
de os primeiros documentos estarem ligados direta ou indireta
mente,ã Guerra dos Emboabas, que seria o motivo maior de seu
aparecimento. Tratam-se sobretudo de crónicas e descrições de
viagens, onde começaram a se esboçar a imagem histórica dos

sertanistas.

0 segundo capítulo tem como ponto nuclear a

obra de Pedro Taques e Frei Gaspar. Procurou-se distinguir as


linhas mais fortes que compuseram a figura bandeirista e que

deram seu contorno básico mais tarde enfatizado por outros

historiadores. As peculiaridades da sociedade paulista na

segunda metade do século XVIII deram ã obra de Taques e Frei

Gaspar e sentido de recuperação do poder de um grupo, que se

sentia secundarizado e que julgava ter determinados privilé¬


gios, por sua ascendência - daí a importância dada ao bandei.

rante por aqueles autores.


A aquietação dos conflitos trazidos pelo af lu¬
xo de novos componentes e as mudanças que ocorreram no ini¬
cio do século XIX trouxeram novos problemas para os quais a
resposta seria buscada em outros temas históricos, que não o
bandeirante. 0 terceiro capítulo tenta mostrar o esvanecimen-
to da imagem e sua recuperação quando a expansão do café deu
poderio económico a São Paulo. 0 início do século XX foi o
período em que mais obras sobre as bandeiras foram escritas,
e no qual a imagem do bandeirante tomou seus contornos mais

nítidos. Foram tratados aí, os trabalhos de Ellis Jr., Alcân


tara Machado e Afonso de Escragnolle Taunay, sobre as ban¬
deiras bem como alguns livros considerados secundários, que
seguiram mais claramente a linha de interpretação proposta por
cada um daqueles autores.

Por fim, o quarto capítulo abordou rapidamente

dois momentos históricos em que houve manipulação da imagem

do bandeirante, no sentido de transformar o objeto do conheci


mento histórico num símbolo, para fins políticos: A Revolução
de 1932 e o Estado Novo. Tentou-se evidenciar que aqueles dois
fatos históricos tinham projetos opostos, mas que a manipula

ção que se fez do conhecimento, permitiu que o bandeirante

pudesse, simbolicamente , representa- los.


CAPÍTULO I

A PROTO-HISTÓRIA DO BANDEIRANTE

"Fomentou e4te od-co com ma-is /iZqo^ o pode^


e -teipeZío que os pauZZstas ZoqAaAZam co¬
mo pessoas pAZncZpats e ^undadoAas de po
voaçoes e aum entados cm /iZquezuó e veneAa
ções dos /au oAecZdos : cotsas que aumentam
a Znveia, c con^ZAmam o maZò ^Zno c ZnocA
tcbAado odZo"
BEUTO FEUNÁNVES
"E oi pauZZótaó òc aAAanchaAam poA ^oAa
buscando scmpAC a vZzZnhança do mato paAa
SC comunZcaAcm com as ^CAas , dc quem h.CA
davam os coAações..."
JOSE ALVARES VE OLIVEIRA
• 15.

O Bandeirante do seiscentismo não escreveu so¬


bre si mesmo. As bandeiras não deixaram suas memórias. A bi

bliografia do século XVII ê

" extremam ente pob^e. em depotmenZoó de ^onte pa.^


tLeuta/i. A Lacuna e conòLde^ãv eL , poLt, ^cZ du
feante o òecaLo XUII que. &e teaóZzou a p^LmeLtta

expedLção extfiatofideóLLhana Aob^e. o a dcmxnLci


de CíUíeZa. Eótamoò Longe, de poiòaL^i documenta
ção í>LmLLan àqueLa deLxada peLoò ccnquLòtado_
fteò eàpanhoLò , òu^-p^e end ente peta abundância e

peta minúcia daó in£ o-imaçõ ei . Nenhum dcò g can


de-i ò e^tanLótaò do i eiicentiimo deixou teia-
toò de òua.i> penet-taçõ ca" . '

Essa ausência não foi apontada somente por

Alice Canabrava. José Honório Rodrigues também a ressaltou e,


como Canabrava, procurou razões para explicã-la. Aquela his

toriadora justificou a inexistência de relatos dado o caráter


particular das bandeiras, utilizando como oposição, a grande
quantidade de documentação deixada pelos conquistadores espa
nhõis , cujas missões eram oficiais e lhes era obrigatório ....
relato minucioso. As bandeiras, empreendimentos particulares
,

ilegais mesmo em certos momentos de sua história - nada era

exigido.

K.MORAE>, R-
(1) Canabrava, A. P. Bandeiras. In: BERRIEN,
Brasileiros.
Borba, Manual Bibliográfico de Estudos
1949, p.493.
de Janeiro, Gráfica Editora Souza,
José Honório Rodrigues encontrou outras ra¬
zões para a inexistência de uma produção histórica contempo
rânea ao bandeirismo, na "primitividade do produtor" . (2) a
.
rusticidade paulista justificou, para J H . Rodrigues , o fato
de os bandeirantes não terem escrito sobre si mesmos, não te
rem legado para a posteridade nem suas memórias, nem o que
consideravam seus maiores feitos, já que o autor os reconhece
como " coha cZení ez> . . . , doò e^eZtob de iua obu".^1
Nem mesmo o que aquele autor chama de " o^ZcZaZ"
se deixou seduzir pela "ob/ta de. mazombos, ZndZoà e me-f>tZç.0A" ,
porque estava " dema^Zado encantada com ot aòpectoA da de^zéa
de Po>itu.ga£, na kmettZea contra HoZanda"^

Não se pode deixar de levar em consideração as


razões apresentadas por esses historiadores - parece já fora

de dúvida que as bandeiras eram empreendimentos particulares,

que São Paulo no século XVII era um pequeno burgo, "um attaZad
(5)
de óefitanZòtaò" , no dizer de Ernani Silva Bruno e que a

instalação da Companhia de Comércio das índias Ocidentais, na

zona canavieira nordestina, foi, de fato, um acontecimento '

extremamente preocupante para o colonizador das terras ameri¬

canas .

(2) RODRIGUES, J. Honório História da História do Brasil, 1


-
parte Historiografia Colonial, Sao Paulo, Cia Ed Naci^na . .
1,
1979, p.115 (Brasiliana Grande Formato , v . 21 )

(3) Idem, ibidem


(4) Idem, ibidem
BRUNO, Ernani Silva-História e Tradições da
Cidade de Sag
(5)
ae Sao
.
Paulo, 3a. ed SPaulo : Hucitec , Pref ei tura do Município
Pãúlõ", Secret.Munic. da Cultura, 1984, v.l.Arraial de Sertanistas.
»
• 17.

E incontestável o fato de que a vida inte¬


lectual não era uma atividade com muitos adeptos em São Paulo.

4 Alcântara Machado, nos inventários processados entre 1578 e


a
1700, encontrou livros relacionados em somente quinze deles
*H somando um total de cincoenta e cinco livros. As livrarias

_
B somente surgiriam no século XIX, com a instalação da Faculda-
de de Direito. Não surgiu também em São Paulo nenhum grupo
B pudesse se aproximar de movimentos literários, como o Gr.
po Pernambucano de fins do século XVII e início do XVIII; c_

> do Grupo Baiano, do XVIII. Apesar disso, em 1689, Diogo Gar


ção Tinoco, que viveu em São Paulo, na segunda metade do sé-
culo XVII, escreveu, ao que se saiba, a primeira epopeia a

• ter como ponto de inspiração a aventura das bandeiras e a des


coberta das minas.

Da mesma época (possivelmente, 1691 é .

a nima “Informação do Estado do Brasil e de suas Neoessiu As

que assim se refere aos paulistas:

(6) MACHADO, Alcântara- Vida e Morte do Bandena


lo: Livraria Martins Ed., 1965 , nassim.
(7) Do poema desse autor, só se conhecem quatro itav.u o
das por Claudio Manoel da Costa no Fundamento : isn
de "Vila Rica" (TAUNAY, Afonso de - ! .
niais, São Paulo, Diário Oficial, 19?5— .57 e se-s
] 8.

Ma j eA tad e pod-ia Ae. vaLer doA homenA de São


-
Vauto fazendo íheA honraA e me/icê4, Que aA hon
ha a c oa -intereAACA ^actt-itam oa homenA a todo
o perigo, porque Aao homenA capazeA para pene
trar todoA oa AertoeA, por onde andam continua
mente. Aem maiA AuAtento que caçaA do mato , bi-
ehoA, cobraA LagartoA , ^rutaA bravaA, raizeA e
vario a pauA , e não LheA pe motcAto andarem pe
Loa AertoeA anoA e anoA , peto habito que tern
^eito daqueta vida. E AupoAto que eAteA pauiiA
taA , por atgunA bem AucedidoA de
caAOA unA
para com oa outroA , Aejam tidoA pon. LnAotentcA,
ntnguem theA pode nega*, que o Ae/Ltão qae te-
moA todo povoado cLca o co nqatA tan.am do gent-io
bA.avo . ..
Também Ae LheA não pode negan. qae ^osiam oa
co nqutAtado/LCA doA PatmaneA de Pernambuco e
também ao podem deAcnganar que Aem oa paut-iA-
taA , com Aeu gentio nunca Ae hã de conqu-iAtar'
( )
o g entto bravo ..." ^

Foi também quase no final do século XVII cue

surgiu uma correspondência onde se fazia sentir, de um lado a

Metrópole procurando agradar o bandeirante, e a ele recorreu

do para a procura de ouro e pedras preciosas, como pode-se

ver nas cartas de D.Afonso VI a Fernão Dias Paes. Tome-se uma

delas como exemplo.

(8) Informação do Estado do Brasil e de suas Capitanias. Re¬


vista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Rio de Janeiro: t.25:465-478 , 1862.
19.

"Eu o ptíncipe envio multo saudar. Pela vos


voó
sa carta de 12 de agosto de 1 672 , me ^ol pre
sente o grande zelo do meu serviço, eom qae
voi dls púnheis ao descobrimento das minas de
esmeraldas , que se diz haver nesse sertão ,
do que mandastes um papel sobre essa materia

ao Governador do Estado, por cuja causa e or¬
dem tratáveis desse des co brlmento e de outros
que quererá Veus que por vosso melo se efetuem
para melhoramento desta Coroa, e suas ccnquls

Da parte do sertanista, também pode-se perce¬


ber uma tomada de consistência mais clara, do papel one vi¬
nha exercendo na colónia, conforme é possível se depreender
de trechos de correspondência de Domingos Jorge Velho:

...nossas tropas com q Imos ã conquista do


gentio bravo desse vastíssimo sertão, nãc he
de gente matriculada nos livros de V.Mag— nem
obrigada por soldo, nem por pão de munição ; sãc
huas agregaçoens q fazemos algus de nos, en¬
trando cada hu com os servos de armas q tem
e juntos Imos ao sertão deste continente nãc a
cativar (...) senão adquerlr o T apula gentle
brabo e comedor de carne humana...

(9) LEME, Pedro Tagues de Almeida Paes - Nobiliarguia Paulis¬


tana, Histórica e Genealógica, 5a. ed.Belo Horizonte:
Itatiaia, (Sao Paulo): Ed. da Universidade de Sao Paulo,
198, t.III, p.62-63.
20.

Voa bnancoA q comigo dcAAonáo poucoA mmac


ponem a maion panic defcA vendo o pouco quc
theA nendta eAta gucnna c q nem paid AuAicnta
n.em ac theA dava , aq CApafhanao a bu^can acu
methon e em Aeu tugan me deixando a CApenança'
de que Ae dia az fhoA ^ccaac median pat
Aagem me ton.nan.ao a baAcan, pa q o {acão e pa
eu poden continuan de V.Magdc ncAt&A guen

No século seguinte, a produção de escritos

bre as bandeiras intensificou-se. Nos Ro.l at os Sort an i st a s ,Tac.

nay publicou vinte e sete documentos, de diferentes origens ,

contendo relatos e descrições de bandeiras, produzidos todos


já no século XVIII, embora alguns descrevessem aeont ec: en- -
tos de épocas um pouco mais remotas.10 11

Deve-se lembrar que Taunay data as m


grandes bandeiras ainda no século XVI, citando que em 15'e
Hernando de Montalva, tesoureiro régio, já denunciava a Re
pe II as " tn.opeliaA doA pontugucACA de San rabia”, vm seus
"matuA tnatamientoA y de AaA tupieA" na reaiao do Viaza ...
onde a sua presença causava pânico.( 1-1

(10) ENNES, Ernesto - As Guerras dos Pa 1 mares o . .


.
ra sua História). 19 v Domingos Jorue Velho e
.
Negra".1687-1700 Pref.de Afonso do l'.T,nma\ .S.m
Cia.Ed.Nacional , 1938, p. 204-205.
-
(11) TAUNAY, A.de E. Ralatos Sertanistas.Col et ân<xi lntvot\'se e
tas de Afonso de E.Vaunay.Balo horizonte.iii.it.it iam- còe
V'

Ed.da Universidade de São Paulo, 1981.


(12) TAUNAY,A.de B História das Bandeiras Paulistas. <;.onea.' ò
Paulo: Mel tioramantos» Brasília: INL.l^S, Í9 v. p. 5.
21 .

Respeitando a periodização de Taunay para as


primeiras bandeiras, realmente o aparecimento de relatos ban
deiristas, ou ainda de uma História que os tivesse como tema,
foi tardio. Isto só aconteceu no século XVIII, com o apare¬

cimento de diferentes relatos e as obras de alguns autores ,

entre os quais sobressairam Pedro Taques e Frei Gaspar.

As bandeiras continuavam particulares, São Pau

lo não tinha deixado de ser um pequeno e rústico aglomerado '

urbano, que não contava nas preocupações dos governantes. No


entanto, os paulistas passavam a se preocupar com o resgate

do passado e sobretudo, preocupavam-se com a limpeza da ima¬

gem que havia sido forjada pela literatura jesuítica. Por que?

Retome-se São Paulo, no século XVII , no momem

to de maior crescimento do movimento bandeirista. Pequeno bur


go, com reduzido número de habitantes, mais dispersos pelas

fazendas que se formavam do que concentrados no núcleo urba

no, São Paulo constituía um exemplo atípico de povoação por

tuguesa no Novo Mundo. Destacava-se , em primeiro lugar, pela


sua localização. Distante do litoral, tinha se organizado em

grandes fazendas de policultura, cuja produção era consumida

pela própria cidade e distribuída para regiões mais distan-


~ , H3)
tes, inclusive outras capitanias. Esta produção variada

(13) MACHADO, Alcântara - op. cit.


exigia mão de obra que o planalto, do início da colonização ,
podia fornecer, como ponto de concentração de população indí
(14)
gena que era.

A região vicentina, desde os primórdios da co

Ionização, tinha no apresamento uma de suas atividades essen

ciais. Paulo Prado, em Paulística recorda que Antonio Rodri

gues e seus genros tinham tornado a região conhecida pela ex

portação de escravos para outros locais da Colónia e também

para a Europa, chegando São Vicente a ser conhecido em al¬

guns mapas, como "Puerto de los Escravos".

O tráfico de escravos tinha se tornado uma ati_

vidade altamente lucrativa para o comércio oortuguês e social

mente aceita, no mercado como um produto igual a tantos ou¬

tros. A escravidão que pesava sobre os africanos transporta-

dos pelos navios negreiros não se apresentavam como pecado

Iou
crime perante a sociedade. A Igreja não se manifestava de

modo contrário a essa prática e ela não era relacionada entre


os crimes nos Códigos Legais. As fortunas que gerou não : oram

consideradas espúrias. A mesma mentalidade transpos-se para

outras terras recém descobertas. Se a conquista da Africa se

dava com a escravização de seus habitantes, porque não podia

(14) PRADO, Caio - Evolução Política do Brasil e o^ion 1;;’

tudos , 8a. e d . ,São Paulo, Ed . Brasiliense, 1 7 2 .


q

(15) PRADO, Paulo -


Província & Nação. Paulística. Retrato
do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympic,
Pd .
1972, p. 75 (Documentos Brasileiros, 152).
23.

ocorrer o mesmo nas índias Ocidentais?

0 apresamento e a escravidão não pareciam ao


colono da América Portuguesa, possivelmente, nada de honroso
ou glorioso, mas também não o denegriam perante a consciên¬
cia de sua época. A conquista destas terras lhes dava o di¬
reito de, como conquistador, se apropriar de um de seus pro
dutos, a força de trabalho. Era "natural" e evidente a dom_i
nação do branco "superior cultural e racialmente", sobre os
espoliados índios. O conquistador estava em pleno uso de seus
direitos, sem sentir ainda, no século XVII, nenhuma ameaça '

concreta , apesar de , já no final do século XVI, terem surgi


do as primeiras ordens legais contrárias ã escravidão indíge¬
na. Foram, porém, inócuas. Desde o decreto de 1570, de D. Se

bastião, a legislação estabelecia a exceção, que se tornou

regra - nenhum índio poderia ser escravizado, salvo se fosse

aprisionado em guerra aberta feita por ordem do Rei ou do go

vernador, " e.KCQ.taadoi oò ÁZmosié.A e. aó t/i+boA maú

que coòtamavam aóóaZía/t aó oatna* z oa po^itag ue4 e^ pana ccmê-


Esse e outros diplomas legais que o seguiram não

mudaram nem a disposição, nem a visão da época sobre a escra

(16) SOUTHEY, Robert - .


História do Brasil Trad. Luiz Joaquim de 0. e
e Castro. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia (Sao Paulo) :Ed. da Universida
de de São Paulo, 1981, v.l, p. 262 (Reconquista do Brasil ;nova ser; v.
67-69)
(17) Varias leis trataram da questão do trabalho escravo do índio, após
o Decreto de D .Sebastião , como os decretos de Felipe I que por duas
dos
vezes sucessivas, proibiu sob qualquer pretexto a escravizaçao1605,
índios; en 1595 a revogação desses decretos por Felipe II, em
1609 e 1611,novamente as proibições retornam, para se tomarem de
finitivas somente em 1758, no governo do Marquês de Pombal.
24 .

vidão indígena. Se o cativeiro não podia ser assumido aberta¬


mente, a própria legislação indicava caminhos como a "adminis
tração", e os "índios forros", e a provocação a nível insupor
tável para que os nativos dessem início abertamente ã guerra.

A inexistência de outras sanções sociais e o


próprio questionamento sobre a humanidade do índio não levava
os paulistas ã necessidade de uma explicação histórica con¬
vincente e nem a elaborar uma interpretação, que justificasse
essas ações, para outros segmentos dos colonizadores.

As ações bandeiristas do século XVII atingiam


os próprios índios, gente conquistada e que por direito decon
quista pertenceriam aos seus conquistadores. Dominados, con
siderados racialmente inferiores, a eles não seria preciso ne
nhuma justificativa de caráter histórico - a própria estrutu
ra jurídica da sociedade e a doutrina da Igreja Católica os
atingiam de modo mais direto .

A disputa entre os habitantes de São Paulo e


os jesuítas deixou de maneira bastante clara que não se trata
va de se discutir a legitimidade do uso de mão de obra indí
gena, mas de quem deveria ter direitos sobre ela.

Uma análise rápida de documentos sobre o as-

sunto aqui transcritos , permite que se faça a afirmaçao aci

ma.
«eç^*!»"
25.

é fato bastante conhecido o conflito entre pau


listas e jesuítas que culminou com a expulsão desses últimos,

em 1640. No entanto, muito antes começara a contenda - afirma


Azevedo Marques, em seus Apontamentos, que logo após a extin

ção da Vila de Santo André em 1560, "começou de4de Zogo uma


guewa 4u-ida e -íaíente eníAe os padres e. 04 4ecuZaAe4, pAeíen
dcndc ambai cias s e4 o pAedomZnZc 4obAe os Znddos, dnddspcn

ai
(7^)
4ave<4 a amboA paAa o 4 eu pAogAC44o e engAandecZmenXo . . . "

Desde as primeiras décadas do século XVII, os


habitantes "mais ilustres" de São Paulo disputavam com os je

suítas e endereçavam ao rei, representações, como a de 10.06.


1612; onde se justificavam , argumentando:

"due eAam homen4 pobAC4, e çue paAa AemedZaA '


saas nece44Zdade4 £ke<ó ua uece4 sã^do muddas
veze4 e cada dda pedZA ao Sa. govexnadca qaa-
tKo Inddos, assdm pa^a 4e gazeiem 4CU4 manti
mentos paAa comei, como paAa ÕAem ãó mina:
Z-ÓAaA ouAo paAa 4 euAemedto e d'eiici pagatci’
04 qudntos a S.M., e que depois do Ss. çoitcç
doA thes XeA dado a ídeença dam ãsaCdêas c
não achavam Inddos, nem queriam eótci <t ccn
e££e4, e quando dam não cump^dam o tc^mo dc
obftdgação do aduguen e com aò paga-s na mãe 5 c
XoAnavam paAa as addcas , ded^ando aos m.c^o.do-
fees nas mdnas com os manddm end c s peadédes,

(18) MARQUES, Manuel Eufrãsio de Azevedo - Apontamentos his¬


tóricos , geográficos , estatísticos e noticiosos da Pr9~
víncia de Sao Paulo: seguidos da Cronologia dos Aconteci
mentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de
S .Vicente , até o ano de 1876. Belo Hozironte: Ed . Itatiaia;
São Paul o?Fd . Univ.de Sao Paulo, 1980, v. 2, p.17-18. (Reconquista do
Brasil;nwa série; v. 3-4) .
2b.

íeAem quemos beneficiasse, e que isto causava '


não teAem os ditos Índios capitães nas atdeas,
nem justiça que os o bAÍgass e a cumpAÍA com as
pagas que recebiam , do que Aesuttava muito da-
mno aos moAadoAes , poAque ficavam peAdidos ,
peAdendo o seu mantimento , paga e tempo, e os
ditos Índios fazendo zombaAÍa e Aindo-se ate
vantando-se a maíoAes, e S.M. peAdendo os seus
Aeaes quintos. Que sendo as atdeas d' esta Capi
tania sempAe sujeitas aos capitães e justiças
d' esta Capitania, agoAa se intAoduzio peto di¬
to gentio um AumoA dizendo, que não conheciam'
senão aos padAes poA seus supeAioAes , e os di^
tos padAes andavam dizendo pubticam ente que as
ditas atdeas eAam suas, e que eAam senhoAes no
espiAituat e tempoAat; que o Papa eAa sua cabe
ça, e que poA seA cousa nova e desacos tumada e
nunca ate hoje tat domínio nem posse aos di¬
tos padAes se deu, depois que esta Capitania ’
se fundou ate hojem havendo-a pAetendído os
ditos padAes poA todas as vias e modos, e so
se thes consentia a admínístAação espíAituat .
E poAquanto as cousas passavam na foAma
dita os ditos offícíaes pediam a todos ettes
pAesentes que, se houvessem atguma pessoa que
soubesse hav eAem-se-thes dado posse aos ditos
padAes em atgum tempo, o dissessem , e quando '
não thes paAecia justo que AecoAda s sem sua an
tiga posse e bom goveAno, pondo capitães nas
atdeas, como se costumava fazeAm e dando o^
dem paAa que o dito gentio siAva poA sua paga
aos moAadoAes , paAa que com ettes cuttív em as
minas e façam seus seAviços, do que Aesulta
Ata dízimos ã Deus, quintos a Et-Pei, augments
aos moAadoAes e a ettes utítídade e pAovcitc
de vestÍAem-se com o seu tAabatho, ettes e suas
27.

mu.Zhe.JL eA e ^UhoA, apartando -a e com men con¬


tinuai Idolatsilai e bontLachelfiai de que não
pode steiultaa nem um ienvlço de Veui , i enão que
com o vicio e boH\achelsLai ie levantem con-
&ta. oi bfvancoi e monadonei como n' eita Capita
nla tem^elto , e n' out^ai pastei d’ eite Eita-
do." I”'

As justificativas para o conflito e para o di¬


reito que os paulistas se arrogavam sobre os índios eram:

. que eram homens pobres;

. que precisavam dos índios para trabalhar '

na produção de alimentos e nas minas;

que insuflados pelos jesuítas, os índios se


recusavam a lhes prestar serviço , aceiran-
do ordens somente dos padres.

Em nenhum momento, em nenhum trecho de doou" cç


to de 1612, os paulistas recorreram ao fato de terem ido ao

interior, além dos territórios de El-Rey,para conquistarem

aqueles índios. O mesmo ocorreu na representação que fizeram

contra os jesuítas, em 1641, documento transcrito abaixo, e

seus trechos mais significativos:

(19) idem, ibidem.


ff
ff 28.
ff

*
ff
«
" CatboíZco , benZgno e invietdAimo Rei e Sch/ioa!
- Oa AeveAe.nc/04 padreA da companhia de Jcaua
qae reAidem n' eAta província do Braóii, em pa
ga e AatiA^ação de oa morador ca the haverem da
do o methor, em que Aituaram cottegioA e caAaA
^eitaA com ddpêndioA de Aua fazenda, e depod
de Ae verem ricoA proAperoA e poderoAOA, impe¬
traram Aubrepticiamente uni breve de Sua Santi
dade, com que tratara me pretend eram de ti¬
rar, privar e eAbuthar aoA ditoA moradoreA da
poAAe immemorial e antiqudAima em que eAtão
deAde a fundação d' ede Edado ate o preAente,
A em a quat Ae não poderão nem podem AUAtentar
e conAervar , e com etta reAutta do dito EAtado
grandeA augmentoA e ã Real Fazenda de U.M., e
eAtando com AuaA coioniaA e atdeaA com oa di-
toA padreA querem e pretendem e etteA por acua
doutrinanteA , Ae Aeguem tantoA damnoA irrepa
/tav ed quantoA hão padecido e experimentado '
tanto ã Aua caAta oa pobreA moradoreA d'eAte '
dito EAtado.

"São teaeA vaAAattoA e que tanto zetaram o bem


de Rei, quanto com mad vantagem ó?ta hoje
A eu
Ae a muttidão d’ eítcA que aA mãoA ferozes do
dito gentio, por cauAa doA ditoA padeci, hão '
acabado vdeAAem vendo a U . M . «'eóóe ^etãcc
throno em que VeuA conAerve a V.M. por tonguÓA
AimoA annoA; porque Aem duvida, não tivera a
parca n' ettcA ^eito o acu efeito, c U.M. que,
como acu pai, e Senhor naturai, theA tivera '
acudido aA catamidadeA e miAerias, que de mui-
toA annoA a eAta parte padeceram, e cca ia-, cam
aA ignominiaA, catumniaA e a^rontaA que oa tc.
v erendoA padreA theA impuzeram e oa tev antamen^
toA do meAmo gentio, morteA, inAuitoA , íatro-
cinioA , rouboA , traiçõeA e outroA innumeraveiA
29.

maZeó que hão ^eãto, de que ha. ianio-i exempíoò


n' eòte dãto Eóiado." 0

Como se pode observar, também em 1641, o doeu


mento se fundou em ataques aos jesuítas e aos índios que, por
aqueles orientados, teriam praticado toda a sorte de atos
ignomiosos - não há nenhuma referência aos seus atos de bravu
ra no sertão, ou como quer J.H.Rodrigues(21), nenhum indicio
de que fossem conscientes dos efeitos históricos de sua obra.
Ao contrário, em momento nenhum, nesses documentos e mesmo em

documentos posteriores, nesse mesmo século, suas obras são


enaltecidas, seus feitos narrados como heroicos. A finalida

de destes documentos utilizava , para justificar-se, um ou¬


tro discurso, também, histórico, mas que se centralizava na

barbárie do índio e na cobiça do jesuita. Não existia ur deba


te quanto ã utilização do trabalho indígena; era ponto pacífi
co que isso cabia ao colonizador . A disputa se dava entre

dois grupos de coloniz adores , de um lado proprietários de ter

ras e conquistadores das tribos e de outro, os padres jesui

tas.

A conquista do território não era citada per

uma de duas razões: ou porque não era um fato relevante , ou

(20) MARQUES, M.E. de Azevedo, op. cit. , p.20.

(21) RODRIGUES, J.H. - op. cit., p.115.


30.

porque se dera em situação tão


critica que enfraqueceria a
argumentação dos cidadãos , contra os
inacianos.

Os documentos arrolados neste capítulo


datam
de 1612 e 1641. O primeiro, somente,
surgiu antes das gran¬
des bandeiras de apresamento que
atacaram as missões do Guai
rã, Itatim, Tape e Uruguai. Os primeiros
assaltos às missões'
foram os chefiados por Manuel Preto, em
1619 e 1623, e a par¬
tir de 1628 passaram a ser realizados
de modo mais sistemáti¬
co, de maneira que, em aproximadamente, uma década,
o conjun
to das missões jesuíticas foi destruído. Tais
missões locali
zaram-se em terras espanholas, como, no momento em que ocor
reram, eram também espanholas as terras até então
ocupadas
pelos portugueses. Vivia-se sob o Domínio Espanhol, e então '
não havia sentido em se pretender anexar à colonização es
panhola terras que já eram espanholas. Em segundo lugar, os
paulistas tinham destruído e despovoado os territórios das
missões, que somente muito mais tarde, quase um século de¬
pois, seria objeto de transações entre Portugal e Espanha,
nos Tratados de Limites.

As descrições dos ataques bandeirantes ãs mis¬


sões eram terríveis. A mais conhecida delas é a que consta da
obra do jesuíta Montoya
— Conquista Espiritual
em Madrid em 1639, transcrita em seus trechos mais
- publicada
significa
tivos por Capistrano de Abreu, e que se refere ao ataque da

Missão de São Francisco Xavier, em 1637:


nmi "Wo dia de São PnanciAco Xavien (3 de dezembno'
de 1937), eAtando cetebnando a^eAta com miAAa
e Aenmão, cento e quanentA pautiAtaA

veAtido o Aotdado doA peA ã cabeça peteja


com cen
e cincoenta tupiA , todoA muitoA bem anmadoA de
eAcopetaA, veAtidoA e eAcapiA, que ião ao mode
de datmãticaA eAto^adaA de atg odão , com

gu.no daA AetaA , a Aom de caixa, bandeina ten


dida e ondem mititan , entnanam peto
que
ac

povoado,
e A em aguandan nazõeA, acometendo a igneja ,
diApanando acua moAqueteA. Petejanam AeiA ho-
naA , deAde aA oito da manhã ate aA duaA da
tande.

ViAto peto inimigo o vaton doA cencadoA e


que
oa montoA A eu.A enam maitoA, detenminou queiman
a igneja, onde Ac acothena a gente . Pon tneA
vezeA tocanam-the ^ogo que ^oi apagado, maA
ã quanta começou a patha ã anden, e oa ne^ugia
doA vinam-Ae obnigadoA a Aain.

Abninam urn poAtigo e Aaindo pon etc a modo de


nebanho de ovethaA que Aai do cunnat pana o
paAto , com eApadaA macheteA e at^anjCA theA
dennubam cabeçaA, tnuncavam bnaçoA, deAjanneta
yarn pe.nn.aA atnaveAAavam conpoA. Provavam aço A
de acua at^anjcA em nachan oa meninoA em duai
panteA , abnin-theA aA cabeçaA e deApedaçaa-
theA oa membnoA" . (22)

(22) ABREU, João Capistrano - Capítulos da História :


1500-1800 & Os Caminhos Antigos e o povoaniejnto do Bja,-
.
sil Brasília; Editora Universidade de Brasi 1 ia , 1 9 82
pT116. (Col. Biblioteca Básica Brasileira).
32.

Somente quando as minas de ouro foram descober


tas, o que se dá já no final do século XVII, começaram
a sur¬
gir os primeiros documentos resgatando a História das Bandei
ras, seja sob a forma poética, sob o intento de informação ,
ou como relatos. A descoberta das minas deu às bandeiras a
legitimidade que elas nao tinham conseguido, e possivelmente'
nem mesmo almejado, com o apresamento dos índios.

Conviria aos paulistas usar a História de suas


conquistas, que poderia condená-los? Abrir questões que não
lhes dariam razões na contenda?

É bem possível que não. 0 resgate dos fatos de

um passado recente não traria vantagens para os paulistas - a

sua imagem , construída pelos seus efeitos e pela interpreta


ção que recebeu não tinha ainda condições de ser reconstruí
da, dado que não se colocavam, as questões de limites e as

minas de ouro descobertas não tinham sido ainda valorizadas.

Não havia para aquelas ações justificativa e muito menos pode

riam lhes servir como arma de defesa, ou seu relato cumprir '

uma função pragmática, no sentido de intervir, de modo efi¬

caz, na realidade social.

Os paulistas , talvez pelo isolamento em que vi

viam, talvez pela ferocidade de suas incursões eram tidos co


mo rebeldes, insubmissos, selvagens mesmo.
33.

Toda. aqueLLa ei gente deiaLmada y


aLev antada" ,
dizia em 1629, um sesuita citado por Paulo
Prado - " que no
hace caio nL de Lai Leyi deL Rey nL de VLoi, nL tLenem
que
vee^. nL com juitLcLai mayo^.ei deite eitado, y
quando no Lai
puede ganaa a iu voLuntad com dãdLvai de
ono o IndLoi, Lai
temo^.Lza com menazai , o iL ion pocoi Loi cuLpadoi hLyme a
Loi boiquei o a iui he^idadei y iemente^tai y
aLLa ie detLenen
en quanto Lai judLcLai eituveKen en La vLLLa . .
Resta lembrar que as Bandeiras chamadas de mi
neração também eram empreendimentos particulares, apesar de
receberem especial atenção e incentivo do governo português.

No entanto, o final do século XVII e a primei


ra metade do XVIII não foram pródigos em narrações nas tenta
tivas que se fizeram de historiar a descoberta das minas.

Taunay colecionou-os e os publicou em um volume, os Relatos


(24)
Sertanistas.

Os documentos colecionados e publicados pc r


Taunay tem como objeto a história dos paulistas em Minas Ge
rais, logo após as descobertas das primeiras jazidas mine¬
rais - não são, porém, contemporâneas ãguela descoberta. Dei
xadas por indivíduos que participaram dos fatos, quase todas
foram escritas passados anos da ocorrência do seu assunto prin
cipal.

(23) PRADO, Paulo -


op. cit., p.35
(24) TAUNAY, Afonso de E. -
(col. , introd., notas) - Rela-
tos Sertanistas. Belo Horizonte:Itatiaia ;S.Paulo: Ed .
Univ.de São Paulo, 1981.
34.

Veja-se quais são:

1 • Notícia dos primeiros descobridores das

primeiras minas de ouro pertencentes a es¬

tas empresas e dos ma i s memoráveis casos

acontecidos desde seus p r i'n c T p i o s .

Este primeiro relato, acusa Taunay, é o famo¬


so apõgrafo de Bento Fernandes, e do qual só se conhecia um
resumo publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro, em
1899.

Bento Fernandes tinha ligações familiares mui¬

to próximas com os participes das descobertas auríferas: era


filho do bandeirante Salvador Fernandes e casado com uma neta

de Carlos Pedroso da Silveira, outro sertanista. No seu rela


to , ãs suas próprias memórias se juntam as de seu pai.

Sua narrativa tem início no ano de 1693, com

as primeiras descobertas das jazidas de ouro, a partir da

bandeira de Antonio Roiz Arzão, em Minas Gerais. São lembra¬

das as várias expedições que partindo de São Paulo ou outras

vilas descobriram ouro. A narrativa é intercalada de episó¬

dios de casos dos bandeirantes , que o autor tinha ouvido con


tar.
Hã sempre um profundo traço de simpatia para
com os paulistas e se nota uma
preocupação, mesmo quando se
trata de contendas entre dois deles ou
dois dos seus grupos
a de não denegrir aquele que não ê elogiado.
Veja- se, por exem
pio, a descrição que faz das
relações entre paulistas de
São Paulo e os de Taubaté. Aqueles por
serem mais poderosos
encontraram veios mais ricos, que não eram tocados pelos de
Taubaté, que por serem pobres, queriam
enriquecer com seu pró
prio trabalho.

A memória de Bento Fernandes, escrita segue


do alguns por Claudio Manoel da Costa não nerdoa, oorêm ,
os portugueses quando se refere ã Guerra dos Emboabas, ao
"pe'inZcZoio Eevantamcní o ... dos zngtatci da Eutcpa
contra os famosos descobridores desses havetei, puto
de tantos desvalidos Europeus, c ccr.tta ei pautai tai r.õe
<- -
nos empregados nos mesmos descobrimentos e ccrc 5 <c <c *
mos ingratos; nome este de paulistas, odioso entre asseies
os -
que os não puderam imitar, nem deixar de receber destes os
favores que os constituíram ingratos ; próprias ações a ...e
arroja a inveja em quem não permanece merecimentos c lotto

a ambição de senhorear o alheio por meios vZoiCHtei , o- "\u-;

razoáveis"

(25) .
TAUNAY , Afonso de E -Relato Sertanistas , op cit . . , p. 35 .
(26) TAUNAY concorda com a hipótese levantada por Orville
Derby de que Bento Fernandes tenha contado suas men;
rias para Cláudio Manoel da Costa, que as teria escrito,
pois "o estilo da memória atribuída ao Cel. Bento Fernan
des acusa antes um literato que um sertanejo e terço er
vista as relações entre o velho mineiro e c porta e de
de suspeitar aue a redação deste documento tosse ta~rer
de Claudio Manoel" (cf .TAUNAY , A de E-Relatos Sertanistas
op. cit. p.14) .
. „ ^ ...
. de
Sao dois os pontos básicos
que chamam a atenção neste

abfctft ai tenAaAt ...


destacados

ao enfrentar
gentio, como por exemplo, ao afirmar que, em
se tratando
acima
documento. 0 primeiro é a simpatia
pelos paulistas; a quem,o documento
tence a gloria de ter descoberto as
enfatiza seguidamente ,per
reservas minerais, graças
ao fruto de seu trabalho e do seu destemor

Borba Gato, que era adotado de "bom engenho e capacidade".


ainda, ao descrever o crescimento da região aurífera:

c-to-ó em csteActdo aumento porque no


Ou

aumentando ai povoações , oa Zu-


tavafi,
^ot ctLCAcendo o nego_
kAAtm
cto de eACfiavoA , gadoA , cavatgadu^aA , ^azendaA
e matA vZveneA de toda a Aonte eonduztdoA com
o maton. tftabatho , a que obntga o tnte^eAA e '
aoA homenA , Aestvtndo então naqueteA p^tncZptoA
de condutoA-eA ai meimai AelvZA humanai; pesque
o daA beAtaA atnda não ttnham panagem ^íanca,
como ac depcZA tZve^am ^anqueadaA , e cuítZoa
doA camZnhoA " .
(27)

O segundo aspecto a ser destacado ê a mã-vonta


com os reinóis. A memória deve ter sido escrita já
gunda metade do século XVIII, quando as minas iam em
decadência e pesava a sombra de uma possível, embora poucc

provável, derrama. Estudiosos como Taunay, Derby, afirmam


gue
36.

na se
franca
o
de

Histo
as memórias tiveram um papel importante no Fundamento
Cláudio Manoel da Costa, conhe
rico do poema "Vila Rica" , de

(27) TAUNAY, Afonso de E. -RelatosSertanist^, op.cit.,


48.
j mn eido participante da Inconfidência Mineira. 0
origem num momento bastante distinto da história,
quando eram
bastante evidentes os sinais de descontentamento da camada
documento teve

'
privilegiada de Minas, em relação ao sistema colonial.

