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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas


IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Comparação de dados obtidos por métodos geofísicos e ensaios de


laboratório para determinação de velocidades de propagação de
ondas sísmicas em barragem de terra compactada
Leonides Guireli Netto
Geólogo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, E-mail:
leonidesnetto@ipt.br

Rodrigo Serafim
Engenheiro Cívil, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, E-
mail: rodrigos@ipt.br

João Pedro Silva Pereira


Geólogo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, E-mail:
jpereira@ipt.br

Otávio Coaracy Brasil Gandolfo


Geofísico, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, E-mail:
gandolfo@ipt.br

Patrícia Del Gaudio Orlando


Engenheira Civil, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, E-
mail: patorlando@ipt.br

RESUMO: A aplicação de métodos não destrutivos com o intuito de auxiliar a área da geotecnia vem sendo
cada vez mais utilizada devido à rápida aquisição dos dados, a grande área de cobertura, o bom custo benefício
e a possibilidade de coletar parâmetros mecânicos do material estudado sem a necessidade de grandes
intervenções no meio. O presente trabalho apresenta os resultados de um levantamento geofísico aplicando os
métodos de sísmica de refração e MASW em uma barragem de terra para obtenção dos valores de velocidades
de propagação de ondas P e S a fim de compará-los com os resultados de ensaios laboratoriais com o mesmo
objetivo. Sabe-se que a partir dos valores de velocidade das ondas de corpo (P e S) é possível determinar os
módulos de elasticidade dinâmicos, como o módulo de rigidez máximo (Gmáx), o módulo de Young (E) e o
coeficiente de Poisson (). O objetivo do presente estudo foi comparar os dados obtidos a partir de
levantamentos geofísicos de campo com aqueles obtidos a partir de ensaios em laboratório, para os valores de
velocidades de propagação das ondas de corpo, em solos e rochas, no corpo de uma barragem de terra
compactada.

PALAVRAS-CHAVE: barragem de terra, geofísica, ensaios não destrutivos.

ABSTRACT: The application of non-destructive methods in order to assist the geotechnical area has been
increasingly used due to the rapid acquisition of data, the large coverage area, the good cost benefit and the
possibility of collect mechanical parameters of the material studied without the need for major interventions
in the environment. The present work presents the results of a geophysical survey applying the refraction
seismic methods and MASW in an earth dam to obtain the propagation velocity values of P and S waves in
order to compare them with laboratory tests with the same objective. It is known that from the velocity values
of both body waves it is possible to determine dynamic modulus of elasticity, such as the maximum stiffness
modulus (Gmax), Young modulus (E) and Poisson’s ratio (). The objective of the present study is to compare
the data collected by geophysical surveys with laboratory tests for the values of body wave propagation
velocities in soils and rocks present in the body of a compacted earth dam.

KEYWORDS: earth dam, geophysics, non-destructive testing.

https://proceedings.science/p/149794
XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

1. Introdução

A utilização de métodos geofísicos (ensaios sísmicos, elétricos e eletromagnéticos) com o intuito de


