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Projetos

Engenharia flexível
Nas contenções, drenagem e reforço de solos, mantas garantem a viabilidade e segurança das obras
Por Laurimar Coelho
Edição 163 ­ Outubro/2010

O conhecimento do solo é fundamental à implantação de


elementos construtivos que irão receber carregamentos
consideráveis ou que tenham a função de assegurar a
drenagem abaixo da linha construída.O primeiro
geossintético brasileiro foi produzido no início da década de
1970, e o material em questão era um geotêxtil não tecido
de poliéster. Segundo Mauricio Ehrlich, presidente do IGS
Brasil (Associação Brasileira de Geossintéticos), o geotêxtil
tem como função principal a drenagem (conduz água ou
outro fluido por sua estrutura) e a separação em obras
geotécnicas (impede a mistura ou interação de materiais de
diferentes granulometrias). É utilizado também como reforço
(melhora as características mecânicas de estruturas, como
muros e taludes), controle de erosão, proteção e
impermeabilização (quando impregnado com material Os geotêxteis são muito utilizados para reforçar
asfáltico). "Os geotêxteis são produtos versáteis porque, em solos de baixa compacidade. Para encontrar o
princípio, podem ser utilizados em substituição aos sistemas produto certo, projetista deve conhecer
convencionais de material granular (areia e brita) ou em
módulos de elasticidade e resistência
associação com esses. Têm a vantagem de dispensar o uso
de jazidas de materiais naturais muitas vezes inexistentes
na região onde a obra é realizada", explica Ehrlich. O material em si é drenante e pode ser utilizado para
retenção de partículas e drenagem em um filtro.

José Orlando Avesani Neto, engenheiro civil da seção de Geotecnia do IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas), conta que as utilizações pioneiras de geotêxteis no mundo datam da década de 1950 como
elementos de filtro para obras hidráulicas e para controle de erosão marítima nos Estados Unidos, Alemanha
Ocidental e Japão."Dependendo da função desejada, outros materiais eram (e ainda são) utilizados como
alternativa ao geotêxtil. Por exemplo, solos arenosos e brita em obras que necessitem de filtração e
drenagem, e fitas metálicas para obras de reforço", conta Neto. Os geotêxteis fazem parte da família dos
geossintéticos, que são produtos poliméricos ­polímeros de polipropileno (PP) e poliéster (PET) ­
industrializados, desenvolvidos para aplicações em obras geotécnicas, desempenhando diversas funções.

De acordo com a norma brasileira NBR 12553 ­ Geossintéticos ­ Terminologia, os geotêxteis, em particular,
são definidos como têxteis bidimensionais permeáveis, compostos de fibras cortadas, filamentos contínuos,
monofilamentos, laminetes ou fios, formando estrutura tecida (ou tramada), não tecida (ou não tramada) ou
tricotada. Em sua tese sobre contenção de solo reforçado com geotêxtil, o engenheiro civil Carlos Vinícius
Benjamin, da empresa Ober, explica que os geotêxteis tecidos são compostos de dois conjuntos
perpendiculares de elementos lineares paralelos, sistematicamente entrelaçados para formar uma estrutura
plana. "Os fios, filamentos ou laminetes são entrelaçados segundo direções preferenciais com máquinas
têxteis convencionais", afirma. Os geotêxteis não tecidos são formados por filamentos ou fibras distribuídas
aleatoriamente e unidos para formar uma estrutura plana. "Essa união pode ser realizada por entrelaçamento
mecânico com agulhas (agulhado), por fusão parcial (termoligado), com o uso de produtos químicos
(resinado) ou por reforço (reforçado)", diz o engenheiro.

Cuidados
Avesani explica que os geotêxteis não devem ser utilizados em situações em que fiquem expostos à radiação
ultravioleta por períodos prolongados, o que pode causar severos danos em suas propriedades mecânicas. "Os geo‐
têxteis também não devem ser aplicados em ambientes em contato com produtos químicos incompatíveis com sua
matéria­prima, como no caso de carbonatos, por exemplo." Deve­se evitar também a utilização de geotêxteis em
ambientes com agressividade biológica, que podem gerar deposições de sais de ferro em filtros e drenos e conduzir
à colmatação biológica (obstrução dos poros do geotêxtil). Segundo o Manual Brasileiro de Geossintéticos, a maioria
das situações que ocorrem em solo natural não apresenta problemas de ação química contra esse produto.
"Entretanto, em condições específicas é necessária uma avaliação para assegurar o emprego do polímero
necessário, evitando­se a degradação do geotêxtil", lembra o engenheiro do IPT.

