Você está na página 1de 24

Capítulo 2: Ligações Soldadas

Informações gerais sobre ligações

As peças de máquinas são unidas por vários meios. Os meios para unir as peças
chamam-se uniões ou ligações (ou junções).

As ligações podem ser:


- Fixas ou inamovíveis (ou indissolúveis)
- Desmontáveis ou amovíveis

As junções inamovíveis principais são:


- Ligações soldadas (ou ligações por soldadura)
- Ligações rebitadas
- Acoplamentos fixos (pressão, colagem, etc.)

- As ligações desmontáveis são:


- por parafusos
- por chavetas
- por veios e cubos canelados
- ligações por cavilhas
- ligações por pressão
- uniões de eixos e veios, de vários tipos

Ligações Soldadas

As ligações soldadas fazem parte do grupo das ligações fixas (ou inamovíveis)
obtidas por meio de um processo de soldadura, no qual há uma interacção molecular
entre materiais das peças unidas na zona soldada.
Há vários processos de soldadura e várias configurações. Na maioria dos casos a
soldadura é feita com a fusão do material das peças a soldar ou do material adicional ou
ambos.

As principais vantagens da soldadura são:


- economia do material (ou baixo peso da ligação);
- baixo gasto de trabalho;
- simplicidade do processo de soldadura;
- ausência de ruídos durante a soldadura;
- homogeneização do material das peças.

Os maiores inconvenientes das ligações soldadas são:


- deformações térmicas durante a soldadura (e durante o arrefecimento);
- dificuldade em soldar alguns materiais, considerados difíceis de soldar;
- a formação de uma zona de efeito térmico;
- susceptibilidade à ruptura da ligação na presença de vibrações;
- controle de qualidade difícil e/ou caro.
A soldadura é usada não só como meio de construção mas também como meio de
reparação.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 34


Processos de Soldadura

A soldadura pode ser feita por caldeamento (pressão mútua, sem fusão), ou por
fusão mútua.
Na soldadura por caldeamento há aquecimento da união até à temperatura de
soldadura e depois usam-se prensas ou martelos para exercer pressão entre as peças
aquecidas. O material da junção encontra-se num estado pastoso ou quase pastoso, para
facilitar a ligação. A soldadura por atrito usa um efeito similar, em que as superfícies a
soldar são friccionadas até atingirem uma dada temperatura e depois comprimidas até se
fixarem. Existem soldaduras por pressão sem aquecimento, que não têm relevância para
a presente abordagem.
A soldadura de materiais plásticos por ultra-sons usa também o princípio da
soldadura por atrito. Os tipos de soldadura em que só se aquecem as superfícies podem
ter vantagens na redução das tensões térmicas.
A soldadura por fusão pode ser obtida por vários métodos. Há variadas fontes de
calor para fundir os materiais: chama de gás (e.g., acetileno), fornalha, reacção química
exotérmica (e.g., soldadura aluminotérmica), arco voltaico (e.g., a eléctrodo consumível),
resistência eléctrica (e.g., por pontos), indução, atrito, raios electrónicos, raios luminosos
(LASER) e outras. A soldadura autogénea une entre si peças do mesmo material,
fundindo os bordos numa dada zona, em princípio sem adição de material adicional.
Geralmente, usa-se um material adicional que é feito (quase) do mesmo material que o
das peças a soldar. Assim, os materiais fundem simultaneamente, juntam-se e, ao
resfriar, solidificam formando uma junção forte. A soldadura heterogénea une entre si
peças de materiais diferentes ou não, sem fusão dos bordos, usando material adicional
de relativamente menor ponto de fusão. Na essência, o metal adicional é um aglutinante.
A soldadura a gás usa uma mistura de oxigénio com diversos combustíveis
gasosos. O acetileno permite obter temperaturas até 3100 ºC e o benzol até 2700 ºC. O
hidrogénio permite obter temperaturas até 2000 ºC e o gás de iluminação permite obter
temperaturas até 1800 ºC. Na soldadura a gás a mistura em combustão funde uma
porção de metal adicional, normalmente um fio ou vareta. As vezes usa-se este processo
para fazer a soldadura directa de paredes finas, sem material adicional.
Quando a chama da combustão tem muito oxigénio pode ser usada para o corte a
chama ou oxi-corte, um processo muito ligado à soldadura por chama.
Actualmente, emprega-se muito a soldadura por arco eléctrico. Esta é feita
utilizando um arco voltaico capaz de elevar a temperatura na zona de fusão até 3500ºC.
O material do eléctrodo funde sob o efeito do arco voltaico e cai sobre a zona a soldar na
forma de gotas. A soldadura eléctrica pode ser usada para obter costuras de alta
qualidade, com ou sem material adicional. Às vezes usam-se atmosferas protectoras com
gases mas é comum o uso de eléctrodos com revestimento ou o uso de soldadura com
arco submerso. Quando não se usa material adicional o eléctrodo é feito de material
infusível ou por resistência de contacto. A soldadura eléctrica por resistência consiste no
aquecimento das superfícies de contacto das peças a soldar por meio da passagem de
uma corrente eléctrica que as aquece, seguido de compressão.

