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ELEMENTOS DE

MÁQUINAS
Fixação por chavetas
— estrias em eixo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Reconhecer os modelos de chavetas existentes.


„ Identificar os materiais mais utilizados na fabricação de chavetas.
„ Dimensionar uma chaveta paralela de acordo com sua
aplicação.

Introdução
A chaveta é um elemento de máquina projetado para unir elementos de
máquina de transmissão, como polias e engrenagens, a um eixo. Apresenta
diversos formatos e normalmente é fabricada em ligas de aço-carbono.
Uma alternativa às chavetas é o emprego de eixos e cubos estriados: as
estrias usinadas no cubo e no eixo realizam a transmissão de torque da
mesma forma que as chavetas.
Neste capítulo, você vai estudar os diferentes modelos de chavetas e
suas aplicações e conhecer os tipos de materiais mais utilizados em sua
fabricação. Também vai ver como dimensionar uma chaveta paralela de
acordo com sua aplicação.

Chavetas
A chaveta é considerada um elemento de fixação ou um elemento de trans-
missão de torque. De acordo com Mott (2015), a chaveta é um elemento de
máquina localizado na interface entre um eixo e um elemento transmissor de
potência (engrenagem ou polia), com o objetivo de transmitir torque. Segundo a
ASME (American Society of Mechanical Engineers), citada por Norton (2013),
a chaveta é um componente mecânico desmontável que, quando colocado em
assentos (sedes), representa um meio de transmitir torque entre o eixo e o cubo,
fixando dois componentes mecânicos e transmitindo potência.
2 Fixação por chavetas — estrias em eixo

A chaveta é desmontável, e sua montagem é relativamente simples, para


facilitar e agilizar a montagem e a desmontagem do sistema de eixo. Ela
é instalada em um sulco axial, geralmente usinado, no eixo chamado de
assento ou sede, popularmente conhecido como “rasgo de chaveta”. Um
assento semelhante é produzido no cubo do elemento transmissor de potência.
Normalmente, a chaveta é instalada primeiro no assento do eixo, em seguida o
assento do cubo é alinhado com a chaveta, efetuando a montagem. A Figura 1
ilustra como a chaveta é empregada no sistema de fixação.

Assento da chaveta
Chaveta
Assento da chaveta

Chaveta

Figura 1. Diagrama de fixação por chaveta.


Fonte: Adaptada de Gordo e Ferreira (1996, p. 87).
Fixação por chavetas — estrias em eixo 3

As chavetas são classificadas principalmente de acordo com sua geometria,


e os modelos mais comuns de chavetas são:

„„ chaveta paralela quadrada;


„„ chaveta paralela retangular;
„„ chaveta de cunha;
„„ chaveta de quilha;
„„ chaveta Woodruff;
„„ chaveta de pino.

A terminologia “cubo” será utilizada para identificar o lado interno dos elementos de
transmissão. Esse lado é fixado ao eixo e que contém o assento para receber a chaveta.

Chaveta paralela quadrada e chaveta paralela


retangular
As chavetas quadradas e as chavetas retangulares são classificadas como
chavetas paralelas, pois apresentam as partes superiores das chavetas paralelas
às partes inferiores. A diferença entre a chaveta quadrada e a retangular está na
forma geométrica: a chaveta quadrada, como o próprio nome sugere, apresenta
a face quadrada, enquanto a chaveta retangular apresenta face retangular.
Tanto no eixo quanto no cubo, os assentos para a chaveta quadrada e para
a chaveta retangular são projetados de modo que exatamente metade da altura
da chaveta seja apoiada no assento do eixo e a outra metade no assento do
cubo. O Quadro 1 fornece as dimensões métricas preferenciais de acordo com
o diâmetro do eixo para as chavetas paralelas.
4 Fixação por chavetas — estrias em eixo

Quadro 1. Tamanho de chaveta em função do diâmetro do eixo

Dimensões métricas (sistema internacional)

Diâmetro nominal do eixo (mm) Dimensões da chaveta (mm)

Limite inferior Limite superior Largura (W) Altura (H)

6 8 2 2

8 10 3 3

10 12 4 4

12 17 5 5

17 22 6 6

22 30 8 7

30 38 10 8

38 44 12 8

44 50 14 9

50 58 16 10

58 65 18 11

65 75 20 12

75 85 22 14

85 95 25 14

95 110 28 16

110 130 32 18

130 150 36 20

150 170 40 22

170 200 45 25

200 230 50 28

230 260 56 32

260 290 63 32

290 330 70 36

330 380 80 40

380 440 90 45

440 500 100 50

Fonte: Adaptado de Mott (2015, p. 491).