A proximidade não somente temporal, é tambê-


geogrãfica. Seu autor morou durante 60 anos em Serro Frio, na
região da Mineração, onde mais se fazia sentir o controle do
governo metropolitano.

Parece se dar, no caso das memórias de Bento


Fernandes o momento em que "o paAAa.de entna no pneiznte como
co-còa vtva, tnabatha nete com a mCAma, ca Aemethante, $cnça
que o contempondneo e aA neAtauttzaçc ca que dete az
tnanAmttem Aem dttação em com toda ma canga em ettea ai pode
HOAaA pnciençai do panado nai contendai do mamente atuai".
Num momento histórico, onde se faz ouvir a reação de uma cama
da da Colónia contra a dominação portuguesa, iniciou-se a
construção de um conhecimento histórico onde se ressaltava de
forma positiva a obra de um grupo de colonos, autor de desco¬
brimentos que enriqueceram a Metrópole; e de forma negativa ,
os que vieram de Portugal.

O resgate do passado, no documento se faz atra


vês do levantamento dos nomes dos que descobriram as Minas.
A notícia não é das descobertas, mas dos descobridores; não é

(28) FLORESCANO, Enrique -


De la memória del poder a la his¬
tória como explicacion.In: História, para que? 5a. ed.,
México: Siglo Veinteuno Editores, 1984. p.93-127.
. das jazidas mais rendosas, mas das pessoas mais
(sempre os colonos). A "Noticia"

bas e

ção
se estrutura de forma
figurar como um testemunho jurídico do direito de posse ãs
quezas descobertas, das quais se apropriaram " Oà -ingrato A
£h.0A da Europa" .

2 .

cípio até o tempo que a


ri

Relação do princípio descoberto destas Mi¬


nas Gerais e os sucessos de algumas coisas

mais memoráveis que sucederam de seu prin¬

veio governar

Exmo. Sr. Dom Braz da Silveira.

Este documento faz parte da coleção organizada


pelo ouvidor de Vila Rica, Caetano da Costa Matoso, conhecida
pelo Códice Costa Matoso, por volta de 1750.

O seu assunto principal é a Guerra dos

não propriamente as expedições, descobertas ou


do ouro pelos paulistas.

Apresenta a visão exatamente contrária a Memo


ria de Bento Fernandes, pela declarada simpatia aos portugue
38.

assinaladas

Emb' a-

explora
a

ses e por afirmar que "com a míAma Bandc-csta v-cc^iam nac


io
39.

pauZotaj, ccmc tamb'em jithoA de Portugal


e Rto de Janei-
Continua o documento a afirmar que
homens de
ou¬
tras regiões também vieram para as Minas,
na tentativa de
negar dos paulistas a primazia da descoberta,
e assim expli¬
car a Guerra dos Emboabas, não como fruto da disputa
entre
paulistas e portugueses, mas de disputas
pessoais entre
paulistas, liderados por Jerônimo Pedroso, a quem
chama de
Poderoso, e os portugueses que tinham por chefe Manuel Nunes
Viana .

A luta teria sido, no seu entender, travada ne

la posse de uma espingarda, o que descaracterizava a disputa

pelo direito da exploração das minas, que os paulistas reivir.

dicaram para si e que era contestado pelos portugueses.

3. Dou parte do que vi e sei.

Mais um relato do Códice Matoso, crue ter como

assunto central a Guerra dos Emboabas, tratada de maneira me

nos detalhada que o anterior. Também demonstra claro partida-


rismo pelo lado português. A luta se explica pela disputa pe_a
superintendência das minas, travada entre Borba Gato e la..-e_

Nunes Viana.

'29, Relação do princlpuo descoberto destas Minas Gerais e


que suce
os sucessos de algumas coisas mais memoráveis gcvernar
deram de seu principio até o tempo que a veio
o Exmo. Sr. Dom.Braz Silveira . In :TAUNAY , Afonso de
Relatos Sertanistas , op. ci t . , p.65.
4. Ill (Documento sem título-1)

Descreve o Rio de Janeiro, de 1692, onde o


autor anónimo teria chegado, aos 20 anos de idade. Estas me
mórias não cuidam do movimento bandeirista ou da descoberta
das Minas, mas descreve as condições de vida nas regiões das
minas, e a lista de governantes que as Minas tiveram nos
primeiros cincoenta anos de século XVIII. Também relata, bre
vemente , a Guerra, que chama de levante contra os paulistas,
e demonstra apoiar, como os dois relatos que o antecedem, os
portugueses.

5 . IV (Documento sem título -2)

Este último documento do Códice Cesta Matosa


descreve as bandeiras que, na última década do século XVII '

atingiram o rio de Guarapiranga , sem a riqueza de detalhes


do manuscrito de Bento Fernandes, feito a pedido do Senado '

(sem que se esclareça qual) tal como os 3 relatos que e ante

cedem. É o mais pobre em informações do relato do Códice Ma


toso que Taunay publicou. Sua narrativa restringe-se a três
primeiras bandeiras que atingiram a região de Minas.

Os quatro documentos acima, pertencentes seoco


•11 .

do Taunay ao Códice Matoso, foram depoimentos prestados do


Ouvidor de Vila Rica. Seus autores eram portugueses e tinham
maior interesse em defender os seus patrícios, como também
em agradar a administração colonial.

6. História do Distrito do Rio das Mortes, Sua

Descrição , Descobrimento das suas minas,

casos nele acontecidos entre paulistas e

emboabas e criação das suas vilas, de Jo¬

sé Alvares de Oliveira .

A memória acima é de autoria do Sarcento V.õr


português José Alvares de Oliveira e deve ter sido redigida ,

de acordo com Taunay, entre 1750 e 1751. O sargento-mõr José


Alvares de Oliveira era comandante de tropas que tomou parte

ativa na refrega. O mais interessante no documento ê a disto


sição manifesta pelo autor "de desempenhai na mcíhoi
que f^osse possluet o mandato de V.Mce. . Percebe-se
pela dedicatória do Corregedor da Comarca do Rio das Mortes
a preocupação de agradar as autoridades portuguesas.

(30) TAUNAY, Afonso de E.


94.
- Relatos Sertanistas, op. cit. o.
•12.

O depoimento inicia-se com uma longa descrição


da armada de Pedro Alvares Cabral, e se compara a ação da co
Ionização portuguesa ã de outros países, em
outras regiões da
América .

Chama a atenção essa parte da narração onde


se omite a expansão das bandeiras, e
colocando diretamente
nas mãos da colonização portuguesa a expansão
territorial que
poderia ser maior "ôe aóótm como ai
maii naçõei cuidam em ei
tendei oi ieui domznioi cuidana a nação pontugueia em ienho-
n.ean e comavan o quanto a Fortuna na America the tnibutou'
pana a ditatação de iua Monanquia e gnandeza de ieu Império,
quii a Vivina Pnovidência atem dai pnecioiidadei que pnoduz
'
enn^quecen ... (37) .0 texto nega, pela omissão a penetração
do território e a descoberta das minas como ação dos
paulis¬
tas, no afã de garantir a glória da expansão
territorial dos
portugueses, para logo em seguida lembrar do "caminho anti
guiaimo que iempne ieguinam ai bandeinai doi iet tani i ta i pa
na o Sentão de Cataguaiei até o ^Zm do iccuto de setecentei

que deite tempo pon diante o meimo caminho que io c^a tnibha
do doi ientaníitai ie (^ez uma eitnada... í 3 2 )

Não distingue porém quem eram os "sertani stas"


e nem de onde vinham, mesmo a custo de, num texto que tem a

(31) TAUNAY, Afonso de E.~ Relatos Sertani stas , op . cit p . 98


(32) idem, p.99
43.

pretensão de ser erudito, com citação de entidades mitclõgi


cas gregas, por exemplo, não usar nenhuma outra palavra para
substituir a de "sertanistas".

As referências aos Paulistas são feitas para


ressaltar a sua altivez em oposição ã submissão dos Emboabas
ou forasteiros, ou para falar das ” ínóo£êncZa<s dos Pautis
e aj, dcieipeA.açõe.ó dos Emboabas" , o dos " insuitos e in
<so£êncZai dos paulistas , estimule principal do que. diante a
vZ-tã (a Gueaaa dos Emboabas) e pon não o^endea muito cs ouvi
dos dos bons com o malefício dos maui ^ique como no esqueci
mento a aelação das montes que se faziam. Paxa se cometerem
não exa necessaaio qualquea emboaba caia, bastava tropeçai ,

fazendo tanto apreço da vida de um emboaba como a de um cachct


ao, do que nasceu o dito vulgaa, ouvindo qualquea tiao- lã mordeu cac
_ t

ou emboaba
„(33)

E facil entender o rancor de José Alvares de


Oliveira - afinal ele mesmo era um emboaba que narrava a ou
tro português suas aventuras, ou melhor, desventuras no ini
cio do século XVIII. A história que a narrativa recupera é , co

mo não podia deixar de ser, a história dos portugueses cue


afuiram ã região das Minas e que entraram em conflito cor seus
descobridores que tinham poucos recursos para explora- las. O
autor não tem porque legitimar a posse dos paulistas sobre as

jazidas, colocando como sua obra a descoberta daquelas rique¬


zas, que também não são mencionados como motivo dos conflitos.

(33) TAUNAY, Afonso de E. - Relatos Sertanistas, op.cit, p.lll


44 .

Não se pode fugir a comparação com a memória '


de Bento Fernandes, transparente no seu favoritismo pelos pau

listas. Esta última foi também escrita em igual período, e se


a primeira pretende armar historicamente os colonos, aqui
fi
ca claro a intenção de fornecer aos portugueses informações '
que permitam, com justificativa histórica, manter a dominação
numa região onde come*çavam a apontar sinais de rebelião. Os
documentos enumerados acima surgiram por volta de 1750, em Mi
nas Gerais, quando já se faziam sentir os primeiros sintomas
da decadência da Mineração e quando se estabelecera que o mí
nimo rendimento anual do quinto deveriam ser de cem arrobas .

Alexandre de Gusmão em " MimíAtai doi ^atoi que. hao ieavido


de moíZvo ài intentadai ou iupoitai imuAAeiçõ e-6 da America
Positugueia" , citado por José Honorio Rodrigues , aponta
como " ^ato que ieAviu de motivo patia A.enovaA-i e a £atta de
obediência ao GoveA.no nai ComaAcai dai Minai ^oi o estabcíe
cimento doi quintoi de ouao petoi anoi de 1750" A falta de
obediência a que se refere Alexandre de Gusmão pode ter aler
tado as autoridades na busca de entendimento para outras re
voltas ocorridas, como por exemplo,ã Guerra dos Emboabas em
meio a outros motins, que possivelmente, não envolviam os
descobridores das minas, mas seus posteriores exploradores.

A Guerra dos Emboabas deixou uma bibliografia


razoavelmente extensa, escrita logo após a sua ocorrência:

(34) RODRIGUES, José Honõrio - op. cit., 237.


45.

Padre Manuel da Fonseca, Rocha Pita, Nuno Marques Pereira ,

Luis dos Santos Vilhena foram autores que dela se ocuparam,

ainda na primeira metade do século XVIII.

0 padre Manuel da Fonseca escreveu sua obra ,

por volta da metade do século XVIII. Trata-se da biografia

do jesuita Belchior de Fontes, mas contém informações numero¬


sas São Paulo e Minas e sobre a Guerra dos Emboabas .

O livro é francamente simpático aos portugue¬

ses
— e isso se explica: seu autor português e jesuíta
teria motivos para aceitar os sertanistas oaulistas,
não
”cúmp£Z-
dcíieó poiçue ccm viviam
~ ( 36'
tacto A dc <nd<ci que tinham t^az-ido do òc.ttãc..." '

O trabalho de Manuel da Fonseca, recolhido e

destruído por ordem da Mesa Censora, mostra uma imagem, extre-

neqativa dos paulistas, formada, com toda a certeza,

a partir das informações jesuisticas.

Antes de Manuel da Fonseca, outros autores 1

tinham se ocupado da Guerra dos Emboabas, levados por um ror

te sentimento no sentido de defender os portugueses, assim e

35 FONSECA , Pe .Manuel- Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes


trecho' .Revists do Institute Histórico e Gecgr atice Brasileiro ,
Rio de Janeiro:t.III: 261-281,1841.
PITA, Sebastião Rocha-História da Anérica Portuguesa . Belo Horizon¬
(Re
te: Itatiaia ;São Paulo:Ed. da Universidade de São Paulo;1981
conquista do Brasil, v. 32) .
PERE IRA , JAr.o >larques-Curpêniio Narrativo do Peregrine da América .
6a. ei.Ri o de Janeiro: Azaàará a Brasileira de Letras, 1939. 2v. 7
VIIiBNA.Liiis dos Santos-A Bahia no sêc.XVIII.Salvador, Ed.Itapua,19c9,3v.
36 ) FONSECA, Pe. Manuel, op. cit. , passim.
46.

que Rocha Pita e Nuno Marques Pereira creditaram os mais


negros intentos aos paulistas, e ". o
primeiro por ser em todos os momentos da sua obra, "a íu
Aztana do Co£oni.aV ,um admirador da colonização '
portuguesa no Brasil. 0 segundo,emboaba , foi um deles escre¬
vendo sobre o período , a pedido de Manuel Nunes Viana - e
a visão , que transmitiu dos paulistas, não poderia ser pior.

É de Luís dos Santos Vilhena, nas Notícias So


teropolitanas e Brasílicas, que apareceu em 1802, uma visão mais
benéfica dos paulistas, a quem creditava o mérito de primei
ros descobridores das Minas; e um tom menos parcial ao descre
ver o conflito.

Estes últimos trabalhos aqui citados não tive

ram como o núcleo a História das Bandeiras, ou de São Paulo


ou da descoberta das Minas - não se aprofundaram nessas ques
tões, e seus autores, muito mais ligados aos representantes
do poder metropolitano , não tiveram como objetivo a glorifi
cação dos paulistas , como não foi também seu objetivo transfer
mã-los em vilões. Eles foram os vilões , na medida em que
isto significava apoiar a autoridade portuguesa, ou no caso
de Manuel da Fonseca, de ratificar a opinião que os jesuítas
do século anterior ã guerra, tinham emitido.

(37) RODRIGUES, J. Honório - op. cit., p.496.


4 ~.

A exceção fica por conta do livro de Vilhena,

que surgiu, no início do século XIX, carregado já de uma no¬

va mentalidade, que demonstrava uma atitude critica do coloni


zador, sobre a colonização em crise. — (38)
'

Ainda no século XVIII foram produzidos outros'

documentos relativos ã História das Bandeiras paulistas cole

cionados pelo Padre Diogo Soares e que se encontram na Biblio


teca da Época.

D. João V fizera contratar na Itália, como as¬

trónomos, ou mais exatamente, como técnicos da observação das


longitudes, dois padres jesuítas, Carbone e Capassi, que che

garam a Lisboa em 1722. Sete anos depois o padre Capassi foi

nomeado, juntamente com o jesuita português Padre Diogo Soa-'


Estado,
res, para vir ao Brasil, "para fazerem mapas do dito
" (39)
nao só pela marinha, mas pelos sertões.

Além desse objetivo, a missão dos chamados Pa

de fixar a verdadeira po
dres Matemáticos tinha a finalidade
sição das terras ocupadas por Portugal , em relação ao Meri¬

isso, todas as regiões


diano de Tordesilhas. Percorreram, por
lado das pesquisas
ocupadas pela colonização portuguesa, e ao
inúmeras cosei i-
de astronomia, o padre Diogo Soares colheu
de localização de
ções de caminhos, postos de referência,

Minas, etc.
na Colonização
Guilherme-Mentalidade Ilustrada405:
Portu¬
( 3 8~) MOTA, Carlos 416, .
guesa. Revista de História, São Paulo: XXXV-72:
dainv Alex.iuh e de
( 39 ) Alvará do Conselho Ultramarino, apud. CORTESÃO, das Pe..
o de Janeiro, Ministério
Gufanão e O Tratado de Madrid.IRi
ções Exteriores, 1956. Par te , T.II , p. 7-8.
48.

Os relatos que tratam da expansão e da ocupa¬


ção de terras pelas bandeiras foram publicados por
Taunay. 40)
São os que seguem relacionados abaixo:

7• Notícia - la. Prática.

Que dá ao P.Me. Diogo Soares o Alferes José

Peixoto da Silveira Braga do que passou na

Primeira Bandeira que entrou ao descobri-


mento das Minas do Guayanases até sair na

Cidade de Belém do Grao Pará ( 1 7 3M

Pelo que deprende da narrativa o Alferes José


Peixoto da Silveira, português de nascimento, participou da
Bandeira, que chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva, c 29
Anhanguera, saiu de São Paulo em 1722, pretendendo atingir a
região de Guayanases. Com alguns companheiros, Silva Braga
desligou-se da Bandeira, onde passava por necessidades e
por via fluvial, procurou o caminho de Belém do Pará, onde
chegou depois de muitos tropeços e de, juntamente com seus
companheiros, ter encontrado grandes dificuldades para sobre
viver durante o percurso.

(40) Parte deles foi publicada por TAUNAY, A. de E . Rela-


tos Sertanistas, op. cit.
idem, Relato Monçoeiros.Belo Horizonte: Itatiaia;( Sao
Paulo):Ed. da Universidade de São Paulo, 1981 ( Recon¬
quista do Brasil; Nova ser. v.33).
Wit O documento filtra, todo tempo, um profundo '
49.

rancor contra o Anhanguera, e se por oposição deixa uma ima


gem positiva de seu genro Joao Leite Ortiz, não tem em parte
alguma do texto a intenção de valorizar os atos dos paulistas.
Ao contrário, deixa entrever que as marcas deixadas pela Guer

ra dos Emboabas estavam ainda bastante evidentes, vigorando '


ainda entre paulistas e portugueses profunda desconfiança.

8. Dada ao R.P.M. Diogo Soares, pelo Sargento

Mor da Cavalaria Francisco de Souza Fa¬

ria, primeiro descobridor e abridor do ci¬

to Caminho.

O documento reconstitui o roteiro do narrador

de São Paulo aos campos de Cutiriba, percorrido entre 172~ e


1730. Cuida sobretudo das descrições dos caminhos e das ocs
sibilidades de sobrevivência de quem o cruzou, procurando de¬
monstrar as pequenas possibilidades de exploração mineral da
região percorrida.

Não se trata da região que tenha sido devasta¬

da pelas bandeiras de mineração, mas tão somente de caminhos


que poderiam ter sido traçados pelos preadores de Indies, eobo
ra não se faça menção a nenhum desses dois tipos de bandea¬
ras.
so.

9. Noticia - 2a. Prática

Dada ao P.M. Diogo Soares sobre a

do novo caminho pelo piloto José

que foi e acompanhou em todo e ' e

mo Sargento-Mor Francisco de So>ze

I0 . Noticia - 3a• P r ã t i ca

Dada pe I o Coronel Christovao Pere'^a

Abreu, sobre o mesmo caminho ao F.p*

go Soares.

Os dois documentos acima reconstituem o


ro feito na mesma expedição, pelos seus narradores
São Paulo e os Campos de Coritiba, percorrido entre
k730.

Cuidam sobretudo da
das possibilidades de sobrevivência com os recursos
que apresentam, demonstrando uma preocupação no ser
estimular a ocupação portuguesa na região meridional õa
ca do Sul, aconselhando a Coroa Portuguesa a não í

uóunpast. 04 4euò domin-íoó, e pendei ai gnaí.d; z


que peto dito caminho podem neòuttan ã ma Kia>. I z : £

Vaaatoó" .

(41) TAUNAY, A. de E. -Relatos Sertanistas , op cit . , p.l€l .


1I . Notícia - la. P i j t i c j

Que dá ao R.P.Diogo Soares, o Capitão-


Luiz Borges Pinto, sobre o descobrirento 1

da célebre Casa da Casca compreendidos *


nos anos de 1726-27 e 28, sendo governador

e Capitão General D.Lourenço de Al-eida .

12 . Notícia
* - 2a. Prática

Dada pe 1 o Alferes... Moreira ao P.N. Diogo

Soares das suas Bandeiras no de s co b r '


~~e - 1o

do celebrado Morro da Esperança e-pree^c'-

do nos anos de 1731 e 1732. sendo general


D.Lourenço de Almeida.

1 3 • Notícia - 3a • Prática

Que dá ao R.P.Diogo Soares o Heste ce

Campo, José Rebelo Perdigão, sobre os o- -


meiros descobrimentos das vinas èe ç > co

Ouro.

Os três documentos enure:uccs .

ros geográficos circunstanciados dos caminhos e aete.entes e"

contrados pelos sertanistas que os narraram ser no entanto

entrarem em consideração sobre os motivos que os levar.v


fazê-lo. Tratam de descoberta do ouro e, com o oue se se o
52.

parecem preocupados em marcar o caminho seguido, antes de tu¬


do.

Nos Relatos Monçoeiros, Taunay publicou mais


documentos da Coleção do Padre Diogo Soares.

14 . Notícia 6a. Prática

E relação verdadeira da derrota e viagem ,


que fez da cidade de São Paulo para as mi¬

nas de Cuiabá e o Exmo. Sr. Rodrigo César


de Menezes governador e capitão genera 1

da Capitania de São Paulo e suas minas de s -

cobertas no tempo de seu governo, e ne 1 e

mesmo estabelecidas.

Ê o relato extremamente detalhado da ao-.de- :

da viagem de Rodrigo César de Menezes de São Paulo a Cuiabá,


por via fluvial. Todos os acidentes geográficos fora? descri¬
tos, bem como os obstáculos e dificuldades da viagem, incluir.
do as mortes de brancos e de escravos negros.

A divisão do documento foi baseada nos rios

navegados, assim está dividido em Rio Grande Abaixo, Rio

Pardo Acima, Rio Camapoão-Mi ri m , e ass m por diante.


Das Minas do Cuiaba e Goiases, na Capita¬
nia de São Paulo e Cuiaba que d á ao R e v . P a
-
d re Diogo Juarez , Antonio
Cabral Camello sobre a viagem que fez â'.
Minas do Cuiabá no ano de 1727 .

Mais uma narrativa plena de detalhes,


pedido do Padre Diogo Soares, como esclarece o autor
logo no inicio. A divisão do relato se faz pelos rios percor
ridos, tal o anterior aqui citado.

Este documento se completa com a Notícia


2a. Prática.

Do que lhe aconteceu na volta, que fez das mes


mas Minas para São Paulo.

I6 . Notícia 7a. Prática

E roteiro verdadeiro das Minas Cuiabá e de

de todas as suas marchas, cachoeiras, itai-

pavas, varadouros, e desca r regadou ros das

Canoas que navegavam para as ditas Minas,

com os dias da Navegação, e travessia que

se c ostumam fazer por Mar e Terra .


54 .

Mais uma viaqem descrita pormenorizadamente ao


1'adie Matemático. Descrever o percurso de São Paulo ã Cuiabá,
com todos os acidentes geográficos dignos de nota para servi
tem como ponto de referência.

Os documentos da coleção do Padre Diogo Soares


tem a caracteristica de descreverem os aspectos físicos que
se destacavam no caminho que ligava São Paulo e Cuiabá. Cum
priam a uma finalidade esnecifica: contribuir para a elabora
çao dos mapas e cartas geográficas, da qual os Padres Capassi
e Diogo Soares estavam encarregados. Não cuidaram de esclare
cer nem o oapel, nem o significado das bandeiras, como tam-'
bém não discutiram a primazia na descoberta , a valentia, a
coragem dos sertanistas - mas estas qualidades perpassam num
certo tom de orgulho, com que se narraram as dificuldades ,
obstáculos e violência encontrados no percurso.

17. Breve Notícia

Que dá o Capitão Antonio Pires de Campos .

Do gentio bárbaro que há na derrota da via¬

gem das Minas de Cuiabá e seu recôncavo. na

qual declara-se os reinos, a que chegou e

viu por maior, sendo em tudo diminuto, por

que seria processo infinito, se quisesse1

narrar as várias nações, nos mesmos usos

e costumes trajos e vantagens que fazem e


k ~enos numerá-los, por se perdes o algaris-

-o , pr i n c i p a 1 me n t e no dilatado reino dos

Perecizes, tao extenso e dilatado e seus

mu
habitantes por extremo asseadissimos e es¬
i
táveis e tão curiosos que podem competir
co- as mais das nações do mundo no seu tan¬

to, e dos que aqui não faz menção, o fa¬

rão outros ma i s curiosos que ele, se o

faz, do que a experiência lhe tem mostrado

no decurso de tantos anos, até o dia 20 de

~aio de 1723.

Como o extenso título permite antever, a noti¬


cie. tez como assunto mais detalhado, a descrição dos indíge¬
nas encontrados pelo bandeirante que o assina, em suas ban-
deiras ate a região das minas de Cuiabá. Nao é possível per
ceber qual o objetivo do relato do bandeirante, um dos que
aTtstsrer a fancsa Serra dos Martírios , a nao ser o mais evi

dente, de auxiliar aqueles que pretendessem entrar pelos nes-

mos sertões que já havia caminhado.

Após descrever todas as nações indígenas cor

as quais tinha tido contato, Antonio Pires de Campos , finaliza

_
sua Noticia cor a afirmação que: "Todos esses
íioo dt. que dou. uot4.cta
sertões c gen-
descobertos petos pauttstas" ,
j £

«2 1 op- cit., p.194.


56.

única referência ao papel dos paulistas na descoberta do ouro


em Mato Grosso.

No mesmo capitulo está inserto o "PoíeZAo úue

deu. c capitão Mot AníonZo PZ-tei de Campos ao Capitão -Moa. LuIa


RcdA.lgu.ei VltaAei, pAocuAadoA do povo da UZZa ReaZ do SenhcA
Sor Jeiui de Cuiabá pasta o deico bAlmento de gAandei ãabeA.ei '
paAa ai aldelai doi gentloi ÁAaéi" .

Taunay publicou ainda outros documentos sobre


os descobrimentos auríferos, nos Relatos Sertanistas , como '
os que se seguem:

- Demonstração dos diversos caminhos de que os


moradores de São Paulo se servem para cs Pass
Cuiabá e Província de Côchiponé .

- Roteiro para os Martírios, indo em. Canoa os


lo Ribeirão de Goiás.

- Notícias de Antonio Pires de Campos, dadas


por Antonio do Prado Siqueira no ano de 1'

- Notícias das Minas dos Martírios, oferenõas


ao Governador e Capitão General Luro P Adiu
querque de Mello Pereira e Caceres,cor Jsã
Leme do Prado.
Os últimos relatos, enumerados acima, trazer
todos, explicações de caminhos para se atingir a famosa Ser¬
ra dos Martírios, vislumbrada pela Bandeira de Anhanguera
e
de Manuel de Campos Bicudo. Parecem destinados a orientar no
vas expedições em direção à legendária Serra, que deveria
guardar incontáveis tesouros. Tais documentos, fica evidente,
foram redigidos e oferecidos a autoridades do governo colo¬
nial , para facilitar a organização de outras expedições, cue
a ela pudessem se dirigir. Deles não consta nenhuma referên¬
cia às expedições que se aproximaram da região indicada co
mo realizadoras de grandes atos de bravura ou covardia, não
há outra informação a não ser dos possíveis caminhos .

Os dois últimos document os do livro duas Noti


cias Práticas da Costa e Povoações do Mar do Sul direr res¬
peito às penetrações que, na 2a. década do século NV1II se
fizeram em direção à Ilha de Santa Catarina e ao Co-tine-re

de São Pedro.

Os documentos histori oc rát cos é. v- c

tade do século XVIII, colecionados e publicados ro- .. s

nesse volume, e nos Relatos Monçoeiros, oonstitue cause a

totalidade dos textos encontrados , sobre o período

formam uma coleção de autores que descreveram v cu. e-

te o que viram e o que ouviram contar.


Percebe-»» , na maioria deles, a
servar os caminhos que teriam sido percorridos
pelas expe
çoes sertanlstas, para que os roteiro» puoeosem ter retort
tuldos. Em dol» deles a memória de Bento Fernandes e a Me
ria para a História do Distrito do Rio das Mortes há ocr
evidentes, outras pretensões
na°)
- no primeiro de garantir '
acs paulistas a glória da descoberta das minas.
glória não significava algo de abstrato,
mas sin , no mo
que o texto descreve e no momento que foi
descrit
to de posse das riquezas ao seu verdadeiro dono.

Da mesma forma, o segundo documento aqui cita-


do pretende negar essa glória aos paulistas, cu a quer
fosse, senão aos portugueses. Não deixa de ser esclareoed
sua parte inicial, onde remonta ao descobrimento do Srasul
primórdios de sua colonização, chegando ao õ esoonr i -er t
jazidas auríferas e de minerais preciosos
colonos (paulistas ou não) tivesse conseguido.

O intento do texto é atribuir aos port.


a posse e a propriedade das terras que guardavam as raq_ezas
e por este motivo citar a sua descoberta coro obra dos o.1
nizadores, que a elas tinha.” direito.

£ possível agora, por comparação, tentar res¬


ponder porque não surgiram documentos semelhantes a esses

quando das bandeiras de apresamento. Naquele contexto nao


teressava aos bandeirantes garantir o direito que julgevar
ter sobre as terras de cnáe tinham arrancado a riqueza cue
59.

ÍIWÍC disputavam (o índio). AO contrário do que se aoresentava mais


tarde na região das minas as terras não escondiam mais
quezas. Às que interessavam era então objeto de querela entre
paulistas e jesuitas. Não havia interesse para os paulistas '
em manter o domínio sobre aquelas terras de onde tinham
zido os índios.
ri¬

tra¬

Na região mineradora, era diferente c que acon


tecia. Em primeiro lugar, os paulistas não tinham sido muito
felizes na tentativa de se enriquecer com o ouro e pedras
preciosas que encontraram. Mais felizes foram os reineis, que

donos de maiores recursos puderam por a seu trabalho um núme


ro maior de escravos e assim conseguiram maiores riqueza
que os paulistas.

0 fisco também significou outra ameaça 1=

sibilidades de enriquecimentos dos paulistas. Deve-se lemcrar


que a partir das últimas décadas do século XVII, ocorreram vá
rios movimentos contra a ordem da administração oortucuesa e
que a região das minas tinha sido palco de um das mais 10

lentos, chefiada por Felipe dos Santos, em 1720. Esse terás


do, quando a fiscalização metronolitana ou mais forte, é
o período que viu surgir as primeiras narrativas dos concurs
tadores das minas. Viu surgir também as justificativas ãos
portugueses, e seus ataques contra os colonos, retresentaãos
pelos descobridores das minas, e explícitos nas reou~eraoões
que se fizeram da guerra dos Emboabas.

Se no seiscentismo não havia necessitate te


60.

se garantir a propriedade das terras onde se havia encontra


do a riqueza maior: braços para o trabalho agrícola, a desco
berta das minas e a sua exploração tornou necessário que os
testemunhos se fizessem no sentido de garantí-las àqueles que se
julgam seus donos.

Nos relatos do século XVIII é possível encon¬


trar, até com facilidade a História militante de que fala
Marc Ferro . A História construída para garantir a um gru
po a legitimação do poder. Escritos por uma necessidade do
seu presente, os relatos recorreram a um passado recente (não
chegaram, à exceção de José Ãlvares,a avançar mais que duas ou três
décadas) para responder ãs necessidades impostas cela sua rea
lidade presente.. Necessidades e questões que não se impuse
ram quando das questões referentes aos indígenas, mas que
se fizeram prementes - nos momentos em que se disputavam ,
entre colonos e reinõis, as riquezas da terra.

A chegada de forasteiros ã região das minas

causou apreensao aos paulistas, que se viram desalciadcs das


melhores regiões da exploração. O mesmo iria acontecer, guar¬
do a decadência das minas fez com que muitcs deles vrocuras
sem São Paulo, como local para se fixarem como comerciantes
onde passaram a ameaçar as posições ocupadas pelos paulistas
das antigas famílias da terra.

(43) FERRO, Marc - As Falsificações da Histõri a , t rad . do soa s


Franco, Lisboa: Publicações Europa -
America, lctl.
61.

CAPÍTULO II

A CONSTRUÇÃO DOS HERDEIROS

Vê os PZ-'teA, c Pedtci
Mv arengas , Gcdcis, Cabrais
Lemos, 1 oLedos , Vais, Guettas
E oó outros que jízet^”
Se ^ize-'iam no atxcjc das ccr.z^íír
? sempxe glandes e imortais pa^L<.s~ai 1
CLÁUVIO UÁNOEL VÁ CCSTÁ
62 .

* As primeiras descrições e narrativas acerca do

*
movimento bandeirista surgiram, como se viu, contemporaneamen

te ao descobrimento e exploração das minas, quando estas eram


disputadas e atraiam populações de toda a parte de Minas Ge¬
rais .
Levas sucessivas de paulistas que partiram em
busca de riqueza tinham, praticamente , despovoado São Paulo '

de homens válidos, levando a cidade a uma terrível situação '


de pauperismo, com crises generalizadas de fome e carestia de

alimentos, na la. metade do século XVIII.

Mas, não só da capitania vizinha de São Paulo,


vinham os aventureiros. Muitos navios, nos pontos de Santos e

Rio de Janeiro, foram abandonados pela tripulação, para quem


era muito mais promissora a possibilidade de enriquecimento '
que os regatos auríferos traziam, O mesmo acontecia com os sol

dados da guarnição. Outros aventureiros vinham da Bahia, mas


cerca de 10 mil indivíduos deixaram anualmente Portugal, com
destino ã Colónia, durante os sessenta primeiros anos do sécu
(1)
lo XVIII.

O ano de 1763 foi um marco na decadência da ex

ploraçao do ouro; pela primeira vez, o quinto não atingiu a

cota estipulada das 100 arrobas anuais. A partir daí, a queda


na produção das minas foi cada vez mais acentuada. E aquela

população, que tinha procurado as minas, como fator de enri -


quecimento, teve que ir à cata de novas fontes de fortuna.

(1) VERGUEIRO, Laura - Opulência e Miséria das Minas Gerais


São Paulo: Brasiliense, 1981. passim (Tudo e Historia, 18)
65.

São Paulo possuía uma posição priveligiada pa¬


ra a comunicação com as diferentes regiões da Colónia,
para
as quais enviava carne de porco defumada e
salgada, vários ti
pos de cereais, caixetas de marmelada e
principalmente açúcar.
A local!zaçao de São Paulo, ligando Minas Gerais aos Campos '
do Sul do Brasil, permitia— lhe que se
beneficasse da corrente
de gado bovino e muar, que procurava atender a
demanda da re¬
gião das Minas, carente de produtos
alimentícios e meios de
transporte. Formou-se em São Paulo, de acordo com Alice Cana-
brava, um Centro Comercial de amplas dimensões, destinado a
suprir grande parte da Colónia: Mato Grosso, Goiás, Rio de Ja
neiro, Minas Gerais, Espírito Santo e o interior da Capitania

de São Paulo.

O negócio do gado, do sal e das manufaturas eu

ropéias, constituíam atividades lucrativas, que atraíram, para


São Paulo gurpos de pessoas que aqui se estabeleceram, pensan
do em desenvolver tais negócios. Para São Paulo, vieram os '
mesmos grupos de pessoas que tinham, desde o início do século,
procurado a região aurífera para enriquecer.

Na segunda metade do século Will, mais preci-

samente a partir de 1765, teve início um processo de renovação


da economia da Capitania de São Paulo, quando, a par da res -
tauração da autonomia da Capitania e da política de fomento

desenvolvida por Pombal, através do governo do Morgado de Ma¬


teus, conflitos internacionais e regionais, contribuíram para

(2) CANABRAVA, Alice P. Esboço da História Económica de São Paulo in:


São Paulo; terra e povo. Sao Paulo: Ed. da Universiaade de são
Paulo; Porto Alegre: ed. do Globo, 1967, p.19.46.
64.

a valorização dos produtos coloniais. Em meio a tais confli¬

tos, que se iniciaram com a Guerra da Sucessão Espanhola e


culminaram com as Guerras Napoleônicas , Portugal conseguiu '
manter uma posição de neutralidade, que em parte lhe trouxe '
vantagens e firmou Lisboa como o grande empório do comércio '
colonial; a neutralidade estendia-se também às colónias por¬
tuguesas e ao seu comércio. Além disso, as agitações políti -
cas e sociais que transtornaram a vida das colónias inglesas'
e francesas nas Antilhas, facilitaram sobremaneira o comércio

de produtos tropicais.

A renovação da economia de São Paulo coincidiu


com o período em que as explorações e produção do ouro entrou
em franca decadência - daí São Paulo passar a ser um polo de
atração para os que tinham perdido as esperanças de enrique -
cer na região das jazidas preciosas. A produção agrícola ,alia
da ã localização de São Paulo, num embicamento de caminhos ,

atraíram para cã grande número de reinóis que passaram a se


dedicar ao comércio, fosse ao de exportação ou ao de lojaaber
ta,

Se a ocupação das minas foi marcada por um sem


número de tumultos, crimes e convulsões, a vinda dos reinóis,
desiludidos com a sorte na mineração, não provocou em São Pau
lo as mesmas reações violentas. Em Minas, os paulistas, seus'
primeiros ocupantes, julgavam-se com direito ã exploração do

metal precioso, por ter sido seu descobridor, e suas relações


65.

com os recém-chegados eram bastante tensas, a ponto de eclo¬


direm na Guerra dos Emboabas.Por isso surgiu uma literatura,

de um lado procurando demonstrar que a posse das minas cabia

aos paulistas, que as tinham descoberto e de outro, procuran

do minimizar o papel dos paulistas na descoberta.

Na vinda desse grupo de reinóis para São Pau¬

lo, as tensões foram se estabelecendo de forma mais sutil, ã


medida que os recém-chegados enriqueceram e passaram a ocu -
par cargos e postos na Câmara de Vereança, na Administração,

nas Companhias Militares, ao mesmo tempo que os mais ricos '


, (3)
casavam-se com as filhas de famílias importantes.

As instituições, como a Câmara de Vereança ,


por ex.,na segunda metade do século XVIII, passaram a ser ocupa

das em sua maior parte, por portugueses de origem obscura, '

que procuravam São Paulo para atividades de mercancia. A tra

dição de autoridade, que, naquela época a Câmara ainda con -


servava atraía os recém-chegados, que viam nela o mais aces-
(4)
sivel meio de mobilidade social. Naquele período, portu -

gueses, que haviam enriquecido, ocupavam maior número de car

gos na Câmara, nas Milícias e na Administração, deslocando a

antiga elite da terra, a quem cabia por direito da legisla -

ção portuguesa tais funções, permitidas somente a quem possuís


se foros de nobreza, ou melhor, aos "homens bonA". Os homens

bons "etam 04 /lZcoó, 04 notavzi.^, oò

(3) KUSNESOF, Elizabeth. Social Mobility and Imobility in urban change:


São Paulo, 1765 to 1820. San Francisco: Congress of American Histo
rical Association, dez, 1974, mímeo
(4) idem
66 .

doô chc^cò dc aó pcóóoaó honx.adaó, pox. cxcc-Ccncta,


d&ntlo dc. cada povoado".^

Se em Portugal, os "homenó boné" eram indiví


duos saídos de um patriciado urbano, constituído por burgue¬
ses ricos que se haviam transformado em proprietários, isso
não ocorria no Brasil. Aqui as Câmaras eram uma extensão do
poder do senhor rural, dono de muitas terras e, no caso espe¬

cial de Sao Paulo, dono de muitos arcos.

