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DOI: 10.5747/ce.2019.v11.n3.e291
ISSN on-line 2178-8332

Submetido: 09/10/2018 Revisado: Aceito: 20/03/2019

SOLOS REFORÇADOS COM GEOSSÍNTETICOS: OBRAS DE


CONTENÇÕES DE ATERROS DE PONTES E VIADUTOS

SOILS REINFORCED WITH GEOSSYTHETICS: CONSTRUCTION WORKS OF


BRIDGE AND VIADUES

Barbara Florrance de Melo Rocha, Beatriz de Mello Massimino

Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE.


E-mail: barbaraflorrance@hotmail.com

RESUMO – O trabalho apresenta o emprego da técnica de obras com


contenção de solos em aterros reforçados com geossintéticos em pontes e
viadutos, com o objetivo de realizar a análise da viabilidade e aplicação do
método, realizar o levantamento de obras executadas no Brasil e verificar as
propriedades mecânicas atuantes. Conclui-se que a utilização de geossintéticos
de alta resistência, alto módulo e baixa fluência, aliados a uma compactação
energética resultam em estruturas pouco deformáveis, que atendem aos
requisitos de aspecto estético e funcionalidade, além de segurança ao colapso
nessas obras, e apresenta-se como alternativa de grande flexibilidade
construtiva e rápida execução, tornando-se de custo relativamente baixo em
comparação aos métodos de construções tradicionais.
Palavras-chave: Aterros Reforçados, Geossintéticos, Obras de Contenção.

ABSTRACT – This work presents the use of soil retention techniques in landfills
reinforced with geosynthetics in bridges and viaducts, with the objective of
carrying out the feasibility analysis and application of the method, carrying out
the survey of works carried out in Brazil and verifying the mechanical
properties acting. It is concluded that the use of geosynthetics of high strength,
high modulus and low creep, combined with energy compaction results in
structures that are not deformable, that meet the requirements of aesthetic
appearance and functionality, as well as safety to collapse in these works, as
an alternative of great constructive flexibility and fast execution, making it
relatively low cost compared to traditional construction methods.
Keywords: Reinforced embankments, Geosynthetics, Containment Works.

Colloquium Exactarum, v. 11, n3, Jul-Set. 2019, p. 121 –131. DOI: 10.5747/ce.2019.v11.n3.e291
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1. INTRODUÇÃO ção de obras em locais de difícil acesso, o


