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Volume 7 Número 1 (2021) ISSN 2317-3793

ANÁLISE DO USO DE GEOSSINTÉTICOS PARA REFORÇO DE


ATERROS
Beatriz Vieira Silva1
Gisele Rodrigues de Sá1
Mayara dos Santos Amarante2
Resumo

O presente artigo busca esclarecer e disseminar o conhecimento sobre a utilização dos geossintéticos (GSY), que são
elementos provenientes de polímeros, em obras que possuem solo considerado mole, que são abundantes no Brasil e
uma grande preocupação na construção civil. Os geossintéticos são feitos através de polímeros e possuem diversos
modelos com variadas propriedades, mas os determinados para reforço do solo, que são aprofundados neste artigo,
são as geogrelhas e também os geotexteis, a aplicação dos GSY basicamente aumenta a capacidade de carga dos apoios,
transferindo as forças pontuais para forças distribuídas, assim evitando os deslocamentos laterais. Esta técnica vem
sendo cada vez mais utilizada no meio da construção civil devido a praticidade da instalação e economia, economia
que está relacionada a facilidade de transporte, aplicação e manuseio. Em virtude das suas vantagens os geossintéticos
são utilizados em substituição de materiais tradicionais da construção. Os GSY podem ser aplicados dediversas formas,
de acordo com a necessidade estrutural a qual vai ser sujeito, variando assim as técnicas construtivas utilizadas. Os
resultados dos estudos evidenciam que o comportamento mecânico dos geossintéticos dependem de diversos fatores,
como os polímeros empregados, fabricação a qual foi submetida, temperatura a qual serão expostos, umidade,
velocidade de deformação, entre outros. Observa-se que quando aplicadas de maneira correta, as geogrelhas podem
aumentar a resistência de uma estrutura em torno de 27% a 39%. Também foram expostos dados sobre a utilização de
uma segunda geogrelha e se os resultados são muito melhores ou equivalentes a utilização de uma única camada de
geogrelha para reforço do solo.
Palavras-chave: geossintéticos, reforço de solo, geogrelha, aterro.

Abstract
This article seeks to clarify and disseminate knowledge about the use of geosynthetics (GSY), which are elements
derived from polymers, in works that have soft soil, which are abundant in Brazil and a major concern in civil
construction. Geosynthetics are made using polymers and have several models with varied properties, but the ones
determined for strengthening the soil, which are discussed in greater depth in this article, are geogrids and also
geotextiles, the application of GSY basically increases the load capacity of supports, transferring point forces to
distributed forces, thus avoiding lateral displacements. This technique is being used more and more in the middle of
the civil construction due to the practicality of the installation and economy, economy that is related to the ease of
transport, application and handling. Due to their advantages, geosynthetics are used to replace traditional construction
materials. GSY can be applied in different ways, according to the structural need to which it will be subjected, thus
varying the construction techniques used. The results of the studies show that the mechanical behavior of geosynthetics
depends on several factors, such as the polymers employed, the fabrication to which it was subjected, the temperature
to which they will be exposed, humidity, deformation speed, among others. It is observed that when applied correctly,
geogrids can increase the strength of a structure by 27% to 39%. Data on the use of a second geogrid and whether the
results are much better or equivalent to the use of a single geogrid layer for soil reinforcement were also exposed.
Keywords: geosynthetics, soil reinforcement, geogrid, landfill.

1Bacharelandos do Curso de Engenharia de Civil, Centro Universitário Braz Cubas, Brasil.


