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MATERIAIS DE

CONSTRUÇÃO

André Luis Abitante


Ederval de Souza Lisboa
A148m Abitante, André Luís.
Materiais de construção [recurso eletrônico] /
André Luís Abitante, Ederval de Souza Lisboa. –
Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Editado como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-009-2

1. Materiais de construção. I. Lisboa, Ederval de Souza.

CDU 691

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Materiais metálicos:
ferrosos e não ferrosos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a origem e os benefícios dos materiais metálicos.


 Reconhecer as principais estruturas cristalinas e propriedades dos
materiais metálicos.
 Selecionar corretamente os materiais metálicos.

Introdução
Você sabia que a utilização de materiais metálicos se destaca na
construção civil? Isso se dá por conta de suas propriedades físicas,
como condutividade elétrica, condutividade térmica, conformabili-
dade, tenacidade, dureza, além, é claro, da sua oferta abundante e da
capacidade de se combinarem, gerando novas ligas metálicas com
melhores propriedades (como magnética, refratariedade, resistência
à corrosão, entre outras).
Os materiais metálicos são utilizados nos mais distintos produtos,
como vergalhões, janelas, tubos, pregos, latas, sapatos, e em mais uma
infinidade de produtos. Por isso, é importante que você, como profissio-
nal da área, estude sobre os materiais metálicos e conheça a origem, as
propriedades, bem como as aplicações deste material.

Origem dos metais


Os metais têm origem na crosta terrestre do planeta. Em algumas regiões
existem os chamados depósitos minerais, esses se situam em áreas limitadas

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e muitas vezes montanhosas. Quando ocorre a exploração desses minerais,


essas áreas são chamadas de reservas.

Para relembrar quais são os elementos metálico acesse o link (TABELA PERIÓDICA
COMPLETA, 2016):
www.tabelaperiodicacompleta.com

Figura 1. Seção transversal mostrando o modo de funcionamento de um alto-forno atual.


Fonte: Smith e Hashemi (2012, p. 262).

Os minerais, após extraídos, são levados às usinas para beneficiamento;


por exemplo, para se chegar ao aço, que é uma liga metálica de ferro-carbono,
o minério de ferro juntamento com o calcário e o coque são inseridos em
distintas camadas na parte superior de um alto-forno. A carga sólida que desce
por gravidade reage com o gás que sobe. (Veja na Figura 1 o esquema do
processo.) Na parte inferior do forno, o ar quente, oriundo dos regeneradores,
é injetado por meio das ventaneiras. Em frente às ventaneiras, o oxigênio do

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ar reage com o coque e forma monóxido de carbono, este então sobe no forno,
reduzindo o óxido de ferro presente na carga que desce.

Para ver as inovações na indústria de mineração acesse o link (WORLD MINING CON-
GRESS, 2016): http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006342.pdf

O produto final desse processo é chamado de ferro-gusa, cuja composição


pode alcançar 4,5% de carbono (C), 1,7% de manganês (Mn), 0,3% de fósforo
(P), 0,04% de enxofre (S) e 15% de silício (Si). O ferro-gusa é enviado às
aciarias para a produção de ligas metálicas ferrosas, como o aço. Já a escória
é destinada às indústrias cimenteiras para a produção do cimento.

Acesse este link para comparar as características dos diferentes tipos de materiais
(MATWEB, 2016):
www.matweb.com

Para a fabricação de produtos metálicos, como o aço, as empresas coletam


sucatas que, depois de um processo de separação, são destinados aos chamados
fornos a arco eletro-voltaico, esses em sua maioria possuem três eletrodos de
grafites utilizados para realizar o derretimento da sucata. Cerca de menos de
10% do aço presente nos produtos é composto por material virgem, o ferro-
-gusa. O restante, e a maior parte, é oriundo de sucata derretida. A mistura do
ferro-gusa e da sucata derretida se dá em fornos menores, como, por exemplo,
o forno à indução, é nele que acontece os ajustes das porcentagens de cada
elemento para formar a liga metálica desejada.
A próxima etapa, chamada de lingotamento contínuo, é um processo no
qual o aço é solidificado em produto semiacabado, como tarugos, perfis ou
placas, para posterior conformação mecânica através de processos como
estampagem, forjamento, extrusão, trefilação e laminação.

