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AÇO E MADEIRA
Soldagem em
estruturas metálicas
Mario Sergio Della Roverys Coseglio
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A soldagem é um dos meios utilizados para unir elementos de estruturas metálicas,
como pontes, edifícios, coberturas, entre outros. Algumas das vantagens desse
processo em relação a outras formas de ligação, como o uso de parafusos e rebites,
são a elevada resistência da junta, o menor peso final da estrutura e a flexibilidade
associada à possibilidade de realizar a soldagem em campo. No entanto, existem
algumas desvantagens que devem ser consideradas: a necessidade de mão de
obra altamente qualificada, a impossibilidade de se desmontar a estrutura para
a manutenção e a presença de defeitos.
Na soldagem de estruturas metálicas na indústria da construção, a coalescência,
na maioria dos casos, é obtida por meio da fusão dos metais com o uso de um
arco elétrico estabelecido entre as peças a serem unidas e um eletrodo. Entre
os processos mais utilizados, estão a soldagem a arco com eletrodo revestido,
a soldagem a arco submerso, a soldagem a arco com proteção gasosa e a solda-
gem a arco com arame tubular. Cada processo possui características e técnicas
operatórias específicas. Os processos com proteção gasosa, por exemplo, são
2 Soldagem em estruturas metálicas
Processos de soldagem
Para que você compreenda melhor o que será apresentado ao longo deste
capítulo, o texto é iniciado com uma descrição geral do processo de soldagem
e de alguns termos que são utilizados com frequência no meio industrial.
A Figura 1 apresenta um esquema básico de um processo típico de sol-
dagem. Segundo Marques, Modenesi e Bracarense (2009), a soldagem é uma
operação cujo objetivo é promover a união de peças. Como resultado da
soldagem, obtém-se a solda, sendo a junta soldada a região onde foi feita
a união, como mostrado na Figura 1c. A Figura 1b apresenta uma secção
transversal do conjunto durante a soldagem, em que é possível identificar o
metal de base (i.e., material das peças que estão sendo soldadas), o metal de
adição, a poça de fusão, o eletrodo, o arco e o gás de proteção. Na soldagem
a arco, a coalescência ocorre por meio da fusão dos metais, promovida pelo
calor intenso gerado por um arco elétrico estabelecido entre as peças a
serem soldadas e o eletrodo. Segundo Groover (2003), os eletrodos podem
atuar como metal de adição para a junta soldada (eletrodos consumíveis) ou
apenas para a formação do arco elétrico. Neste último caso, os eletrodos não
são consumíveis, e são feitos de materiais que não se fundem com o calor
gerado pelo arco, como, por exemplo, o tungstênio.
Eletrodo
Metal de adição
Aço
Junta soldada
Gás de proteção Poça de fusão
Figura 1. Visão geral do processo de soldagem a arco: (a) antes da soldagem; (b) durante a
soldagem (secção transversal); (c) após a soldagem.
Fonte: Adaptada de Groover (2012).
Soldagem em estruturas metálicas 3
Processos de soldagem
De acordo com Groover (2012), os processos de soldagem podem ser divididos
em dois grupos principais: soldagem por fusão e soldagem no estado sólido. Na
soldagem por fusão, o calor gerado no processo é utilizado para fundir o metal
de base, sendo que, em alguns casos, são utilizados metais de adição. Fazem
parte desse grupo: soldagem a arco (AW, arc welding), soldagem por resistência
(RW, resistance welding) e soldagem oxi-combustível (OFW, oxyfuel gas welding),
além de outros tipos, como soldagem com feixe de elétrons (electron beam
welding) e soldagem a laser (laser beam welding). Já a soldagem no estado sólido
utiliza a pressão ou a combinação de pressão e calor para unir as peças. Como
observa Groover (2012), os principais processos que compõem esse grupo são:
soldagem por difusão (DW, diffusion welding), soldagem por atrito (FRW, friction
welding) e soldagem por ultrassom (USW, ultrasonic welding).
Segundo Pfeil e Pfeil (2009), a soldagem a arco é a mais utilizada na indús-
tria da construção. Os processos mais comuns são listados a seguir:
Revestimento
Alma
Metal de
adição Eletrodo
revestido
Solda
Metal de
base
Poça de fusão
(a)
Eletrodo Terminais
Cabo do
eletrodo
Peça
Pinça para Cabo terra
ligação à peça
(b)
Figura 2. Soldagem a arco com eletrodo revestido: (a) representação esquemática do processo;
(b) representação básica do equipamento.
Fonte: (a) Adaptada de Marques, Modenesi e Bracarense (2009); (b) Adaptada de Wainer, Brandi
e Mello (1992).