auxiliar projetos de engenharia e geotecnia é amplamente difundida no mundo e vem sendo cada vez mais
utilizada no Brasil nos últimos anos. Recentemente, graças à rapidez na aquisição de dados, grande área de
cobertura, bom custo benefício e minimização das alterações e intervenções no meio estudado, diversos
trabalhos versando sobre o emprego de ensaios geofísicos para auxiliar a caracterização geotécnica em
diferentes tipos de obras vêm ganhando destaque.
As principais aplicações de ensaios geofísicos (investigação não destrutiva) na Engenharia Geotécnica
estão ligadas à identificação de estruturas geológicas importantes para a execução de um projeto seguro (ex.
localização de falhas e/ou fraturas), a determinação da profundidade do topo rochoso e do nível d’água, e
também a caracterização da estratigrafia em subsuperfície. A aplicação dos métodos geofísicos envolve
levantamentos em diversas etapas: antes do início da execução das obras, para melhor compreensão do
contexto geológico-geotécnico local; durante a execução do projeto, uma vez que possam surgir imprevistos
nas fases de escavação, como por exemplo para a localização de matacões previamente não identificados pelas
sondagens tradicionalmente realizadas; ou ainda quando as obras já se encontram finalizadas e necessitam de
manutenção ou investigação de fatores que possam acarretar instabilidades (manutenção de pavimentos e
concreto, por exemplo).
Gandolfo (2011) através da aplicação de ensaios de sísmica de refração com ondas P (compressionais),
S (cisalhantes) e superficiais, obteve resultados satisfatórios para a disposição estratigráfica das camadas
presentes em um aterro. Gonçalves (2017), a partir da aplicação e correlação de dados de sondagem à percussão
(SPT) e levantamentos de eletrorresistividade, apresentou uma ferramenta interessante para a caracterização
geotécnica em áreas de encosta. Uma proposta para o cálculo da resistência à compressão uniaxial in situ de
camadas de carvão a partir da aplicação de métodos geofísicos foi desenvolvida por Gonzatti (2008). Por fim,
empregando a técnica de sísmica up-hole integrada à sondagem de simples reconhecimento e medidas de NSPT,
Rocha (2013) obteve uma boa caracterização de solos tropicais.
Diversos trabalhos mostram a aplicação de ensaios sísmicos (sísmica de refração, na maioria das vezes)
e a utilização dos valores de velocidades de ondas compressionais e cisalhantes fornecidas por este tipo de
levantamento na área de geotecnia. Entretanto, poucos trabalhos realizaram a comparação entre os valores de
velocidade de ondas P (Vp) e ondas S (Vs) coletadas por ensaios geofísicos de campo com a aferição dos
mesmos parâmetros através de ensaios laboratoriais.
Este trabalho apresenta uma comparação entre ensaios sísmicos de refração com ondas P e S executados
na crista de uma barragem de terra compactada e os valores obtidos pelos ensaios de laboratório destes
parâmetros em amostras de solo indeformadas e em blocos residuais superficiais de rocha extraídos em pontos
na região da crista do barramento. Adicionalmente, e a fim de garantir maior segurança às interpretações
geofísicas, foi realizado o método MASW, ainda pouco utilizado no Brasil. Este método é capaz de fornecer
o perfil em profundidade de velocidade da onda S, atribuindo assim mais informações à comparação entre os
métodos geofísicos de campo e os valores destes parâmetros obtidos em laboratórios.

1.1 Área de Estudo

O presente trabalho foi desenvolvido em uma barragem de terra compactada de pequeno porte
(aproximadamente 8 m de altura máxima e 90 m de extensão) na cidade de Cordeirópolis, próxima à cidade
de Rio Claro, no interior do estado de São Paulo (Figura 1). Os critérios que levaram à escolha desta área
foram o material de composição do corpo da barragem (bastante comum em outros barramentos de terra do
Brasil) e os ensaios sísmicos (sísmica de refração e MASW) que já haviam sido realizados no local e
facilitariam, portanto, o desenvolvimento do projeto. Na região próxima à cidade de Rio Claro, a grande
maioria dos rios e córregos, desenvolveram-se sobre a Formação Serra Geral, composta principalmente por
derrames de rochas básicas (basalto), as quais afloram em vários pontos circunvizinhos à área de estudo. Torna-
se interessante a integração entre os ensaios de laboratório e levantamentos geofísicos nesse contexto geológico
uma vez que o basalto e seus produtos de alteração são bastante comuns, não somente como material de

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composição da estrutura de barragens na forma de solo compactado, como também como substrato de fundação
em outras situações na área de Engenharia.
Foram realizados ensaios de laboratório em amostras de solo e rocha uma vez que, além do material
compactado que compõe a estrutura da barragem, existem blocos residuais de diversos tamanhos por toda a
área ao redor do reservatório e no interior da estrutura do barramento, sendo interessante, portanto, analisar
ambos os componentes (Figuras 2A e B). Para o presente estudo, foram coletados dois blocos indeformados
de solo compactado com 30 x 30 cm de dimensão e dois blocos de rochas com aproximadamente 0,5 m de
comprimento e 0,25 m de largura visando a retirada de 4 corpos de provas. Os blocos de solo foram extraídos
da crista da barragem, enquanto os blocos de rocha da região da ombreira, indicados na Figura 2B.

Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: Guireli et al., 2019b, modificado de Google Earth.

