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MECANISMOS DE ENDURECIMENTO

1. Introdução
• Os metais não ferrosos, de modo geral, não possuem resistência muito
elevada como é o caso do alumínio, cobre, magnésio, e zinco por exemplo.
• Para ampliar a aplicação dos metais não ferrosos como componentes
mecânicos é necessário que sua resistência seja aumentada, razão pela qual
este capítulo faz uma revisão do assunto que é muito aplicado para estes
metais em particular.
• Existem de modo geral cinco grupos de possibilidades de aumento da
resistência ou da dureza de um material metálico

1. Solução Sólida
2. Refino de Grão
3. Encruamento
4. Transformação de Fase (Tratamentos térmicos com transformação de
fase\)
5. Endurecimento por Precipitação
2. Aumento da resistência por
Solução Sólida:
2.1 Conceito
• Uma solução sólida ocorre quando o material apresenta uma só fase, embora
possa apresentar muitos elementos os quais encontram-se dissolvidos
(elementos que devido a sua quantidade, em geral, pequena não formam uma
nova estrutura ou fase dentro do metal).
• A ferrita do aço é uma solução sólida que pode apresentar elementos
dissolvidos como Carbono, Cromo, Níquel etc.
2. Aumento da resistência por
Solução Sólida:
2.1 Conceito
• Estes elementos quando dissolvidos (seja de
forma substitucional ou intersticial) na estrutura
cristalina do metal de base aumentam sua
resistência pelo fato de dificultarem o
movimento das discordâncias.
• Esta é a razão pelo qual se utiliza muito mais Solução sólida intersticial
ligas metálicas do que metais puros

Solução sólida substitucional


2. Aumento da resistência por
Solução Sólida:
2.2 Exemplos
Ligas de Cobre como o Latão e o
Bronze

• Um exemplo de aumento da
resistência por solução sólida é a
adição de elementos de liga no
Cobre como o caso do Zn, Sn, Ni
e Be.
• O endurecimento ocorre pelo fato
do soluto (elemento em solução)
distorcer a rede cristalina
dificultando o movimento das
discordâncias
2. Aumento da resistência por
Solução Sólida:
2.2 Exemplos
Latinhas de alumínio:
• O alumínio puro apresenta uma baixa resistência.
• A solução para produzir uma lata com resistência suficiente foi a adição de um
pequeno percentual de Manganês (1,0 a 1,5%)
• O Manganes neste percentual está presente no Alumínio na forma de solução
sólida. Ao distorcer a rede cristalina do alumínio assim como dificultar o
movimento das discordâncias ocorre um aumento significativo da resistência

Resistência da liga de Al-Mn: 215 MPa


Resistência do Alumínio puro: 90 MPa
3. Aumento da resistência por
Refino de grão
3.1 Origem e conceito de grão
• Os grãos de um metal são
originados no processo de
solidificação quando os átomos
(dispersos no líquido) se agrupam de
um modo ordenado
tridimensionalmente
• Os núcleos formados nesta etapa
crescem até alcançarem as interfaces
dos demais. Essas interfaces são os
contornos de grão
• Cada grão, então, é um conjunto de
células unitáris (CCC, CFC ou HC
conforme o metal) que apresentam a
mesma orientação cristalográfica
3. Aumento da resistência por
Refino de grão
3.2 Efeito do Tamanho de grão
• Quanto menor o tamanho de grão mais resistente é o metal, pois os contornos
de grão dificultam o movimento das discordâncias.
• Um tamaho de grão menor também aumenta a tenacidade
• N = número de grãos por polegada quadrada em um
N = 2G -1 aumento de 100X
• G = tamanho de grão ASTM
3. Aumento da resistência por
Refino de grão
3.2 Efeito do Tamanho de grão
• Os contornos de grão atuam como barreiras ao movimento das
discordâncias, razão pela qual necessita-se de mais força (maior tensão para
deformar o material, que é caracterizado pelo aumento de sua resistência.
3. Aumento da resistência por
Refino de grão
3.2 Efeito do Tamanho de grão

Falha em Prótese femoral:


• Prótese do fêmor de aço
inoxidável 316L fraturada após
13 meses após implante.
• O exame metalográfico revelou
a presença de um tamanho de
grão extremamente grande que
confirma a ruptura por fadiga
3. Aumento da resistência por
Refino de grão
3.2 Efeito do Tamanho de grão
Especificação de Virabrequim e biela de motosserra
3. Aumento da resistência por
Refino de grão
3.3 Processos de Refino do Grão
• O tamanho de grão pode ser
reduzido através de um tratamento
térmico de normalização ou
através de deformação plástica
(encruamento) seguida de
recristalização em temperatura e
tempos adequados
4. Aumento da resistência por
Encruamento
4.1 Encruamento ou Deformação a frio
• Todoss processos de conformação a frio como laminação, trefilação, forjamento
a frio, extrusão a frio encruam ou deformam o metal a frio aumentando sua
resistência e diminuindo a ductilidade
% TF = (Ao - Ad) / Ao x 100
4. Aumento da resistência por
Encruamento
4.2 Encruamento x Discordâncias
• Quando o metal é deformado plasticamente há um aumento na quantidade de
discordâncias as quais dificultam o movimento umas das outras, razão pelo qual
ocorre o aumento da dureza e da resistência

Relação entre o Limite de escoamento do Ferro α em


função da densidade de discordâncias
5. Aumento da resistência por
Transformação de Fase
• O aumento da resistência por transformação de fase é bem conhecido nos
tratamentos térmicos dos aços como têmpera e austêmpera gerando as fases
conhecidas como bainita e martensita.
• A alta dureza da martensita se deve a grande distorção da rede cristalina e
a grande quantidade de discordâncias geradas na transformação

