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A Arquitetura deve servir ao homem e ao seu conforto, o que abrange o seu conforto térmico. O homem
tem melhores condições de vida e de saúde quando seu organismo pode funcionar sem ser submetido a
fadiga ou estresse, inclusive térmico.
A Arquitetura, como uma de suas funções, deve oferecer condições térmicas compatíveis ao conforto
térmico humano no interior dos edifícios, sejam quais forem as condições climáticas externas.
Por outro lado, a intervenção humana, expressa no ato de construir seus espaços internos e externos,
altera as condições climáticas locais, das quais, por sua vez, também depende a resposta térmica da
edificação. As principais variáveis climáticas de conforto térmico são temperatura, umidade e velocidade
do ar e radiação solar incidente.
Guardam estreitas relações com regime de chuvas, vegetação, permeabilidade do solo, águas
superficiais e subterrâneas, topografia, entre outras características locais que podem ser alteradas pela
presença humana. As exigências humanas de conforto térmico estão relacionadas com o funcionamento
de seu organismo, cujo mecanismo, complexo, pode ser, grosso modo, comparado a uma máquina
térmica que produz calor segundo sua atividade. O homem precisa liberar calor em quantidade suficiente
para que sua temperatura interna se mantenha da ordem de 37°C — homeotermia.
Quando as trocas de calor entre o corpo humano e o ambiente ocorrem sem maior esforço, a sensação
do indivíduo é de conforto térmico e sua capacidade de trabalho, desse ponto de vista, é máxima.
Se as condições térmicas ambientais causam sensação de frio ou de calor, é porque nosso organismo
está perdendo mais calor ou menos calor que o necessário para a manutenção da homeotermia, a qual
passa a ser conseguida com um esforço adicional que sempre representa sobrecarga, com queda do
rendimento no trabalho, até o limite, sob condições de rigor excepcionais, perda total de capacidade para
realização de trabalho e/ou problemas de saúde.
Considerando que as diferenças climáticas da Terra são basicamente advindas da energia solar, torna-se
indispensável a posse de elementos para 15 avaliar qual a carga térmica que determinada edificação ou
espaço ao ar livre receberá nas diversas horas do dia e nas várias épocas do ano.
Não menos importante é a orientação das aberturas e dos elementos transparentes e translúcidos da
construção, que permitem o contato com o exterior e a iluminação dos recintos. A proteção solar das
aberturas por meio de “brise-soleil” ou quebra-sol é também um indispensável recurso para promover os
controles térmicos naturais. Estabelecer os parâmetros relativos às condições de conforto térmico requer
incorporar, além das variáveis climáticas citadas, as temperaturas das superfícies presentes no ambiente
e a atividade desenvolvida pelas pessoas.
O conhecimento das exigências humanas de conforto térmico e do clima, associado ao das
características térmicas dos materiais e das premissas genéricas para o partido arquitetônico adequado a
climas particulares, proporciona condições de projetar edifícios e espaços urbanos cuja resposta térmica
atenda às exigências de conforto térmico.
A racionalização do uso da energia apresenta estreitos laços com a adequação da arquitetura ao clima,
evitando ou reduzindo os sistemas de condicionamento artificial de ar, quer com a finalidade de refrigerar,
quer com a de aquecer os ambientes.
Os controles térmicos naturais propiciam a redução do excesso de calor resultante no interior dos
edifícios, minimizando, por vezes, os efeitos de climas excessivamente quentes.
O conhecimento do clima, aliado ao dos mecanismos de trocas de calor e do comportamento térmico dos
materiais, permite uma consciente intervenção da arquitetura, incorporando os dados relativos ao
meioambiente externo de modo a aproveitar o que o clima apresenta de agradável e amenizar seus
aspectos negativos.
Imprimir a um edifício características que proporcionem uma resposta térmica ambiental conveniente não
implica um acréscimo obrigatório de custo de construção, mas, ao contrário, deve resultar em redução do
custo de utilização e de manutenção, além de propiciar condições ambientais internas agradáveis aos
ocupantes.
Como pode ser visto nos itens relativos às exigências humanas, as condições de conforto térmico são
função da atividade desenvolvida pelo indivíduo, da sua vestimenta e das variáveis do ambiente que
proporcionam as trocas de calor entre o corpo e o ambiente. Além disso, devem ser consideradas outras
variáveis como sexo, idade, biotipo, hábitos alimentares etc. Os índices de conforto térmico procuram
englobar, num parâmetro, o efeito conjunto dessas variáveis. E, em geral, esses índices são
desenvolvidos fixando um tipo de atividade e a vestimenta utilizada pelo indivíduo para, a partir daí,
relacionar as variáveis do ambiente e reunir, sob a forma de cartas ou nomogramas, as diversas
condições ambientais que proporcionam respostas iguais por parte dos indivíduos.
Os índices de conforto térmico foram desenvolvidos com base em diferentes aspectos do conforto e
podem ser classificados como a seguir: 25 • índices biofísicos — que se baseiam nas trocas de calor
entre o corpo e o ambiente, correlacionando os elementos do conforto com as trocas de calor que dão
origem a esses elementos; • índices fisiológicos — que se baseiam nas reações fisiológicas originadas
por condições conhecidas de temperatura seca do ar, temperatura radiante média, umidade do ar e
velocidade do ar; • índices subjetivos — que se baseiam nas sensações subjetivas de conforto
experimentadas em condições em que os elementos de conforto térmico variam.