1.2 Objetivos

O objetivo do presente estudo foi realizar ensaios de laboratório em amostras extraídas de blocos
indeformados de rocha básica (basalto) e de solo de alteração de rocha, a fim de obter os valores de velocidade
de propagação de ondas sísmicas P e S nestes materiais e, posteriormente, compará-los com resultados de
levantamentos sísmicos de campo: sísmica de refração e análise multicanal de ondas superficiais (MASW)
realizados na crista da barragem, visto que estes ensaios sísmicos de campo também fornecem os valores de
velocidade das ondas sísmicas obtidas “in situ” (Figura 3).
O estudo levanta interesse na área de geotecnia, pois a partir dos valores de velocidade de ondas
compressivas (P) e cisalhantes (S) é possível determinar os módulos de elasticidade dinâmicos, como o módulo
de rigidez máximo (Gmáx), o módulo de Young (E) e o coeficiente de Poisson (). Em alguns projetos de
engenharia, como na instalação de torres eólicas, por exemplo, devido ao fato da obra concluída sofrer
vibrações e ruídos graças a agentes mecânicos (caso da ação do vento) se tem utilizado o ensaio sísmico de
MASW para obter o módulo de rigidez máximo dinâmico do material onde será implantada a obra.
O intuito de comparar os dados de laboratório e os métodos geofísicos de campo é bastante positivo,
visto que, por cobrir de modo rápido, uma área maior de amostragem, faz com que a investigação “in situ”
não destrutiva seja uma excelente ferramenta para obtenção destes parâmetros de resistência e deformabilidade
muito utilizados na geotecnia.

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Figura 2. A: Visão geral da barragem; B: Pontos de retirada de amostras de solo, rochas e linha de aquisição
sísmica; C: Disposição dos geofones na crista da barragem; D: Retirada de amostras de solo e rocha.

2 Metódos sísmicos x ensaios de laboratório

A aplicação de métodos sísmicos nas etapas de construção de barragens vem sendo cada vez mais aceita
e utilizada nesse tipo de projeto e obra, uma vez que as investigações não destrutivas auxiliam na determinação
de parâmetros elásticos dinâmicos do maciço através dos valores de velocidades de propagação de ondas
sísmicas compressionais, cisalhantes e superficiais. Visando buscar um elevado fator de segurança para a
construção de uma barragem torna-se necessária a execução de diversos ensaios para uma melhor
caracterização do material que irá compor o corpo dessa barragem.
Os métodos de sísmica de refração e MASW podem ser executados a partir de um mesmo arranjo em
campo e são realizados utilizando a mesma fonte sísmica. No caso, por se tratar de um estudo raso, foi utilizada
a marreta sísmica. Uma vez que ambos os métodos fornecem uma visualização do comportamento em termos
de velocidade da onda S com o aumento da profundidade, torna-se bastante proveitosa a aplicação em conjunto
para obtenção deste parâmetro físico. A sísmica de refração, por sua vez, pode ser executada utilizando ondas
P em subsuperfície, a qual também foi realizada no presente estudo para uma comparação com os dados de
laboratório.

2.1 Métodos geofísicos: sísmica de refração e MASW

O método sísmico MASW (Multichannel Analyis of Surface Waves) vem sendo cada vez mais utilizado
e aceito no Brasil para projetos de geotecnia, principalmente devido às suas aplicações: caracterização da
rigidez de solos, por meio da determinação de Vs e, consequentemente, Gmáx, avaliação de técnicas de
compactação de solos e tratamento de solos moles, dentre outras. O método consiste em gerar ondas
superficiais e, através de uma análise espectral, obter-se o modelo de camadas da velocidade da onda cisalhante
(Vs) em profundidade.
Já o método de sísmica de refração funciona a partir da geração de ondas compressionais ou cisalhantes
em superfície e do fato de que estas, ao encontrarem camadas em subsuperfície com propriedades elásticas

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distintas, são refratadas e registradas por sensores (geofones) que captam o sinal da sua chegada. Dessa
maneira, é possível identificar variações litológicas na área de estudo.
Os arranjos de ambos os métodos se encontram ilustrados na Figura 3.

Figura 3. Aquisição de dados a partir dos métodos de sísmica de refração e MASW.

2.2 Ensaios de laboratório

Para a obtenção das velocidades de propagação de ondas P e S em laboratório, foram utilizados