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Os aços são classificados de acordo com o seu teor de carbono sendo:


Baixo carbono: C < 0,29%
Médio carbono: 0,3 < C < 0,59%
Alto carbono: 0,6 < C

Estruturas cristalinas
Os metais são elementos químicos que existem como estruturas cristalinas.
Suas estruturas unitárias podem ser do tipo:

a) Cúbico de corpo centrado (CCC): os átomos estão dispostos nos vértices


de um cubo imaginário e mais um átomo em seu centro − é o caso do
ferro (Fe), cromo (Cr), tungstênio (W) e molibdênio (Mo). (Figura 2)
b) Cúbico de face centrada (CFC): os átomos estão dispostos nos vértices
de um cubo imaginário e mais um no centro de cada face − é o caso do
alumínio (Al), chumbo (Pb) e do cobre (Cu). (Figura 3)
c) Hexagonal compacta (HC): os átomos estão dispostos nos vértices de
um prisma hexagonal imaginário e mais três átomos em seu interior, é
o caso do cádmio (Cd), do cobalto (Co), entre outros. (Figura 4)

Figura 2. Células unitárias: (a) posições atômicas na célula unitária, (b) célula unitária com
esferas rígidas, e (c) célula unitária isolada.
Fonte: Smith e Hashemi (2012, p. 63).

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Figura 3: Células unitárias CFC: (a) posições atômicas na célula unitária, (b) célula unitária
com esferas rígidas, e (c) célula unitária isolada.
Fonte: Smith e Hashemi (2012, p. 65).

Figura 4. Diagrama tensão deformação de um material dúctil.


Fonte: Norton (2013, p. 32).

A maioria das propriedades mecânicas dos materiais metálicos, como


resistência à tração, ductilidade, dureza, tenacidade, dependem diretamente da
configuração e distribuição dessa estrutura cristalina, além disso, o processo
siderúrgico utilizado para a fabricação dos produtos também gera impacto
direto em suas propriedades.

Propriedades dos metais


As propriedades dos materiais são estabelecidas por ensaios realizados de
acordo com normas específicas, como a ISO (International Organization for
Standardization), a DIN (Deutsche Institut für Normung) a ASTM (American

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Society for Testing and Materials), a AISI (American Iron and Steel Institute),
SAE (Society of Automotive Engineers) e a ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas). A seguir são relacionadas as principais propriedades dos
materiais metálicos.

Deformação elástica e plástica


Todo carregamento gera uma deformação nos materiais. Quando esse carre-
gamento é retirado e o material retorna ao seu estado original, dizemos que
houve uma deformação elástica. Caso aconteça de, após ter sido retirado o
carregamento, o material não retornar ao seu estado original, dizemos que
houve uma deformação plástica.
Nas deformações elásticas os átomos dos materiais se deslocam sem
ocuparem novas posições, podendo assim retornar ao estado original. Já na
deformação plástica, eles acabam ocupando novas posições e não conseguem,
dessa forma, retornar ao estado original.

Tensão e deformação
Chama-se tensão (s) a relação entre a força aplicada (F) em um material pela
sua área inicial (A0). No sistema internacional (SI), a unidade atribuída à tensão
é Pascal (Pa), sendo igual à (N/m²):

s=F/A0 [Pa]

Chama-se de deformação específica ou alongamento (e) a relação entre a


variação do comprimento (dl) pelo comprimento inicial (l0). Quanto à aplicação
de um carregamento, tradicionalmente a unidade atribuída à deformação é
milímetro por milímetro (mm/mm):

e=dl/ l0 [mm/mm] e dl = l - l0 [mm]

Módulo de elasticidade ou módulo de Young


Se colocar em um gráfico os valores da tensão pela deformação em várias
condições de carregamento em corpos de provas padronizados, você terá o
chamado gráfico tensão-deformação.
A Figura 5 mostra o gráfico tensão deformação para um ensaio de tração
realizado em um material dúctil.

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Figura 5. Diagrama tensão-deformação de um material frágil.


Fonte: Norton (2013, p. 34).

