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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Variabilidade dos Métodos de Previsão de Capacidade de Carga


de Fundações Profundas Em Solo Arenoso da Cidade De Natal-
RN
Eduardo de Castro Bittencourt
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, eng.castrobittencourt@gmail.com

Osvaldo de Freitas Neto


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, osvaldoecivil@gmail.com

Olavo Francisco dos Santos Junior


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, olavo@ct.ufrn.br

RESUMO: Neste artigo foi analisada a aplicação de métodos semi-empíricos baseados em


resultados de SPT e aqueles a partir de PCE, para estimativa de capacidade de carga em fundações
por estacas na cidade de Natal, RN. Adicionalmente, foi verificada a eficiência da ferramenta
numérica PLAXIS 3D Foundation na extrapolação das curvas carga recalque obtidas pelas provas
de carga realizadas na obra de estudo. Conforme os resultados apresentados pelos métodos semi-
empíricos e aqueles baseados nas PCEs, foi observada variabilidade nas previsões de capacidade de
carga. Esta variabilidade reafirma a importância da realização de provas de carga para obter maior
precisão na previsão da carga de ruptura. O método de Davisson (1972) para previsão de capacidade
de carga mostrou ser o mais conservador. Além disso, o programa PLAXIS 3D Foundation
apresentou ser uma boa ferramenta para extrapolação de curvas carga recalque em fundações
profundas escavadas em solo arenoso da cidade de Natal.

PALAVRAS-CHAVE: Prova de Carga Estática, SPT, PLAXIS

1 INTRODUÇÃO previsões da capacidade de carga da fundação


serão realizadas com maior precisão.
O conhecimento do solo em que será projetada Ademais, Schnaid (2012) cita que a
uma edificação é de grande importância, visto experiência internacional relata que o
que dará maior suporte ao engenheiro conhecimento geotécnico é mais importante
geotécnico dimensionar o sistema de fundação. para um projeto do que a precisão das
Atualmente, o ensaio de sondagem à metodologias de cálculo empregadas.
percussão SPT é o método de investigação O ensaio de Prova de Carga Estática (PCE) é
geotécnica mais utilizado no Brasil, muito pela um importante método de investigação, dado
sua simplicidade de realização e o baixo custo. que apresenta o comportamento da fundação
Contudo, possui a desvantagem dos resultados perante a aplicação de uma carga no sistema,
possuírem incertezas devido a influência oferencendo a possibilidade de estimar a
humana, do procedimento e equipamentos capacidade de carga em campo.
(ODEBRECHT, 2003). A NBR 6122/2010 sugere a realização de
Em vista dessas incertezas, são necessárias PCE na quantidade de 1% do total de estacas da
investigações geotécnicas complementares a obra, em que o resultado do ensaio pode ser
fim de obter maiores informações do utilizado para previsão da capacidade de carga
comportamento mecânico do solo. Assim, ou verificação do desempenho do
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estaqueamento da obra. K = coeficiente do solo;


Adicionalmente, este ensaio nos possibilita a = índice de resistência à penetração na cota
calibração dos parâmetros do solo a partir de de apoio da ponta da estaca;
ferramentas numéricas, sendo possível analisar = índice médio de resistência à penetração na
o comportamento solo-estrutura (PEZO, 2013). camada de solo de espessura ;
Em vista da variedade de métodos de = fatores de correção, ajustados a partir
investigação geotécnica, diversos métodos para de 63 PCEs realizadas em diversas regiões do
cálculo de capacidade de carga foram criados. Brasil;
Entre os critérios, têm-se os semi-empíricos, P = perímetro da estaca;
baseados nos resultados de SPT, e aqueles a = comprimento de um segmento de estaca.
partir da curva carga recalque, obtida no ensaio
de prova de carga estática em estaca.
O método de Décourt e Quaresma (1978)
segue o mesmo critério que Aoki e Velloso
2 MÉTODOS DE PREVISÃO DE (1975), em que a resistência solo-estaca é dada
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÃO pela soma das parcelas de ponta e fuste. As
PROFUNDA Equações 3 e 4 representam este método.

Conforme Schulze (2013), os métodos semi- (3)


empíricos baseados no SPT mais utilizados no
Brasil são os de Aoki e Velloso (1975) e Reescrevendo a Equação 3, temos:
Décourt e Quaresma (1978). Além destes, pode
ser citado o método de Teixeira (1996). (4)
O critério de Aoki e Velloso (1975) foi
inicialmente desenvolvido para correlacionar Onde:
com resultados do ensaio de cone (CPT). K = coeficiente característico do solo;
Contudo, como o ensaio SPT se tornou o tipo = índice de penetração médio da ponta da
de investigação geotécnica mais utilizado no estaca, otido pela média entre o nível da ponta,
Brasil, o método foi adaptado para este tipo de imediatamente anterior e posterior;
ensaio. índice médio de resistência à penetração
Ele se baseia na soma das resistências lateral ao longo do fuste;
e de ponta da estaca, como demonstrado nas fator de parcela de ponta, conforme tipo
Equações 1 e 2 a seguir. de solo e estaca;
fator de parcela de atrito lateral,
(1) conforme tipo de solo e estaca.

Reescrevendo a Equação 1, resulta em: Por fim, o método de Teixeira (1996) se


baseia na seguinte Equação:

(2) (5)
Onde:
= tensão limite normal no nível da ponta da Onde:
estaca; Índice médio de resistência à penetração
= tensão limite de cisalhamento ao longo do no intervalo de 4 diâmetros acima da cota de
fuste da estaca; ponta da estaca e até 1 diâmetro abaixo;
= razão de atrito; média de resistência à penetração ao
longo do fuste;
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parâmetro em função do tipo de solo e


estaca;
parâmetro em função do tipo da estaca;
Curva P x (ensaio)
P perímetro do fuste;
L comprimento da estaca.

As diferenças entre os métodos estão nos


índices e fatores aplicados pelos autores, além
do coeficiente do tipo de solo. Nestes quesitos,
inclusive, o método de Aoki e Velloso (1975)
apresenta vantagem, visto que, possui maior
abrangência de tipo de solo para obtenção dos Figura 1. Carga de ruptura convencionada (NBR
fatores de correção e o coeficiente do solo. 6122/2010)
Quanto aos métodos de previsão de
capacidade de carga de estaca a partir da curva Um método similar ao proposto pela NBR
carga recalque, destaca-se no Brasil o método 6122/2010 é o de Davisson (1972), que também
de Décourt (1993), que indica como a apresenta uma reta para obtenção da capacidade
capacidade de carga do sistema estaca-solo de carga da fundação.
como a carga que resulte no recalque Tal previsão se baseia no mesmo critério que
correspondente a 10% o diâmetro da estaca. o da norma, com capacidade de carga dada pelo
Além deste critério, tem o método ponto da curva que a reta interceptar, como
recomendado pela NBR 6122/2010, que tem ilustrado na Figura 2.
como carga de ruptura convencionada o ponto Carga
em que a reta, representada pela Equação 6,
interceptar a curva carga recalque, como
ilustrado na Figura 1.

(6)
Recalque

Onde:
recalque de ruptura convencionada; Figura 2. Método de Davisson (1972) para previsão de
capacidade de carga (Bessa et al. 2016).
P carga de ruptura convencionada;
L comprimento da estaca; A reta desta metodologia é representada pela
A área da seção transversal da estaca; Equação 7:
E módulo de elasticidade da estaca;
D diâmetro da estaca. (7)

Onde:
recalque para uma determinada carga;
D diâmetro da estaca;
L comprimento da estaca;
Q carga aplicada;
E módulo de elasticidade da estaca;
A área da seção transversal da estaca.
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Além destes métodos, destaca-se a previsão O resultado da calibração de Macedo (2017)


do comportamento do sistema de fundação no para a metodologia radier estaqueado com uma
que tange carga versus recalque a partir de estaca é apresentado na Figura 4.
programas numéricos. Tal metodologia se
baseia na calibração dos parâmetros geotécnicos
do solo a partir do ensaio PCE e extrapolação
das curvas carga recalque obtidas em campo.
Tal alternativa de análise nos permite obter
os comportamentos carga versus recalque para
os sistemas de fundações. Podendo ser
extrapolada para grupos de mais de uma estaca.
Esta é, inclusive, uma das maiores vantagens
que os programas muméricos possuem, visto a
grande dificuldade de realização de ensaios
PCE com sistemas contendo elevado número de Figura 4. Calibração para radier estaqueado com 1 estaca.
(Macedo, 2017)
estacas. Ademais, cita-se a facilidade em
realização de análises paramétricas em
Observa-se, assim como na calibração de
comparação com os métodos analíticos, o que
Pezo (2013), boa previsão do comportamento
pode contribuir para a otimização do sistema de
mecânico da fundação a partir de ferramenta
fundação.
numérica.
Pezo (2013) realizou a calibração dos
parâmetros do solo pelo programa LCPC
CESAR a partir de provas de carga realizadas
3 METODOLOGIA
por Soares (2011) em João Pessoa, PB. A
Figura 3 ilustra o resultado da calibração
O presente artigo foi estruturado em 3 etapas:
realizada por Pezo (2013) para grupo de 1
previsão da curva carga recalque a partir das
estaca, demonstrando boa convêrgencia entre o
PCEs, com uso do programa PLAXIS 3D
modelo experimental e numérico.
Foundation; previsão de capacidade de carga
por meio de métodos semi-empíricos com SPT
e aqueles baseados em PCE; análise das
previsões obtidas pelos métodos semi-empíricos
e os baseados em provas de carga estática em
estaca.

3.1 Previsão da curva carga recalque no


PLAXIS 3D Foundation

O programa PLAXIS 3D Foundation foi


Figura 3. Calibração para grupo de 1 estaca. (Pezo, 2013) utilizado como ferramenta para previsão das
curvas carga versus recalque de fundações
Macedo (2017) por sua vez, realizou o compostas por uma estaca.
mesmo procedimento utilizando o software Para este fim, foram utilizadas 3 provas de
PLAXIS 3D Foundation, também a partir das carga estática realizadas no local da obra do
provas de carga feitas por Soares (2011), Instituto do Cérebro, localizada no Campus
contudo, para a metodologia de fundação em Central da Universidade Federal do Rio Grande
radier estaqueado. do Norte, Natal, RN. A Figura 5 ilustra a
localização desta obra.
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Para tanto, o “E” destas três camadas foram


incrementados em 10 MPa e uma nova
simulação foi realizada. A nova comparação
entre a curva experimental 1 e numérica
apresentaram boa concordância, como ilustrado
na Figura 6.

Figura 5. Localização da obra do Instituto do Cérebro.


Google Maps.

Os dados de entrada do programa, a saber:


Figura 6. Calibração 1 com prova de carga em estaca de
parâmetros de resistência e deformabilidade, 15m de comprimento e 40cm de diâmetro
foram obtidos por meio dos resultados de 13 (Bittencourt, 2018).
sondagens à percussão (SPT) realizadas no local
da obra. O modelo constitutivo utilizado foi o Por apresentar boa convergência entre o
elastoplástico, com critério de Mohr-Coulomb. resultado experimental e numérico para a
O solo foi subdividido em 3 camadas, com primeira PCE, os parâmetros geotécnicos foram
agrupamento feito a partir dos valores de NSPT. fixados e replicados nas previsões das duas
Após isto, foi calculado o valor médio de PCEs restantes.
resistência à penetração de cada uma destas três Os resultados das previsões numéricas das
camadas para facilitar a obtenção dos provas de carga em estaca de 17m e 40cm, e
parâmetros geotécnicos iniciais. 15m e 50cm são apresentadas nas Figuras 7 e 8,
Tais parâmetros foram obtidos por meio das respectivamente.
seguintes correlações: Godoy (1972) para o
peso específico (γ); Teixeira (1996) para o
ângulo de atrito ( ); Teixeira e Godoy (1996)
para o módulo de elasticidade (E); Teixeira e
Godoy (1996) para o coeficiente de poisson (ν) e
Bolton (1986) para a dilatância ( ). A coesão
(c) por sua vez foi considerada nula por se tratar
de um solo arenoso de dunas.
Ao inserir os parâmetros geotécnicos iniciais
no programa e realização da simulação
numérica, foi observado que a curva numérica Figura 7. Calibração 2 com prova de carga em estaca de
apresentou rigidez levemente inferior ao 17m de comprimento e 40cm de diâmetro
(Bittencourt, 2018).
modelo experimental para a prova de carga 1.
Com isso, os módulos de elasticidade “E”das
três camadas foram calibrados, a fim de obter
uma curva que apresentasse maior convergência
com o resultado experimental.
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Figura 10. Previsão da capacidade de carga pelo método


Figura 8. Calibração 3 com prova de carga em estaca de da NBR 6122/2010 para estaca de 15m de comprimento e
15m de comprimento e 50cm de diâmetro. 25cm de diâmetro. (Bittencourt, 2018).
(Bittencourt, 2018).

3.2 Previsão da capacidade de carga

Após previsão das curvas carga recalque da


fundação por meio do programa numérico
PLAXIS 3D Foundation, foi realizada a
previsão de capacidade de carga através dos
métodos semi-empíricos com uso dos resultados
de SPT e aqueles baseados nas PCEs.
Para tanto, foram realizadas análises em dois Figura 11. Previsão da capacidade de carga pelo método
sistemas de fundações. Um deles possuindo de Davisson (1972) para estaca de 15m de comprimento e
uma estaca de 15m de comprimento e 25cm de 25cm de diâmetro. (Bittencourt, 2018).
diâmetro. O outro sistema era composto por
uma estaca de 15m de comprimento e 40cm de Na Tabela 1, por sua vez, são ilustrados os
diâmetro. Foram realizadas análises nestes resultados das previsões de capacidade de carga
sistemas visto que, as fundações compostas por pelos métodos elencados neste trabalho, para
uma estaca do Instituto do Cérebro possuiam fundação de uma estaca de 25cm de diâmetro.
estas características geométricas.
Tabela 1. Capacidade de carga pelos métodos semi-
As Figuras 9, 10 e 11 ilustram as previsões
empíricos baseados no SPT e a partir de PCE para estaca
das capacidades de carga da fundação de uma de 25cm de diâmetro.
estaca de 15m de comprimento e 25cm de CAPACIDADE DE
MÉTODO
diâmetro pelos métodos de Décourt (1993), CARGA (KN)
NBR 6122/2010 e Davisson (1972), Aoki e Velloso (1975) 2292
respectivamente. Teixeira (1996) 2013
Décourt e Quaresma (1978) 1464
Décourt (1993) 1260
NBR 6122/2010 1075
Davisson (1972) 975

A aplicação dos métodos de Décourt (1993),


NBR 6122/2010 e Davisson (1972) para estaca
de 40cm de diâmetro são ilustradas nas Figuras
12, 13 e 14, respectivamente.
Figura 9. Previsão da capacidade de carga pelo método de
Décourt (1993) para estaca de 15m de comprimento e
25cm de diâmetro. (Bittencourt, 2018).
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Tabela 2. Capacidade de carga pelos métodos semi-


empíricos baseados no SPT e a partir de PCE para estaca
de 40cm de diâmetro.
CAPACIDADE DE
MÉTODO
CARGA (KN)
Aoki e Velloso (1975) 4630
Teixeira (1996) 3742
Décourt (1993) 3000
Décourt e Quaresma (1978) 2458
NBR 6122/2010 2120
Davisson (1972) 1725

Figura 12. Previsão da capacidade de carga pelo método


de Décourt (1993) para estaca de 15m de comprimento e
3.3 Análise das previsões obtidas
40cm de diâmetro. (Bittencourt, 2018).
Analisando os resultados das previsões das
capacidades de carga para as duas estacas, o
método de Davisson (1972) demonstrou ser o
mais conservador.
Este método também demonstrou ser o
mais conservador na comparação com os
métodos de Décourt (1996), NBR 6122/2010,
Chin (1970) e Van Der Veen (1953), no estudo
realizado por Bessa et al. (2016) a partir de
cinco provas de carga realizadas nos estados do
Ceará e Rio Grande do Norte.
Figura 13. Previsão da capacidade de carga pelo método O método de Aoki e Velloso (1975) por
da NBR 6122/2010 para estaca de 15m de comprimento e sua vez, mostrou ser o menos conversador para
40cm de diâmetro. (Bittencourt, 2018). ambas as estacas analisadas. Além disso,
verificou-se grande variabilidade entre as
previsões obtidas, visto que a diferença entre o
maior valor estimado e o menor foi o dobro do
menor.
Um critério de projeto bastante utilizado
no Brasil é considerar a capacidade de carga do
sistema de fundação como a média dos valores
obtidos pelas previsões empregadas para o
projeto. A partir deste método, observou-se que
o critério de Décourt e Quaresma (1978) foi o
Figura 14. Previsão da capacidade de carga pelo método que mais aproximou da média (1513 kN) das
de Davisson (1972) para estaca de 15m de comprimento e previsões apresentadas para a estaca de 25cm de
40cm de diâmetro. (Bittencourt, 2018).
diâmetro, com carga de ruptura prevista em
1464 kN.
A Tabela 2 apresenta os resultados de todas Por outro lado, o método de Décourt
as previsões citadas neste trabalho, para (1993) apresentou maior proximidade com a
fundação de uma estaca de 40cm de diâmetro. média (2946 kN) das previsões de carga de
ruptura para estaca de 40cm diâmetro, com
3000 kN de previsão da carga de ruptura.
Apesar do critério em considerar a
capacidade de carga do sistema como a média
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das previsões calculadas seja bem usual. 4 CONCLUSÕES


Destaca-se que tal metodologia pode não ser
aconselhável para situações em que se observa O programa PLAXIS 3D Foundation
elevados valores de desvio padrão. demonstrou ser uma importante ferramenta na
O Desvio padrão para as capacidades de previsão do comportamento de fundações
carga para estaca de 15m de comprimento e 25 estaqueadas na cidade de Natal, visto a boa
cm de diâmetro foi de 530 kN. Quanto às concordância obtida entre os resultados
previsões de capacidade de carga para a estaca experimentais e numéricos. Esta extrapolação
de 15m de comprimento e 40cm de diâmetro, o permite o engenheiro obter previsões do
valor do desvio padrão foi ainda maior, no valor comportamento em termos de carga versus
de 1085 kN. recalque para sistemas compostos por mais de
Em situações como esta, um critério de uma estaca.
projeto que pode ser adotado é a exclusão dos O método de Davisson (1972) mostrou ser
valores máximos e mínimos e, assim, obter a o mais convervador em comparação com os
média das previsões restantes. A partir deste métodos de Aoki e Velloso (1975), Teixeira
critério, a nova média das capacidades de carga (1996), Décourt (1993) e Quaresma (1978),
para estaca de 25 cm foi de 1453 kN. Já para a Décourt (1993) e NBR 6122/2010.
estaca de 40cm, a nova média foi no valor de Os métodos de previsão de capacidade de
2830 kN. carga baseados nas PCEs foram mais
Além das considerações supracitadas, conservadores que aqueles baseados nos SPTs,
destaca-se a influência do tipo de abordagem a tanto para estaca de 25cm como para de 40cm
ser feita no momento da previsão da capacidade diâmetro na cidade de Natal.
de carga do sistema. A elevada variabilidade entre as previsões
Para o presente estudo, utilizou-se a de capacidade de carga analisadas sugere que o
abordagem determinística, isto é, para cada projetista de fundações tenha atenção especial
nível de cota de apoio da ponta da estaca, temos quanto ao tipo de abordagem (determinística ou
um valor único de carga de ruptura. probabilística) e o critério de projeto a ser
A escolha dessa abordagem se deu visto a utilizado na cidade de Natal.
pequena variação entre os valores de resistência Esta variabilidade de cargas de ruptura
à penetração a cada metro de profundidade. previstas reafirma a importância de realização
Caso fosse observado o contrário, com o de ensaios PCEs. Desta forma, o projetista teria
solo apresentando grandes variações nos valores à disposição uma maior gama de métodos
de NSPT por metro de profundidade, este tipo de disponíveis para estimativa de carga de ruptura
abordagem não seria aconselhável para o baseadas não apenas nos ensaios SPT, além da
projeto. possibilidade de extrapolação das curvas carga
Consequentemente, este cenário poderia recalque dos sistemas de fundações por meio de
vir a apresentar variações ainda mais elevadas ferramentas numéricas.
de capacidade de carga entre os sistemas de
fundação da obra.
Por fim, observa-se que os métodos de AGRADECIMENTOS
previsão de capacidade de carga por meio da
curva carga versus recalque demonstraram ser Agradecimento à Superintendência de
mais conservadores que aqueles baseados em Infraestrutura da Universidade Federal do Rio
correlações com os resultados do ensaio SPT. Grande do Norte por disponibilizar os
resultados de provas de carga realizados na obra
do Instituto do Cérebro.
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Schnaid, F. (2012). Ensaios de campo e suas aplicações

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