Em meados de 1970, com o desenvol- apoio sobre solo natural e não necessidade
vimento de geossintéticos (geotêxtis não de execução de fundações específicas (ANA-
tecido e geogrelhas), remonta-se as primeiras NIAS et al., 2013).
técnicas de reforço de aterros sobre solos As primeiras obras de artes (pontes e
moles e taludes (RUIZ et al., 2018). viadutos) com a aplicação técnica especificas
No Brasil surgiram na década de 80, de solo reforçado surgem seguindo o concei-
as primeiras obras de solo reforço, que utili- to tradicional de projeto e especificações de
zavam de técnicas muito simples de solo en- reforços que já eram utilizados, executando
velopado com reforço de compostos por geo- muros de contenções das alas e ombreiras
têxteis onde o paramento frontal deveria laterais dos encontros. A superestrutura era
receber concreto projetado ou outras prote- apoiada sobre infraestruturas (estacas) inde-
ções e foram amplamente utilizadas em to- pendentes, não sendo apoiadas diretamente
das as regiões do país (ANANIAS et al., 2013). no corpo do aterro compactado. A única car-
Atualmente, a técnica de solo mecani- ga que atuava sobre os reforços seria de em-
camente estabilizado (Mechanically Stabili- puxos ativos do maciço de solo. Sob o ponto
zed Earth – MSE), apresenta-se como alterna- de vista da condição de serviços, para que
tiva mais econômica e de fácil execução, não ocorressem deslocamentos diferenciais
quando comparada à estruturas tradicional- acentuados entre a infra e superestrutura, os
mente empregadas, quanto a contenção de reforços deviam ser dimensionados para re-
gravidade e estruturas de concreto armado sistir aos empuxos, garantido baixa deforma-
(RUIZ et al., 2018). A Figura 1 apresenta um ção na estrutura (RUIZ et al., 2018).
comparativo entre obras tradicionais e com Com o passar do tempo, devido ao
método de solo reforçado. desenvolvimento de novos geossintéticos,
técnicas de execução, pesquisa e conheci-
Figura 1. Comparativo de soluções de contenção mento do comportamento em obras, propor-
(tradicional x muro com geossintéticos). cionaram a possibilidade do total controle do
desempenho destas obras, e diversas alter-
nativas para cada necessidade (ANANIAS et
al., 2013).
A partir destes conceitos e técnicas,
surgem os projetos onde o tabuleiro (supe-
restrutura), apoia-se diretamente sobre ater-
Fonte: Ruiz et al., (2018). ros reforçados, devido a inúmeras caracterís-
ticas e vantagens de métodos de solo refor-
A utilização de estruturas em solo re- çado, bem como os aspectos estimados im-
forçado é uma tecnologia de grande impor- portantes para o dimensionamento e execu-
tância para projetos de contenção. Inclusões ção, considerados como encontros portantes
em obras geotécnicas, possuem a intenção em obras rodoviárias e urbanas.
de reforçar a resistência à tração, alterando
as características internas dos solos nos quais 2. OBJETIVOS
são inseridos, são muito usadas para a con- 2.1. Objetivo Geral
tenção ou estabilização de taludes e aterro e O emprego da técnica de obras com
são chamadas de estruturas de solos reforça- contenção de solos em aterros reforçados
dos (MAPARAGEM, 2017). com geossintéticos utilizados na execução de
Entre as características dos solos re- pontes e viadutos devido a vantagens de fa-
forçados, destaca-se o uso de materiais e do tores técnicos e econômicos.
solo local, a possibilidade de execução de
taludes mais íngremes, a facilidade de execu-
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2.2. Objetivos Específicos Figura 2. Viaduto em solo reforçado em Ullerslev,


- Analise da técnica da viabilidade de Dinamarca.
reforço de aterros e os tipos de geossintéti-
cos utilizados em estruturas de obras de pon-
tes e viadutos.
- Levantamento de obras executadas
através de encontros portantes em obras Fonte: Ruiz et al., (2018).
onde o tabuleiro (superestrutura), apoia-se
diretamente sobre aterros reforçados. O comportamento geral desta estru-
- Verificação das propriedades mecâ- tura foi considerado extremamente satisfató-
nicas atuantes em obras de solos reforçados: rio, devido a dispositivos de medicação de
tração, rigidez do reforço, deformação e ser- deslocamentos horizontais que foram insta-
vicibilidade. lados na face, que ao longo do primeiro ano,
registrou recalques por acomodação interna
3. SOLOS REFORÇADOS COM GEOSSÍNTETI- não superiores a 2 mm com o uso de solo
COS EM CONTENÇÕES DE PONTES E VIADU- reforçado (RUIZ et al., 2018).
TOS
3.1. Históricos de Primeiros Projetos 3.1.2. Ponte na Alemanha
Na década de 90, foram executados Por volta do ano 2000, foi construída
os primeiros projetos que aproveitam a capa- uma ponte portante sobre o rio Ilse, na rodo-
cidade de carga dos aterros reforçados como via k1355 em Ilsenburg – Alemanha, projeta-
apoio direto do tabuleiro de ponte (superes- da para atender a cargas maiores. Devido ao
trutura). Neste caso, a estrutura de apoio se cumprimento satisfatório das exigentes nor-
projeta com capacidade suficiente para su- mas técnicas alemãs, o sucesso desta obra
portar as correspondentes cargas verticais motivou que a solução fosse considerada
concentradas, com pressões da ordem de como perfeitamente aceitável desde então,
150 a 250kN/m2, em uma área limitada a em muitos países europeus (RUIZ et al.,
menos de 2m de largura, próximo da crista 2018). A Figura 3 apresenta a obra da ponte
frontal do aterro de acesso (ALEXIEW et al., , em solo reforçado em Ilsenburg, Alemanha.
apud2007RUIZ, 2018). Foi instalado um conjunto de disposi-
tivos para instrumentação de controle, que
3.1.1. Viaduto na Dinamarca verificaram valores de deformação vertical de
Em 1992, próximo a cidade de Ullers- 4 a 8 mm, e deslocamentos horizontais de 1 a
lev, na Dinamarca, foi executado um dos pro- 2 mm (RUIZ et al., 2018).
jetos pioneiros em adotar reforço de solo, em
um cruzamento em desnível da estrada sobre Figura 3. Ponte em solo reforçado em Ilsenburg,
Alemanha.
um tramo de ferrovia. O tabuleiro do Viaduto
que possuía 15,50 metros de comprimento,
foi apoiado diretamente sobre aterros refor-
çados, de 5,40 metros de altura livre. Foi pro-
jetado para suportar uma carga permanente Fonte: Ruiz et al., (2018).
pontual de 2000 kN e uma carga de tráfego
de 1700 kN, sem mobilizar deformações ex- 3.2. Comparativos entre os métodos tradici-
pressivas (RUIZ et al., 2018). A Figura 2 apre- onais e o de reforço
senta a obra do viaduto em solo reforçado A aplicação de muros de solo refor-
em Ullerslev, Dinamarca. çado com geossintéticos em encontros de
pontes e viadutos, tem se desenvolvido, co-
mo apoio direto das estruturas de arte, sobre
sua superfície, como alternativa de substitui-