Nos séculos XVI e XVII era proibido o acesso


dos comerciantes à vereança.

A partir do século XVIII a situação mudou, com


a transferência de base económica para a atividade mineradora

e a consequente perda da importância dos senhores rurais. Foi

nesse período que a Câmara passou a ter a participação de ou¬

tros segmentos da sociedade, os que se dedicavam ao comércio.


O que os antigos habitantes, que organizavam as expedições '

sertanistas, não podiam esperar, ê, que na secunda metade dacuele

século eles fossem maioria não sõ na Câmara, como nas paten -


tes mais altas das Companhias Militares e nos cargos da admi-
(7)
nistraçao metropolitana.

(5) SERRÃO, Joel (dir) -


Dicionário da História de Portugal, Porto:
Iniciativas Editoriais, s.d.v. 2, p 446
(6) DUARTE, Neitor -
A Ordem privada e a organização política nacional,
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966 p.73 (Brasilianas ,172)
(7) ABUD, Katia Maria -
Autoridade e Riquesa; contribuição para o estudo
da sociedade paulistana na 2a. metade do século XVIII. Dissertação
Mestrado apresentado ao Departamento de História da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de Sao Paulo,
1978 (mimeo)
67 .

Os recenseamentos realizados na 2a. metade do

século XVIII dão conta do grande número de comerciantes e ho¬

mens de negócio em geral, que São Paulo abrigava naquele pe -


ríodo.

Os antigos proprietários de terra, descenden -


tes dos sertanistas, passaram a ocupar um lugar secundário na

sociedade, a partir do momento em que o comércio passou a ter


singular importância na economia da cidade. Passaram também a
perceber que os cargos e funções que tinham como privilégios'
e seu próprio poder ia sendo contestado, de forma quase imper
ceptível, pelos recém-chegados comerciantes portugueses.

à mesma época, Portugal e Espanha trataram de

redefinir os limites do que iria se constituir o mapa de suas

colónias nas terras da América, mediante a celebração dos vá¬


rios tratados de limites, que aqueles dois países acordaram. '

entre si.
. (8)

Nesse momento histórico, surgiram as obras de

dois historiadores paulistas: Pedro Taques de Almeida Paes e

Gaspar Teixeira de Azevedo, o conhecido Frei Gaspar da Madre'

de Deus, Celebrados pelos historiadores paulistas do início


1

deste nosso século, foram ambos os consolidadores de uma His¬

tória Colonial de São Paulo, centralizada no movimento bandeai


rista .
(8) Entre 1750 e 1801, Portugal e Espanha celebraram os Tratados de Ma¬
drid (1950) , E1 Pardo (1761) , Santo Ildefonso (1777) , Badajoz (1801)
O objete principal desses tratados eram as terras onde as expedi -
ções paulistas tinham penetrado, a partir do século XVII.
Eram aparentados e descendiam ambos dos primei^

ros povoadores da Capitania de São Vicente. Frei Gaspar da Ma

dre de Deus provinha de uma família, cuja raiz se encontrava,

de um lado em Bartira e João Ramalhoe de outro,em Antonio Ro -


drigues e Antonia, filha de Piquerobi . Pela sua descendência,

era parente de inúmeras figuras do bandeirismo: Fernão Dias

Pais, os dois Anhanguera, Domingos Jorge Velho, Matias Cardo¬

so de Almeida, João Leite da Silva Ortiz, Bartolomeu Paes de

Abreu, Estevam Raposo, Bocarro.

Também Pedro Taques tinha igual e tão ilustre'


ascendência. Seu tronco paterno tinha início em Brás Cubas e

era filho e sobrinho de conhecidos sertanistas: Bartolomeu '


Paes de Abreu, João Leite da Silva Ortiz, Estevão Raposo Bocar
(9)
ro, sendo sobrinho-neto de Fernao Dias Paes.

Apesar de terem nascido em locais diferentes -

Pedro Taques nasceu e foi educado em São Paulo, Frei Gaspar '

em Santos, tinham quase a mesma idade - o 19 nascera em junho

de 1714 e seu primo distante, em 1715 - e tiveram formação es

colar muito parecida, na infância. Ambos estudaram no Colégio


da Companhia de Jesus, de sua respective cidade. Frei Gaspar,

aos 16 anos, iniciou o moviciado beneditino, permanecendo no

século, Pedro Taques.

A opção pela carreira religiosa levou l'i< t -o

par a viver em diferentes locais do Brasil Colonial: fez seu'

(9) TAUNAY, Afonso de E.


Memórias para a
- Súmula Biográfica.São
da Capitania de
História
In: MADHE DE DEUS, Fr, Gaspar
Vicente, Belo Horizonte:
Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975, p.9.
(Reconquista do Brasil, v.20) .
69.

noviciado na Bahia de onde passou para o Mosteiro do Rio de


Janeiro, viajando depois para Portugal, onde se deteve por al

gum tempo. Ao regressar, foi professor de Filosofia e Teolo -


gia no Mosteiro Beneditino do Rio de Janeiro, de onde foi no¬

meado abade em 1763, sendo elevado a abade provincial em 1766.


Em 1769, retornou a Santos, onde viveu até 1800, ano de sua '
morte.

Pedro Taques teve vida aventurosa. Terminou '

seus estudos no Colégio dos Jesuítas em São Paulo, tendo ob¬


tido o título de mestre em Artes. Em 1738, morria seu pai,Bar

tolomeu Paes de Abreu, após inúmeras pendências com os repre¬


sentantes régios e deixava uma pouco brilhante situação finan

ceira ã família. Coube a Pedro Taques a administração dos bens


familiares, cuja situação melindrosa levou-o a procurar fortu

na nas minas de Goiás, tendo sido nomeado escrivão da Inter. -


dência Comissãria e Guarda Moria do Distrito do Pilar. Lã vi¬

veu, de 1750 e 1754, quando voltou a São Paulo. Trazia consi¬

go razoável fortuna e resolveu partir para a Metrópole, onde


pretendia obter prémios que a família considerava devidos ain
da a seu pai. Lã poderia também requerer instrumentos de m.-

rotate. e nobZXZXaíe p-tobanda" e pesquisar nos arquivos. Não


conseguiu, porém, alcançar esses objetivos, impedido que foi

pelo terremoto de Lisboa, em 1755. Obteve, porém, nomeação pa

ra o cargo de tesoureiro-mor de Bula da Cruzada nas Capitanias


de São Paulo, Goiás e Mato Grosso, cargo que exerceu ate

quando foi afastado sob acusação de desfalque.


70.

A partir daí, passou por dificuldades e atri¬

bulações que lhe combaliram a saúde, vindo a falecer em 1777.

Vidas diferentes tiveram Frei Gaspar da Madre'

de Deus e Pedro Taques. No entanto, as obras que deixaram têm

muitos pontos em comum.

De Frei Gaspar, tem-se notícia dos seguintes '


trabalhos ;

- Memórias para a História da Capitania de Sao

Vicente, hoje chamada de São Paulo, do Estado do Brasil (publd

cada pela primeira vez pela Academia Real de Ciências em 1797, .

- Relação Capitães
dos Locotenentes da Capita¬

nia de São Vicente.


- Notas Avulsas História
sobre a de São Paulc.

- Dissertação explicação
e sobre terras de cor,

tenda entre o Mosteiro de São Bento e o Convento do Carmo, er


Santos.
- Oração Fúnebre nas exéquias que, pelo Sere -
níssimo Senhor D. José I, Rei Fidelíssimo de Portugal, mandou
celebrar a Câmara de Vila do Porto de Santos, aos 14 de julho
de 1777,
Parecer sobre um estudo genealógico.
Carta endereçada ao Capitão-General Seroarão
Jose de Lorena.

- Fundação da Capitania de São Vicente e ames

de Martim Afonso Souza.


71 .

- Catãlago dos capitães mores, generais e Vice-


Reis que governaram a Capitania do Rio de Janeiro

- Notícias dos anos em que se descobriu o Bra¬


sil e das entradas das religiões e suas fundações.

(Estes trabalhos estão hoje publicados)

Pouca coisa, porém restou da obra de Pedro Taques:

- História da Capitania de São Vicente;


- Informações sobre as minas de São Paulo;
- Notícia histórica ou expulsãodos jesuítas do
Colégio de São Paulo, em 1640;
e parte do seu maior trabalho,

- Nobiliarquia Paulistana, Histórico e Canea -


lógica.

Ê maior a lista de suas obras que se reputam '

perdidas:

- História de São Paulo;


-- História de Jundihay;
Elementos de História de Piratininga;

- Apontamentos;
- Discurso Cronológico dos Descobrimentos do '

Brasil;

- Informação sobre o estado das aldeias de í n-

dios da Capitania de São Paulo;

- Vida de Martim Afonso de Souza;

- História do Levantamento de Minas Gerais;


72.

- Demonstração verídica e cronológica;


- História da Conquista a que foram ã Bahia os
Paulistas .
Das obras de Frei Gaspar interessa fundamenta^
mente, para a finalidade deste trabalho, aquela que foi a sua

principal: Memórias para a História da Capitania de São Vicen

te / (publicada pela primeira vez, pela Academia Real das Ciên


cias , em 1797) .
As Memórias cujo título completo era Memórias 1

para a História da Capitania de São Vicente, hoje chamada de

São Paulo, dividem-se em dois livros. 0 primeiro composto por

quatro capítulos: Fundação de São Vicente; Fundação de Santos;

Fundação da cidade de São Paulo e Fundação da Vila de N.S. da


Conceição do Itanhaem.O segundo livro compôs-se de um único capítulo:
Fundação de Santo Amaro.

De Pedro Taques foram selecionadas a Nobiliar-

quia e a Informação sobre as Minas de São Paulo, onde se po -


dem observar a posição do autor em relação aos assuntos refe -
rentes ao tema central deste trabalho.

A Nobiliarquia , obra que consumiu a maior par¬

te do tempo de seu autor, deveria contar noventa e seis títu¬

los, dos quais, como indica Taunay, sessenta estariam redigi-

(10) - Foram consultadas as edições:


MADRE CE DEUS, Gaspar
São
-
Memórias para a História da Capitania de
Vicente; prefácio de Mário Guimarães Ferri, Belo Horizon te:Ed.
Itatiaiá; Sáo Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975
(Reconquista do Brasil, v.20)
LEME, Pedro Taques de Alemida Paes - Notícias das Minas de São Pau
e dos Sertões da mesma Capitania, Introd, e notas de Afonso de E.~
Taunay. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, São Paulo, 1980 (Reconquista
do Brasil, Reconquista do Brasil, nov. ser. v. 27) .
dos em 1771. no entanto, tudo leva a crer que se perderam

dois terços da obra, já que somente restam 22 títulos.

A Informação sobre as Minas de São Paulo foi '


escrita em 1772 a pedido de D.Luis Antonio de Souza Botelho '

Mourão, o Morgado de Mateus, que governou a Capitania entre '


1765 e 1775. 0 livro trata das expedições que entraram no ser

tão em busca de ouro, prata e pedras preciosas, historiando a

descoberta das esmeraldas por Fernão Dias Paes, da legislação

referente às minas; dos índios que acompanhavam os paulistas,


mas sobretudo das esperanças que tinham de encontrar maiores
riquezas .
A maior obra de Pedro Taques foi, sem sombra '
de dúvida , a Nobiliarguia, Dela, diz José Honório Rodrigues,
que ê "uma da& mato^zò ^ontzi> dz tn^oA-mação do Snaòtt z dz
São Pauto dzòdz o dzó cob/ttmznto aoò anoò -iztznta do Azcuto
( )
XvIII”. 12 A riqueza de informações sobre todos os aspectos'

da vida de São Paulo é a sua maior caracterí stica , como tam -


bém o ê a nuclearização da História de São Paulo, em torno do
movimento bandeirista.

Pedro Taques e Frei Gaspar foram homens e his¬

toriadores do século XVIII, na Colónia Portuguesa da América.

Se na Europa, a História na primeira metade daquele século já

(11) - TAUNAY, Afonso de E. - Uma Carta de Pedro Taques a Cláudio Mansel


da Costa. Rio de Janeiro: Comércio,
Jornal do 12/6/1949
(12) - RODRIGUES, José Honório
Historiografia Colonial
-
.
História da História do Brasil, 19 v.
Sao Paulo: Ed. Nacional; (Brasília) : INL,
1979, p. 189 (Brasiliana: Série Grande Formato, v. 21) .
74 .

via nascer uma aspiração teórica, seja com Gianbatista Vico e


sua reflexão sobre o aspecto cíclico do desenvolvimento dos

gurpos humanos; seja com Voltaire e Montesquieu ao pretende -


(13)
rem mudar a materia habitual e a problemática da Historia,
essas inquietações não chegavam até São Paulo.

O que se pode notar, na obra destes dois auto¬


res, é uma ligação mais consistente com a tradição de pesqui¬
sa e de valorização que vinha da centúria anterior, em espe -
ciai na França.

Tal tradição vinha do final do século anterior,

com a obra de D. Mabillon "Pe dZp£omãEZca'’que iniciou a 1

"cZênc-éa do dociune.ntc" valorizando o documento escrito como ’


prova da História, trabalho que foi continuado pelos benediti

nos ca Congregação de Saint-Maur e que trouxe "condZç.õe4 -óegu


paxa o c.cnke.cÃjne.ntc fcZAXÕAxco"

Outras congregações , incluindo a dos Jesuítas ,


também sequiram a orientação que vinha sendo traçada pelo be¬
neditino D. Mabillon. A erudição atingiu também os leigos, e
teve representantes em todos os países europeus. Em alguns '
países, as Academias também desempenharam o mesmo papel das '
( 14 )
Congregações, o que ocorreu também con as Universidades

A erudição estava presente nas Academias portu

guesas, com as quais Pedro Taques e Frei Gaspar mantiveramoon

tato. Em sua primeira ida a Lisboa, Pedro Taques frequentou a

(13) - VELAR, Pierre - Iniciaciõn al vocabulário


Barcelona: Gnço Editorial Gr-; 198C.
del analises histórico ;

(14) , Georges - O Nasci


- José Peoegueirc, da Moderna Historiografia,
mpnuo trad.
T.isfioa: Sã da Gosua Ediuora, 1551 p.—3
I 75 .

Academia Real de História, ligando-se principalmente aos eru¬

ditos Diogo Machado Barbosa (bibliófilo) e a D. Antonio Caeta

no de Souza (genealogista) . Frei Gaspar pertenceu ã Acade


mia dos Renascidos, da Bahia e teve sua primeira obra impres¬

sa pela Academia Real de Ciências de Lisboa. Não se esqueça '


que havia ainda, nele, uma ligação mais profunda com a Histó¬

ria "AcguJia t ví/idadc>c/ia" dos monges de Saint-Maur: Frei Gas¬

par era também beneditino.

A preocupação com uma História " vetdadeZAa" ,


com a "boa. ^c" a que se referiu Frei Gaspar transparece, em '
todas as obras dos dois historiadores paulistas, no ato de '
transcrever e citar as fontes dos seus trabalhos. Elas foram

extraídas dos Arquivos das Câmaras, da Câmara Episcopal, das

Casas de Misericórdia, dos Conventos, Mosteiros, dos Cartó

rios e de Legislação. Enfim, utilizam uma grande quantidade '


de documentos, considerados verdadeiros, porque tinham a cer¬

teza de não terem sido forjados. Alice Canabrava acrescenta '

aos documentos escritos os subsídios da tradição oral, trans¬


mitidos pela memória dos velhos, "como matíúa p^ma paza a
co inação da Nobi£ianqu.ia" .
Encontra-se aí, implícita, a concepção de His¬

tória dos dois autores. Ela deve conter a verdade que os doeu
mentos transmitem sobre os personagens que dela participar.. Ê

(15) - RODRIGUES, José Honõrio - op.cit., p.130


(16) - CANABRAVA, Alice A. Esboço da História Económica de São Paulo - cç.
cit, p.130.
uma história excludente, feita por somente uma pequena parte

da população - se isso fica mais que evidente na Nobiliarquia,

também na obra de Frei Gaspar da Madre de Deus transparece 1

seu orgulho de casta - ao narrar a Aclamação de Amador Bueno ,

por exemplo, a ele se referiu como "de qualificada nobreza e


de mutto reipeito e autoridade peloi cargoi publicai que ha -
vta ocupado" , Nao é de outra forma que celebrou Martim '
Afonso: oi louroi com que iua fortuna e ííu merecimento lhe
teceram ai coroai; outro havia de ier o teatro de iuai proe -
zai e a campanha onde comeguiae o reipeitãvel nome de Herói,
com maior glória, triunfando dai naçõei maii belicoiai , e Reii
prcncipaii da índia",

Na obra de Pedro Taques, a nobreza dos paulis¬

tas aparece em todas as páginas - nobreza esta que, tanto na

sua obra, como na de seu parente, está presente no próprio '

conceito que se pode formar, pela sua leitura, do bandeirante.

Ê preciso, de início, que se esclareça que, nem

a Palavra bandeirante, nem a palavra bandeira, foram, usadas '


(19 )
no texto 0 que chamamos de bandeirante e chamado por Pe¬

dro Taques de "pauliita fazendo variai entradai ao iertãc..."

(20) " conquiitador e dei cobridor dai minai de ouro no ieztãc"


(21) "deicobridor de ferteii minai" (22) ,"encarregado da ccn-

(17) - MADRE IE DEUS, Frei Gaspar - op.cit, p 139


(18) - idem, p. 130
(19) - TAUNAY, esclareoe, na História Geral das Bandeiras Paulistas, que
a palavra bandeira foi usada pela primeira vez pelo Conselho Ul¬
tramarino, em 1676, mas scrnente a partir de 1740 aquela palavra
se tomou de uso correto.
(20) - LEME, PETA -
Ncbiliarquia, op. cit, v. 1, p. 79
(21) - Idem, p. 166
(22) - Idem, p. 208
77.

dufa de gente de pucAAa paAa a 8«/Ua"(23, "... Na guttia de


Pernambuco contra oa rebefadoA da conquiAta do Sentio dot Vat
mareA , a que ^onam de aocowo oa pautiA taA ...&oi UeAtre de ’
Campo VomingoA Jorge
nZo RapoAo T avareA ”
Vetho"i24) "o mcAtre de
( 2<^
campo de Anto
"Capitão i Moa de uma tropa que pene¬
-
trou o Aertão"

Frei Gaspar não usou também as expressões ban¬


deira e bandeirante. Referiu-se aos " Vaut<A ta& " , em que "le*-
pn.e £oi predominante a paixão de conquiò ta\" ; "aoA deAco-
brtdoreA daA minaA e AertõeA” , ^28)"Che íca dai T nopaA" 1

Por todos os títulos transcritos acima parece

ficar claro que a figura do bandeirante se compunha dos segno

tes elementos:

- liderança de grupos que penetrasser os -


tões para:
- índios
prear

- procurar minas de ouro e pedias }: t

- combater ataques estrageiros < v . : .


lados ,

0 indivíduo que chefiava a; « xj »

um título de conotação militar* como se pode obseivai p<la-

(23)
(24)
-- LEfC, PETA
Idem, p.271
- Nobiliaxquia, op. cit, v.l, p.232

(25) - Idem, Ibidem


(26)
(27)
-- Idem, v,2, p.2O7
MADRE DE U.U6, Fxvi Gaapm , manúi ias. cp. clt. p.30
(28) - Idem, p.135
(29) - Idem, p.131
78.

citações acima, e a expedição era chamada de entrada ou de '


tropa, no sentido utilizado conforme pode-se comprovar pelas 1

citações abaixo:

"HZeAontmo Bueno, ... peneX-tou o ^e-tXão do RZo


Pa/iaguaZ. .." ^0)
para a guerra que se ia fazer ao gentio Paya
guary , para o foi José de Campos Moteiro, com uma canoa arma¬
da em guerra com armas e gente ã sua custa ( 1) ( f os noss os ) .

” Eòte paatiéta ^oí intA.épido contra oò baA.ba-


A.OA gentioó doA do Rio GAande e Rio Pa
A.agaay, que oa penetA.oa vinte e qaatA.o vezei ,
... Fez a attima enteada em 1 65 3” ' (grifos '
nossos) .
"No 4eu tempo ^ez ama enteada no SeA-tão , Sebaò
íZao-
- F/lZz

Touunlio.,." - (33)
(grifos nossos).

"íA.am oó mameíacoA ob metho A.e^ óotdado^, doò '


exeA.citoó aóòoladoA.e^ dat MiMoeA; eteí maétas
vezei £oA.am oá Che^eò dai TAopai Conqaii tadc -

A.ai ,, . (34)
(grifos nossos) .

Ha dois pontos a destacar, mediante a análise

destas citações;
- não se fez, em momento algum, distinção en¬

tre as expedições organizadas pelas autoridades governamen -

(30) - LEME, P.T.A.P. Ncbiliaxquia, cp. cit. t.I, p.108


(31) - Idem, t. II, p. 185
(32) - Iden, p. 177
(33) - líME, P.T.A.P., Notícias das São Paulo, op.cit.p.31
Minas de
(34) - MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da , Memórias, op. cit., p.131.
79.

tais e as de iniciativa dos paulistas. De entrada foram chama

das as primeiras expedições organizadas já por Martim Afonso


de Souza, como a de Pero Lobo, 1531, ou das que atacaram as
missões jeuiticas, organizando verdadeiros exércitos com seus
próprios cabedais.

- outro aspecto que ressalta nas descrições '


dos dois cronistas coloniais é a importância militar que atr_i
buiam, nao sõ aos chefes, como às próprias expedições: tropas ,
exércitos, independentemente de seu caráter, oficial ou part.i
cular.

Outras características , sempre presentes nos '


verbetes da Nobiliarquia, que se referem as figuras de proa
do Bandeirismo, são: sua origem nobre e os cargos que o ban -
deirante em destaque, e/ou seus ascendentes , ocuparam na Re¬
pública, e as grandes propriedades, em terras ou em número de
arcos que possuiam.

Assim se referiu Pedro Taques, por exemplo, ao


conhecido sertanista Amador Bueno:

”. , . (gtoKtoAo desempenho da honta e ncotcra ’

doó z>euz> as cendentes ) um da pauttstas da


matou aítmação e aespe itc , asstm na pátria c£
mo f^ona deta. Teve glande tratamento e cpacn-
eta, por domtnar debatxo de ma admtná tração '
muttos centos de Zndtos, que de genttc bárbaro
do sertão ttnham converttdo d nossa ^e, pe¬
ta Zndãstrta, vator e ^orça dat> armas, com que
os conqutstou Ámador Bueno em seus retncs c
ato i amentos ".
(35) TEME, P.T.A.P7, Nobi li arguia, op.cit., t.I, p. 75.
80.

Do mesmo matiz é a nota sobre Antonio Pedroso


Alvaienga, cidadao de Sao Pauto com gaande aeipei-
fc, c potentado em aacoi de xndioi, que conquiitou no ieatãc,
qu.e penetrou em vãaiai entaadai" (36)
ou a que fala de Garcia
Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias, " acompanho u a i eu pai
ao iextão doi Zndloà Mapaicoi ao dei cobaimento dai eimeaat -
dai, Recothido a São Pauto teve oadem de iua
Mageitade paaa'
cnCtat ao mc^mo ieatão e ^azea pao^undai catai, a buicaa no
C.enti.0 detai ai eimeaatdai poa ie tea entendido que eitai n
uam maia ^inai e taani paaentei como não eaam ai extaaZdai na
iapet^Zcie da teaaa,que ie tenham aemetido ao aeino e deico-
beatai poa ieu pai, Paaa cita ditigencia com tituiu iua Maga
tade a Gaacia Rodaiguei Paei com o caaãtea de Capitão -moa .. .
Poa outia paoviião o com tituiu adminiitaadoa ge -
aat dai Minai.,, ieaviu de Guaada moa tainta e oito anoi..."
(37); ou ainda, na nota sobre "Bento Piaei Ribeiao , cidadão'
de São Pauto, ieaviu todoi oi caagoi da aepúbtica, ^ez vãiia^
entzadai ao ieatao, ^eito capitao moa da taopa..."K '
Estudando os inventários e testamentos, Alfre
do Ellis Junior chegou a conclusões opostas ãs afirmações de

Taques na Nobiliarquia , isto é, Ellis verificou que a proce¬

dência dos primeiros povoadores de São Paulo não estava liga

da ãs camadas da nobreza portuguesa e sim, quando muito, aos

(36) - LEME, P.T.A.P. , Nobiliarquia, op. cit. , t.III, p. 280

(37) - Idem, p. 78

(38) - Idam, t. II, p. 84


81.

fidalgos elementos da baixa nobreza e assim mesmo de maneira

indireta, através da bastardia. Os primeiros troncos paulis¬

tas teriam saído da pequena burguesia, e, principalmente, da


(39)
plebe. A nobreza de sangue ou de linhagem não atravessa¬
va o oceano sofrendo as agruras dos primeiros colonizadores ,
permanecia na Corte onde tinha oportunidade de conseguir car

gos administrativos, com polpuda renda, em alguma parte do '

Império, ou onde pudesse receber terras e pensões.

Tal como a Nobreza, a alta burguesia não te -


ria grande interesse em vir para a Colónia. Teriam aportado,

em terras brasileiras, mercadores que viriam para exercer a


atividade comercial (aliás, altamente lucrativa, até para os

humildes mascates); os oficiais mecânicos, os assalariados , e


os grandes e pequenos lavradores .
Estes primeiros povoadores tanto em Portugal,

como aqui no Brasil, estavam submetidos ãs determinações das


Ordenações do Reino, que, dado o caráter da sociedade, deter

minava o papel de cada um. A ligação com a nobreza garantia,

desde a Idade Média, certos privilégios. Em Portugal, a no -


breza era o escalão mais alto de uma sociedade dividida em
estado ou ordens, A divisão fundamentava-se em preceitos ju-

(39) - ET J JS Jr., Alfredo, Os Primeiros Troncos Paulistas. 2a. ed.59)S.Pau


lo: Ed, Nacional, Brasília, INL, 1976, passim (Brasiliana .
(40) - MESGRAVIS, Laima, Os Aspectos Estamentais da Estrutura Social do
Brasil Colónia - Estudos Eccnómioos, SP: Instituto de Pesquisas
Eocnómicas, 13, (n9 especial) : 799-811
(41) - BRANDÃO, Ambrosio Fernandes - Diálogo das Grandezas do Brasil
Salvador: LivrariaProgresso Editora, 1956, p. 38-39.
82.

ridicos e fixava valores e comportamento.


Cada um ocupava nes
sa hierarquia uma posição definida,
de acordo com a posse (ou
não) de títulos de nobreza, ou
nobilitadores .
A organização da sociedade portuguesa tinha se
transportado para o Brasil, ocorrendo, no
entanto, dadas as
peculiaridades da vida colonial, a
adaptação de algumas de suas
normas, em especial aquelas que diziam respeito ao poder
lo -
cal, nas Camaras Municipais, onde as
ordenações determinavam'
a supremacia dos "homcnó
bom".

As Câmaras Municipais encontram suas raízes '


nas antigas Municipalidades portuguesas que seguiam somente 1

os costumes e os forais das terras ou os privilégios dos se -


nhores, até o advento das Ordenações Afonsinas, que introduzi
ram uma nova caracterí stica : a uniformidade de ação. Até
então, cada Conselho seguia suas próprias regras; eram "peque
noA mtadoA, no Eótado, fie.pu.bttc.rn tndepe.nde.nte^> Aob o pficte-

to fiado do fiet. , .’ (43)

A legislação uniformizadora das Câmaras refle¬


tia a tendência centralizadora do Estado português e a preocu
pação em subordinar ã autoridade do monarca a aristocracia lu

sitana. A submissão da nobreza, com efeito era uma das princi_

pais questões que a monarquia portuguesa enfrentava no início


da Idade Moderna, pois a aristocracia guardava ainda força po

lítica de grandes dimensões.

(42) - LAXE, João Batista Cortines, Câmaras Municipais; histórico. In: Re


ginento Has câmaras Municipais. 3a. ed. Pref. Brasil Bandecchr ,Sao
Paulo: Obelisco, 1962, p.13
(43) - Idem, ibidem.
83.

Foi por isso que a Coroa procurou regularizar


as atividades dos Conselhos e controlar a nobreza local atra
vês das regras legais das Ordenações, que procuravam afastá-
la daquelas atribuições, colocando, para substituí-la, " oó

homenó bom> ",

Ao colocar os "homens boni" na Câmara de Ve -


reança, o governo português afastava a nobreza, mas as restri
ções impostas para que os indivíduos fossem considerados "ho_
bonô” afastavam também qualquer tipo de participação 1
dos menos aquinhoados pela riqueza.
-
Mesmo composta por ho¬
mens sem foro e sem privilégios, muitos eram excluídos pelas
exigências legais. A Câmara possuía caráter anti-feudal e an
tiaristocrático, mas a condição primeira para alcançar-se o
lugar de homem bom era a de se destacar na comunidade, tor
-
nando-se um dos principais da terra, seja pela prestação de
altos e relevantes serviços militares -
possibilidade rara
seja pela aquisiçao de fortuna.(44) Em Portugal, as Câmaras,
tinham cano membros, indivíduos saídos de um patriciado urbano
constituído em grande parte por burgueses ricos que haviam '
se transformado em proprietários. Isto porém, não ocorreu no
Brasil e nem em Sâo Paulo, em especial nos dois primeiros '
séculos da colonização.

Aqui, as Câmaras eram uma extensão do poder '

do senhor rural, dono de muitas terras e, na Capitania Vicen


tina, dono também de muitos arcos.

(44) - MESGRAVIS, Laima, op, cit.


84.

A propriedade da terra, além de favorecer a


possibilidade de acumular-se fortuna, era também uma condicio

nante de nobilitação de quem a possuisse, pois "ôua pfio $<44 etc

é açueZa a/ite p/tecZoòa que dã íofiça c vtgofi aoi Eòtadoò (...)


afite que. noz>z>oz> pfitmctfioó pató ttvcfiam pofi ma conta e a be.tr
da quat conccdcfiam pfitvttcgtoò c nobficza aoò tacfiadoficò c ócllí
(45)
6tthoz>".

Os povoadores da Colónia procuraram também ou¬


tros caminhos da nobilitação. Se, para participar dos cargos
da Câmara, ou no dizer de Taques nos cargos da República, c
indivíduo necessitava pertencer ao rol dos "homen* bon* " ,exer
cer tais cargos confirmava mais uma vez a sua ascensão, pois

os ”Ju<ze4 Ofidlnafilo* , U c ficado fic* , P fio cufiado fic* c Atmotáccl*,


da* Cidade* c Vlta* Notável* c ganham nobficza peto emprego...
(46). Também os ofícios militares nobilitavam, se a patente
~ (47)
fosse acima do posto de capitaçao. Havia Companhias, ooro
a dos Auxiliares, que deveriam ser constituídas por aqueles

que pudessem se manter sem pagamento e que tivessem c srlnr-


te para se armar e fardar ãs próprias custas, sendo que os
servissem na cavalaria deveriam possuir, além dos anamaas de

montaria, um escravo que deles cuidasse. A esses milioares os

beriam as mesmas regalias e privilégios de que gozavam as oro

pas pagas .

(45) - OLIVEIRA, Luis da Silva Pereira, Privilégios da Nobreza e ~rdal -


guia de Portugal. Lisboa: Nova Oficina de Joao Rodrigues Neves
1806, p. 87
(46) - Idem, p. 60
(47) - Idem, p. 44
Havia tambám , é claro, o fator onrlquaclmcnto.
A riqueza, que encaminhava as pessoas, "ai PxgnZíMdeí da 1 g/ie
ja, uoa PoAtoA de MitZcia, aoA tmpdegoA da República, aoA ca
ia.me.ntoA nob/ieA e a tudo o que há de matA hon/ioio na AocZeda
de, ... a riqueza produz o blZthantZimo da nobreza..." muh ,
adverte o autor dos Privilégios da Nobreza e Fidalguia de
Por
tugal, a riqueza para nobilitar deve ser considerável e anti¬
ga/48’

As "vi^tudeA" facilitadoras da nobllltação cnu


meradas acima sao as que aparecem com destaque nas obras de
Taques e Frei Gaspar. Há nas obras desses autores, principal¬

mente na do primeiro, um cuidado especial, em situar os ban -


deirantes como proprietários, ocupantes de cargos da Repúbli¬

ca, chefes militares, cujas vidas honradas, eram levadas num'

estilo de vida nobre, pois não são raras as descrições de po¬

tentados como a narrativa da fortuna de Guilherme Pompeu de

Almeida, em cuja casa "a copa de pnata que poAAuiu excedeu de

40 auobiu” , ou ainda do estilo de vida que reinava na casa '

de seu filho, o Pe Guilherme Pompeu de Almeida, alcunhado de'

o "CncAO Cotontat por Taunay.

Os nomes que compõem a Nobiliarquia são ague -

les que possuiam, portanto, as qualidades exigidas para exer¬

cerem os cargos destinados aos "homenA bonA" . No entanto, a

vinda dos reinóis que procuraram São Paulo, depois que o ouro

<48; - OLIVEIRA, Luis da Silva Pereira, op. cit,, p.115


(49) - TFME, P.T.A.P., Nobiliarquia, op. cit., t. III, p. 116, 117, 118.
86.

entrara em decadência, punha em risco o domínio de tais car


-
gos. A maioria deles vinha para o comércio, atividade que

enobrecia enquanto comércio a longa distância, e se muitos de
les enriqueceram com o pequeno comércio, sua riqueza era mui¬
to recente para colocá-los entre as pessoas mais destacadas-;

muitos deles, porém, procuraram, como já se viu, outros cami¬


nhos: o casamento, a Câmara de Vereança, as Companhias Milita
res. Na segunda metade do século XVIII, período em que escre¬
veu Pedro Taques a Nobiliarquia , os comerciantes eram maioria
nos cargos mais elevados daquelas instituições, além de serem
detentores das maiores fortunas da Cidade de São Paulo. Mais
importante é que disso tudo decorria o afastamento da elite '

descendente das antigas famílias da terra, das quais provi


nham Pedro Taques e Frei Gaspar. Os dois autores fizeram das'
suas obras porta-vozes das reivindicações das famílias anti -
gas, no sentido de garantirem o seu lugar naquela sociedade '
ainda estamental. Por esse motivo ê tão transparente neles o

orgulho de casta, a afirmação da tradição ,a procura das provas

de ascendência ilustre para a classe dominante, ameaçada pelo


grupo de recém-chegados, que assumia a sua mentalidade.

Não havia uma proposta de nova sociedade, mas ’

a afirmação dos valores aristocráticos do ócio, da ostentação,


e a condenação dos burgueses como o trabalho e o comércio, e

"na prática revelava o predominio da nobreza como estamento ,

mesmo quando a exploração de um vasto império colonial exxgca


a ativa participação dos comerciantes"

(50)
_ ABUD, Katia Maria - op. cit.
(51) - MESGRAVIS, Laima - op. cit.
87.

Outros fatores também estiveram presentes, so


bretudo na obra de Taques, quando da construção do conhecimen
to sobre bandeirantes e bandeiras, como a pureza do sangue '
dos primeiros povoadores. Os judeus, os mouros , mulatos e quais¬
quer outros provindos de "nação Infecta" , sofriam também res¬
trições jurídicas, sendo excluídos das instituições políticas
ou religiosas, que se preservavam para os que pudessem compro
var sua pureza de sangue. Assim, de um lado o estamento domi¬
nante completava sua defesa contra a ameaça que poderia vir'
da burguesia (representada pelos judeus e mouros) e procurava

também se assegurar contra possíveis transformações no siste-


ma escravocrata. Ê por isso que, também, Pedro Taques pro
curava resguardar a " no bltla^iqula" de São Paulo contra qual -
quer acusação de sangue impuro, entendido como qualquer mistu
ra ao sangue português da nobreza, que ele descobria, tinha '
vindo povoar São Paulo. Ê por isso que recriminava duramente,

os que não souberam manter seu sangue isento de mistura degra


dadora, como Joao Pires de Campos, que "Levado SÕ do Lndescut
pãveL apetite, e destino da ma. moX-te, es quecl do das
obrigações do seu nobre sangue, se desposou, com uma mame L uca ,
causando um geraL Luto de sentimento aos seus parentes quc,£a
mentando a Injuria Lhe não puderam ataLhar o dano".
O cronista não sõ reprovava ele mesmo, o ato d?
paulista como aproveita a oportunidade para enfatizar o des -
gosto da família, que não pode evitar a união de um de seus '

membros com uma mestiça, mesmo sendo mameluca. Esta ressalva


se faz necessária, na medida em que significa uma separa -

(52) - MESGRAVES, Laima, op. cit.


(53) - TEME, P.T.A.P., Nobiliarquia, op. cit., t.II, p. 206
1
88.

çào do pensamento de Pedro Taques e Frei Gaspar.

Nota-se em Pedro Taques , a preocupação de des

vincular os paulistas arrolados em seu livro, de qualquer li¬


gação coro nação infecta. Pesava sobre ele suspeita de crista-

novismo entre os seus ascendentes Taques e Leme, vindos de

Flandres para Portugal, "pon cauôa dc ccmcnc<c" . Suspeita es¬

sa que o autor de Nobiliarquia não citou, mas que, de qual

quer forroa procurou afastar, ao apontar seus dois ramos avoen


gos, coroo nobres, donos de feudos. Da mesma maneira, não se
encontram em suas raízes qualquer mescla de sangue indígena.

? O mesmo não ocorreu com Frei Gaspar, er qu<. *

Taunay, ao reconstruir as origens encontrou pelo lado pt< r-

no, ascendência de João Ramalho e Bartira, filha de Tibir çá

e, em outro ramo, de Antonio Rodrigues e sua mulher Ar:.


1'
filha de Piquerobi . (54)
Talvez, esta seja uma das raz.x

que na obra de Frei Gaspar, o centro da figura bar.dt . : .

nâo esteja colocado na sua nobilitação, enquant.


sociedade, como ocorre na de Pedro Taques.

ft
ft Há dois aspectos que se destaca

Frei Gaspar, e sobre os quais, a obra de Taques é omissa - a

ocupação das terras de Castela pelos vicentinos e o grande ín

dice de mestiçagem entre esses últimos. Esses dois


temas, gu<

aparecem com fequência nas Memórias para a História da Capita

nia de São Vicente, formam o núcleo da figura do Paulista qu<

(54) - par - Mamórias,


TAUNAY,Afonso de E., Súmula Biográfica.
op. cit. p. 7
In: MADRE DE DELK, Fr.Gas
\ I
\ 1

89.

Frei Gaspar procurou descrever.

