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ESTABILIZAÇÃO DE UMA ENCOSTA COM SOLO GRAMPEADO: ESTUDO DE


CASO NA CIDADE DE ÁGUAS DE LINDÓIA (SP)-BRASIL

Article · June 2018

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Tiago Souza Eugenio Pabst Vieira da Cunha


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XII Conferencia Brasileira sobre Estabilidade de Encostas
COBRAE 2017 - 2 a 4 Novembro
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
© ABMS, 2017

ESTABILIZAÇÃO DE UMA ENCOSTA COM SOLO


GRAMPEADO: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE ÁGUAS
DE LINDÓIA (SP) - BRASIL
Tiago de Jesus Souza
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica - São José dos Campos-SP, Brasil, tiagojs@ita.br

Eugenio Pabst Vieira da Cunha


Interact Assessoria Técnica em Engenharia, São Paulo, Brasil, eugenio@interact.eng.br

Paulo Cezar Aoki


ATC – American Tower do Brasil – Cessão de Infraestrutura, São Paulo, Brasil,
paulo.aoki@americantower.com.br

RESUMO: A intervenção em encostas com cortes e aterros objetivando um melhor aproveitamento


do espaço é uma necessidade incontestável em obras geotécnicas. Desta forma, criaram-se distintos
modos de estabilização destes taludes, a exemplo do solo grampeado. Neste cenário em expansão, se
torna necessário um melhor entendimento deste material empregado e de como ele deve ser concebido
e analisado em um projeto de estabilização. Assim, este artigo explora um pouco o universo do solo
grampeado e expõem práticas de projeto necessárias em sua utilização como verificações e fatores de
segurança previstos. O caso de estudo é em Águas de Lindóia, cidade do interior de São Paulo, Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Solo grampeado, Execução, Concreto Projetado.

1 INTRODUÇÃO aplicação da técnica de solo grampeado no


projeto e execução de uma encosta na cidade de
O solo grampeado consiste numa técnica de Águas de Lindoia (SP). Deparou-se com uma
estabilização de taludes naturais ou de taludes de situação de desmoronamento de talude na cidade
escavação ou corte, com relativa velocidade de de Águas de Lindoia no interior de São Paulo.
execução por meio da introdução de reforços Dentre as alternativas avaliadas, optou-se em
constituídos por barras de aço no maciço, utilizar a técnica do solo grampeado, pela fácil
denominados grampos, aliada ao revestimento disponibilidade de mão de mão de obra atrelado
da face do talude executado normalmente com ao baixo custo. Através deste artigo, visa-se,
concreto projetado armado com tela de aço divulgar a metodologia de cálculo empregada,
eletrossoldada ou fibras de aço (ABRAMENTO bem como mostrar uma alternativa que garantiu
e outros, 1998). O grampo é o principal a estabilidade do talude. Quando se considera a
responsável pela estabilização do maciço, tendo força no paramento, a verificação da punção é
a face de concreto projetado e tela de aço obrigatória pela NBR6118. A força no
eletrossoldada uma função basicamente paramento é um assunto que sucita debates e
secundária no sentido de evitar rupturas discussões das diversas correntes geotécnicas.
localizadas (EHRLICH, 2003). Essa técnica de Para o artigo em questão desconsiderou-se a
estabilização pode ser realizada tanto em caráter força no paramento.
temporário como permanente adotando-se,
evidentemente, maiores coeficientes de
segurança para os projetos permanentes.
O objetivo principal deste artigo é estudar a

COBRAE 2017, Florianópolis/SC, Brasil.