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ção às estruturas tradicionais de contenção Os reforços inextensíveis geralmente


frontal ou muro de ala. incluem aço e grades, por exemplo, estrutu-
Sua principal vantagem consiste no fa- ras em terra armada, solo grampeado e ou-
to de, por se tratar de uma estrutura flexível tras. Enquanto os reforços extensíveis inclu-
e deformável, esta se adapta muito bem a em polímeros como geogrelhas e geotêxteis.
fundações sobre solos moles, ou mesmo em Com o emprego das geogrelhas de po-
condições submersas, além de alternativa de liéster e PVA em substituição aos geotêxteis
construção considerada fácil e rápida (RUIZ et não tecidos e tecidos de polipropileno, as
al., 2018). A Figura 4 apresenta comparativo obras se tornaram menos deformáveis e a
entre obras de pontes e viadutos com méto- técnica hoje pode ser utilizada para pratica-
dos tradicionais e com método de solo refor- mente qualquer aplicação, desde taludes
çado. naturais até encontros portantes de pontes e
viadutos (BRUGGGER; MONTEZ, 2003). Caso
Figura 4. Comparativo de soluções de contenção deseja-se uma estrutura com deformações
para encontros de viadutos e pontes (tradicional menores, há a alternativa de utilizar no pro-
x muro com geossintéticos). jeto geogrelhas de poliéster, mas com níveis
de tensão mobilizada mais baixos, utilizando
reforços mais resistentes do que calculados
para a ruptura. Diferente opção seria a utili-
zação de geogrelhas de PVA, que proporcio-
Fonte: Ruiz et al., (2018).
nam módulos de rigidez maiores do que as
Comparado ao método tradicional, geogrelhas de poliéster.
soluções de contenção para encontros de Os reforços mais adequados atual-
viadutos e pontes, a capacidade de suporte mente para solo reforçado são geogrelhas
requerida é mais exigente e os deslocamen- fabricadas a partir de polímeros de poliéster
tos ou deformações admitidas são muita ou PVA. Estas geogrelhas apresentam alto
mais limitadas (RUIZ et al., 2018). módulo de rigidez e baixa fluência, resultan-
Para vencer desníveis em aterros, a do em obras bastante rígidas após constru-
execução de solo reforçado usa o próprio ção. Essa característica é particularmente
solo como a estrutura de contenção, estabili- importante se existirem estruturas rígidas
zação sua massa por meio de inclusões de como vias pavimentadas no topo dos muros.
comprimento e espaçamento variável (AVE- O projeto deve prever, além da segurança à
SANI NETO et al., 2013). ruptura, uma deformação adequada à utiliza-
ção da obra. De modo geral procura-se proje-
3.3. Geometria, detalhes de projeto e cons- tar obras onde os reforços tenham alonga-
trutivos mentos específicos típicos de 3 a 5% (BS
Os sistemas de reforço de solos em 8006), o que equivale a trabalhar com tipi-
pontes ou viadutos são essencialmente com- camente 30% da resistência última de geo-
postos por três elementos que são: O refor- grelhas de Poliéster e 50% da resistência úl-
ço, o material de preenchimento e a face. tima de resistências de PVA. Além disso, deve
ser feita uma compactação pesada, preferen-
3.3.1. Reforço cialmente com 100% do ensaio proctor nor-
Os elementos de reforço são geral- mal em todas as camadas, de modo a mobili-
mente classificados como inextensíveis (me- zar os esforços nas geogrelhas durante o pro-
tálicos) ou extensíveis (polímeros). Que são cesso construtivo e assim minimizar defor-
baseadas na deformação necessária para mações posteriores. Sugere-se utilizar para o
mobilizar toda a força do reforço em relação dimensionamento métodos de cálculo que
à deformação necessária para mobilizar toda considerem os esforços induzidos pela com-
a força do solo (MAPARAGEM, 2017).

