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RESUMO: As exigências normativas no brasil quanto à segurança das estruturas, em particular estabilidade
de taludes, não são suficientes para que o engenheiro realize uma análise de risco adequada para sua obra. A
análise de confiabilidade já foi incorporada em algumas normas internacionais e se mostra uma poderosa
ferramenta na avaliação da probabilidade de ruína. Este trabalho propõe a avaliação das variabilidades dos
parâmetros de resistência e solicitação dos solos nos cálculos de segurança de taludes. Foram analisados dois
taludes, um com inclinação de 1:1 e outro de inclinação 1:0,3, ambos com o mesmo desnível e situadas na
região de Curitiba. Foi verificado que existe uma probabilidade ruína considerável para os taludes mesmo que
estes atendam aos valores normativos do coeficiente de segurança exigidos pela norma.
ABSTRACT The normative requirements in Brazil regarding the safety of structures, slope stability, are not
sufficient for the engineer to carry out an adequate risk analysis for his work. Reliability analysis has already
been incorporated into some international standards norms and proves to be a powerful tool in assessing the
failure probability. This paper proposes the evaluation of the variability of the resistance of soil parameters
and loads variability in the slope security calculations. Two slopes were analyzed, one with a 1: 1 ratio slope
and the other with a 1: 0.3 ration slope, both with the same total height and located in the region of Curitiba.
It was found that there is a considerable probability of ruin for the slopes even if they meet the normative
values of the safety coefficient required by the norms.
1 Introdução
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ISBN: 978-65-89463-30-6
2 Objetivo
3 Metodologia
Neste estudo foram estudados dois taludes com desnível de 8 metros e diferentes inclinações localizado
n região de Curitiba, PR. Os taludes foram denominados Talude 1, com inclinação na proporção de 1:1, e
Talude 2, com inclinação na proporção de 1:0,3.
Os dados do solo foram obtidos por meio de 4 sondagens de simples reconhecimento com ensaio de
penetração dinâmica, cujos resultados são apresentados na Figura 1 por meio de um perfil geotécnico.
Trata-se de uma bacia dividida em três agrupamentos distintos: Embasamento cristalino, constituído por
um complexo de rochas metamórficas do pré-cambriano; depósitos sedimentares do terciário (cenozoicos); e
depósitos sedimentares mais recentes (holocênicos), depositados pelos rios e riachos que cortam a bacia de
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Curitiba (VIANNA, 2000). Esta sequência de sedimentos Cenozoicos da bacia de Curitiba foi denominada
Formação Guabirotuba (BIGARELLA; SALAMUNI, 1962).
Os solos da região de Curitiba são caracterizados por serem argilas-siltosas ou siltes-argilosos com
intercalações de lentes de areia e arcosianas, cuja consistência varia de rija à dura. Trata-se de um solo
altamente plástico e de elevada expansibilidade, devido à presença predominante de argilominerais do grupo
de esmectitas e pelo fato de ser pré-adensado (VIANNA, 2000).
Para a realização do ensaio cisalhamento direto, foi retirado uma amostra de solo indeformada à uma
profundidade de 4 metros. Justifica-se a retirada da amostra por estar à uma profundidade intermediária ao
desnível total do talude, 8 metros. A envoltória de resistência foi obtida utilizando o critério de Mohr-Coulomb
e os valores de coesão e ângulo de atrito interno são apresentados pela Equação (1).
𝜏 = 7 + 𝜎. 𝑡𝑔31° (1)
De posse do perfil geotécnico, foram utilizadas correções matemáticas propostas por Teixeira e Godoy
(1996) para a obtenção dos valores da coesão e, para o ângulo de atrito interno, foi utilizado a correlação
proposta por Teixeira (1996), apresentadas pelas equações (2) e (3), respectivamente.
𝑐 = 10. 𝑁 (2)
∅= 20. 𝑁 + 15° (3)
Para a mesma profundidade de retirada da amostra indeformada (Caso 1), foram utilizados os valores
de NSPT para obter os valores correlacionados do ângulo de atrito interno e coesão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Valores obtidos do ângulo de atrito interno e coesão por meio de correlações para a
profundidade de 4 m (Caso 1)
Desvio
SM19 SM20 SM21 SM22 Média Variação
Padrão
Ângulo de atrito interno (°) 21,3 25,0 27,6 21,3 23,8 3,1 0,129
Coesão (kPa) 20,0 50,0 80,0 20,0 42,5 28,7 0,676
Contudo, a amostragem limitada à apenas uma profundidade pode não representar a variabilidade dos
parâmetros ao longo da profundidade do talude. Para realizar esta avaliação, as médias dos valores do ângulo
de atrito interno, bem como seus desvios padrão e coeficiente de variação foram determinados para a
profundidade total de 8 metros (Caso 2). A partir destas informações, os gráficos apresentados pela Figura 2 e
Figura 3 foram confeccionados.