Transformação
da Fase
Austenita para
Martensita
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.1 Introdução:
• A resistência e a dureza de algumas ligas
metálicas pode ser aumentada pela
precipitação de partículas em uma matriz
(solução sólida original) . As partículas
formadas apresentam-se dispersas e são
extremamente pequenas e uniformes e de
elevada dureza.
• O tratamento térmico que leva ao
aparecimento dessa 2ª fase é denominada de
Endurecimento por precipitação
(Precipitation Hardening) ou Endurecimento
por envelhecimento visto que leva algum
tempo para ocorrer.
• Este tratamento térmico não deve ser confundido com o endurecimento através
de têmpera dos aços que possui um mecanismo diferente.
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.2 Mecanismo de Endurecimento

• O Endurecimento por
precipitação ocorre
essencialmente em três
etapas.
• Para explicar o mecanismo
será apresentado como
exemplo uma Liga de
Alumínio-Cobre cujo
Diagrama de equilíbrio é
conforme Figura ao lado.
• A parte do diagrama de
interesse está evidenciada
na cor vermelha
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.2 Mecanismo de Endurecimento

• 1ª etapa (Solubilização): A liga é aquecida até


a temperatura onde apresenta apenas a fase
sólida α (no exemplo: solução sólida com 4% de
cobre em Alumínio). Mantém-se nesta
temperatura (500 a 540ºC) até completa
dissolução da fase ϴ.

• 2ª etapa (Têmpera): Resfriamento rápido o


suficiente (água ou óleo). Como o resfriamento é
rápido não há tempo suficiente para formar a
fase ϴ. Nesta situação a liga apresenta uma só
fase que está supersaturada por conter um
excesso de cobre e mantém uma boa ductilidade
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.2 Mecanismo de Endurecimento
• 3ª etapa Envelhecimento:
• Aquecimento da liga (envelhecimento)
abaixo da linha solvus (linha de
transformação) aproximadamente 160-
220ªC, o suficiente para precipitar a fase
ϴ.
• O precipitado formado é extremamente
fino visto que a temperatura de
envelhecimento é baixa não permitindo Linha
grande aglomeração da fase ϴ. Este solvus
precipitado aumenta a dureza de forma
significativa. (Exemplo: a resistência pode
passar de 138 para 414 MPa para uma
Liga Al-Cu
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.2 Mecanismo de Endurecimento
• Representação esquemática do tratamento térmico de endurecimento por
precipitação
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.2 Mecanismo de Endurecimento

• O gráfico ao lado
apresenta a sequência
das etapas do tratamento
com as respectivas
microestruturas obtidas
para uma Liga de
Alumínio-Cobre

• As partículas precipitadas
são muito pequenas de
modo que elas não são
visualizadas através de
microscópio óptico.
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.3 Superenvelhecimento:
• Se o resfriamento a partir da temperatura
de 500-540ºC fosse lento iria precipitar a
fase teta no contorno de grão ou de
tamanho elevado não se obtendo o efeito
desejado de aumento da dureza e da
resistência.
• O tratamento necessita ser realizado em
temperatura e tempos muito bem
controlados. Caso a temperatura de Envelhecido
aquecimento da etapa de envelhecimento
(3ª etapa) seja muito elevado ou o tempo Não Super
sejam excessivos os precipitados irão se envelhecido envelhecido
aglomerar e a resistência diminui. Este
fenômeno é chamado de
Superenvelhecimento.
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.4 Controle da etapa de Envelhecimento:
• O Controle do
endurecimento por
precipitação depende:
• Temperatura e do
• Tempo do
processo:
• Uma temperatura
menor e maior tempo
será mais fácil o
controle do processo e
se obtém durezas
maiores, no entanto o
processo poderá ser
muito demorado.
tempo em horas
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.5 Envelhecimento Natural e Artificial:
A etapa de precipitação pode ocorrer de forma natural ou artificial:
UTS = LRT
• Envelhecimento
natural: Quando a Envelhecimento
precipitação ocorre à Artifical
temperatura ambiente.
Geralmente o Envelhecimento
envelhecimento natural Natural
é demorado levando
dias para completar.
O superenvelhecimento
não ocorre neste caso. tempo de Envelhecimento (horas)

• Envelhecimento artificial: Quando a precipitação ocorre pelo aquecimento do


material
6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.6 Aplicações:
O endurecimento por precipitação apresenta inúmeras aplicações industriais
destacando-se:
A) Aços inoxidáveis PH: solubilização a 1040ºC, resfriamento ao ar ou óleo com
obtenção de martensita, aquecimento a 480-620ºC na qual ocorre a precipitação de
partículas que aumentam a dureza (precipitados de Ni3Al, Ni3Ti, ou Ni3Mo)

Fixadores de alta resistência Anel de turbina de geração de energia


6. Aumento da resistência através do
Endurecimento por Precipitação
6.6 Aplicações
B) Rebites de aviões: As partes
estruturais do avião são montadas por
centenas ou milhares de rebites. Para que
os rebites sejam fixados eles precisam ser
deformados, ou seja tem de estar dúcteis,
mas após serem colocados necessitam ser
resistentes.
• A solução é solubilizar e resfriar rapidamente os rebites para serem
suficientemente macios, deixados em baixas temperaturas (abaixo da
temperatura ambiente) até serem rebitados. Na temperatura ambiente os
rebites sofrem envelhecimento natural, aumentando sua resistência.

• Típicos materiais para rebites de ligas de alumínio são das ligas 2017, 2024,
2117, 7050.

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