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ELEMENTOS DE

MÁQUINAS
Fixação por parafuso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Aprender quando utilizar fixação por parafusos.


„ Identificar os tipos de parafusos utilizados em elementos de máquinas
e suas propriedades mecânicas.
„ Compreender como realizar apertos e ajustes utilizando o torque
adequadamente.

Introdução
Os elementos de fixação têm a função de unir dois ou mais componen-
tes em um equipamento. O parafuso é um elemento de fixação muito
utilizado na união não permanente de elementos de máquinas, ou seja,
em equipamentos que necessitam de desmontagem futura. Por isso
a fixação por parafuso é requerida em praticamente todos os tipos de
equipamento.
Neste capítulo, você irá estudar os tipos de parafuso utilizados em
elementos de máquinas e suas propriedades mecânicas. Além disso,
irá conhecer o procedimento para realizar apertos e ajustes utilizando
o torque.

Parafusos
A fixação por parafusos é adotada em uniões provisórias ou desmontáveis,
ou seja, eles são utilizados quando se requer montagem e desmontagem com
facilidade sem danificar as peças e componentes.
O parafuso é um elemento de máquina de fixação projetado para unir
ou conectar precisamente ao menos dois elementos de máquinas. De modo
geral, o parafuso é composto por duas partes, cabeça e corpo, como ilustra a
Figura 1. Existem tipos de parafusos que não possuem cabeça — mais adiante
também serão apresentados esses modelos.
2 Fixação por parafuso

Cabeça Corpo

Figura 1. Parafuso.

Os parafusos usualmente são fabricados em aço de baixo e médio teor


de carbono, obtidos por meio de conformação e usinagem. Também podem
ser fabricados de aço-liga, aço inoxidável, ligas não ferrosas e plásticos. O
material mais adequado está relacionado com a aplicação e as características
mecânicas desejadas.
Os parafusos são divididos em quatro principais grupos:

„„ Parafusos passantes: essa classificação é utilizada quando o parafuso


atravessa os elementos (sem rosca) a serem unidos, passando livremente
pelo furo. O aperto do parafuso é conferido pela utilização de porcas.
Veja a Figura 2a.
„„ Parafusos não passantes: normalmente, esse tipo de fixação é utilizado
em casos em que não há espaço para acomodar uma porca. A união é
feita pela passagem do parafuso por um furo passante na primeira peça
e a fixação é obtida pela segunda peça, que apresenta um furo roscado
em substituição à porca. Veja a Figura 2b.
„„ Parafuso de pressão: são utilizados para evitar o movimento relativo
entre duas peças que tendem a deslizar entre si. O primeiro elemento
pelo qual o parafuso transpassa possui um furo roscado, é o segundo
elemento é fixado por meio da pressão exercida pela ponta do parafuso
sobre sua superfície ou sede (cavidade destinada a receber a pressão
exercida pelo parafuso). Esse tipo de fixação não é utilizado quando
se requer elevada fixação. Veja a Figura 2c.
Fixação por parafuso 3

„„ Parafuso prisioneiro: o parafuso prisioneiro consiste em uma barra


de seção circular com roscas nas duas extremidades. Esses parafusos
não apresentam cabeça e suas roscas podem ter passos diferentes ou
sentidos opostos, isto é, rosqueamento esquerdo de um lado e rosque-
amento direito do outro. Ele é empregado quando se necessita montar
e desmontar com frequência o conjunto fixado. Veja a Figura 2d.

(a) (b) (c)

(d)

Figura 2. Modelos de parafusos.

Roscas
Rosca é um conjunto de filetes em torno de uma superfície cilíndrica ou cônica.
As roscas são padronizadas conforme a norma ISO (International Organization
for Standardization) ou conforme a UNS (Unified National Standard). Veja
na Figura 3 a terminologia de roscas de parafusos.

Filete é uma saliência de perfil, constante e helicoidal, que se desenvolve de forma


uniforme, externamente (parafusos) ou internamente (porcas), ao redor de uma su-
perfície cilíndrica ou cônica.
4 Fixação por parafuso

Diâmetro maior
Diâmetro de passo
Diâmetro menor
Passo ρ

45° chanfro

Raiz Ângulo de rosca 2α


Crista
Figura 3. Terminologia das roscas de parafuso.
Fonte: Adaptada de Slack et al. (2013, p. 474).

