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FLORIANÓPOLIS
2009
ALEXANDRE GUILHERME LENZI DE OLIVEIRA
FLORIANÓPOLIS
2009
Desafio
No laço de chegada,
que fica sempre além,
e ainda mais além,
e sol não se põe nunca,
para vestir de ouro os que tiveram pata
The world increasing demand for animal-derived food products, based on pasture production,
demonstrate the tendency of consumers for products that has biologic quality with no injury
for the environment, protecting natural resources, and promoting animal welfare. In this
mean, pastures have been economical and environmental importance that can be easily
characterized because represent the basis for production systems for ruminants. However, the
conceptual model that operates animal production on pasture, based on continuous or rotative
grazing systems, nevertheless linked to high nitrogen doses, has been demonstrated to be bio-
economical inefficient. It is find, consequently, the necessity to turn out the productive
systems more economical competitive and viable, once the animal production, in Brazil, still
presents very low production rates, mainly caused by feeding deficiencies, in quality and/or
amount. Focusing on sustainability the management turns the mainly factor for pasture
maintenance and perennial, that will be used, and for this reason, for the conduction of
grazing animals. For this scenario to take place, VOISIN postulate four basic law, being the
first in relation to the adequate rest time that allow the plant to store in the root enough
reserve for a new and vigorous regrowth. So, the second law emphasize that the total time of
animal’s permanence in the paddock should be short enough to avoid that the plant could be
grazed more than once, in the same Occupation Time. The third law look for the Maximum
Yield, so it is needed to help the animals that have the highest nutritional requirements,
contributing to then to have a higher forage voluntary intake, both quantitative and
qualitative. The fourth law search for the equilibrium, through the Constant Yield, in this
meaning the animals should not remain more than tree days in the same paddock. To get
success on rational management of pastures, one should use an essential tool, and this is
about the Optimum Point of Rest, where the growing stage of the plant is at the ideal
moment to be consumed, has a good development of root system with enough reserves for a
new regrowth and the aerial part has a good leaf area index, composed by tender leaves, not
lignified stem and absence of dead material. The Art of Know How to Jump, refers to the
human ability, that commands the grazing, to identify, choose and utilize the paddocks that
has achieved the optimum point of rest, independently of it’s localization on pasture. The
correct grazing management could have a beneficial influence on the nutrient recycling
process, creating a favorable ambient for the biocenosis development. To obtain an active
biocenosis it is necessary a good source of food for the soil microorganisms and one of the
most efficient ways could be done by the uniform distribution of animal’s excrement on
pasture. The fertility spot emerges, where the forages grow abundantly and with high
nutritional values. With the time the tendency is that this fertilities spot don’t detach
anymore, by the fact of a homogenization of soil fertility, influencing all pasture area.
Therefore the Voisin Rational Grazing is an efficient tool on pasture utilization, because
through the rational management, besides to promote the animal welfare, it has been
promoting substantial increasing on soil natural fertility, turning the pastures perennial and
productive, reflecting best results for animal production.
Keywords: Intake. Voisin Grazing. Animal production. Forage quality.
LISTA DE FIGURAS
Foto 1 No primeiro plano piquete em rebrota; ao fundo a direita, piquete logo após a
saída dos animais; ao fundo a esquerda, piquete em ponto ótimo de repouso ..... 37
Gráfico 1 Ganho médio diário de novilhos Nelore em função da altura do pasto .......... 41
Quadro 2 Planta inteira pastoreada por novilhos comparada com pastoreios das
partes altas e das partes baixas, Virginia, 1958 .............................................. 29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Médias dos conteúdos de proteína bruta (PB) e digestibilidade “in vitro”da
matéria orgânica (DIVMO) em amostras simulando o pastoreio animal, nos
períodos das águas e da seca ............................................................................. 31
Tabela 3 Teores médios de proteína bruta e digestibilidade “in vitro” da matéria seca
de folhas verdes em pastagens de capim-elefante submetidas a diferentes
períodos de ocupação durante uma seqüência de dias de pastoreio – época
chuvosa ............................................................................................................. 35
Tabela 4 Conteúdo de proteína bruta (PB), digestibilidade “in vitro” da matéria seca
(DIVMS) e consumo voluntário da matéria seca (CVMS) de capim-colonião
(Megathyrsus maximus Jacq.) ........................................................................... 38
Tabela 7 Porcentagem dos nutrientes retornados via urina e bosta pelos animais em
pastoreio ............................................................................................................ 50
LISTA DE ABREVIATURAS
an animal
C Carbono
cab cabeça
cm Centímetro
CNE Carboidratos não estruturais
CVMS Consumo voluntário de matéria seca
DIVMO Digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica
DIVMS Digestibilidade “in vitro” da matéria seca
FDA Fibra em detergente ácido
FDN Fibra em detergente neutro
g Grama
ha hectare
IAF Índice de área foliar
IL Interceptação de luz
kg kilograma
Mcal Megacaloria = 1.000.000 cal = 1.000 kcal
MO Matéria orgânica
MS Matéria seca
N Nitrogênio
NRC National Research Council
P Fósforo
PB Proteína bruta
PRV Pastoreio Racional Voisin
PV Peso vivo
UA Unidade animal, equivalente a 450 kg de peso vivo.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
2 DESENVOLVIMENTO DO TEMA ............................................................... 18
2.1 Leis universais do pastoreio racional Voisin ................................................... 18
2.1.1 Tempo de repouso ............................................................................................... 19
2.1.2 Tempo de ocupação ............................................................................................. 25
2.1.3 Rendimentos máximos ........................................................................................ 28
2.1.4 Rendimentos regulares ........................................................................................ 34
2.2 Ponto ótimo de repouso ..................................................................................... 37
2.3 A arte de saber saltar ........................................................................................ 42
2.4 O modelo estático .............................................................................................. 44
2.5 A vida ativa do solo ........................................................................................... 46
2.5.1 Distribuição espacial dos excrementos ............................................................... 48
2.5.2 As manchas de fertilidade ................................................................................... 52
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 55
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 57
14
1 INTRODUÇÃO
pastagens a principal fonte de nutrientes do rebanho, pois é a forma mais prática e econômica
de alimentação dos bovinos (SOUZA et al., 2005).