Há outros processos de soldadura tais como a soldadura a LASER, a soldadura


por plasma, a soldadura aluminotérmica, a soldabrasagem e a infusão de metal fundido,
cuja abordagem não será feita por serem tópicos de disciplinas especializadas.
Os processo de junção de peçs por fusão de material nos quais só se funde o
material adicional (por exemplo, a soldabrasagem) não são soldaduras genuinas.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 35


O calor da soldadura aquece as zonas vizinhas do cordão de soldadura podendo
causar recristalização e recozimento, com eventual redução de propriedades mecânicas
do material como o limite de resistência e a dureza, para além de causar efeitos
termoquímicos. Por isso, a vizinhança do cordão de soldadura costuma ter piores
características de resistência que a média do material não aquecido. O cordão de
soldadura em si, quando feito com material adicional apropriado, é tipicamente mais
resistente que o material básico.

Como o calor da soldadura tem efeitos nocivos é necessário tomar precauções


para evitar tensões residuais, contracções e empenamentos. Algumas das medidas são:

- evitar excesso de calor concentrado;


- possibilitar a expansão térmica;
- fazer o recozimento das peças soldadas num forno a 600ºC.
- aquecer o material antes da soldadura até 100-150ºC, para aços com alto teor
de carbono, que são mais difíceis de soldar;
- pré-aquecer o ferro fundido até 200...300ºC;
- usar, preferivelmente, vários cordões finos em vez de um cordão grosso, do
ponto de vista do efeito térmico, especialmente em locais com baixa espessura.

As ligações soldadas podem causar o surgimento de concentração de tensões. Por


isso, às vezes é conveniente alisar o cordão de soldadura nas peças sujeitas a cargas
cíclicas, de forma a reduzir as tensões internas e aumentar a resistência à fadiga.
Na soldadura, há dispositivos de fixação das peças que se destinam a facilitar o
processo e reduzem a necessidade de maquinagem prévia da zona a soldar.

Classificação das ligações soldadas

Os cordões de soldadura tanto podem ser de topo como angulares (também


chamados “de canto”). Porém, a classificação mais comum das uniões soldadas é feita
com base nas posições relativas das peças a soldar. Alguns tipos mais comuns são:

- ligação de topo (ou topo-topo)


- ligação sobreposta
- ligação com cobre-juntas (talas)
- ligação em T e em ângulo

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 36


fig. 1

As soldaduras a topo suportam bem as cargas estáticas e dinâmicas e têm alta


fiabilidade e simplicidade. Podem ser usadas para chapas e vigas contínuas de diversas
espessuras.
Para peças finas não é preciso trabalhar os rebordos, bastando aplicar o cordão de
soldadura numa ou em duas faces.
Quando os materiais a soldar são grossos (acima de 4 mm) pode-se preparar a
parte da costura provendo chanfros. Este tipo de costura pode aplicar-se a peças com
diferentes espessuras, mas quando há cargas cíclicas convém maquinar o cordão de
soldadura. A execução de chanfros de transição entre peças de diferentes espessuras
também aumenta a resistência de ligação. Um outro procedimento para aumentar a
resistência da ligação é a execução de um cordão de soldadura oblíquo.

fig. 2 - Cordão obliquo

Quando a espessura da peça é grande os rebordos são trabalhados fazendo


chanfros sucessivamente em ½V, em V, em K, em X, em U e em duplo U.
As ligações sobrepostas e com cobre-juntas podem ser feitas com cordões frontais
ou laterais ou combinados. Também se podem utilizar ranhuras ou rebites de soldadura.
O comprimento do cordão angular não deve ser inferior a 30 mm, para reduzir a influência
dos defeitos no inicio e fim da costura. O cateto da costura não deve ser inferior a 3 mm
em peças com espessura não menor que 3 mm.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 37


As ligações com cobre-juntas são as que possuem menor resistência mecânica. A
cobre-junta unilateral deve ser aproximadamente (0,7 ... 1)·δ (espessura das peças a
ligar) e a bilateral aproximadamente (0,3 ... 0,5)·δ. As soldaduras nas cobre-juntas podem
ser como nas ligações sobrepostas.
As ligações em T são feitas em peças que se situam perpendicularmente, uma em
relação a outra. As costuras para este tipo de ligação podem ser de topo ou angulares.
Quando há cargas dinâmicas é preferível usar um cordão côncavo. As ligações com
cordão unilateral suportam muito baixas cargas.
A ligações soldadas podem ser tanto para transmitir esforços como para garantir
hermeticidade.

Cálculo das Ligações Soldadas

Para o cálculo das ligações soldadas que devem resistir a dados valores de
esforços supõe-se que:

a) O esforço é uniformemente distribuído ao longo do cordão de soldadura


b) A tensão está uniformemente distribuída ao longo de secção de trabalho.

Para cordões do topo calcula-se a resistência à rotura tendo como altura de cálculo
a espessura do elemento mais fino da ligação.

Ligações de topo

Para junções de topo bem constituídas, a parte mais fraca da ligação é equivalente a uma
secção da peça com largura da secção original da ligação, provavelmente na zona de
efeito térmico, desde que o material da soldadura seja escolhido segundo as
recomendações. Sendo as peças sujeitas a uma força F que gera tracção ou
compressão, ou sujeitas a um momento flector M que cria flexão, as tensões calculam-se
por:
σ= =
F F
A b ⋅δ
≤ σ'[ ] (SOL 1)
M 6⋅ M
σ= = ≤ [σ ']
W b ⋅δ 2
onde:
b e δ - são a largura e a espessura da junção;
[ σ ′ ] - é a tensão admissível da ligação soldada. A relação entre [ σ ′ ] e a tensão
admissível à tracção do material básico é o " coeficiente de resistência" ϕ:

ϕ=
[σ '] (SOL 2)
[σ ]trac
O coeficiente de resistência varia de 0,9 a 1, para casos gerais, mas pode ter outros
valores consoante a qualidade da soldadura. Como a soldadura debilita a construção,
pode-se reaver parte da resistência original utilizando cordões inclinados, cujo
comprimento é maior que a largura das peças soldadas. Esta medida permite elevar a
resistência da ligação, o que corresponde ao aumento aparente da tensão admissível na
ligação.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 38


fig.3 - Ligação de topo

A resistência da ligação pode elevar-se até ser igual à do material básico, o que se
expressa por:

[ σ ′ ] = [σ]trac ou ϕ=1,

onde:
- [σ]trac é a tensão admissível à tracção:

[σ ]trac = σ e
s
onde:
- s é o coeficiente de segurança das tensões, perto de 1,4 ... 1,6, para materiais
dúcteis.
- σe é o limite de fluência (ou escoamento) do material.