A celebração dos diversos tratados de limites,


entre Portugal e Espanha, que iriam definir, basicamente, os
mapas das respectivas colónias na América, parece ter influí -
do de maneira bastante forte no espírito de Frei Gaspar, ao
escrever sua obra histórica. Ela se fundamenta na expansão do
território da Capitania de São Vicente, que formou suas terras
integrando as vizinhas capitanias de Santo Amaro e Itanhaem e

não faltar, referências aos "ZnZtépZão4 da Capttanta


uc São VZctnXt, nai çuaZi..., não com povo aaem , atn.
»al, toda a conta de 4ea Vonatafcto e a de oatao de San
te Ame neu vZzZnho, p anna-iam adtante da ILha de Santa Cata-
úx<, onde Pcmingoa de BaLto Petzoto , nata/tat de São VLeente,

fdxdOu a VLLa de AZaguna, entendendo o te^iaeno deta ate MaLdo


K&do, pcZi ate Lã chegattam vã/tton aton que £ez de ponne, em
zecciZcLo da coKoa pextuguena" , completando que os paulistas,

’deAccfetx. «■ an MLnan Genatn , an de Gotãn , an de Catabã e an


dc

A posse legal que Portugal fazia das terras ti

nha ccno fundamento a passagem dos paulistas por aquelas ter¬

ras. A ccceçar pelo Tratado de Madrid de 1750, o primeiro a


^6)
consagrar o princípio do Uti Possidetis, Q mapa ^o Brasii

55 - ZE ZEZS, Fr. Gaspar, Memórias , op. cit. p. 30,31.


56 - O m Tratado que dividia as terras americanas entre Portugal
e Esuanha, o de Tordesi lhas, foi firmado antes mesmo da chegada
jy europeus a estas terras e desrespeitado desde os tempos ini
a-is da colcnizaçãc, ocr. a pretensão portuguesa de atingir o Rio
5a prata. A busca de índios e de ouro fizeram novamente afronta ã
linha de Tctrdesi lhas .
Na securtia netaõe do século XVIII vários acordos foram feitos en -
^re Pcrtugal e Espanha, no sentido de uma definição geral dos limi

--- 5^ suas colónias.


90.

começou, no geral, a ter os contornos atuais. A penetração


dos colonos portugueses em terras espanholas se deu, quase ser

pre, pela ação das bandeiras, que invadiram regiões pertencen

tes ã Espanha em busca de índios para escravizar, desde as

duas primeiras décadas do século XVII , caminhando em dire -


ção não só às terras do Sul e Sudoeste, como também as do Nor
deste e Norte. Foi a ação das bandeiras, segundo Basilio de

Magalhães, que levou a Coroa Portuguesa a fundar, em 1680, a

Colónia do Sacramento, desenvolvendo uma política imperialis¬

ta de tentar estabelecer no Rio da Prata os limites do Brasil


(57) .
A região mais disputada foi, sem sombra de du-

vida, aquela onde os jesuítas espanhóis tinham estabelecido a

partir de 1612 as missões indígenas, no Guaíra, Paraguai, Uru

guai . A passagem dos paulistas deixou no seu rastro uma lenda

de ferocidade e selvageria, que foi particularmente alimenta¬

da pelos padres, que como vítimas desses ataques, deixaram

uma bibliografia relativamente farta, como:

- Conquista Espiritual hecha por los reltgio -


sos de la Compania de Jesus, em las províncias del Paraguay
Paraná, Uruguay y Tape, editada em 1639, em Madrid, de auto -
ria do Padre Antonio Ruyz de Montoya. Superior Geral das > . s-
sões Jesuíticas dos Guaranis, de 1620 a 1637, Montoya tinha

chegado da Espanha em 1612, quando ainda estavam em fase de

formação as quatro primeiras reduções do Guaíra e participou

(57)
_ MAGALHÃES, Basilio de, Expansão Geográfica do Brasil Colonial.
-
4a. ed. São Paulo: Ed. Nacional , (Brasília) INL, 1978, p. 220
221 (Brasiliana, 45) .
91 .

da expansão das reduções do Paraguay e Uruguay. Foi ele tarn


bém o responsável pelas primeiras derrotas infligidas aos pau
listas na região, quando obteve do Rei da Espanha autorização
para equipar com armas de fogo os neófitos guaranis. A Conquis_
ta Espiritual é um apaixonado libelo contra as incursões pau¬
listas, escrito com a intenção de convencer as autoridades e£
panholas de defender as missões contra aqueles ataques. Ape -
sar de reconhecer o inegável valor histórico da obra, José Ho
nõrio Rodrigues destaca parcialidade no julgamento dos paulis¬
tas e intolerância do jesuíta que os apontava ao Julgamento '
(58)
pelo Santo Ofício, acusando-os de judeus e hereges

- Historia e Provincia e Paraquariae Societa-

tis Jesu, do Padre Nicolau del Techo, publicada pela primeira

vez, também em 1673. Da mesma congregação que Montoya, Del Te


cho chegou ao Paraguai em 1640, quando os ataques bandeiran -
tes já tinham perdido muito do seu vigor, e fez uso da obra 1

daquele seu confrade ao descrever a Província de Guaíra, as


primeiras invasões paulistas, a fundação das aldeias. Sua cbra
não tem o rigor histórico da de Montoya, dando grande impor -
tância a fatos lendários e miraculosos.

~ Insignes Misioneros de la Compãnia de Jesus


em la provincia del Paraguay. Este livro não é de autoria de je
suíta, mas do Dr. Francisco Jargue, leigo que mantinha estrei
tas ligações com a Companhia de Jesus. Escrita no final do sé

culo XVII e inspirada na obra de Montoya, valorizou bastante'


a parte religiosa, inclusive atribuindo destaque e fatos mira
culosos,

(58) - RODRIGUES, J. Honõrio - op. cit. pa. 125.


92.

Montoya, Del Techo e Jarque formam o grupo que


deu os contornos negativos do paulista do bandeirismo, que no
século seguinte seriam repetidos por outros religiosos, como
D.Vaissete e Charlevoix, e que provocariam a reação apaixona
da de Frei Gaspar e Pedro Taques.

Pierre François Xavier de Charlevoix foi autor


de um livro considerado clássico, Histoire du Paraguay,que te¬
ve larga divulgação, a partir da sua publicação em 1757, em
Paris. Charlevoix, padre jesuita que nunca esteve no Paraguai,
fundamentou seu trabalho nas obras de seus confrades, Montoya'
e del Techo que tinham vivido boa parte de suas vidas no Para
guai. Nas mesmas fontes se inspirou o monge beneditino da Con
gregação de Saint Maur, Joseph Vaissette ao escrever a História
Geográfica, Eclesiástica e Civil. Ao assumirem a posição de
Montoya e del Techom Charlevoix e Vaissette exprimem total
aversão pelos paulistas e pelo seu modo de vida, o que levou
Frei Gaspar, conhecedor dos seus trabalhos, a formular seus
próprios conceitos sobre os paulistas, formando com eles os
traços bãsiccs da figura do bandeirante, que se contrapunha ã
daqueles dois religiosos franceses, e que no século XX se tor
naria mais forte nos trabalhos de Ellis Jr. e Paulo Prado.

O primeiro traço básico a se destacar é a mesti


çaçem,da qual para Charlevois surgiu uma "geração perversa", a

cos".
(59)
_
qual devido ãs desordens que provocou se deu o nome de "mamelu
Estes professavam a religião católica ,ainda que exer
^0)
citassem o oficio de Piratas.

59 CHARLEVOIX ,apud por MADRE LE DEUS,Fr.Gaspar , Memórias ,


op. cit. , p.131.
(60 VAISSETTE, idem, p.129.
E em relação ã mestiçagem que se encontra o dl
visor de águas entre Pedro Taques e Fr.Gaspar. Motivados por
diferentes - questões, Taques procura a todo custo provar a
pureza de raça dos paulistas, Frei Gaspar, ele mesmo mameluco,
pretendeu mostrar, como resposta aos que atacavam os paulis¬
tas, que a miscigenação, com o índio, ao contrário de cons
purcar , tinha enobrecido o sangue português, com as virtudes
indígenas, pois a " expeA/êncZa ^emp/te mo4Í4ou çue os Indiví¬
duos nascidos desta união A.e.£uzem qualidades , que
caAacteAlzam em geAat os Indígenas do BAaslt, tais como uma
alma nmivit, beneflca e deslnteAessada" . Outras auali-
dades são apontadas ainda pelo escritor santista: "EAam os ma
melucos os melhoAes soldados dos ex.eAcltos assoladoAes das
missões; eles maltas vezes foAam os chefes das tAopas conquis
tadoAas e poA eles mandavam seus pats atacan os Índios bna-
vos , poA conheceAem a suficiência desses filhos bastandos , ca i a
dos na gueAAa e acostumados ao tnabalho , e ponisso mais Aobus
tos e mals aptos do que os bAancos pana supontanem os income
(62)
doS dos SZAtoes" . Reconheceu Frei Gaspar, embora sem ci¬

tar individualmente, a origem mestiça de muitos chefes de tre¬


pas , conforme se observa acima, mas isto somente eleva a

figura do sertanista, de quem traçou perfil tão positivo, ao

descrever as vantagens do cruzamento do português com o indíge


na.

(61) MADRE DE DEUS, Fr.Gaspar, oo. cit . , p.131


(62) Idem, ibidem.
cz ptecvttc&iszw. raciais, a posição de Frei Gascar não sionafi
cava una posição isolada , pois refletia a tendência ofacaal
da metrópole er relação acs cor.fome se vê " de¬
creto régio de 4 de abril de 1755, qua marcava os descen¬
dentes dos casamentos entre índios e brancos o.-
in^amia. aiçura., ar.Zti * xZZc tioiZi :x masi dr x z-zzzzz
onde neAídisiem não menoA que aoua {tthcA z z ,
quatA , aZi Zenic p^e^eKencJia pasta i-aoaoj, '..vu

4Ó»! pftcZbZdc, Aob pena di pnccidjji zrXt , im-AZ-Lr-i : r .-t --z


cabocCoA, ou outioA Aemetha.nZ.tA t tz z: -.zc^zz-.

hZoaoa" .

J^pesax da aparenre Zz-^zzZztzzz zz z^-zz~z z.

de Frei Gaspar, e até nesnc do decreto régro , a asoer.sã: olara

dos starel-icos não punha er risco nenhusa das ~z.= ~zzzzzzz:s da

sociedade estamental, que existia er São Paolo. Er orinesrs

lugar, porque ura boa parte do estanento doninante , roe pre

cura assegurar a organização da sociedade, era orrur.de das

uniões entre brancos e índios, inclusive Frei Gaspar da Xadre

de Deus. Depois porque aos índios não se pedia, ofaouelceroe

imputar a aancha da escravidão, dado o reconheoicerto oe sua

HOLAHDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. -reo.


'63)
Antonio Cândido, 9a. ed., Rio de Baoeoro : ose
_ z
1976, p.26 (Docurentos Brasileiros, v.l .
95.

liberdade civil. E como lelbra Sergio Buarque de Holanda e


caAdoio notaA como atgamai caAacteAtitdcai oAddnaAdam ente atAd
ba-cdai aoi noaoi dnd-cg enai ... - iaa " o cdo id dade" iaa

aveA^ão a todo ei^on.ço ddi cdptdnado , tua dm pn.evddêncaa" , iaa

"ZnXempe.Aança'', iea goito ace.atu.ado pon. atdvddadei entne prte


datondai gae pAodatdvai - ajaitam-ie de &on.ma
bem pnecdia aoi
)
tAaddcdonadi padAÕei de vdda dai cíaaei nobAei" í

A mesma atitude, porém, não tevb Frei Gaspar em


relaçao aos outros grupos sobre os quais recaiam as restrin-

ções legais, pois se aceitava (embora negasse que todos os pau


listas o fossem) a mestiçagem mameluca, rejeitou a concorrên
cia de mulatos e negros na fundação de São Paulo, mesmo sem
que essa concorrência tivesse sido apontada por Vaissette ou
Charlevoix, que falavam em "bamddoi de ddvemai naçoei, poAta
(65)
gueiei, dtaldanoi , hotandeiei.. , mas silenciaram em re¬

lação aos africanos e seus descendentes. Seria excesso de pru


dência do frade paulista?

O que separa Frei Gaspar de Pedro Taques é a

valorização de uma nobreza paulista, cujas raízes se encon¬

tram em João Ramalho e Tibiriçã, em Antonio Rodrigues e Pique

robi , que não significa uma ruptura com o projeto da sociedade

colonial, fundamentada na legislação portuguesa. Estavam os

dois na mesma posição de cronistas, representantes do estamen

to dominante, cuidadosos dos possíveis riscos que ele pode-

ria correr.

(64) HOLANDA, Sérgio Buarque de - .


op, cit , p.25.
(65) CHAVERLOIX, P.F.X. apud , MADRE DE DEUS, Fr. Gaspar, op.
cit., p.132.
96.

A valorização dos paulistas na obra de Frei 1

Gaspar não se dã somente pela nobilitação do mestiço, mas tam


bém pelo exercício militar e pelas conquistas empreendidas pe
los habitantes de São Paulo. Os mamelucos tinham sido Chefes'

de Tropas que destruíram as missões jesuíticas, pois "Ae não


tiveAAe fundado a Vita de São Pauto Aobne aA AennaA, pana'
a Banneina doA SentõeA bnaAZticoA , poAAuinia hoje CaAteta não
AÕ quaAe todo o Retido da Nova LuAitania, também a CoAta
maA

AuAtnat, que demona ao Sut de Pananaguá AupoAta a napidez com
qae aA povoaçõeA doA jeAuZtaA eApanhõiA caminhavam pana o

Oniente. EtaA tinham já entnado peto SnaAit, na Capitania de
São Vicente ate o Pio de Pannapanema, bem pento da coAta de
São Pauto. Aa minaA de Pananapanema , ApiaZ, Conitiba e da meA

ma Aonte aA outnaA de Cuiabá, Mato GnoAAo, e GoiaA , não deA -


^nutania Pontugat Ae aqueteA ^amoAoA AentaniAtaA não houveA -
Aem deAatojado aoA padneA caAtethanoA e deAtnuZdo ua AuaA Mía
AoeA, aAAentadaA ao NaAcente da tinha diviAonia"

Cabia, pois, aos gloriosos habitantes de São '
Paulo, a honra de ter conquistado territórios que, naquele mo

mento, estavam sob as ordens da Coroa portuguesa; tinham sido

os paulistas, no dizer de Frei Gaspar, que, a custa de muito '


trabalho e sacrifício, que estenderam os domínios portugueses,

cabendo a eles as glórias de conquistadores. A origem da anti^


ga nobreza europeia, da nobreza de sangue estava nas conquis¬
tas que seus membros tinham realizado e por isso recebido tí¬

tulo que lhes davam direitos especiais e privilégios. Ao rei¬


vindicar para os paulistas prémios e honrarias , Frei Gaspar '

(66) - MADRE DE DEUS, Fr. Gaspar da,op. cit., p. 130


97.

deixou evidente a rivalidade existente entre os antigos habi¬


tantes da Capitania e os portugueses que, "tngratob e tnvejo-
óoó afitrmam não óCAem dZgno4 de p/têmZo ob deb co brtdoreb dab '
mtnab e com o fiatbo e ebcandatobo fiu.nda.me.nto de que
oa pauttbtab anttgob be recreavam e fiaztam gobto de dtbcorrer
petab brenhab e terrab tncuttab" . ($7) Para estes portugueses,
nao podia haver glória nenhuma, pois os reinóis "que atgumab
vezeb acompanharam nab buab vtagenb dob bertceb ob quatb crdt
nartamente retro cedtam do camtnho em tendo ccabtão para tbbo ,
por não be atreverem a b aportar ab fiomeb e tncômodob que nete
bofirtam" . (68)
Os portugueses que viviam em São Paulo no sé¬
culo XVIII, foram, mais de uma vez, desqualificados, peles 1

historiadores daquele período, para ocuparem os cargos que 1

permitissem sua ascensão na sociedade colonial. Pedro Taques

e Frei Gaspar trilharam caminhos diferentes, para iguais re¬


sultados. O primeiro defendeu o que julgava direito da gente

a que pertencia apelando para a origem nobre, de sangue li -


vre de qualquer impureza, demonstrando terem seus membros '

coupado cargos da República que só podiam nobilitá-los; te -


rem realizado conquistas e se transformado em chefes milita¬
res, funções também nobilitadoras .
Frei Gaspar também defendeu o que julgava ser

de direito das famílias de antiga cepa, valorizando sua ori¬

gem mameluca e os serviços militares que prestaram ao reali¬


zar a conquista de territórios para a Coroa portuguesa.

(67) - MADRE DE EEUS, Fr. Gaspar da, op. cit. p. 135


(68) - MADRE DE DEUS, Fr. Gaspar da, op. cit. p. 130
• Os dois autores defendiam o que consideravam '
direito dos descendentes dos antigos povoadores, ameaçado pe¬
lo advento de um novo grupo, de comerciantes portugueses, que
fazia fortuna. Se este novo grupo

te, ameaçando a firmeza no poder dos componentes do estamento


superior .
Ao traçar a imagem do habitante de São Paulo ,
os historiadores do século XVIII, respondiam a um problema
que lhes era colocado pela realidade em que viviam, e sua res
posta foi, nao o esboço, mas o traçado firme da figura do ser
tanista, sobre a qual poderiam recair as qualidades exigidas'
para alguém ser, naquela época considerado nobre. A figura
foi traçada em oposição aos portugueses recém-chegados, que
como membros da plebe e da burguesia em Portugal, não tinham'
ainda podido construir o pedestal onde apoiar sua pretensão
de
na.
elevação no quadro social, a não ser pelo acúmulo

A imagem do bandeirante construída por Pedro '


Taques e Frei Gaspar fixou-se e dela se utilizaram
maioria dos historiadores e cronistas que a eles se
ao tratar da Capitania de São Paulo. Marcelino
Manuel Cardoso de Abreu, José Arouche de Toledo
a grande '

seguiram,

Cleto Pereira,
Rendo,
98.

não impôs uma nova mentali¬


dade, se não houve mudança estrutural da sociedade, nem por
isso, deixou de provocar conflitos no seio da classe dominan-

Roque
1

de fortu
1
99.

Francisco de Oliveira Barbosa dão como acabada a Imagem


do paulista conquistador de terras e descobridor de riquezas,

ao usá-la para fazer uma rápida revisão da História da Capita


nia, antes de entrarem no assunto central dos opúsculos que
deixaram sobre São Paulo. Essa mesma imagem, que durante o sé

culo XIX se esvaneceria, voltaria com maior vigor e retomaria

a sua função de símbolo da camada dirigente de São Paulo, nas


primeiras décadas do nosso século.

Escritores e eruditos de outras regiões também

participaram da elaboração da imagem bandeirista no século


XVIII, colaborando mais como eco dos historiadores paulistas,
procurando porém, fazer a história de sua região. Este é o ca

so da “Relação dai pcvci;^! d. < . .ç ‘ '

atí aoi r tc i < >: ; f.*' '"^'de autoria do advoca-

do de Vila Bela, José Barbosa de Sá. O trabalho cuida de d<_ s -


crever o que ocorreu em Mato Grosso entre 1719 ano er Pas

coai Moreira Cabral fundou o arraial de Cuiabá, até 1775, em


que presumivelmente, concluiu a obra.

(69) - PEREIRA, Marceline Cleto, Dissertação sobre a Capitania de Sãc


lo, sua decadência e modo de restabelece- la; Anais -k _bi: .
.t_

Nacional, Rio de Janeiro: 21:183-254-1900


ABREU, Manoel Cardoso de, Divert mtn to A.i-.uáw. ^xra
dores observarem; as máquinas do nundo recuelecidas nos s.:- *
.
navegação das minas de Cuiabá e Mato Grosso, d
Historioo e Geográfico de São Paulo, São Paulo: ,
1501
M1NIXJN, José Arouctt de Toledo, Memórias sobre as ald-.x- *
dios da Província de São Paulo, segundo as <
ano <te 1798. JMvista do Institut; Hi a
xo, Rio de Janeiro: 4:295-117, 1842
BARBOSA, da América Meridional, eaoritas no ano <te 1 *9. d >
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - K
; c

(70) - SA, José Barbosa de, BbIbpÍQ ds povoações A»


a die os prezentes tãi,xe. Cuiaba:
'ut
u .
- ?
n
sees princípios
taria da Educação e Cultura de Mato Grosso, 1975.
r
I
——
1
— 100.

A narrativa estã plena de descrições das expe¬


dições que procuravam as minas de Cuiaba, das adversidades e
perigos que encontraram no caminho. O cronista anotou tudo :
as dificuldades da vida no sertão, as fomes provocadas pela

falta de alimentos, o ataque dos belicosos indígenas que po


voavam aqueles sertões - mas e também patente a preocupação
em dar a primazia do descobrimento das minas de Mato Grosso '
aos "monadoncò daqucta cxtcnòa. Capttan-ca." , que levantaram seus

"e^Zanda^Ze^ fazendo ce.ZeZA.0 da dZvZna paZavaa pa/ia a CAte. -


^,(71)
deA. naó dZZaiada.-t> òe.me.nt&Zna.ò díôtí Lango hcmxó ^cnxo" .

Não ê só, porém, em relação aos descobrimentos


das Minas de Mato Grosso que Barbosa de Sã, deu a primazia '

aos paulistas; também quanto ã descobertas da região aurífera

de Minas Gerais, que ''auxZZZadoz, do4 meómo4 ZndZo4 que amama


vam, com quem ^aúam gucnna Ò4 maZ4 banbanxdadcó , ackanam o&


{
pn-imcnnoó {ocxoò aanx^cnoi, ) aícm do PZo Pancma ..."

A posição de Barbosa de Sã, evidente no seu

trabalho, pode ser explicada pelas relações entre Mato Grosso

e São Paulo, durante todo o tempo em que as minas descobertas


pelos paulistas tiveram produção significativa. As dificulda¬

des de transporte e comunicação de Mato Grosso com outras re¬

giões, praticamente impediram que as levas de aventureiros eu


ropeus, que procuraram Minas Gerais, fizessem o mesmo na re -
gião Centro Oeste. Os habitantes de Mato Grosso, no momento

(71) - de'seos
José
SA, Barbosa de, Ftelação das povoaçoens do Cuyabá e Mato Groso
principios a the os prezentes tempos. Cuiaba: UFMT - Secre
-
taria da Educaçao” e Cultura de Mato Grosso, “1975
p.9.

(72) - SÁ, José Barbosa de, cp. cit. p.9.


«4 101 .

em que escreveu Barbosa de Sã, eram paulistas, ou


quando mui¬

.
to seus filhos. Causa espanto o número de paulistas citados
'
na Nobiliarquia de Pedro Taques, que haviam se "paAAado pana
Mato GnoAAo e a aaAencía de aventaneinoA de oatnaA naçõeA evi
tou. que, entne oa deAcobnidoneA daA minaA e um exptonadoneA
houveAAe quatquen opoAição. Os conflitos que se revelaram não
ocorreram entre portugueses e paulistas, mas entre os minera-
dores e a administraçao portuguesa.

Não houve, por exemplo, em Mato Grosso, nada

que se possa comparar à Guerra dos Emboabas , ã qual, alias ,


Barbosa de Sá faz referência mas hã um nítido ressentimento '

contra Portugal, e a cobrança de impostos e tributos. Ao nar¬


rar a remessa de chumbo que Sebastião Fernandes do Rego teria
enviado, como resultado da cobrança do quinto, para Portugal,

Barbosa de Sã escreveu: "E quem ^ez a venAão do ouno em chum¬


bo não ^ol mão humana, maA Aim a da Pivina JuAtiça petaA tã -
gnimaA doA miA enãoeiA que entnegavam aA ^azendaA pen não te -

nem com que paganem oa dineitoA detaA e outncA a quem tema^am

oa eAcnavoA peta tutação doA quintoA . . ." ^


A ganância portuguesa ele opõe a nobreza uc

sentimentos que predominava entre os paulistas de Cuiabá, daA

methoneA ^amitiaA da cidade ... de agudo atendimento, Ainceno ,

Aem matdade atguma, de extenmada cantdade com ca pnõximoA, a


(74;
todoA Aenvia e nemediava com o que tinha...' , como se re¬

feriu a Pascoal Moreira Cabral.

(73) - SA,
O
José Barbosa de, op. cit. p. 24
provedor Sebastião Fernandes do Rego fora acusaoo de ter sr...
sete arrobas de ouro, colhidas coro pagamento oc gamtn, yr
tuido para Portugal, or.se a
igual peso de chuntoo e enviado os caixotes
troca foi descoberta.
(74) - idem, p.17
102.

Barbosa de Sã, embora não tenha demostrado co¬

nhecer os historiadores paulistas, e tendo escrito contempo -


raneamente a eles, dã continuidade, fora de São Paulo, a uma
mitologia bandeirista, que haveria de encontrar poucos conti-

nuadores nos anos que seguiram.

Um dos continuadores foi o viajante e natura -


lista francês Auguste de Saint Hilaire, possivelmente o mais'

conhecido dos viajantes europeus que descreveram suas jorna -


das pelo interior do Brasil. A primeira metade do século XIX,
foi„ segundo Rubem Borba de Morais, a época em que teve início
a exploração científica do Brasil. A vinda da Família

Real e a abertura dos portos provocaram uma grande curiosida¬

de sobre o Brasil; o primeiro livro sobre o Brasil, do viajan

te inglês Mawe, teve um êxito imenso e o Brasil começou a ser


visitado por toda a sorte de viajantes: zoólogos, botânicos ,

etnógraf os , pintores em busca de paisagens, príncipes dados '


às ciências naturais. Com os diplomatas vinham, adidos ã suas
embaixadas, intelectuais de valor que aproveitam sua permanên

cia no Brasil para desenvolverem estudos nas suas especialida

des . Assim, o duque de Luxembourg, embaixador extraordinário'

da França no Brasil, trouxe na sua missão, em 1816 um jovem '

botânico, Auguste de Saint-Hilaire.

Saint-Hilaire percorreu as então províncias do

Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Pau¬

lo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Cisplatina e

as Missões do Paraguai.

(75) - MDRAES, Rubem Borba, In: SAINT-HILAIRE, Auguste, Viagem ã Provín-


aLa Hp São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Ed.,_Ed. da Univer-
sidade Sao Paulo. 1972, p. VII (Biblioteca Histórica Brasilei¬
ra.)
103.

A descrição dessas viagens consta de numerosos


volumes, onde a informação do que viu foi sempre confrontada'
com a opinião de outros autores, que citava com frequência ;
cada diário de viagem foi precedido de um resumo da História'

de São Paulo, que Rubem Borba de Morais reputa como "dos me -


que. possuímos"

Nesse resumo, que se inicia com o descobrimen¬


to do Brasil, Saint-Hilaire deu um grande destaque as expedi¬

ções paulistas, que ele também não chama de bandeiras. Há uma


pormenorizada descrição do vestuário e da organização das ex¬

pedições. Penalizado com a sorte dos indígenas que os paulis¬


tas aprisionavam, não deixou também de se impressionar com o
que conseguira ler a respeito dos sertanistas.

Há, nas páginas de Saint-Hilaire, toda a repul


sa dos jesuitas ã ação dos paulistas, mas prevalece o orgulho
dos escritos de Pedro Taques e Frei Gaspar (aliás, citado em
nota de rodapé por Saint-Hilaire) :

"OKguthosos pon ^onqa da nobreza de seus ascc^


dentes, animados peio espírito de Uberdade
setvagem que casiacte/tiza a \aça ame cana , cs-
pí.n.ito herdado do sangue materno, accstum.aacs
d sen. obedecidos pon numerosos escnavcs, pas -
sando glande paute de sua vida nos dei etteò ,
tonge de toda a vigitâneia, os pauiistas luiua
um povo submisso". (7D

(76) - MORAES, Rubem Boraba, In:SAINT-HILAIRE, A., op. cit. p. XXV.


(77) - SAINT-HILAIRE, A., op. cit. p. 14
ituícar.
104.

Mas nenhuma outra expressão de


Saint-Hilaire acalentou
tanto
o amor-próprio dos paulistas, como a
que forjou ao descrever'
as dificuldades por que os sertanistas
mestiços de São Paulo,
tinham passado no sertão:

"Qaando a Aabe, expeAt.encta p^.Õp^.ta quan¬


poA.
tas ^adtgaA p^tvaçõeA, pe^goA , atnda hoje. '
agaaftdam o vtajante que 4e aueníuta neAAOA ton
gx.nqaoA A.egtceA e Ae toma c.onhe.ctme.nto do ttt-
nefiaftto daA tntezmtnãv etA tnca-uõeA doA
antt -
goA paattAtaA , Aente-Ae ama eApécte de aAAom -
bio , tem-Ae a tmp/LeAAão de qae caaca homemA

pefitenctam a ama A.aça de gtganteA " .
Nem as narrações dos ataques paulistas ã redu¬
ções jesuíticas, quando lembrou que aos paulistas era indife -
rente o uso da força ou da perfídia; que tinham " devaAtado e
depredado" , conseguiram dar imparcialidade ãs narrativas de '
Saint-Hilaire - hã nelas, sempre, um tom de admiração e res -
peito aos habitantes de São Paulo, que lhe passaram, provavel¬
mente os escritos de Frei Gaspar e Pedro Taques . Mesmo conhe¬

cendo as descrições jesuíticas, como a de Montoya e os livros

de Charlevoux, Saint-Hilaire omitiu as atrocidades que os pau -


listas teriam come ti do embora fizesse ressalvas, quanto a lisu¬

ra de sua atitude em relação aos ataques aos jesuítas, sua '

crítica tem algo de simpática; "GaApaa da Madte de Veas reco¬


nhece qae a narrattva de Chartevotx Aobre aA tncaKAÕeA doA

paattAtaA no Paraguat e exata, motto matA exata que certoA


tatoA porXogueA eA , maA deAcatpa caaca homenA aven tuaet ioa pe-

(78) - SAINT-HILAIRE, A., cp. cit. p.15


]05.

<o c nccia jamen to que the& advtnha do psiõpsito govest.no . É vestda


dc que, di-to D. Gaópai, ob psiõpsitob jebattaA ttsiantzasiam ob

ZndcgenaA no Mastanhão e no Pastã, psiovando Z.Ô40 queo.6 pau£Z^-


í«4 nao (joAam ob ãnteob caípadob; mab Zbbo não pscova, abbotu-
tamente, que eteb não tenham btdo cutpadob dab betvagesiÁ.ab '
que cometiam eontft-a ob pobsce.A tndZgenab"

A expressão "/taça de gZganteb " sintetizava, na


realidade, tudo que Frei Gaspar da Madre de Deus pensava de
sua gente mameluca e aquilo que, para Pedro Taques, represen¬
tava a ascendência nobre de seus contemporâneos e coetâneos '
paulistas cristalizava afinal o que os paulistas dominan¬
tes até então pensavam de si mesmos e tudo aquilo que tinha
1

sido instrumento para se manterem no poder. Quando Saint-Hilai

re escreveu sua Viagem â Província de São Paulo, jâ não havia


conflitos entre paulistas e portugueses recém-chegados â Sao

Paulo. Havia, sim, uma nova ideia se espalhando, a da forma


çâo brasileira e conflitos entre brasileiros e portugueses.

Os princípios do liberalismo que chegavam te -


nuemente ao Brasil começavam a quebrar a formação estamental '
da sociedade, a força do dinheiro se impunha, ao lado de uma
nobreza europeia, que aqui se instalava. Nobreza de sangue
que ia se ampliando com uma nobreza de títulos distribuídos
pelo monarca português sediado nas terras do Novo Mundo.

os
A nobreza dos paulistas não tinha títulos

barões paulistas sõ surgiriam bem mais tarde - mas, o Rio de

nobreza, que por sua vez, não


Janeiro povoava-se com a nova
e isolados na insigni
ameaçava os paulistas. Estavam sozinhos
dar sinais de uma certa
ficante São Paulo, que somente iria
106.

vitalidade com a instalação da Faculdade de Direito, que aco¬


lheria estudantes de tantas outras cidades do país. Escrito -
res que surgiram, paulistas mesmo , ou identificados com São
Paulo, foram muito raros, na primeira metade do século XIX. '

Além disso, os problemas que a sociedade enfrentava eram dife

rentes e a História se voltava para a formação do Brasil en -


quanto nação: surgiam os Institutos Históricos e as obras de
História Geral do Brasil e, como entende Alice Canabrava , "que.

Zmpíêcavam quaie 4empte no estudo da h^ótõ^a po-tít^ca" .


A história da administração colonial e dos '

grandes feitos governamentais ocuparam os grandes espaços da

produção histórica do século XIX, que deixou ã margem o movi¬

mento das bandeiras, que, por ser particular e desvinculado '


de autorização oficial, não representava os interesses dos '

historiadores. Em três obras as bandeiras aparecem : na da Var


(81)
1
nhagen, Rio Branco e na do inglês Southey. Nas duas pri -
meiraS/ numa listagem cronológica das bandeiras mais conheci -

(80) CANABRAVA, Alice P, , Bandeiras, op cit. p. 496

(81) VARNHAGEJ), Fracisco Adolfo, História Geral do Brasil, antes e de


pois de sua independência, 2a. ed. Rio de Janeiro: E & H Laemert,
' 1877
RIO BRANCO, Barão do, História do Brasil, trad. Joao Vieira de ALnei_
da, Rio de Janeiro: Max Fleuiss, 1930
SOUIHEY, Robert, História do Brasil, trad. Luis Joaquim de Oliveita
1 e Castro; anotada por J.C. Fernandes , Brasil Bandecchi
Ed.
e Leonaixio
Itatiaia;
Arroyo; pref, de Brasil Bandecchi, Belo Horizonte:
Universidade de São Paulo, 1981 (Reconquista do
São Paulo: Ed. da
Brasil, nova ser. v. 67)
107.

das. Southey dá atenção especial ãs bandeiras do ciclo de mi¬


neração, mas também não as omite, quando trata da conquista '
do território e da escravização e destruição de indígenas.

A revista do Instituto Histórico e Geográfico'


Brasileiro publicou, naquele período, uma série de trabalho?
'
de história local ou regional, resultado de pacientes pesqui¬
sas em arquivos, onde foram arrolados dados históricos geogrã
ficos, estatísticos e económicos sobre as províncias e munic_í
pios. Exemplos desses trabalhos foram os de José Martins Pe -
reira de Alecastre, José Felipe Nogueira Coelho, Augusto de
Lima Na mesma época a Revista transcreveu numerosos doeu

mentos referentes ãs bandeiras, e a elas contemporâneos , do¬

cumentos esses que foram utlizados já no século XX, por ou

tros historiadores.

O século XIX foi um período no qual a imacer '


luminosa do bandeirante, construída pelos historiadores pau -
listas e difundida por outros, como Barbosa de Sã e Saint-Hi-

laire, se esfumaçou. A produção histórica sobre as bandeiras'


perdeu-se no emaranhado dos itinerários, nos detalhes dos no¬

mes, na exploração de determinadas minas. O Bandeirante não '

(82) - AIENCASTRE, José M. Pereira, Memória Cronológica, histórica e coro


grãf i ca da província do Piauí. Revista do Instituto Hisrmoo e
Geogrãfioo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 20:5-164, 1857
COELHO, Filipe José Nogueira, Memórias Cronológicas da Capitania
Indendência do ouro. Revista do Instituto Histérico e Jecgrncioo
Brasileiro, Rio de Janeiro: v.13 2a. ed: 137-199, 1872
LIMA, Augusto, Un Município do ouro: memória histórica. Revistada?
Instituto Histórico e Geogrãfioo Brasileiro. Rio de Janeiro, c.6o
2a. pte.: '141-145, 1901.
108.

nao foi mais nem o vilão dos escritos jesuíticos, nem o


herói
de Pedro Taques e Frei Gaspar. Foi reificado num processo
de
valorização do oficial, do governo, dos atos da administração
onde outros valores se sobrepunham ã nobilitação e valoriza -
ção da camada dominante de São Paulo que não tinha também um
espaço demarcado na História do Brasil, fora dos fatos do ban
deirismo. Os valores que os historiadores paulistas defendiam
no século XVIII, com autonomia e independência de São Paulo,
diante dos representantes do poder metropolitano, não conta -
vam, no domínio da História Política, como também a Província
ainda não contava no panorama nacional.
109.

CAPÍTULO III

A CPIST ALIZ AÇÃO DA TMAG04

”Na ZncapacZdade de AeaZZza-'t paaa


São Pauto o çue atmejo, queJco ao
mzn.oò^azeJt pon. e£e o quo. man
poAAo"
A. ELLIS JP.

"0 ZApZfiZto aventufietlo do* pau-


tthtai, ^ot a putmíÁAa atma da na
çao bn.abtt<zt^a e. São Pauto, e.Aòe
^oco de. tA.adtço eA _e tendaA maaa-
vtthoAaA, o conaçao do pali."
OLIVEIRA MARTINS
110.

A formaçao do Estado Nacional e sua consolida¬


ção durante o Império exigiu, que a História respondesse às
questões colocadas pelo tipo de organização que o projeto po
lítico pretendia assumir. A imagem do bandeirante, tal como
fora construída por Pedro Taques e Frei Gaspar permaneceu co¬
berta por uma bruma, se não de esquecimento, pelo menos de
omissão. O bandeirante - nobre ou mameluco - mas sempre gran
dioso, jazia ã espera que o contexto histórico novamente o
chamasse, em defesa de valores, trazidos no bojo daquele con
texto.

Se para o Brasil em geral, a questão que se co


locava era, a do Estado Nacional, a valorização, não dos atos
indivíduos autónomos, mas das atitudes do governo, em São Pau
lo, a estruturação da sociedade também tomava caminhos que a

fastariam, nos primeiros tempos do século XIX, da necessidade

de utilização da figura bandeirantista.

Sergio Buarque de Holanda notou que, logo a

pôs a indepedência , quando a grande lavoura estava ainda se

expandindo (desde os fins do século anterior), os grupos diri


gentes tinham que se recrutar entre profissão urbanas.(1)

(1) HOLANDA, Sérgio Buarque de, São Paulo In: HOLANDA, Sérgio
Buarque (dir.) - História Geral da Civilização Brut; i I o i r .i , Sao

Paul.o, Difel, 1964.t. II, v. 2-0 Brasil Monárquico - Dispor

são e Unidade, p. 450.


111.

Os homens que constituíam a camada de maior ri


quesa e poder eram europeus, ou descendentes de primeira gera
ção de europeus, que com o comércio tinham feito fortuna, e
jã podiam contar, dada a relativa "antiguidade" dela, com sua
ascensao social. As mudanças que ocorreram, com a centra
lizaçao do poder após a Independência enfraqueceram a Câmara'
Municipal, que assim deixou de exercer o poder de atração,que
exercera no período colonial.