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pactação, como o método de Ehrlich e Mit- al., (2013) considera-se camadas de 40 cen-
chel, 1994 (BRUGGER; SILVA, 2009). tímetros de espaçamento entre os geossinté-
ticos de reforço. A seguir, a Figura 5 apresen-
3.3.2. Material de preenchimento ta o modelo de Face envelopada.
O material de preenchimento é cons-
tituído por solos selecionados para a execu- Figura 5. Face envelopada, revestimento vegetal
ção (MAPARAGEM, 2017). com utilização de espécies em trepadeira.
O material de aterro também pode
ser utilizado de jazida próxima, desde que o
solo atenda as condições mínimas especifica-
das em projetos.
O solo internacional reforçado é for-
temente baseado na utilização de arenosos,
enquanto no Brasil, tem mostrado que a utili-
zação de solos mais finos que é perfeitamen-
te aceitável e até com vantagens, principal-
mente quando são utilizados solos residuais
saprolíticos. Esses solos apresentam ótimo Fonte: AVESANI NETO, et al., (2013).
comportamento mecânico quando bem
compactados e são bastante rígidos, sendo Face em blocos segmentais (Figuras 6
que boa parte deste bom comportamento é e 7) são utilizados na implantação de muros
devido à coesão aparente decorrente de suc- portantes em encontro de pontes e viadutos,
ção provocada pela compactação da massa mostra-se viável sob diversos aspectos: pos-
de solo não saturada (BRUGGER; SILVA, suem ótimo acabamento estético, facilidade
2009). construtiva, boa adequação geométrica da
estrutura. São preenchidos por brita e até
3.3.3. Face mesmo pinos metálicos. De acordo com Ave-
Para Ruiz et al. (2018) a face do parâ- sani Neto et al., (2013) há uma redução no
metro frontal de um MSE com geossintéticos consumo de inclusões e um aumento tanto
podem ser executados com total indepen- da produtividade como da estética do muro
dência estrutural do maciço de contenção, em relação ao faceamento envelopado.
em ampla variedade de faceamento, tais co-
mo: revestimento vegetal (hidrossemeadu- Figura 6. Face de bloco segmentados, construção
de um acesso transversal à rodovia Federal BR
ra), concreto projetado, painéis pré-
101, no Rio Grande do Sul.
fabricados, blocos segmentais ou muros au-
toportantes de alvenaria ou de pedra.
Para manter o sistema estável, com
uma boa forma são construídos blocos em
elementos pré-fabricados, que geralmente,
consistem em painéis de concreto pré-
moldado ou blocos de alvenaria modular pré- Fonte: Ruiz et al., (2018).
moldado ou ainda metálicos (MAPARAGEM,
2017).
A execução de face envelopada con-
siste em utilizar sacarias preenchidas com
solo local, envelopados com geossintéticos,
formando uma ancoragem do reforço da fa-
ce, que pode ser revestida com vegetação ou
concreto projetado, segundo Avesani Neto et

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Figura 7. Construção de um encontro em uma Figura 9. Faceamento em painéis moldados, obra


passagem inferior à rodovia BR 101, no Rio do viaduto de acesso do Aeroporto Estadual de
Grande do Sul, faceamento em blocos Presidente Prudente.
segmentados.

