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ESTRUTURAS

Diego da Luz Adorna


Ações em estruturas:
apresentação dos principais
carregamentos na análise
de estruturas convencionais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Classificar as ações atuantes nas estruturas.


 Caracterizar as ações permanentes que atuam em uma estrutura.
 Descrever as ações acidentais e excepcionais que atuam em uma
estrutura.

Introdução
As estruturas devem ser projetadas de forma que resistam ao carrega-
mento ao qual estão submetidas, sem apresentar riscos à segurança e
à funcionalidade do edifício. Para isso, o projetista deverá ser capaz de
determinar todas as ações que atuarão constante ou excepcionalmente
sobre a estrutura, ao longo da sua vida útil.
Neste capítulo, você vai estudar a classificação das estruturas de acordo
com sua forma e frequência de atuação. Além disso, você vai aprender a
identificar e diferenciar as ações permanentes, acidentais e excepcionais
que atuam em uma estrutura, de acordo com as prescrições normativas.

Classificação das ações atuantes nas estruturas


As ações são definidas, de acordo com a ABNT NBR 8681:2003 (p. 2), como
“[...] causas que provocam esforços ou deformações na estrutura [...]”. As
ações são, portanto, as forças, os deslocamentos impostos e as variações de
temperatura que atuam na estrutura.
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Soriano (2010) classifica as ações em externas (ativas e reativas) e esforços


seccionais ou solicitações internas.
As ações externas ativas são aquelas que atuam sobre a estrutura, provo-
cadas por agentes externos. São subdivididas em permanentes, acidentais e
excepcionais.
As ações permanentes atuam sobre a estrutura sem interrupções ao longo
de toda a vida útil desta. Como exemplo deste tipo de ação destaca-se o peso
próprio da estrutura e dos elementos estruturais fixos a ela.
As ações acidentais, também denominadas ações variáveis, atuam de
forma esporádica ao longo da vida útil da estrutura. Como exemplos, destacam-
-se o peso das pessoas e de veículos estacionados e a ação do vento sobre a
estrutura.
As ações excepcionais são de duração extremamente curta, grande in-
tensidade e de probabilidade de ocorrência muito baixa. Como exemplos
destacam-se as explosões, os incêndios, os choques de veículos, os impactos
de projéteis e os sismos.
As ações externas reativas são aquelas que se manifestam nos vínculos
externos, ou apoios, impedindo movimentos estruturais e equilibrando as
ações externas ativas.

A seção transversal de uma barra pode estar submetida a três deslocamentos lineares
e independentes entre si, segundo os eixos cartesianos, e três rotações independentes
entre si, em torno dos mesmos eixos.
Estes deslocamentos e rotações serão restringidos pelos apoios, total ou parcialmente,
quando ocorrerem, na mesma direção, esforços reativos às ações transmitidas pela
estrutura. Estes esforços reativos são denominados reações de apoio.
Os apoios podem ser classificados em apoios de engastamento (que impedem todos
os deslocamentos), apoios fixos (que não permitem deslocamentos lineares) e apoios
móveis (que permitem deslocamentos lineares) (SORIANO, 2010).

Os esforços solicitantes internos são resultantes da ação mútua entre as


partes das seções, sendo causados também indiretamente pela ação das varia-
ções de temperatura, pela retração e por outros fenômenos de comportamento
do material.
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Os esforços internos atuantes em uma barra são classificados em: esforço


normal (N), esforço cortante (V), momento de flexão (M) e momento de
torção (T) (veja a Figura 1).

Figura 1. Esforços internos atuantes em uma barra.


Fonte: Soriano (2010, p. 69).

As solicitações internas estão associadas à capacidade da barra em transmitir esforços.


O equilíbrio da barra se transfere para suas partes, assim, as seções se encontram em
equilíbrio sob a ação dos esforços externos e internos. Além disso, como a barra se
deforma em função das ações externas, os esforços internos estão associados a parcelas
desta deformação, conforme a Figura 2 (SORIANO, 2010).

Figura 2. Deformações associadas aos esforços internos.


Fonte: Soriano (2010, p. 70).
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Ações permanentes em uma estrutura


As ações permanentes são aquelas que ocorrem com valores constantes ou
pouco variáveis ao longo da vida útil da estrutura. A ABNT NBR 6118:2014
também considera como permanentes as ações que crescem ao longo do tempo,
tendendo para um valor constante.
Por meio da ABNT NBR 8681:2003 e da ABNT NBR 6118:2014, as ações
permanentes são classificadas em diretas e indiretas.