2 Professor Titular do Centro Universitário Braz Cubas, Brasil. Doutora em Ciências e TecnologiasEspaciais
pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Brasil (2019).
2

Introdução
O uso de geossintéticos para reforço de solo vem se tornando cada vez mais
comum devido a grande busca por soluções eficazes para obras de engenharia civil em
locais onde o solo não apresenta condições ideais para suportar tais esforços, além de ter
que executar um aterro para corrigir imperfeições no nível do terreno, é necessário que se
utilize de algum outro recurso para aumentar a resistência do solo.
Os solos moles são solos de baixa consistência, altamente deformáveis, em geral
com alto teor de umidade e constituído principalmente de argila e matéria orgânica
(PANITZ 2007). Segundo Abdullah (2006), os principais problemas associados à
construção de aterros sobre estes solos são: a baixa capacidade de carga do solo,grandes
deslocamentos laterais, assentamentos excessivos diferidos no tempo, muitas vezes não
compatíveis com os assentamentos admissíveis.
A importância do tratamento de solos na construção civil é basilar porque permite
a utilização de terrenos de poucas características mecânicas, tais como os solos moles
(CARAMELO, 2011). Para vencer o desafio que é a construção sobre este tipo de solo,
são conhecidas diversas técnicas, neste artigo, será abordado o método de reforço de solos
com o uso de geossintéticos. Na Tabela 1, é possível observar as diversas técnicas de
construção sobre solos moles, suas características, vantagens e desvantagens.
Tabela 1 – Métodos de construção sobre solos moles, e características
(CARAMELO, 2011).
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O sistema de reforço através de uma plataforma de transferência de carga como


os geossintético é considerado uma solução eficiente para construção sobre solos moles,
além de ser uma opção de rápida execução e com custo moderado.
Os geossintéticos têm uma resistência à tração muito elevada, que falta ao solo
(GANGAKHEDKAR, 2004). O geossintético tem como principais funções a separação
do material do aterro do material natural, a distribuição e transmissão das cargas verticais
e horizontais provenientes do aterro para as estacas e o reforço da base do aterro
(ALMEIDA e MARQUES, 2010).
A utilização de geossintéticos em obras geotécnicas tem-se generalizado cada vez
mais, desde o início da sua aplicação na década de 1960. Têm sido utilizados em
substituição de materiais de construção tradicionais e como reforço dos solos, em áreas
tão diversas como as vias de comunicação, as obras hidráulicas, aterros, campos
desportivos, estruturas de suporte, taludes, defesa contra a erosão ou túneis (Borges,
1995).
Este artigo tem como objetivo analisar as características de geossintéticos, e
compreender sua influência e comportamento quando usado para reforço de solos de
aterros.

Materiais e Métodos
Geossintéticos
Por definição na ABNT NBR ISSO 10318-1, geossintético (GSY) é termo
genérico que descreve um produto em que ao menos um de seus componentes é produzido
a partir de um polímero sintético ou natural, sob a forma de manta, tira ou estrutura
tridimensional, utilizado em contato com o solo ou outros materiais, em aplicações da
engenharia geotécnica e civil.
Os geossintéticos vem sendo implementados na construção civil a muito tempo,
mas ganharam grande espaço na década de 70 quando os geossintéticos não-tecidos
agulhados foram introduzidos e produzidos em larga escala, proporcionando assim a
expansão do mercado e surgimento de novos produtos, como as geogrelhas, que são o
tipo de GYS específico para reforço de cargas. Desde então, esse tipo de material é
utilizado na construção de estradas pavimentadas e não-pavimentadas, barragens e
também no reforço de estruturas (ANTUNES, 2008). Na Figura 1, são apresentadas
algumas aplicações do geossintético em obra.
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Figura 1 – Exemplos utilização de geossintéticos (ANTUNES, 2008).

As principais características e vantagens do material geossintético, são:


• Alta resistência à tração associadas a baixas deformações;
• Alta resistência aos micro-organismos e elementos químicos presentes no solo,
bem como, à radiação UV e aos danos mecânicos de instalação;
• Boa interação com o solo;
• Flexível, leve e fácil de instalar;
• Ampla gama de resistências nas direções longitudinal e transversal;
Segundo Koerner (1994), geossintético é um produto planar, fabricado a partir de
um material polimérico, sendo caracterizado pela natureza do polímero presente,pelo
arranjo textural entre as fibras e/ou filamentos, pela tecnologia de fabricação epelas
suas aplicações geotécnicas.
Assim como existem diversos tipos de geossintéticos, sendo alguns:
geomembrana, geotêxtil, geocompósito e geogrelhas, também são diversas as suas
funções, algumas se destacam, filtragem, separação, proteção e reforço. Dependendo da
sua aplicação, o geossintético pode desempenhar mais que uma função (TEIXEIRA,
2003). A Tabela 2 traz uma demonstração das funções que cada tipo de geossintético
desempenha melhor.
Tabela 2 – Função que cada tipo de geossintético pode desempenhar.
FUNÇÃO