procedimentos distintos e específicos às amostras de solo e rocha coletadas. Os blocos de basalto coletados em
campo serviram como fonte para extração de quatro cilindros com aproximadamente 5 cm de diâmetro e 11 cm
de altura, os quais foram submetidos à propagação de ondas de corpo da seguinte maneira: realizada a
calibração do equipamento em material conhecido e o posterior acoplamento de transdutores às extremidades
dos testemunhos, foram emitidos pulsos de velocidade pré-determinada. Como a distância é conhecida
(comprimento do corpo de prova medido previamente) e o equipamento fornece o tempo de chegada das ondas,
é possível obter o registro dos parâmetros Vp e Vs para cada corpo de prova.
Já as amostras de solo foram submetidas ao ensaio Bender Elements, ensaio dinâmico de laboratório
muito utilizado no exterior, principalmente em países que sofrem com atividade sísmica. O ensaio é realizado
em corpo de prova cilíndrico em condição indeformada e/ou compactado, com dimensões similares as de um
corpo de prova submetido a um ensaio triaxial convencional, com 50 mm de diâmetro e relação H/D  2. O
chamado Bender Element é um dispositivo composto por duas pequenas placas retangulares piezocerâmicas
que normalmente são instaladas no cabeçote e no pedestal do equipamento triaxial. Estas placas são
conectadas à um sistema de emissão e captação de corrente elétrica, e sofrem tanto deformação mecânica
sob a ação de uma excitação elétrica, quanto produzem um sinal elétrico correspondente se fletidos
mecanicamente. Ou seja, essas placas têm a capacidade de converter energia elétrica em deformação e vice-
versa. Os Bender Elements são cravados no topo e na base dos corpos prova durante o processo de montagem
do ensaio e os valores de Vs e Vp são obtidos pela aplicação de um sinal elétrico (onda quadrada ou pulso
senoidal simples) a uma das placas, o que gera uma onda S ou P, e pela determinação do tempo de chegada da
onda na outra extremidade do corpo de prova, usando o sinal elétrico produzido pela segunda placa.
Uma das principais dificuldades encontradas na interpretação dos ensaios Bender Elements reside na
determinação correta do tempo de propagação das ondas. Quando a primeira amplitude do sinal de chegada
coincide com a direção do movimento inicial da onda de fonte, o ponto onde o sinal descola da linha horizontal
corresponde ao tempo de chegada da onda de cisalhamento ou de compressão (Figura 4A). Em situações em
que a primeira amplitude do sinal de chegada não coincide com a direção do movimento da onda de fonte
existem diversos pontos de interpretações sugeridos (Figura 4B). Outra forma é medir a diferença de tempo
entre o primeiro pico da onda transmitida e o primeiro pico da onda recebida (Figura 4C) (Yamashita et al.,
2009).

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Neste trabalho o método descrito na Figura 4A foi utilizado para interpretação dos ensaios com
propagação de onda Vp. Já para a interpretação do tempo de propagação de onda dos ensaios com onda Vs
foram utilizados os pontos B e C da Figura 4B e o método de pico a pico contido na Figura 4C que
correspondem aos métodos 1, 2 e 3 respectivamente apresentados no gráfico da Figura 4.

Figura 4. Métodos de interpretação dos tempos de viagem das ondas propagadas em corpos de prova no
ensaio Bender Elements (modificado de Yamashita et al., 2009).

3. Resultados obtidos e interpretações

3.1 Ensaios em amostras de blocos de rocha x sísmica de refração onda P

Os corpos de prova foram retirados do interior dos blocos de rocha. Esperava-se, portanto, encontrar
valores de velocidade de onda P superiores aos obtidos em campo pela sísmica de refração, uma vez que a
amostra se encontrava sob menor influência do intemperismo, efeito mais pronunciado nas bordas do bloco.
Outro fato que pode influenciar a discrepância entre os dados é a escala. A sísmica de refração investiga um
volume maior do maciço no seu estado “in situ” enquanto a amostragem de laboratório é pontual, sendo menos
sensível as heterogeneidades do meio estudado. Os valores de velocidades da onda P (Vp) obtidos pela sísmica
de refração no basalto localizado na fundação da estrutura foram por volta de 4.200 m/s (Guireli et al., 2019a),
enquanto que os resultados de laboratório obtiveram valores da ordem de 5.550 m/s (Figura 5).

Figura 5. Resultado da sísmica de refração com onda P e ensaios de laboratório em quatro corpos de rocha.

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3.2 Ensaios em amostras de solo indeformado x ensaios sísmicos

Apesar de terem sido retiradas de posições mais superficiais (30 cm de profundidade), as amostras
indeformadas de solo compactado tiveram sua resposta à propagação de ondas sísmicas, em profundidade,
simulada através do estabelecimento de diferentes estados de confinamento aos corpos de prova. Uma vez que
os ensaios de caracterização resultaram em um peso específico médio de 18,57 kN/m 3 para as amostras, e
assumindo-se que a relação entre as tensões efetivas horizontais e verticais locais apresentam um valor unitário
(K0=1) em qualquer profundidade do maciço, optou-se por realizar os experimentos com tensões confinantes
de 20, 60, 120 e 200 kPa, o que corresponderia, de maneira aproximada, às profundidades de 1, 3, 6 e 11
metros do barramento, respectivamente.
Os ensaios de Bender Elements foram realizados sob diferentes frequências de ondas P e S, sendo as
velocidades de propagação determinadas a partir de três metodologias distintas (ver Figura 4). A Figura 6
mostra os valores médios de velocidade de propagação de ondas S encontrados para uma mesma profundidade
(mesma tensão confinante) a partir dos métodos 1, 2 e 3 e os compara com as velocidades obtidas através do
ensaio MASW na barragem de Cordeirópolis (Guireli et al., 2019a). Os dados mostram que existe proximidade
entre os valores obtidos em campo e em laboratório, além de ressaltar claramente divergências quanto aos
métodos de estimativa de velocidade de onda.