Entretanto, o modelo que vigora na produção animal em pastagens, baseado no
sistema de pastejo contínuo ou no rotativo, porém atrelado a altas doses de nitrogênio, tem se
mostrado ineficiente do ponto de vista bioeconômico.
Segundo Corsi e Aguiar (2003), a produtividade animal das pastagens tropicais é de,
aproximadamente, 150 kg/ha/ano e no bioma1 campos sulinos é de 60-70 kg/ha/ano
(CARVALHO et al., 2006).
Esses resultados são reflexos da flutuação estacional que ocorre nas pastagens ao
longo do ano, onde os animais chegam a perder 50% do peso obtido durante a estação de
crescimento das forrageiras. Todavia, os índices podem ser melhorados pelo aumento do
ganho de peso individual e, principalmente, pelo incremento de sua capacidade de suporte.
Verifica-se, assim, a necessidade de tornar os sistemas produtivos mais competitivos e
viáveis economicamente, uma vez que, a produção animal, no Brasil, ainda apresenta índices
de produtividade muito baixos, em virtude, principalmente, da deficiência na alimentação,
seja em quantidade e/ou qualidade, ao longo de todo o ano.
Hodgson (1990) sugere algumas condições básicas que devem ser atendidas para que
se possa alcançar alta produção animal em pastagens, a saber: a) alta produtividade da
forragem com bom valor nutritivo e boa distribuição estacional; b) elevado consumo animal
voluntário; c) elevada conversão alimentar pelos animais.
Com o enfoque de sustentabilidade o manejo passa a ser o principal fator para a
manutenção e perenidade dos pastos, a ser utilizado e, por consequência para a condução dos
animais em pastoreio.
O manejo eficaz da pastagem permite que haja melhor aproveitamento da forragem
por parte do animal, possibilitando um aumento substancial na produtividade do sistema. Para
isto, é necessário que se tenham conhecimentos básicos da dinâmica de crescimento2 e
desenvolvimento3 das plantas forrageiras.
1
Bioma - é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história
compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004).
2
Crescimento – aumento irreversível de tamanho que, frequentemente, mas não necessariamente, é
acompanhado de um aumento de matéria seca. É um processo quantitativo (VIANNA, 1972).
3
Desenvolvimento – ocorrem modificações de ordem anatômica e morfológica que caracterizam a
especialização para determinadas funções. É um processo eminentemente qualitativo (VIANNA, 1972).
16
4
O ecossistema pastoril é uma unidade funcional e dinâmica, na qual os componentes do ambiente interagem,
ocorrendo fluxos de energia e nutrientes, com reflexos nas comunidades de plantas e animais, produto das
inter-relações existentes (LENZI; PINHEIRO MACHADO, 2003).
17
2 DESENVOLVIMENTO DO TEMA
Para que uma forragem pastoreada pelo animal possa dar o seu máximo
rendimento, é necessário que, entre dois pastoreios sucessivos, haja ocorrido um tempo
necessário, que possibilite a planta:
a) armazenar em suas raízes, reservas suficientes para um início de rebrote
vigoroso.
A remoção da parte aérea, pelo corte ou pastoreio, representa um estresse para as
plantas, cuja magnitude depende da intensidade (GOMIDE et al., 2002) e frequência da
desfolha a que a planta é submetida (CORSI; MARTHA JÚNIOR; PAGOTTO, 2001). Estes
autores sugerem, ainda, que à medida que se aumenta o número de folhas expandidas antes do
corte, há incremento na matéria seca da raiz.
Isso demonstra que plantas colhidas (mais frequentemente) com intervalos
insuficientes têm seu sistema radicular comprometido, uma vez que o estresse da desfolha
precoce e muito intensa promove mobilização de reservas das raízes para recuperação da área
foliar (MARTUSCELLO et al., 2005), sem o necessário tempo para a recomposição do
sistema de reservas.
20
À medida que as folhas novas são iniciadas a partir do meristema apical do colmo, as
folhas mais velhas muitas vezes são sombreadas e perdem a capacidade de funcionar
eficientemente no processo fotossintético (VEIT, 2009). Podemos ter inclusive, situações em
que várias folhas encontram-se em ponto de compensação5 e folhas situadas mais abaixo que
são “parasitárias”, efetuam a respiração, mas não recebem luz suficiente para efetuar a
fotossíntese (VIANNA, 1972), ou já se encontram em processo de senescência.
Assim, a rebrota das plantas fica, num primeiro momento, a mercê dos carboidratos
não-estruturais (CNE). Dawson, Grayston e Paterson (2000) salientam que o maior beneficio
das raízes é a capacidade de mobilizar substâncias de reservas para o desenvolvimento da
parte aérea da planta em momentos de rebrota. De modo geral, logo que a planta inicia a
rebrotação e há aumento do índice de área foliar (IAF), as reservas não atuam mais como
fonte de energia para a rebrotação e passam novamente a ser acumuladas (DA SILVA;
NASCIMENTO JUNIOR; EUCLIDES, 2008).
Vincenzi (1994) concluiu sobre alguns aspectos fundamentais no manejo dos pastos
principalmente visando à persistência. Segundo o autor fica evidente a necessidade de repouso
para que o sistema radicular não se debilite. Logo quanto maior o tempo de repouso, mais
vigoroso, mais abundante, mais profundo, mais ativo será o sistema radicular. Períodos de
repouso curtos são insuficientes para a recuperação do sistema radicular e acabam
debilitando-o, por isso o pastoreio rotativo só é eficiente utilizando-se períodos de repouso
adequados.
Nesse sentido, é essencial um tempo de repouso apropriado, justamente para permitir
que as raízes tenham reservas suficientes para auxiliar a parte aérea no rebrote, sendo este
tempo variável de acordo com a espécie forrageira, a intensidade de pastoreio e as condições
edafoclimáticas, que variam dia-a-dia.