Ligações sobrepostas

Os cordões de soldadura podem ser normais (1, fig. 4), côncavos (2, fig. 4) ou
convexos (3, fig. 4). Os cordões convexos são mais úteis para ligar peças com
espessuras diferentes mas provocam o surgimento de concentração de tensões, devido à
variação brusca na forma da costura. Os cordões côncavos reduzem a concentração de
tensões e por isso são recomendados para cargas variáveis. Têm melhor comportamento
à fadiga, devido à transição suave de forma. Os cordões normais são os mais populares.

fig. 4 – Cordões de canto normal (1), côncavo (2) e convexo (3)

As dimensões mais importantes da costura angular são:


Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 39
- cateto k
- altura (espessura) do cordão h; para o cordão normal: h= k⋅sen 45º ≈ 0,7⋅k
k ≥ 3mm já que δ ≥ 3mm; em geral k = δ

Os cordões de canto podem ser frontais (perpendiculares à força), laterais (ou de


flanco, que são paralelos à força) ou inclinados. Em geral usam-se cordões combinados:
frontais e laterais.
Nos cordões laterais a distribuição das tensões não é uniforme. Há concentração
de tensões nas extremidades do cordão, sendo esta maior no contacto com a peça de
secção mais fina, devido à sua menor rigidez. A tensão no centro do comprimento do
cordão é menor que a média e não se recomenda que o cordão seja muito comprido.
Deve-se observar o limite ≤ 50⋅k .

O cálculo de cordões de canto laterais pode ser feito considerando que a rotura se
verifica sob efeito das tensões tangenciais, ao longo da espessura do cordão. A tensão
tangencial de um par de cordões é:

τ=
F
=
F
A 2 ⋅ (0,7 ⋅ k ⋅ )
≤ τ'[] (SOL 3)

Para um único cordão: τ=


F
=
F
A (0,7 ⋅ k ⋅ )
[]
≤ τ'
onde:
- é o comprimento da costura, sem considerar a existência dos crateres (os
crateres são deformações que se verificam no início e fim da soldadura).
0,7⋅ k - é a altura (espessura) da secção na zona mais propensa a destruir-se.

fig. 5 -Tensões tangenciais no cordão

Quando se usam ranhuras para aumentar a resistência da costura, estas são


preenchidas com solda (fig.6). A largura da ranhura é aproximadamente igual a 2·δ e se
k = δ tem-se a tensão:

τ=
F
=
F
A 2 ⋅ k ⋅ (0,7 ⋅ +
≤ τ'[ ] (SOL 4)
1)

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 40


fig. 6 - Ligação sobreposta com ranhura

Quando as peças são assimétricas e possuem cordões de soldadura em lados


(flancos) opostos convém ter em consideração a uniformização das tensões nos cordões
por meio de provisão de comprimentos proporcionais às fracções de carga suportada. A
carga em cada cordão é tanto maior quanto mais próximo este estiver do centro de
gravidade da secção.

fig. 7 - Ligação de peças assimétricas com cordões laterias

e2
1
= (SOL5)
2 e1
e1, e2 – distâncias desde o cordão ao centro de gravidade

Nestas condições, a tensão média é dada por:

τ=
F
0,7 ⋅ k ⋅ ( + )
[ ]
≤ τ' (SOL 6)
1 2

Quando as peças estão sujeitas a momentos, as tensões devidas a estes


momentos distribuem-se de modo irregular ao longo das costuras (fig.8). A tensão é
proporcional ao raio-vector desde o centro de gravidade das costuras ao ponto
considerado, no cordão de soldadura, e é perpendicular a este raio. A irregularidade é
tanto maior quanto maior for a relação entre o comprimento do cordão e a distância entre
cordões, / b . A tensão máxima pode ser calculada utilizado a fórmula:

T
τ=
WP
onde:
W P - é o momento polar de resistência dos cordões, nos planos de destruição.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 41


fig. 8 - Peças sujeitas a momentos

Quando o comprimento do cordão é menor que a distância entre cordões é


possível aproximar a direcção das tensões a uma direcção constante (fig. 8-b) e
considerar que o momento é balanceado pelo binário de forças unidireccionais devidas a
tensões tangenciais, de forma que a tensão resultante é calculada por:

τ=
T
0,7 ⋅ k ⋅ ⋅ b
[ ]
≤ τ' (SOL 7)

Os cordões frontais (fig.9) têm a virtude de distribuir a tensão devida a forças de


tracção/compressão de maneira uniforme. Para fins de cálculo de engenharia considera-
se que os cordões frontais rompem devido a tensões tangenciais que se observam ao
longo da secção correspondente à espessura do cordão (m-m). As tensões tangenciais
na zona de ruptura podem ser calculadas por:

τ=
F
0,7 ⋅ k ⋅
[ ]
≤τ' (SOL 8)

fig. 9 - Cordões frontais

Como resultado das considerações anteriores (por exemplo, fórmulas 3 e 8), pode-
se concluir que no cálculo das costuras com cordões de canto não importa a direcção da
carga de tracção/compressão.
Para cordões inclinados a secção perigosa é também definida como aquela que
contém as espessuras dos cordões. Porém, tem-se o beneficio de um comprimento
aumentado do cordão mas a fórmula para o cálculo da tensão continua sendo:

F
τ= ≤ τ' (SOL 9)
0, 7 ⋅ k ⋅
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 42
fig. 10 – Cordão inclinado

Quando os cordões frontais são carregados por momentos a tensão distribui-se de


modo proporcional à distância até ao centro de gravidade da costura (fig.11), similar à
distribuição de tensões normais na secção de uma barra sujeita a momentos flectores.
Apesar de se registarem tensões normais na secção perigosa, o cálculo é feito tendo em
vista a tensão tangencial. Para tal usa-se o momento axial de resistência da costura na
secção perigosa:

τ=
T
=
6 ⋅T
W 0,7 ⋅ k ⋅ b 2
≤ τ' [] (SOL10)

fig. 11 - Cordão frontal carregado por um momento

Para cordões combinados (laterais e frontais) sujeitos a esforços de tracção/


compressão (fig.12), uma vez que não há diferença na estrutura das fórmulas de cálculo,
pode-se aglutinar o comprimento dos cordões e utilizar a fórmula:

τ=
F
=
F
0,7 ⋅ k ⋅ (2 ⋅ lat + )
[ ]
≤ τ' (SOL 11)
Σ ⋅ 0,7 ⋅ k front

fig. 12 - Cordões combinados: frontais e laterais

Para esta solução parte-se do princípio de que os cordões estão identicamente


carregados. Mesmo não sendo uma suposição exacta, pode-se considerar que a
aproximação é razoável.
Quando os cordões combinados (frontais e laterais) estão sujeitas a momentos é
preciso considerar a acção dos momentos nas diversas porções da junção e somar os
efeitos para se obter o momento total. Assim:

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 43


fig. 13 Cordões combinados carregados por momento e força

T = T front + Tlat (SOL 12)

onde:
Tfront e Tlat - são os momentos nos cordões frontal e lateral, respectivamente.
Os conceitos "frontal" e "lateral" são associados a uma força de tracção embora o
momento tenha sentido giratório.
Para determinar os momentos componentes usa-se a combinação das secções
perigosas, projectada com as respectivas espessuras (fig.14), com rotação em redor do
centro de massas da área combinada.

fig. 14 – Combinação das secções perigosas dos cordões

(ver a fórmula (SOL 10)):

0,7 ⋅ k ⋅ 2

T front =τ front ⋅
front

e para lat menor que front pode-se usar a aproximação usada para a fórmula (SOL 7):

Tlat = τ lat ⋅ 0,7 ⋅ k ⋅ lat ⋅ front

Pressupondo que as tensões no cordão frontal são iguais às tensões no cordão


lateral, ou seja que τ front = τ lat = τ T e tendo em vista a fórmula (SOL 12) acima tem-se:

T
τT = (SOL 13)
0,7 ⋅ k ⋅ 2
front / 6 + 0,7 ⋅ k ⋅ front ⋅ lat

cicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicicici
A tensão tangencial sumária, resultante da acção conjunta da força e do momento
não deve superar a tensão admissível:

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 44


τ =τ F + τ T ≤ τ' (SOL 14)

Esta tensão surge num determinado ponto, supostamente no canto do cordão


frontal onde as tensões devidas ao momento e as tensões devidas à força podem ser
somadas aritmeticamente. Contudo, convém notar que se trata de uma aproximação.

Ligações em T

As junções em T podem ser feitas com ou sem preparação das extremidades das
peças a soldar (fig. 15). Quando se faz a preparação das extremidades na forma de K a
junção comporta-se como uma junção de topo. Por isso, distinguem-se dois casos de
cálculo:

fig. 16 - Cordão de topo e de canto, respectivamente

σ=
6⋅ M
δ⋅ 2
+
F
δ⋅
≤ σ'[ ] - para cordão de topo (SOL 15)

τ=
6⋅M
2 ⋅ 0,7 ⋅ k ⋅ 2
+
F
2 ⋅ 0,7 ⋅ k ⋅
[]
≤ τ' - para cordão de canto (SOL 16)

A análise das fórmulas acima mostra que a tensão tangencial no cordão tem uma
distribuição análoga à da tensão normal ao longo da secção transversal da barra, devida
ao mesmo momento. Os valores δ e (2⋅0,7⋅k) são análogos⋅ O cálculo é feito para a
bissectriz m-m. Note-se que é o comprimento do cordão ou largura da barra, mas não
comprimento da barra.
Quando uma secção tubular é sujeita a um momento torsor conjugado com um
momento flector (fig. 17) surgem tensões, tangenciais e normais que são combinados por
meio do cálculo de uma tensão equivalente. Se a secção tubular for soldada por um
cordão de canto, a secção perigosa fica orientada ao longo da bissectriz da secção
triangular formada pelo cordão de canto (direcção m-m). Neste tipo de cordão as tensões
perigosas são as tensões tangenciais. Por esta razão, as tensões normais provocados
pelo momento flector são convertidas em tensões tangenciais correspondentes à secção
inclinada m-m.

