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Rodrigo Serafim
Engenheiro Cívil, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, E-
mail: rodrigos@ipt.br
RESUMO: A aplicação de métodos não destrutivos com o intuito de auxiliar a área da geotecnia vem sendo
cada vez mais utilizada devido à rápida aquisição dos dados, a grande área de cobertura, o bom custo benefício
e a possibilidade de coletar parâmetros mecânicos do material estudado sem a necessidade de grandes
intervenções no meio. O presente trabalho apresenta os resultados de um levantamento geofísico aplicando os
métodos de sísmica de refração e MASW em uma barragem de terra para obtenção dos valores de velocidades
de propagação de ondas P e S a fim de compará-los com os resultados de ensaios laboratoriais com o mesmo
objetivo. Sabe-se que a partir dos valores de velocidade das ondas de corpo (P e S) é possível determinar os
módulos de elasticidade dinâmicos, como o módulo de rigidez máximo (Gmáx), o módulo de Young (E) e o
coeficiente de Poisson (). O objetivo do presente estudo foi comparar os dados obtidos a partir de
levantamentos geofísicos de campo com aqueles obtidos a partir de ensaios em laboratório, para os valores de
velocidades de propagação das ondas de corpo, em solos e rochas, no corpo de uma barragem de terra
compactada.
ABSTRACT: The application of non-destructive methods in order to assist the geotechnical area has been
increasingly used due to the rapid acquisition of data, the large coverage area, the good cost benefit and the
possibility of collect mechanical parameters of the material studied without the need for major interventions
in the environment. The present work presents the results of a geophysical survey applying the refraction
seismic methods and MASW in an earth dam to obtain the propagation velocity values of P and S waves in
order to compare them with laboratory tests with the same objective. It is known that from the velocity values
of both body waves it is possible to determine dynamic modulus of elasticity, such as the maximum stiffness
modulus (Gmax), Young modulus (E) and Poisson’s ratio (). The objective of the present study is to compare
the data collected by geophysical surveys with laboratory tests for the values of body wave propagation
velocities in soils and rocks present in the body of a compacted earth dam.
https://proceedings.science/p/149794
XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP
1. Introdução
O presente trabalho foi desenvolvido em uma barragem de terra compactada de pequeno porte
(aproximadamente 8 m de altura máxima e 90 m de extensão) na cidade de Cordeirópolis, próxima à cidade
de Rio Claro, no interior do estado de São Paulo (Figura 1). Os critérios que levaram à escolha desta área
foram o material de composição do corpo da barragem (bastante comum em outros barramentos de terra do
Brasil) e os ensaios sísmicos (sísmica de refração e MASW) que já haviam sido realizados no local e
facilitariam, portanto, o desenvolvimento do projeto. Na região próxima à cidade de Rio Claro, a grande
maioria dos rios e córregos, desenvolveram-se sobre a Formação Serra Geral, composta principalmente por
derrames de rochas básicas (basalto), as quais afloram em vários pontos circunvizinhos à área de estudo. Torna-
se interessante a integração entre os ensaios de laboratório e levantamentos geofísicos nesse contexto geológico
uma vez que o basalto e seus produtos de alteração são bastante comuns, não somente como material de
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composição da estrutura de barragens na forma de solo compactado, como também como substrato de fundação
em outras situações na área de Engenharia.
Foram realizados ensaios de laboratório em amostras de solo e rocha uma vez que, além do material
compactado que compõe a estrutura da barragem, existem blocos residuais de diversos tamanhos por toda a
área ao redor do reservatório e no interior da estrutura do barramento, sendo interessante, portanto, analisar
ambos os componentes (Figuras 2A e B). Para o presente estudo, foram coletados dois blocos indeformados
de solo compactado com 30 x 30 cm de dimensão e dois blocos de rochas com aproximadamente 0,5 m de
comprimento e 0,25 m de largura visando a retirada de 4 corpos de provas. Os blocos de solo foram extraídos
da crista da barragem, enquanto os blocos de rocha da região da ombreira, indicados na Figura 2B.
Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: Guireli et al., 2019b, modificado de Google Earth.