Kerber (2005), trabalhando com PRV, verificou que houve um incremento significativo
da matéria seca da raiz por hectare na camada superior do solo [0-5 cm]. Esse aumento
significativo no sistema radicular foi ocasionado pela mudança no manejo de pastoreio dos
animais, ampliando o volume de solo explorado pelas plantas, a fim de possibilitar maior
absorção de nutrientes, capacidade das plantas em armazenar (CNE), área de atuação da rizosfera
e de deposição de materiais orgânicos, além de aumentar a qualidade ambiental.
5
Ponto de compensação – é uma intensidade luminosa de tal ordem que acarreta, no vegetal, uma igualdade
entre a fotossíntese e a respiração (VIANNA, 1972).
21
Figura 1 – Representação gráfica do crescimento aéreo e a mobilização de carboidratos não-estruturais nas raízes
da alfafa.
Fonte: Blaser (1994).
Sarmento et al. (2008) também salientam a importância do período de repouso para o bom
desenvolvimento das pastagens, contribuindo também para a descompactação do solo pelo
crescimento do sistema radicular, durante a rebrotação da forrageira.
A evolução dos diversos processos fisiológicos da produção primária (fotossíntese,
respiração, perfilhamento, expansão e senescência foliares) sofre alteração ao longo do
período de repouso, o que também influencia as características estruturais do dossel e o valor
nutritivo da forragem (CÂNDIDO et al., 2005).
O crescimento da forragem pode ser melhor observado e representado por meio de
uma curva sigmoide que acompanha o rebrote do pasto (Figura 2) e mostra que o mesmo não
produz sua máxima intensidade diária, até que transcorra um período de repouso suficiente,
para que as suas reservas radiculares se expressem (BONNER; GALSTON, 1952;
MAGALHÃES, 1985; EMMICK; FOX, 1993).
Sobre-pastoreio
Pastoreio Pasto passado
Matéria seca (%)
Figura 2 – Curva sigmoide que expressa o rebrote do pasto, para as condições da Austrália.
Fonte: Adaptado de Sounness (2004).
Para que ocorra esta fase de expansão foliar é necessário que a planta tenha
crescimento linear, sem interrupções. Tal fato levou Corsi (1994) a concluir que é de extrema
importância o período que Voisin (1974) denominou de “labareda de crescimento”, seja
atingido no menor espaço de tempo após o pastoreio, mas para que isto aconteça é primordial
que se tenha, elevada eficiência fotossintética, por parte da planta, havendo formação de
23
folhas novas, contribuindo na captação da energia solar e este índice de área foliar que,
realmente atua favoravelmente na taxa de acúmulo de forragem.
A intensidade do rebrote aumenta, até chegar ao ponto ótimo de repouso6, quando o
pasto deve ser consumido pelo animal. É inconveniente o pastoreio após o ponto ótimo de
repouso, pois não se obterá o máximo rendimento da pastagem e a sua qualidade decresce
com o incremento do conteúdo de parede celular, isto é, da lignina.
No entanto, se é permitido ao animal pastorear a forragem antes do período necessário
de repouso, estará sendo infringida a primeira lei, pondo em risco a perenidade da pastagem, a
qual não terá tempo suficiente, antes do próximo pastoreio, para acumular em suas raízes as
reservas para obter um rebrote vigoroso, manutenção e desenvolvimento (VOISIN, 1974).
Após o pastoreio, ocorre a produção de novos afilhos, folhas e raízes que provêm da
fotossíntese ou de reservas orgânicas previamente acumuladas nas raízes e pontos de crescimento
durante o intervalo entre pastoreio. Deste modo, o sistema de pastoreio deve ser adotado visando
proporcionar à planta forrageira condições para uma rebrota rápida e vigorosa (KLAPP, 1971).
A pastagem necessita de um período adequado para se refazer do último pastoreio.
Entretanto, se este tempo é reduzido gradativamente, chegando a ser quase nulo, pode-se
comprometer o desenvolvimento da forragem, levando-a a um colapso. Ocorrendo então, o
fenômeno que Voisin (1974) denominou de “aceleração fora do tempo”.
Vale lembrar que o impacto negativo que se produz no sistema radicular, ao dar-lhe
pastoreio antecipado ao ponto ótimo de repouso, é irreversível e muito superior ao ocasionado
quando se pastoreia uma forragem em estágio de desenvolvimento avançado (KLAPP, 1971).
As plantas forrageiras tropicais têm crescimento muito rápido e têm grande sensibilidade à
formação de parede celular, que é composta principalmente por lignina tornando a forragem mais
resistente, o que, como consequência para o animal, trará dificuldade de mastigação, ruminação e
fermentação pelos microrganismos do rúmen (DOVE, 1998).
Sob o aspecto de manejo, isto significa que o ponto ótimo de repouso, quando se
obtém a melhor qualidade nutritiva do pasto, tem curta duração, demandando assim, maior
atenção e observação no uso dos piquetes.
Euclides (2005) assinala os resultados de trabalhos recentes sobre o manejo das pastagens
de gramíneas tropicais, mostrando que a manutenção de alta produtividade de forragem de boa
qualidade só é alcançada quando se procede ao monitoramento capaz de assegurar equilíbrio
6
Ponto Ótimo de Repouso – Voisin (1974) chamou de ponto ótimo de repouso da pastagem, quando esta se
encontrava no momento de ser pastoreada e cuja identificação para a entrada do gado é um fundamento básico
do manejo racional dos pastos. A planta, ao longo da curva sigmoide, não tem apenas mudanças quantitativas,
mas também qualitativas, que interferem na produção.
24
perfeito entre o crescimento, a senescência da planta e o seu consumo pelos animais. Em outras
palavras, quando se respeitam os tempos adequados de repouso e ocupação.
Como revela o trabalho de Barbosa (2004), que mostrou serem os intervalos fixos
entre ocupações ou pastoreios limitantes, para a prática do manejo rotacionado. Pedreira;
Pedreira; Da Silva (2007) salientam que os métodos tradicionais de uso de estratégias de
pastoreio baseadas em calendário para colheita de gramíneas tropicais, com períodos fixos e
predeterminados de rebrotação, são inflexíveis e generalistas ao extremo.