GEOSSINTÉTICO Separação Reforço Filtração Drenagem Impermeabilização


GEOTÊXTIL 1 ou 2 1 ou 2 1 ou 2 1 ou 2 1 ou 2

GEOGRELHA n/a 1 n/a n/a n/a

GEOREDE n/a n/a n/a 1 n/a

GEOMEBRANA n/a n/a n/a n/a 1

Legenda: 1- função principal, 2- função secundaria, n/a- não se aplica.


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Os geossintéticos exercem a função de reforço quando são instalados para


melhorar as propriedades mecânicas de um solo ou de outro material de construção. Os
geossintéticos exercem função de reforço essencialmente em duas situações: (1) quando
são colocados entre duas camadas sujeitas a pressões diferentes e a sua tensão equilibra
a diferença de pressão entre essas camadas, conduzindo ao reforço global; (2) quando são
colocados no interior de maciços para suportar tensões de tração, aumentando a
capacidade global da estrutura para resistir a esforços deste tipo (CARNEIRO, 2009).
A principal função que será analisada neste artigo, é a do uso do geossintético
como reforço, conforme mostrado na Tabela 2, temos dois principais tipos de GSY ideais
para tal função, as geogrelhas e os geotêxtis, que são os mais utilizados para reforço
segundo Sieira (2003).

Geogrelhas
De acordo com a ABNT NBR ISSO 10318-1, a definição de geogrelha (GGR) é
uma estrutura polimérica plana, constituída por uma malha aberta e regular de elementos
de tração completamente conectados, que podem ser unidos por extrusão, solda ou
“interlooping” ou entrelaçamento, e cujas aberturas são maiores que os elementos
constituintes.
Visando frequentemente o reforço de um solo que sozinho seria insuficiente para
suportar uma carga, o geossintético escolhido para essa função, são as geogrelhas e os
geotêxtis, mais especificadamente as geogrelhas pois as suas propriedades se encaixam
na função desejada, são elas: (CARAMELO, 2011).
Boa resistência a tração e modulo de deformidade, essas características
contribuem diretamente para a função de reforço.
Fluência e relaxação mínimas, evitando assim que os reforços percam eficácia ao
longo do tempo.
Flexibilidade, garantido assim bom contato entre solo e reforço.
As geogrelhas são colocadas entre a camada de aterro e o subleito, suportando
assim as cargas necessárias. Isso ocorre devido a transferência de esforços, o peso que
antes sobrecarregava o solo, agora sobrecarregara os elementos geossintéticos que foram
introduzidos (OLIVEIRA, 2016).
As geogrelhas possuem forma de grelha, são constituídas por elementos resistentes a
tração, podem ser consideradas unidirecional, quando resistem a tração em uma única
direção, e bidirecional quando resistem a tração em duas direções. As geogrelhas
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também podem ser extrudidas, soldadas ou tecidas, tudo em função da sua fabricação
(ANTUNES, 2008). Na Figura 2 a seguir, são apresentados alguns modelos de
geogrelhas.

(a) (b) (c)

Figura 2 - (a) Geogrelha extrudada; (b) Geogrelha soldada; (c) Geogrelha tecida,
(GEOCONTRACT, 2020).

Na produção das geogrelhas, normalmente são utilizados os polímeros polietileno


de alta densidade (PEAD), o poliéster (PET) e o polipropileno (PP). O tipode polímero
afeta as características a geogrelha principalmente a longo prazo (CARAMELO, 2011).