Fixação por chavetas — estrias em eixo 5

Chaveta de cunha e chaveta de quilha


A chaveta de cunha também recebe o nome de chaveta cônica, pois apresenta
altura variável ao longo de seu comprimento, conforme ilustra a Figura 2. A
conicidade da chaveta cônica permite seu travamento, devido à força de atrito
empregada pelo conjunto eixo/cubo.
A chaveta de quilha apresenta formato semelhante ao formato da chaveta
de cunha, porém ela possui uma “cabeça” a qual recebe o nome de quilha, que
origina sua nomenclatura. Exatamente por apresentar essa saliência, a chaveta
de quilha permite sua remoção pela mesma extremidade que foi instalada —
característica é desejada quando não é possível acessar a extremidade oposta
para a remoção a chaveta.

Chaveta de cunha
Orientação para
dimensão H
Comprimento Comprimento
do cubo W’ do cubo W’
H H

W W

Chaveta de quilha
Comprimento
do cubo B/2 (valor aproximado)

45°
A
H
W W’ B

Figura 2. Chaveta de cunha e chaveta de quilha.


Fonte: Adaptada de Mott (2015, p. 492).
6 Fixação por chavetas — estrias em eixo

Chaveta Woodruff
A chaveta Woodruff é popularmente conhecida como chaveta “meia-lua”,
devido ao seu formato, como ilustra a Figura 3. A forma semicircular pro-
voca no eixo um aprofundamento do assento da chaveta, ocasionando maior
resistência ao movimento da chaveta. Contudo, o aprofundamento do assento
promove o enfraquecimento do eixo.

B
Geometria típica Geometria típica
B para B ≤ 1 1/2 pol para B ≤ 1 1/2 pol

Profundidade W
do eixo
W
Profundidade
do eixo
Altura da
F Altura da chaveta C
chaveta C
F

Figura 3. Chaveta Woodruff.


Fonte: Adaptada de Mott (2015, p. 492).

A norma ANSI B17.2 — 1967 fornece as dimensões padronizadas para uma


gama de chavetas Woodruff, listada no Quadro 2. O número da chaveta fornece
suas dimensões nominais em polegadas, os dois últimos dígitos fornecem o
diâmetro nominal (B) em oitavos de polegadas, e os dígitos precedentes aos
dois últimos dígitos fornecem a largura nominal (W) em trinta segundos de
polegada (1/32).

A chaveta Woodruff de numeração 1210 tem 10/8 pol., que corresponde a 1.1/4 pol.
de diâmetro, e 12/32 pol., que corresponde a 3/8 pol. de largura.
Quadro 2. Dimensões de chaveta Woodruff

Número da Tamanho nominal Comprimento efetivo Altura da Profundidade do Profundidade do


chaveta da chaveta, W × B da chaveta, F chaveta, C assento no eixo assento no cubo

202 1/16 × 1/4 0,248 0,104 0,0728 0,0372

204 1/16 × 1/2 0,491 0,200 0,1668 0,0372

406 1/8 × 3/4 0,740 0,310 0,2455 0,0685

608 3/16 × 1 0,992 0,435 0,3393 0,0997

810 1/4 × 1¼ 1,240 0,544 0,3545 0,1935

1210 3/8 × 1¼ 1,240 0,544 0,3545 0,1935

1628 1/2 × 3½ 2,880 0,935 0,6830 0,2560

2428 3/4 × 3½ 2,880 0,935 0,5580 0,3810

Fonte: Adaptado de Mott (2015, p. 494).


