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Atualmente bem sabemos que os chamados “novos movimentos sociais” possuem apenas algumas
características novas, desde as décadas de 1980 até os nossos dias. Eles apresentam sim, muita variedade,
algumas características, provavelmente temporárias; embora tenham em comum, algum sentimento de
moralidade que os leve a mobilizar- se individualmente, quer por algum ideal de (in)justiça, uma causa em
defesa de exclusão ou pela própria sobrevivência ou mesmo identidade (FRANK,1989). O sentido e a
importância dos movimentos sociais podem ser cíclicos, estando relacionado às conjunturas políticas, crises
econômicas, sociais ou mesmo de motivação ideológica; (FRANK,1989). portanto, aqui no ocidente, e
especialmente nos anos 2000 para cá estes movimentos sociais têm se configurado por colorações políticas e
ideológicas tanto dos setores de esquerda, tidos como mais progressistas, bem como, de conformação
conservadora e até tradicionais em defesa tanto da propriedade, como de aspectos morais, religiosos, contrários
à ciência, ao aborto, a favor do direito de porte de arma, como em atos de extrema direita, contra a imigração,
ao meio ambiente etc.
No Brasil, em especial nos últimos anos deste século XXI, temos testemunhado a ocorrência de diversos
movimentos sociais que tem cumprido sua finalidade de intervir no rumo das transformações sociais. Estes
movimentos têm operado tanto na defensiva quanto na ofensiva do desenvolvimento do capitalismo
contemporâneo, atuando como agentes de mudanças ou permanências sociais, muitas vezes a reboque dos
seus atores sociais, as motivações dos indivíduos e seus coletivos muitas vezes tem promovido a união de
militâncias comuns, ou a coalizão de alguns movimentos com outros, até mesmo o surgimento de conflitos de
uns como outros, o que merece estudo certamente.
Todavia, cada movimento social tece a sua caminhada, junto aos seus membros, o que se sabe, é que existe
uma autonomia, em geral dos seus militantes, o que por si, confere até uma certa alternância nas suas
lideranças, bem como, a necessidade de suas existências para demonstrarem as estratégias e ações que
poderão ou não tornar o movimento social definidor ou não de sua relevância para a própria construção de uma
sociedade que se quer democrática, onde o Estado político possa ser promotor de uma democracia civil para
uma sociedade civil plena(FRANK,1989).
Este terreno da militância, nos movimentos sociais por vezes tem de parecer escorregadio ao se
debruçar as vezes na história da vida privadas tão somente(um risco que se corre na análise de trajetórias), ou
ainda quando se quer tratar a história do engajamento militante, tão somente pelo viés da história pública, da
macro história ou da macro sociologia, desconsiderando as trajetórias ou contribuições dos sujeitos individuais e
suas capacidades de influenciar ou mobilizar outros seres ou recursos para suas atividades militantes.
Para alguns autores, no entanto, a história e memória da militância feminina (PERROT, Michelle.
1998; SOIHET, Rachel.2007; SCOTT, Joan. 1995; PRIORI, Mary Del.2012; entre outras), registram o preço
muitas vezes alto, pago por mulheres por seus percursos militantes, como castigos físicos, isolamentos,
clandestinidade, prejuízos familiares, afetivos, matrimonias nas diversas formas de organização e militância na
militância desde os séculos de Brasil – Colônia, e, sobretudo, nos anos de grande perseguições
governamentais, políticas, repressão policial, com encarceramentos, torturas e mortes.
Embora o sindicalismo tivesse sua origem desde os primórdios do capitalismo comercial, dos
movimentos do campesinato excluído da inserção social com o advento do trabalho assalariado, em especial, do
trabalho operário, os sindicatos foram ao longo da história do desenvolvimento do capitalismo ocidental,
podemos observar que o sindicalismo não possui a fluidez dos movimentos sociais outros, que detém
organizações mais fluídas, acontecimentos mais periódicos, até alternados com facetas múltiplas compostas por
períodos diversos e existências algumas perenes outras nem tanto, os sindicatos, assim como os partidos
políticos, atingiram um nível de organização e de estruturação burocráticas, que assumiram a própria lógica do
Estado.
Sendo que, no Brasil, os associativismos e mesmo sindicatos, ganharam de certos governos, como
Getúlio Vargas, certa interferência e normatizações, que em alguns casos os sindicatos, mesmo que classistas,
alçaram status de departamentos de governos, confundindo suas existências como que para controlar os
trabalhadores e não os representarem em mesas de negociação com os patrões, onde deveriam reivindicar
direitos e melhores condições de vida e sobrevivência dos seus filiados, o que acabou por fragilizar o movimento
operário e dos trabalhadores em geral.