Voisin (1974), Klapp (1971) e Pinheiro Machado (2004) em três obras clássicas já
salientavam a importância de tempos de ocupação e repouso variáveis, obedecendo às
condições edafoclimáticas, de maneira a não prejudicar o bom desenvolvimento das plantas,
bem como, permitir ao animal uma colheita de forragem em quantidade e qualidade, sempre
comandada pelo humano.
Estudos recentes com base no uso da interceptação de luz (IL) como forma de
controlar e monitorar o processo de pastoreio têm demonstrado resultados promissores, pois
sugerem que essa técnica pode contribuir para a otimização da produtividade de sistemas de
produção animal em pastagens (DA SILVA, 2004; CARNEVALLI et al., 2006).
Parsons e Penning (1988), apontaram que o melhor balanço entre fotossíntese,
produção e senescência para o pastoreio rotativo são obtidas quando a forragem é colhida ao
atingir a máxima taxa de acúmulo líquido, conforme se observa na Figura 3.
Figura 3 – Balanço entre a taxa de fotossíntese bruta, respiração, senescência e a taxa de acúmulo líquido de
forragem em um pasto de azevém perene durante rebrotação.
Fonte: Adaptado de Parsons (1980 apud SBRISSIA; DA SILVA, 2007).
25
7
Forragem disponível – porção da massa de forragem, expressa como peso ou massa por unidade de área, que
está acessível para o consumo dos animais (PEDREIRA, 2002).
26
Para que o tempo de ocupação seja o mais breve, é necessário se utilizar alta carga
instantânea8, onde o animal consuma a forragem disponível no menor tempo possível e de
maneira uniforme, mas sempre se mantendo uma resteva que não deixe o solo exposto e tão
pouco comprometa nova rebrotação.
No PRV, as altas cargas instantâneas colaboram para que os animais exerçam boa
eficiência de pastoreio, aproximadamente de 75% (PINHEIRO MACHADO, 2002).
Klapp (1971) afirma que no sistema de pastoreio condicionado (como foi chamado por
ele o pastoreio rotativo racional) e com boas pastagens, serão consumidos, mais de 70% da
forragem disponível, podendo esta percentagem, em casos favoráveis, ir a mais de 90%. Por
sua vez (MOTT, 1968 apud KLAPP, 1971) estima esta eficiência de pastoreio entre 72% a
86% da forragem em boas condições de pastoreio.
Já Pinheiro Machado Filho9 (2003), em pesquisa sobre PRV realizada na
Universidade de British Columbia, Canadá, encontrou eficiência de pastoreio de 66%,
trabalhando com gado leiteiro e carga instantânea de (67 UA/ha), pelas condições em que se
realizou o experimento, especialmente porque os animais objeto do experimento tinham sido
criados em confinamento e “não sabiam pastar”.
Vale ressaltar que esta carga animal é baixa, em relação à mínima preconizada por
Pinheiro Machado (2002) que é de 200 UA/ha. Com a utilização de baixas cargas instantâneas
permiti-se que os animais exerçam certa seleção na sua dieta alimentar, consequentemente
diminuindo a eficiência de pastoreio.
Pela situação de subpastoreio que é criada quando utilizamos baixas lotações,
acabamos interferindo negativamente na eficiência de pastoreio, o que é comum no sistema de
pastejo contínuo, onde se tem variação de 20 a 25% (VINCENZI, 2002) pelo comportamento
seletivo exercido pelo animal ao consumir a forragem.
Da Silva e Nascimento Junior (2007) citando Hodgson (1976) que propôs o conceito
de oferta de forragem e demonstrou que o consumo era maximizado quando a oferta
correspondia de três a quatro vezes a capacidade de ingestão do ruminante. Entretanto, nessa
condição, apenas 25 a 33% da forragem ofertada seriam consumidos como forma de assegurar
a máxima ingestão de forragem, sendo os 67 a 75% restantes perdidos na forma de
senescência e material morto acumulado na base dos pastos, ou seja, conforme os autores
acima, baixa eficiência de utilização.
8
Carga instantânea – relação entre o número de animais ou de unidades animais (UA) e a área da unidade de
manejo por eles ocupada, medida num ponto específico do tempo (portanto, uma medida instantânea).
Também chamada de lotação instantânea (PEDREIRA, 2002).
9
Informação Pessoal.
27
Braga et al. (2007) concluíram que à medida que houve aumento da oferta de forragem
apresentava-se como consequência aumento contínuo da taxa de desaparecimento de
forragem, ao contrário da eficiência de pastejo que decresce exponencialmente.
Estes dados mostram a importância do manejo sobre a eficiência de colheita. Para
Hodgson (1990), este é responsável por 40 a 80% da produção animal em pastagens.
Lemaire e Agnusdei (1999) indicam que a eficiência do uso da forragem, em sistemas
de pastoreio, deve ser analisada, não apenas num ponto central, com objetivo à maximização
da relação forragem produzida e forragem consumida, mas também de assegurar a
persistência dos recursos forrageiros existentes.
Do ponto de vista prático, para esse evitar o pastoreio do rebrote da pastagem num
mesmo tempo de permanência, o mesmo não deve exceder, segundo a espécie forrageira e a
época do ano, a um ou dois dias, usando-se altas cargas instantâneas, propiciando um
consumo rápido e uniforme da forragem.
Cóser et al. (1999) verificaram que as produções de leite foram bastante uniformes
com um dia de pastoreio, pelo fato de a utilização da forragem disponível em um dia
proporcionar uma qualidade média uniforme, minimizando o pastoreio seletivo.
Trabalhando em pastagens tropicais, Santos et al. (2005) observaram que ocorria
queda significativa na produção de leite a partir do terceiro dia de ocupação. Todavia, era no
segundo dia de ocupação que a produção era superior numericamente, pela melhor qualidade
da forragem ingerida no início de ocupação do piquete, composta principalmente por lâminas
foliares, porção mais nutritiva da forragem.