A tensão tangencial na secção perigosa, devida ao momento torsor T é calculada


considerando que a secção perigosa da soldadura constitui uma secção anelar com
largura 0,7⋅k. Partindo do princípio de que a largura da secção perigosa é muito pequena
quando comparada com o diâmetro do tubo, pode-se pressupor que a tensão ao longo de
toda a secção anelar da soldadura é uniforme. Assim sendo, pode-se idealizar uma força
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 45
tangencial que é simultaneamente igual ao produto da tensão tangencial pela área da
secção anelar e à razão entre o momento torsor e o raio médio da secção anelar. Isto
permite escrever:

fig. 17-Secção tubular sujeita a um momento torçor e flector

T F Ft 2 ⋅T
τT = ; τT ≈ t = ; Ft ≈
Wp A 0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅ d d

2 ⋅T
τT ≈ (SOL 17)
0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅ d 2

A análise da equação permite discernir que o momento polar de resistência tem o


seguinte valor aproximado:

0, 7 ⋅ k ⋅ π ⋅ d 2
Wp ≈
2
mas é importante recordar que se considerou que a tensão é uniforme e que a área da
secção anelar pode ser descrita por 0,7⋅k⋅(π⋅dmed) (largura vezes perímetro), onde o
D+d
diâmetro médio é dmed = . Sendo que D é igual à soma do diâmetro interior e das
2
bissectrizes da secção transversal do cordão tem-se:

d med = d + 0,7 ⋅ k ≈ d ou D≈d

o que justifica a utilização de "d" nas equações analisadas.


Visto que o momento axial de resistência é a metade do momento polar, as
tensões devidas ao momento flector podem ser calculadas por:

M 2⋅ M 4⋅ M
τM = = ≈ (SOL 18)
WX WP 0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅ d 2

As tensões devidas ao momento flector τM e ao momento torsor τT têm sentidos


perpendiculares, apesar de surgirem na mesma secção m-m. Por isso, são somadas
geometricamente, resultando na fórmula:

τ = τ T2 + τ M2 ≤ [τ ' ] (SOL 19)

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 46


Juntando as expressões (SOL 17) e (SOL 18), a condição de capacidade de
trabalho pode ser reescrita como:

τ=
4 ⋅ T 2 + 16 ⋅ M 2
0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅ d 2
≤ τ' [ ]
Soldadura por Contacto

As soldaduras por contacto tanto podem ser por pontos como por cordões. A
soldadura por contacto usa-se para unir peças delegadas, cuja relação entre espessuras
não ultrapassa 3. Neste tipo de soldadura as peças a unir são comprimidas por meio de
contactos eléctricos que tanto podem ser pontas de dois elementos fixos como
superfícies de rolos giratórios. A soldadura dá-se por aquecimento localizado nas
superfícies de contacto das peças comprimidas. O aquecimento provém da passagem de
uma corrente eléctrica de alta intensidade pela zona de contacto das peças, que forma
uma resistência eléctrica.
As soldaduras por contacto não devem ser carregadas por forças ou momentos
que tendem a separar as peças na direcção perpendicular às superfícies soldadas. São
concebidas para suportarem cargas no plano da ligação.
As soldaduras por contacto são muito utilizadas na fabricação de cabines de
automóveis. Nesta aplicação específica, as soldaduras são vulgarmente feitas por robots,
que têm a particularidade de executar soldaduras com qualidade consistente, alta
velocidade e boa produtividade.

Soldadura por Pontos

Neste tipo de soldadura colocam-se costuras com forma aproximadamente circular


em intervalos regulares. O diâmetro recomendado de cada ponto é:

d = 1,2 ⋅ δ + 4 mm, para δ ≤ 3 mm


d = 1,5 ⋅δ + 5 mm, para δ > 3 mm

As distâncias entre pontos dependem de factores tecnológicos e de carregamento.


Geralmente empregam-se:

t = 3 ⋅ d; t1 = 2 ⋅ d; t 2 = 1, 5 ⋅ d

As peças soldadas por pontos funcionam essencialmente com forças cisalhantes e


o cálculo da ligação é feito considerando que a carga se distribui uniformemente pelos
pontos.
A tensão nos pontos é:

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 47


fig.18 - Soldadura por pontos

F 4F
τ= = ≤ τ' (SOL20)
A π ⋅ d2 ⋅ z ⋅ i
onde:
z - é o número de pontos de soldadura
i - é o número de planos de contacto

Quando a ligação soldada por pontos é carregada por um momento no plano da


junção o cálculo é feito com base em forças tangenciais em cada ponto, que dependem
da distância até ao centro de rotação.

As soldaduras por pontos são caracterizadas por alta concentração de tensões e


por isso são desaconselháveis para peças que funcionam com cargas variáveis. São
usadas para soldar, por exemplo, revestimentos e carcaças.

Soldadura por Cordão (por rolos)

Na soldadura por cordão, a zona de junção é aproximadamente contínua. Tem


menor concentração de tensões que na soldadura por pontos. A tensão tangencial no
cordão é:

fig.19 - Soldadura por rolos

F
τ= ≤ τ' (SOL 21)
b⋅

Cálculo de resistência a cargas variáveis

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 48


Quando as tensões a que as ligações soldadas são submetidas são de carácter
cíclico deve-se reduzir a tensão admissível de cálculo, σ ' e τ ' . Para tal multiplica-
se o valor da tensão admissível por um coeficiente γ definido por:

1
γ= ≤1
(0,6 ⋅ K ef ± 0,2) − (0,6 ⋅ K ef 0,2)⋅ R
(SOL 22)

σ min τ min
onde: R= ou − é o coeficiente de assimetria do ciclo
σ max τ max

Kef - é o coeficiente efectivo de concentração das tensões

Os sinais superiores são para tensões normais, quando o valor absoluto da tensão
de tracção supera o da tensão de compressão. Também se usam para tensões
tangenciais. Os sinais inferiores são para os casos em que as tensões normais de
compressão superam as de tracção, em valor absoluto.
Quando γ resulta maior que 1 faz-se γ = 1. Isto pode ocorrer para ciclos com
reversão cujo coeficiente de assimetria tem um valor grande.