O módulo de Young, ou módulo de elasticidade (E), define a inclinação


da curva tensão-deformação, e está relacionado à energia de ligação entre os
átomos do material. Quanto maior o módulo de elasticidade, maior é a rigidez
do material. Na equação a seguir você pode ver o módulo de elasticidade (E)
em função da tensão (s) e da deformação (e).
E = s/e [Pa]
Veja no Quadro 1 a comparação do módulo de elasticidade (E) de alguns
materiais metálicos:

Quadro 1. Módulo de elasticidade (E) de alguns materiais metálicos.

Material E(GPa)

Alumínio 70

Magnésio 45

Ferro fundido 105-170

Bronze 110

Titânio 115

Aço inoxidável 190

Aço carbono 200-220

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Ductilidade e fragilidade
Os mesmos materiais podem ser dúcteis ou frágeis, pois essas características
também dependem do seu processo de fabricação. Entende-se por ductilidade
como a capacidade de um material se deformar sob a ação de um carregamento,
tendo uma grande deformação antes que haja o rompimento. (A Figura 5
mostra um gráfico de tensão-deformação característico de um material dúctil.
Já a fragilidade é característica de materiais que não proporcionam grandes
deformações quando submetidos a carregamentos até que haja seu rompimento.
(A Figura 6 mostra um gráfico de tensão-deformação característico de um
material frágil.)
Comparando os gráficos da Figuras 5 e da Figura 6 é possível se perceber
que os materiais dúcteis trabalham no regime elástico e plástico. Já os materiais
frágeis trabalham apenas no regime elástico.

Resiliência e tenacidade
Outras duas propriedades muito importantes que podem ser percebidas ob-
servando os gráficos de tensão-deformação são: resiliência e tenacidade. A
primeira diz respeito a capacidade que os materiais possuem de se deformarem
e voltarem ao seu ponto inicial. Um bom exemplo de resiliência é a vara do
esporte salto com vara, visto que esta sofre uma grande deformação e depois
retorna ao estado original. Compreende resiliência a área sob a curva no gráfico
tensão-deformação. Somente na zona elástica sua unidade de medida padrão é
o joule por metro cúbico (J/m³). Já a tenacidade é a capacidade que o material
possui de absorver energia até o momento de ruptura, ou seja, é toda a área
sob a curva no gráfico tensão-deformação, incluindo a zona elástica e a zona
plástica. Sua unidade de medida padrão é o joule por metro cúbico (J/m³).

Corrosão
A corrosão é um fenômeno químico de reação dos metais com alguns ele-
mentos presentes no ambiente, conduzindo a grande maioria dos materiais
à degradação. A exceção se faz nos materiais tidos como nobre, é o caso do
ouro e da platina. A reação se dá com o oxigênio presente no ar e na água,
gerando os óxidos. A corrosão leva à perda de massa, comprometendo os
requisitos geométricos e, consequentemente, os estéticos, mas principalmente
os estruturais dos produtos.

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Eventos como erosão, o atrito, cargas mecânicas, propiciam o surgimento


e/ou o aumento da corrosão, além, é claro, de temperaturas elevadas, que
aceleram significativamente reações químicas. Dentre os principais tipos de
corrosão, destacam-se: uniforme ou generalizada, galvânica, microbiológica,
por pite, por frestas, por tensão mecânica, por atrito e por erosão.
Algumas medidas podem ser tomadas a fim de combater ou amenizar o
processo de corrosão, como:

 Alterar o ambiente corrosivo: é o caso de indústrias que procedem


com a desmineralização da água a fim de inibir a corrosão em dutos.
No Quadro 2 é possível ver boas combinações de metais e ambientes.
 Alterar o material: a substituição de materiais menos resistentes à cor-
rosão por outros mais resistentes, sempre que possível, é uma medida
eficiente para se combater a corrosão.
 Criar um isolamento entre o material metálico e o meio: é o caso das
tintas que geram uma proteção superficial nos produtos, impedindo a
aceleração da degradação por meio de elementos externos que vão desde
o sol, vento, chuva, até poeiras, minerais, atrito e soluções industriais.