Passo = distância entre adoçamentos adjacentes de rosca, medida parale-


lamente ao eixo da rosca.
d = é o maior diâmetro de uma rosca de parafuso.
dr = é o menor diâmetro de uma rosca de parafuso.
dp = é o diâmetro de passo; é um diâmetro teórico dado pela diferença entre
o maior e o menor diâmetro de uma rosca de parafuso.
Os filetes de roscas apresentam diversos perfis uniformes, responsáveis
por nomear as roscas, e estão condicionados à sua aplicação, conforme ilustra
a Quadro 1.

Quadro 1. Tipos de roscas e aplicações

Tipos de roscas (perfis)


Aplicação
Perfil de filete

Parafuso e porcas de fixação


na união de peças.
„„ Ex.: fixação da roda do carro.
Triangular
Parafusos que transmitem
movimento suave e uniforme.
Trapezoidal „„ Ex.: fusos de máquinas

(Continua)
Fixação por parafuso 5

(Continuação)

Quadro 1. Tipos de roscas e aplicações

Tipos de roscas (perfis)


Aplicação
Perfil de filete
Parafusos de grandes diâmetros
sujeitos a grandes esforços.
Redondo „„ Ex.: equipamentos ferroviários.

Parafusos que sofrem grandes


esforços e choques.
Quadrado „„ Ex.: prensas e moras.

Parafusos que exercem grande


esforço em um só sentido.
Rosca dente-de-serra
„„ Ex.: macacos de catraca.

Fonte: Adaptado de Gordo e Ferreira (1996, p. 34).

Resistência e materiais dos parafusos


Em elementos de máquinas, em que são requeridas elevadas resistências, é
comum o uso de ligas de aço em sua fabricação, pois elas são dúcteis, apre-
sentam elevada rigidez e boa usinabilidade.
A resistência dos aços utilizados na produção de parafusos é utilizada para
determinar sua classe, e é usualmente disponibilizada pelos fornecedores.
As resistências destacadas são: resistência à tração, tensão de escoamento e
resistência de prova.

Resistência de prova: é estabelecida com base na tensão de escoamento, de modo


a garantir que o parafuso não se deforme plasticamente. Normalmente ela é obtida
multiplicando a tensão de escoamento por 0,90.

A SAE (Society of Automotive Engineers) e a ASTM (American Society


for Testing and Materials) estabelecem especificações para os valores míni-
mos da resistência mínima de prova, da resistência mínima de tração e da
resistência mínima de escoamento para os parafusos. O Quadro 2 se refere
à especificação SAE, e o Quadro 3 se referente à especificação ASTM. No
Quadro 4, você vê a referência métrica.
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Quadro 2. Especificação SAE para parafuso de aço


Fixação por parafuso

Intervalo Resistência Resistência Resistência


Grau Marcação
de tamanho mínima de mínima de mínima de Material
SAE nº. de cabeça
inclusivo, in prova, kpsi tração, kpsi escoamento, kpsi

1 1 –1 1 33 60 36 Baixo ou médio carbono


4 2

2 1 3 55 74 57 Baixo ou médio carbono



4 4

7 –1 1 33 60 36
8 2

4 1 –1 1 65 115 100 Médio carbono,


4 2 estirado a frio

(Continua)
(Continuação)

Quadro 2. Especificação SAE para parafuso de aço

Intervalo Resistência Resistência Resistência


Grau Marcação
de tamanho mínima de mínima de mínima de Material
SAE nº. de cabeça
inclusivo, in prova, kpsi tração, kpsi escoamento, kpsi

5 1 –1 85 120 92 Médio carbono, Q&T


4 (temperado e revenido)

74 105 81
1 1 –1 1
8 2

5,2 1 –1 85 120 92 Martensita de


4 baixo carbono, Q&T
(temperado e revenido)

7 1 –1 1 105 133 115 Liga de baixo carbono,


4 2 Q&T (temperado
e revenido)

(Continua)
Fixação por parafuso
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8

(Continuação)
Fixação por parafuso

Quadro 2. Especificação SAE para parafuso de aço

Grau Intervalo Resistência Resistência Resistência Material Marcação


SAE nº. de tamanho mínima de mínima de mínima de de cabeça
inclusivo, in prova, kpsi tração, kpsi escoamento, kpsi

8 1 –1 1 120 150 130 Liga de médio carbono,


4 2 Q&T (temperado
e revenido)

8,2 1 –1 120 150 130 Martensita de


4 baixo carbono, Q&T
(temperado e revenido)

Fonte: Adaptado de Budynas e Nisbett (2016, p. 418).