A Constituição de 1824 e a subseqtlente lei de


19 de outubro de 1828 tinham privado a Câmara das funções ju
diciais que tinha exercido na Colónia e as transformado em me
ros agentes administrativos, controlados estreitamente pe
los " ComeZãoi GenaZi de PftovZncZa" e pelos presidentes pro

vinciais. A independência tinha atrofiado a Câmara e tirado '


dela a capacidade de resolver as necessidades orgânicas da

cidade. "A autonZdade mãxZma... , paaau a peaoai do governo


pfto vZncZat que não patZcZpava da oZda munZcZpaZ , que vZvZam
de o&hoi vottadoi pana a Conte no PZo e ne^tetZam iua hazing
nZa e pompa eipunZai" . A atraçao que antes ela exercia ,

com maior força, transferiu-se para a carreira de armas, que


exercia " podenoio atnatZvo iobne oi ^Zthoi dai ^amZZZai mats

dZitZntai peto naicZmento e peta ^ontuna, ou aZnda iobne aquc


(4)
tei que, com tat meZo contam aicenden na eicata iocZat"

(2) OLIVEIRA, Luis da Silva Pereira -


op. cit. 115
(3) MORSE, Richard M. -
Formação Histórica de Sao Paulo. De
70
comunidade ã Metrópole. Sao Paulo, Diefel, 1970, p.
(Corpo e Alguma do Brasil)
(4) HOLANDA, Sérgio Buarque de -
op. cit. p. 450.
112.

O prestígio da carreira das armas n < maior parte das vezes se


aliou ao prestígio do dinheiro, e juntos deram oportunidade ã
carreira política, nas juntas da Província.

No século XIX, os paulistas louvados por Pedro


Taques deram lugar aos descendentes do grupo que os ameaçava
e que tinha conseguido se firmar como dono de fortuna ,
transformando-se em donos de canaviais e engenhos, e ciosos
da sua ascendência europeia, que se expunha a barbárie dos
trópicos,tão renegada pelos muitos nobres portugueses que com
punham a Corte.

Nesse momento, a nobreza, a camada privilegia¬


da era representada pelos aristíç4àatas da Corte que se instala
va no Rio de Janeiro. Era essa nobreza, recém-chegada, o mo
delo de nobilitação, de prestígio e importância política que
a camada dominante da província pretendida seguir. Não era
necessário, voltar ao pródomos da colonização e descobrir os
sinais de nobreza em seus ascendentes, para conseguir a eleva
ção social. A nobreza da Corte era récem-chegada mas a mui

tos no Brasil, D. João VI, como marca do prestígio, concedera

títulos. A situação invertia-se, antes ter título de nobreza'


assegurava prestígio, hoje o prestígio conseguia o título. E

o prestígio estava sobretudo ligado ã riqueza, não ã tradi_

ção.

A lavoura entrara num período de ascenção, no

final do século XVIII, e levara para ela uma boa parte dos

comerciantes enriquecidos» que deram origem ãs maiores dinas


113.

tias canavieiras e cafeeiras do século XIX, e que muito pou


co, cu quase nada, tinham de ligação com os bandeirantes. Es

tes homens tinham novos intereses voltados para a grande la


voura de exportação, embora tivessem, muitas vezes, nascido e
crescido tora do meio rural, eram esses homens que passaram a
ocupar o cenário económico, social e político de São Paulo
-•'.avia é claro, as exceções representadas por paulistas das
antigas, famílias que, fora da Capital tinham começado também
a se interessar pela grande produção agrícola, como " Antonzo
Faia de Eattci, qua.se um "ieX^ made" man, e natutatmente o do
pa't<atca Antcntc de Eattoj Penteado, en/itquecZdo na mZneaa
çãc - patecem eóttanho^ quanto aos pitmetaoó ã 4otZna ag/tlco

Era uma gente que se firmava, uma "espécie no


va", que ocupava seu espaço, conquistando fortuna e se inte

crando no mundo comercial que crescia com:a Revolução Indus

trial, e reintegrando São Paulo nos canais internacionais de

mercado de produtos tropicais. Não procurava vínculo com o


passado da província, os membros desse grupo não eram pauli£
tas ou eram de primeira geração e fizeram nascer, pouco de

pois da Independência uma tradição de confiança em si e de li

derança da Província de São Paulo. Este grupo, que formou

a elite política da cidade no período, tinha seus olhos volta


dos para a Corte, e mesmo em seu discurso político poder-se

(5) HOLANDA, Sérgio Buarque de -


op. cit. p. 456.
(6) MORSE, Richard M. -
op. cit. p. 84.
114.

-la perceber qualquer recurso a figuras históricas de São Pau


lo, seja a dos primórdios da sua colonização (como Anchieta ,
por ex.) ou a outros, menos distantes no tempo. A desvincula
çâo de um passado que até havia pouco tempo, era a garantia
de autoridade e poder da então camada dominante ,ficwva explí
cita no discurso de um deputado paulista, citado por Morse:

"... quat foi a província que em todos cj tem


pca, t ptZncZpaZmenZe noa da nossa revolução , tem tido uma
opinião mail influente, mais poderosa? ... Porventura a corte
de Império , 0 Rio de Janeiro, apresentou opinião alguma, an
<•4 de haver manifestado a cidade de São Paulo? ... A proven
cia de São Pauto. Srs., possue uma opinião tão bem formada
não so nos homens de tetras, que não ião poucos como se .<

<acufca^, inda na massa geral do povo, que em todos


tempos tem dado provas das mais heroicas virtudes

Se os paulistas faltos de todos . * x

instrução, tendo a Lutar com tantas dificuldades Ce- s .


enobrecido 0 catãtogo dos sábios do Brasil, acaso d.
-. -
1

>
.
.
'

rão, quando thes proporcionarem e facilitarem os meivs de


ererertar seus tatentos? "

No discurso, onde o deputada d< * < 1


। <

lação da Faculdade de Direito, a ser criada, em São Paulo

não se invocou a nenhum dos paulistas, como prémio, por t«r«-

(7) Apud MORSE, Rich» rd M. - op. clt. p. H4.


US.

conquistado terran, ou descoberto ouro - reforçava apenas a


imageni de capacidade intelectual e da força do seu politico,
•em recorrer, porém a nonhum escrito do passado, nem mesmo
ao nascimento da Cidade de São Paulo, cuja origem se encon
tra no Colégio dos Jesuítas. A força da pretensão se encontra
na opinião poderosa e influente que são Paulo demonstrava na
nossa revolução". Tudo girava em torno da Independência.

A fundação du Academia de Direito não mudou '


bruscamente o perfil do São Paulo e nos seus primeiros anos 1

de existência ela não proporcionou nem aos alunos, nem aos do


centes um regime acadêmico consistente e, nem levou-os a uma
atividade extra-curricular substanciosa. A Biblioteca da Aca
demia, ( que se tinha constituído com o acervo da Biblioteca
Pública de São Paulo, com os livros do 49 Bispo de São Paulo
D. Mateus de Abreu Pereira, com seiscentos volumes doados por

Arouche de Toledo Rendon e com a coleção do desembargador Chi


chono da Gama e os livros que tinham pertencidos aos francis
canos) era uma das vias pelas quais as ideias novas que vinlix-,

da Europa deveriam se disseminar pela cidade. A outra era a

impresa, que surgiu em decorrência da própria Academia, que


era o veículo por onde os jovens escritores expunham as novas
idéias. Destes, raros eram os escritores de São Paulo v - nas
arte» llter&rias na Academia sobressaiam-se os moços vindos

de outras províncias, que faziam o sacrifício de morar na

quele burgo de estudantes, e nada produziram que revelasse ;ra

(8) Causa espécie a inexistência quase total de paulistas que tenham exer
atividades litaririas nas três primeiras décadas do século XIX
(V. MEIO, Luís Corroía - Dicionário
missão dó IV Oenten&rio, 1954).
de Autores Paulistas, São Pau ’.o, Co
rw influência regional ou da cidade.

da dos

ques e
à elite
A falta de vinculação entre a camada enriqueci
então proprietários rurais e as tradições que Pedro Ta
Frei Gaspar tinham cultivado e/ou criado se

intelectualizada da cidade. Se a ancestralidade pau


lista não era apanágio dos primeiros, menos ainda dos estudan
tes da Academia, vindos, na grande maioria de outras provínci¬
as.
estendiam
] 16.

Alguns desses estudantes como Gonçalves Dias,


Alvares de Azevedo, João Cardoso de Menezes, Bernardo Guima
rães - somente para citar alguns deles,se tornariam conhecidos
poetas da fase Romântica da literatura brasileira, que havia
de se caracterizar pelo aparecimento e desenvolvimento da ma
nifestação da originalidade da Nação em formação e a sua dife-

rênça em relação ao que havia sido herdado de Portugal . Assim,


pretendia-se exprimir a originalidade social e geográfica, me
diante o uso de uma forma que fosse liberta dos padrões do Cias
sicismo.

No sentido de se dedicar ãs coisas do Brasil,o


traço mais marcante do Romantismo foi a tendência indianista -
o índio era a entidade nacional, por excelência, era a fonte
de inspiração de uma poesia que se pretendia nacional, "
ta. que. mant^ eòtava uma óenitbZZZdade e um temaA.Zo que noi dZ_
117.

áe^ençavam do anteparado poitugur , piopondo a


imagem ideai '
de um outio, levito cm glande panto peia
imaginação e í4anó -
6o*mado em rmboio da patMa . .." 1 9) o interessante disso é o
índio personagem de uma História, em que entram as
relações '
que manteve com os brancos, das quais sempre saiu
derrotado
Nao é o índio destruído das missões jesuíticas espanholas, nem
o índio que perdeu sua liberdade ao ser escravizado pelo homem
branco. Não era o índio massacrado
- era o índio que jã não
existia, devido ao contato com o branco, no século XIX. Mas,
o índio do Ramantismo vivia ainda em liberdade pelas matas, ou
ainda, quando vivendo próximo ao branco, mantinha sua pujança.

Não hã referência nessa literatura ao papel do


bandeirante. Não hã interesse em destruir o mito da invencibi
lidade do indígena - é melhor que se cale sobre a sua descraça
e se retorne ao século XVI, ou ainda melhor, a época anterior

ã chegada do homem branco. A literatura indianista não é liber


tãria, como seria mais tarde a dos poetas abolicionistas - ela
não defende o índio real, mas valoriza o mito; í10 daí o des
conhecimento do bandeirismo. O bandeirante, construído pela pe
na de Pedro Taques e Frei Gaspar não foi tocado - continuou 1

seu sono,já que ninguém foi acordã-lo.

(9) SOUZA, Antonio Cândido de Melho -


A Literatura durante
Império. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de idirj -
o
Hi s cúria '
Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico. 39 v
Reações e Transações. Sao Paulo, Difel, 1976, p. 347.
(10) SOUZA Antonio Cândido de Mello -
Op. cit. p. 347.
118.

Somente anos mais tarde o sertanista seria no


vamente resgatado; seria despertado para, mais uma vez, ser '
personagem central da História de São Paulo.

0 café começava a panetrar muito timidamente '


na Capitania de São Paulo, no último quartel do século XVIII,
caminhando do vale do Paraíba Fluminense , em direção ao Vale
do Paraíba Paulista. De início a expansão da cafeicultura foi
lenta, a partir, porém, da década de 1850, tornou-se extrema
mente rápida , sempre em direção ao oeste da Província de

São Paulo. Foi essa expansão que permitiu que Sao Paulo fosse
ocupando cada vez mais espaço no cenário político do Brasil ,
através da ação dos membros da útílma da.s í/têó g-tandei adito -
cA.acZa.ò do pais: depoZs dos óen/iote.4 de engenho e dos glandes
mZne^adoAes , os fazendeiros de cafe se tornaram a elite sccLa^
brasileira" .

A expansão dos cafezais foi também responsável

pelo grande crescimento que a cidade de São Paulo teve a par

tir de 1870, com um ímpeto mais intenso a partir da proclamado

da República e provocou uma grande mudança na sociedade local,

com profunda alteração na sua composição étnica e racial.

O trabalho escravo era a forma de organizaçao'

(11) CANABRAVA, Alice P. -


p. 34 .
Economica do Brasil. 5a. Ed .
(12) PRADO Jr. Caio -
História
São Paulo. Brasiliense, 1959, p. 171.
119.

. Nos cafezais, na
c.\Vni nante segunda metade do século XIX e a
ccestao da proibição do tráfico não impediu a circulação de
escravos dentro do Brasil, com os cafeicultores paulistas es
clavos de outras províncias. A dificuldade de entrada de no
\os escravos africanos no país fez aumentar consideravelmente'
O preço dos escravos, mas o " í-^abaZho continuou óen-
«c uwa í < tutçao cccnomZcamente vZãvef até oi pstZrm-C/io a anoi
àa «fécaaa dc 'SíO ,... '
No final desta década comecou a de
cair o número de escravos, e uma outra alternativa para o tra
balho nos cafezais começava a se tornar viável: a mão de obra
assalariada, constituída pelo imigrante. Na última década do
século XIX, dos 1.100.000 estrangeiros que entraram no Brasil’
700.000 vieram para São Paulo. Desses, o maior grupo era cons
tituído por italianos, seguidos pelos portugueses.

Era estimulada a imigração de indivíduos bran


cos caucasianos, e restringida a de negros e orientais. No
dia 3 de julho de 1890, o Correio Paulistano publicou a notí
cia do decreto federal do dia 28 de julho, que proibia o in
gresso dos indígenas da África e da Ásia no Brasil, só o permi
tindo cor autorização expressa do Congresso Nacional. O precon
ceito, que de resto seguia o europeu, era bem nítido entre os
cafeicultores, bem como na sociedade como um todo.

(13) LOVE, Joseph,


Brasileira 1889-1937.
- Rio
A Locomotiva: São Paulo na Federação
de Janeiro, Paz e Terra, 1892, p.25.
120.

Para os negros libertos o fluxo imigratório '


trouxe uma sensível diferença para pior, dado o preconceito
racial, especialmente contra os primeiros. Os imigrantes toma
ram conta das funções assalariadas e os negros e mulatos fo
ram relegados ãs tarefas temporárias, de caráter mais descias
sificado, e foram sendo absorvidos nos estratos menos privile
geados da sociedade. Com a abolição, a situação se agravou '
pois provocou a vinda dos escravos para as cidades, condicio
do-os ao mesmo estilo de vida dos que já lá estavam.

Se os negros e mulatos foram sendo absorvidos'

nas camadas mais baixas da sociedada e marginalizados do pro¬

cesso produtivo, os índios, que existiam em razoável número '


(14)
no Estado de Sao Paulo foram sendo vez mais rechaçados pa

ra longe ou destruídos. A expansão dos cafezais ocupou territõ

rios indígenas, num momento em que na América, matar índio era


(15)
considerado um ato corriqueiro. Os índios do Estado de Sao

Paulo foram mortos em escaramuças, por epidemias induzidas por


roupas contaminadas, pelo envenenamento de seus alimentos e ma
nanciais de água num genocídio, ainda muito pouco estudado pe

los historiadores O sobreviventes, marginalizados, continuara:

vecetando até praticamente desaparecerem do território de São

Paulo.

(14) Love p.32, descreve um mapa de Sao Paulo de


op. cit.,
Paulo era ocu-
'
1868'
onde um terço do território de Sao
nado'
por índios Coroados ( Kaigangs e Bororos).
expansao do cafe os pio
(15) Numa época muito próxima a da as populações
também destruíram
neiros norte-americanosEstados Unidos.
indígenas do oeste dos
121 .

A ação dos paulistas do final do século XIX e

início do século XX não difere muito da dos seus conterrâneos'


do século XVIII. Estes atacavam os indígenas para fazerem de
les seus escravos, aos mais recentes não interessavam escravi-

za~l°s» mas eliminá-los para ocupar suas terras.

Não foram somente os índios que perderam suas'

terras para os plantadores de café. Posseiros pobres também

foram desalojados de suas terras violentamente, pelos grileiros que

antecediam a chegada dos plantadores de café, e mudaram-se pa


ra outras regiões, cada vez mais afastadas, ã medida que a '
fronteira agrícola se expandia. Eram substituídos na posse e

propriedade da terra pelas famílias de plantadores de café ,


no trabalho pelos colonos, que chegavam nos navios das compa

nhias de imigração e que passaram a constituir a maior parte '

dos trabalhadores rurais Estes últimos tinham um trabalho estafante,

mas mesmo assim alguns deles conseguiram economizar algum di

nheiro e tornar-se proprietário. Destes, alguns tornaram-se '

grandes proprietários, possuidores de uma grande fortuna con

secuida com o café, como Francisco Schmidt e Geremia Lunardelli


por ex.

Quanto aos fazendeiros das famílias da elite

sua origem não ia, na maior parte das vezes, além da segunda

dinastia
metade do século XVIII e puxado o fio da meada da

achava-se um tropeiro, um comerciante, um traficante de escra


vos que ,enriquecidos pelos seus negócios, tinham aplicado suas
rendas na propriedade fundiária. Vários casos podem ser cita¬
dos. Sérgio Buarque de Holanda historia a origem da fortuna
da família Costa Carvalho e de Nicolau de Campos Vergueiro ,for
tuna cujo início se encontrava no Brigadeiro Luís Antonio de

Sousa, que enriqueceu com especulações mercantis em Mato Gros

so, e no exercício de algumas funções públicas, como a de Guar


da-Mor da Casa de Fundição. ( 16' *

Caso mais conhecido é a da origem da família


Prado que remonta a Antonio Prado, português que chegou em São
Paulo logo no início do século XVIII, como mais um que procura
va sucesso nas atividades mercantis que as condições peculia

res da cidade propiciavan. Foram seus descendentes que amea

lharam fortuna, um século depois da checada do primeiro Prado

a São Paulo.

Antonio da Silva Prado, comerciante de aado e

arrematante de impostos, amealhou com suas atividades mercan


tis um considerável cabedal que, posteriormente transformou
. •
- .
os Prado em grandes proprietários de terras.
(17)

Outras famílias como os Mesquita e os Rodri

no Brasil somente a
gues Alves encontraram seu ponto inicial

de - op. cit. , p. 455.


(16) HOLANDA, Sérgio Buarque
(17) PETRONE, Maria Teresa Schorer
independencia. São -
0 Barão de Iguape: um em
Paulo Ed. Nacional ,
nresário da época da ( v. 361).
Brasília- INL, 1976 Brasiliana,
123.

partir do século XIX.

A evolução do café na economia brasileira, on


de a partir da segunda metade do século XIX, passou a ser o
principal produto de exportação, levou os fazendeiros paulis

tas a pleitearem, do governo central medidas que atendessem se


us interesses. Durante s primeira metade do século XIX, quando

o café do Vale do Paraíba tinha atingido um papel considera

vel, tinha surgido a aristrocacia dos barões do café, que ao

lado dos senhores de engenho passou a representar a parcela '

mais importante da sociedade, porque controlava a vida econô


mica, social e política da nação. A queda da produtividade das

fazendas cafeicultoras na região norte do Estado, enfraqueceu

-a também enquanto núcleo de poder. Paralelamente ao declínio

do Vale do Paraíba como região produtora de café, asistia-se a


elevação da produção do Oeste Paulista, que passava a liderar

a exportação e que se convertia numa das áreas mais dinâmicas '


do Brasil. Tinha, no entanto, pouca força política e sua
repre

sentação nos órgãos de poder do Inpério era muito pequena. Em

a
de 59 senadores, apenas três eram de São Paulo;
banca
1889
Raros os nú
da de São Paulo na Câmara era de nove deputados.
do Oeste Paulista. o
nistérios onde figuravam representantes
e mesmo o Presidente da
mesmo acontecia no Conselho de Estado,
época, costumava ser es
Província, acompanhando fato normal na
(18)
outros Estados.
colhido entre os elementos de

Emilia Viotti da - Da Monarquia a República: Momentos


Editofa Ciências Huma
Livrada
DecSs
MRimSTA
2a. ed. , São
nas, 1979, P- 312.
Paulo,
124.

A posição secundária que Sao Paulo


ocupava
no
cenário político, apesar de maior produtor de riquezas
do país,
gerou, como nao poderia deixar de ser
profundos ressentimentos
nos paulistas, que sentiam-se prejudicados pela
excessiva cen
tralização. Foi por isso que a idéia de Federação encontrou nu
merosos adeptos em São Paulo, onde os mais extremados chegariam
a falar em separação, como fizeram Martim
Francisco III, Alber
to Sales, Pacheco e Silva e alguns outros. A idéia separatista'

não vingou, vingou porém a de federação, bandeira maior do Par


tido Republicano Paulista, fundado em 1873.

A idéia de Federação encontraria apoio em mui


tos políticos paulistas, de diferentes tendências aos quais ir
ritava o tratamento que são Paulo - no final do século - o
maior contribuinte, recebia do governo central. A Província de
São Paulo pagava em imposto ã Corte, cerca de 20.000.000$000 e
recebia, em aplicação, cerca de 3.000.000$000 , contribuindo cor
(19 )
a sexta parte da renda total do Império. Durante todo o pe
ríodo imperial, São Paulo não tinha recebido ajuda direta, tal

como o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. Nestas provín

cias, que contribuíam com muito menos, também prosperavam impor

tantes movimentos republicanos.

A situação, que os políticos paulistas

deravam extremamente injusta, deu origem a uma grande ma-vonta

/iQi COSTA Emilia Viotti da op. cit. p. 314


_ Federal s-
7n
20 TORRES João Camilo de Oliveira - A Formaçao,dopassim ( Bra
Nacional, 1961
mo no Brasil. São Paulo, Ed.
siliana j 38).
1 15 .

de contra as outras províncias, expressas,


por exemplo, na ex
pressão muito conhecida: "São Pauto é. a tocumol t va que
puxa
vtnte e dotò vagõe.*" . O ressentimento estaria também expresso
em outras formas de manifestações como numa comédia do Martini
Francisco chamada São Paulo Independente, onde de forma jocosa

ele procurou caracterizar as outras províncias exploravam o


irmão bem sucedido, no caso São Paulo, "o pagador geAa-f do Im
perito', que sustentava os irmãos gêmeos negociantes de borra¬

cha (Amazonas e Pará), o professor aposentado (Maranhão), o fa


zendeiro endividado (Piauí) , o velho feitor (Rio de Janeiro) e

assim por diante, cada Província era caracterizada por uma qua
(21)
lidade reconhecidamente depreciativa.

Para resolver aquela situação de desequilíbrio,

os republicanos paulistas propugnavam uma redistribuição da

renda nacional que permitisse a São Paulo financiar e expandir

sua economia exportadora . E, para isso, a única solução, estava


convencido o PRP, era o estabelecimento de um sistema federal ।

vo, que somente seria possível com a instalação de governo to

publicano-essa era a idéia predominante na região agrícola mH'

rica do Brasil:a região central de São Paulo.

de : ou
0 ideal republicano, nas últ imas década- <

lo XIX, não significou propriamente uma idéia


nova - ele ia I I-

quando repKmrnl ava


nha vicejado no fim do período colonial,
o ideai republica
a oposição ã metrópole; com a Independência,

no passou a representar a
oposição ao governo do Imperador .Apc

III, Martim Francisco Ribeiro de


, Sao Pau lo
(21) ANDRADA a, São
Independente, propaganda Separatist
r

sar de ser uma ideia antiga, somente a partir de 1870, é que


começou a ter maior prestígio, especialmente em São Paulo,. onde
o Partido Republicano Paulista tinha razoável força eleitoral e

conseguiu se consolidar no final do Império. Foi, de fato, o ú


nico grupo de republicanos, fora do Rio de Janeiro a desempenhar
papel importante na desintegração final do Império.

No início do novo regime, o P.R.P. passou por


dissenções internas, mas após 1892, de novo coeso, manteve pra
ticamante o monopólio do poder político no Estado, durante toda
a República Velha, mantendo também a homogeneidade da elite po

lítica de São Paulo.

A Partir da Proclamação da República, as eli_

tes aarárias passaram por algumas transformações: aos poucos se

tornaram urbanas, e mais dirigidas por consideração de ordem '


(22)
económica, sem no entanto, perderem sua base rural. Desse

grupo, saíram os componentes da elite política, que formavam

um grupo quanto ã origem, formação intelectual e composição fa


miliar. Quanto ã origem, 94% pertenciam ãs famílias tradicio

do grupo
nais e 43% tinham pelo menos um parente participando

político dominante; quanto ã formação intelectual, 70% dos po


de Direito do Lai
líticos eram egressos dos bancos da Faculdade
(23)
go de Sao Francisco.

(22) LOVE, Joseph L. - op. cit., p. 215


(23) Idem, p. 216, 217
127.

Desses números, podem se retirar algumas in


ferências. Em primeiro lugar, o fortalecimento das oligarquias'

estaduais, favorecido pela "política dos governadores" ,implan


tada pelo Presidente Campos Salles, e que resultou na " Políti
ca do Café com Leite" , permitindo que políticos paulistas e mi
neiros se alternassem no poder até o fim da República Velha .
Esse sistema foi acyisado de impedir que houvesse renovação das
forças políticas, já que teria vedado o acesso das oposições
ao poder. Os senhores do café:, que compunham a maioria . da
elite política, impediam o acesso de imigrantes, ou filhos de
imigrantes, vistos com um ranço de preconceito, e possível amea

ça ao poder que concentravam nas suas mãos. Os "quatrocentões "


(ã maioria dos quais provinham de famílias com menos de um sécu
lo do Brasil) não abriram mão de seu poder para permitir que os

recém-chegados ascendessem politicamente. Apesar do enriqueci

mento de razoável nímero de imigrantes da República Velha, num

total de 263 membros da elite política, Love encontrou 22


(25)
nomes, cuja origem pode ser identificada como imigrantes.

As ligações familiares no Partido Republicano,

levaram Rosa Maria Godoy Silveira observar que "o que existia '
subjacente ao partidarismo repubticano , em nZvet estadual c fe

cat e que explica o seu vazio doutrinário, era um meio social


interno aos estados, dispondo-se economia agrária, integrando'
as pessoas em uma estrutura familiar ou de parentesco , onde o

(24) CAPELATO, Maria Helena e PRADO, Maria Lígia


Ideologia no Jornal "O Estado
-
O Bravo Ma tu
de Sao Pay
tino, (imprensa e
lo) / Paulo, Alfa-Omega, 1980 p. 25.
(25) LOVE, Joseph L. -
op. cit. , p. 215
128.

'leíacZonamenío ^azZa ao nível pet^oal.

Essas fortes ligações familiares formavam uma


corrente, cujos elos se fechavam no sentido de
impedir o rompi
mento da coesão e homogeneidade da elite política
e garantir ,
assim, a manutenção de um mesmo ponto de
origem entre todos, co
mo algo que garantisse a essa elite
o direito de permanecer no
poder. Assim, a elevação de um membro estranho ãs famílias tra
dicionais, quando ocorria estava ligada ã proteção e apoio de
alguém. Ê o que aconteceu por exemplo, com Numa de Oliveira ,
português de nascimento, que começou a vida trabalhando como
estenógrafo. No governo de Cerqueira César foi levado a diri
gir os serviços de estenografia na Assebléia Estadual onde se
tornou protegido de Júlio de Mesquita, genro de Cerqueira César.
Ainda na Assembléia começou a investir em terras para o plantio

de café na região de Ribeirão Preto, e a partir daí construiu


uma grande fortuna e fez carreira política, chagando a Secreta
rio da Fazenda.

Outro exemplo que pode ser tomado é o do mula

to Francisco Glicêrio, que nascido de uma família de pequenos'


agricultores de Campinas, tornou-se advogado provisionado ( Não
pudera terminar o curso da Faculdade de Direito) e proeminente
líder político.

OfU bttVEIRA,Rosa Maria Godoy


Implantação da
-
Republicanismo e Federalismo.
Republica no Brasil (1889-1902'
Um Estudo da
Brasília, Senado Federal, 1978, p. 83 (Coleção Bernardo Pe
reira de Vasconcelos, v. 4).
12 9.

Mas, apesar de se citarem algumas exceções, co


mo as dos exemplos acima, a elite mantinha-se fechada e
era
vedada a participação política àqueles que não pertencessem
a
classe dominante. 0 ascenso dos movimentos operários nas
primei
ras décadas deste século, em que pese sua importância,
não con
seguiu quebrar a homogeneidade dessa elite, nem mesmo quando
parte dela se aliou ã parte do proletariado, no final da década
de 20. Apesar da criação de um novo partido (Partido Demo
crático) cujo maior inimigo se personificava na "oligarquia" ,
esse mesmo partido não representava senão uma cisão dentro da
classe dominante, que abrigou descontentes com a política do
P.R.P., e que para ampliar suas bases eleitorais fez alianças
com grupos que pregavam uma revolução. Isto não significou, po¬
rém, a possibilidade de grupos operários terem-se aproximado

do poder político, ou de terem ocupado parte do poder que se


concentrava nas mãos da classe dominante dividida em P.R.p. e
P.D. .

Um outro elemento a sedimentar a coesão da eli


te política de São Paulo era a sua formação intelectual. A

grande maioria tinha cursado a Faculdade de Direito - a exemplo

de Prudente de Moraes , Campos Salles, Rodrigues Alves, Afonso

Pena, Washington Luís, Julio Prestes. Não resta dúvida que â

Faculdade de Direito coube iniciar nas lides políticas ur grande

/97) CAPELATO, Maria Helena - O Movimento de 1932: a causa


paulista' 2a. ed. , São Paulo,Brasiliense , 1982,o. 11. (Tu
do é História , 15).
í£ K t
I AO.

numero de
militantes, que desde os bancos
univrrs LUr lot. pupa
ravam suas carreiras. A partir dos
fins do século XIX, da td
o celeiro de onde sairam as
maiores expressões políticas de ,‘lao
Paulo, e mesmo de outros Estados. A
Faculdade de Direito,

661
pob„|
velmente , assumiu essa sua função de
formadora de pollt loos
pois: '0 Kach.aH.eL Lai aem 4abe-i Hedigii
uma pi pcii i a çue . A.id.t
i em maZé-iZa de engH.O4Aamento (manZ
^e&taç o e 4 ao govcAiip,
i cjh'<i»i
4ÕC4 em tH.em e^pecLaL ã cuòta do govenno,
*
4 ã ação emLnent emente patH.L0tH.Lea do gouiAno)
memagcm de .<pC.ui o> ’

• CU.H.LOL de
e de
anLveH.0aH.L0, dL&euttt>oL> nacL ona I’ i a
moH.atLvoL , dLL>cuH.A0L> de boat, vLndas e de despedida}
fa s, d(
oia(õl<a (d<\

acuh so a rumc

<> b.i <■ h.t -i c <


^Lca doutoH.".^^ Alcântara Machado, o autor do t 1 echo nelma
citado, foi deputado na Assembleia Constituinte de 1914, 1 inha
íntimo parentesco com políticos do PRP, a quem os polTt leoa do
PD acusavam de ter transformado a Faculdade de Direito um "cm

ral", cuja orientação era”a potltLca de campana 1 < o , momt a ,■ J.


caboL eLeLtcnaLò, paneLLnhai de mandões LnZptOA" . ‘

Essa elite homogénea e fechada ocupava .. um”

estaduais e federais, nas Câmaras, Senados e atingia 1 amb. m ..


poder presidencial, mas seu prestígio à nível federal dm ou um
curto período , de 1889 a 1905, pouco antes de a pior Idêmia
sair da mão dos paulistas. Mas, se perdeu oh cargos de ma 1 < u po
der, aos paulistas continuou o controle sobre a poll! Ira cam
bial, monetária e cafeeira , até o final da HopGblIea v.iha. o

(28) MACHADO, Antonio de Alcântara -Cavaquinho. N<wr I at. Paull.


tanas, Rio de Janeiro, Livraria José Olyitplo fill tora, 1%] ,p. 111
(29) DUARTE, Paulo -
Agora nôs.1 São Paulo, 1927, p.7R'i.
lUtí
131 .

paulistas, em virtude da produção de café, o


maior produto na-
çional , nunca duvidaram do seu direito de governar São Paulo e
o Brasil. A ampla autonomia dos estados dentro do
sistema fede¬
ral, garantida pelos impostos de exportação, favorecia São Pau
lo, pois só neste Estado geravam renda suficiente para
assegu¬
rar a independência económica.

Mas, de qualquer forma, o afastamento dos pau¬


listas dos principais postos políticos do governo federal, pro
vocava inúmeras queixas, pois se consideravam in justiçados , poi s

afinal São Paulo produzia a maior riqueza do Brasil, era o esta

do mais evoluido e tinha participado, efetivamente, do proces


so que levara ã desintegração o governo imperial. Por tudo is¬

so, julgavam os políticos de são Paulo, que seu estado deveria'


ser o centro em torno do qual a nação deveria se organizar.

Não havia nessa proposta nenhum sentimento de deslealdade em re


lação ã nação, pois o federalismo para a elite política paulis

ta sempre tivera o caráter de garantir a hegemonia dos grandes

estados (leia-se São Paulo e Minas) na política Nacional.

A predominância na vida política, que são Pau

lo reivindicava era explicada não só pelo progresso e rioueza

atual do estado, mas também por que São Paulo "semnre fora" a

região que tinha levado ã frente a expansão do Brasil, era pre

gres sis ta,ativo conquistador, desde o início da Colonização.


"Sempre fora" a região que expandira territórios, que enriquece

ra a metrópole com o ouro e levara a civilização para os recan-


FAORO, Raimundo - Os donos do Poder. Formação do Patronato Político
.
Brasileiro, 2a. ed. rev. e aumentada Porto Alegre, Globo São Paulo, Ed.
da Universidade de São Paulo, 1975, v.2, p. 589-590.
132.

tos longínquos da Colónia. Se São Paulo tinha, naquele momento,


a predominante posição económica que ocupava, era porque os ho
mens de São Paulo carregavam uma tradição de arrojo e vitalida¬
de , que vinha desde os primeiros povoadores da Capitania de
São Vicente. Tinham razões de sobra, lã no seu entender, para
manterem a hegemonia na federação.

Foi nesse momento, entre 1890 e 1930, que a


figura do bandeirante foi resgatada como símbolo, pois ao mesmo
tempo em que denunciava as qualidades de arrojo, progresso e
riqueza que são Paulo possuia, representava o processo de inte¬
gração territorial que dera sentido ã unidade nacional. Como
símbolo, o bandeirante representava, de um lado a lealdade ao
estado e de outro a lealdade ã nação, e permitia também com a
signficação que os estudos históricos do período lhe deram, que
uma parcela da população, a dos imigrantes, se integrassem ,
emocionalmente a São Paulo, na medida em que uma das vertentes'
dos estudos sobre o bandeirismo deu ênfase â miscigenação.

A eleição do bandeirante como símbolo paulis¬

ta trouxe para o público mais erudito, de novo, as obras de

Frei Gaspar e de Pedro Taques , que foram as primeiras a deixar


marcas nos historiadores do século XX. Os traços com os quais

aqueles dois historiadores desenharam o bandeirante: nobreza,va


lor, coragem, superioridade racial, voltaram a se repetir nas

primeiras décadas desta centúria. Mais fortes em uns, mais fra


cos em outros as linhas do contorno bandeirista reapareceram pa
ra simbolizar não só, uma elite política, mas também para justi
í li
m.

ficar a predominância dessa elite, sobre todo o Brasil, identificando o


Estado à Nação.

0 estudo do Bandeirante e das Bandeiras estru¬

turou-se na primeira metade do século XX, sobre vertentes inspi^


radas nas obras de Pedro Taques e Frei Gaspar. Afonso de Tau-

nay deu ênfase à conquista territorial, ãs descobertas; Alfre¬

do Ellis Jr. ã "4aça pautiòta" ; Alcântara Machado enveredou pe


lo estudo das condições económicas e sociais do seiscentismo .

Afonso de Taunay, Alfredo Ellis Jr. , Alcântara

Machado foram os historiadores que deram , após Pedro Taques e

Frei Gaspar, contribuições originais para a história do bandei-

rismo, e com isso fizeram aparecer muitos outros autores preo

cupados com o mesmo tema e seguidores das linhas explicativas

sugeridas por eles. As obras daqueles três autores podem ser

m considerados matrizes do conhecimento sobre as bandeiras e


bandeirismo, produzido no século XX.
o

ww*
Uma outra vertente surgiu jâ na década de 1940,

com o aparecimento da última grande obra sobre o bandeirismo

A Marcha paraOeste, de Cassiano Ricardo, que praticamente fe

chou um ciclo de estudos sobre as bandeiras


< 31 >
.

Bandeiras
(31) Embora o último volume da História Geral das
tenha sido editada em 1959, Taunay iniciou-se em 1924.
« 134 .
*
M
i

»•«
Ellis Jr., Alcântara Machado e Taunay perten¬
ciam ao mesmo grupo da elite dominante paulista durante a
República, e embora o último tenha sido o único a não ter uma
carreira política era casado na família Souza Queiroz e concu
nhado de Washington Luís, por sinal, outro historiador dos fa¬

* tos bandeiristas.

Alfredo Ellis Jr. , nasceu em São Carlos em


1826, numa família de políticos (seu pai tinha exercido manda
tos legislativos pelo P.R.p.) e ele mesmo foi deputado junto ã
Assembléia de São Paulo. Era formado pela Faculdade de Direito
de Sao Paulo e foi promotor público e professor secundário, an¬
tes de prestar concurso para a Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da Universidade de São Paulo, em 1939.

Todas as obras, que interessam para este traba

M lho são:

«»
t
«
Alguns paulistas dos séculos XVI e XVII. Subsí -

dios para a História de São Paulo, 1922;

*
«
1
Novas bandeiras e novos bandeirantes - 1922:

« O Bandeirismo Paulista e o Recuo do Meridia-


v no: Pesquisas nos documentos seiscentistas; 1924 ;
«
(32 )
Raça de Gigantes - 1926
,
22) Na sua 2a.edição esse livro foi publicado com o título de
Os primeiros troncos paulistas.
lã/.

te de sua obra.

Para este trabalho foram selecionadas:

Na Era das Bandeiras - 1922


Pedro Tagues e seu Tempo - 1923
Piratininga. Aspectos Sociais de São Paulo Seis
centista - 1923

-
1950
1923

Um Grande Bandeirante: Bartolomeu Paes de Abreu

História Geral das Bandeiras Paulistas - 1924-

A Taunay cabe também o mérito de ter publicado,


em 1920, a Nobiliarquia de Pedro Taques e reeditado as Memo
rias pra a História da Capitania de São Vicente, de Frei Gas
par da Madre de Deus.

José Honório Rodrigues atribui a Taunay, ao

escrever a História Geral das Bandeiras, "teaZZzat o matost pta


no dc tecA.eação hZ4-íõ-tZca, fazendo toda uma {aíz pouco
conhecida " , já que ele co n-it^u-éu o que gaitava, amptinado o

nOAAO conhecimento hiitcn.iao". Compara, por isso, a

obra de Taunay, ã de Varnhagen no sentido em que ambas recu

peraram fatos da História do Brasil, enfatizando o primeiro

algo que ficou falho no segundo -


as informações sobre o

movimento bandeirista.

(34 RODRIGUES, José Honório - História e Historiadores


p7
do Brasil

138-139.
- São Paulo, Ed. Fulgor Ltda., s/d.,
136.

Meio século de bandeirismo - 19 39 ;

Capítulos da História Psicológica de São Paulo


-1945.

Afonso de Escragnolle Taunay nasceu em 1876 em


Desterro (Florianópolis) e era filho de Alfredo d 'Escragnolle 1

Taunay, (Visconde de Taunay) autor de Inocência e Retirada de


Laguna e que , na época do nascimento, era Presidente da Provín
cia de Santa Catarina. Com menos de um ano transferiu-se para o

Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio D. Pedro II e se diplo¬


mou engenheiro pela Escola Politécnica.

