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Análise de estabilidade de taludes: desenvolvimento de um programa


computacional com base em Métodos de Equilíbrio Limite

Conference Paper · August 2018

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Higor Biondo De Assis Admir José Giacon Junior


São Paulo State University São Paulo State University
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Caio Gorla Nogueira


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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Análise de estabilidade de taludes: desenvolvimento de um


programa computacional com base em Métodos de Equilíbrio
Limite
Higor Biondo de Assis
Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Engenharia de Bauru/SP, Brasil
higor.assis@unesp.br

Admir Giacon Junior


Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Engenharia de Bauru/SP, Brasil
junior.giacon@feb.unesp.br

Caio Gorla Nogueira


Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Engenharia de Bauru/SP, Brasil
cgnogueira@feb.unesp.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a formulação empregada na construção do programa


computacional Risk Analysis applied to Slope Stability (RASS), destinado a análise de estabilidade
de taludes. O programa foi escrito em linguagem Fortran e possibilita o cálculo do fator de
segurança segundo os métodos de equilíbrio limite de Fellenius e de Bishop Simplificado. A
ferramenta proporciona maior agilidade e precisão no cálculo do FS e favorece o entendimento de
alguns comportamentos do problema, como avaliar a influência do grau de discretização da malha
de centros de circunferências que define as superfícies de ruptura a serem investigadas. Dois taludes
foram analisados, sendo um argiloso e o outro arenoso, com a finalidade de se observar a influência
do grau de refinamento da malha na determinação da superfície crítica do talude. Quatro diferentes
malhas foram empregadas nas análises e os resultados evidenciaram que as superfícies críticas nem
sempre são coincidentes quando malhas diferentes são adotadas, divergindo mais em taludes
arenosos que em argilosos.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Métodos de Equilíbrio Limite, Fator de Segurança.

1 INTRODUÇÃO taludes realizadas atualmente são desenvolvidas


sob uma abordagem determinística e os
Um problema bastante comum na métodos mais empregados são baseados na
Engenharia Civil diz respeito a avaliação da Teoria do Equilíbrio limite, e buscam expressar
estabilidade de taludes constituídos por por meio de um fator de segurança (FS) a razão
materiais geomecânicos. Esse tipo de problema entre a resistência ao cisalhamento e as tensões
deve ser cuidadosamente tratado, pois a cisalhantes atuantes em determinado plano
ocorrência de falhas, seja em ambientes potencial de escorregamento do talude.
urbanos, em rodovias de grande fluxo de Uma análise de estabilidade de talude exige
veículos, pode trazer graves consequências que o projetista detenha informações a respeito
como danos materiais e perdas de vidas da geometria do talude, dos parâmetros do solo
humanas. Infelizmente, esse tipo de situação que o constitui e também que um conjunto de
ainda é bastante frequente. possíveis superfícies (circulares) de ruptura seja
As principais análises de estabilidade de adotado, para que assim possa determinar a
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superfície com menor FS, denominada considerada.