Espera-se que ocorra comportamento semelhante na produção animal em sistemas de
criação de gado de corte, à medida que aumente o tempo de permanência dos animais nos
piquetes. Isto é, que haja, redução no ganho de peso, uma vez que a produtividade animal é
uma função direta do consumo de nutrientes digestíveis.
Em consequência a períodos mais longos de permanência nos piquetes, maior será a
quantidade de forragem desperdiçada e menor será a qualidade da alimentação disponível,
reduzindo a forragem colhida, influenciando negativamente no desempenho animal
(EMMICK; FOX, 1993).
As mudanças ocorridas na pastagem ao longo do período de ocupação dos piquetes
são desfavoráveis à seleção da forragem preferida, uma vez que há redução dos tamanho dos
bocados e aumento do tempo de pastoreio e da taxa de bocados (BRÂNCIO et al., 2003).
28
Tal fato pode ser explicado pela melhor relação folha/colmo encontrada nos estratos
superiores das forrageiras, resultando em melhor qualidade, conforme observação feita por
Paris (2006).
30
Tabela 1 – Médias dos conteúdos de proteína bruta (PB) e digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica
(DIVMO) em amostras simulando o pastoreio animal, nos períodos das águas e da seca.
Cecato et al. (1985) verificaram que a altura de corte em pastejo contínuo, como sendo
um dos fatores que influencia a composição bromatológica da forrageira, uma vez que cortes
ou pastoreios mais baixos proporcionam a colheita de materiais fibrosos e com menor teor de
proteína bruta.
No pastejo contínuo, o animal tem maior oportunidade de seleção, e a forrageira
rejeitada continua decrescendo em qualidade. Nesse caso, a pastagem disponível será uma
combinação da rebrota e da forragem recusada.
Nesse aspecto, vale mencionar a afirmativa de Corsi (1994) que o pastoreio rotativo,
parece ser mais benéfico do que o sistema contínuo para garantir produtividade, qualidade e
reduzir a seletividade pelo animal.
Segundo Carvalho, Canto e Moraes (2004), o aumento na intensidade de pastoreio em
decorrência do aumento da lotação no sistema de pastejo contínuo, menor quantidade de
32
forragem fica disponível para cada animal, instalando-se uma competição pelo alimento, e a
forragem ingerida é apenas para mantença.
No entanto, Pinheiro Machado Filho (1999) salienta que com altas cargas instantâneas
em PRV, os animais passam de seletivos a vorazes, pelo aumento na competição alimentar,
mas sem alterar a produção (SILVEIRA, 2002), principalmente pelo alto valor nutritivo
encontrado na forragem.
Essa melhor qualidade da forragem no PRV se deve a melhor relação folha/colmo que
existe no momento em que a planta deve ser pastoreada, onde há participação mais expressiva
de folhas jovens e tenras, contribuindo para que as mesmas tenham boa composição química e
alta digestibilidade.
De maneira geral, as plantas perdem seu valor nutritivo com o avançar da idade pelo
aumento da lignificação e pela diminuição na relação folha/colmo. A relação folha/colmo,
portanto, deve ser utilizada como índice de qualidade da forrageira (VAN SOEST, 1994).
Stobbs (1973a) ressaltou que não só a massa de forragem, como também a proporção
de folhas, é uma característica favorável ao consumo, determinando o rendimento animal. Em
pastagens tropicais, o consumo máximo ocorre quando os animais estão em pastagens com
alta densidade de folhas acessíveis ao animal (GENRO, 1999; GONTIJO NETO, 2003).
Portanto, práticas de manejo que procuram manter maior proporção de lâminas
foliares na pastagem podem determinar aumento na qualidade nutritiva da forragem e maior
consumo voluntário (Figura 5).
Figura 5 – Relação entre a altura do dossel forrageiro e a profundidade potencialmente pastejável em pastos de
azevém perene.
Fonte: Adaptado de Hodgson (1990).
33
Tabela 2 – Comparação das respostas dos grupos de desnate e repasse obtidos em pastagem consorciada de
gramínea e leguminosa
Pereira Neto, Lobato e Simeone (1999), trabalhando com novilhas de corte em campo
nativo melhorado, observaram que o sistema de pastoreio com dois lotes proporcionou peso
vivo (PV) significativamente maior para as novilhas do lote de desnate em relação ao de
repasse.
Esse manejo permite maximizar a produção animal pela elevada carga e alto
desempenho individual (PINHEIRO MACHADO et al., 2000), tornando assim, o manejo da
pastagem cada vez mais eficaz.
É necessário que haja regularidade na produção. Para isso, deve-se levar em conta:
para que um animal possa dar rendimentos regulares é preciso que este não
permaneça por mais de três dias em um mesmo piquete. Os rendimentos serão máximos,
se o animal não permanecer por mais de um dia no mesmo piquete.
De fato, um animal alcança o máximo rendimento no primeiro dia de pastoreio, e os
rendimentos vão diminuindo à medida que o tempo de permanência em cada piquete aumenta
(BLASER, 1994).
Segundo Pinheiro Machado (2004), os rendimentos vão diminuindo à medida que o
tempo de permanência em cada piquete aumenta, particularmente, em condições tropicais e
subtropicais.
Ao analisar um sistema de pastoreio rotativo com três dias de ocupação, observa-se
que o valor nutricional do pasto é elevado durante os primeiros dias e pior ao final do período
de ocupação (GARCIA et al., 2004).
Em trabalhos realizados por Van Der Molen e colaboradores, citados por Klapp (1971)
mencionam resultados segundo os quais o teor proteico da forragem consumida em três dias
de pastoreio baixou de 16,8 para 6,5%.
Lopes et al. (2004), trabalhando com pastagem de capim-elefante (Pennisetum
purpureum cv. Schumack) sob pastoreio rotativo, com período de ocupação de três dias por
piquete, observaram que para cada dia adicional de ocupação ocorreu um decréscimo de 2,1%
no teor de proteína bruta e um aumento de 2,7% de fibra em detergente ácido (FDA) e 1,8%
de fibra em detergente neutro (FDN) nas amostras coletadas.