Ações permanentes diretas


As ações permanentes diretas são constituídas pelo peso próprio das estru-
turas, dos elementos construtivos fixos, das instalações permanentes e dos
empuxos permanentes.
O peso próprio da estrutura varia de acordo com a massa específica do
material. Em geral, admite-se para o concreto simples o valor de 2400 kg/m³
para a massa específica, e de 2500 kg/m³ para o concreto armado ou protendido
(CARVALHO; FIGUEIREDO FILHO, 2009). Quando utilizado algum mate-
rial especial, a massa específica deverá ser determinada experimentalmente.
O peso próprio dos elementos construtivos e das instalações permanentes
varia de acordo com a massa específica dos materiais de construção utilizados.
Veja na Tabela 1 alguns valores de peso específico dos materiais mais comuns
utilizados na construção civil.
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Tabela 1. Peso específico dos materiais de construção.

Peso específico
Materiais
aparente (KN/m³)

Blocos de argamassa 22

Lajotas cerâmicas 18
Blocos artificiais
Tijolos furados 13

Tijolos maciços 18

Argamassa de cal, cimento e areia 19

Revestimentos Argamassa de cimento e areia 21


e concretos Concreto simples 24

Concreto armado 25

Pinho, cedro 5

Madeiras Louro, imbuia, pau óleo 6,5

Angico, cabriúva, ipê róseo 10

Aço 78,5

Alumínio e ligas 28

Metais Bronze 85

Cobre 89

Ferro fundido 72,5

Fonte: Soriano (2010, p. 61).

Os valores apresentados na tabela são usuais, mas é importante que você


sempre utilize os valores indicados pelos fabricantes ou obtidos em ensaios
laboratoriais. Verifique os pesos específicos de outros materiais na norma
ABNT NBR 6120:1980 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações.
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Na literatura e na prática da construção civil, são encontradas as terminologias peso


específico e massa específica. A primeira é definida como uma unidade de força dis-
tribuída por unidade de volume (KN/m3), enquanto a segunda é definida como uma
unidade de massa distribuída por unidade de volume (kg/m3).

Os empuxos permanentes são resultantes do peso próprio de terra ou de


outros materiais granulares não removíveis, como em aterros ou em fundações.

Ações permanentes indiretas


As ações permanentes indiretas são constituídas pelas deformações impostas
por deslocamentos de apoio, imperfeições geométricas e protensão, que geram
esforços externos e internos, os quais podem alterar o equilíbrio da estrutura.
As ações indiretas podem decorrer também das propriedades intrínsecas
do material, como a retração e a fluência do concreto.

A retração consiste na redução do volume do concreto, sendo esta causada pela perda
de água por evaporação, pela hidratação do cimento ou pela carbonatação (NEVILLE;
BROOKS, 2013). A fluência consiste no aumento da deformação do material ao longo
do tempo, quando submetido a um carregamento constante (NEVILLE; BROOKS, 2013).

Ações acidentais e ações excepcionais

Ações acidentais
As ações acidentais, também denominadas ações variáveis, são aquelas que
atuam esporadicamente ao longo da vida útil da estrutura. De acordo com So-
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riano (2010), as ações acidentais se dividem em estáticas e dinâmicas. As ações


estáticas são aquelas aplicadas de forma gradual e lenta, não desenvolvendo
forças inerciais relevantes. As ações dinâmicas apresentam comportamento
contrário, desenvolvendo forças inerciais relevantes.
A ABNT NBR 6118:2014 classifica as ações acidentais em diretas e indiretas.

Ações acidentais diretas

As ações acidentais diretas são constituídas pelas cargas acidentais previstas


para o uso da construção, e pela ação do vento e da água.
As cargas acidentais previstas para o uso da construção correspondem a:

 cargas verticais de uso da construção (pessoas, mobiliário, veículos,


materiais diversos, equipamentos), conforme apresentado na Tabela 2;
 cargas móveis, considerando o impacto vertical;
 impacto lateral;
 força longitudinal de frenagem ou aceleração;
 força centrífuga.