Quadro 3. Especificação ASTM para parafuso de aço

Intervalo Resistência Resistência Resistência


Designação de tamanho mínima de mínima de mínima de Marcação
ASTM nº. inclusivo, in prova, kpsi tração, kpsi escoamento, kpsi Material de cabeça

A307 1 –1 1 33 60 36 Baixo carbono


4 2

A325, 1 –1 85 120 92 Médio carbono,


tipo 1 2 Q&T (temperado
74 105 81 e revenido) A325
1 1 –1 1
8 2

A325, 1 –1 85 120 92 Baixo carbono,


tipo 2 2 Martensita,
74 105 81 Q&T (temperado
1 1 –1 1 A325
8 2 e revenido)

(Continua)
Fixação por parafuso
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(Continuação)

Quadro 3. Especificação ASTM para parafuso de aço


Fixação por parafuso

Intervalo Resistência Resistência Resistência


Designação de tamanho mínima de mínima de mínima de Marcação
ASTM nº. inclusivo, in prova, kpsi tração, kpsi escoamento, kpsi Material de cabeça

A325, 1 –1 85 120 92 Aço envelhecido,


tipo 3 2 Q&T (temperado
74 105 81 e revenido)
1 1 –1 1 A325
8 2

A354, 1 –2 1 105 125 109 Aço-liga, Q&T


grau BC 4 2 (temperado e revenido)
95 115 99
2
3 –4 BC
4

A354, 1 –4 120 150 130 Aço-liga, Q&T


grau BD 4 (temperado e revenido)

(Continua)
(Continuação)

Quadro 3. Especificação ASTM para parafuso de aço

Intervalo Resistência Resistência Resistência


Designação de tamanho mínima de mínima de mínima de Marcação
ASTM nº. inclusivo, in prova, kpsi tração, kpsi escoamento, kpsi Material de cabeça

A449 1 –1 85 120 92 Médio carbono, Q&T


4 (temperado e revenido)
1 1 –1 1 74 105 81
8 2
3
1 –3 55 90 58
4

A490, 1 –1 1 120 150 130 Aço-liga, Q&T


tipo 1 2 2 (temperado e revenido)
A490

A490, 1 –1 1 120 150 130 Aço envelhecido,


tipo 3 2 2 Q&T (temperado
e revenido)
A490

Fonte: Adaptado de Budynas e Nisbett (2016, p. 419).


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Quadro 4. Categoria métrica de propriedades mecânicas para parafuso de aço


Fixação por parafuso

Resistência
Intervalo Resistência Resistência
Cabeça de mínima de Marcação
de tamanho mínima de mínima de Material
propriedade escoamento, de cabeça
inclusivo prova, * MPa tração, * MPa
* MPa

4,6 MS–M36 225 400 240 Baixo e médio carbono

4,6

4,8 M1,6–M16 310 420 340 Baixo e médio carbono

4,8

5,8 MS–M24 380 520 420 Baixo e médio carbono

5,8

(Continua)
(Continuação)

Quadro 4. Categoria métrica de propriedades mecânicas para parafuso de aço

Resistência
Intervalo Resistência Resistência
Cabeça de mínima de Marcação
de tamanho mínima de mínima de Material
propriedade escoamento, de cabeça
inclusivo prova, * MPa tração, * MPa
* MPa

8,8 MS16–M36 600 830 660 Médio carbono, Q&T


(temperado e revenido)
8,8

9,8 M1,6–M16 650 900 720 Médio carbono, Q&T


(temperado e revenido)
9,8

10,9 MS–M36 830 1040 940 Baixo carbono, Martensita,


Q&T (temperado
e revenido) 10,8

(Continua)
Fixação por parafuso
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Fixação por parafuso

(Continuação)

Quadro 4. Categoria métrica de propriedades mecânicas para parafuso de aço

Resistência
Intervalo Resistência Resistência
Cabeça de mínima de Marcação
de tamanho mínima de mínima de Material
propriedade escoamento, de cabeça
inclusivo prova, * MPa tração, * MPa
* MPa

12,9 M1,6–M36 970 1220 1100 Liga, Q&T


(temperado e revenido)
12,8

Fonte: Adaptado de Budynas e Nisbett (2016, p. 420).