35
Tabela 3 – Teores médios de proteína bruta e digestibilidade “in vitro” da matéria seca de folhas verdes em
pastagens de capim-elefante submetidas a diferentes períodos de ocupação durante uma sequência de
dias de pastoreio – época chuvosa
Observa-se que com o aumento no tempo de ocupação dos piquetes, houve decréscimo
linear nos teores proteicos e na digestibilidade da forrageira, à medida que aumenta a
permanência dos animais nos piquetes ocorre queda no valor nutritivo da pastagem,
diminuindo a taxa de ingestão voluntária de forragem, consequentemente havendo reflexos
negativos na produção animal.
Pinheiro Machado (2004) afirma que, para o uso eficiente da pastagem, deve-se
trabalhar com a técnica de desnate e repasse, e deste modo maximizar a produção. Além da
utilização de uma alta carga, que resulte em alta produtividade por área, é possível também
obter alto desempenho individual em um grupo de animais, o de desnate, que é beneficiado
por realizar seu ciclo de pastoreio em um momento em que a forragem apresenta alta
qualidade e disponibilidade. Por outro lado, para que não se desperdice alimento, o repasse é
absolutamente imprescindível.
A desfolhação por meio do pastoreio é relativamente uniforme, sob sistemas de
manejo nos quais altas densidades animais são utilizadas nas pastagens e, por períodos curtos
de tempo (FAVORETTO, 1993).
Conforme analisaram Deresz et al. (1994) em sistema de pastoreio rotativo, devem-se
usar altas taxas de lotação, buscando assim melhor aproveitamento do potencial produtivo do
pasto, em um curto período. Bertelsen et al. (1993) relataram aumento de 42% na taxa de
lotação, sem diminuir os ganhos por animal em pastagens de alfafa (Medicago sativa L.),
festuca (Festuca arundinacea Schreb.) e capim dos pomares (Dactylis glomerata L.). O
36
aumento do ganho individual dos animais, assim como a maior capacidade na taxa de lotação,
pode ser pelo aumento da produção forrageira ou qualidade.
Boyd et al. (2001), em um estudo preliminar com diferentes tempo de ocupação nos
piquetes, verificaram que os animais que permaneceram um dia tiveram ganho superior aos
que permaneceram (seis ou sete dias), ganhando respectivamente 1.18 e 1.09 kg/an/dia.
Silveira e Pinheiro Machado Filho (2006) observaram que altas cargas instantâneas,
juntamente com tempos muito curtos de ocupação (12 a 24 h), dos piquetes resultaram em
melhor aproveitamento da pastagem e maior produção de massa no rebrote seguinte, mas sem
alterar a produção de leite.
A diminuição do ganho por animal, em ofertas de forragem acima do ótimo, tem sido
associada à diminuição do valor nutritivo da forragem, fruto da baixa eficiência de utilização
da pastagem, acúmulo de colmos e material senescente (CARVALHO et al., 2007).
Alta carga instantânea, aliada a uma oferta de forragem compatível com as exigências
nutricionais do animal, contribui para o consumo de toda a planta disponível em poucas horas,
não permitindo que ocorram grandes perdas de forragem e, tampouco, queda na qualidade
nutricional desta forragem; muito maior será a perda qualitativa quando se tem grandes
disponibilidades de forragem no decurso das épocas de pastoreio (KLAPP, 1971), tal fato é
confirmado na Figura 6 por Undersander et al. (2002 apud MOUSEL; GATES; MAALAND,
2006).
Por conseguinte, a sua capacidade de carga é muito reduzida à medida que avança a
estação de pastoreio. De acordo com as práticas vigentes, muito do crescimento inicial é
subpastoreado, ocorrendo acúmulo de forragem para utilização posterior.
Conforme Moore et al. (2004), um grande problema com o método de pastejo contínuo é
que, com o subpastoreio, não há controle sobre o processo de amadurecimento da forragem. Vale
lembrar as palavras de Boom (2002) de que o manejo do pastoreio tem um grande impacto sobre
o valor nutritivo do alimento em termos de teor energético, proteico, de fibras e carboidratos,
podendo também afetar o teor de minerais das pastagens, com uma diminuição percentual da
maioria dos elementos à medida que a planta vai amadurecendo. Essa afirmação é respaldada
pelos resultados de Blaser et al. (1986), observando que quando alta disponibilidade de forragem
está associada ao excesso de material senescente ou lignificação do colmo, o consumo de matéria
seca digestível e o desempenho animal decrescem.
Foto 1 – No primeiro plano piquete em rebrota; ao fundo à direita, piquete logo após a saída dos animais; ao
fundo à esquerda, piquete em ponto ótimo de repouso10.
10
Foto do arquivo pessoal de Cícero Teófilo Berton - Fazenda Alvorada - Cascavel - PR, 2003.
38
Tabela 4 – Conteúdo de proteína bruta (PB), digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS), e consumo
voluntário de matéria seca (CVMS) de capim-colonião (Megathyrsus maximus Jacq.), em dois
estádios vegetativos: imaturo (I) e maduro (M)
Pastoreios iniciados com 95% de (IL) pelo dossel forrageiro resultaram em forragem
com valores mais elevados de proteína bruta e digestibilidade, consequência das maiores
proporções de folhas e menores proporções de hastes e material morto na massa de forragem
em pré-pastoreio (DA SILVA; NASCIMENTO JUNIOR, 2006). Esta condição foi
confirmada por Carnevalli (2003), que trabalhando com capim-mombaça, reporta os dados
apresentados na Figura 7.
90 cm
250
acúmulo e senescência
95 % IL
acúmulo de colmos
(cm/perfilho.dia)
(cm/perfilho.dia)
200 16
de folhas
folhas 12
150
100 Colmos 8
50 4
senescência
0 0
49,3 82,9 94,3 110,3
altura do pasto (cm)
2,26 2,71 4,85 6,56
IAF
Figura 7 – Dinâmica do acúmulo de forragem durante a rebrotação do capim-mombaça.