Tabela 2. Valores mínimos das cargas verticais

Local Carga (KN/m²)

Arquibancadas 4

Edifícios residenciais (dormitórios, sala, copa e banheiro) 1,5

Escadas com acesso ao público 3

Escolas (corredor e sala de aula) 3

Escritórios 2

Forros sem acesso ao público 0,5

Garagens e estacionamentos de veículos até 25 KN 3

Ginásios de esportes 5

Teatros 5

Terraços com acesso ao público 3

Fonte: Soriano (2010, p. 62).


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Verifique outros valores mínimos de cargas verticais na norma ABNT NBR


6120:1980 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações.
Apesar de ser idealizado como uma ação dinâmica, o vento é analisado
por meio de esforços estáticos equivalentes, aplicados na estrutura, de acordo
com os procedimentos previstos na ABNT NBR 6123:1988 – Forças devidas
ao vento em edificações.
O dimensionamento da estrutura frente à ação do vento considera fatores
relacionados à localidade em que a estrutura se situa no país, à topografia e
à rugosidade do terreno, à altura da estrutura, à classe da edificação, ao grau
de segurança e à vida útil da edificação.

Para melhor compreensão da ação do vento nas estruturas, leia a norma ABNT NBR
6123:1988 – Forças devidas a ação do vento em edificações.

O consumo de água na edificação altera, constantemente, o volume de água


nos reservatórios e tanques e, em consequência, o carregamento da estrutura.
De acordo com a ABNT NBR 8681:2003, para efeitos de dimensionamento,
o projetista deve considerar que o reservatório se encontra cheio de água até
o nível máximo de extravasamento. Este valor é, ainda, majorado por um
coeficiente de segurança de 1,2, ou seja, é acrescido em 20%.
Quando houver a possibilidade de retenção de água sobre a estrutura,
considere o carregamento equivalente à presença de uma lâmina d’água cor-
respondente ao nível de drenagem efetivo garantido pela construção, conforme
a ABNT NBR 6118:2014.

Ações acidentais indiretas

As ações acidentais indiretas são provenientes de variações de temperatura


e ações dinâmicas. No caso de variações uniformes de temperatura, ou seja,
causadas globalmente em toda a estrutura pela variação da temperatura do
ambiente e pela insolação direta, a ABNT NBR 6118:2014 recomenda que:

 para elementos estruturais com a menor dimensão não superior a 50


cm, seja considerada uma oscilação de temperatura de 10 a 15°C;
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 para elementos maciços ou ocos, com o espaço vazio inteiramente fe-


chado, e com a menor dimensão não superior a 70 cm, seja considerada
uma oscilação de temperatura de 5 a 10°C;
 para elementos estruturais cuja menor dimensão esteja entre 50 e 70
cm, seja realizada uma interpolação linear entre os valores citados
anteriormente.

No caso de variação não uniforme de temperatura, você precisa considerar


os efeitos de sua distribuição. Quando a variação de temperatura entre as
faces da estrutura não for inferior a 5°C, é possível admitir uma variação de
temperatura linear ao longo da edificação. Por sua vez, as ações dinâmicas
consistem em choques ou vibrações a que a estrutura possa estar submetida,
e têm de ser consideradas no seu dimensionamento.

Ações excepcionais
As ações excepcionais se caracterizam pela duração extremamente curta e pela
grande intensidade (por exemplo, explosões, terremotos, incêndios, choques
de veículos ou impactos de projéteis). Normalmente, sua probabilidade de
ocorrência é muito baixa.
Soriano (2010) destaca que as ações excepcionais são sempre dinâmicas.
Além disso, a ABNT NBR 6118:2014 prescreve que seu dimensionamento seja
realizado de acordo com normas específicas para cada caso.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118:2014. Projeto de


estruturas de concreto - procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6120:1980. Cargas para o
cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1980.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6123:1988. Forças devidas
ao vento em edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 8681:2003. Ações e se-
gurança nas estruturas - procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e detalhamento de estruturas usuais
de concreto armado: segundo a NBR 6118:2003. 3. ed. São Carlos: EdUFSCar, 2009.
NEVILLE, A. M.; BROOKS, J. J. Tecnologia do concreto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
SORIANO, H. L. Estática das estruturas. 2. ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2010.

Leituras recomendadas
HIBBELER, R. C. Análise das estruturas. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013.
LEET, K. M.; UANG, C.; GILBERT, A. M. Fundamentos da análise estrutural. 3. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2010.

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