Fonte: Ruiz et al., (2018). Fonte: Autor (2018).


A obra trata-se de um projeto que
O sistema de faceamento pré- vem sendo executado visando melhorar as
moldados, por meio de painéis (Lock & Lo- condições de trafegabilidade e segurança na
ad®) utiliza módulos de concreto estrutural rodovia Assis Chateaubriand em trecho de 22
reforçado com fibras. Este tipo de faceamen- quilômetros duplicados entre Presidente
to permite um maior espaçamento vertical Prudente e Pirapozinho, no estado de São
do reforço, com valores de 80 e 120 cm. Ou- Paulo.
tra vantagem é a possibilidade de execução Há a possibilidade de uma elevada
de muros de até 1,2 m de altura sem a neces- produtividade, atingindo velocidades de ins-
sidade de dispor de reforços (AVESANI NETO talação de até 40 m²/dia/equipe, obtendo
et al., 2013). um acabamento estético mais elevado se
As figuras 8, 9 e 10 a seguir, apresen- comparado com os outros 2 (dois) sistemas
tam o método de contenção (além de reforço supracitados. Obtendo-se a vantagem de
de solo com geossintéticos), em Faceamento usar reforços de reduzida resistência, para
em painéis moldados, obra do viaduto de camadas mais profundas e de maior espaça-
acesso do Aeroporto Estadual de Presidente mento para camadas mais superficiais.
Prudente, na Rodovia Assis Chateaubriand
Figura 10. Face em painéis moldados, obra do
(SP-425), em Presidente Prudente - SP.
contenção de acesso do Aeroporto Estadual de
Presidente Prudente.
Figura 8. Faceamento em painéis moldados, obra
do viaduto de acesso do Aeroporto Estadual de
Presidente Prudente, na Rodovia Assis
Chateaubriand (SP-425), em Presidente Prudente
- SP.

Fonte: Autor (2018).

Em uma análise de comparação de


Fonte: Autor (2018). custo, realizada por Avesani Neto et al.,
(2013), a solução em solo reforçado com ge-
ossintéticos apresentou o menor custo para
todas as alturas consideradas, especialmente
a solução envelopada, pois esta não conside-
ra nenhum sistema de faceamento definitivo