Se por um lado, houve perversão na composição de algum sindicato de trabalhadores, contudo, não
podemos generalizar este fenômeno para o movimento sindical como um todo. Ao contrário, o sindicalismo
possui inegável relevância na representatividade das classes dominadas, que possuem pouquíssimos recursos
de representatividade, que possam lhe dar voz e lutar por seus direitos humanos e trabalhistas, constituindo
uma esfera política importante pois representa atores sociais, em destaque as últimas décadas do século XXI,
onde novas configurações mundiais nortearam o mundo do trabalho, com novos relevos de vasta diversidade,
onde se impuseram novas lógicas e relações precárias de trabalho, permeadas pelo uso das tecnologias, sob
novas configurações das condições e dos direitos laborais. O compromisso capital-trabalho foi imposto aos
trabalhadores como uma desigualdade que beira a barbárie.
Será também foco deste capítulo a consideração acerca da participação política, pois ao pensarmos em
movimentos sociais, na organização sindical, estaremos enfrentando o debate sobre a participação política,
concebida aqui como primordial para uma sociedade contemporânea capitalista, que defende as premissas dos
princípios democráticos como a seara adequada para uma sociedade que almeja alcançar o status de civilização
avançada e defensora de uma humanidade contida nas cartas constitucionais como iguais perante às leis, cristã
conforme seus registros que se querem cristãos – primados pela justiça fraterna. Este Estado moderno,
preconiza o direito ao acesso de todos os povos às riquezas produzidas, bem como, a preservação das
condições de vida e do meio ambiente do planeta, livre de depredações perversas e consumistas, onde os
recursos naturais como solo, água, flora, fauna, energias limpas renováveis sejam mantidos para o bem de toda
forma de vida na Terra.
Portanto, refletir sobre os movimentos sociais e sobre o sindicalismo é efetivamente assegurar o direito
a participação política para toda a sociedade civil organizada em prol do bem comum e da construção de uma
sociedade que se almeja democrática, para todo ser humano, para todo cidadão brasileiro seja de que etnia,
sexo, orientação sexual, condição política, do campo ou da cidade, seja deficiente ou não, gordo, idoso,
indígena, religioso ou não, branco ou não branco, pobre ou rico, estudado ou com direitos de estudar,
empregado ou merecedor de um trabalho digno.
Ainda sobre uma herança do sindicalismo corporativo de Estado, vários sindicatos firmaram posições
alinhadas aos governos contribuindo para a permanência do sindicato tutelado pelo Estado, onde oferecem
alguns serviços assistencialistas e distanciam-se do sindicato de coalisão, negociação ou mesmo de confronto,
paralisações greves e lutas mais estruturais onde reivindicam reformas e mudanças mais abrangentes. Neste
panorama ocorreram as grandes greves de 1978, no período militar, pelo país todo, inclusive no sindicalismo
docente, com destaque, porém, para os metalúrgicos do ABCD paulista: (Santo André, São Bernardo, São
Caetano e Diadema), sob a liderança de Luís Inácio Lula da Silva.
Todavia, o humor e as pressões dos governantes, no ano seguinte, em 1979 muito se modificou, com
repressão dura, prisões etc. Esta alteração de postura do Estado, inaugurou um avanço nas negociações
sindicais, para além da reivindicação salarial, na qual os sindicalistas alçaram às ações políticas de confronto,
numa perspectiva muito mais social sindical, em geral. Sem dúvida foram as mudanças políticas que
promoveram mudanças conjunturais nos paradigmas de ações e luta de parte dos sindicatos. As greves de
1980, alteraram a concepção e a atuação do mundo sindical brasileiro.
Na esteira da globalização econômica, no sindicalismo, a lógica neoliberal, também foi operada, no campo
sindical, onde a organização, embora visando o bem comum da categoria classista da categoria trabalhista à
qual representa, torna -se um espaço de disputas entre grupos às vezes divergentes nos métodos, para atingir o
fim que é o poder na direção da entidade, isto, muitas vezes marca o funcionamento da estrutura sindical. O
engajamento militante, bem como a atuação sindical, por vezes implica em arenas de negociação e embates
com o setor de governos, responsável por conceder ou não os itens de reivindicação da categoria trabalhista, no
caso, o magistério da educação básica, que envolve uma parcela populacional que abarca uma comunidade
escolar, que circunda o espaço escolar e as instâncias colegiadas professores, pedagogas, funcionários, pais,
alunos diretores de escola.
Nesse contexto, contemporâneo, no século XXI, em que o Brasil, no período pós crise de 2008 , na esteira
econômica mundial, deveras desfavorável, os governantes nacionais desde o ano de 2016, impulsionaram
ações tanto o governo federal e quanto o estadual promovendo uma série de medidas jurídicas, midiáticas e
políticas, numa campanha institucional de demonização das atividades sindicais em todo país. Foram cerceando
as contribuições dos trabalhadores, promovendo recadastramentos pessoais, entraves burocráticos, afim de
renovar a filiação e contribuição sindical de cada trabalhador junto ao seu sindicato. Este cenário tornou cada
vez mais difícil a sindicalização e participação dos trabalhadores, inviabilizando a mobilização sindical, e levando
ao sufoco a organização das camadas trabalhadoras.