Geotêxtil
Por definição da ABNT NBR ISSO 10318-1, o geotêxtil é um material têxtil
plano, permeável, polimérico (sintético ou natural), podendo ser não tecido, tricotado ou
tecido, utilizado em contato com o solo e/ou outros materiais em aplicações da engenharia
geotécnica e civil.
Os geotêxteis são materiais têxteis, compostos por fibras sintéticas,
monofilamentos ou fios, que formam diferentes tipos de estruturas consoante o seu
processo de fabrico, conferindo assim a este tipo de geossintético uma elevada
flexibilidade e uma porosidade, permitindo desempenhar diversas funções numa obra
geotécnica. O seu processo de fabrico permite também a disposição das fibras de uma
forma aleatória (geotêxtil não tecido), bem como numa forma regular formando uma
malha (geotêxtil tecido), (CARAMELO, 2011). Na Figura 3, temos um exemplo do
geossintético geotêxtil.
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Figura 3 – Exemplos de geotêxtil (SIEIRA, 2003).


Durante o processo de produção do geotêxtil, elementos como fibras ou fios são
combinados em estruturas têxteis planares. As fibras podem ser filamentos contínuos,
constituídos por fios muito compridos e finos de um polímero ou fibras têxteis, nas
quais os filamentos são bastante curtos, com 20 a 50mm de comprimento. O tipo de
geotêxtil é determinado pelo método utilizado para combinar os filamentos ou fibras
dentro de uma estrutura planar, dando-se origem aos geotêxteis tecidos e não tecidos
(ANTUNES, 2008).
Segundo Caramelo 2011 o uso de reforços geotêxtis traz vantagens econômicas
e mecânicas para a obra; econômicos por ter menor custo, pois apresentam facilidade no
seu transporte, manuseamento e aplicação em obra; e apresenta vantagens mecânicas
porque funcionam como reforços bidimensionais com aberturas de dimensões reduzidas,
dispõem de elevadas áreas de interação com o solo envolvente, o que, por consequência,
facilita a transferência de esforços para as inclusões. A elevada deformabilidade é uma
condicionante na aplicação destes materiais, principalmente dos geotêxteis não-tecidos.

Aplicação em obra
Antecedente a etapa de execução, está a elaboração de um plano de colocação das
geogrelhas. Plano esse que deverá conter, a preparação do terreno, plantas especificando
a localização das faixas de geossintéticos, ordem e sentido de colocação,e também o
método de ligação que são: por grampeamentos, costuras, sobreposição ou colagem.
Algumas especificações são necessárias de serem seguidas para uma ótima
eficiência das faixas de geossintéticos, como: suas faixas são colocadas de acordo com as
orientações das ações, levando em conta a direção dos maiores esforços. No caso de
sobreposição dos geossintéticos, são duas as especificações, sendo sobreposição
transversal levasse em conta o sentido de lançamento do material, para que a
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sobreposição não levante. Já no caso de sobreposição longitudinal, as faixas devem ser


aplicadas paralelamente a direção (MARQUES, 2008).
A aplicação da geogrelha para reforço de aterro, pode ser feita combinada ou não
com o método de estacas. Na Figura 4 é possível ver um exemplo de como é feito o aterro
com reforço desse material, primeiramente a camada de solo mole é compactada para que
fique uniforme e possa receber as camadas de reforço do geossintético, que em seguida é
coberta pelo solo do aterro.

Figura 4 – Aterro reforçado com geossintéticos (PERBONI, J. P. 2003).


Já na aplicação do GSY combinado com o estaqueamento, as estacas de concreto
são cravadas por todo o solo mole até atingir a camada de solo competente, transmitindo
assim as tensões para um solo mais resistente. Em seguida é aplicado a camada de
geogrelhas, que faz com que as cargas verticais e horizontais se distribuam melhor entre
as estacas. O aterro é executado em cima das camadas de geossintéticos, e tornam a
superfície mais resistente, uniforme, e pouco deformável. O sistema de execução desse
tipo de aterro é demonstrado na Figura 5 a seguir.
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Figura 5 – Aterro estaqueado com reforço de geossintético (HARTMANN, D. A.


2012).