Depois de formado veio para São Paulo. Aqui '


foi professor da Escola Politécnica e do Ginásio de são Bento.

Trabalhou na Politécnica de 1889 a 1917, ocasião em que foi


convidado por Altino Arantes, então Presidente do Estado, para
dirigir "em comissão" o Museu Paulista, onde ficaria até sua
morte. <33’

Seu primeiro livro na área de História foi um

romance histórico: Leonor d 'Avila, a Crónica do tempo dos Feli¬


pes , de 1910, que lhe abriu, no ano seguinte, as portas do Ins¬

tituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Este último, junta¬

mente com o Museu Paulista, se tornaria o principal centro de

atividades de Taunay em São Paulo. Nos Anais do Museu Paulista

e na Revista do Instituto Histórico ele publicaria grande par-

(33) Logo após a fundação da Universidade em 19 34, Taunay foi professor da


radei ra de História da Civilização Brasileira,durante dois anos.
137.

José de Alcântara Machado nasceu em Piracicaba


em 1875 e faleceu em 1941. Mais
velho que os outros dois his
toriadores precedentes foi autor de uma obra, em certo
sentido inovadora. Advogado político, membro
predominante do
PRP e depois do Partido Constitucionalista , sua
carreira pro
fissional e intelectual teve como núcleo suas atividades de
professor de Medicina Legal, na Faculdade de Direito. Seu
úni
co livro de História, Vida e Morte do Bandeirante,
publicado
em 1929, ê considerado uma obra clássica sobre a História
de
São Paulo, no seiscentismo.

A proposta de trabalho de Alcântara Machado


di£
tanciou-se da proposta dos outros dois autores, na medida em
que procurou no Vida e Morte do Bandeirante, fazer a História
do cotidiano paulista no século XVII, o século áureo das ban
deiras. Apesar dessa diferença, já que tanto Taunay quanto

Ellis Jr. fizeram uma História sequencial da penetração dos


bandeirantes paulistas pelo Brasil afora, os três têm alguns
pontos em comum.

O primeiro ponto a ser destacado ê o conceito '


de História e a valorização da prova documental que se encon
tra implícito na obra dos três autores.

Outro ponto que se salienta é o orgulho de cas

ta, que Taunay apontava já em Pedro Taques e Frei Gaspar, e

que ressurgiu com muita força nos historiadores das bandeiras,


138.

sejam naqueles que relançaram o tema,


no século XX, seja nos
que seguiram suas pegadas.

Em relação ao bandeirante também pode-se notar


um consenso. Todos os três reconheceram no bandeirante o mamelu
co audaz, que expandiu as fronteiras do Brasil, descobriu o
ouro, dono de uma cultura própria. Cada um desses autores en
fatizaram mais um aspecto do que outros, que permaneceram porém,
subjacentes.

Como esses assuntos comuns foram abordados será


o objeto das próximas páginas.

0 sentimento de "patriotismo paulista", associa

do a um orgulho de linhagem fica bastante evidente nos livros


de Taunay, Ellis Jr. e Alcântara Machado. Isto não os impediu

de pretender faz^r uma Historia científica, de acordo com as


diversas correntes de interpretação, que vinham se estruturan¬
do desde o século XIX, no Brasil. Quando escreveram suas o
bras principais não fazia ainda um século que se iniciara uma
produção histórica, que se podia considerar brasileira. Ela

começara a existir contemporaneamente ao processo de Indepen


dência, nascendo comprometida não só com a Independência, mas

também com os homens que a fizeram, na medida em que estes

^■gpresentavam a camada culta do pais. Disto resultaram co

res nativistas muito fortes na História que se escreveu no Bra

_
~ JANOTTI, Maria de Lourdes Mónaco —A falsa dialética:
justiniáno José da Rocha. Revista Brasileira de His
tória, São Paulo, 2 (3): 3-17, mar. 1982.
1 39.

sil no século XIX, expressa grandemente na


Revista do Institu¬
to Histórico e Geográfico Brasileiro.
Essa tendência nativista
traduziu-se numa valorização dos homens ilustres "pelo saber
ou por seus atos" e no esboço de um quadro imaginário
da geo
grafia brasileira.

Ao lado desse nativismo exacerbado, por mais


paradoxal que isso possa parecer, se firmava também uma preo
cupação marcante com a "verdade histórica" e com a pesquisa do
cumental, influência das escolas históricas europêias, que con
tinuava a existir, vigorosamente no início do século XX. Mesmo
a renovaçao no campo da História, que significou a obra de
Capistrano de Abreu, não mudou a preocupação com o rigor doeu
mental com a História escrita por e para eruditos. Mudou sim,
com a proposta de interiorização da História Brasileira, corn
a nacionalização, no sentido mais amplo do termo, que a Histõ
ria possa ter n » (36)
alcançado.

Taunay, Ellis Jr. e Alcântara Machado foram


três, membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
representantes do pensamento dominante naquela instituição '

quanto a verdade histórica, sem deixar de lado o nativismo pau


lista, que se revelava em seus trabalhos. Ellis Jr. era uma
clareza transparente: "... tudo que faço, tudo que penso, tudo
que imagino é por São Paulo".

RODRIGUES, José Honório


Brasil - op. cit., p.19
-
História e Historiadores do

ELLIS, Jr. Alfredo


2S ed. São Paulo: Ed.
-
Os primeiros Troncos PaullBlm; .
Nacional, Brasília: INL, 19 76.
p.4. (Brasiliana, 59)
I4D,

O mesmo orgulho paulista, A. Machado deixa an


trever na dedicatória de seu livro: " Paia minha mufhei, mm
^ithuò, minha no-la, irnuí neto-l» - pauiiAiaA como eu e rneui an
tcpaóÁadoò , detde Antônio de Otivelia , chegado a Sao Vicente ,
em £53 2" Não é sem glorificar São Paulo, que Taunay I em

bra a coragem dos "conquistadores do Brasil Central".

Em toda a obra, porém, não somente em alguns

trechos, fica evidente essa valorização do homem paulista, aos

quais os autores se sentiam biológica e sentimentalmente enla

çados - Ellis Jr. descendia pelo lado materno, dos Bueno. Al

cantara Machado via seu primeiro ancestral chegar ao Brasil,

nas Caravelas de Martim Afonso e Taunay, orgulhava-se dos


seus ascendentes bandeirantes.

Os três historiadores, pertencentes a elite p,

lítica paulista, ao afirmarem sua descendência, estabeleciam '

um vinculo ininterrupto entre os heróis bandeiristas e aquela

elite que se mantinha no poder. Ao lembrar sua ascendência, pa

rece que lembravam também, até mesmo como o fez Pedro T.upim,

para seus contemporâneos, o seu direito de pertencer ã camada

dominante, pela sua ilustre parentela. Mais ainda, se eles <•

ram parcela dos "donos do poder", os outros elementos que com

punham o patriciado também ocupavam como que por direito de he

rança aqueles cargos, já que uma das caracter 1 st 1 cas daquela '

elite era a sua homogeneidade quanto a


origem. Basta lembiai ,

MACHADO, Alcântara
Martins, 1965.
-
Vida e Morte do B.rndfl i ,ml <■.

São Paulo,
por exemplo, que Ellis Jr. foi deputado,
filho do deputado u
senador; que Alcântara Machado foi proeminente político da Re
publica, e ora filho de um eminente homem público
do Império .
Taunay, o único deles que não era político, era
casado na famí
lia Souza Queiroz, de políticos bastante
atuantes, como Antô
nio Souza Queiroz, do PRP que tinha
sido Presidente da Provín
cia durante o Império, e era
concunhado de Washington Luís.

O orgulho por São Paulo encontrou, porém, caml


nhos diferentes nas obras desses autores.

Alfredo Ellis Jr. optou por uma "interpretação


do bandeirante ã luz de conceitos antropológicos e (
sociais"
ou, como ele mesmo esclareceu ,pelo estudo da Sociogenla do
passado paulista .

Com isso ele queria dizer quo pretendia proc.


der "à exegese dos primórdios paulistas..." entrando como
çaA cauAaiA oa enòiname ntoA dai diAclplinaA que At aAAentam '
com Aolidez, naA ^ronduAaA árvoreA da Biologia v da Sociologia
... Vou poiA aplica*. aoA eventoA do nuAAo paAAado, oa quaiA
Aão bem conhecidoA, oa preceitoA da Antropologia, da Socioto
gia, da Antropogeogra^ia, da AntropoAAoci of agia , da Antropog c

(39)
(40)
-
-
CANABRAVA, Alice
- op. cit., p. 501
ELLIS, Jr. A. op. cit. p. 1
(41)
- ELLIS, Jr. A. op. cit. p. 11
142.

Aplicando as ciências citadas, dentro dos pre


ceitos do Evolucionismo, do qual extraiu alguns conceitos (co
mo o de raça, seleção, superioridade racial, progresso), e do
determinismo geográfico, Ellis Jr. pretendeu provar que o cru
zamento entre o branco ibérico e o ameríndio, no Planalto de
São Paulo, teria gerado uma sub-raça superior, que deu origem'
"às bases causadoras da formidável superioridade do paulis-
(42)
ta" . 0 principal fator que demonstrava cientificamente essa su
perioridade era a fecundidade das famílias paulistas que se
igualava ã dos "povos superiores", ou seja dos países europeus.

Para montar essa demonstração, utilizou, basicamente, a obra


nobiliárquica de Pedro Taques e do Genealogista Silva Leme,

enquanto fontes de onde pode retirar os dados sobre a fertili


dade das famílias paulistas, do quinhentismo ao século XIX.

Sobre esses dados ,aplicou as teorias raciscas exorai

das de Lapouge, principalmente. (Ao realizar pesquisas em cerni


térios de pessoas de camadas diferentes da sociedade, Lapouge

julgou ter encontrado diferenças, entre as medidas do crânio


do homem das camadas privilegiadas e as do homem das camadas '

pobres. A partir dessas diferenças, distinguiu entre o Homo

europeu e o Homo alpino ~ o primeiro se destinava a ser o do

minador e o segundo, seria destinado a obedecer e trabalhar).'


(43)

(42) - ELLIS, Jr. A. op. cit. p. 12

(43) - LEITE, Dante Moreira - O Caráter Nacional Brasilei


ro. História de uma Ideologia. 2ê ed . Livraria Pionei
raEditora, São Paulo, 1969, p. 26.
143.

Ao transpor, para a análise de São Paulo, a teo


ria racista, que originalmente pretendia justificar a domina
ção colonialista europeia, Ellis Jr. deixou claro em sua obra
que a raça planaltina, superior à que se formara no restante
do Brasil, onde o elemento negro tivera maior influência, (pra
ticamente inexistente no Planalto, para ele) , tinha alcançado
um desenvolvimento "que noi pctmZtxu atingir uma ^ase que noi

cofoca em plano superior a muitos paises estrangeiros, de vida


autónoma..." ^)
1

Mas, Ellis Jr. virou ao avesso o racismo euro


peu. Gobineau, Lapouge eram defensores da pureza racial - e£
creveram verdadeiros libelos contra a mestiçagem, "causa do
(45)
heteromorfismo e desarmonia individual" , da desagregação
moral, e vida desequilibrada. Cruzamentos com essas consequên
cias teriam acontecido no Nordeste do país, onde entrou como '
componente o elemento negro. Tratava-se de um cruzamento "homo
genésico desgenêsico" isto ê, "fecundo nos primeiros cruzamen
tos entre 0 branco c 0 negro, produzindo 0 mulato que, por
iua vez, cruzado com 0 branco, c fecundo ate uma determinada '
geração, quando se esteriliza, coisa que está acontecendo com
a gradual eliminação seletiva do mulato, que, vai desaparecen
do da nossa população" . O mesmo, porém, não teria aconte

(44) - ELLIS, Jr. A. op. cit. p. 235


(45)
(46)
-- ELLIS, Jr. A. op. cit. p. 45.
ELLIS, Jr. Alfredo -
op. cit., p. 47.
]4 4 .

eido do cruzamento entre o tipo ibero e o americano, que ne


gando as afirmações dos racistas europeus que generalizavam as
mas consequências para todo o tipo de mestiçagem, " cons eguZu
peA.peZ1zaA.-4 e com ama vitalidade ass om brosa e ama ^ecandidade
^0A.a de comam, não sÕ nos primeiros crazamentos entre o índio'
c o ibérico, como também nos recrazamentos de qaais qaer dos ti
poò ancestrais com o mamelaco... dc tal maneira a apresentar '
sempre am manifesto desmentido ãs palavras de Lapoage a propó¬
sito de in^ecandidade das raças mestiças..."

O racismo manifesto em Alfredo Ellis Jr. tem u


ma ligação muito íntima com certo tipo de manifestação nacio
nalista. Dante Moreira Leite, notou com muita propriedade que

"este historiador (Alfredo Ellis Jr.) apresenta ama expressão


bem nítida desse nacionalismo paalista qaase antagónico ao na
cionalismo brasileiro". A valorização cue Ellis Jr. preten

deu não foi a do Brasil, como um todo homogéneo - aliás, em


relação ao Brasil, tinha implicitamente a mesma opinião pessi

mista e sua postura racista anti-negra aguçava a tendência, co

mum na época, de acentuar as deficiências dos brasileiros. Em

relação a São Paulo, porém, sua posição ê profundamente otimis


ta, pois se a mestiçagem brasileira desqualificava o povo, a

paulista, ao contrário, só tinha por onde valorizá-lo.

Ao estabelecer uma raiz racial de superioridade

para os paulistas, Ellis Jr. buscou, como primeira prova dessa

(47) - ELLIS, Jr. Alfredo - op. cit., p. 49.


(48) - LEITE, Dante Moreira - op. cit., p. 234.
145.

superioridade o bandeirante, que haveria de ser, para ele,


o
primeiro elo de uma cadeia, "os primórdios dessa gente
que é
paulista", que haveria de se estender até o século XX, numa a
ção contínua de bravura e pioneirismo, "dessa estirpe paulista
que evidenciou com ZconZna bravura, que os velhos troncos enga
Chados nestas 4 eZv os as ramagens nov ecentlstas , não decaíram" .
(49)
O que ele buscava era uma ligação sem ruptura entre o
bandeirante, já um mestiço que se defrontou com uma natureza
nem sempre hospitaleira, e os paulistas que abriram as frentes
do café, e foram, cada vez mais, se distanciando da metrópole.
Ellis Jr. buscou a identificação entre um e outro
-
há um
jogo de trocas entre o seu presente e o passado, que se mes
ciaram numa entidade atemporal, que pairava e atuava sobre di
ferentes realidades concretas.

0 trecho que se segue demonstra a linha conti


nua que Ellis Jr. montou:
"0 qulnhentlsmo vetusto.^., viu nas plagas vl
centlnas o capitulo fantástico do povoamento"
" Vepols velo esse^bandelrlsmo monumental com
a penetração Indomável peta virgem America".
"Vepols, no setecentos, foi a fatídica guerra
dos emboabas, com o^seu séquito de traições c
de sofreres Inenarráveis, e a mineração nas dés_
tantes Geraes, ou nos sertões dos Guayases, ou
ainda, no longínquo Cuiabá" .
"Nos oitocentos, foi a Implantação da grande
lavoura cafeelra, esse repositório de esforço a
grlcota, que no mundo não encontra paralelo."

- -
(49) ELLIS, Jr. A. O Bandeirismo Paulista e o Recuo do
Meridiano Pesquisas nos documentos quinhentistas e
setecentistas publicados pelos Governos Estadual e Mu
nicipal. 2a. ed. São Paulo, Companhia Editora Naciõ
nal, 1934. p. 13.
146.

"E^a p/iecZ^o que hoa nov eeentoò , o pautZóta deA


óe moòtsia deóóaó uZA-Zudeá” .(50)

Nessa postura, paulista e bandeirante se con


fundiram - tornaram-se um só. Foi com esse espirito que E
llis Jr. estudou as bandeiras, e estudou as populações paulis
tas, no afã sempre de demonstrar suas virtudes - aqui, ele
corresponderia ao movimento romântico. E onde se nota uma con
tradição ao seu pensamento, conforme observou Dante Moreira '
Leite: o movimento romântico tendia para uma análise histórica
nacional "maZi Zendã/iZa que documenZuZ. Oau, A£^edo EZZÍ.A

e-ta um íiZiZo^ZadoA. - e hZiZo-tZadot. honesto e con^,cd.encd.oz>o

de ^oA.ma. que ^equentemente ma. ddea.Z^.zação choca-óe com


a deóc^i-cção objetava do paóóado" . ^1) Nesta contradição apon

tada por Moreira Leite, pode-se perceber a dicotomia entre o


aspecto cognitivo e o aspecto político que o conhecimento his
tórico assume. De um lado, havia o historiador, o pesquisador
que valorizava a pesquisa documental, que dentro dos concei
tos de História predominantes, optou por fazer uma História

"objetiva" , "verdadeira" , "fundada sobre fatos concretos passí


veis de prova". De outro , o político, o elemento da camada
dominante, para quem a História de São Paulo era o testemu¬
nho do valor dos seus habitantes, entre os quais se incluíam
seus próprios antepassados. Assim a História que Alfredo Ellis

(50) - ELLIS, Jr. A. - O Bandeirismo Paulista, op. cit.,


p. 34.

(51) - LEITE, Dante Moreira, op. cit., p. 235.


construiu é a História dos Paulistas e de um Paulista. Ele se
percebia como um dos agentes daquela História pelo grau de pa
rentesco que pretendia manter com os primeiros povoadores de
São Paulo.

Os bandeirantes que Alfredo Ellis Jr. estudou


eram semelhantes aos mamelucos descritos por Frei Gaspar da
Madre de Deus. Embora Pedro Taques tenha contribuído com infor
mações quantitativas sobre a prole dos paulistas, foi em Frei
Gaspar que ele encontrou a linha norteadora da análise quanto
ã formação étnica dos habitantes de São Paulo. Em primeiro lu
gar, porque Ellis não aceitou a nobreza que Pedro Taques encon
trou nas raízes das primeiras famílias planaltinas, pois o co
lonizador europeu que aportara em São Vicente e transpusera a
Serra do Mar já passara pela selação social e natural, que ne
dizer de Ellis, excluíra a nobreza "degenerada e neuropãtica".
Ele aceitou informações, que considerou objetivas em Taques,re
jeitou porém, com o argumento de que o ” cotonêzadcr ... nãc pc
d-ia sen. da nobreza ^tdatga de. Portugal, que sob a capa de ura
ostentação faustosa não passava de uma vaga de neunopatas ...."
f a nobilitação dos povoadores de São Paulo, que o escri

tor colonial promoveu em sua Nobiliarquia. Também porque em


Taques havia a mais profunda rejeição ã mestiçagem ( conforme

foi visto) e às nações infectas, entre as quais se incluía pa

ra o linhagista, os índios e os mestiços.

(52) - ELLIS Jr. Alfredo


op. cit. p. 70.
Os Primeiros Troncos Paulistas,
é

£(í
148.

£& cação
Embora, Frei Gaspar seja menos citado que
dro Taques, foi nele que Ellis Jr. encontrou maior

- Frei Gaspar
identifi
não rejeitou a mestiçagem, ao contrário,
procurou elevar os mamelucos, que ele percebia (com mais sensi
bilidade que Taques) constituírem um grupo grande, básico mes
Pe

mo, da população do Planalto. A atitude hostil de Frei Gaspar


em relação ao que os jesuítas deixaram escrito sobre os bande^
rantes foi repetida por Ellis Jr., que procurou encontrar um

embasamento que julgava científico para empreender a tarefa de


dar continuidade às ideias de Frei Gaspar sobre seus ascenden
tes.

No mais, o trabalho histórico de Alfredo Ellis


corroborou a imagem do bandeirista, que seus herdeiros mais '

próximos tinham traçado: mestiços (ou não) os bandeirantes per


tenciam ãs melhores famílias da terra, como os que formaram a
bandeira de Francisco Bueno, que foi ao Rio Taquary, cujos "or
ganizadores foram os membros das famílias mais importantes em
São Paulo. Os Bueno, os Cunhas Gagos e os Preto..." (coin

cidentemente , dessas famílais importantes duas são de ances


trais do historiador).

0 aspecto militar do bandeirante, tão caro a

Pedro Taques e a Frei Gaspar, também não deixou de ser desta

cado pelo escritor do século XX: Cabo de Tropa, Capitão "Con

dottieri" , e Mestre de Campo são adjetivos que não foram esque

(53) - ELLIS, Jr. Alfredo


.
op. cit , p. 173.
- Os Primeiros Troncos Paulistas ,
1 49.

eidos de serem adjudicados aos bandeirantes, como também não


deixam de ser lembrados os batalhões que se organizaram para '
lutar contra os holandeses no Nordeste. Alfredo Ellis via na
bandeira, empreendimento de iniciativa particular, uma organi

zação militar. 0 apresamento de índios, a seu ver, era secun


darizado pelo "entusiasmo bélico... íntimo contra os jesuítas
(54)
e castelhanos". Não foram somente os chefes de bandeiras '
que tiveram seus gestos valorizados militarmente. Também aos
componentes das bandeiras, não sõ aos chefes deu Alfredo Ellis,
uma ligação militar. Ao relatar a organização de bandeiras

para combater os holandeses, no Nordeste, ele se referiu aos


componentes das bandeiras como guerreiros, (55) valorizando, '
mais uma vez, aliás da mesma maneira que Frei Gaspar ao tecer
elogios ã atitude marcial dos mamelucos.

Outro ponto que chama a atençao na caracteriza


ção dos bandeirantes na obra de Alfredo Ellis Jr. é a bravura
e o pioneirismo nas expedições que empreenderam livremente e
por conta própria, como aquele autor se empenhou em demons
trar, afirmando que "Pontugat, u ^ofta deò psioteg tdo na pasitt
tha da fané-Sctca Mentdtonat, e óe a natureza o dcá am pasço u ,

htd^ognafita do acu qutnhão , ^ot the. gfiandementc puodíga na a


v entuttoòa tcmenafita e audacto z>a pòtcotogta, com que doasta oò

hendetstOÁ doó conqatótadosteò hesLotcoA do "ma*. tenebsiOA 0" ... "

(54) ELLIS, Jr. Alfredo O Bandeirismo Paulista. op.


cit., p. 177.

(55) - ELLIS, Jr. Alfredo


cit., p. 30-31.
- O Bandeirismo Paulista. op.

»
I
1 5 D.

pois esses poAtugueses en^tm AecuaA o meAtdtano divt


ioAto, ate aos con^tm, que hoje oAgutho sa , tngaata e ignoAan
temente contempta o bAasttetAo no mapa de sua pãtAta tmensa" .
(56)

A sequência ininterrupta da glória dos bande_i


rantes aparece mais uma vez , ligando o passado paulista ao pre
sente nacional, objetivo principal da obra e da vida de Ellis
Jr.. A figura do paulista do século XIX e do XX, o paulista '
que abriu as frentes do café, está semore presente nos traba
lhos quer sobre bandeiras, quer sobre a formação étnica do "pe
vo paulista". A história construída pelos paulistas tornou- se
avalista da hegemonia que São Paulo pretendia exercer sobre os
outros Estados, e que Ellis deixou tão evidente. Depois de oa-
racterizar superioridade do homem do bandeirismo dos séculos '
XVII e XVIII, ele traçou os contornos do fazendeiro de café
do século XIX, usando dos mesmos traços que usou na figura do
bandeirante - inclusive aqueles que teriam sido determinados
pela caminhada da bandeira - como a " e a d<.4tcutdade de
natAtção" r que "tZAtam dosado o caAateA do bandet tante de ..-a
ioAte tempeAa de sobAtedade , de eitotetimo e do tenaz idade .
que lhes peAmttta ieAem os autoAes dxs páginas oíc *.
da htitÕAta pauttsta, concAettzadas nas bandeiras c na eia ca
ção da tavouAa do eafie" ,

(56) - ELLIS, Jr. Alfredo


op. cit. p. 219
- Os primeiros troncos paulistas

(57) - ELLIS, Jr. Alfredo - Os primeiros troncos paulistas


op. cit. p. 177, 185, 187.
J 151 .

As bandeiras e o homem bandeirante trilharam,

um caminho, indo do espirito comunitário das primeiras bandei


ras do seiscentismo, "verdadeiras associações de homens para
a luta sertaneja", até se transformarem em "empresas conerci -
ais", onde não havia necessidade desse liame, e no século XIX,
vencer o particularismo; e o paatiita te -iderLÍZ^-icou.
de^iniiiv ament e no índívíduatíimo , atingindo o pináculo de
4
evolução" ^8) a iniciativa particular sempre foi, porém,
*
é
iua

na visão de Ellis Jr., um apanágio dos paulistas, mesmo quan

* do predominava o espírito comunitário, porque mesmo tendo um


*
** ideal comum, estimulado ate pela Corôa, foi a iniciativa
ticular gue levou adiante as expedições, grupos de homens
par
ne

*• se agrupavam em torno de um líder, muitas vezes chamado de

"Condittieri" , pelo historiador. Este "dom" de chefia, de li

derança, que Alfredo Ellis, Jr. via nos paulistas do bandei

rismo, era um traço básico da "alma paulista", um dos traços '

que permaneceram e se firmaram através da história, e que le

varam "o pauliita. tuilhan. ai iendai dei guandu :

toò coftoadoi pelo iuceno em iodai ai iam de na nz<n zz


hiitonia e em todoi oi iuitoi de ieu admixavet p^cgxenc . "

Apesar de ter produzido a obra rais significant,


va sobre o bandeirismo no seu aspecto racial, sobretudo na ar
gumentação racista da superioridade do paulista, Alfredo Ellis

ELLIS, Jr. Alfredo


op. cit., p. 163.
-
Os primeiros troncos paulistas,

- VIANNA , F. J. de Oliveira -
Populações -Yeriõionais cr
Brasil: - História, Organizaçao e Psicologia, 1? v.Pau
listas, Fluminenses, Mineiros. 5â ed. Rio de Janeiro :
Livraria José Olympic Ed., 1952.
152.

Jr. não esteve sozinho nessa tarefa. Outros autores também de


ram bastante destaque ã formaçao étnica e a suposta ligação en
tre ela e o progresso de São Paulo. Dois deles merecem desta
que: Oliveira Viana e Paulo Prado.

Oliveira Viana, autor inúmeras vezes citado por


Alfredo Ellis Jr., deixou várias obras onde, na linha de anã
lise predominante no início do século XX do Brasil, deu gran
de importância ao aspecto étnico na formação do povo brasilei_
ro. Numa visão pessimista Oliveria Viana considerava um fator
altamente negativo a elevada taxa de mestiçagem existente na
população brasileira. Utilizando como fundamento teórico os
mesmos autores que Ellis Jr., como Lapouge , Gobineau, Le Bon ,
em Populações Meridionais do Brasil ^^seu primeiro livro, Oli
veira Viana estabeleceu uma explicação da sociedade brasilei
ra, fundada sobre a superioridade racial do homem branco aria
no, e as formas que ele teria encontrado para organizar a colo

nização do Brasil. Ao tratar de São Paulo, deu ênfase especial


ao movimento bandeirista, e ao "fausto, riqueza, sociabilidade"
dos paulistas da época do bandeirismo, os quais alegou em ou
tra obra , seriam da raça ariana, usando como argumentação
os restos encontrados no túmulo de Femão Dias, aberto em 1910,
que seriam de um homem muito alto e de cabeleira ruiva.

(60) - VIANNA, F. J. de Oliveira


do Brasil, op. cit., passim
- Populações Meridionais'
(61) - VIANNA, F. J. de Oliveira - Evolução do Povo Brasi
leiro. 2- ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional ,
1933?
153.

Oliveira Viana não pertencia a elite paulista ,


era fluminense, mulato, que ao analisar a
sociedade colonial
paulista pretendeu colocã-la, dada a sua ausência do elemento'
negro, em oposição ã população de mestiços que formaria no ge
ral, de população do Brasil. Dessa população mestiça, somente
os mestiços superiores seriam selecionados e se tornariam aris
tocratas; os outros seriam dominados pelos arianos e pelos mes
tiços arianizados para adquirirem a mentalidade da raça bran
ca.(62)
Isto, porem, se conseguiria com um governo forte, per
sonalizado nos membros daquela aristocracia ariana. É o ponto
de confluência maior entre Ellis Jr. e Oliveira Vianna. Se
para o primeiro, a hegemonia política deveria caber aos pauli£
tas, dados os seus caracteres próprios, o projeto político de
Oliveira Vianna não negava a proposta contida na obra de Alfre
do Ellis Jr.; ao contrário a reforçava na medida em que consi
derava que, dada a pureza racial predominante nas regiões me
ridionais, era a esses aristocratas que estava destinado o
controle daquele governo fort que propunha.

Mais sutil, poder-se-ia dizer mesmo, mais ele


gante é a forma pela qual Paulo Prado, em Paulística ,expressou

sua crença na formação do paulista, como elemento possibilita-


dor do progresso do Estado. Aliás, ê importante que mais uma

vez se enfatize que, dos autores que trataram do bandeirismo ,

Ellis Jr. fo o que mais ênfase deu, e também o que mais clara

mente assumiu a afirmação de um componente de superioridade ra


ciai no desenvolvimento de São Paulo, na era cafeeira.

(62) - VIANNA, F. J. de Oliveira


Brasil op., cit. p. 165.
- Populações Meridionais do
154.

Paulo da Silva Prado nasceu numa família de 1

grandes cafeicultores e homens públicos. Era filho do Conse


lheiro Antônio Prado e sobrinho de Martinho Prado Jr., dois
grandes incentivadores e promotores da imigração em São Paulo.
44' Sobrinho de Eduardo Prado, sua família tinha também ligações

»•*4
muito fortes nos círculos intelectuais. Exerceu as atividades
de empresário ligado ã exportação de café, sem deixar de exer
cer o papel de intelectual de elite. São bastante conhecidas '
a sua participação, como um dos organizadores, na Semana

•.«»»•
de
Arte Moderna de 1922 e suas relações com escritores europeus,
como Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins. Foi

diretor da Revista do Brasil e um dos fundadores da Revista

Nova, que dirigiu com Mário de Andrade e Antônio Alcântara Ma


chado. Publicou documentos sobre as Denunciações do Santo Ofí
cio, que existiam na Torre do Tombo e dois livros de sua pró
pria autoria: Paulística: História de São Paulo (1925) e Retra
to do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira (1928). ’'

No primeiro deles uma série de artigos (treze

ao todo) publicados anteriormente em O Estado de São Paulo,Pau


lo Prado enfatizou a importância dos fatores antropológicos e

geográficos e da importância da caracterização étnica e psico

lógica do bandeirante, em função do meio geográfico e da mistu


ra racial. No entender de Paulo Prado, como no de Ellis Jr.

estes foram os fatores determinantes da expsnaão bandeirantis

ta secundarizando os motivos económicos que poderiam tê-la im

pulsionado, conforme pode-se observar neste trecho, onde se re

PRADO, Paulo, Província e Nação- Paulística. Retrato


(63) - do Brasil- Rio de Janeiro: Livraria José Olympic Edi¬
tora; São Paulo. Conselho Estadual de Cultura, 1972 '
(Colí Documentos Brasileiros, v. 152)
]55 .

feria a Fernão Dias Paes:


" Perttencta a anttga e podertosa ^amttta, cujos
ascendentes jã em t550 rtestdtam na C otÔnta .
sart das numertosas justt£tcaçõ es de sangue £Zm
po, e da manta ntbtttãrtqutca da época, um ton
g-çnquo crtuzamento com tndtgena, dava-the 4 em
dúvtda esse cunha mametuco que e a nota aatsto
crtattea do Pauttsta purto. Uma famosa ex.pedtçãoT
escrtavtzadofta de tndtos aos serttões da SertKa
do Apucartana, parta as bandas do Ttbagt, em
t66t, trtouzerta-the parta as suas tertrtas de Partna
2ba mats de ctnco mtt es crtav o & , que empaegou nã
cutturta de mttho , f^etjao e trttgo, Pot no de4^u
te dessa abastança, cumutado de honrtas, já no
^tm de uma vtda tonga e nao maté em tdade de pe
netaaa serttões - ...
- que a sottcttação rtégta^
veto prtoport-the a emprtesa que o devta cetebrtt -
zart" . (64)

Há dois aspectos a se destacar do trecho trans


crito:

- a nota aristocrática do Paulista puro.


- a ambição, o amor pela aventura que traria
mais honrarias reais.

Na realidade, os dois aspectos se mesclam. Pau


lo Prado, que escreveu Paulistica um ano antes de Alfredo El-
lis Jr. ter publicado Raça de Gigantes, parte do mesmo
prin
cípio de existência de superioridade racial e, já que ela exis
te, não resta dúvida que o cruzamento entre o português e o
índio criaria uma raça pura, a "Paulista", cuja nota aristocrã
tica era dada justamente pela miscigenação. Há aqui, porém,uma
certa diferença no tratamento da questão, entre Alfredo Ellis
Jr. e Paulo Prado. 0 primeiro procurou demonstrar "cientifici
dade", levantando dados e informações, para analisar ã luz
das teorias racistas que haviam disseminado pela Europa, no fi_
nal do século XIX. Paulo Prado não seguiu pelo mesmo caminho

(64) PRADO, Paulo, op. cit., - p. 115.


156.

nao procurou demonstrar com pesquisa "objetiva" , a superiorida


de racial do "Paulista" - seu ponto de partida é uma afirmação
ja acabada e colocada como se fosse de incontestável veracida
de: "... esse cunho mameluco que é a nota aristocrática..." 1

(grifo nosso).

Dessa nota aristocrática decorria , para Paulo


Prado, o amor a aventura, ã glória de conquista que Fernão Di

*•
as demonstrou, quando já velho aceitou a incumbência real de
procurar as preciosas pedras verdes. Essa atitude também é uma
nota atistocrática; é apanágio da aristocracia colocar acima '
do dinheiro, a conquista, a aventura, valores que se haviam
firmado como aristocráticos, desde a Idade Média - e que Pau
lo Prado fez questão de ressaltar na atitude de Fernão Dias.

As teorias racistas permaneceram implícitas em


Paulística. Ellis Jr. procurou demonstrar a superioridade ra
ciai dos paulistas pelo índice de fertilidade e longevidade
dos habitantes do Planalto. Mais uma afirmação que aparece co
mo verdade que fundamenta a análise de Paulo Prado: o Paulista
ê longevo. Referindo-se a Borba Gato, afirmou Paulo Prado: "Na
clássica longevidade do Paulista antigo, morreu aos noventa

w anos na sua fazenda de Paraopeba".

0 perfil do bandeirante, do "Paulista", se

contra difuso por todo o livro, porém, no ensaio intitulado


en


| (65) - PRADO, Paulo, op. cit., p. 114.
I
I
I
J57.

Bandeiras o autor assume, de maneira quase


ostensiva, a defesa
do sertanista, ao tentar responder a questão
colocada por seu
amigo Capistrano de Abreu que,
referindo-se ãs expedições de
caça ao índio perguntava: "compen4a4.ã tcucó hoMtom a ccnòtde
A.a.ção de que poA. ^avoA. doó bandetA.ante.-i peA.tencem agcAa ao Bta
a.4 teA.Aaó devaétadaé?" .^6)

Se, no texto, não aparece uma resposta direta


a questão proposta por Capistrano, há uma definição extremaren
te positiva do vandeirante, calcada nos seguintes aspectos:

- a bandeira era uma necessidade inelutável ,for

necendo braços para a cultura das sesmarias e


sítios e arcos e flexas para a defesa das la
vouras e povoados contra c indígena insodroso
que o rodeava.

- "com ardimento e afã", que serore foram atro

butos da raça", os bandos paulistas se arma¬


ram ãs expedições de resgate.

- as bandeiras de caça ao índio tinham u~ ouno.o


francamente guerreiro.

- para essa luta, as circunstâncias do meio, da


raça e da educação tinham preparado o "herói
providencial", o bandeirante.
- o bandeirante era quase inocente e livre de
culpa se a sua ação fosse comparada ã dos con
J
(67)
quistadores espanhóis.

4.
(66) - PRADO, Paulo, op. cit., p.

PRADO, Paulo, op. cit., p. 4-69.


(67) -
m.

O pensamento de Frei Gaspar da Madre de Deus


se faz notar também em Paulo Prado, como se pode observar pelo
esboço do bandeirante, acima descrito. Não há nada de novo, a
nao ser o estilo. 0 bandeirante, como síntese, que se descobre
nas páginas de Paulo Prado, ê o mameluco de Frei Gaspar e o
herói militar de Pedro Taques, mais um passo na trajetória de
cristalização da simbologia bandeirante iniciada no século
XVIII.

De forma menos explícita que Ellis Jr. , Paulo


Prado procurou as marcas do "Paulista" "caçador de índios", mi
neiro e conquistador" que se"converteu no moderno" grileiro
(68)
e bugreiro..." ou no plantador de café, que "como se diz
na gíria de hoje foi também um bandeirante". A plantação
de café tinha, feito para Paulo Prado, repetir o "rush igual
ao que descobriu os veios auríferos e os diamantes das Minas
Gerais, de Goiás e de Cuiabá.

Repetia-se o mesmo fenômeno com as mesmas carac


terísticas; ânsia de enriquecimento, iniciativa corajosa, im
previdência" (70). Se o movimento de expansão da lavoura ca

feeira repetia as mesmas características do movimento bandei

rista não seria lícito inferir que os homens que o fizeram ti

nham também características que Paulo Prado viu no bandeiran

| te?
I
I
(68) - PRADO, Paulo, op. cit., p. 71
I
PRADO, Paulo, op. cit., p. 133
I
1
(69) -
PRADO, Paulo, op. cit., p. 134
(70) -
I
I
* 159.

*
O prefácio do livro permite uma resposta posi_
tiva ã questão acima, na medida em que Paulo Prado considerava
que o património histórico de um povo deveria
"inspirar as for
ças vivas e palpitantes de sua atividade atual, e nele se esta
belece o critério da utilidade, que transforma em Política
na acepção aristotélica da palavra os ensinamentos da filoso
fia da História". (71) No entanto, pauio prado, era um pessi
mista - via uma grandeza toda especial no paulista do bandei
rismo, grandezq que tinha desaparecido, para o século XIX en
contrar São Paulo num estado de indigência. A evolução histó
rica de São Paulo indicava, porém, que a de
..., 4e b-é^uA-ca em dvi.eç.õe.0 opo^-ta-ó - uma a.óc.e.nde. à ca£m-cnân
c.Za do pftogfLZòòo mate^-iaSL e econÔmZc.0 dot dia* pfi.e.*ente* , outaa
con* e.si.va na kofiizontaiidade em que. a abandonou a ti/iania
ooioniat.. Mas, nao deixou de chamar de regeneração o
que aconteceria em São Paulo, e de ver nela a "energia sempre'
(73)
rediviva nas lutas pela riqueza" , um dos traços fortes '
que usou para desenhar a imagem do bandeirante.

Há uma diferença fundamental entre Ellis Jr. e


Paulo Prado. Enquanto o primeiro sugeriu uma continuidade da

"raça paulista", mesmo nos períodos em que São Paulo não teve
grande progresso, para o segundo, o final do século XVIII e o

início do XIX significaram decadência, que estaria passando '

por uma regeneração com a expansao do cafe.