Recomendações para Soldadura

* Os aços com alto teor de carbono e aços de liga podem rachar facilmente após a
soldadura. O ferro-fundido requer condições determinadas para se produzir uma costura
resistente (pré-aquecimento, alívio de tensões).

* As costuras devem ser colocadas de modo a estarem sujeitas, preferivelmente, a


solicitações simples (ou só tracção, ou só torção, etc.)
* Convém evitar as mudanças bruscas de forma na zona da costura. Sempre que
possível, as uniões de peças com espessuras diferentes devem ser feitas com centragem
das peças ou com biselamento da peça mais grossa até à espessura da peça mais fina.

* O revenimento, pré-aquecimento das peças a soldar, alisamento do cordão e a


martelagem podem ser usados para melhorar a resistência das peças soldadas
* É preferível o uso de cordões finos e longas ao uso de cordões curtos e grossos.
Os últimos são mais caros pois gastam mais solda, provocam maiores concentrações de
tensões e aumentam o número de crateres.

* A maquinagem das peças anterior à soldadura deve ser evitada deve-se utilizar
dispositivos de posicionamento, excepto em casos devidamente justificados. A
maquinagem após a soldadura alivia tensões.
* Os cordões não devem ter espessura menor que 3 mm. Nos cordões
angulares(de canto), as espessura do cordão não deve superar 70% da menor espessura
das peças ligadas.
* Convém tomar precauções para possibilitar dilatações e concentrações térmicas
e evitar o cruzamento de cordões de soldadura
* Quando não é possível aliviar as tensões residuais devidas a concentração
térmicas, as secções transversais devem ser capazes de suportar esforços de tracção
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 49
superiores aos esforços devidos às cargas externas, ou seja, é preciso aumentar a
resistência das peças de forma que estas possam também tolerar as tensões internas
devidas à soldadura.

* Nas peças sujeitas a compressão que estejam bem apoiadas e transmitam o


esforço de compressão directamente às peças conjugadas por empuxo, o cordão de
soldadura pode ter apenas 1/10 da resistência à força de compressão.
* Os eléctrodos revestidos melhoram a resistência à fadiga.
* As soldaduras de peças que funcionam ao ar livre, sujeitas à corrosão por
fenómenos climáticos e ambientais, devem ser feitas com cordão contínuo, para serem
estanques (assim evita-se a penetração e acumulação da humidade e outras substâncias
entre as peças unidas).

* Os comprimentos dos cordões do topo contínuos devem ocupar toda a extensão


da justaposição. Nas ligações de topo descontínuas, o comprimento de cada troço do
cordão deve ser, pelo menos, 4 vezes a espessura do elemento mais fino a ligar; o
intervalo entre dois troços não deve superar 12 vezes a mesma espessura.
* O comprimento dos cordões angulares (de canto) descontínuos, em cada troço,
não deve ser inferior a 4 vezes a espessura do elemento mais fino a ligar; o intervalo
entre troços de solda não deve ser superior a 16 vezes a mesma espessura (para
ligações sujeitas a esforços) ou 24 vezes (para ligações sujeitas à tracção).
* Nos elementos sujeitos à flexão, os cordões de soldadura devem ser colocadas
tão próximo quanto possível dos apoios, de forma a reduzir o valor do momento flector na
costura.
* Quando se usam cordões angulares o comprimento do cordão é reduzido devido
à formação de crateres nas extremidades. Por isso, é necessário subtrair os
comprimentos dos dois caracteres, cada qual avaliado como sendo de cordão. Os
crateres podem ser eliminados usando peças de extensão no início e fim do cordão ou
outros meios.

* Os cordões inclinados em relação à direcção do esforço não só conferem


transição suave da carga de uma peça à outra como também permitem obter maiores
comprimentos e, por conseguinte, menores valores de tensão.
* As costuras de topo são preferíveis. Para as executar em peças grossas é
preciso preparar as superfícies a soldar, fazendo chanfros. As formas dos chanfros
dependem da espessura.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 50


Coeficiente efectivos de concentração das tensões - Soldadura por resistência de
contacto

Espessura, Kef, para Junção


Marca de aço Estado/condição
em mm agregativa de trabalho
Soldadura por pontos (valores entre parênteses para soldadura por rolos)

Aço 10 Normalizado 3+3 1,4(1,25) 7,5(5)


Aço 30ΧΓCA Revenido 1,5 + 1,5 1,35 12
Liga dura BT1 nas condições 1,5 +1,5 2,0(1,3) 10(5)
de fornecimento
Liga de alumínio Idem 1,5+1,5 2,0(1,3) 5(2,25)
16T
Soldadura por contacto (uniões de topo)

Aço ao carbono - - 1,2


Aço com alto teor de
elementos de liga e - - 1,2 ...1,5
ligas de alumínio

Coeficiente efectivos de concentração das tensões Kσ para ligações soldadas

aço com baixo


Aço com baixo teor de
Elemento de cálculo teor de carbono elementos de
tipo CT 3 liga, tipo
15XCHA
Metal básico, no lugar de transição da junção de 1,5 1,9
topo