Analogamente, foram determinadas as médias, desvio padrão e variação referentes aos valores
correlacionados da coesão (Figura 4 e Figura 5).
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3 7,0
4 6,0
Profundidade (m)
Profundidade (m)
5 5,0
6 4,0
7 3,0
8 2,0
0,060 0,080 0,100 0,120 0,140
SM19 SM20 SM21
Variação
SM22 Média Amostragem Desvio Variação
Figura 2. Valores do ângulo de atrito interno em Figura 3. Variabilidade do ângulo de atrito interno
função do NSPT
Desvio Padrão
Coesão (kPa) 0,00 20,00 40,00 60,00
0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 2,0
2,0
3,0
3,0
4,0
Profundidade (m)
4,0
Profundidade (m)
5,0 5,0
6,0 6,0
7,0 7,0
8,0 8,0
0,000 0,200 0,400 0,600 0,800
SM19 SM20 SM21
Variação
SM22 Média Ensaio Desvio Variação
Figura 4. Valores da coesão em função do NSPT Figura 5. Variabilidade da coesão
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As verificações de estabilidade global dos taludes foram realizadas no software GEO5, obtidos pelo
método de Bishop configurado para obter uma superfície de ruptura circular e otimizada para determinação
dos coeficientes de segurança (Figura 1).
O solo atribuído ao modelo apresenta um peso específico γ = 14 kN/m³, e peso específico saturado γ =
19 kN/m³. Nestas análises foram atribuídos os parâmetros das envoltórias obtidas no ensaio de cisalhamento
direto. De forma análoga, foram realizadas as verificações de segurança para o Talude 2.
De posse dos coeficientes de segurança dos taludes (FS) e dos coeficientes de variação dos parâmetros
do solo (υR, coeficiente de variação da resistência, e υS, coeficiente de variação da solicitação), as análises de
probabilidade de ruína foram realizadas. Para tanto, assumiu-se que os coeficientes de variação da resistência
e da solicitação são os mesmos, uma vez que o maciço de solos gera a própria solicitação e,
concomitantemente, a própria resistência.
O índice de confiabilidade (β) foi obtido para cada coeficiente de varrição dos parâmetros utilizando-se
a equação (4) (CINTRA; AOKI, 2010).
1 − 1/ 𝐹
𝛽= (4)
𝜈 + (1⁄𝐹 )²𝜈
Finalmente, as probabilidades de ruína pf foram obtidas para cada índice de confiabilidade obtido
anteriormente aplicando-se a equação (5) (CINTRA; AOKI, 2010).
𝑝 = 1 − Φ(𝛽) (5)
Onde Φ é a função de distribuição normal dependente do índice de confiabilidade e pode ser obtido em
tabelas ou meios computacionais.
4 Resultados e Análises
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para as correlações da coesão para a mesma profundidade, obteve-se o valor médio de 42,50 kPa, desvio padrão
de 28,72 kPa e coeficiente de variação de 0,676.
Já na avaliação da variabilidade do ângulo de atrito ao longo da profundidade do talude (Caso 2), obteve-
se um valor médio de 27,24°, desvio padrão de 2,29° e coeficiente de variação de 0,084. Para a coesão um
valor médio de 82,81 kPa, desvio padrão de 26,15 kPa e coeficiente de variação de 0,316.
De posse dessas informações, as probabilidades de ruínas de cada talude foram determinadas para cada
caso considerado e os resultados são apresentados na Tabela 2.
As probabilidades de ruína obtidas para o Talude 1 foram menores do que para o Talude 2. Esses
resultados são coerentes uma vez que o coeficiente de segurança verificado pela análise de segurança global
foi superior ao do Talude 2.
No entanto é evidente que, mesmo atendendo aos requisitos de segurança normativos, ainda há uma
probabilidade de ruína do Talude 1. Considerando a baixa variabilidade do ângulo de atrito, há uma
probabilidade de ruína de aproximadamente muito baixa para ambos os casos. Já para a coesão, como a
variabilidade é maior foram calculadas probabilidade de ruína muito maiores.
Para o Talude 2, o coeficiente de segurança muito baixo ressalta ainda mais a insegurança do maciço ao
avaliar as probabilidades de ruína elevadas para todos casos, tanto para a variabilidade do ângulo de atrito
quanto para a coesão.
5 Conclusões
De acordo com a abordagem utilizada, conclui-se que é possível se obter a probabilidade de ruína e
índice de confiabilidade no cálculo de estabilidade de taludes usando ferramentas convencionais e ensaios de
campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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