Fixação por chavetas — estrias em eixo
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8 Fixação por chavetas — estrias em eixo

Chaveta de pino
A chaveta de pino é uma chaveta de formato cilíndrico, semelhante a um
pino, como ilustra a Figura 4. Essas chavetas necessitam de assentos justos,
muito precisos, para garantir que a chaveta não se mova e que o apoio seja
distribuído igualmente ao longo do comprimento da chaveta. A chaveta de
pino é requerida quando o carregamento principal é de cisalhamento e quando
a torção e a força axial estiverem presentes.

Figura 4. Chaveta de pino.


Fonte: Budynas e Nisbett (2016, p. 377).

A chaveta de pino também pode apresentar-se em formato cônico — o


Quadro 3 fornece as dimensões de chaveta de pino cônicas comerciais.
Em projetos, é usual utilizar a Equação 1 para obter o menor diâmetro
desse modelo de chaveta.

d = D – 0,0208L [mm] Equação 1

Onde:
d = diâmetro da extremidade menor [mm]
D = diâmetro da extremidade maior [mm]
L = comprimento da chaveta [mm]
Fixação por chavetas — estrias em eixo 9

Quadro 3. Dimensões da extremidade maior de chavetas de pino cônicas

Comercial Precisão

Tamanho Máximo Mínimo Máximo Mínimo

4/0 2,802 2,751 2,794 2,769

2/0 3,614 3,564 3,607 3,581

0 3,995 3,945 3,988 3,962

2 4,935 4,884 4,928 4,902

4 6,383 6,332 6,375 6,350

6 8,694 8,644 8,687 8,661

8 12,530 12,479 12,522 12,497

Fonte: Adaptado de Budynas e Nisbett (2016, p. 377).

Materiais utilizados em chavetas


As chavetas normalmente são feitas de ligas de aço-carbono, ligas de aço
inoxidável e algumas ligas não ferrosas. Em situações em que não são reque-
ridos grandes esforços ou em dispositivos com cargas baixas, são utilizadas
chavetas de plástico.
A escolha do material mais adequado altera-se de acordo com aplicação,
esforços, exposição a ambientes corrosivos e/ou agressivos, viabilidade eco-
nômica e outras questões. De modo mais abrangente, a maioria das chavetas
é fabricada em aço com baixo teor de carbono, como o SAE 1018. Esse é um
material de baixo custo, resistência satisfatória e com disponibilidade imediata
em diversos fornecedores de aços.
Se o projeto necessitar que a chaveta apresente elevada resistência mecânica,
as ligas de aço com médio e alto teor de carbono são aplicadas. Entretanto,
elas apresentam baixa ductilidade, sendo, às vezes, substituídas pelas chavetas
de aço com baixo teor de carbono em maior quantidade.
Quando se necessita de chavetas resistentes à corrosão, as ligas de aço
inoxidável são as mais recomendadas. As ligas de alumínio não são usualmente
utilizadas, mas, dependendo do projeto, pode ser a mais qualificada. Quadro 4
apresenta uma lista de materiais utilizados na fabricação de chavetas e sua
respectiva resistência à tração e tensão de escoamento.
10 Fixação por chavetas — estrias em eixo

Quadro 4. Materiais usados na fabricação de chavetas

Material Resistência a Tração Tensão de escoamento

SAE Ksi MPa Ksi MPa

1018 64 441 54 372

1035 72 496 39,5 272

1045 91 627 77 531

1095 140 965 83 572

4140 102 703 90 621

8630 100 690 95 655

303 90 621 35 241

304 85 586 35 241

316 85 586 35 241

416 75 517 40 276

6061 18 124 12 83

Fonte: Adaptado Mott (2015, p. 495).

Projeto de chaveta
Ao dimensionar as chavetas, o projetista precisa estar ciente de que elas podem
falhar, basicamente, por cisalhamento na interface eixo/cubo e por compressão
provocada pelas reações na face em contato com o eixo ou na face em contato
com o cubo.