(71) - PRADO, Paulo "Prefácio da 2- edição, op. cit, p.3

(72) - PRADO, Paulo "Prefácio da 1- edição, op. cit, p. 16

/73)
— Idem, ibidem.
160.

Nos autores onde se predominou a preocupação e


o estudo de uma raça paulista",
como os dois citados no nará
grafo acima, fica nais evidente a
intenção de valorizar a eli
te paulista, formada por elementos de uma
"sub-raça sunerior" ,
mas embora os outros autores não entrem diretamente no assunto,
perpassam nas suas páginas as ideias que fariam do bandeirante,
do Paulista", um ser privilegiado. Assim, acontece no livro 1
de Alcântara Machado, Vida e Morte do Bandeirante. ‘ ‘

Esse livro foi o único trabalho histórico de


vulto de José de Alcântara Machado, que publicou várias ou
tras obras no campo do Direito. Utilizou como fontes os inven¬
tários e testamento dos moradores de São Paulo, de 1578 a
1700, período em que as bandeiras teriam tido seu apogeu. A
ênfase maior do livro incidiu sobre a vida cotidiana dos habi^
tantes de São Paulo. O grande destaque que já se deu ã Vida
e Morte do Bandeirante foi o de ter desmistifiçado alguns as
pectos do seiscentismo paulista, que haviam sido difundidos
por Pedro Taques, e, neste século, por Oliveira Viana.

Na Nobiliarguia , Pedro Taques se esforçava e.~.

dar condições de nobreza â gente paulistana - e uma dessas

condições era o estilo de vida requintado, com criados para


servir, casas bem construídas e mobiliadas, etc.. A idéia, que
refina
São Paulo colonial era uma cidade habitada por nobres
estudiosos, não pode
dos e cultos, que Pedro Taques passou aos

(74) - MACHADO, Alcântara - op. cit.


se manter à vista dos inventários e testamentos,
que mostravam
uma pobreza quase franciscana na vida dos
habitantes da Cidade.

O livro de Alcântara Machado é inovador quanto


ao seu objeto, explícito no conceito de História: "0
conhecZ
me.nto do que o homem tem sieattzado no combate dtutusino que de&
de aò cavestnai vem petejando pasta me&hostast-ò e e methostast o
meto em que vtve, tat o objettvo e^ienctat da ht&tostta" . *
Foi na busca desse objetivo que Alcântara Machado organizou o
livro, procurando no estudo da história " tnqutsctsi onde mosta
vam oò no^oó matosteó a manetsia post que n attmentavam e ueó

ttam , o de que ttstavam oá metoò de ôubitòtêncta, a concepção


que ttnham do deàttno humano" . (76)

Alcântara Machado desprezou o que a História ,


tradicionalmente vinha fazendo, estudando os "grandes homens"
governos, enfim, o que se convencionou chamar de "evolução po
lítica" , e no caso especial das bandeiras, desviou-se também '
da narrativa das atividades da própria organização bandeiris
ta, expansão territorial, rotas e caminhos, as descobertas, pa

ra se deter na visão do padrão social e económico dos paulis

tas do século XVII.

ê verdade que ele não descreveu as bandeiras ,

mas elas estão sempre presentes, como pano de fundo, para o

homem paulista que esse autor retirou dos documentos que con
sultou, como ele mesmo admitiu: "fatosie-h de ondcm gccgiã^ ica ,

(75)
_ MACHADO, Alcântara - op. cit., p. 23
(76) - Idem, ibidem.
analfabeto, de modos grosseiros que vivia ã beira da indigência,
mas que tinha um toque de austeridade e o heroismo, que as I II

tas no sertão lhe conferiram. Era um homem diferente dou ou


tros colonizadores, esse do ósculo XU7 e XVJ J , ii e
HUpiM. uma atmoó^z/ia óatu^ada de. òefttanlimo <79)

Sem anular o aspecto racial, nem a penetração '


pelo interior realizada pelas bandeiras, Alcântara Machado,
traçou uma outra dimensão do bandeirante, a sua dimensão so
ciai, que iria , justamente com a formação racial, que lhe de
ram, de forma mais explícita, os estudos de Alfredo Elllis Jr.,
compor a imagem do bandeirante, enquanto um indivíduo de carac
terísticas muito especiais, e que por isso teria realizado fel
tos muito especiais, também.

A terceira dimensão do bandeirante seria en f'i


tizada na obra de Afonso de E. Taunay e a de autor do maior
movimento expansionista do Brasil, sõ comparável a raros movi
mentos semelhantes em outras partes do mundo. Sua obra ma is
importante foi sem dúvida, a História Geral das Bandeiras i

listas; que começou a ser publicada em 1924, e só terminou ror

a nublicação do décimo-primeiro volume, em 1950. Além der.ri'


trabalho, que José Honório Rodrigues chamou de "monumcnta 1 " , p ,

(79) MACHADO, Alcântara op. cit., p. 233


bllcou muitos outros sobre a
Hl.tSrl. do a»o FmlJcl,
centralizada na figura bandeirista.

Odilon Nogueira de Matoa considera gue


foi a
grande obra de Taunay
sobre as bandeiras que chamou a
atenç4o
(80) RODRIGUES, José Honõrio, História e Hiatoriadoma do
cit., p.137. Hraall. 01,
’'
TAUNAY produziu uma extensa obra sobre história, mas foi
pi ln< i|.al
mente sobre a história de São Paulo que ele se del >i m •< >u, em
lhos como: tialm

Na Era das Bandeiras, Revista do Instituto


Histórico e Geogiáflõ.
.
Brasileiro, Rio de Janeiro: t 84'; 385-531 , fOlO.
A Glória das Monções, São Paulo: Casa Editora 0 Idvro, 1020
São Paulo, nos Primeiros Anos, Tours, E. Arrault et Cie, 1920
São Paulo no século XVI, Tours, E. Arrault et Cie, 1921

Coletânea de Mapas de Cartografia Paul 1 st a Ant ig< i , Sao Paulo: H


lhoramentos , 1922 .

Pedro Taques e seu Tempo, Anais do Museus Paulista, Sao Paulo t


I. I: 1-289, 1922.

Um Grande Bandeirante: Bartolcmeu Paes de Abreu, Anais do Museu


Paulista, São Paulo, t.I: 417-530 , 1922.

Escritores Colcniais Anais do Museu Paulista (Separata) Sao Pau-


lo, t.II, 1925.

Indi os '. Ouro I Pedras! São Paulo: Melhoramentos, 1926


História Seiscentista da Vila de São Paulo. São Paulo, Tip. ideal ,
1926-1929, 4v.
A Grande Vida de Femão Dias Paes, 2a. ed. Rio de Janeiro:
Livraria José Olympic Editora,1985 (Documentos Brasis. 83)
História da Vila de São Paulo no Século XVIII. São Paulo: Impiousa
Oficial do Estado e Divisão do Arquivo Muni clpal, 1931-1951,7 v.
e muitas outras. Para um levantamento completo das obras de Tau
nay, veja-se: MATOS, Odilon Nogueira de, Afonso de Taunay Hi to
riador de São Paulo e do Brasil, perfil bTograFIro e ensaio In
bliogrâfico. Sao Paulo: Universidade de São Paulo. Fundo de Pesou 1
sas do Museu Paulista, 1977 (001. Museu Paulista, Ser. Hnsaio.., v. I ) .
10s .

para esse episódio da história, "pouco c mat estudado ate ch

• Da mesma opinião partilha José Honõrio Rodrigues ,


para quem "a HtòtÕA.ta GeA.at daó Eandetxaò ftepKCò enta a matoA.
co ntfitbut^ão pactuai, depots de Vatunhag en" . E os dois
autores lembram a importância que teve a opinião de Capis¬
trano de Abreu para o aparecimento da obra de Taunay.

Capistrano de Abreu, reconhecidamente um inova


dor da História no Brasil, manteve assídua correspondência com
Taunay e, se nem sempre foi cordial, como acentua O. Noguei
ra de Matos,(83) teve o mérito de lhe indicar o caminho a
seguir no campo da produção histórica. Pensava Capistrano que,
até o final do século XIX e início do século XX a História
do Brasil se fizera pela História do Litoral. Era preciso en¬
tão que se voltasse ãs costas ao mar e se penetrasse pelo in
terior, para que sua história fosse recuperada -era necessário
se escrever a história das incursões pelos sertões, dos cami¬
nhos e picadas abertos pelo interior. Ele mesmo foi autor de

uma obra memorável voltada para recomposição da História das


regiões mais distantes do Brasil, para a ocupação do inte¬

rior - Os caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil - sem


abandonar a mesma preocupação nos Capítulos da História Colo-

nial . Capistrano foi sem dúvida, um dos primeiros, senão o

primeiro dos historiadores brasileiros a questionar a matança


e destruição dos povos indígenas pela ação dos bandeirantes.

(81) MATOS,Odilon Nogueira -


op. cit., p.47.
(82) RODRIGUES,José Honório-História e Historiadores do Brasil,op.
cit. p.137.
(83) MATOS, Odilon Nogueira - op. cit.
166.

(Por isso, era acusado de antipático


ao bandeirismo, contou
Paulo Prado). No entanto, considerava muito importante
que se escrevesse a História do século XVII, que considerava
lacunosa em Varnhagem e de primordial importância para a his
toria de São Paulo, jã que, para ele, aquele período seria
sua idade áurea. Foi por esse motivo que convenceu Taunay a
abandonar um projeto de estudos sobre os governos da Restaura
çao da Capitania (segunda metade do século XVIII) para se dedi
car com afinco ao seiscentismo, levando-o a construir o que
faltava de informação sobre o século XVII naulista, utilizan
do-se de numerosíssimas fontes documentais.

Embora, reconhecidamente Taunay tenha realiza¬

do uma grande pesquisa, ao levantar documentos sobre o ban

deirismo e com eles desvendar fatos até então inéditos , é daí


que lhe vêm as críticas mais severas de outros historiadores,
que analisaram suas obras, como os jã citados José Honõrio Ro
drigues e Odilon Nogueira de Matos.

Os dois autores destacam como pontos negativos

a ausência de crítica e síntese, nos trabalhados de Taunay ,


bem como o fez Caio Prado, em relação ã História do Café no
(84 85)
Brasil.
D

(84) PRADO, Paulo - op. cit. Económica do


(85) PRADO, Jr. Caio - História Brasil. Sao Pau¬

lo: Brasiliense, 1945, p.311.


167.

Taunay seguiu uma tradição que se firmara no


Brasil no século XIX, de extrema
valorização do documento ,
construindo a História Geral das Bandeiras,
e seus outros tra
balhos, no modelo da História Geral
do Brasil, de Varnhagen :
os documentos citados e transcritos
constituíam o núcleo da
obra, com a ausência da crítica do
historiador. Sua maior '
preocupação era com o documento inédito, com o fato que aque
le documento trouxe à luz , transformando o trabalho do
historiador numa incessante busca de fontes novas sobre assun
tos diferentes, pois a História só se reescreveria com novos
documentos, não com diferentes pontos de vista. Era a perma¬
nência do critério da História "verdadeira", objetiva - na
qual o papel do pesquisador é o de compilador de documentos,

provas inquestionáveis dos fatos históricos. Diz José Honõ-


rio Rodrigues que Taunay procedeu a um revisionismo factual

da História, revisionismo no sentido de preencher lacunas de

ver o que ainda não havia sido visto, recuando um período his
tõrico que, numa visão global, ainda não tinha sido retoma-
,
do . <86>

Não foi ele também um inovador quanto a uma no


va visão do objeto da História. Ê verdade que se não fez a his

tória das personalidades dirigentes administrativas, quanto

ãs bandeiras, personalizou-as nas figuras de seus chefes .


como nomeava as bandeiras ilustra tal afirmação: "Aó
O modo

g/iandeA bandejai de. Antonio Raposo Tavanet , Andtc Fctnan'

de& e. Via.i Paeó."(&7í Apesar da minuciosa descrição do

RODRIGUES, José Honório-História e Historiadores do Bra¬


sil, op. cit., p.143.
TAUNAY Afonso de E. - História das Bandeiras Paulisbanas. 3a. od.
São Paulo :Melhoramentos , Brasília: INL, 1975, t.I, p.5$.
169.

narrativa. 0 mesmo acontece com o contexto histórico da cclô


nia ou de São Paulo, no século XVII. Assim, hã uma longa di¬

gressão sobre a escravidão negra no capítulo que tem como as


sunto central Domingos Jorge Velho e a destruição de Palma¬

res.

Não obstante a desarticulação da obra , Taunay


tratou de sistematizá-la e de procurar dar uma organização ao
próprio movimento bandeirista dividindo-o em ciclos: ciclo

da devassa das terras e ciclo do ouro, as monções.

O nome que dá ao primeiro periodo: a devassa

das terras merece uma análise mais cuidadosa, especialmente '

quanto ao objetivo das expedições que estudou, como componen

tes desse ciclo. Taunay procurou explicar as bandeiras que

sairam de São Paulo no século XVII como um movimento de devas

sa de terras, descaracterizando a procura de índios para es¬

cravizar. Em resumo, o início do bandeirismo foi visto como

um ato da expansão branca em solo americano, que teria como '


propulsor D. Francisco de Souza, "o ^amoóo Gove madct -Gc uií . cy
dorado-manZaco que., encontrando um núcteo pujante de aicntu-

reZroé, po&òuZdo& doA detejoA de conhecer oò mòtciicj de car

tZnehte e o aproveZtamento de iuaó riquezas , quer cm cjbcd.it

humano, quer em recurAOÁ mtenratò oa pro j etaria ac cjhcíc ó c^


extraordtnãrto a^tnco" .
(89)
tão com Nao assumiu como questão

(89) TAUNAY, Afonso de E. - Historiadas Bandeiras Paulistas,


op. cit. , p.15.
prioritária para a Capitania o apresamento de índios, que
"dí
zZmado4 pe£a 4upetZoAZdade doi Znvai one ó ,
Ae^Zg navam -4 e ao ca
ou, a^ugentadoi tntennavam-ie no Sertão",'90 92'

como
também não considerou os resultados económicos do
apresamento,
no sentido de fornecer mão de obra para a lavoura,
do próprio
Planalto, como jã tinha apontado Alcântara Machado, pois admi
te que o crescimento de São Vicente " deveu-ie a atuação
de
doti vaaatoi de tncompanãvet uaZot: Btãi Cubai no Lttcnat;
João Ramatho, no Ptanatto ; mutto mati a eite do que ãquete
como ^tguna centnat da mtictgenação euno-amenteana encetada
pon ete e ieui poucoi companhetnoi , em Santo Andné" . Re¬
conheceu, adiante, que a escravidão indígena existiu, nascida
de um determinismo económico - a implantação da lavoura cana
vieira exigia vultosa mão de obra, que dado o "cttma netnante
do Mundo qutnhenttita" , só podia ser a do " bnaço ienvtt de
tndtvlduoi de pete eicuna, cobreada ou negna" . "Mai, cí Zn-
dZoi" davam péssimos escravos , "ponZao oí povoadonei ie

voZtanam pana aquete Zmemo vtvetno de eicnavci que ena a

Á^nZca" . "Mai, enquanto não chegavam ai Eevai a^nteanai , :í


engenhoi tZvenam de ienvtn-ie do tabon venmetho, como accnte-
cta na AménZca EipanhoZa" Como se vê , a escravidão indí¬
gena foi meramente circunstancial: só houve enquanto se espe
ravam as levas de escravos africanos...

(90) Idem, p.16.


(91) TAUNAY Afonso de E.-História das Banseirss
op. Cit., p.15.
(92) Idem,p.19.
Para demonstrar a afirmação da "importância da
laça , lembrou que as duas regiões de onde sairam sertanistas
de porte foram São Paulo e Bahia, primeiros locais onde sur¬
giu a geração mameluca" , com João Ramalho e Caramuru, pois 1

somente a formação de uma raça aclimatada ao solo e ao cli


ma, poderia ter produzido os homens que levaram ã frente o
devassamento e a conquista de uma superfície tão grande, e
que tivessem tão grande poder de iniciativa, a ponto de orga
nizar espontaneamente expedições.

Foi partindo, pois de pressupostos da exis¬


tência dessas condições que Basilio de Magalhães desenvol¬
veu todo o trabalho onde estuda as bandeiras, suas rotas e os
pontos que atingiram (como mais tarde faria Taunay). A sua
perspective era também a do povoamento e da ocupação, levas¬
sem no seu bojo, a caça ao índio ou a procura de ouro e pe¬

dras preciosas, as bandeiras abriram o caminho para a "civi


lização brasileira", graças ao dcó pau-

ZZítaó".

Os memoráveis descobrimentos dos paulistas eo

os obstáculos do sertão, com a fome, com a luta contra "o

gentio", trouxeram como resultado, o con qu i ó fade c

engrandecido peto escorço dos paulistas , o Biascl que


pactos internacionais pouquíssimo alteraram desde «Queú eye

ca nossos tempos, o Brasil sõ espera hoje que as vetg cuícas


pontos dessa pa
dos bandeirantes, existentes em todos os
o honrem e engiandeqam
ia bem fadada pela natureza,
age'.a
172.

Aliás, para Taunay, escravização plenamente 1

justificada (tanto do índio,


como a do negro) pois em todos
os tempos houve escravos. "Glande coiòa, poit, que. no Baa-
do& AeculoA haja existido eae cicio da paeia
ao Indio... Não se pode esconder que o bandeirantismo '
foi incorporado ao panorama de violência que caracterizou
0
apossamento da América pelos europeus, mas todos os povos
cometeram violência parecida, e, terem encetado a penetração
definitiva Brasil a dentro, foi urra empresa, escreveu orgulhosa-'
mente Taunay que "não ée encontra bimiiau em quatqueo. outfio

episodic de tal natureza noó ^aótoó de quaiquea nação do gio_


bo-'i93 94'

0 preconceito racial, tanto contra o negro,

como contra o índio transparece muito claramente na obra de

Taunay. 0 preço pago pela conquista territorial - a depopu

lação indígena - não lhe pareceu alto tendo em vista o re¬

sultado tão positivo que teria alcançado, aumentando signifi

cativamente o território nacional. 0 êxito da expansão do ter


ritõrio compensou a dizimação dos povos inferiores, na sua

opinião, que foram dominados .Aliás , fez questão de ressaltar'


diga-se mais uma vez, que tendo-se em vista a prática da

época, que a violência dos bandeirantes era um ato corriquei

ro .
A inferioridade intelectual e moral consistia

indígena, que a miscigenação com os europeus


em atributos do

(93) Idem, p.20.


(94) Idem, ibidem.
ajudaria a superar, pois no mestiço resultante haveria, a seu
ver, um reforço da capacidade
negativa em expressões como as
que seguem: " 0^ ZndioA daqaeZa
regido, pêóiZmoi enam, Za-
dsvõ ca tnv etetLado i" ou "anaiAinoi de doZa ma^tZneò ...
poA. 'Cnò&cgaça.o de um ^eZttceZfio Um outro aspecto que de
monstra seu preconceito é o modo como nomeia a
luta contra os
índios tapuias no Rio Grande do Norte: "a Guenna doi Bãnba-

A discriminação contra a raça negra também es¬


tá presente no que Taunay escreveu, a partir mesmo da expl£
cação que deu ã escravidão africana: "Po-i atavismo deconnente
dai condtçõei mu.Zti- Ae.cuZasieA do ííu continente à e ó ig navam i e
-
oi a^sitcano-i ..." . Não se deu conta, porém, da contradi
ção, ao chamar os negros aquilombados em Palmares, de "upieó
A-ivoi e vaZostoAOA" , para maior valor da expedição de Domingos
Jorge Velho. Se os negros eram escravos por atavismo, porque
seriam " aglQ-AAiv 0A e vaZosioAOA" no Quilombo? (Aliás, nem have
(99)
ria quilombos se fossem resignados).

O preconceito aparece com maior clareza, ainda


no primeiro volume da História Geral das Bandeiras onde foi

colocada como certa a progressiva arianização da população

(95) TAUNAY, Afonso de E.


p.88
- op. cit., p.15

(96) idem, op. cit.,


(97) idem, p.163
idem, p.72, idem, p.15.
(98)
(99) idem, o.15.
I 74.

de Sao Paulo. Primeiramente, Taunay reconheceu que havia b)

do forjada em são Paulo uma mestiçagem de tipo superior, mas


que a parte indígena desse cruzamento foi sendo diluída, pois
"A a^u&ao antantzante íí í{ez constante e cada vez
maíó ^onte entne oá gnandeó teadenò AuceAiivoA do bande ínt &mo
peta chegada de etementoó eunopeuò e o a^aótamento do cauza-
mento do negno" Taunay procurou evitar a valorização da
mestiçagem e sua ênfase recaiu no que considerou " epióõdio
cutminante do& knatÁ bnaóitetnoi,, po-ió a ete deve o pa7ó doió
ten^oh de ácu tennttonto atuat" ° J \por ter um " pc nd on eópectaf
do e*p7ntto" que o levava a "ne venenct an a obna dei&eó coni

tnutoneó epteo* do Bna&tt centnat e menídíonat..."^0?^

Como o ponto nuclear do conhecimento histórico

sobre as bandeiras, para Taunay, foi a expansão territorial


resultante do movimento paulista, havia uma grande preocupa
ção com os caminhos, os roteiros seguidos e as regiões alcan
çadas -a visão do povoamento do Brasil pelas bandeiras, des
considerando o despovoamento indígena que provocaram é o as¬
pecto de maior relevo em sua obra. O que foi valorizado foi o
momento da ocupação, não o móvel da ocupação. Sempre esteve

presente a preocupação de garantir a primazia do paulista

de ter chegado aos mais distantes rincões, ã custa de muito

sacrifício, fosse no ciclo de caça ao índio, no do ouro , para

estabelecer no sertão da Bahia, fazendas para a criação de

(100) TAUNAY, Afonso de E.-História Geral das Bandeiras Pau-


listas.São Paulo:Typ.Ideal, 1924,v.l., p.133.
(101) Idem, p.135.
(102) Idem, p.7 e p.15.
175.

gado, para levar o povoamento a


Mato Grosso e Goiás. A impor¬
tância dada a essa questão ficou evidente na
própria organi¬
zação dos livros, que a par do critério cronológico na dispo
sição das bandeiras descritas, as classificava como dignas
ae serem estudadas e conhecidas de acordo com a distância
per
corrida por seus homens.

A importância que as bandeiras tiveram para a


expansao geográfica jâ vinha sendo indicada por outros auto
res de obras que foram publicadas antes de Taunay, como por
exemplo, a Expansão Geográfica do Brasil Colonial, de Basi¬
lio de Magalhaès. Originalmente era uma monografia intitula
da "Expansão Geográfica do Brasil até fim do século XVII "apre
sentada ao primeiro Congresso de História Nacional ,em 1914.
Com esse título foi editada em 1915. A segunda edição só foi
publicada 20 anos mais tarde, com o título modificado para
•EvpcnA&c Gecgxã$ica do BtaiZf no iccuto XUII” e o livro ra-
} amavelmente ampliado, passaria a se chamar definitivamente "A
* eipanAãe aecjtújica do Exas-it Coton-iaí" '

* Basilio de Magalhães nasceu em Minas Gerais em


16^4 e faleceu em 1957. Foi jornalista, professor e politi-
* co pelo Fartido Republicano e pertenceu ao Instituto Históri¬
co e Geográfico Brasileiro, em cuja Revista publicou inúmeros
k t-aHa hos
*

- Sua visão de História não era diferente da expres

1C" MAGALHÃES, Basilio -


Expansão Geográfica do Brasil Co-
4a. Ed. São Paulo: Ed. Nacional; BrasTlTaT T. N .
| *'19
78 (Brasilianas v.45).
1 76.

sa por Taunay e o objetivo maior do


seu trabalho sobre a ex¬
pansão territorial foi o "de con-UZbuZ* pa^a o estabef ecimen-
to de nomes e datas, bem como de 'Loteimos" , base
indispensã-'
vel para se estudar a história da ocupação. ( 1 04 * o livro tem
a finalidade de estudar a expansão territorial
atendo-se ao
aspecto geográfico, considerando, porém, enfoques sociais e
económicos- com os quais o autor pretendia enriquecer a maté
ria. Utilizou a mesma organização de Taunay, dispondo em ci¬
clos o movimentos das bandeiras, expondo-as de uma forma mais
ordenada que o primeiro e classificando de forma diferente
o movimento expansionista em: " c-icto dai, enteadas" , isto ê,
” o c-icto o^tciat da expansão g eoguã^ica operada quase toda
dentro da ttnha de Ton.dei.thas ..., e o "ciclo das bando mas" ,
isto é, o ciclo espontâneo da expansão geográfica, realizada
quase toda além da linha de Tordesi lhas... 1 1 ° . Este último
ciclo era sub-dividido em: ciclo do ouro de lavagem e das es¬
meraldas; ciclo de caça ao índio; o grande ciclo do ouro.

Interessa para este trabalho a análise que


fez do ciclo das bandeirdas, especialmente no que sc refere
ãs causas daquele movimento expansionista. Explicou que são
Paulo teve o "papel pno eminente de tniptican a ã>ica da Coto
nia kmen-icana" devido ãs suas condições mesológicas, étnicas

e sociais. Valorizou o papel da hidrografia, acentuando po¬

rém, que as " c-incunstâncias étnicas e sociais também rfoAam


coeficientes poderosos do fenômeno que o estudamos" . ’ 06

(104) Idem, d. IX.


(105) MAGALHAES, Basilio - op. cit., p.13.

(106) idem, p.57.


<
fí 177.

if
e 4 cm pt e ..."

7 ?

0 nacionalismo de Basilio de Magalhães, que


transparece de maneira tão clara surgiu também, ai de maneira
mais evidente, num livro se sua autoria que editado alguns
anos antes de " Expansão GeogAa^-cea do Baua-c£: 0 tAtado de São
PauLo c o 4 eu pAogAC44o na atuat-cdade"^
Esse opúsculo anali
sa as razões pelas quais São Paulo, ocupava no inicio do pe
riodo republicano uma posição progressista. Para tanto recor
reria a História, estabelecendo para os paulistas uma visão '
de participação continua, contando com a sua presença em to
dos os momentos mais importantes da vida brasileira. Da mesma
forma que haviam se lançado ã "/loméAZca epopé-ca do AeAtão",'
São Paulo tinha contribuído, através da participação de José
Bonifácio, para a separação do Brasil de Portugal; dera o
maior estadista da Regência, em Feijó; tinha sido os paulis
tas que mais tinham lutado pela Abolição e pela República, e
por fim, Sao Paulo tinha introduzido o imigrante, como mao-de
-obra no " bande.-cA.xAm o do ca^é" . Essa história, uma sequência'
de êxitos, era fruto do arrojo dos seus filhos. "0 Aegtedc do

azu pAogAZAAO , CAtã


poAtentoAa iniciativa de acua ^-ilnoA,
na
que podem com Aazão, AeA chamadoA - ca "VankeA" da América dc

107) - MAGALHÃES, Basilio -


op. cit, p. 240
(108) - MAGALHÃES, Basilio -
O Estado de Sao Paulo e o seu
progresso na atualidade . (notas históricas, estatisti
cas sobre a organização político-administrativa e os
incipais fatores da prosperidade-material intelectual
P
moral
nal do
- da terra dos bandeirantes) R.J; Tip.do
Comércio, 1913.
Jor

(109)~ Idem, passim


178.

A proposta do livro era a de que os outros


esta
dos, especialmente Minas Gerais (estado
natal do autor), tives
sem Sao Paulo como modelo, para
atingir o mesmo grau elevado '
de progresso, conseguido não somente
porque no planalto de
__
São Paulo, medrava uma nova raça ou porque a natureza lhe fo
ra benéfica, mas sobretudo porque os paulistas tinham como
principal característica o arrojo que faltava aos outros brasi
leiros. A postura de Basilio de Magalhães diverge ai da assumi
da geralmente pela elite politica. 0 primeiro sugeria que
Sao Paulo devia ser um exemplo, um modelo a ser seguido; jã a
camada política paulista, queria que São Paulo fosse uma lide¬
rança a ser seguida. Essa pequena divergência não significava'
uma linha bifurcada da interpretação, mas pequenas nuances ,
que deveria naturalmente existir na postura de um nacionalista
mineiro, que tinha optado, pela admiração por São Paulo, oor 1

temas que tinham despertado seu entusiasmo e, principalmente ,


explicavam - mediante a pesquisa histórica - os motivos daque
la admiração.

A construção da história do bandeirismo e do


bandeirante, reiniciada no início do século XX, reorganizou '

os aspectos cognitivos que já tinham sido elaborados, a partir


do século XVIII e deu publicidade a um numeroso conjunto de do
cumentos, que permitiu a realização das pesquisas que se trans
Não há um dos estu-
formaram nos livros sobre os bandeirante.
diosos que, tendo pesquisado as bandeiras, não ressalte a im
para o seu trabalho. A publicação'
portância desses documentos
ponistro Geral da Câmara de Sao Paulo, mais tar
das Atas e do Registiu
invent At (or e Testamentos referentes aos séculos XVI e
V^AlltAdos poi WaRhlngton Luis, enquanto prefeito
e
|h«nUnlc do Kat ado de São Paulo foi
elogiada por todos os
Mwtcvt adore* dan bandeiras aqui citados. 0 apreço
pela doeu
wentaçav' foi um traço comum naqueles historiadores, fazia par¬
te de seu próprio conceito de
História - o documento era a pe
Ça fundamental para
recuperação do passado, pois só ele servi

' 'A prova , de testemunho legítimo do fato acontecido. 0


do historiador seria coligí-los, organizá-los, transcre
vo-los, pondo nisso toda a objetividade, a imparcialidade dc
Cientista, conforme se acreditava. Por isso, os grandes temas,
cue repita-se, poderiam ser demonstrados pela documentação, se
restringiram, com raras exceções ( a exemplo de Alcântara Ma
Chado e Paulo Prado) , a discutir a primazia dos descobrimentos

* identidade do bandeirismo que realizou uma façanha, sua ida


de ao realiza-lo, etc. No entanto, paradoxalmente, a esse
amor pela objetividade se opunham determinadas ideias já pror
tas: superioridade racial ( " demons, t/iad a" pela documentação de

Afredo Ellis Jr.); a penetração como ativismo (Alcântara Manda


do) e heroísmo e arrojo ao estender as fronteiras ( desenvol¬
vida por Taunay e Basilio de Magalhães) .

O conhecimento hitõrico produzido, enquanto -

triz , per aqueles historiadores foi reproduzido em incontáveis

Obras de autores menores, em obras de ficção, na literatura di


dítica de nível médio e por meios de divulgação ccrr. número manos re
1 80.

ue receptores
(livros e artigos) que

ta , mas que
— '. E muitogrande o número de obras
tiveram como tema o movimento bandeiris-
não tiveram papel importante na formação da imagem'
do sertanista, pois não fizeram mais
que repetir aquilo que os
autores que se dedicaram à pesquisa iniciais forjaram como a
fi
gura bandeirista. Consolidaram a imagem do abridor de camonhos
e conquistadores de riquezas, do mameluco que expandira as fron
teiras e conquistaram um país, graças à sua valentia e poder
de iniciativa.

(110) A literatura aproveitou o tema do bandeirismo e da


simbologia paulista em várias obras, como em A Mu
ralha de Dinah Silveira de Queiroz e Os Ossos do Ba
~
de Jorge de Andrade. Estas duas foram transforma-
dZ/em novelas para a televisão, e ajudaram a dissemi
nar a ideia de bandeirante que os historiadores de Sao
Paulo tinham formado.
181 .

CAP I TU LO IX7

A MANIPULAÇÃO DO CONHECIMENTO

"São Pauto dc Boiba Gato, São


de Unhang utial "
Apoio ã tuta emitido peio
at to ^atante do Latgo de
São Ftancióco, cm 1952.
"C Estado Novo c vãtZaa vc:e^
bande iian te"
CASSIANP RI CARP?
182.

Os meios de comunicação passaram para o senso


comum a imagem do Bandeirante: um homem destemido,
de uma
raça privilegiada, que levou o progresso e anexou ao Brasil,
regiões muito distantes que hoje compõem o "imenso"
territõ
rio nacional. Os meios de comunicação transmitiram (e conti
nuam transmitindo) a imagem que os historiadores construíram ,
ao produzir o conhecimento histórico sobre as bandeiras. £
verdade que há momentos em que a utilização dessa imagem se
esvanece, e outros aos quais ela reaparece com muita força.E_s
ta última hipótese foi o que aconteceu, quando do movimento '
de 1932 - momento em que a figura do Bandeirante teve grande
relevo.

Quando terminava a década de 1920, o desconten


tamento contra as oligarquias que dominavam o poder, fizeram

com que setores da classe dominante paulista se unissem a

setores médios urbanos e a uma parte do proletariado. Entre

esses setores da classe dominante estavam membros do Partido

Democrático de São Paulo, criado em 1926 que abrigava poli

ticos descontentes com o P.R.P. Na luta pelos votos o P.D.

viu-se forçado a incorporar um ternário revolucionário - man

teve , porém, a proposta básica da política paulista

ou seja a manutenção, e se possível, a ampliação da autono

mais poderosos:
mia dos Estados , sob a hegemonia dos Estados
São Paulo e Minas e fazer alianças com grupos de interesses'
que apresentava
antagónicos, como o movimento tenentista
do poder, com o fim da predominân
proposta de centralizaçao
paulista Quando eclodiu o movimento de 30
cia mineira ou
1 83.

ele contou com o apoio


entusiasmado da oposição em São Paulo,
que esperava que o novo governo pusesse
em prática as suas
propostas. 0 movimento revolucionário se consolidou, e houve,
num primeiro momento, união entre Estados e Governo Federal.
Mas, aos poucos, com a instalação de
nos governos estaduais, a unidade foi se rompendo em alguns
Estados. São Paulo foi um deles.

O governo de Sao Paulo tinha sido confiado ao


tenente João Alberto que não era paulista. Isto significou
para o P.D. uma traição. (Havia um acordo anterior, com Getú-
lio, de que o governo de São Paulo ficaria nas mãos de um
político do Estado - Francisco Morato). A escolha do secretari
ado acalmou a oposição, pois dele participaram muitos paulis

tas. Porém, durou somente 40 dias. Com sua renúncia, reaparece


ram os sinais de descontentamento. No inciio de 19^1, já ti

nha se tornado bastante visível a decepção do P.D. - seus


membros tinham apoiado a Revolução de 1930, na esperança de

ascender ao poder, substituindo os antigos políticos do P.R.P.


No entanto, não só estavam ficando cada vez mais distante de

le, como também viam tomar força uma política de fortalecimen¬


to do poder central, em detrimento da autonomia estadual. a

situação se agravou quando João Alberto, além de legalizar o

P.C.B., tentou uma política de aproximação com a classe operá

ria, concedendo aumentos salariais e diminuindo a jornada de


I
assustaram a classe dominante paulis
trabalho. Tais atitudes
184.

ta, e jã em 1931, o P.D. rompia


com o interventor, quando,
num manifesto, reivindicou um governo paulista e civil.
0
foi fechado e o Diário Nacional, seu porta-voz tam
bém.

A situação foi se tornando cada vez mais cri


tica e, em fins do mês de abril, os democratas tentaram um
golpe. 0 fracasso dessa tentativa levou à prisão mais de 200
revoltosos. A partir desse acontecimento, a oposição iniciou
um movimento pela volta às formas legais, que levantou como
bandeira de luta, a reconstitucionalização do país. O aumen
to de pressão fez com que João Alberto se demitisse, e Getú
lio nomeou interventor Laudo Ferreira de Camargo, jurista, pau
lista e civil, que mantinha-se neutro politicamente. 0 gover
no de Laudo de Camargo durou pouco. Dois meses depois, demi¬
tia-se, devido à diversas divergências com o grupo dos tene»
tCó. Substituiu-o o General Manuel Rabelo.

No início de 1932, o P.D. rompeu publicamente

com Getúlio Vargas e fez um acordo com seu antigo inimigo, o

P.R.P. Formou-se então, a Frente Onica Paulista. Outros Esta

dos, como Minas e Rio Grande do Sul também assistiram a forma

ção de Frentes Onicas, em seus territórios, que se uniram ã


paulista em torno da bandeira da Constitucionalização.

Getúlio Vargas, ao tomar ciência da extensão

da mobilização, resolveu acelerar o processo de constituciona-

lização, mas a radicalização da oposição ganhara corpo, bem


185.

como as articulações para se realizar a luta armada, que eclo


diu em 9 de julho .

O movimento de 32, antes de mais nada, signifi


cou uma aliança entre representantes do setor agrário , que
compunham os dois partidos políticos que formavam a Frente 0
nica e que contaram com a adesão de industriais e comercian
tes. "Ai cíaiiei cons eavadoaas de São Pauto' se cotoeaaam eon
taa o Goveano PaovtsÕato que aepaesentava uma outaa ^aação da
ctasse domtnante b-iasttetaa , tnteaessada no ^oatatectmento do
Estado na sua tnteavenção na es^eaa da potZttea e da paodu
çao" . Além dos interesses económicos, estavam em jogo pro
jetos políticos divergentes (autonomia dos Estados versus Cen

tralização), motivo pelo qual a camada conservadora articulou'

politicamente, sustentou a guerra e promoveu a campanha de mo

bilizaçao do povo para a luta.

0 apelo ã luta armada contra a Vttaduaa devia

se fazer em nome de uma unidade de interesses, que não existia


na sociedade paulista, Havia sim, uma unidade nas camadas do

minantes paulistas - mas as questões nas quais se centraliza

va a oposição ao governo Vargas, não sensibilizavam outras

camadas da população como a classe operária, vista pela vista

O resumo acima, sobre os antecedentes da Revolução


de 1932, baseou-se
segs.
em CAPELATO, Maria Helena -
op. cit
p.10 e
CAPELATO, Maria Helena - op.cit., p.21
I Rb .

dominante, como uma sempre nresente ameaça. Era


naceaalirio qua
a população como um todo estivesse
apoio de toda a
envolvida ara preciso o -
população e por isso era preciso convencê-
la que não eram as camadas conservadoras que lutavam por um
projeto político, mas São Paulo que desafiava a ditadura em
nome do Brasil; São Paulo que se erguia por uma Constituição
para o Brasil. Havia sempre uma busca de unidade, de uni ver
salização do particular, omitindo do seu ideário a divisão de
classes da sociedade.

A unidade dos partidos políticos não era sufi


ciente para a chamada à luta. Tanto o P.D. como o P.R.P. re
presentavam os mesmos grupos dominantes, e não contavam com
a participação das classes populares. Foi preciso que a "unida
de" se estendesse ã toda à sociedade, e que, mais uma vez se
omitisse a divisão dessa sociedade em classes. Era necessã- o

que o "povo paulista" se congregasse em torno da luta contra


a Ditadura - para tanto as forças mobilizadoras da Revolução '

fizeram uso de toda uma simbologia que procurava sempre o oon


ceito de unidade, de nivelização da sociedade em torno de t>

guras que pudessem representã-la .