Figura 6. Comparação entre as velocidades de onda S encontradas por diferentes métodos de cálculo para
uma mesma profundidade a partir do ensaio Bender Elements em amostras de solo indeformadas e as
estimadas pelo método MASW na barragem de Cordeirópolis (modificado de Guireli et al., 2019a).

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4. Conclusões e próximas etapas

Os resultados apresentados neste trabalho mostram certa proximidade entre os valores obtidos para as
velocidades de propagação de ondas P e S a partir de métodos sísmicos de campo e por meio de ensaios
laboratoriais utilizando-se o Bender Elements e em testemunhos de rocha.
O ensaio de sísmica de refração, utilizando-se das ondas P e S, apresentaram valores inferiores aqueles
obtidos a partir dos ensaios laboratoriais. Pelos motivos já mencionados, as discrepâncias referem-se a
variações nas condições geológicas do meio que influenciam bastante o método de campo (de maior
abrangência) e são menos influentes nos ensaios realizados com corpos de provas em laboratório (mais
pontual). Entretanto, salienta-se que apesar dos valores não serem os mesmos, o método da sísmica de refração
apontou a presença de rocha na profundidade de aproximadamente 12 metros e, neste caso, os ensaios de
laboratório puderam confirmar a presença do material.
Destaca-se que a comparação entre os resultados do ensaio sísmico MASW e o ensaio Bender Elements
em amostras de solo indeformado mostrou-se bastante positiva e promissora, uma vez que, escolhendo-se três
métodos para determinação dos pontos da curva onde podem ser medidas as velocidades de propagação da
onda cisalhante (S), ficou clara a proximidade dos valores obtidos pelos dois ensaios de campo.
Por fim, a próxima etapa do estudo é estimar, através dos valores de velocidade de onda sísmicas
compressionais e cisalhantes obtidas pelos ensaios geofísicos, alguns parâmetros físicos e mecânicos do solo,
como a porosidade, por exemplo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Gandolfo O.C.B. (2011). Ensaios sísmicos (refração utilizando ondas P e S e ensaio com ondas superficiais)
na caracterização geotécnica de um aterro. In: 12th International Congress of the Brazilian Geophysical
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Gonçalves, J.T.D., Cavalcanti, S.S. (2017). Integration of SPT and Electrorresistivity data as an efficient
auxiliary tool for a geotechnical characterization of a slope. In: 15th International Congress of the Brazilian
Geophysical Society, Rio de Janeiro, RJ. Expanded Abstracts... SBGf. CD-ROM.

Gonzatti, C. (2008). Proposta para a estimativa da resistência à compressão uniaxial in situ de camadas de
carvão com a utilização de geofísica. Tese de Doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São
Carlos. 240p.

Guireli Netto, L., Gandolfo, O.C.B., Malagutti Filho, W., Dourado, J.C. (2019a). Integração dos métodos de
sísmica de refração de onda S e análise multicanal de ondas superficiais (MASW) em barragem de terra.
In: 16th International Congress of the Brazilian Geophysical Society, Rio de Janeiro, RJ. Expanded
Abstracts... SBGf. CD-ROM.

Guireli Netto, L., Gandolfo, O.C.B., Malagutti Filho, W., Moreira, C.A., Dourado, J.C., Camarero, P.L.
(2019b). 3D Geophysical Investigation from the Methods of Eletroresistivity, Self-Potential and Seismic
Refraction in an Earth Dam. In: Near Surface Geoscience Conference & Exhibition, The Hague,
Netherlands. 25th European Meeting of Environmental and Engineering Geophysics. Extended abstract...
EAGE.

Rocha, B.R. (2013). Emprego do Ensaio SPT Sísmico na Investigação de Solos Tropicais. Dissertação de
Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São Carlos. 116p.

Yamashita, Satoshi & Kawaguchi, Takayuki & Nakata, Yukio & Mikami, Takeko & Fujiwara, Teruyuki &
Shibuya, Satoru. (2009). Interpretation of international parallel test on the measurement of G max using
bender elements. SOILS AND FOUNDATIONS. 49. 631-650. 10.3208/sandf.49.631.

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