Para o engenheiro Benjamin, "os geotêxteis apresentam algumas desvantagens que, dependendo de sua aplicação
ou tamanho da estrutura, poderão inviabilizar a sua aplicação, como por exemplo, os deslocamentos que ocorrem
durante a construção que podem comprometer o alinhamento da estrutura, e a baixa resistência à tração da manta,
quando comparada com outros elementos de reforço como, por exemplo, as geogrelhas". Vale salientar que a
viabilidade técnica e econômica do geotêxtil, sua facilidade de instalação e o controle das suas propriedades, o
tornam uma boa opção em obras. Mas sua aplicação deve contar com a orientação de um engenheiro geotécnico
competente, que tenha conhecimento das características técnicas do material, dos métodos de projeto para a
aplicação e das eventuais limitações do material.

Uso correto
As especificações técnicas do geotêxtil a ser empregado dependem da função a ser desempenhada pelo material e
das características geotécnicas da obra. Thelma Sumie Maggi, engenheira civil da seção de Geotecnia do IPT
salienta que em uma aplicação de reforço, as especificações técnicas devem atender às propriedades mais
importantes para esse tipo de aplicação, como a resistência à tração e o alongamento. "Para utilizações em
drenagem e filtração, as propriedades de abertura aparente de filtração e transmissividade são as mais relevantes.
Por outro lado, em aplicações de proteção, a gramatura é a propriedade mais significativa da especificação técnica",
diz Thelma. O engenheiro técnico da fabricante Mexichem Bidim Fulvio Farah afirma que é recomendado que as
mantas geotêxteis não sejam adquiridas por peso (gramatura por metro quadrado). "Uma mesma gramatura, por
exemplo, 200 g/m2, pode apresentar resistências de 2 kN/m a 10 kN/m, podendo então atender à gramatura e
mesmo assim comprometer a solução", adverte.

Normas
Rafael Ribeiro Plácido, engenheiro civil e pesquisador do IPT, explica que ao especificar um geotêxtil o profissional
deve consultar não só os manuais de projeto como também as normas brasileiras relacionadas a esse produto. A
NBR 12553/2003 trata da terminologia dos geossintéticos e a NBR 12592/2003 da identificação para fornecimento
desse produto. A norma NBR 12224/2005 é específica para a instalação de geotêxteis em trincheiras drenantes e a
NBR 12229/2005 trata não só dos geotêxteis, mas seus produtos correlatos e a determinação da abertura de
filtração característica desses geossintéticos. Já a determinação da capacidade de fluxo no plano é feita pela norma
NBR 12225/2005.

Estocagem e reparos
O armazenamento desse produto requer cuidado. A estabilidade dos geotêxteis às intempéries e às ações de
produtos/materiais adjacentes varia de produto a produto em função do seu processo de fabricação e/ou matéria­
prima. Enquanto alguns sofrem um aumento de peso ao absorver água, outros são sensíveis a solventes orgânicos.
Por isso, é importante manter a embalagem original intacta, sempre que possível, até o momento e local de
utilização. Se o geotêxtil for estocado ao ar livre, deve­se cobri­lo com lona preta de polietileno, para protegê­lo da
ação dos raios UV e de eventual absorção de água. Em qualquer situação, o plano de apoio das bobinas de geotêxtil
deve ser seco, livre de terra, óleo, solventes e enxurradas. Para tanto, pode­se utilizar pranchas de madeira ou
estrados. Segundo a Abint, se a estocagem foi imprópria, com exposição ao sol, enxurradas, solventes, as primeiras
voltas externas da bobina devem ser sacrificadas, aproveitando­se somente o material intacto.

Se o geotêxtil foi danificado por uma perfuração ou rasgo, deve­se cobrir a área afetada com um manchão do próprio
material. Ao exercer as funções de filtro, dreno ou proteção, o transpasse mínimo além da área afetada deve ser de
30 cm, em todas as direções. Por exemplo, um rasgo em linha reta com 40 cm de comprimento, exige manchão de
100 cm x 60 cm. Mas se o geotêxtil estiver exercendo as funções de reforço e/ou separação, o transpasse mínimo,
em todas as direções, será igual ao comprimento de sobreposição. Quando o manchão for posicionado em planos
inclinados ou verticais, recomenda­se costurá­lo manualmente no geotêxtil, evitando seu deslocamento.

Classificação dos geossintéticos


Segundo a Abint (Associação Brasileira das Indústrias de Não Tecidos e Tecidos Técnicos), há diversos tipos de
geotêxteis. Entenda a nomenclatura.