As técnicas construtivas podem variar podendo se abster da utilização de reforços


na base do aterro, de capitéis sobre as estacas ou lajes. No Brasil, por exemplo, a utilização
de geossintéticos e geogrelhas em obras de aterros estaqueados tem sido prática comum
(HARTMANN, D. A. 2012). A Figura 6 apresenta um exemplo de uma obra executada
com a técnica de aterro estaqueado.

Figura 6 – Aterros estruturados com 12 mil estacas na Barra da Tijuca (HARTMANN,


D. A. 2012).

Resultados e Discussões
Por meio deste estudo foi possível entender mais sobre o comportamento dos
geossintéticos como reforço para aterros sobre solos moles e suas características. O
posicionamento de uma camada de geossintético na camada de base permite o que Perkins
(1999) denomina de “interação cisalhante”, que se desenvolve entre o agregado e o
geossintético com a tentativa da base se espalhar lateralmente. O carregamento cisalhante
é transmitido do agregado de base para o geossintético, que é, então, tracionado. A rigidez
relativamente alta do geossintético atua no retardamento do desenvolvimento de
deformações laterais na base adjacente ao geossintético. Menores deformações laterais
na base resultam em menores deformações verticais da superfície
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do pavimento (ANTUNES, 2008). Uma representação das ações dos esforços no


material é apresentada na Figura 7.

Figura 7 – Esforços atuantes no geossintéticos (ANTUNES, L. G. D. S. 2008).


O geossintético tem como principais funções a separação do material do aterro do
material natural, a distribuição e transmissão das cargas verticais e horizontais
provenientes do aterro para as estacas e o reforço da base do aterro (ALMEIDA e
MARQUES, 2010). Na Figura 8 é possível ver a ação do geossintético e das estacas.

Figura 8 – Vista de um aterro estaqueado com reforço de geossintético.


Fonte: (huesker.com.br).
Ainda segundo Almeida e Marques (2010), os aterros estruturados com
geossintéticos, tem recalques inferiores aos recalques por adensamento em aterros
convencionais, ou seja, os volumes de terraplenagem são muito menores aos de um aterro
convencional pois, não há perda do material nem necessidade de sobrecarga. O que torna
esse material uma opção mais econômica e eficaz para este tipo de problema.
Os geossintéticos possuem grande vida útil, por terem como principal matériaprima
os polímeros, que são materiais apresentam grande durabilidade. Os polímerossão
macromoléculas caracterizadas por seu tamanho, sua estrutura química e interações intra
e intermoleculares. Possuem unidades químicas que são unidas por ligações covalentes,
que se repetem ao longo da cadeia. Eles podem ser naturais, como a seda, a celulose, as
fibras de algodão, etc., ou sintéticos, como o polipropileno (PP), o poli
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(tereftalato de etileno) (PET), o polietileno (PE), o poli (cloreto de vinila) (PVC), etc
(SPINACÉ e DE PAOLI, 2005).
Os polímeros utilizados na fabricação dos geossintéticos são o poliéster (PET), o
polipropileno (PP), e polietileno (PEAD), o tipo de polímero usado como matéria prima
é um fator que influencia muito no desempenho final do reforço, segundo Silva e Montez
(2003), os reforços produzidos com (PP) e (PEAD), atingem níveis de resistência mais
limitados que os que são produzidos com (PET). Em geral, os polímeros apresentam
elevada suscetibilidade à fluência, fenômeno de deformação gradativa de um material
solicitado por carregamento constante e prolongado.
No que diz respeito à definição da resistência útil do material, suas características
físicas têm maior influência sobre sua suscetibilidade a danos mecânicos de instalação.
Em função de possuírem ou não, por exemplo, recobrimento protetor no caso de
geogrelha, ou de apresentarem maior ou menor gramatura, no caso de geotêxteis, a perda
de resistência por danos mecânicos pode chegar a ser de 50% (AZAMBUJA, 1999).
A Equação 1, apresentada em suas duas formas mais consagradas
internacionalmente, deve ser utilizada para a definição da resistência útil (resistência de
longo prazo) – resistência de projeto (Tproj) – de um material geossintético de reforço
(KOERNER, 1998, JEWELL, 1996).