Fixação por parafuso 15

Materiais utilizados na fabricação dos parafusos


Os parafusos fabricados em ligas de alumínio apresentam resistências me-
cânicas inferiores aos parafusos de aço, porém são mais leves e possuem
elevada resistência à corrosão. Os parafusos fabricados em cobre, bronze e
aços inoxidáveis também são requeridos quando há a necessidade em obter
elevada resistência à corrosão.
Os parafusos à base de ligas de níquel apresentam boa resistência mecânica e
elevada resistência à corrosão à temperatura elevada. Já os parafusos de titânio,
além de apresentarem as características dos parafusos de ligas de níquel, são
leves e possuem compatibilidade com ossos humanos, sendo utilizados em
fixação de próteses e na indústria aeroespacial.
Os parafusos poliméricos, fabricados a partir dos plásticos, são leves,
de baixo custo, isolantes térmicos e elétricos, e resistentes à corrosão. A
desvantagem dos parafusos de plástico em relação aos parafusos metálicos é
examinada quando se compara a resistência à tração entre eles: os parafusos
plásticos apresentam notória inferioridade. Por esse motivo, os parafusos
de plásticos são utilizados quando não são requeridos elevados esforços,
sendo usualmente empregados em carcaças de equipamentos domésticos,
brinquedos e fixação de componentes automotivos que não são expostos a
elevadas exigências.
Alguns parafusos de origem metálica permitem tratamentos térmicos para
melhorar sua resistência à tração. No geral, os parafusos metálicos também
permitem acabamentos e revestimentos com o objetivo de diminuir o efeito
da oxidação e afinar sua aparência.

Apertos dos parafusos — torque


O parafuso de fixação une duas ou mais partes, de modo a suportar as cargas
de tração (P) às quais o conjunto será exposto, como ilustra a Figura 4. A
carga de travamento (torque) é obtida ao se torcer a porca até que o parafuso
se alongue próximo ao limite elástico.
16 Fixação por parafuso

P P

P P

Figura 4. Representação das forças de tração em um conjunto de fixação


por parafuso.
Fonte: Adaptada de Budynas e Nisbett (2016, p. 410).

Ao aplicar o torque, fazendo com que a o parafuso se rosqueie na porca, o


parafuso é esticado. Nesse momento, age sobre ele uma força de tração, à qual
recebe o nome de pré-carga. As peças fixadas pelo parafuso estão submetidas
à força de compressão exercida pelo conjunto porca/parafuso.
O dimensionamento dos parafusos em projetos mecânicos é feito em relação
à resistência a tensões de escoamento, tensão máxima e tensão de prova. Ao
apertar demasiadamente a porca, o parafuso pode sofrer uma tensão maior
que a suportada pelo material e romper-se. Se a porca sofre um aperto inferior
ao adequado, o conjunto ficará frouxo, podendo gerar vibrações indesejadas
no equipamento ou provocar soltura do conjunto, causando danos maiores.
Para evitar esses problemas, existem métodos e ferramentas (torquímetros e
chave de torque pneumática), que conferem o aperto adequado.
Fixação por parafuso 17

O torquímetro possui um mostrador incorporado à chave, que indica o


torque aplicado. Já em chaves de torque pneumático, o torque adequado é
obtido pelo controle da pressão do ar que incide sobre a ferramenta.
O método utilizado para estimar o torque adequado emprega a equação
que você vê a seguir. Nesse método, correlaciona-se uma força aplicada sobre
o parafuso, pré-carga (Fi) com o diâmetro do parafuso (d) e um coeficiente de
atrito (K), que é dependente das condições do parafuso (rugosidade, precisão
e grau de lubrificação). O Quadro 5 apresenta valores usuais para K.

T = K · Fi·d

Quadro 5. Apresenta valores usuais para K

Condição do parafuso K

Não revestido, acabamento negro 0,30

Revestido de zinco (zincagem) 0,20

Lubrificado 0,18

Revestido de cádmio (cadmiagem) 0,16

Com antiaderente 0,12

Com porcas de pega 0,09

Na fixação por parafuso e porca, o aperto do conjunto porca/parafuso deve ser realizado
na porca, sempre que possível. O operador deve assegurar que o parafuso permaneça
parado e a porca receba o toque, fazendo com que ela rosqueie no parafuso. Desse
modo, a haste do parafuso não sentirá o torque.
18 Fixação por parafuso

BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley: projeto de engenharia


mecânica. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
GORDO, N.; FERREIRA, J. Telecurso 2000 Profissionalizante: Elementos de Máquinas. 1
ed. São Paulo, Editora Globo, 1996.

Leituras recomendadas
MOTT, R. L. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2015.
NIEMANN, G. Elementos de máquinas. 6. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2002. v. 1.
NORTON, R. L. Projetos de Máquinas: uma abordagem integrada. 4. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2013.

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