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final. O faceamento com painéis pré- clusão do aterro ou reforço do solo estimado
moldados, apesar de ter um custo mais ele- para a conclusão da obra.
vado da face, se mostra economicamente
favorável, visto que as dimensões dos painéis 3.4. Propriedades Mecânicas
permitem uma maior produtividade (três 3.4.1. Resistência à tração
vezes maior que o envelopado), reduzindo o A técnica de reforço de solo consiste
custo de execução. A face em bloco é a que em melhorar o solo conferindo-lhe a capaci-
se mostrou mais onerosa em relação às ou- dade de resistência a tração (MAPARAGEM,
tras soluções com geossintéticos, pois, dife- 2017).
rente do envelopado, é um sistema definitivo A introdução de reforços traz ao ma-
de faceamento com custo de material do ciço a ser estabilizado um comportamento
bloco. Contudo, diferente também do painel, mecanicamente mais favorável, pois, quando
a dimensão do bloco é inferior (cerca de qua- as inclusões resistentes a tração é convenien-
tro vezes), motivo que faz com que sua pro- temente inserida promovem uma redistribui-
dutividade não seja tão boa quanto o painel. ção de esforços nas zonas mais susceptíveis a
movimentação, tornando o sistema resisten-
3.3.4. Execução te e estável; assim, as estruturas de solo re-
Para iniciar a execução da contenção forçado são mais resistentes e menos defor-
em solo reforçado, é necessário a preparação máveis (MAPARAGEM, 2017).
do local com a retirada de quaisquer materi- Quando o solo recebe um carrega-
ais que possam ser danosos aos reforços e mento vertical, ocorrem deformações verti-
fornecer a locação topográfica do alinhamen- cais de compressão e deformações laterais
to frontal da contenção (muro ou talude em de extensão (tração). Contudo, se o solo esti-
solo reforçado) (ANANIAS et al., 2013). ver reforçado, os movimentos laterais são
Em seguida, os geossintéticos deter- limitados pela reduzida deformabilidade do
minados em projeto deverão ser cortados de reforço. Esta restrição de deformações é ob-
acordo com o comprimento estimado em tida graças ao desenvolvimento de esforços
projeto e esticado no terreno regularizado, de tração no elemento de reforço. Neste ca-
podendo ser utilizados piquetes de madeira so, o solo tende a mover-se em relação ao
ou vergalhões, para fixar os geossintéticos no reforço gerando tensões cisalhantes na inter-
local para evitar a movimentação durante o face (WHEELER, 1996, apud MAPARAGEM,
lançamento do aterro. O sentido de maior 2017).
resistência devera ficar perpendicular a face, A Figura 11 a seguir ilustra o princípio
pois são onde apresentam maiores esforços básico do comportamento do método de solo
de tração (ANANIAS et al., 2013). reforçado, onde evidencia o comparativo do
Deve-se lançar o material preenchi- comportamento do solo sem e com o reforço
mento (aterro de solo), em camadas compac- em geossintético, devido a forças atuantes de
tadas, de acordo com as espessuras estima- tração e deformação.
das em projeto, evitando que o equipamento
de compactação movimente o reforço. Ge- Figura 11. Comportamento típico do solo: (a) sem
ralmente, a compactação próxima a face da reforço; e (b) com reforço.
contenção na faixa de 1,00 metro, é executa-
da com equipamentos considerados leves, de
forma manual e evitando deformações do
pareamento frontal. A área restante pode ser
compactada com equipamentos mecânicos
considerados pesados, desde que atendam as
especificações do projeto a ser executado. Fonte: Sieira, 2003 apud Maparagem (2017)
Toda a etapa é repetida até que atinja a con-

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Geralmente, os solos possuem eleva- tantes e quaisquer estruturas em solo refor-


da resistência a esforços de compressão, po- çado aplicados em obras de elevada respon-
rém baixa resistência a esforços de tração. sabilidade, os valores de deformação permi-
Quando uma massa de solo é carregada ver- tida para os reforços são muito restritivos. A
ticalmente, sofre deformações verticais de norma britânica (BS 8006, 2010), por exem-
compressão e deformações laterais de ex- plo, limita as deformações pós-construtivas
pansão (tração). No entanto, com a introdu- nos reforços de estruturas portantes em
ção de reforços no aterro, os movimentos apenas 0,5% para pontes e viadutos, e 1,0%
laterais são limitados pela reduzida deforma- para em geral (BRUGGER; SILVA, 2012).
bilidade do reforço (rigidez) (ANANIAS et al., Para que sejam utilizadas geogrelhas
2013) de alta resistência, é necessário que se co-
nheça as curvas de tensão-deformação (Figu-
3.4.2. Rigidez do reforço, deformação e ser- ra 12) do material, e verifique o comporta-
vicibilidade mento de deformação a curto e longo prazo
Os deslocamentos medidos (verticais (fluência). São recomendados que a energia
e horizontais) e as deformações estimadas de compactação deva ser grande, de modo a
estão diretamente relacionados ao módulo estabilizar a maior parcela das tensões (e das
de rigidez dos reforços (geossintéticos). deformações) durante a compactação.
Obras que envolvem carregamentos elevados
e que apresentam limites restritos de deslo- Figura 12. Modelo de curva tensão-deformação
camentos, são particularmente situações que de geogrelhas Fortac de poliéster.
exigem o uso de reforços com elevada rigidez
(BS 8006-1, 2010).
A deformação é inversamente pro-
porcional à rigidez. Este aspecto é, portanto,
decisivo na seleção do material de reforço a
ser utilizado. O uso de reforços rígidos é re-
comendado para estruturas que devem apre-
sentar pequenas deformações.
Ainda que o equilíbrio seja garantido
e que não haja maiores riscos de ruptura, há Fonte: BRUGGER e SILVA, (2012).
que se definir limites de servicibilidade a se-
rem respeitados. Estes limites dizem respeito De acordo com Brugger e Silva, (2012)
diretamente à condição de operação ade- o acréscimo no alongamento especifico má-
quada e conforto dos usuários, que por sua ximo entre o final da compactação e o final
vez, são determinadas pelo desempenho da da construção da obra, deve ser menor do
estrutura a longo prazo (BRUGGER; SILVA, que 5%. O acréscimo no alongamento especi-
2012). Neste contexto, as obras de engenha- fico máximo entre o final da construção e a
ria devem atender a critérios de funcionali- longo prazo deve ser menor do que 1% (a
dade e estética, além da garantia de uma norma inglesa BS 8006 recomenda 1% para
segurança adequada ao colapso, na geotec- contenções em geral, e 0,5% para contenções
nia, trata-se de atender aos requisitos do portantes de viadutos e pontes).
projeto, com o conceito definido como “ser-
vicibilidade” (do inglês serviceability). 3.5. Obras Executadas no Brasil
Em geral, os limites de deformação do Existem no Brasil obras executadas
reforço por critérios de servicibilidade são em que o tabuleiro do viaduto se apoia sobre
definidos por normativas locais, e variam o aterro reforçado e não em fundação inde-
pouco de país para país no caso de estruturas pendente.
de solo reforçado. No caso de contenção por-