Metal básico, no lugar de transição com, cordão 2,7 3,3


frontal
3,5 4,5
Metal básico, no lugar de transição com, cordão
lateral (de flanco)

Junções de topo com penetração completa do 1,2 1,4


cordão de soldadura

Junções com cordões de canto frontais 2,0 2,0 (2,5)

Junções com cordões de canto laterais (de flanco) 3,5 4,5

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 51


Tensões admissíveis para soldadura

Tipos de processos tecnológicos de Tensões admissíveis na costura


soldadura Tracção Compressão Cisalhamento
[σ´]t [σ´]c [τ´]
Soldadura automática sob camada
protectora, soldadura manual com eléctrodo [σ]t [σ]t 0,65⋅[σ]t
42A e 50A, soldadura por contacto
Soldadura manual a arco com eléctrodo 42
0,9⋅⋅[σ]t [σ]t 0,6⋅[σ]t
e 50, soldadura a gás
Soldadura por pontos e por rolos - - 0,5⋅[σ]t

σe
Nota: [σ ]t = - é a tensão admissível à tracção, para o material das peças soldadas,
s
sob carga estática. Para construções metálicas o coeficiente de
segurança é s ≈1,4 ... 1,6.

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 52


Problemas
Problema 1 (cordões de canto):

Calcular a ligação soldada para um tubo cuja extremidade se fixa a uma parede
por meio de cordões de canto:

d = 100 mm; δ = 5mm;


T = 8⋅103 N⋅m; M = 5⋅103 N⋅m

As cargas aplicadas são estáticas e o material do tubo é aço CT3, cujo limite de
fluência é σe = 220 MPa. A soldadura é feita com eléctrodo 42A e é manual.

Esquema:

Solução:
Uma vez que a peça está sob o efeito de tensões tangenciais de sentidos
perpendiculares, deve-se fazer a soma geométrica das tensões e comparar com a tensão
admissível. Assim, a condição de resistência é expressa por:

τ = τ T2 + τ M2 ≤ [τ ' ]

σe
Calcula-se a tensão admissível por τ ' = 0, 65 ⋅ σ t
= 0, 65 ⋅ ≈ 95MPa
1, 5
Usa-se s=1,5 porque o limite de fluência indica que se trata de um material dúctil.

As tensões devidas aos momentos torsor e flector são, respectivamente:

2 ⋅T 2 ⋅ 8 ⋅10 3 7,28 ⋅10 2


τT ≈ = = (fórmula 17)
0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅ d 2 0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅100 2 k

4⋅M 4 ⋅ 5 ⋅103 ⋅ 103 9,1 ⋅10 2


τM ≈ = = (fórmula 18)
0,7 ⋅ k ⋅ d 2 0,7 ⋅ k ⋅ π ⋅100 2 k

Assim, a tensão sumária é dada por:

τ = τ T2 + τ M2 =
10 2
k
⋅ 7,28 2 + 9,12 =
11,65 ⋅10 2
k
[ ]
≤ τ ' = 95MPa

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 53


ou seja: k ≥ 12,3 mm.

Vê-se que para a construção escolhida tem-se uma condição de resistência da


junção que exige um cordão com cateto superior à espessura do tubo pois k > δ. Esta
situação não é muito conveniente. Por isso, são comuns as junções por soldadura de
topo, com cantos trabalhados.

Problema 2 (ligação por resistência de contacto, por pontos):

Calcular um junção soldada, do tipo de contacto e por pontos:


A força aplicada é F= 5 kN e a espessura é δ = 4 mm. O material é aço 10, com
limite de fluência de 200 MPa. A carga aplicada é alternada, com ciclo simétrico (R=-1).

Esquema: ( ver fig. 18)

Resolução:

Uma vez que a ligação não tem dimensões, primeiro calcula-se a largura das
chapas "b" considerando a debilitação na zona de soldadura. Este cálculo é feito com
base na resistência das peças à tracção, na presença de carga cíclicas. Escolhendo um
coeficiente de segurança s=1,6 obtém-se a tensão admissível à tracção, para peças
comuns:

[σ ]t = σ e =
200
= 125MPa
s 1,6

Uma vez que as peças são soldadas e debilitadas pela presença de cargas
cíclicas, usa-se a fórmula (SOL 22), para um coeficiente efectivo de concentração de
tensões Kef = 7,5 (tabelado) e obtém-se:

1
γ= ≈ 0,111
(0,6 ⋅ 7,5 + 0,2) − (0,6 ⋅ 7,5 − 0,2) ⋅ (− 1)
Então, a tensão admissível de cálculo para as peças soldadas sob carga cíclica é:

[σ ] = [σ ]t ⋅ γ = 125 ⋅ 0,111 = 13,89 MPa

Daqui obtém-se:
F 5000
b= = = 90 mm
δ ⋅ [σ ] 4 ⋅13,89

Obtidas as dimensões das peças, calculam-se os parâmetros (dimensões e


número de pontos) da soldadura. Das recomendações:

d = 1,5 ⋅ δ + 5 = 1,5 ⋅ 4 + 5 = 11mm


t1 = 2 ⋅ d = 22mm;t 2 = 1,5 ⋅ d ≈ 17 mm
t = 3 ⋅ d = 33mm
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 54
O número de pontos por fila pode ser pré-avaliado por:

b − 2 ⋅ t2 90 − 2 ⋅ 17
z' = +1 = + 1 = 2,7
t 33
Escolhe-se um número de 3 pontos por fila, dispostos em 2 filas, com a provisão
de um ligeiro aumento na largura das chapas, de forma a cumprir com as recomendações
para t2. Assim, para as duas filas tem-se z=6 pontos, número para o qual se faz o cálculo
testador pela fórmula (SOL 20):