1.2 Objetivos
O objetivo do presente estudo foi realizar ensaios de laboratório em amostras extraídas de blocos
indeformados de rocha básica (basalto) e de solo de alteração de rocha, a fim de obter os valores de velocidade
de propagação de ondas sísmicas P e S nestes materiais e, posteriormente, compará-los com resultados de
levantamentos sísmicos de campo: sísmica de refração e análise multicanal de ondas superficiais (MASW)
realizados na crista da barragem, visto que estes ensaios sísmicos de campo também fornecem os valores de
velocidade das ondas sísmicas obtidas “in situ” (Figura 3).
O estudo levanta interesse na área de geotecnia, pois a partir dos valores de velocidade de ondas
compressivas (P) e cisalhantes (S) é possível determinar os módulos de elasticidade dinâmicos, como o módulo
de rigidez máximo (Gmáx), o módulo de Young (E) e o coeficiente de Poisson (). Em alguns projetos de
engenharia, como na instalação de torres eólicas, por exemplo, devido ao fato da obra concluída sofrer
vibrações e ruídos graças a agentes mecânicos (caso da ação do vento) se tem utilizado o ensaio sísmico de
MASW para obter o módulo de rigidez máximo dinâmico do material onde será implantada a obra.
O intuito de comparar os dados de laboratório e os métodos geofísicos de campo é bastante positivo,
visto que, por cobrir de modo rápido, uma área maior de amostragem, faz com que a investigação “in situ”
não destrutiva seja uma excelente ferramenta para obtenção destes parâmetros de resistência e deformabilidade
muito utilizados na geotecnia.
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Figura 2. A: Visão geral da barragem; B: Pontos de retirada de amostras de solo, rochas e linha de aquisição
sísmica; C: Disposição dos geofones na crista da barragem; D: Retirada de amostras de solo e rocha.
A aplicação de métodos sísmicos nas etapas de construção de barragens vem sendo cada vez mais aceita
e utilizada nesse tipo de projeto e obra, uma vez que as investigações não destrutivas auxiliam na determinação
de parâmetros elásticos dinâmicos do maciço através dos valores de velocidades de propagação de ondas
sísmicas compressionais, cisalhantes e superficiais. Visando buscar um elevado fator de segurança para a
construção de uma barragem torna-se necessária a execução de diversos ensaios para uma melhor
caracterização do material que irá compor o corpo dessa barragem.
Os métodos de sísmica de refração e MASW podem ser executados a partir de um mesmo arranjo em
campo e são realizados utilizando a mesma fonte sísmica. No caso, por se tratar de um estudo raso, foi utilizada
a marreta sísmica. Uma vez que ambos os métodos fornecem uma visualização do comportamento em termos
de velocidade da onda S com o aumento da profundidade, torna-se bastante proveitosa a aplicação em conjunto
para obtenção deste parâmetro físico. A sísmica de refração, por sua vez, pode ser executada utilizando ondas
P em subsuperfície, a qual também foi realizada no presente estudo para uma comparação com os dados de
laboratório.
O método sísmico MASW (Multichannel Analyis of Surface Waves) vem sendo cada vez mais utilizado
e aceito no Brasil para projetos de geotecnia, principalmente devido às suas aplicações: caracterização da
rigidez de solos, por meio da determinação de Vs e, consequentemente, Gmáx, avaliação de técnicas de
compactação de solos e tratamento de solos moles, dentre outras. O método consiste em gerar ondas
superficiais e, através de uma análise espectral, obter-se o modelo de camadas da velocidade da onda cisalhante
(Vs) em profundidade.
Já o método de sísmica de refração funciona a partir da geração de ondas compressionais ou cisalhantes
em superfície e do fato de que estas, ao encontrarem camadas em subsuperfície com propriedades elásticas
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distintas, são refratadas e registradas por sensores (geofones) que captam o sinal da sua chegada. Dessa
maneira, é possível identificar variações litológicas na área de estudo.
Os arranjos de ambos os métodos se encontram ilustrados na Figura 3.
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Neste trabalho o método descrito na Figura 4A foi utilizado para interpretação dos ensaios com
propagação de onda Vp. Já para a interpretação do tempo de propagação de onda dos ensaios com onda Vs
foram utilizados os pontos B e C da Figura 4B e o método de pico a pico contido na Figura 4C que
correspondem aos métodos 1, 2 e 3 respectivamente apresentados no gráfico da Figura 4.
Figura 4. Métodos de interpretação dos tempos de viagem das ondas propagadas em corpos de prova no
ensaio Bender Elements (modificado de Yamashita et al., 2009).