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Em Maringá, no Paraná, a prefeitura Figura 14. Detalhe do apoio de um viaduto


municipal com apoio do governo federal, portante executado em Maringá-PR.
investiu no rebaixamento da linha férrea que
corta a região central da cidade. A primeira
fase foram obras de 1,6 km, e a segunda de
3,0km, e utilizados oitocentos mil metros
quadrados de geogrelhas de poliéster com
módulos de deformações entre 500 e
1100kN/m, para as contenções laterais de
até
10m de altura de uma trincheira fer-
roviária projetada para isolar o tráfego ferro-
viário da região central da cidade (BRUGGER; Fonte: BRUGGER e SILVA, (2012).
SILVA, 2012).
As figuras 13, 14 e 15 que estão a se-
guir, apresentam detalhes da obra do viaduto Figura 15. Colocação das vigas longitudinais pré-
portante executado em Maringá-PR. Através moldadas.
destas, é possível ter conhecimento da se-
ção-tipo projeta, onde foi executada a funda-
ção direta atuando sobre o solo reforçado
com geossintético.

Figura 13. Seção-tipo dos viadutos portantes de


Maringá.

Fonte: Ruiz et al., (2018).

Com este método, evitou-se o custo


de execução de fundações para a ponte ou
viaduto, bem como, eventuais riscos de re-
calques diferenciais. As vantagens apresen-
Fonte: Ruiz et al., (2018). tadas por este tipo de solução para obras de
contenção em encabeçamentos de pontes e
A execução da obra ocorreu com ele- viadutos portantes justifica o trabalho desen-
vados índices de produtividade (superiores a volvido.
100 m2 de face em blocos executados por No município de Jaguaruna, Santa Ca-
dia), utilizando o próprio solo local como ma- tarina, foram projetados dois Muros Segmen-
terial de aterro, sem limitar a operação da tais (face de blocos), posicionados um em
ferrovia e com estética muito atrativa. As frente ao outro, para cumprirem dupla finali-
Figuras apresentam o detalhe de apoio de dade cada um: conter os aterros na face fron-
viadutos portantes utilizados nesta obra co- tal dos aterros viários e suportar o viaduto
mo elementos de travessia da trincheira fer- diretamente apoiado sobre as contenções, de
roviária pelo tráfego local (BRUGGER; SILVA, suporte da estrutura do viaduto apoiado no
2012). topo do muro através de fundação direta
(BRUGGER; SILVA, 2012).
As figuras 16 e 17 a seguir, apresen-
tam detalhes do projeto dimensionado para a
execução da obra no município de Jaguaruna,

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extraídos do projeto executivo em planta e Figura 17. As built da seção executada e


posição do viaduto. instrumentada (projeto executivo).