1.1 Breve Histórico do Solo Grampeado 1.2 Breve histórico das estruturas de
Telecomunicações
No Brasil, a técnica de contenção em solo
grampeado começou a ser utilizada nos anos 70, Por se tratar de estruturas antigas, na maioria dos
nos emboques do túnel de abastecimento de água casos correntes, muitas torres e postes de
da SABESP e na contenção de taludes da telecomunicações espalhadas pelo território
Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo brasileiro decorrem da indisponibilidade de
(ABRAMENTO e outros, 1998). Porém, foi a projeto/execução de contenção ou até mesmo a
partir da palestra do Prof. Rabcewicz, realizada verificação da estabilidade do maciço do solo.
em 1975, que a técnica de solo grampeado Faz-se necessária a avaliação do desempenho
passou a ser mais utilizada em nosso país desta, o que é uma tarefa árdua já que há muitas
(EHRLICH, 2002). possibilidades de solução geotécnica. Optou-se
Os principais métodos de análise de obras de pelo projeto em solo grampeado por se tratar de
solo grampeado consideram que o terreno atrás uma técnica consagrada no cenário brasileiro e
do muro é subdividido em uma zona ativa, pelas condições geotécnicas favoráveis do
limitada por uma superfície potencial de estudo em questão.
deslizamento, sendo o restante considerado zona
passiva. A análise de estabilidade global é feita
considerando os esforços estabilizantes dos 2 MATERIAIS E MÉTODOS
grampos atuando nesta cunha ativa. Os métodos
diferem, entretanto, quanto à forma da superfície O projeto de estabilização proposto da encosta
de ruptura, quanto ao método de cálculo do na qual será implantada uma torre metálica de
equilíbrio das forças atuantes e quanto à sua telefonia está localizada na Rua Boa Vista, 2138
natureza. – Águas de Lindóia – São Paulo, Brasil. Na
Por se tratar de uma técnica que tem um custo Figura 1 é possível visualizar algumas fotos da
relativamente baixo, e que apresenta razoável situação da encosta.
facilidade na sua execução e rapidez do serviço,
o solo grampeado é, atualmente, uma das
técnicas mais utilizadas para contenção de
taludes naturais ou em corte, proporcionando um
ótimo custo/beneficio nos mais diversos tipos de
obra. Seu principio para cálculos, considerando
a cunha ativa como muro de gravidade, e que a
mesma cunha ativa deva ter pequenas
deformações para que os grampos entrem em
serviço, é de certa forma, um bom atrativo na
busca de soluções para contenção de taludes.

No Brasil são adotados fatores de segurança


globais no dimensionamento geotécnico (ASD -
método das tensões admissíveis), podendo variar
se a obra é provisória ou permanente.
No entanto, há uma tendência internacional de se
adotarem fatores de segurança parciais (LRFD)
nos dimensionamentos geotécnicos,
ponderando-se os carregamentos e as
resistências, metodologia não adotada neste Figura 1. Situação da Encosta
artigo, por não estar ainda difundida em nosso
meio técnico.

COBRAE 2017, Florianópolis/SC, Brasil.


2.1 Subsolo Local
Após a realização da retroanálise, os parâmetros
O subsolo é composto de uma camada geotécnicos efetivos utilizados no
superficial de aterro, constituído por argila areno dimensionamento estão listados na Tabela 1.
siltosa, mole, até 1,50m de profundidade;
seguida por um silte argilo arenoso médio a rijo, Tabela 1. Parâmetros Geotécnicos Efetivos.
até os limites das sondagens, em 15,45m. O nível Solo
c' φ'(º) γ
d’água não foi encontrado. (kN/m3)
Solo Residual 1
25 23 17
(SR1)
2.2 Retroanálise
3 CÁLCULO GEOTÉCNICOS
Foi realizada uma retroanálise da seção mais
Nesse item serão abordados todos os cálculos
crítica, com o objetivo de obter os parâmetros de
geotécnicos pertinentes à definição do solo
resistência a serem utilizados no
grampeado, bem como os cálculos referentes a
dimensionamento do solo grampeado. Para isso,
carga de trabalho do grampo, aderência do
considerou-se a hipótese pessimista, istpo é,
conjunto solo-grampo, carga na cabeça do
uma retroanálise para o fator de segurança de
grampo e, como consequência, as simulações no
1,0. Com base nessa premissa, foram feitas
SLIDE.
algumas tentativas de pares de valores de coesão
e ângulo de atrito que proporcionasse o fator de
3.1 Carga de Trabalho do Grampo
segurança mencionado. A Figura 2 mostra a
relação entre essas duas variáveis.
Para o cálculo da carga de trabalho do grampo
utilizou-se barra de aço CA-50, com diâmetro
∅16mm, com decréscimo de 2mm no diâmetro,
trabalhando com a tensão de escoamento de
cálculo. Sendo assim, a equação para o cálculo
da carga segue listada abaixo:

 = . (1)

500
Figura 2. Valores dos Parâmetros de Resistência  = 1,54. 10 ².
1,15
A Figura 3 mostra uma das retroanálises
 ≈ 67
realizadas no software SLIDE Versão 6.0
(Rocscience).
Onde:
 = Carga de Trabalho do Grampo;
!" = Tensão de Escoamento do Aço CA-50;
#$ = Coeficiente de minoração para o aço; e
= Área da seção transversal do grampo.