Os corpos de prova foram retirados do interior dos blocos de rocha. Esperava-se, portanto, encontrar
valores de velocidade de onda P superiores aos obtidos em campo pela sísmica de refração, uma vez que a
amostra se encontrava sob menor influência do intemperismo, efeito mais pronunciado nas bordas do bloco.
Outro fato que pode influenciar a discrepância entre os dados é a escala. A sísmica de refração investiga um
volume maior do maciço no seu estado “in situ” enquanto a amostragem de laboratório é pontual, sendo menos
sensível as heterogeneidades do meio estudado. Os valores de velocidades da onda P (Vp) obtidos pela sísmica
de refração no basalto localizado na fundação da estrutura foram por volta de 4.200 m/s (Guireli et al., 2019a),
enquanto que os resultados de laboratório obtiveram valores da ordem de 5.550 m/s (Figura 5).
Figura 5. Resultado da sísmica de refração com onda P e ensaios de laboratório em quatro corpos de rocha.
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Apesar de terem sido retiradas de posições mais superficiais (30 cm de profundidade), as amostras
indeformadas de solo compactado tiveram sua resposta à propagação de ondas sísmicas, em profundidade,
simulada através do estabelecimento de diferentes estados de confinamento aos corpos de prova. Uma vez que
os ensaios de caracterização resultaram em um peso específico médio de 18,57 kN/m 3 para as amostras, e
assumindo-se que a relação entre as tensões efetivas horizontais e verticais locais apresentam um valor unitário
(K0=1) em qualquer profundidade do maciço, optou-se por realizar os experimentos com tensões confinantes
de 20, 60, 120 e 200 kPa, o que corresponderia, de maneira aproximada, às profundidades de 1, 3, 6 e 11
metros do barramento, respectivamente.
Os ensaios de Bender Elements foram realizados sob diferentes frequências de ondas P e S, sendo as
velocidades de propagação determinadas a partir de três metodologias distintas (ver Figura 4). A Figura 6
mostra os valores médios de velocidade de propagação de ondas S encontrados para uma mesma profundidade
(mesma tensão confinante) a partir dos métodos 1, 2 e 3 e os compara com as velocidades obtidas através do
ensaio MASW na barragem de Cordeirópolis (Guireli et al., 2019a). Os dados mostram que existe proximidade
entre os valores obtidos em campo e em laboratório, além de ressaltar claramente divergências quanto aos
métodos de estimativa de velocidade de onda.
Figura 6. Comparação entre as velocidades de onda S encontradas por diferentes métodos de cálculo para
uma mesma profundidade a partir do ensaio Bender Elements em amostras de solo indeformadas e as
estimadas pelo método MASW na barragem de Cordeirópolis (modificado de Guireli et al., 2019a).
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Os resultados apresentados neste trabalho mostram certa proximidade entre os valores obtidos para as
velocidades de propagação de ondas P e S a partir de métodos sísmicos de campo e por meio de ensaios
laboratoriais utilizando-se o Bender Elements e em testemunhos de rocha.
O ensaio de sísmica de refração, utilizando-se das ondas P e S, apresentaram valores inferiores aqueles
obtidos a partir dos ensaios laboratoriais. Pelos motivos já mencionados, as discrepâncias referem-se a
variações nas condições geológicas do meio que influenciam bastante o método de campo (de maior
abrangência) e são menos influentes nos ensaios realizados com corpos de provas em laboratório (mais
pontual). Entretanto, salienta-se que apesar dos valores não serem os mesmos, o método da sísmica de refração
apontou a presença de rocha na profundidade de aproximadamente 12 metros e, neste caso, os ensaios de
laboratório puderam confirmar a presença do material.
Destaca-se que a comparação entre os resultados do ensaio sísmico MASW e o ensaio Bender Elements
em amostras de solo indeformado mostrou-se bastante positiva e promissora, uma vez que, escolhendo-se três
métodos para determinação dos pontos da curva onde podem ser medidas as velocidades de propagação da
onda cisalhante (S), ficou clara a proximidade dos valores obtidos pelos dois ensaios de campo.
Por fim, a próxima etapa do estudo é estimar, através dos valores de velocidade de onda sísmicas
compressionais e cisalhantes obtidas pelos ensaios geofísicos, alguns parâmetros físicos e mecânicos do solo,
como a porosidade, por exemplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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