De fato, “o chamado novo sindicalismo”, desalentou-se. Alguns sindicatos absorveram ainda mais uma
influência ideológica, política, policial e moral (BOITO,1994) A mídia, o poder judiciário, as reformas trabalhistas
aprovadas legalmente pelo parlamento brasileiro, em 2017, grande artífice do poder repressivo do Estado
Burguês, dos discursos religiosos e das campanhas ostensivas assumiram a tarefa de criminalizar os
movimentos sociais de origens populares, rurais e urbanos. Sendo que alguns setores das classes médias
assumiram as ruas desde 2013, aos domingos, nas principais capitais brasileiras e a cena dos movimentos
sociais, foi dividida ideologicamente; elevando o nível de divisão entre as populações nacionais: “ Nós e eles”:
“Direita contra Esquerda”.
Os sindicatos considerados mais progressistas, de atuação contestatória, em confronto com as políticas
econômicas de arrochos salariais, perda de postos e de condições de trabalho adotaram ações de pequenas e
breves manifestações, impulsionando pautas específicas, momentâneas no caso específico do Brasil, em alguns
casos, assumindo certo corporativismo ou mesmo alinhando-se aos governantes ou mesmo ao patronado.
Nesse processo podemos afirmar que as facetas do neoliberalismo acabaram por questionar, no campo
político as bases da democracia representativa. Nesse contexto, as pautas feministas, indígenas, LGBT+ foram
para as ruas refletindo sobre suas representações políticas e a estrutura da república federativa parece não
atender a maioria dos cidadãos eleitores e contribuintes de impostos do país. (CORONEL, 2014)
O sindicalismo docente, neste caso, da educação básica, representa um setor organizado na base de
uma categoria trabalhista de maioria feminina, professoras, pedagogas, funcionárias e diretoras de escolas, que
constituem cerca de oitenta por cento da população sindicalizada, mas que ainda se esbarra na presença do
protagonismo masculino, especialmente no mando, nos cargos de dirigentes sindicais.
Nesta seara é que ocorre a escolha do tema, sobre a participação política das mulheres, vindo ao
encontro de preocupações e questionamentos recorrentes a respeito das perspectivas das relações de gênero
no contexto do sindicalismo docente vivenciado em Londrina, norte do Paraná, na tentativa de buscar a
superação do preconceito, discriminação e das relações de poder presentes cotidianamente na sociedade, os
quais tanto desfavorecem as mulheres. Dessa forma, cabem, nesta presente análise, algumas considerações
em relação a esse conceito que naturaliza a inferioridade feminina, permeado pela lógica da dominação, que,
ainda na atualidade, parece estar imbricada na sociedade contemporânea, mesmo tendo havido diversos
movimentos de emancipação feminina nas últimas décadas em todo o mundo, a julgar pela leitura da obra de
Pierre Bourdieu (1995), “A dominação masculina”, que ilustra essa chave de interpretação sobre a história de
luta das mulheres. Essa desvalorização da identidade feminina oferece uma lógica calcada no conceito de um
habitus manifestado tanto nos discursos quanto nas práticas sociais, perpetuadas de forma recorrente, e que
impõem uma ordem de opressão às mulheres. Portanto, essa sistemática denota uma reprodução da
subordinação das mulheres diante do mando masculino, constatada no funcionamento interno das instituições e
entidades civis, como escolas, empresas e sindicatos. (FERREIRA, 2008).
Nessa perspectiva, sabe-se que, embora alguns avanços tenham ocorrido na conquista de direitos civis
e humanitários, na prática, as políticas públicas destinadas à inserção das mulheres nos diversos postos de
trabalho, no acesso à educação pública, ao atendimento médico, às filiações partidárias e sindicais, a postos de
chefias em instituições públicas e ou privadas permanecem mantendo as mulheres em situação de
desvantagens. Observa-se que na dimensão mesma das relações sociais, econômicas, políticas, culturais e
trabalhistas as mulheres têm sido submetidas à hierarquia de poder, que acabam por desmerecê-las:
Na abordagem apontada por Scott, a proposta desta pesquisa será a análise da participação das
mulheres nesse cenário combativo e adverso que se faz presente no âmbito nacional, estadual e municipal.
Tendo como lócus de pesquisa o movimento sindical local, investigaremos o ativismo feminino no âmbito da
educação básica: este estudo centrará sua consideração na relevância dessa história, a partir de um recorte
dado sob a análise das transformações nas políticas públicas, sobretudo após a Constituição Federal de
05/10/1988, carta chamada de cidadã, por instaurar novos olhares sobre os direitos humanos, trabalhistas e
sobre o papel do Estado, como um instrumento protetor destes direitos, pós os vinte e um anos da ditadura
militar (1964-1985), período de franco recrudescimento do desenvolvimento humano, sobre vários aspectos
sociais. No campo do sindicalismo docente no Estado do Paraná, os números apontaram uma maioria feminina
e as práticas sindicalistas ocorridas nas últimas décadas no contexto de Londrina-Paraná mantiveram essa
realidade.