3.2 Aderência do conjunto solo-grampo

O cálculo da aderência do grampo foi feito com


base em Ortigão (1997), o qual expressou a
relação da aderência em função do NSPT como
Figura 3. Retroanálise para FS = 1,20 (c=25kPa e φ=23º). segue listada abaixo:

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%$ = 50 + 7,5 (2) do grampo, pelo arrancamento (Pullout) e faz-se
a limitação pela menor delas. Também tem a
Também foi utilizada a expressão definida por verificação da carga no paramento (Plate
Springer (2006), também relacionando a Capacity).
aderência em função do NSPT como segue A Figura 5 mostra o diagrama de forças típico
listada abaixo: atuantes no grampo utilizado no algoritmo de
cálculo do Slide.
%$ = 45,12()* − 14,99 (3)

A Figura 4 mostra o comportamento das duas


equações com a variação do NSPT.

Figura 5. Diagrama de Forças Atuantes no Solo


Grampreado no Slide.

Como exemplo, considerando-se um grampo


com 12m de comprimento e diâmetro ∅16mm, a
Figura 4. Adesão para Solo Grampeado. força máxima de arrancamento poderia ser de
216kN, no entanto, a máxima carga de tração
suportada pelo grampo é de 67kN. Assim,
Devido à dificuldade em saber em qual material quando a força de arrancamento alcançar o valor
o grampo está realmente ancorado, já que os de 67kN, toda a carga de tração do grampo será
perfis geológicos-geotécnicos das análises são mobilizada e será com essa força que o fator de
extrapolações das sondagens, preferiu-se segurança será calculado.
trabalhar com um valor único de adesão. Dessa Na prática, em nota de projeto, é solicitada,
maneira, é apresentada na Tabela 2 os valores de obrigatoriamente no início das obras, a execução
adesão (%$ ) conforme as expressões apresentadas de ensaios de arrancamento para a confirmação
anteriormente. No projeto serão adotados os da adesão adotada em projeto.
menores valores para o parâmetro em questão. A adesão obtida nos ensaios, após um tratamento
estatístico, deve ser no mínimo a adotada em
Tabela 2. Valores de %$ (kPa).
projeto. Esta adesão, em geral, é considerada
23 (kPa) %$ (kPa)
. /01
-
(Springer, 2006)
como característica. O fator de segurança está
(Projeto) (Ortigão, 1997) considerado no fator de segurança global
4,5 83,75 52,87
imposto na análise da estabilidade global.
Em caso da adesão obtida nos ensaios ser menor
Como o diâmetro de perfuração adotado foi de que a adotada em projeto, o mesmo deverá ser
100mm, a adesão por metro (bond strenght) revisto, com novos comprimentos dos grampos,
resultante é mostrada na Tabela 3, por meio da alteração no diâmetro da perfuração ou mudança
expressão  = %$ 4 5. dos espaçamentos horizontal e vertical, ou seja,
o que for mais eficiente de modo a minimizar os
Tabela 3. Valores da adesão por metro (Bond Strenght). aumentos de custos.
%$ (kPa) (Springer, 2006) a (kN/m)
52,87 16,6 3.3 Carga na cabeça do grampo
Assim, o software analisa as rupturas pela A carga na cabeça do grampo foi calculada
capacidade de carga à tração (Tensile Capacity) conforme Clouterre (1991) apud FHWA (2003),

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a qual é função do maior espaçamento, seja
horizontal ou vertical, entre os grampos.
Clouterre (1991) apud FHWA (2003)
recomendou adotar para a carga na cabeça do
tirante os seguintes valores para situação de
serviço:
• 60% da máxima carga de serviço atuante
para um grampo com espaçamento
vertical ≤ 1m;
• 100% da máxima carga de serviço Figura 6. Seção CC utilizada nas simulações.
atuante para um grampo com
espaçamento vertical ≥ 3m; e A seguir serão apresentadas as análises de
• Interpolação linear para espaçamentos estabilidade com a malha de grampos necessária
intermediários. para proporcionar o aumento do fator de
segurança para valores recomendados pela NBR
A expressão que traduz as explicações acima 11682/2009.
segue apresentada abaixo: A Figura 7 mostra a análise de estabilidade com
a consideração dos parâmetros geotécnicos
67 = 68á: [0,60 + 0,20 )8á: − 1*] (4) conforme Tabela 1. Nela são apresentados
grampos de Ø16mm, dispostos em malha
Onde: quadrangular de 1,40m.
67 = Carga na cabeça do grampo; Foi apresentada também a análise de
68á: = Carga máxima de serviço do grampo; e estabilidade, na Figura 8, para uma situação
8á: = Maior valor entre os espaçamentos pessimista, com a adoção dos parâmetros de
vertical e horizontal [m]. resistência obtidos na retroanálise para FS=1,0,
de acordo com a Figura 3.
Para a verificação da estabilidade glogal que
será apresentado no item 3.4, a força no
paramento foi desprezada. Por esse motivo a
verificação da punção torna-se dispensável.