Fluxo Eletrodo
Escória
Solda
Metal de
base
Poça de fusão
(a)
Carretel de
arame eletrodo
Alimentador
de fluxo
Fonte de
energia
Sistema
de controle
de
ção
Dire gem
a
sold
(b)
Figura 3. Soldagem a arco submerso: (a) representação esquemática do processo; (b) repre-
sentação básica do equipamento.
Fonte: (a) Adaptada de Marques, Modenesi e Bracarense (2009); (b) Adaptada de Wainer, Brandi
e Mello (1992).
6 Soldagem em estruturas metálicas
Tocha
Gás de
proteção Eletrodo
Solda
Metal de
base
Poça de fusão
(a)
Alimentador
de arame
Tocha Arame
G
(+) á
Fonte de s
Peça Cabos
energia
(-)
(b)
Tocha
Gás de Metal de
proteção adição
Solda
Metal de
base
Poça de fusão
(a)
Regulador de pressão e vazão
Reservatório de gás
Sistema de
refrigeração
Metal Pedal
base
Unidade de alta
frequência
(b)
Nesta seção, vimos que as soldas podem ser classificadas de acordo com
dois critérios principais: a posição da junta soldada em relação ao metal de
base e a posição relativa das peças soldadas. Além disso, vimos algumas
características e as configurações básicas dos processos de soldagem a arco
que são utilizados com mais frequência na indústria da construção.
Distorção angular
1. trinca de cratera;
2. trinca transversal localizada na zona fundida da solda;
3. trinca transversal localizada na zona termicamente afetada;
4. trinca longitudinal na zona fundida da solda;
5. trinca longitudinal na margem da solda;
6. trinca sob o cordão de solda;
7. trinca na linha de fusão (fronteira entre a zona fundida e a zona ter-
micamente afetada);
8. trinca localizada na raiz da solda.
Exemplos de medidas
Descontinuidades Exemplos de causas preventivas
Junta
soldada
(a)
Junta soldada
I Meio V V
U J Duplo V
(b)
Solda de orifício
(c)
Exemplo 1
Considere que uma solda de filete (obtida por soldagem a arco submerso) em
uma junta soldada do tipo T é submetida a uma carga de tração com magnitude
de 40 kN, como mostrado de forma esquemática na Figura 11. Suponha que
a espessura das chapas seja de 12 mm.
t = 0,7b
onde:
Até 6,35 3
De 12,5 até 19 6
Acima de 19 8
Observe que a área de cada filete (0,7 × 0,5 cm × 10 cm) foi multiplicada
por 2, pois o filete é duplo. Em seguida, é preciso comparar a resistência de
cálculo obtida (Rd = 129 kN) com o esforço solicitante de cálculo, Sd, obtido
multiplicando-se a força de tração que atua no sistema (40 kN) por um fator
(coeficiente de ponderação das ações) que atua como coeficiente de segu-
rança. Para tanto, três efeitos são levados em consideração: a ocorrência
simultânea de ações, a variabilidade das ações e a incerteza associada à
avaliação das ações. Para este exemplo, foi considerado um fator de 1,5, que,
segundo Pfeil e Pfeil (2009), equivale a uma ação permanente (peso próprio
18 Soldagem em estruturas metálicas
Como Rd > Sd, a junta soldada suporta, com folga, a carga de tração de 40 kN.
Exemplo 2
Agora, considere que seja necessário determinar o comprimento, , da solda
de filete mostrada na Figura 13. A chapa central tem espessura de 12 mm,
ao passo que as chapas soldadas nas suas faces superior e inferior têm
espessura de 10 mm.
Referências
AMERICAN WELDING SOCIETY. Welding handbook, volume 1: welding science and tech-
nology. 9. ed. Miami: AWS, 2001. 932 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 8800: Projeto de estruturas
de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro: ABNT,
2008. 237 p.
GROOVER, M. P. Fundamentals of modern manufacturing: materials, processes, and
systems. 5. ed. Danvers: John Wiley & Sons, 2012.
MARQUES, P. V.; MODENESI, P. J.; BRACARENSE, A. Q. Soldagem: fundamentos e tecnologia.
3.° ed. Belo Horizonte: UFMG, 2009. 362 p. (Série Didática).
PFEIL, W.; PFEIL, M. Estruturas de aço. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. 380 p.
WAINER, E.; BRANDI, S. D.; MELLO, F. D. H. Soldagem: processos e metalurgia. São Paulo:
Blucher, 1992. 504 p.
Leitura recomendada
BELLEI, I. H. Edifícios industriais em aço: projeto e cálculo. 6. ed. São Paulo: Pini, 2010.
493 p.