Fonte: Carnevalli (2003).
Tabela 5 – Percentual de digestibilidade e consumo da forragem de acordo com o seu estádio de desenvolvimento
De acordo com Gomide (1993), o consumo de matéria seca das pastagens está
diretamente ligado ao desempenho dos animais, porque determina a quantidade de nutrientes
ingeridos, os quais são necessários para atender às exigências de manutenção e à produção
animal.
A qualidade da forragem em pastoreio está em contínua mudança, fruto da dinâmica
de crescimento e senescência dos componentes morfológicos do pasto (folhas, hastes etc.),
bem como de sua composição química e fenologia (CARVALHO et al., 2005).
Em trabalho desenvolvido com capim-tanzânia Canto et al. (2002) observaram que os
ganhos médios diários por animal reduziam à medida que ocorria aumento da altura da
forragem oferecida aos animais (Gráfico 1), devendo-se este fato, provavelmente, ao efeito da
estrutura e idade das plantas sobre o valor nutritivo da forragem disponibilizada aos animais.
41
Gráfico 2 – Relação linear e inversa entre o conteúdo de parede celular e a ingestão de MS.
Fonte: NRC (1981).
42
Figura 8 – Esquema de uso dos piquetes, conforme o método convencional de pastoreio rotativo com tempos
fixos (seis dias de ocupação e 30 dias de repouso).
Fonte: Adaptado de Matches e Burns (1995).
44
Para Nascimento Junior, Sbrissia e Da Silva (2008), nos últimos anos tem havido
avanço significativo no Brasil na compreensão dos fatores condicionantes ao manejo do
pastoreio, podendo ser entendido, de maneira bem simplificada, como a forma com que se
permite aos animais terem acesso ao pasto, ou seja, a determinação do tempo de repouso do
pasto e/ou a duração do período de ocupação.
A pesquisa na área de manejo das pastagens tem evoluído gradativamente em relação
a estas variáveis (tempo de ocupação e repouso). No entanto, o caminho a ser percorrido ainda
é longo, pois precisam-se superar as amarras que circundam as linhas de trabalho, acabando
com um ciclo negativo contra o PRV, que há muito vem sendo seguido por pesquisadores
idôneos.
A busca por períodos pré-determinados ou pacotes tem levado pesquisadores a erros
conceituais, que vem sendo repassados ao longo dos anos, comprometendo a evolução do uso
racional das pastagens, consequentemente refletindo no decréscimo da fertilidade natural do
solo (erosão, degradação e ausência da biocenose11), no desempenho e bem-estar animal
(baixos índices zootécnicos).
Outro equívoco que vem sendo cometido no manejo rotativo convencional é o uso de
baixas cargas instantâneas, resultando em maiores perdas de forragem por senescência,
irregularidades no consumo de forragem, compactação do solo (por longos períodos de
ocupação e tempos de repouso fixos, coibindo o bom desenvolvimento do sistema radicular,
que junto com aumento da matéria orgânica do solo pela biocenose auxiliam na
descompactação do solo, após a saída dos animais), além de haver o pastoreio do rebrote.
11
Biocenose - é o desenvolvimento dinâmico da vida do solo (PINHEIRO MACHADO, 2004).
45
O solo é um dos componentes mais importantes para a viabilidade dos sistemas, seja
ele para a agricultura ou para a pecuária. Sabe-se que a sustentabilidade de um ecossistema
pastoril é dependente da interação de vários fatores, entre eles o solo em seus aspectos físicos,
químicos e biológicos que irão propiciar o bom desenvolvimento das plantas, refletindo no
desempenho animal.
No entanto, nos sistemas atuais de produção animal, pouca importância tem sido dada
a este aspecto, e vem ocorrendo crescente perda de fertilidade nos solos. Com a degradação
das áreas de pastagens, altera-se a qualidade e a quantidade de matéria orgânica do solo
(MOS). Consequentemente, há diminuição da atividade da biomassa microbiana, principal
responsável pela ciclagem de nutrientes e pelo fluxo de energia no solo (DALAL, 1998; DE-
POLLI; GUERRA, 1999), e que exerce influência tanto na transformação da MO, quanto na
47
12
Lei da fertilidade crescente - a fertilidade do solo, quando manejado sem agressão – aração e procedimentos
similares – e com técnicas que estimulem a biocenose é crescente indo a limites ainda não identificados
(PINHEIRO MACHADO, 2004).
48
como um todo e não em partes. Pois existe uma forte inter-relação entre os diferentes
componentes (solo-planta-animal).
Corsi e Martha Júnior (1999) ressaltam que os animais podem interferir
significativamente no sistema, alterando a distribuição e o aproveitamento dos nutrientes
reciclados. A eficiência do pastoreio é um dos principais mecanismos que irá regular a forma
de retorno dos nutrientes para a pastagem (DUBEUX JÚNIOR et al., 2006).
O manejo correto dos animais em pastoreio pode influenciar beneficamente no
processo de reciclagem dos nutrientes. Criando um ambiente favorável ao desenvolvimento
da biocenose.
Para se ter uma biocenose ativa é necessária que haja boa fonte de alimento para os
microrganismos do solo. Uma das maneiras mais eficientes pode ser feita pela distribuição
uniforme dos excrementos dos animais na pastagem.
Mas vale lembrar que estes autores cometeram um equívoco conceitual grave ao
utilizarem uma baixa carga instantânea (29 UA/ha), resultando numa má distribuição dos
excrementos na pastagem.
As baixas cargas instantâneas, característica do sistema de pastejo contínuo e rotativo
convencional, resultam em má distribuição dos excrementos, e isto inibe o desenvolvimento
da biocenose. Tornando o sistema dependente de fertilizantes industriais, entrando na rota da
dependência13, portanto comprometendo a sustentabilidade do sistema.
Para Hynes e Willians (1993), há indicações de que maiores taxas de lotação, a
subdivisão da pastagem e o pastoreio rotativo racional diminuem a concentração de excreções
em áreas restritas e aumentam a distribuição na área do pasto.