Para a compreensão do comportamento térmico das edificações, é necessária uma base conceitual de
fenômenos de trocas térmicas. Esse conhecimento permite também melhor entendimento acerca do
clima e do relacionamento do organismo humano com o meio ambiente térmico.
As trocas térmicas entre os corpos advêm de uma das duas condições básicas: • existência de corpos
que estejam a temperaturas diferentes; • mudança de estado de agregação. Corpos que estejam a
temperaturas diferentes trocam calor, os mais “quentes” perdendo e os mais “frios” ganhando, sendo que
o calor envolvido é denominado calor sensível. No âmbito do conforto termo-higrométrico, o elemento que
proporciona as trocas térmicas por mudança de estado de agregação — sem mudança de temperatura —
é a água, e apenas nos casos de passar do estado líquido para o estado de vapor e do estado de vapor
para o estado líquido. O calor envolvido nestes mecanismos de troca é denominado calor latente.
RADIAÇÃO
Radiação: mecanismo de troca de calor entre dois corpos — que guardam entre si uma distância
qualquer — atrevés de sua capacidade de emitir e de absorver energia térmica. Esse mecanismo de
troca é conseqüência da natureza eletromagnética da energia, que, ao ser absorvida, provoca efeitos
térmicos, o que permite sua transmissão sem necessidade de meio para propagação, ocorrendo mesmo
no vácuo.
Condução: troca de calor entre dois corpos que se tocam ou mesmo partes do corpo que estejam a
temperaturas diferentes, como apresentado na figura 2, onde θe ≠ θi.
O Sol, importante fonte de calor, incide sobre o edifício representando sempre um certo ganho de calor,
que será função da intensidade da radiação incidente e das características térmicas dos paramentos do
edifício. Os elementos da edificação, quando expostos aos raios solares, diretos ou difusos, ambos
radiação de alta temperatura, podem ser classificados como: a) opacos; b) transparentes ou translúcidos.
TROCA DE CALOR ATRAVES DE PAREDES OPACAS
No caso de uma parede opaca exposta à radiação solar e sujeita a uma determinada diferença de
temperatura entre os ambientes que separa, os mecanismos de trocas podem ser esquematizados como
na figura 5. A intensidade do fluxo térmico (q) que atravessa essa parede, por efeito da radiação solar
incidente e da diferença de temperatura do ar:
TROCA DE CALOR ATRAVES DE PAREDES TRANSPARENTES OU TRANSLUCIDAS
iação solar e sujeita a uma determinada diferença de temperatura entre os ambientes que separa, os
mecanismos de troca podem ser esquematizados como na figura 6. A intensidade do fluxo térmico (q)
que atravessa uma parede transparente ou translúcida, deve incorporar, em comparação com a parede
opaca, a parcela que penetra por transparência (τ Ig). Assim sendo, tem-se:
A presença de uma placa quebra-sol (“brise-soleil”) diante de uma parede opaca vai ocasionar uma série
de mecanismos de trocas, conforme esquematização na figura 7. A intensidade do fluxo térmico que
atravessa a parede opaca protegida por um quebra-sol será:
sendo α* denominado fator fictício de absorção da radiação solar de uma parede opaca protegida por
quebra-sol. O valor de α* será função das características da proteção solar e varia inclusive com a
orientação da parede a ser protegida, com a latitude do local onde está situado o edifício e com a época
do ano. Segundo Croiset(15), α* pode, a partir de alguns casos estudados, assumir os seguintes valores.
a) quebra-sol contínuo, vertical, diante de parede vertical, a 30 cm, sem características especiais do
material e acabamentos: 0,20 a 0,25
b) quebra-sol contínuo, vertical, diante de parede vertical, a 30 cm, com R ≅ 0,6 m2 °C/W, face externa
branca e face interna pouco emissiva: 0,15 a 0,10
c) quebra-sol de lâminas verticais colocado diante de parede vertical: variável
d) beirais e quebra-sol de lâminas horizontais: variável
A proteção solar de paredes transparentes ou translúcidas pode ser feita atravésés de dispositivos
externos e internos, sendo que, em caso de vidro duplo, por exemplo, pode até se localizar entre os dois
vidros. Por outro lado, a proteção externa normalmente tende a ser mais eficiente, posto que barra a
radiação solar antes de sua penetração por transmissividade através do material. Porém, como a
proteção solar é projetada segundo a especificidade de cada edifício, de acordo com sua localização,
função e orientação, há casos em que a proteção interna pode ser mais adequada.
A proteção solar de paredes transparentes ou translúcidas, para os dois casos mais correntes, de
proteção externa ou interna, pode ser esquematizada segundo as figuras 8 e 9. Observe-se que, no caso
da figura 8 — quebra-sol externo —, a parcela do calor que penetra no ambiente é menor que no caso do
quebra-sol interno, que o vidro, não sendo transparente para radiação de baixa temperatura (onda longa),
funciona como barreira — efeito estufa — resultando, assim, maior radiação no interior do recinto. Quanto
aos mecanismos de trocas térmicas, ocorrem da mesma maneira que no caso da proteção de paredes
opacas, e o fluxo de calor envolvido no processo pode ser assim formulado: