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Resumo
1. Introdução
O crescimento das áreas urbanas e rurais do Brasil tem se intensificado nos últimos
anos, a fim de atender à crescente demanda por moradia e infraestrutura
impulsionada pelo aumento populacional do país. A engenharia, neste contexto,
torna-se essencial para um desenvolvimento sustentável ambiental e
economicamente, e mais importante, de forma segura para todos os diretamente
influenciados. O número exponencial de canteiros de obras expõe além de uma
pujança econômica na área da construção civil uma quantidade assustadora de
erros de execução e projeto, colocando em risco trabalhadores e usuários das
edificações executadas. Uma das etapas comumente executadas em obras de todos
os portes é a escavação, e por consequente, a estabilização e contenção dos
2
Taylor concentrou suas analises nos casos onde o fator de segurança da análise
fossem iguais a 1,0, definindo um parâmetro chamado de número de estabilidade N,
determinado pela razão entre o peso especifico do solo e altura do talude e a
coesão. A partir desta definição, o pesquisador desenvolveu um ábaco relacionando
o ângulo de inclinação do talude e o número de estabilidade, a fim de simplificar sua
análise.
2. Método de Análise
A variedade de solos existentes, bem como sua estratificação nas diferentes regiões
do país e do mundo tornam uma análise utilizando dados de campo um processo
complexo e pouco abrangente. Desta forma, optou-se por definir parâmetros fixos
genéricos, homogeneizando as análises e permitindo uma comparação mais
acurada e assim definiu-se um maciço de solo genérico de peso especifico 18,8kN/
m² e altura 15,00 metros, sem a presença de nível d’agua, como objeto de estudo.
Além dos parâmetros pré-fixados indicados acima para a análise, dois outros
parâmetros possuem influência sobre a estabilidade de um talude. O primeiro,
chamado ângulo de atrito, de acordo com Pinto (2006), é o ângulo máximo de
inclinação da força atuante na superfície de um objeto em relação à horizontal, sem
que o mesmo deslize. Este fenômeno possui diferenças entre solos argilosos e
arenosos que, como reforça o autor, devido ao número de grãos de argila ser muito
maior, e a presença de moléculas de água ligadas a estas partículas quimicamente,
a força transmitida no contato entre cada uma é muito reduzido em comparação com
areias. O segundo parâmetro é a coesão, que segundo Pinto (2006) é definida pela
atração química entre as partículas do solo, mantendo-as unidas. O autor ainda
explicita que solos sedimentares apresentam valores de coesão significativamente
menores que solos cimentados, afetando na estabilidade dos mesmos diretamente.
proposto. Assim, definiu-se o ângulo de atrito entre 5° a 25°, variando numa razão
de 5°, de forma a igualar as análises às curvas notáveis do ábaco de Taylor. Para a
coesão do solo, foram definidos valores de acordo com a equação do número de
estabilidade 1/N, conforme tabela 1.
Número de Número de
Coesão Coesão
Estabilidad Estabilidad
(kPa) (kPa)
e (1/N) e (1/N)
0,00 0,00 0,13 36,66
0,01 2,82 0,14 39,48
0,02 5,64 0,15 42,30
0,03 8,46 0,16 45,12
0,04 11,28 0,17 47,94
0,05 14,10 0,18 50,76
0,06 16,92 0,19 53,58
0,07 19,74 0,20 56,40
0,08 22,56 0,21 59,22
0,09 25,38 0,22 62,04
0,10 28,20 0,23 64,86
0,11 31,02 0,24 67,68
0,12 33,84 0,25 70,50
Fonte: o autor.
6
Φ (°) FS c (kPa) H (m) N L(m) - Bishop L(m) - Janbu i (Bishop) i (Janbu) i (Taylor)
Φ (°) FS c (kPa) H (m) N L(m) - Bishop L(m) - Janbu i (Bishop) i (Janbu) i (Taylor)
Φ (°) FS c (kPa) H (m) N L(m) - Bishop L(m) - Janbu i (Bishop) i (Janbu) i (Taylor)
10 1,000 0 15,00 0,000 66,525 74,675 12,707 11,358 10,00
10 1,000 2,820 15,00 0,010 60,525 68,275 13,919 12,391 12,00
10 1,000 5,640 15,00 0,020 54,500 61,850 15,388 13,632 14,00
10 1,000 8,460 15,00 0,030 48,550 55,550 17,169 15,111 16,00
10 1,000 11,280 15,00 0,040 42,800 49,310 19,314 16,920 19,00
10 1,000 14,100 15,00 0,050 37,350 43,160 21,881 19,165 21,50
10 1,000 16,920 15,00 0,060 32,250 37,210 24,944 21,955 24,50
10 1,000 19,740 15,00 0,070 27,550 31,635 28,567 25,368 28,00
10 1,000 22,560 15,00 0,080 23,350 26,535 32,717 29,479 32,00
10 1,000 25,380 15,00 0,090 19,800 21,935 37,147 34,366 36,00
10 1,000 28,200 15,00 0,100 16,700 17,935 41,930 39,908 41,00
10 1,000 31,020 15,00 0,110 14,050 14,610 46,873 45,755 46,00
10 1,000 33,840 15,00 0,120 11,825 11,810 51,750 51,785 51,00
10 1,000 36,660 15,00 0,130 9,950 9,410 56,442 57,899 56,00
10 1,000 39,480 15,00 0,140 8,325 7,385 60,970 63,787 60,00
10 1,000 42,300 15,00 0,150 6,925 5,560 65,219 69,662 65,00
10 1,000 45,120 15,00 0,160 5,625 4,005 69,444 75,051 69,00
10 1,000 47,940 15,00 0,170 4,550 2,555 73,126 80,333 73,00
10 1,000 50,760 15,00 0,180 3,525 1,205 76,775 85,407 77,00
10 1,000 53,580 15,00 0,190 2,600 0,000 80,166 90,000 81,00
15 1,000 56,400 15,00 0,200 1,750 - 83,346 - 84,00
15 1,000 59,220 15,00 0,210 0,950 - 86,376 - 87,00
15 1,000 62,040 15,00 0,220 0,215 - 89,179 - 90,00
Tabela 4 - Resultados para ângulo de atrito de 10°
Fonte: o autor.
L(m) - i
Φ (°) FS c (kPa) H (m) N L(m) - Janbu i (Bishop) i (Taylor)
Bishop (Janbu)
5 1,000 0 15,00 0,000 137,925 154,025 6,207 5,562 5,00
5 1,000 2,820 15,00 0,010 120,625 135,825 7,088 6,302 6,00
5 1,000 5,640 15,00 0,020 106,325 120,475 8,030 7,097 7,00
5 1,000 8,460 15,00 0,030 94,225 107,425 9,045 7,949 8,00
5 1,000 11,280 15,00 0,040 83,725 96,125 10,157 8,869 9,50
5 1,000 14,100 15,00 0,050 74,225 82,925 11,425 10,253 11,00
5 1,000 16,920 15,00 0,060 65,025 76,475 12,990 11,097 12,50
5 1,000 19,740 15,00 0,070 55,525 67,225 15,118 12,578 15,00
5 1,000 22,560 15,00 0,080 46,225 57,025 17,978 14,737 17,50
5 1,000 25,380 15,00 0,090 37,525 46,775 21,788 17,780 21,00
5 1,000 28,200 15,00 0,100 30,075 36,975 26,508 22,081 25,00
5 1,000 31,020 15,00 0,110 24,425 28,075 31,555 28,115 30,00
5 1,000 33,840 15,00 0,120 19,775 21,725 37,182 34,623 35,50
5 1,000 36,660 15,00 0,130 16,125 16,725 42,930 41,888 43,00
5 1,000 39,480 15,00 0,140 13,275 13,000 48,491 49,086 47,00
5 1,000 42,300 15,00 0,150 10,975 9,900 53,808 56,575 53,00
5 1,000 45,120 15,00 0,160 9,025 7,500 58,966 63,435 59,00
5 1,000 47,940 15,00 0,170 7,375 5,500 63,818 69,864 63,50
5 1,000 50,760 15,00 0,180 5,975 3,750 68,281 75,964 68,00
5 1,000 53,580 15,00 0,190 4,725 2,085 72,516 82,087 72,00
5 1,000 56,400 15,00 0,200 3,615 0,000 76,450 90,000 76,00
5 1,000 59,220 15,00 0,210 2,615 - 80,111 - 80,00
5 1,000 62,040 15,00 0,220 1,690 - 83,572 - 83,50
5 1,000 64,860 15,00 0,230 0,840 - 86,795 - 87,00
5 1,000 67,680 15,00 0,240 0,090 - 89,656 - 90,00
Tabela 5-Resultados para ângulo de atrito de 5°
Fonte: o autor.
9
2.1 Resultados
Os dados produzidos por todas as análises forneceram o subsidio necessário para a
criação de um gráfico visual entre os três métodos, baseado no Ábaco de Taylor. No
gráfico abaixo (figura 6), todas as curvas foram criadas e sobrepostas para uma
comparação geral, onde as linhas vermelhas representam os resultados das
análises utilizando o Método de Bishop, em azul os resultados para o Método de
Janbu e preto a compilação das curvas de Taylor. Em seguida, foram sobrepostas
separadamente sobre o ábaco as curvas criadas (figuras 7 e 8), com o propósito de
comparar os Métodos baseados em fatias com o Método do círculo de Atrito.
A análise das sobreposições, agregada aos dados das tabelas, indica que as
inclinações obtidas através do método de Bishop são muito semelhantes às
apresentadas por Taylor em seu Ábaco, apresentando diferenças máximas de 4°.
Esta diferença é acentuada para números de estabilidade próximos a zero, e à
medida que se aumentou gradualmente o número de estabilidade, tais valores
mostraram-se menos discrepantes. Este comportamento é visível para todas as 5
curvas desenvolvidas.
Superpondo as curvas desenvolvidas através do método de Janbu, podemos notar
resultados diferentes. Em oposição ao método de Bishop, as inclinações se
mostraram muito próximas às definidas pelo método do círculo de atrito com o
número de estabilidade próximo à zero. Elevando os valores de coesão, e
consequentemente o número de estabilidade, as inclinações obtidas por meio do
Geoslope mostraram um aumento significativo, seguido por uma diminuição até uma
intersecção entre as curvas, aproximadamente no ponto representando uma
inclinação de 50°. Entretanto, após este ponto, o aumento progressivo dos valores
de coesão resulta em inclinações mais elevadas que pelo método de Taylor, sendo
no caso mais expressivo uma diferença de 14°, afastando a curva criada de forma
substancial da curva do ábaco
A zona A, lado direito do gráfico, indica que o ponto mais baixo da superfície crítica
do talude passa exatamente pelo pé do talude, sendo os intervalos de linhas cheias
do ábaco alocadas nesta zona representando os números de estabilidade que
atendem este caso. A zona B, lado esquerdo do gráfico, engloba 3 casos distintos,
demonstrados na figura 15. O primeiro considera o a superfície crítica interceptando
o pé do talude, com seu ponto mais baixo a uma cota menor. O segundo caso é
considerado quando o ponto mais baixo da superfície crítica passa abaixo do pé do
13
talude a uma profundidade DH, cruzando a superfície horizontal a uma distância nH.
Estes fatores n e D (fator de profundidade) foram obtidos por Taylor e agrupados em
segundo ábaco (figura 16), utilizado como complemento ao ábaco principal.
Comumente o caso 2 acontece quando a inclinação do talude ou o ângulo de atrito
do solo são pequenos.
O caso 3 é considerado quando o pé do talude possui alguma borda ou estrato
rígido na elevação do pé do talude. A Superfície crítica se inicia no corpo do talude,
e o fator de profundidade D é igual a 1.