3.4 Verificação da Estabilidade Global

Para a análise da estabilidade global dos taludes


foi utilizada a seção C, fornecida no
levantamento topográfico, conforme item 9,
alínea b. Essa seção foi usada para simular
superfícies de rupturas circulares por meio do
software SLIDE Versão 6.0 (Rocscience) e Figura 7. Análise de Estabilidade (c=25kPa e φ=23º).
dimensionar a malha necessária de grampos.
A Figura 6 mostra a seção CC.

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dispostos em malha igualmente aos grampos.
Também haverá a captação da água no topo e a
descida sobre o solo grampeado, por meio de
tubos de PVC Ø150mm até a rodovia.
Assim, seguindo-se as premissas definidas nesse
artigo será possível executar as obras necessárias
para a estabilização do local e proporcionar
segurança adequada para a utilização do espaço.

Figura 8. Análise de Estabilidade (c=20kPa e φ=22º).

REFERÊNCIAS
3.5 Resumo dos resultados
Abramento, M.; Koshima, A.; Zirlis, A.C. Reforço do
A Tabela 4 apresenta o resumo dos resultados terreno. In: Hachich, W.; Falconi, F.F.; Saes, J.L.;
Frota, R.G.Q.; Carvalho, C.S.; Niyama, S. Fundações:
das análises de estabilidade global realizadas ao teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998, 751 p.
longo dos itens 4 e 7. Observe que os resultados ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
indicam que os fatores de segurança obtidos TÉCNICAS. (2009). NBR 11682 Estabilidade de
estão superiores aos limites preconizados pela Encostas. Rio de Janeiro: ABNT.
NBR 11682:2009. Ehrlich, M. (2003). Solo grampeado: projeto, execução,
instrumentação e comportamento. Workshop. ABMS
Tabela 4. Resumo dos resultados
– Associação Brasileira de Mecânica dos Solos,
Bishop
Situação Spencer Morgenstern SINDUSCON - SP, São Paulo.
Simplificado
Analisada &Price FHWA. (2003). Geotechnical Engineering Circular nº 7 -
Soil Nail Walls (Relatório nº FHWA-IF-03-017).
Sem Washington D.C.
1,195 1,195 1,197
grampos
Ortigão, J. (1997). Ensaios de arrancamento para projetos
Com
1,509 1,506 1,507 de solo grampeado. Solos e Rochas, São Paulo, v.20,
grampos
nº 1, 39-43.
Springer, F. (2006). Ensaios de Arrancamento em Solo
Residual de Gnaisse. Tese de Doutorado, Pontifícia
4. Conclusões Universidade Católica, Rio de Janeiro, RJ, BRASIL.

O solo grampeado é, nos dias de hoje, uma boa


solução para reforço de maciços terrosos visando
à contenção de taludes naturais ou de corte, haja
vista sua facilidade de execução, relativo baixo
custo, equipamentos de fácil locomoção e com
custos não muito altos, além dos materiais
empregados serem de uso corrente na
engenharia.
Com base nas fotos mostradas na Figura 1, é
fundamental a intervenção na encosta de maneira
a elevar os fatores de segurança e possibilitar
segurança às moradias localizadas no topo.
Dessa maneira, recomenda-se a execução de solo
grampeado com barras de aço CA-50, diâmetro
de 16mm, comprimentos de 8m, dispostos em
malha de 1,40m por 1,40m. 60, Q196.
Juntamente com o solo grampeado serão
instalados barbacãs e drenos de paramento,

COBRAE 2017, Florianópolis/SC, Brasil.

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