τ=
F
=
4F
A π ⋅ d ⋅ z ⋅i
2
≤ τ'[]
onde:
F 4⋅F 4 ⋅ 5000
τ= = = = 8,77 MPa
A π ⋅ d 2 ⋅ z ⋅ i π ⋅ 112 ⋅ 6 ⋅ 1

A tensão tangencial admissível para este tipo de junção é (da tabela):

[τ ] = 0,5 ⋅ [σ ] ⋅ γ = 0,5 ⋅125 ⋅ 0,111 = 6,94 MPa


'
t

'
Como se vê, a condição de resistência τ ≤ τ não se cumpre. Portanto, é preciso
aumentar a largura das chapas de modo a fazer 4 pontos por fila ou fazer uma junção
com três filas de três pontos por fila (9 pontos no total).
Este problema mostra o quão mal funcionam as junções soldados por pontos na
presença de cargas alternadas.

Problema 3 (comparação de dois tipos de cordões):

Uma barra horizontal com 20 mm de espessura e 50 mm de altura é feita de um aço com


σe = 400 MPa. Está encastrada numa parede sob efeito de um peso na extremidade livre
que provoca uma flexão tal que a barra começa a deformar-se plasticamente. Decide-se
que se deve encurtar a barra e soldá-la à parede. Considerando apenas a flexão, calcule
os comprimentos máximos permissíveis para a barra soldada a gás a) com cordões de
topo e b) com 2 cordões de canto laterais cujo cateto é de 7,14 mm.

Resolução:

Primeiro calcula-se a o peso que causa a deformação da barra de secção rectangular,


não considerando a tensão devida ao corte:

6⋅M 6⋅ F ⋅ δ ⋅h 2 20 ⋅ 50 2
σ= = = σ e ou seja F = σ e ⋅ = 400 ⋅ = 3333 N
δ ⋅h 2 δ ⋅h 2 6⋅ 6 ⋅ 1000

a) A tensão admissível para a ligação soldada com cordão de topo é:

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 55


[σ ′] = 0,9 ⋅ [σ t ] = 0,9 ⋅ σ e
400
= 240 MPa= 0,9 ⋅
1,5 1,5
Assim, para a barra encurtada conhecem-se a força, a tensão admissível e a secção
transversal pelo que o comprimento máximo da barra soldada pode ser calculado
partindo do valor admissível do momento flector (fórmula 15, considerando apenas a
flexão):

6⋅M 6⋅ F ⋅
[ ] [ ] δ6 ⋅⋅hF 20 ⋅ 50 2
2
σ= = 1
≤ σ' ou seja: 1 ≤ σ' ⋅ = 240 ⋅ = 600 mm
δ ⋅h 2 δ ⋅h 2 6 ⋅ 3333

b) Para um par de cordões de canto laterais o procedimento é similar mas parte-se da


fórmula 16 e altera-se o valor da tensão admissível:

τ=
6⋅ M
2 ⋅ 0,7 ⋅ k ⋅ h 2
=
6⋅ F ⋅ 2
2 ⋅ 0,7 ⋅ k ⋅ h 2
≤ τ' [ ] ou seja:

2 []
≤τ ⋅'2 ⋅ 0,7 ⋅ k ⋅ h 2
6⋅ F
= 160 ⋅
2 ⋅ 0,7 ⋅ 7,14 ⋅ 50 2
6 ⋅ 3333
≈ 200 mm
Conclusão:

Vê-se que os dois cordões de canto apenas permitem 1/3 da resistência do cordão de
topo.♦

Problema 4 (ligação topo a topo: coeficiente de resistência):

Problema 4. Uma peça sujeita à tracção tem largura de 50 mm e espessura de 5 mm.


Qual será a largura necessária para a peça manter a resistência se for
soldada com um cordão de topo de má qualidade, cujo coeficiente de
resistência é 0,83 ?
Esquema:
Peça 1
Dados:
b = 50 mm
= 5 mm
Cordão de topo
= 0.83

Pedido: b’ Peça 2

Cálculos :

F = F′ (1)

Peça 1
[ ]trac = F F=[ ]trac ⋅ A ; A = b⋅
A

Peça 2
Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 56
F′
[ ′]trac = F′ = [ ′]trac ⋅ A′ ; A ′ = b′ ⋅
A′

Usando a equação (1) obtem-se:

b [ ′]trac
[ ′]trac ⋅ b′ ⋅ =[ ]trac ⋅ b ⋅ ou seja : =
b′ [ ]trac

Como ϕ=
[ ′]trac obtém-se:
[ ]trac
b b 50
ϕ= b′ = b′ = b ′ = 60.02mm
b′ ϕ 0.83

b ′ = 60mm (normalizado)

Problema 5 (ligação topo a topo):

Calcular um junção soldada, para duas peças unidas por cordões de topo, sendo a
espessura das peças δ = 8 mm. O material é aço 10, com limite de fluência de 200 MPa.
A soldadura é a gás. A força aplicada é F = 10 kN e é estática. (a ser resolvido como
exercício individual)

Manual de Órgãos de Máquinas I - Ligações Soldadas - Rui V. Sitoe 2005 Página 57

Você também pode gostar