• Tmax: A resistência nominal do reforço obtida por ensaios de tração de


curto prazo (ABNT 12824);
• Tref=Tmax/FRf a resistência de referência do reforço para determinado
período de serviço (t);
• FRf: O fator de redução por fluência ( para determinado período de serviço
(t) );
• FRamb: O fator de redução por danos mecânicos (durante a Instalação,
principalmente);
• fm: O fator de segurança.

O módulo de rigidez ou de cisalhamento, é definido pela deformação máxima


admissível no material, e está relacionado à resistência a tração mobilizada
correspondente. Além do polímero constituinte, outros fatores relacionados ao processo
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de fabricação também podem influenciar o módulo de rigidez do geossintético (SILVA


e MONTEZ, 2003).
Algumas normas para aplicação e dimensionamento de geossintéticos como
reforço, definem valores de deformação que podem ser aceitos para cada tipo de obra. Na
Tabela 3, são apresentados valores de limite de deformação aceitos na normabritânica BS
8006 (1995), para projeto de estruturas reforçadas com geossintéticos (SILVA e
MONTEZ, 2003).

Tabela 3 – Valores limites de deformação conforme a norma Britânica BS 8006


(1995) para reforços com geossintéticos (SILVA e MONTEZ, 2003).

Em um estudo feito por Simões (2017), foi avaliado a resistência a compressão do


solo reforçado com geogrelhas da marca MacGrid® WG 40, 60, 90 e 120, em que o
número no final representa a resistência longitudinal última de cada uma. Os resultados
obtidos são apresentados nas Figuras 9 e 10 a seguir.
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Figura 9 – Representação gráfica do limite de resistência dos


corpos de prova (SIMÕES, 2017).
Os resultados obtidos por Simões (2017), comprovam a eficiência do
geossintetico, mais especificamente da geogrelha, como material de reforço para solos.
Pode-se observar em todos os casos um aumento de resistência de 27%, á 39%.
Um outro estudo feito por Hartmann (2012), apresenta valores de eficiência em
função do deslocamento ∆w, para diferentes alturas de aterro Hat, taxas de cobertura α
e pré tensões T nos geossintéticos. O estudo analisa ainda a influênciada aplicação
de uma segunda camada do reforço no solo.
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Figura 10 – Gráficos de influência do número de geossintéticos na eficiência do


reforço (HARTMANN, 2012).
Pode-se observar que o uso de um segundo geossintético, melhora um pouco a
eficiência do sistema quando comparado com o uso de um geossintético. Da comparação
entre ensaio com e sem geossintéticos verifica-se que a utilização dos geossintéticos
melhora a eficiência do sistema em termos de transferência de cargas, possibilitando um
ganho contínuo de eficiência mesmo após grandes deslocamentos do platô, especialmente
para menotes alturas de aterro (HARTMANN, 2012).

Conclusão
Neste artigo foram apresentados dados com o intuito de ampliar o conhecimento
sobre a utilização e características, de geossintéticos para reforço do solo. Observamos
que os geossintéticos exercem a função de reforço quando instalados para melhorar as
propriedades mecânicas de determinado solo, além de também ter apresentado vantagens
econômicas. Na função determinada, os geossintéticos escolhidos para aplicação são as
geogrelhas e geotêxtis, seguindo as especificações necessárias para
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colocação, quando as cargas da estrutura atingem as geogrelhas, elas são distribuídas de


um modo mais uniforme para seus apoios.
Portanto, fica evidente que o uso das geogrelhas proporciona uma superfície
mais resistente e uniforme além de um aumento da resistência de 27% a 39%. Também
analisamos os dados da utilização de uma segunda camada de geossintéticos parareforço,
onde foi observado que a eficiência do sistema é elevada. Sendo assim, fica claro que a
utilização de geossintéticos melhora a eficiência da estrutura, devido a transferência de
carga.
A aplicação de produtos nesse tipo, mostra a boa função que os polímeros
apresentam quando são empregados para materiais de reforços na construção civil,
sendo possível futuros estudos sobre a reutilização de materiais provenientes de
polímeros para fabricação de geossintéticos.

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