Quadro 2. Combinações de metais e ambientes que dão boa resistência à corrosão em


proporção ao custo.
1. Ações inoxidáveis – ácido nítrico
2. Níquel e ligas de níquel – cáustica
3. Monel – ácido hidrofluorídrico
4. Hastelloy (clorimentos) – ácido hidroclorídrico a quente
5. Chumbo – ácido sulfúrico diluído
6. Alumínio – exposição à atmosfera não mancha
7. Estanho – água destilada
8. Titânio – soluções oxidantes quentes
9. Tântalo – resistência última
10. Aço – ácido sulfúrico concentrado
Fonte: Adaptado de Smith e Hashemi (2012, p.525)

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Acesse o link da Associação Brasileira de Corrosão para ver mais sobre a corrosão:
http://www.abraco.org.br/revistas/

1. Sobre a origem dos materiais II. O produto final desse processo


metálicos, indique a alternativa é chamado de escória.
correta: III. O ferro-gusa é enviado às
a) Os depósitos minerais são aciarias para a produção de
regiões montanhosas e as ligas metálicas.
reservas são regiões limitadas. a) I, apenas.
b) Os depósitos minerais se b) II e III.
situam somente em regiões c) III, apenas.
montanhosas, quando da d) I e III.
exploração desses minerais, e) I, II e III.
essas áreas passam a se 3. Avalie as seguintes asserções e
chamar reservas. a relação proposta entre elas:
c) As reservas são depósitos I. Os metais são elementos
minerais inexplorados que se químicos que existem
situam em áreas limitadas e como estruturas cristalinas,
muitas vezes montanhosas. suas estruturas unitárias
d) As reservas são depósitos podem ser do tipo cúbico
minerais que se situam de face centrada (CFC).
em áreas urbanas. II. Os átomos estão dispostos nos
e) Os depósitos minerais se vértices de um cubo imaginário e
situam em áreas limitadas e mais um no centro de cada face.
muitas vezes montanhosas, A respeito dessas asserções,
quando da exploração dos indique a opção correta.
minerais, essas áreas passam a) As asserções I e II são
a se chamar reservas. proposições falsas
2. Sobre o beneficiamento b) A asserção I é uma
do minério de ferro: proposição falsa, e a II é uma
I. Os minerais são levados às proposição verdadeira.
usinas para beneficiamento.

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c) A asserção I é uma proposição c) Módulo de Young – resiliência –


verdadeira, e a II é uma fragilidade – estrutura cristalinas
proposição falsa. d) Ductilidade – tenacidade –
d) As asserções I e II são módulo de Young – corrosão
proposições verdadeiras, mas a e) Ductilidade – resiliência
II não é uma justificativa da I. – alongamento –
e) As asserções I e II são módulo de Young
proposições verdadeiras, e a 5. Sobre a corrosão:
II é uma justificativa da I. I. A corrosão é um
4. Sobre os gráficos de tensão- fenômeno químico
deformação indique a II. A corrosão não leva
alternativa correta quanto as ao comprometimento
propriedades que podem estrutural dos produtos
ser percebidas neles: III. A única medida para se combater
a) Ductilidade – fragilidade – a corrosão é a substituição de
alongamento – corrosão materiais.
b) Resiliência – tenacidade a) I, apenas.
– estrutura cristalina b) II e III.
– alongamento c) III, apenas.
d) I e III.
e) I, II e III.

MATWEB. Site. [S.l.]: MatWeb, 2016. Disponível em: <http://www.matweb.com/>.


Acesso em: 06 dez. 2016.
NORTON, R. L.Projeto de máquinas. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
SMITH, W. F.; HASHEMI, J.Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2012.
TABELA PERIÓDICA COMPLETA. Site. [S.l.: s.n.], 2016. Disponível em: <http://www.
tabelaperiodicacompleta.com/>. Acesso em: 06 dez. 2016.
WORLD MINING CONGRESS: INNOVATION IN MINING, 24., 2016, Rio de Janeiro. Pro-
ceedings... Rio de Janeiro: IBRAM, 2016. Disponível em: <http://www.ibram.org.br/
sites/1300/1382/00006342.pdf>. Acesso em: 06 dez. 2016.

Leitura recomendada
GAUTO, M.; ROSA, G. Química industrial. Porto Alegre: Bookman, 2013. (Série Tekne).

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