superfície crítica. Para isso, define-se uma O equacionamento do equilíbrio varia em
malha de centros de circunferências, e em cada função do método de análise adotado, da
centro adota-se diferentes dimensões de raios a geometria da superfície de ruptura considerada,
critério do analista, para que diversas o equacionamento do equilíbrio. Em geral, os
superfícies possam ser investigadas. Assim, por métodos são divididos em três diferentes
investigação, é possível obter a superfície com grupos:
maior chance de falha, a qual direcionará o • Método do Círculo de Atrito – considera a
dimensionamento do talude, como a massa de solo como um todo;
determinação de seu ângulo de corte; do grau de • Método das Cunhas – considera o maciço de
compactação do solo aterrado, da necessidade solo em cunhas;
de se adotar alguma estrutura de contenção, • Método Sueco – também conhecido como
entre outras possibilidades de intervenção que Método das Fatias ou das Lamelas, que
confira a segurança exigida pelo projeto. Por considera o maciço de solo subdivido em
essas razões é imprescindível conhecer o lamelas.
comportamento desse tipo de problema, de Os métodos de Fellenius e de Bishop
modo a evitar que os problemas existentes nesse Simplificado, dividem a seção de ruptura do
tipo de obra se tornem recorrentes, talude em lamelas verticais. A quantidade de
minimizando os prejuízos causados quando lamelas mais usualmente adotada na prática
falhas acontecem. varia entre dez e doze lamelas. No entanto,
neste trabalho, o número de lamelas empregado
2 BREVE REVISÃO DA LITERATURA nas análises foi de cinquenta, em decorrência
dos resultados obtidos em estudo de
2.1 Métodos de Equilíbrio Limite convergência apresentado por Assis et al.
(2017).
Os métodos mais comumente empregados
nas análises de estabilidade de taludes são os 2.1.1 Método de Fellenius
Métodos de Equilíbrio Limite. São assim
denominados pois fundamentam-se na Teoria O Método de Fellenius foi concebido em
de Equilíbrio Limite e adotam as seguintes 1922 e trata-se de um método direto. Em geral,
hipóteses simplificadoras, conforme Massad o FS calculado por esse método costuma ser
(2003): utilizado como estimativa inicial do FS para
• o solo tem comportamento rígido-plástico, métodos iterativos, como o de Bishop
isto é, rompe-se bruscamente sem se deformar; Simplificado, por exemplo.
• as equações de equilíbrio estático são Para aplicação do método, os parâmetros de
válidas apenas até a iminência da ruptura do entrada são: geometria do talude; geometria da
maciço, pois trata-se, na realidade, de um superfície de ruptura a ser avaliada; e
processo dinâmico; parâmetros de resistência do solo. Assim,
• o fator de segurança é constante ao longo da divide-se a seção transversal do talude em
linha de ruptura determinada pelo seu valor lamelas verticais, e impõe-se as condições de
mínimo (FS=1,0), ignorando-se assim eventuais equilíbrio para obtenção do FS, conforme
fenômenos de ruptura progressiva. Equação (1):
A partir dessas hipóteses, a condição de
𝑛 𝑐′∙𝑏0,𝑖 + 𝑊𝑖 ∙cos 𝛼𝑖 ∙tan 𝜙′
equilíbrio é imposta à parcela de solo 𝐹𝑆 = 𝑖=1
(1)
𝑛 (𝑊 ∙sen 𝛼 )
delimitada pela superfície de ruptura e pelas 𝑖=1 𝑖 𝑖
faces do talude. Assim, busca-se equacionar os
esforços resistentes e solicitantes a fim de onde:
definir o FS da superfície de ruptura i: contador do número de lamelas, i=1,...,n;
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c’: coesão efetiva do solo [kPa]; αi: ângulo de inclinação entre a base da lamela i
φ’: ângulo de atrito efetivo do solo [graus]; e a horizontal [graus];
b0,i: comprimento da base da lamela [m]; FSi: fator de segurança adotado como
Wi: peso da lamela i [kN]; estimativa inicial;
αi: ângulo de inclinação entre a base da lamela i FSf: fator de segurança calculado a partir dos
e a horizontal [graus]. demais parâmetros.

2.1.2 Método de Bishop Simplificado 3 MATERIAIS E MÉTODOS

O Método de Bishop Simplificado (1955) 3.1 Planilha de cálculo do FS


trata-se de uma solução mais refinada do
Método de Fellenius. A principal diferença 3.1.1 Implementação
consiste em se tratar de um método iterativo e
não mais um método direto. Assim, para A planilha para cálculo do FS do talude foi
calcular o FS, uma estimativa inicial do FS construída no MS Excel® com o objetivo de
(FSi) é necessária, de modo que o FS calculado viabilizar as análises de estabilidade propostas,
(FSf) atenda aos critérios de parada definidos e facilitar a programação dos métodos de
pelo projetista. Quando a condição desejada é Fellenius e de Bishop Simplificado em
atendida, então FS = FSf. linguagem Fortran. Com isso, foi proporcionada
Já o Método de Bishop Simplificado é maior eficiência e agilidade na obtenção dos
originário de uma simplificação do Método de resultados, minimizando a ocorrência de
Bishop, adotada com a finalidade de tornar o possíveis erros de cálculo, em relação a
problema estaticamente determinado, realização do trabalho manualmente.
desconsiderando assim as forças de interação O primeiro passo para elaboração da planilha
interlamelares. Essa desconsideração altera o foi a adoção de um sistema de eixos
FS a favor da segurança, fornecendo resultados bidimensional (x,y), posicionado de modo que
ligeiramente mais conservadores. sua origem (ponto 0) sempre coincida com o
O FS, segundo o Método de Bishop ponto que define o pé do talude. Também foi
Simplificado, quando não há pressão neutra no convencionado que o sentido do deslizamento
maciço de solo, é escrito matematicamente do talude ocorre sempre da direta para a
conforme as Equações (2) e (3). esquerda. Em seguida, foram definidos os dados
de entrada referentes às características
n
1 geométricas do problema: geometria da
∑(c'⋅ b + W tgφ ') m
i i superfície de ruptura e geometria do talude,
FSf = i=1
n
α (i)
como ilustra a Figura 1.
∑W senα i i
y [m]
i=1 (2)
senα i ⋅ tgφ ' C (x c ,yc ) Superfície
mα (n) = cos α i + de ruptura
FSi (3)
R

onde: Pé do talude
i: contador do número de lamelas, i=1,...,n;
c’: coesão efetiva do solo [kPa]; 0 x [m]
φ’: ângulo de atrito efetivo do solo [graus]; L
bi: largura da lamela i medida na direção Figura 1: Sistema de coordenadas adotado e parâmetros
horizontal [m]; geométricos de entrada.
Wi: peso da lamela i [kN];
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Onde: DADOS DE ENTRADA


Superfície de ruptura
C: centro da circunferência que descreve a Raio [m] R 9,62
superfície de ruptura, definido pela coordenada Centro do círculo C(x,y) xc -2,46

(xc,yc); Talude
yc 7,60

h: altura do desnível entre o pé e a crista do Altura [m] h 7,00


talude [m]; Comprimento [m] L 4,04
Número de lamelas [unid.] n 50
L: comprimento da projeção horizontal do
talude [m]; Solo
R: raio da circunferência que descreve a 3
Peso específico natural [kN/m ] γ 17,00
Ângulo de atrito [rad]] 17,00
superfície de ruptura avaliada [m].
φ'
2 c' 15,00
Coesão [kN/m ]

Figura 2: Dados de entrada para cálculo do FS.


Ao longo do processo de construção da
planilha, o software AutoCAD® 2015 foi significa que a condição de convergência foi
utilizado como principal ferramenta de atendida. Um ícone verde é apresentado na
verificação das características geométricas do célula referente ao valor do erro e sinaliza que o
problema. Dessa forma, pôde-se confirmar que critério de parada imposto foi satisfeito,
resultados obtidos com o uso da planilha são conforme Figura 3.
válidos e precisos.
A seguir, o roteiro para a construção da
planilha será descrito, com o objetivo de
auxiliar a implementação de programas
computacionais semelhantes, ou mesmo outras
planilhas, por pessoas possivelmente
interessadas pelo tema.
Figura 3: Células de entrada do erro máximo admissível e
3.1.2 Dados de entrada do FSi, utilizados para cálculo do FS, segundo o método
de Bishop Simplificado.
Os parâmetros de entrada exigidos para o
cálculo do FS são praticamente os mesmos para O último valor de FSf define portanto o FS
ambos os métodos. Esse parâmetros definem as do talude. Como já observado, é comum utilizar
dimensões do talude; a geometria da superfície como estimativa inicial (FSi) o FS obtido pelo
de ruptura considerada; os parâmetros de método de Fellenius, caso seja conhecido. Do
resistência do solo segundo o critério de Mohr- contrário, uma boa sugestão seria adotar o valor
Coulomb; o peso específico do solo. Cada um de FSi igual a 1,50.
desses parâmetros, e suas respectivas unidades,
estão especificados na planilha de cálculo como 3.1.3 Características geométricas
mostra a Figura 2, organizados em conjuntos e
apresentados em “Dados de entrada”. O cálculo das características geométricas
O método de Bishop Simplificado exige envolvidas no problema é a principal etapa para
também, além dos parâmetros informados em o cálculo do FS. Algumas dessas características
“Dados de entrada”, o FSi utilizado a cada são calculadas em função do número de
iteração e o erro máximo admissível entre o FSf lamelas, ou seja, para cada lamela i, onde
e o FSi. i=1,2,…,n, e n é dado de entrada referente ao
Para nova iteração, basta assumir o valor de número de lamelas em que a seção de ruptura
FSi como o valor de FSf da iteração anterior. O deve ser dividida, têm-se um valor calculado
processo iterativo é interrompido quando a para a característica que se deseja conhecer. A
diferença entre o FSi e FSf for inferior ao valor seguir, serão apresentadas, passo a passo, as
do erro máximo informado pelo usuário, que equações utilizadas para elaboração da planilha.
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Reta 2: reta inclinada que passa pela origem


3.1.3.1 Ângulo de inclinação do talude e representa a face do talude, válida para o
intervalo {𝑥𝜖ℜ/0 ≤ 𝑥 < 𝐿}, conforme Equação
O primeiro parâmetro calculado pela planilha a (6).
partir dos dados de entrada é o ângulo de 𝑦! (𝑥) = 𝑥. tan 𝜃 (6)
inclinação do talude (θ), dado em graus,
conforme Equação (4). Reta 3: reta horizontal que passa pelo nível
!"#
𝜃 = tan!! ℎ/𝐿 ∙ ! (4) da crista do talude, válida para o intervalo
{xϵR/x≥L}, conforme Equação (7).
Esse parâmetro tem apenas a função de 𝑦! (𝑥) = ℎ (7)
informar ao usuário o quão inclinado é o talude
avaliado em relação a superfície horizontal que Superfície de ruptura: determinada pela
passa pelo seu pé. equação de circunferência a partir dos dados de
entrada, conforme Equação (8).
3.1.3.2 Pontos de intersecção entre as 𝑦!" (𝑥) = ( 𝑅 ! − 𝑥 ! + 2. 𝑥! . 𝑥 − 𝑥!! ) + 𝑦! (8)
superfícies de ruptura e do talude
Importante ressaltar que quando as equações
Conhecer as coordenadas dos pontos de de retas são igualadas à equação da
intersecção entre a superfície de ruptura e a circunferência e isola-se a incógnita y, dois
superfície do talude, pontos A(x0,y0) e D(xn,yn) valores de y são encontrados para um dado x.
da Figura 4, permite a determinação do Nesse caso, o menor valor de y é o que deve ser
intervalo [x0,xn ] em que a seção de ruptura do considerado válido e o outro descartado, pois
talude está contida. A equação de reta dos corresponde ao arco de circunferência que está
segmentos que compõem o talude foram acima do talude.
construídas a partir do parâmetros de entrada e
em seguida igualadas a equação da 3.1.3.3 Intersecção da Reta 1 com a superfície
circunferência que define a superfície de de ruptura
ruptura, obedecendo seus respectivos intervalos
de validade. Substituindo Equação (5) na Equação (8) e
y isolando a incógnita x, têm-se:
D (x , y )
n n
B (x = L, y = h) 𝑥!,! = − 𝑅! − 𝑦!! − 𝑥! (9)
C R

) Reta 3 (y = h)
𝑥!,! = 𝑅! − 𝑦!! + 𝑥! (10)
x.t
=
(y
2
ta
Re Nesse caso, deve-se observar se x1 está
A (x0 , y0 ) θ contido no intervalo de validade da Reta 1. Do
Reta 1 (y = 0)
0 x contrário, pode ser descartado e o ponto A não
se situa sobre a Reta 1.
Figura 4: Pontos de intersecção entre as superfícies de
ruptura e do talude (pontos A e D); e nomenclatura
adotada para os segmentos de reta que definem o talude. 3.1.3.4 Intersecção da Reta 2 com a superfície
de ruptura
Reta 1: reta horizontal que passa pelo nível
do pé do talude, válida para o intervalo Substituindo Equação (6) na Equação (8) e
{xϵR/x<0}, conforme Equação (5). isolando a incógnita x, têm-se:
1
𝑦! (𝑥) = 0 (5) 𝐴 = R2 + (cosθ)2 (x2C − y2C ) + 2 sin θ. cos θ. xC . yC − x2C 2

x!,! = − cos θ {A − cos θ. x! − sin θ . y! } (11)


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𝑥!,! = cos 𝜃 . {A + cos 𝜃. 𝑥! + sin 𝜃 . 𝑦! } (12) respectivamente. Para determinar suas


ordenadas, deve-se substituir x0 e xn nas
Os valores de x2 obtidos devem ser testados equações de reta (retas 1, 2 ou 3)
para prosseguimento dos cálculos. Para que x2 correspondente ao seu intervalo de validade,
seja válido, deverá estar contido no intervalo de como ilustra a Figura 6.
validade da Reta 2.

3.1.3.5 Interesecção da Reta 3 com a superfície


de ruptura

Substituindo Equação (7) na Equação (8) e


isolando a incógnita x, têm-se:
!
𝑥!,! = − (𝑅 ! − ℎ! + 2ℎ. 𝑦! − 𝑦!! ! − 𝑥! ) (13)
!
𝑥!,! = 𝑅 ! − ℎ! + 2ℎ. 𝑦! − 𝑦!! ! + 𝑥! (14)

Deve-se também observar se x3 encontrado


está contido no intervalo de validade da Reta 3.
Para melhor esclarecimento, a Figura 5 Figura 6: Intervalos de validade de x na reta dos Reais.
ilustra todas as possibilidades de interseção
entre a superfície de ruptura e a superfície do 3.1.3.6 Abscissas das lamelas
talude, para parâmetros de entrada válidos.
Para determinação das abscissas inicial e
final de cada lamela, calcula-se a largura das
lamelas (b), igual para todas as lamelas, a partir
do dado de entrada n, de x0 e xn calculados,
conforme Equação (15).
(! !! )
𝑏 = !! ! (15)

As abscissas das lamelas (xj), com j=0,1,..,n,


podem ser definidas por meio de incrementos
∆x = b, com n = 1,..,n, para o intervalo [x0,xn],
Figura 5: Casos geometricamente possíveis de conforme Equação (16).
intersecção entre a superfície de ruptura e a superfície do 𝑥! = 𝑥! + 𝑖. 𝑏 (16)
talude.
Os valores xj e xj+1 representam as abscissas
Pode ocorrer do usuário informar valores de inicial e final da lamela, esquerda e direita,
R com dimensão insuficiente para tocar o respectivamente, e serão utilizados para
maciço de solo. Nesse caso, o usuário deverá caracterizar sua geometria e os demais
rever o parâmetro de entrada R ou não haverá parâmetros considerados pelos métodos de
pontos de intersecção entre as superfícies e o Fellenius e de Bishop Simplificado.
cálculo do FS não será realizado.
Seguindo as condições exigidas para que x 3.1.3.7 Áreas das lamelas
seja válido, apenas dois valores serão
determinados. Esses valores correspondem às A área da lamela (Ai), é calculada a partir
abscissas inicial e final da seção transversal de dos pontos que definem seus vértices (M, N, P e
ruptura, dos pontos A(x0,y0) e D(xn,yn), Q). As lamelas intermediárias são definidas por
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quatro vértices e as lamelas extremas, por três,


pois possui dois vértices coincidentes. A altura
média da lamela (hm) multiplicada por sua
largura (b) resulta no valor da área, conforme
Equação (17).
𝐴! = ℎ! ∙ 𝑏 (17)

Para cálculo da hm, deve-se utilizar as


ordenadas dos pontos M, N, P e Q, sendo yM,
yN, yP, yQ, respectivamente, como mostra a Figura 8: Erro no cálculo da área da lamela devido
Equação (18). aproximação do seu limite superior a um segmento de
!! !!! ! !! !!! reta.
ℎ!! = !
(18) A partir do cálculo das áreas das lamelas,
calcula-se seus pesos (Wi). O parâmetro αi é o
A soma das áreas das lamelas representa então a coeficiente angular do segmento de reta 𝑃𝑄.
área total da seção de ruptura de forma Por fim, os esforços resitentes e solicitantes
aproximada. Tanto o método de Fellenius para ambos os métodos para então se obter o
quanto o método de Bishop Simplificado valor do FS.
aproximam a base da lamela, que a rigor é um
arco de circunferência, a um segmento de reta 3.1.4 Limitações da planilha
que liga os vértices inferiores da lamela, pontos
P e Q, definidos pela Equação (8), como ilustra A planilha ainda possui algumas limitações,
a Figura 7. como por exemplo:
• o parâmetro de entrada yc deve obeder à
condição yc ≥ h;
• a formulação utilizada não considera a
existência de bermas ou fendas de tração;
• a superfície entre o pé e a crista do
talude é planar, descrita por um
segmento de reta no espaço
Figura 7: Erro no cálculo da área da lamela devido a bidimensional;
aproximação da base a um segmento de reta. • tanto a superfície que passa pelo nível do
pé do talude, quanto a superfície que
Essa aproximação gera erro entre o valor real da
passa pelo nível de sua crista, são semi-
área da seção de ruptura e o valor da área da
retas horizontais;
seção calculado pela soma das áreas das
lamelas, e por esse motivo fez-se necessária a • o talude é composto de solo homogêneo,
análise da influência do número de lamelas na sem a presença de nível d’água e os
determinação do FS (Assis, 2017). Além disso, parâmetros do solo são válidos para toda
quando os pontos de descontinuidade dados a extensão do talude.
pelas abscissas x=0 e x=L estiverem contidos • apenas uma superfície de ruptura é
entre as abscissas inicial e final da lamela, erros avaliada a cada análise, inviabilizando a
relativos são causados pelo segmento que une investigação da superfície crítica a partir
os vértices superiores da lamela (pontos M e N), de uma malha de centros de círculos;
conforme Figura 8. • o processo iterativo necessário para o
método de Bishop Simplificado requer
atualização manual de FSi.
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3.2 O Programa R.A.S.S. • possibilidade de se avaliar o FS crítico


do talude;
O programa Risk Analysis applied to Slope • automatização do processo iterativo para
Stability (RASS) foi desenvolvido com base no cálculo do FS exigido pelo método de
equacionamento utilizado na planilha de cálculo Bishop Simplificado;
do FS, organizado em sub-rotinas conforme • viabilização de um maior volume de
Figura 9. análises, permitindo assim uma melhor
Início compreensão de alguns comportamentos
referentes ao problema de estabilidade de
Parâmetros do solo: c’, φ’, γ
Geometria: h, L, xc, yc, R
Arquivo: IN_GEO taludes.
Leitura dos dados de
entrada
Sub-ro>na: GEO_READ
3.3 Determinação da Superfície Crítica do
talude
Cálculo das caracterís>cas
Sub-ro>na: GEO_GEOMETRIA
geométricas

A superfície crítica de um talude é


Mét. de Bishop determinada por investigação a partir de uma
Mét. de Fellenius
Simplificado
malha de centros de circunferências e de raios
Cálculo dos esforços
Processo itera>vo
variados, de modo que para cada uma das
solicitantes e resistente
i = 1: FSi1 = 1,5000 condições de C(xc,yc) e R definidas pelo
i > 1: FSii = Fsfi-1
FS
usuário, um valor de FS é calculado. A
Cálculo dos esforços
superfície crítica pode então ser definida pelo
solicitantes e resistente
menor valor de FS encontrado. Nesse caso,
serão comparadas as superfícies críticas obtidas
FSfi
por ambos os métodos, Fellenius e Bishop
Simplificado.
Não
|FSii – FSfi|<10-4

3.4 Influência do refinamento da malha de


Sim

FS
centros e raios

Fim
As análises propostas por este trabalho têm
por finalidade avaliar a influência do
Figura 9: Fluxograma do programa RASS.
refinamento da malha de centros e raios na
Escrito em linguagem Fortran, teve por determinação da superfície crítica de dois
finalidade o aprimoramento da ferramenta de diferentes taludes.
cálculo inicialmente elaborada em forma de Foram utilizadas quatro diferentes malhas de
planilha, além de tornar possível o acoplamento centros de circunferência. No entanto, todas
de seu código ao programa RELgen (Nogueira, possuem dimensões e posicionamento
2010), para realização de análises de coincidentes, e diferem entre si apenas em seus
confiabilidade em taludes em estudos graus de discretização, ou seja, no número de
posteriores pretendidos. centros contidos na malha.
As principais melhorias proporcionadas pelo A malha menos refinada possui vinte e cinco
RASS foram: superfícies, definidas por cinco centros. A mais
• maior agilidade no processo de cálculo, refinada, possui quatrocentos e cinco
permitindo o cálculo do FS de infinitas superfícies, sendo oitenta e um centros. Os raios
superfícies de ruptura simultaneamente, a variam de 20,00m a 32,00m com incrementos
partir da malha de centros e raios de 3,00m, totalizando cinco raios por centro.
informada pelo usuário; Os taludes analisados são hipotéticos,
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possuem as mesmas características geométricas, (10.22 , 21.98)

mas são constituídos por solos distintos. Ambos (2.22 , 15.98)


possuem altura de 14,00m e comprimento da 10.00
projeção horizontal de 24,25m. O primeiro,
composto por solo argiloso e o segundo, por 0.00
solo arenoso.
Os parâmetros dos solos foram extraídos da
literatura e estão dispostos na Tabela 1. -10.00

-20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00


Tabela 1. Parâmetros dos solos dos taludes analisados.
Adaptado de Li et al. (2015). Fellenius: FS = 1.5322 Bishop Simplificado : FS = 1.5881
Talude Solo γ c' φ' Figura 11: Talude 1 - argiloso com 45 superfícies de
[kN/m3] [kPa] [°] ruptura investigadas.
1 Argiloso 19,5 55 5
2 Arenoso 20,0 5 46 (10.22 , 21.98)

Todas as análises foram realizadas com


o uso do programa RASS. (2.22 , 15.98)

10.00

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
0.00

As Figuras 10, 11, 12 e 13 exibem as


superfícies de ruptura analisadas, com destaque -10.00

para as superfícies críticas definidas tanto pelo


método de Fellenius, quanto pelo método de -20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00

Bishop Simplificado, referentes ao Talude 1 - Fellenius: FS = 1.5322 Bishop Simplificado : FS = 1.5834


argiloso. Figura 12: Talude 1 - argiloso com 125 superfícies de
(10.22 , 21.98) ruptura investigadas.

(2.22 , 15.98)

10.00 (10.22 , 21.98)

(2.22 , 15.98)
0.00
10.00

-10.00
0.00

-20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00

-10.00
Fellenius: FS = 1.5322 Bishop Simplificado : FS = 1.5881
Figura 10: Talude 1 - argiloso com 25 superfícies de
ruptura investigadas. -20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00

Fellenius: FS = 1.5317 Bishop Simplificado : FS = 1.5834


É possível observar que as superfícies críticas Figura 13: Talude 1 - argiloso com 405 superfícies de
tendem a não coincidirem a medida que a malha ruptura investigadas.
é refinada, tanto em função da malha adotada,
quanto em função do método de equilíbrio Outra observação esperada, diz respeito aos FS
limite empregado na análise, evidenciando a obtidos com cada método, comprovando o
importância de se adotar malhas e raios que maior conservadorismo do método de Fellenius,
abranjam de forma adequada a maior área conforme esperado.
possível em relação à seção transversal do As Figuras 14, 15, 16 e 17 são referentes ao
talude. Talude 2 - arenoso.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018
(10.22 , 21.98)

(10.22 , 21.98)
(2.22 , 15.98)

(2.22 , 15.98) 10.00

10.00

0.00

0.00

-10.00

-10.00

-20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00

-20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 Fellenius: FS = 2.2322 Bishop Simplificado : FS = 2.3782

Fellenius: FS = 2.2953 Bishop Simplificado : FS = 2.3938 Figura 17: Talude 2 - arenoso com 405 superfícies de
Figura 14: Talude 2 - arenoso com 25 superfícies de ruptura investigadas.
ruptura investigadas.
FS obtidos via método de Fellenius também se
(10.22 , 21.98)
mostraram mais conservadores.
(2.22 , 15.98)
Comparando os resultados de ambos os
10.00
taludes, lembrando que possuem as mesmas
características geométricas, é possível notar que
0.00
as superfícies críticas do talude argiloso se
mostraram mais profundas em relação as
superfícies críticas do talude arenoso, mais
-10.00
superficiais. Esse padrão foi mantido
independentemente da malha adotada e dizem
-20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00
respeito exclusivamente aos parâmetros de
Fellenius: FS = 2.2384 Bishop Simplificado : FS = 2.3938
resistência do solo.
Figura 15: Talude 2 - arenoso com 45 superfícies de
ruptura investigadas.
CONCLUSÕES
(10.22 , 21.98)

O desenvolvimento de ferramentas
(2.22 , 15.98)
computacionais destinadas ao tratamento de
10.00
problemas de engenharia vem se tornando cada
vez mais relevante, uma vez que permite avaliar
0.00
não apenas situação específicas de determinado
problema, mas padrões de comportamento que
-10.00 envolvem esses problemas. Essa conclusão fica
bastante clara com o estudos como este, que só
-20.00 -10.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 foi possível devido a construção do programa
Fellenius: FS = 2.2323 Bishop Simplificado : FS = 2.3871 RASS. Tal ferramenta tornou viável, por
Figura 16: Talude 2 - arenoso com 125 superfícies de exemplo, a compreensão da influência do grau
ruptura investigadas. de discretização da malha de centros no
processo de investigação da superfície crítica de
Os resultados referentes ao Talude 2 – arenoso, um talude. No entanto, de forma análoga, outras
mostram que para esse tipo de solo, a análises poderiam ser realizadas de modo a
divergência entre as superfícies críticas foi fornecer ao engenheiro projetista o máximo de
maior, tanto em função do método de equilíbrio informações necessárias para tomada de
limite empregado, quanto em função da malha decisões, enriquecendo suas habilidades e sua
adotada. Também de acordo com o esperado, os capacidade de propor melhorias em projetos.
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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial aos meus pais e aos


meus mestres Prof. Dr. Caio G. Nogueira, Prof.
Dr. Roger A. Rodrigues, Prof. Dr. Paulo C.
Lodi e Prof.ª Dra. Sueli L. Javaroni, sem os
quais esse trabalho jamais teria sido realizado.
Ao PIBIC/Reitoria pela bolsa concedida.

REFERÊNCIAS

Assis, H. B.; Giacon Junior, A. J.; Nogueira, C. G.


(2017). Implementação em Planilha Eletrônica de
Métodos de Equilíbrio Limite para Análise de
Estabilidade de Taludes. GEOCENTRO 2017,
Goiânia, p. 431-436.
Associação brasileira de normas técnicas. NBR 11682 –
Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro, 2009.
Das, B. M. Das. Fundamentos da Engenharia
Geotécnica. São Paulo: Thomson Learning, 2006.
Fernandes, J. B. Resistência e deformabilidade de um
solo não saturado a partir de ensaios triaxiais. 2016,
144f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru, 2016.
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Gerscovich, D. Estabilidade de taludes. São Paulo:
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Guidicini, G.; Nieble, C. M. Estabilidade de taludes
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1983.
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https://www.rocscience.com/documents/pdfs/educatio
n/Slide_Problem_Sets. Acesso em 07/03/2017.

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