Geotêxtil não tecido [GTN]: produto composto por fibras cortadas ou filamentos contínuos, distribuídos
aleatoriamente, os quais são interligados por processos mecânicos, térmicos ou químicos.
Geotêxtil não tecido agulhado [GTNA]: este possui fibras interligadas mecanicamente, por processo de
agulhagem.
Geotêxtil não tecido termoligado [GTNT]: possui fibras interligadas por fusão parcial obtida por aquecimento.
Geotêxtil não tecido resinado [GTNR]: conta com fibras interligadas por meio de produtos químicos.
Geotêxtil tecido [GTW]: produto oriundo do entrelaçamento de fios, monofilamentos ou laminetes (fitas), seguindo
direções preferenciais denominadas trama (sentido transversal) e urdume (sentido longitudinal).
Geotêxtil tricotado [GTK]: produto oriundo do entrelaçamento de fios por tricotamento.
Geotira [GI]: produto em forma de tira com função predominante de reforço.
Geotubo [GP]: produto de forma tubular com função drenante.

Produtos e técnicas

MacTex
MacTexN é um geotêxtil não tecido composto por filamentos não orientados, interligados por agulhagem. Sua
gramatura, espessura e resistência permitem que atue como elemento de separação entre solos com características
diferentes. Pode ser aplicado em repavimentação de ruas e rodovias, pois, impregnado com betume, forma uma
membrana viscoelástica que retarda a reflexão de trincas e evita a infiltração de água. Também pode ser empregado
em obras de drenagem e aterros sanitários.
www
www.macaferri.com.br
.macaferri.com.br

(11) 2905­3383

Mac Drain
O Mac Drain não tecido VC foi especialmente desenvolvido para acelerar a consolidação de solos moles, pois se
torna um caminho de drenagem mais curto e altamente permeável para a dissipação do excesso de pressão dos
poros, permitindo alcançar altos índices de consolidação em um período de meses. É utilizado na construção de
aterros sobre solos moles. Oferece alta permeabilidade, filtração para impedir a colmatação do dreno e, quando
soldada nas bordas,
assegura que os filtros se mantenham esticados ao longo do dreno.
www.macaferri

(11) 2905­3383

Geofort
O geotêtil Geofort, da Ober, é um produto não tecido feito com 100% de poliéster e oferece resistência à tração entre
7 kN/m com gramatura de 130 g/m2 a 31 kN/m e gramatura de 600 g/m2. Entre suas aplicações está em obras de
contenção.
www.ober.com.br

(19) 3466­9220
Bidim TC
De composição 100% polipropileno, o Bidim TC oferece elevada resistência à tração, permitindo o uso nos mais
diversos projetos de reforço. Tem baixa deformação na ruptura, permeabilidade adequada para os projetos de
separação e superfície delgada, tornando­o, segundo o fabricante, uma das melhores opções para aterros sanitários.
Possui alta resistência a ataques químicos e à radiação UV.
www.bidim.com.br.

(12) 3946­4600

Bidim CC­10
O Bidim CC­10 é um produto criado especialmente para cura de concreto, projetos prediais e pisos de pavimentos.
Consiste de uma base de não tecido 100% poliéster com um filme de polietileno aderido e perfurado. De fácil
instalação devido às suas dimensões, oferece alta durabilidade, podendo ser usado, segundo o fabricante, mais de
quatro vezes. Não deixa fiapos ou fibras, não mancha a laje, não tem cheiro e não cria mofo.
www.bidim.com.br.

(12) 3946­4600
Bidim dreno
O Bidim Dreno foi desenvolvido para diversas aplicações de engenharia, tais como construção de estradas, muros
de arrimo, túneis, estacionamentos subterrâneos, mineração, canalizações e saneamento. É constituído por um
núcleo drenante de alta permeabilidade revestido com geotêxtil 100% poliéster em ambas
ou em uma só face, conforme a necessidade do projeto. Substitui
o dreno convencional de brita, reduz volume de escavação e o peso sobre a estrutura.
www.bidim.com.br.

(12) 3946­4600

TenCate Mirafi
Os geotêxteis da linha TenCate Mirafi Série HP, da Allonda, são compostos por filamentos de polipropileno de alta
resistência. Segundo o fabricante, o alto módulo de rigidez, a elevada resistência à tração e a alta capacidade de
confinamento possibilitam sua aplicação como reforço, filtro e na separação de materiais, sendo ideais para
construção de aterros sobre solo mole.
www.allonda.com.br

(11) 5501­9201

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