Figura 16. Vista em planta e posição do viaduto


(projeto executivo).

Fonte: BRUGGER e SILVA, (2012). Fonte: BRUGGER e SILVA, (2012).

Os dois muros de encabeçamento es- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS


tão distanciados de 20m entre si, 6,2m de O método de solo reforçado com ge-
altura livre e, adicionalmente, um embuti- ossintéticos demonstra que a utilização de
mento de 1,5m. O dimensionamento foi a geogrelhas de alta resistência, alto módulo e
partir do método de rigidez relativa (Ehrlich e baixa fluência, aliados a uma compactação
Mitchel, 1994). Foi construído utilizando-se energética resultem em estruturas pouco
geogrelhas Fortrac de filamentos de PVA, de deformáveis, que atendem aos requisitos de
elevada rigidez e baixa fluência, com defor- aspecto estético e funcionalidade, além de
mação de ruptura inferior a 5%. No total, segurança ao colapso. O uso de reforços bas-
foram utilizadas 8 camadas de geogrelha PVA tante rígidos é recomendado para estruturas
de 200 kN/m de resistência nominal (120 que devem apresentar pequenas deforma-
kN/m de carga de ruptura a longo prazo) e 7 ções.
de 110 kN/m de resistência nominal (65 A técnica de solo reforçado aplicadas
kN/m de carga de ruptura a longo prazo). As como portantes (fundação direta) em encon-
primeiras foram espaçadas de 60cm e as de- tros de pontes e viadutos mostrou-se, uma
mais de 40cm. Todas as camadas de reforço alternativa viável sob diversos aspectos: faci-
foram instaladas com 7m de comprimento e lidade construtiva, boa estética, adequação
conexão dupla na face, totalizando 8m de geométrica e, também, sob o ponto de vista
comprimento para cada camada de reforço do comportamento da estrutura.
(BRUGGER; SILVA, 2012). Sobre o aspecto de Servicibilidade,
destaca-se a sua relevância em obras de es-
truturas de contenção, que quando são leva-
dos em conta os seus critérios, garante que a
obra atenda aos níveis de estética e de com-
portamento ao longo prazo, evitando inclusi-
ve necessidade de reparos e manutenções
futuras. Neste aspecto, as geogrelhas de PVA
são mais rígidas que as de Poliéster, propor-
cionando-se como uma excelente alternativa
de materiais de reforço de estruturas de con-

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tenção em solo reforçado, principalmente as blocos segmentais., Porto Alegre: Geossinté-


obras de grandes responsabilidades como ticos, 2003.
pontes e viadutos.
A alta resistência a tração, alto modu- BRUGGER, P. J.; SILVA, A. E. Muros em solo
lo de rigidez e baixa fluência, aliadas a uma reforçado para obras hidráulicas. São Paulo:
compactação com energia próxima ao Proc- ABMS, 2009.
tor Normal, resultam em estruturas pouco
deformáveis, que atendam a requisitos esté- BRUGGER, P.J.; SILVA, A.E. Análise do com-
ticos e de funcionalidade, além de segurança portamento de muro de contenção portante
ao colapso para pontes e viadutos, de acordo em solo reforçado a partir de monitoramen-
com a norma britânica BS 8006. to de campo. COBRAMSEG. Muro Terra e
Para este método de obra com solo Portante. 2012.
reforçado, é necessário que os materiais utili-
zados como reforço e solo sejam antecipa- MAPARAGEM, A. S. Estudo da interação solo-
damente conhecidos ou especificados, tam- fitas poliméricas para uso em terra armada
bém seja apurada a energia de compactação em solos problemáticos em áreas agrícolas e
que será utilizada. Imprescindível para averi- de mineração artesanal (garimpo). In: CON-
guação das deformações é o conhecimento GRESSO LUSO-MOÇAMBICANO DE ENGE-
das curvas de tensão-deformação das geo- NHARIA, 8., CONGRESSO DE ENGENHARIA DE
grelhas, bem como o desempenho ao longo MOÇAMBIQUE MAPUTO. 5., 2017. Anais [...].
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