Para a comparação destas superfícies de ruptura em cada um dos casos estudados
anteriormente, foi utilizado o programa Geoslope. Com a inclinação do talude
previamente determinada, o software evidencia a superfície crítica e as fatias
pertencentes a ela, exemplificado na figura 9.
3. Conclusão
A determinação dos ângulos de inclinação através da utilização do Geoslope
e a sobreposição das curvas representando os Métodos de Bishop e de Janbu
mostraram a clara diferença e semelhanças entre ambos e quando comparados ao
Método do Círculo de Atrito de Taylor. Enquanto os resultados pelo Método de
Bishop se aproximaram muito mais do proposto pelo Ábaco, as inclinações obtidas
pelo método de Janbu demostraram possuir diferenças significativas. A construção
das tabelas e superfícies de ruptura crítica para cada uma das análises indicou de
forma positiva as proposições de Taylor acerca dos casos de ruptura. Ambos os
métodos utilizados para comparação foram fieis em sua maioria aos casos indicados
no ábaco para cada situação analisada, ficando evidente a diferença mais
acentuada do método de Janbu para com o Método de Taylor. Embora para casos
onde o ângulo de atrito do solo for elevado, e sua coesão for baixa as diferenças
entre os resultados obtidos sejam desconsideráveis, o Método de Janbu mostrou-se
divergente dos demais à medida que tais parâmetros se invertem.
As análises desenvolvidas durante este estudo forneceram dados suficientes para
que, ao depararmo-nos com situaçoes de projeto e execução de taludes, a escolha
do método de cálculo da estabilidade do maciço seja feita de forma ponderada e
segura quando considerados os três metodos comparados. Ao considerarmos as
equações interativas de Jambu, é necessaria uma avaliação mais completa de
todos os fatores envolvidos, projetando de uma forma mais conservadora.
A comparação e a verificação das proposições de Taylor em seu ábaco mostraram-
se assertivas para grande parte dos casos analisados, e aliado à sua facilidade de
compreeensao e praticidade, torna-se uma ferramenta usual e confiável para a
determinação da geometria de taludes e verificação de segurança, de forma única
ou aliado a outros metodos de cálculo.
Assim, podemos afirmar que a escolha do método de cálculo da estabilidade de um
talude pelo profissional será feita não somente de forma pratica, mas teorica e
comparativa. Cada obra possui suas individualidades e incertezas, e as
comparaçoes desenvolvidas neste estudo podem poderão ajudar na definição da
proposta mais segura e indicada.
18
Referências
GEOSLOPE. Stability Modeling with SLOPE/W 2007 Version. Manual do usuário.
Versão 7.23. Geo-Slope International Ltd. Canadá, 2013. Disponível em
<www.geoslope.com>. Acesso em: 15/05/2021
TAYLOR, Donald W.,Fundamentals of Soil Mechanics. John Wiley and Sons, Inc.,
New York, 1948.
°
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 0 5 10 15 20 25 30
Horizontal (m)
Inclinações Método de Bishop - Φ=25
Fonte: o autor.
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 0 5 10 15 20 25 30 35
Horizontal (m)
Inclinações Método de Janbu - Φ=25°
Fonte: o autor.
20
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Horizontal (m)
20
15
10
Vertical (m)
0 0 0
-5
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Horizontal (m)
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 5 15 25 35 45
Horizontal (m)
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 5 15 25 35 45 55
Horizontal (m)
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 5 15 25 35 45 55 65
Horizontal (m)
Inclinações Método de Bishop - Φ=10°
Fonte: o autor
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 5 15 25 35 45 55 65 75
Horizontal (m)
Inclinações Método de Janbu - Φ=10°
Fonte: o autor
23
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 15 35 55 75 95 115 135
Horizontal (m)
Inclinações Método de Bishop - Φ=5°
Fonte: o autor
20
15
10
Vertical (m)
-5
-5 15 35 55 75 95 115 135 155
Horizontal (m)