Os valores generalizadores da ideolects bt-ece

sa foram acionadas na chamada ã luta - Nacionalidade, Cw a

ção, Independência, o domínio da Natureza pelo homem - bem

mo valores muito caros à elite paulista: a "raça paulista", as


"tradições de São Paulo". Conquanto a classe dominante se

considerasse "quatrocentona" , e 1 1 equent emen t e , se ev-emcmse


18 7.

de modo a se considerar
pertencente a uma "raça privilegiada",
naquele momento estendeu aos
negros, índios e imigrantes as
suas qualidades. Qualidades essas que
só a "raça" que havia si
do gerada em solo de São Paulo
poderia ter. O símbolo mais
forte que essa raça encontrou foi o bandeirante
- ele mesmo
um produto da "raça" que surgira em São Paulo, e que "construí
ra a Nação, conquistando as terras que
deram forma ao Brasil
com sua valentia, altivez e, independência". E fora de
dúvida
que houve no Planalto, um forte índice de
mestiços de índios
e brancos; ê fora de dúvida que percorreram as terras preando
índios e procurando ouro e pedras preciosas. Mas, o signifi
cado que isso teve foi dado pelos historiadores, e permitiu,
ou melhor, levou o bandeirante a ser o símbolo de São Paulo,
quando a necessidade de integração de todas as camadas sociais
em torno do mesmo projeto, se tornou premente o apoio de
todos os segumentos da população.

Assim, por paulistas


não se entendia ’’óameníe o
indivíduo naòcido e caiado cm acu teaaitõaio , mas todo a.. .. c < c
p que paaa tá a taanApoatou, que cm mm tcaaas ôc jueu, ....
•* Zá vive e. deACnvolve a ma. existência, pleiteia icuj .a<.t < ?,

confina a iua vida. McAmo poaque doA ACte milhões que atum
p mente o povoam, nem talvez taci milhões procedam dos an t <j :
* bandeiaanteA; . • "
( 3 > "Bandeiaantc cia todo paulista que se dos
( 4 )
» puACAAC a paatia apta a luta" \ pois a taadiçao bando cian
I
»
|
* (3)
- São Paulo, sua terra e sua gente.
da Revolução de 32)
(Panfleto anónimo

*
(4) - CAPELATO, Maria Helena - op.cit, p.40
188.

e vadeou cb beeutob, ebpethob da grande alma anttga: atttva ,


agaeutda e tndomãvet" , que desvendou a selva, plantou os
cafezaes, criou cidades fervilhantes, e"como ie tanto
e matte
mati não babtabbe vendo peA.tctttzA. nab bombnab do
ttabtontbmc
dttatoA.tata tamtnoba tntegA.tdade pat^ta, et-ta que be avtoja,
a mebma gente de Pt^attntnga, a mebma
^.aqa atttva e gene^cba,
pafva depobttan. ante o bfiabtt a dãdtva bap^ema do beu ouko, de
beu bangae e de beu. admtftavet hesiotbmo" .

O "Jornal das Trincheiras" periódico que "era


fartamente distribuído nas áreas de combate e no Rio de Janei
ro, não dispensava o uso do bandeirante para estimular os sol
dados paulistas, lembrando sempre quem era um paulista e cue
ele não tinha mudado, que não era diferente do sertanista do
século XVII, que descobrira o ouro e com ele enriquecera a
monarquia portuguesa, porque em 1932, dava-se "ouro para o
bem de São Paulo" o que mudaram foram as turmalinas de
Fernão Dias, em ouro, ouro para a vitória paulista.

O mesmo jornal que acenava com a riqueza dos


bandeirantes também se lembrava dele como símbolo do
avanço da civilização. Assim, depois de narrar, em um de seus
números, a epopeia de Anhanguera, ne célebre história em que

ETERNO Bandeirante. Jornal das Trincheiras; órgão da


revolução constitucionalista. Sao Paulo, 22 de setem
bro de 1932
OURO Jornal das Trincheiras ; órgão da Revolução cons
titucionalista. Sao Paulo, 18 de setembro de 1932.
AS ESMERALDAS. Jornal das Trincheiras: órgão da revo
lução constitucionalista. Sao Paulo, 18 de setembro de
1932.
189.

° sertanista, ameaçou por fogo aos rios, o artigo "Estirpe de


Anhanguera", lembrava que, naquele momento
a "chama da civiliza
ção era levada adiante pelo soldado
constitucionalista
Mas, o exemplo mais expressivo
da utilização do símbolo ban
deirista encontra-se no jornal "0 Separatista", que
trazia no
expediente ;

Píacíoa: FeAnão PZa4 Leme


RcdaZoA Che^e: Antônio Raposo TavaAeò
SecAetaA>io GeAaZ; Cap. LuZò PedAoóo de BaAao^^'>
O separatismo tomou força em 1932, e foi buscar

na independência do paulista do bandeirismo o modelo de cora


gem, e a" gaAantta da bftavuAa e da peAtZnacZa com que eontZn.ua
teroi a evotução pana 0 QtoAÃ.o&o ^-cm a que noi pAo può emoò"

Os versos de Menotti Del Picchia para o hino "Anhanguera" re


tomou o tema da bravura que o soldado paulista tinha como de
ver, para restaurar a liberdade e sugeria que o seu lema fos
se o de Anhanguera Vence-A na empAeta ou moAAeA,"para que nun
ca recuasse, "po-ií Raposo não Aecuoi/^kavia uma alma "Bandeiran
te" , que havia se empolgado nos oitenta e três dias de luta
e que sintetizava o que significava ser "Paulista". A sín

l8' - ESTIRPE de Anhanguera, Jornal das Trincheiras: órgão'


da revolução constitucionalista. Sao Paulo, 25 de

(9)
_ bro de 1932
Q Separatista; São Paulo: junho de 1932
se

(10) - O SEPARATISTA, São Paulo: junho de 1932


(11) - ANHANGUERA: ^ymno São Paulo, G. Ricordi & C. ; s.d.
Q2) - AO POVO paulista./ Um punhado de fatos que perfunctori
amente ilustram_a ação da Força Pública. ( Reprodução
f ac-similar) . São Paulo: Imprensa Oficial, Arquivo do
Estado, Arquivo Público e Histórico do Município de
Rio Claro, 1982.
tese maior, porém, é a que apareceu no poema "Minha Terra, mi
nha pobre terra", de Ibrahim Nobre, o mais famoso tribuno da
Revolução:
"São Pauto, tame. de. mtnha teAAa
Em tua vtg+tta ^ez-4e o catoA, a cétuta, o attaA
PAeôtdtóteò oa deòttnoz» da fiamltta. Eoòta a gtÕAta’
do pão ganho com honAa. MaAcaóte o nome, a pAopAte
dade, o LaA1. ...
T eAAa Pauttòta’ Pa tua caAne maòAape e honesta, do
teu ventAe de mãe fiecundo e iao, veto a atma que
Aeattzou a nactonattdade, tmpAtmtndo -the o Aenttdo
da J ndependêncta e OA AumoA catottcoA da ctvtttza
çao. Ve tt pAoveto o Homem que confiAo ntou a natuAe
za petto a petto e que a venceu e a domtnou a fiação
e a fie\.. ?(13)

A monografia do movimento de 32 não dispensou a uti^


lização do bandeirante para ilustrar toda uma sorte de papéis
avulsos, volantes, cartazes, cartões e até partituras musicais,
que faziam convocação ã luta. Ãs vezes o bandeirante empunhava
a bandeira de São Paulo, outras acenava, chamando os jovens e
outras vezes aparecia segurando em uma das mãos a caricatura '
de Getúlio Vargas, como a esmagã-lo.

Sua imagem refletia sempre a bravura, representada’

pelo olhar firme e porte sereno, vestido com os trajes que se


convencionou que seriam os do sertanista: botas de cano alto,
gibão e colete, e infalivelmente, o chapelão de abas largas e
moldurava um rosto bargado e de cabelos longos. Os traços eram
duros e procuravam dar idéia da austeridade e seriedade, brave

(13) - A pud CAPELATO, Maria Helena, op.cit., p.40


mesmo, com que os bandeirantes eram imaginados a partir de
‘ > 1
! <
sua construção histórica.

A revolução de 1932 usou o símbolo bandeirante;


transpôs o conhecimento histórico sobre as bandeiras e o
si^
nificado que a pesquisa histórica tinha-lhe dado para uma fun
çao determinada naquele momento. Fez-se uso de uma imagem, mas
não foi (como quis Dante Moreira Leite) um período de
grande produção histórica sobre o Bandeirismo - foi sim uma
fase em que a produção histórica forneceu uma imagem que ca
bia para representar determinados interesses. Esse período e
mesmo o que o sucedeu não representou um momento de produção '
histórica sobre as bandeiras e os homens que as compuseram
mas significou de uma maneira bastante evidente, como o aspec
to cognitivo da História pode ser transformado num instrumento
político.

As forças de oposição, que lideraram o movimento

de São Paulo eram representantes da elite paulista, que preten


dia para seu estado a hegemonia na federação brasileira . Dessa

mesma elite tinham saído os principais historiadores das ban

jeiras. Os aspectos do bandeirismo que tinham recuperado fo

ram aqueles cujo significado lhe falava mais de perto e que

por isso não precisou sofrer alterações para ser colocado como
o maior símbolo de São Paulo -
símbolo esse que persiste até

hoje.

(14) - LEITE, Dante Moreira - op.cit., passim.


A Revolução de 1932 não conseguiu o seu intento
de impedir a
centralização do governo federal e de manter a fe
deração sob a hegemonia paulista. Ao contrário, foi derrotada
nas armas e seu projeto político foi por terra
- os lideres
da malograda revolução chamavam São Paulo de "terra conquista
da". Em 1933 iniciava-se processo de aproximação dos políticos
de São Paulo, e em 1934, foi votada a Constituição, onde pre
valeceu o principio de autonomia do estado. Durou pouco, porém.
Em 1935, a "ameaça comunista" unia a classe dominante paulista
ao Governo Central. Aquela, para destruição total do "perigo

vermelho" , abria mão dos ideais de federação e autonomia esta

dual, aceitando para tanto, a concentração cada vez maior do

poder nas mãos do governo central, sem dar mostras de maiores

reações quando da instalação do Estado Novo, em 1937.

No ano seguinte, porém, membros da antiga °li

garquia paulista, como Armando de Sales Oliveira, Júlio de Mes


quita Filho e outros elementos a eles ligado, participaram de

uma conspiração contra o governo, aliando-se aos integralis


(15) q fracasso dessa conspiração deu a Getúlio a oportuni
tas
dade de se livrar de inimigos e adversários políticos, que

seguiram para o exílio e de aumentar os dispositivos de coer


Final

mente, pode concluir a obra centralizadora que perseguia desde


e colocar no aparelho de governo o centro responsável
1930
>

(15) FARIA, Antônio Augosto & BARROS, Edgard Luís de - 0


Retrato do Velho. São Paulo: Atual, 1984
I

I
pelo processo de
decisão. Instalou-se de forma muito segura
um governo autoritário,
centralizador que procurava também for
mar uma imagem positiva junto à população. Para tanto contava
com o Departamento de Tmprensa e Propaganda e com a colabora
çao de alguns intelectuais.Enquanto o D.I.P. se ocupava de uma
divulgação de caráter mais óbvio, os intelectuais, como Cassi
ano Ricardo, procuravam na História a justificativa para a im
plantação daquele sistema de governo. E o bandeirante que ti -
nha simbolizado o estado de São Paulo e a luta pela federação*
retornaria dessa vez como símbolo de um governo centralizador.

Cassiano Ricardo nasceu em São José dos Cam


pos, em 1895, numa família de pequenos agricultores. Formado
em Direito exerceu cargos públicos destacados, tendo sido se
cretário de Pedro de Toledo e de Armando de Sales Oliveira.Foi
poeta e ensaísta. E bastante conhecida sua participação na Se
mana de Arte Moderna e sua colaboração em grupos intelectuais
nacionalistas, como Verde Amarelo. Anta, ao lado de Menotti
del Picchia, Plínio Salgado e outros.

Foi também historiador, e nesse campo deixou u


ma obra pouco vasta sobre as bandeiras, da qual se destacam
Marcha para Oeste, Pequeno Ensaio de Bandei rologia e um amço
bastante esclarecedor do seu pensamento, 0 Estado Novo e o seu

sentido bandeirante.

Cassiano Ricardo não mantinha elos de ligação


com a elite nan i•
p uxista, a nao ser os literários. Nao
partidos
politicos, nem ao P.R.p. nem ao P.D.,
governo Vargas, do qual
apolw I
se tornou quase que um por tA-voz.Prfe
coniiava um governo forte, de caráter popular e mv. ,
brasileiro, tal como ele via o Estado Novo, que enoor>trar 1
p£<caçao nai t^nhati dzntn.0 da.t> qua-iò áz psioLtAAa, d&áde, o ptá.
ihc<io momento a no^óa ^o-tmação iocíaí.. "

No dizer desse autor foram três as sociedades ’


que se estruturaram no Brasil Colónia:

a sociedade agrária do litoral;


a sociedade pastoril;

a sociedade bandeirante,
sendoque somente esta última caminha para fórmulas inaugurais

de vida e de economia. Por suas características próprias,


que ele mesmo condensou na quarta edição de Xaroha para Oeste,
a bandeira teria sido a geradora do Brasil contemporâneo e do

governo que se organizava.

O aspecto mais significativo seria a õistinaãi


três linhas nítidas que marcavam a estrurura social fe raia
bandeira, segundo o adestramento dos indivíduos "pre status’ e

papéis especiais: comando, pelo mameluco; movimento, pelo ín

dio; mineração e lavoura pelo africano.

(16) ~ RICARDO, Cassiano


bande irante ,
-
Cultura
O Estado Novo e o seu
Política , 1(1): 11 2 1-
32.
senrido

Q7) - Idem, ibidem.


Ao especificar as três linhas nítidas inseriu
emento novo na composição étnica, negado ou omitido pelos
tros historiadores das bandeiras; o negro, que contribuíra ,
a seu ver, com o calor
humano, abundância de sentimento e ez
peiiencia sedentária na lavoura e na exploração das minas. Ca
da uma das raças era "aproveitada" no que
tinha de traço psico
lógico considerado fundamental
-
ao mameluco que herdaria do
branco a liderança, cabia a chefia, o comando do movimento, e
o índio - "homo primitivus migratorius" , era aproveitado no
seu nomadismo, só que nas bandeiras, "nomadismo dirigido".

A bandeira era um "Estado em miniatura", origem


da tormação do Estado brasileiro e a inclusão nela do branco,
do negro, do índio lhe dava o aspecto de democracia racial, de
unidade nacional mesmo,aque a solidariedade existente dentro
da organização bandeirista levaria. A solidariedade e o sofri
mento no sertão nivelariam as diferenças sociais, como um "ne
(18)
nueno Estado larvar e vivo". Esse estado tinha um caráter
popular e praticava uma democracia rudimentar, onde o chefe
da bandeira falaria pelo povo - os bandeirantes também conhe
(19)
ciam a falência dos regimes parlamentares e tagarelas...

Embora, para Ricardo, São Paulo seiscentista se

constituísse numa República, o poder estava centralizado nas


mãos do chefe, havendo para isso, um "apelo popular". Daí te
respeito às leis, caracterí stico das populações'
'dionais do respeito ao Cabo de tropa, que se delineava
um P polítoco especial: "A
auío/tZdade envoZve uma glande &o_
ma pí&Áoaí .. e faz do Chefe da bandeira encarnação
do governo forte
- " dZó cZp£Znado/t , p/toíeíoA. dot que. pedem
juitlça, o che^e miLítai, o fundado*, do Estado" .(20)

Cassiano Ricardo fundamentou sua obra sobre


bandeirismo muito mais nas pesquisas de outros historiadores
(Taunay, Paulo Prado, Alfredo Ellis) do que em informações que
ele próprio colhera em fontes - no entanto deu um outro sig
nificado ao conhecimento que aqueles historiadores tinham ela
borado. Se os primeiros tinham valorizado a mestiçagem e a
colocado com um elemento fundamental do bandeirismo, ele tam
bém o fez. Mas hã diferenças fundamentais: para uns, a mestiça
gem teria feito surgir uma "raça paulista", que explicava o
arrojo e a valentia do bandeirante, para ele a mestiçagem era

um elemento nivelador da bandeira, aspecto que denotava sua


formação democrática, origem do "self-government" brasileiro.

O "espírito de iniciativa" que para os primeiros autores pro

vinha das condições étnicas, sociais e mesolõgicas do Planai

to foi corrigido pela cooperação e associação, numa constru

ção de harmonia, que o Estado Novo pretendia anunciar. "Ricar

do mitifica ao passado o que lhe tornaria dificultoso acen

tuar no presente. A solidariedade social, o espírito cooperati

vo dinamismo da ação individual direcionada socialmente, a

RICARDO Cassiano
deirante, op.cit.
- O Estado Novo e seu sentido ban
197.

stiçagem intensa e a não existência de


preconceito... - são
apreciações muito mais voltadas para o querer do presente do
que realmente considerações historicamente aferíveis no passa
doJ21)

Não deixa de ser interessante notar que expres


sou uma posição contrária a uma imagem criada anteriormente
para o bandeirante, e que ele pretendeu manter afastada, pois
tal tipo de imagem é bastante para" d caZcuXtat um estu.dc que
piccxiia i er exato , despojado de qaatqaer hato conotattvo de
resrdaos miXZcoA, hã o pertgo constante da deformação dtãtoa
1 esuttante da tocattação demagõgtca da palavra per oradores
por potrttco 3 em propaganda etettcrat, ou por descendentes de
veihos troncos bandetrantes. “
Ele não hesitou, porém, em

mitificar de outra forma o bandeirante. Os valores que desta

cou não foram os mesmos de outra mitificação, como a de 32,

por exemplo. Os valores que destacou foram os que serviriam

para pensar a bandeira como a génese do Estado Novo - o que

procurou no conhecimento histórico produzido anteriormente

foram os elementos que transpôs como advindos da bandeira para


o seu momento presente: a concentração de poderes nas mãos
do chefe da banderia; a expansão geográfica e a integração ter
ritorial que o movimento bandeirista proporcionara , formando

o contorno físico do Estado Nacional; a miscigenação , como

LENHARO, Alcyr - Corpo e Alma. As sombrias mutações


do poder
dout. Dep.
-1930-1940. Sao Paulo: 1985, mimeo
História, Fac. Fit., Let. Ciên.
(Tese
Hum.USP'
RICARDO, Cassiano - Marcha..., op.cit., p. XXVII
198.

instrumento de democratização. Assim, o mesmo símbolo de luta


pela autonomia do estado e pela hegemonia dos estados mais rd.
cos, se transformou mediante a análise de Ricardo, no símbolo'
de um governo que lhe era oposto.

Ricardo não negou as realizações das bandeiras,

apontadas pela elite paulista. Deu-lhes outro significado e

concentrou nelas as qualidades do presente, para o qual procu

rou justificativa histórica, no plano político, explicando a

"tendência popular para um governo forte" e as relações entre'


o governo do Estado Novo e a Nação. A bandeira representou a

fé, autoridade, disciplina, obediência, hierarquia, solidarie¬


tudo enfim, que o Estado Novo preconizava para
dade -
por
o Brasil. Acima de tudo, deixou de ser o símbolo paulista,
excelência, para se transformar num símbolo nacional - enquan
bandeirantes os traços que os ca
to os paulistas exaltavam nos
racterizavam como membros de um estado, de um povo, até de

Ricardo destacou as caracterís


uma "raça paulista", Cassiano
ticas que poderiam ser
tomadas para se esboçar a nacionalidade

brasileira não mais a "paulista .

A fundamentação de nacionalidade através do ban

interpretações da realidade coincidentes


deirismo determinou
do modelo político, mas também com
não só com as aspirações
Oeste,
os interesses da expansão económica que se realizava. O

RICARDO, Cassiano - Marcha..., op.cit., passim.


199.

que as bandeiras tinham conquistado para o território brasi


leiro, aparecia como um grande potencial brasileiro
- repre
sentava grandes riquezas inexploradas e a possibilidade de a
provei tamento de terras férteis e virgens. 0 vazio demográfico
devia ser ocupado para que o Brasil explorasse todas as suas
possibilidades para evitar o "imperialismo demográfico mili.
tar", que as atitudes de países da Europa faziam prever, para
resolver seus problemas populacionais. Por tudo isso havia ne

cessidade que novas bandeiras se organizassem, para ocupar o


Brasil Central e outras regiões de baixa densidade demo

gráfica.

As "novas bandeiras", entre as quais incluiu a

expansão da cafeicultura para o oeste paulista, não poderiam

ser entendidas mais, como "instrumento específico de uma soei


edade de um sistema de vida", mas sim, como "bandeirismo", en
tendido no sentido de pioneirismo, de posse de terri tórios , não
de propriedade; da extensão da nacionalidade até rincões onde
não havia chegado a "civilização brasileira" -
(24)
rincões es

tes que dariam maior riqueza


ao país.

Todo esse conjunto estava ligado, na obra de

paulista, e São Paulo, "base


Cassiano Ricardo, ao bandeirismo
(25)
e social do Estado Novo" haveria de dar continue
política
progresso económico, iniciado pelos bandeirantes do
dade ao

RICARDO, Cassiano - Marcha..., p.563

LENHARO, Alcyr - op.cit., p. 83.


zoo.

o XVII, e em permanente
evolução, pelas ações de bandei
ras mais recentes. Ele procurou
aí, integrar São Paulo, o maior
contestador do centralismo de governo, no ideário do Estado No
vo. Utilizou o símbolo que os paulistas defensores da federa
çao tinham criado e a ele deu o significado oposto. Não se
tratava de negar o poderio económico do estado, mas de levá-
lo a aceitar os novos valores impostos pelo sistema de gover
no, os quais Cassiano Ricardo procurou demonstrar, existiam '
desde muito antes, em São Paulo - fase do bandeirismo e de
seu fruto: o Estado Novo.

Ainda em 1956, em Pequeno Ensaio de Bandeirolo


gia o autor retomou o tema, ligando, com o mesmo arcabouço te
õrico, as bandeiras ao Estado Novo, que teria representado a
instalação de uma democracia social no Brasil.

O bandeirante, no Estado Novo, não teve a mes


ma força simbólica que adquirira durante a Primeira Reoública,
ao representar os interesses políticos da elite paulista, anta
gônicos ao regime getulista. Sua presença maior encontrou re

percussão somente na obra de Cassiano Ricardo, com poucas

vozes que se fizeram ouvir, usando o símbolo na mesma di

reção. Cassiano Ricardo não teve seguidores e seus livros eram

as últimas das obras de peso sobre as bandeiras e o bandeiris-


mo.

Logo após a Revolução de 1932 surgiram obras

menores de divulgação que não faziam senão repetir, em linhas


201 .

g is as pesquisas dos
autores de obras matrizes e alguma»
delas tinham mais a intenção de
estimular a oposição do São
Paulo, logo após a derrota do movimento,
valorizando novamen
te os aspectos mais conhecidos da figura do bandeirante

Mas de qualquer forma, a década de 30 marcou o fim das


des obras sobre bandeiras, produzidas pelos historiadores liga

dos ã elite paulista, como marcou também o fim da hegemonia de

Sao Paulo. O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo con

tinuou, através de sua Revista, a abrigar os trabalhos que

ainda saíram. Na Universidade de São Paulo, depois de Al t r ode

Ellis e Taunay o tema foi praticamente abandonado, a nível de

pesquisa. Foi mantido, porém, nos programas escolares, e que

garantiu a sua permanência em livros didáticos de nível médio.


Nestes, que merecem um estudo ã parte - o bandeirante

ora aparece como o grande herói construtor da nacioiml uia.v

secuindo as pegadas de Ellis, Taunay, Alcântara Machado


tom ufanista, ora como o autor da legenda negra, ext er -.õo.
'

de índios, predominando a primeira vertente.

A manutenção do bandeirismo como tema do pro

grama escolar deu ensejo a gue fosse incluído em coleções


ou.;

didáticas onde predominam as tendências de julcamento de


o o -.o
bandeirante, como violento e destruidor, deslocado
do

e sem nenhuma perspectiva de uma ievu..v rdeoloc


.
histórico
trabalho de Luisa R.R. Volpate we o-, oo.
do tema. Exceção é o
no contexto do sistema colonral eo x'
ra explicar as bandeiras
dele.
parte integrante

ver nota de rodapé na página seguinte (213) .


202

pesquisa histórica não ten produiido nova

•• • os bandeirantes, nen por isso ele de


O» traços fortes do seu contorno que
" ....w.i.uureí paulistas, peraanecen nuito for
P®*>Ate que seja ainda una figura de retórica cons
Vante noa discursos políticos e que, sobretudo, faça pari do
oot id i ano

nOS *On ^cntos«nOM8 de ruas, d© estrada», co«*o o arande herói

P® •*© Paulo, personificação do "Povo Paulista".

<241 ajMeeypsn Pransci »ec


- Xa Serra d->
sãõ
• a ! '
Paulo: td. Nacional, 1
s^m^r ia Anhanguera.
rmns IBP. J.P. belts
SoHslo. Diário Carioca,
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O Bar.de 1 rar.tt
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: h .r
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são Paulo,
*
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<27) v*xnEK.Mustafá- & Bandeirantes . I lustrações Miltor. F.:n-
São Paulo, Atlca, 19&5 (Cctldian
-
dj i . .• ...
Carlos Bandelrantisao: verso é Hi st ór i > , 4
Luisa P.Blcci- Entradas e Bandeiras.
(Histeria
;
.
. ’

Ed. IMS <“° Frei®’ í : -V.r )


203.

CONCLUSÃO

"Tem oa pautiAtaA ttazõzA AobziaA paA.a


az dzAvanzczAzm do azu pa.oqa.zaa o zx-
zzpcionat z daA AuaA no btZZAAtmaA
tA.adiçozA"
BA.STLIO VE MAGALHAES
A partir do início do século XVIII teve início
construção de conhecimento histórico sobre as bandeiras. Os
primeiros documentos traziam
em seu bojo uma questão que se
traduzia pelas relações entre a Colónia e a Metrópole, ou me¬
lhor, entre os colonos que haviam descoberto o ouro e os rei
nois que vieram para explorã-los. Tinham uma função pragmáti¬
ca, a de fornecer subsídios para a administração portuguesa'
exercer o controle, nas regiões onde sua pressão se fazia sen
tir com mais força. Muitos desses documentos surgiram em res
posta ã solicitação direta das autoridades metropolitanas ,

e procuraram demonstrar que os conflitos surgidos na região 1

do ouro poderiam ser por elas controlados. A preocupação maior


se reflete na negativa quase geral, nos documentos, de algum

mérito aos descobridores das Minas. Esses documentos não ti¬

nham o objetivo de recuperar cientifica e historicamente '

os fatos relativos ã Guerra dos Emboabas e ãs lutas entre

paulistas e reinóis, como também não havia a preocupação de

resgatar historicamente o movimento bandeirista , nos tex¬

tos que compõem a coleção do Padre Diogo Soares. Também nes¬


tes havia uma orientação prática no sentido de dirigir a ela
boração de mapas e cartas geográficas, fornecendo para isso

relevante papel
pontos de referência. No entanto, foram de
deu informa¬
quando da elaboração do Tratado de Madrid, pois
do Tratado ,
ções seguras que permitiram a redação dos termos
Da mesma forma, foram impor¬
baseados no "uti possidetis".
composição histórica do bandeirante
tantes elementos para a
e desbravador dos sertões bem
como abridor de caminhos
citados.
os outros depoimentos
205.

Somente na segunda metade do século XVIII sur


giram as primeiras obras de
carater histórico formal. Foram
as obras de Pedro Tagues e Frei Gaspar e jã aí ficam muito '
mais evidentes as origens e os mecanismos que levaram ã sua
produção. As mudanças na composição social da cidade de São
Paulo, afastava de uma situação privilegiada os antigos "do
nos do poder", grupo do qual faziam parte quer pela sua pró¬
pria origem, quer pela sua consciência, aqueles dois autores.

Escritores sérios, que procuravam seguir rigorosamente as


orientações de método histórico que consideravam corretas
não mistificaram, não inventaram fatos históricos. Escreveram
sobre fatos verídicos, aos quais deram o significado que le¬
variam ã valorização de sua gente. Não foi mentirosa a pesqu_i

sa que realizaram em cartórios, arquivos, etc. e que pernú

tiram a elaboração de sua obra - mas a essa pesquisa deram


um encaminhamento que procurou garantir aos descendentes dos

sertanistas o lugar de proeminência, mediante uma interpreta¬


ção que os nobilitava de direito, como herdeiros da nobreza '
metropolitana, ou de fato, como conquistadores de terras e ho
mens membros de um grupo étnico habilitado para isso. Esses

autores transformaram-se em fontes para o estudo do bandei-

rismo, nos tempos que se seguiram. Por trás do conceito de

"raça de gigantes" formulado por Saint-Hilaire, percebe-se a


veemente descrição que Frei Gaspar fez dos mamelucos, a cera
gem e austeridade da aristrocacia , valorizada por Pedro Ta-

ques•
206.

A centúria que se seguiu ã


daqueles dois auto-
p ulistas trouxe novas questões
- como a da centralização
dos poderes na Corte do Rio
de Janeiro e a formação do Estado
Nacional. Os debates que proporcionaram levaram para
outras
direções a pesquisa histórica, abandonando a um segundo pla¬
no a figura do bandeirante.

Esta só iria renascer quando São Paulo, graças


ao cafe, veio ocupar um lugar de poderio económico, no conjun
to das províncias brasileiras. Durante o período final do
Império a força política deste estado não correspondia ã sua
pujança económica, fato que criava um profundo ressentimento
entre os políticos paulistas. A sua participação no movimento
republicano e a consequente instalação da República guinda
ram as lideranças de São Paulo ao centro do poder. O projeto
político que levavam era o da ideia de Federação que pensa¬
vam, permitiria que o estado se desenvolvesse de maneira mais
célere . A autonomia estadual, cerne daquela proposta, impli
cava também num projeto de hegemonia, que deveria caber ao

Estado mais poderoso economicamente. Assim, São Paulo passava


a formar o ponto axial do projeto nacional. Novamente , sua

história voltou a se identificar com a do Brasil, e mais uma

vez o movimento bandeirista tornou a ser o fulcro dos estu¬

dos de história paulista.

Historiadores ligados ã elite estadual deram

um grande impulso
aos estudos bandeiristas - retomaram
e Frei Gaspar, iniciaram a publicação de
obras de Taques
I (I 7 ,

ries documentais sobre a história de são Paulo (tOa-se, HO


bre o movimento bandeirista)
e surgiram as obras matrise,
dos grandes historiadores das
bandeiras: Alfredo Ellis Jr.
Taunay, Alcântara Machado, Paulo Prado. Estes
estudiosos oom
puseram um quadro das
bandeiras e do bandeirante , onde 1 e
forçaram as linhas já esboçadas pelos seus antecessores (io

final do século XVIII. Suas pesquisas levaram-nos ã const iu

çao da figura do bandeirante como um mestiço de"sub-raça supe


rior" , que havia aliado ãs qualidades do europeu , as virtu-'
des do índio, e que com serenidade, bravura e austeridade mm

quistara a maior parte do território que formava o Brasil.


I
Deram também a esse produto do conhecimento um sentido de

continuidade, de herança daquelas qualidades pelos habitantes

do estado.

A transposição da situação do bandeirante do

século XVII para a situação do paulista do século XX não foi


difícil, graças ao conhecimento que os histor 1 adoí eu i inli.im

produzido. São Paulo herdara os componentes do quadro ban

deirante, tanto que com seu espirito de iniciativa, com vã¬

lentia e arrojo, enfim com a alma bandeirante" construía o

seu progresso e o progresso do Brasil como um todo, puxando

o desenvolvimento dos outros estados, qual uma locomot iva o, o

reaava seus vagões. Isto lhe dava o direito de extrcct , no

bre eles, sua liderança.


208.

A
identificação, que os historiadores tornaram
possível, entre o bandeirante e o paulista do século XX, per
mitiu que aquele assumisse o papel
de símbolo de São Paulo.
Nele se intj/e^avam
não somente as qualidades que as lideran¬
ças de São Paulo atribuíam ao paulista, como também faziam da
historia de São Paulo, um processo unitário, onde não teriam
ocorrido soluções de continuidade. A idêia de integração e
de unidade - racial (no século XX com novos componentes - os
imigrantes), territorial - (ocupação de novos espaços, com o
café, por exemplo) ; económica (com o impulso que o crescimen
to de São Paulo dava ao Brasil), e finalmente, política, (re
presentada pela liderança que o estado pretendia exercer, nc
plano nacional).

Assim, toda vez que se sentia a necessidade de

manter a integração em torno de São Paulo, o bandeirante, não


mais como objeto de conhecimento histórico, mas como símbolo,
era lembrado. Isto aconteceu na Revolução de 1932, quando as
elites paulistas precisaram unir em torno do seu projeto po

lítico todas as camadas da população de São Paulo a idêia-


de unidade podia ser sintetizada no bandeirante. Aconteceu
também, num projeto político que lhe era oposto - o do Esta¬
do Novo O sentido do símbolo não mudou - era ainda o de into

gração a unidade - dessa vez, porém, numa outra direção cue

não o"federalismo hegemónico", mas o governo centralizador.


209.

É em relação ã mestiçagem que se encontra o


de águas entre Pedro
Taques e Frei Gaspar. Motivados,
po diferentes questões, Taques procurou a todo custo provar a
pureza de raça dos
paulistas, Frei Gaspar, ele mesmo mameluco
pretendeu mostrar, como resposta aos que atacavam os paulis -
tas, que a miscigenação, com o índio, ao contrário de conspur
car, tinha enobrecido o sangue português, com as virtudes in¬
dígenas, pois a "expe.4.Zêncía z>emp/te moAtrou que. OA ZndZvZduoA
deAta unZao reíuzem aqueZaA beíaA quaZZdadeA , que '
caracZerZzam em geraZ oa ZndZgenaA do BraiZZ, taZA como uma '
aZma AenAZveZ, bené^Zca e deAZntereAAada" Outras qualida¬
des são apontadas ainda pelo escritor santista: "Eram o A mame

Zucoa oa meíhoreA AoldadoA doA exércZtoA aAAoíadoreA dai mZA -


4Õe<s; eZe muZtaA vezeá ^oram oa che^eA dai ZropaA conquZiZado

raA e po*. eZeA mandavam acua paZA aZacar oa ZndZoA bravcA , por
conhecerem a Au^ZcZêncZa deAAeA ^ZZhoA baAtardoA, crZadoA na
guerra e acoAtumadoA ao trabalho, e por Zaao maZA robuAtoA e

maZA aptoA do que oa brancoA para Auportarem oa ZncÔmodoA doA

AertõeA" Reconheceu Frei Gaspar, embora sem citar indivi¬

dualmente, a origem mestiça de muitos chefes de tropas, con -


mas isto somente eleva a figura dos
forme se observa acima,
sertanistas, de quem traçou perfil tão positivo, ao descrever
do português com o indígena.
as vantagens do cruzamento

EELS, Fr, Gaspar, op. cit., p. 131


(61) - MADRE DE
(62) - ibidem.
Idem,
210.

* sociedade onde, de modo geral, grassavam


Preconceitos raciais, a posição
de Frei Gaspar não signi¬
ficava uma posição
isolada, pois refletia a tendência oficial
õpole em relação aos
mamelucos, conforme se vê no de-
to régio de 4 de abril
de 1755, que mandava que os descen
dentes dos casamentos entre
índios e brancos "Não fiquem com
tn^ãmta alguma, antei multo hãbeli pana oi cangoi dot> luga -
onde neildlnem não
^llhoi e dacendentci ,
menoi que ieui
o& quali f até tenão pne^enêncta pana quatquen empnego , honna
ou dignidade, iím dependência de dlipenòa alguma, ficando ou
tnoalm pnolbldo , iob pena de pnocedtmento , dan-i e-lhe o no¬
me de cabo cloi , ou outnoi 4 emelhantei , que ie poióam 'teputat
tnj untai oi" . 6

Apesar de aparente "li be 'ta í < dado " do pensamen

to de Frei Gaspar, e até mesmo do decreto régio, a arcensão


clara dos mamelucos não punha em risco nenhuma das institui¬

ções da sociedade estamental, que existia em São Paulo. Em ’


primeiro lugar, porque uma boa parte do estamento dominante,
que procurou assegurar a organização da sociedade, era oriun¬

da das uniões entre brancos e índios, inclusive Frei Gaspar

da Madre de Deus. Depois porque aos índios, não se podia, ofi


cialmente, imputar a mancha da escravidão, dado o reconheci¬

mento de sua liberdade civil. E como lembra Sérgio Buarque ’

de Holanda ”e cuntoio notan como algumai ciMaetctí.' hni.' c ‘

T~;7^^7sérgio Buarque, Raízes do Brasil. Pref. de Antônio Cândido


q
eu» * Rio de Janeiro: Jose Olympic, 1976, p.26 (rocunvntos
9a.
leiros, v. D
21 1 .

aluída* aoi noiioi .ndZgíMi ^


_
tua a^ão a todo
dzncta”,
tua " inUmpt^nça» , tou
zi ^o dUUpUnado, tua "Up^ -
3WÍO acoutuado pan at^da-
du antu pudatS^at quí paodutóvat
ajuttam-to do io^a ' -
bem p^ecZ^a
b/te4 ”, (64)
ao^ -tAadZcZonatá padecei de. vida da& danei no -

A mesma atitude, porém, não teve Frei Gaspar ,


em relaçao aos outros grupos sobre os quais recaiam as restri

çoes legais, pois se aceitava (embora negasse que todos os '


paulistas o fossem ) a mestiçagem mameluca, rejeitou a concor

rência de mulatos e negros na fundação de São Paulo, mesmo '


sem que essa concorrência tivesse sido apontada por Vaissette
ou Charlevoix, que falavam em "banZdoó de divenai nações , po-t

tugaei ei , -ita.Via.noi , hotandeiei ..." r mas silenciaram em

relação aos africanos e seus descendentes. Seria excesso de

prudência do frade paulista?

O que separa Frei Gaspar de Pedro Taques é a

valorização de uma nobreza paulista, cujas raízes se encontrava

em João Ramalho e Tibiriça, em Antonio Rodrigues e Piquerobi ,

que nao significou uma ruptura com o projeto da sociedade colo

nial, fundamentada na legislação portuguesa. Estavam os dois'


representantes do estamento do
na mesma posição de cronistas
cuidadosos dos possíveis riscos que ele poderia cor¬
minante
rer.

.
(64)

(65)
_ ^SSoS^'P^.Xapude,
"
hotaNDA,
9a?
do
Sérgio
ed., Rio de
Raízes do Brasil. Pref de Antônio Cândi-
Buargue,
Janeiro: Jose Olympio, 1976, p.25 (Documentos

MADRE DE DEUS, Fr
212.

Esses mesmos mecanismos se reproduzem com ou¬


tros temas históricos
- o aspecto cognitivo da História, acio
nado por questões que dizem
respeito a determinada realidade,
é manipulado até a
transformação do seu objeto num símbolo
para servir a interesses de grupos
dominantes, que pretendem
a integração dos grupos dominados,
aos seus projetos.

»
F
213.

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