Força cisalhante
O torque no eixo exerce uma força sobre a chaveta que, por sua vez, exerce
uma força sobre o cubo. A força de reação do cubo na chaveta, com sentido
contrário ao torque, gera a tensão de cisalhamento sobre a seção transversal
da chaveta W × L. A magnitude da força cisalhante é obtida pela Equação 2.
Fixação por chavetas — estrias em eixo 11

T 2T
F= –F= [N] Equação 2
()
D
2
D

Onde:
T = torque [N · m]
D = diâmetro do eixo [m]
A tensão de cisalhamento é obtida com emprego da Equação 3.

τ=
F
AS
→τ=
F N
W · L m2
[ ] Equação 3

Onde:
W = largura da chaveta [m]
L = comprimento da chaveta [m]

Substituindo a Equação 2 na Equação 3 e rearranjando, obtemos a Equação


4, utilizada para calcular o comprimento mínimo da chaveta.

F 2T 2T
τ= → τ = D · W · L → Lmin = τ · D · W [m] Equação 4
W·L

Em projetos mecânicos, é comum usarmos a tensão de projeto, que é dada


pela Equação 5.

τd =
0,5 · Sy
N [ ]
N
m2
Equação 5

Sy = tensão de escoamento [MPa]


N = coeficiente de segurança [adimensional]
12 Fixação por chavetas — estrias em eixo

Assim, é possível reescrever a Equação 4, e o comprimento mínimo da


chaveta pode ser calculado pela Equação 6.

2T 2TN
Lmin = → Lmin = [m] Equação 6
( 0,5 · Sy
N )
·D·W
0,5 · Sy · D · W

Força de compressão
As forças de compressão atuam sobre a área de apoio (L × H/2) da chaveta, tanto no
eixo quanto no cubo. A tensão de compressão é obtida pela utilização da Equação 7.

F
σ= A =
C L·
H
F

( )
→σ=
2F N
[ ]
L · H m2
Equação 7
2

Onde:
H = altura da chaveta [m]
L = comprimento da chaveta [m]

Substituindo a Equação 2 na Equação 7 e reorganizando, obtemos a Equa-


ção 8, utilizada para calcular o comprimento mínimo da chaveta ao avaliar
as forças compressivas.

σ=
2F
=
2· ( 2TD ) →σ=
4T
→ Lmin =
4T

[m] Equação 8
L·H L·H D·L·H σ·D·H

A tensão de projeto é dada pela Equação 9.

Sy N
σd = Equação 9
N m2

Sy = tensão de escoamento [MPa]


N = coeficiente de segurança [adimensional]
Fixação por chavetas — estrias em eixo 13

Assim, a Equação 8 pode ser reescrita, e o comprimento mínimo da chaveta


relativo à compressão pode ser calculado pela Equação 10.

4T 4TN
Lmín = → Lmín = [m] Equação 10
Sy Sy · D · H
·D·H
N

„„ Utiliza-se como comprimento mínimo da chaveta o menor comprimento mínimo


calculado.
„„ Se o comprimento mínimo calculado for maior que o comprimento do cubo, é
necessário utilizar um material mais resistente ou adicionar mais chavetas.
„„ Usualmente, quando o comprimento mínimo da chaveta é menor que o compri-
mento do cubo, utiliza-se como comprimento da chaveta o próprio comprimento
do cubo, pois assim o cubo apresentará maior estabilidade junto ao eixo.

BUDYNAS, R.; NISBETT, J. K. Elementos de máquina de Shigley. 10. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2016.
GORDO, N.; FERREIRA, J. Telecurso 2000 Profissionalizante: Elementos de Máquinas. 1
ed. São Paulo, Editora Globo, 1996.
MOTT, R. L. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2015.
NORTON, R. L. Projetos de Máquinas: uma abordagem integrada. 4. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2013.

Leituras recomendadas
JUNIVALL, R. C.; MARSHEK, K. M. Fundamentos do projeto de componentes de máquinas.
5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
MELCONIAM, S. Elementos de máquina. 9. ed. São Paulo: Érica, 2008.

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