Marchesin (2005), trabalhando com pastoreio rotativo e diferentes intensidades, concluiu que
piquetes submetidos a maior intensidade de pastoreio tiveram maior área coberta pelas placas de bosta.
Peterson e Gerrish (1996) e Dubeux Júnior et al. (2007) salientam que períodos curtos
de ocupação, aliados a altas cargas instantâneas favorecem para uma distribuição mais
uniforme dos excrementos no piquete, pela competitividade pelo alimento.
Dubeux Júnior (2005), comparando pastejo contínuo e rotativo com diferentes períodos de
ocupação, verificou que o pastoreio rotativo com um dia ou sete de pastoreio por 21 dias de
repouso promoveu maior uniformidade na distribuição de bosta na área de pastagem.
Estudos recentes mostram que em pastoreio com altas cargas instantâneas, aliadas a
curtos tempos de permanência nos piquetes, o bosteio cobre aproximadamente 13% da
superfície pastoreada e é superior à detectada em condições de pastoreios mais prolongados
(DÍAZ-ZORITA, 2002).
Deve-se destacar que no decorrer do ano um piquete pode ser utilizado várias vezes (oito a
dez) ampliada gradativamente à área da pastagem afetada pelo bosteio ao longo das ocupações.
Em termos de manejo, uma alta taxa de lotação, aplicada no pastoreio rotativo, permite
menor tendência dos animais em se agruparem e, consequentemente, há melhoria na
distribuição das excretas na área pastoreada do piquete. Tal fato pode proporcionar redução
nas perdas de nutrientes das excretas e melhor aproveitamento pelas plantas aumentando a
eficiência da sua reciclagem (FERREIRA et al., 2004).
Recentemente, Dubeux Júnior et al. (2006) verificaram que quanto maior a pressão de
pastoreio (carga instantânea), maior a proporção de nutrientes retornada via excreta. O aumento
13
Rota da dependência - foi a partir de Liebig (1803-1873) que as indústrias de máquinas e implementos e de
insumos agrícolas (fertilizantes solúveis, agrotóxicos e aditivos) desenvolveram uma política de envergadura
junto à agricultura convencional, cujas práticas passaram a ser uma sucessão de etapas de dependência do
processo produtivo a essas indústrias (PINHEIRO MACHADO, 2004).
50
da concentração de animais na pastagem leva a maior concentração de bosta e urina, que age
como um catalisador da vida do solo, cuja ação resulta em recuperar, melhorar e incrementar a
sua fertilidade, agindo como forte acelerador da biocenose (PINHEIRO MACHADO, 2004).
No PRV, pela alta carga instantânea que é utilizada como forma de melhor
aproveitamento da forragem, também há distribuição aleatória, que pelo uso variável dos
piquetes, passa a ocorrer a uniformidade na distribuição dos excrementos na área da pastagem
ao longo do tempo (Figura 9).
Tabela 7 – Porcentagem dos nutrientes retornados via urina e bosta pelos animais em pastoreio
16
Foto do arquivo pessoal de Ricardo Machado, 2007.
17
Foto do arquivo pessoal de Ricardo Machado, 2007.
54
Como se observa nas Fotos 4 e 5, com o manejo racional das pastagens (respeitando o
ponto ótimo de repouso, tempo de ocupação e com altas cargas instantâneas) é possível
melhorar a distribuição dos excrementos nos piquetes, transparecendo o que se denomina de
manchas de fertilidade, em que as forrageiras crescem abundantes e com altos valores
nutricionais.
Com o passar do tempo, a tendência é que essas manchas de fertilidades deixem de se
destacar, pelo fato de ocorrer uma homogeneização na fertilidade solo, principalmente pelo
trabalho desenvolvido pela macro e micro fauna do solo, que incorporam e redistribuem os
nutrientes, assim influenciando toda a área de pastagem.
Willians e Haynes (1995) verificaram que a área de influência, beneficiada com os
nutrientes via excrementos dos animais, correspondiam a duas vezes a de urina e de uma a
seis vezes a da bosta, havendo aumento na produção de matéria seca de forragem, bem como
dos teores de nitrato, fósforo e carbono orgânico no solo.
Fonseca, Santos e Martuscello (2008) salientam que poucos estudos têm sido
realizados no que se refere à reciclagem de nutrientes da bosta dos animais. Contudo, os
autores citam Santos (dados não publicados) que observou os efeitos positivos da bosta sobre
as características morfogênicas do capim-braquiária, permitindo inferir que a produção do
pasto é incrementada nas regiões em que ocorre a deposição dessa excreta.
Marchesin (2005) observou que as áreas de influência da bosta (manchas de
fertilidade) tiveram papel importante para melhorar o acúmulo de forragem na pastagem. De
acordo com Fonseca, Santos e Martuscello (2008), isso pode ser justificado pela maior
disponibilização de nutrientes nessa região do pasto, o que exemplifica e evidencia a
reciclagem de nutrientes na interface solo-planta-animal.
55
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os vários sistemas de pastoreio debatidos numa extensa literatura, muitas vezes não
são aplicáveis às condições reais de campo, por negligenciarem quase que totalmente as bases
ecológicas e as interações que ocorrem no ecossistema pastoril, principalmente por serem
desenvolvidos em condições totalmente controláveis o que, no entanto, não ocorre na
natureza.
Os sistemas de pastoreio requerem compreensão de todos os fatores que exercem
influência marcante no manejo das pastagens, sejam estas de ordem administrativa, técnica,
prática, ecológica, ou mesmo cultural.
O PRV é um sistema de manejo de pastagens complexo, que exige administração
qualificada e séria; é necessário que, quem trabalha com este sistema tenha conhecimento e
disciplina e se disponha a “dialogar com a natureza”, sem preconceitos, de maneira a observar
e entender, cada evento natural, que acontece cotidianamente no sistema.
Para que todos os benefícios que as pastagens possam oferecer na produção animal
sejam alcançados é imprescindível a atenção a ser dada ao manejo: com um manejo racional
as pastagens persistirão por meio dos tempos, com qualidade, quantidade e perenidade.
56
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