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TRATAMENTO DE MACIÇO EM TÚNEIS NATM

CONFORME A CLASSIFICAÇÃO
GEOMECÂNICA
TIAGO EUGENIO CONEGLIAN DE OLIVEIRA

TRATAMENTO DE MACIÇO EM TÚNEIS NATM


CONFORME A CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA

Artigo Técnico para obtenção de título de


Especialização Em Engenharia de
Tuneis da Faculdade Redentor Apresentado
ao Prof. Misael Cardoso Pinto Neto na
Disciplina de Metodologia e Pesquisa

São Paulo

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13/04/2017
TRATAMENTO DE MACIÇO EM TÚNEIS NATM
CONFORME A CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA

Prof. Misael Cardoso Pinto Neto*


Tiago Eugênio Coneglian de Oliveira**

RESUMO
O artigo a seguir visa apresentar explicações sobre execução de suporte de
túneis utilizando a avaliação geomecânica, e detalhar a utilização destes.
Palavras-chave: NATM, Escavações Subterrâneas, Túnel, Tratamentos de
Maciços

ABSTRACT
The following article aims to provide explanations on the execution of tunnel support
using the geomecânica evaluation, and to detail the use of these.
Keywords: NATM, Underground excavations, Tunnel, Massif treatments


Professor Orientador. Graduado Bacharel em Engenharia Civil, Pós-Graduado em Perícia, auditoria
Ambientais, Professor Pós-Graduação Pericias de Engenharia.
Pós-Graduando do Curso Especialização em Engenharia de Túneis pela Faculdade Redentor,
Graduado Bacharel em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Nove de Julho e Técnico em

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Edificações pelo Instituto Tecnológico de Barueri, Engenheiro Responsável de Produção em Obras de
Infraestrutura na Construtora OAS
1. Introdução

Devido à verticalização dos grandes centros urbanos e à grande necessidade


de melhorar as infraestruturas destes, a execução de túneis tem se tornado
essencial para o desenvolvimento destas construções, essa grande demanda teve
um grande apoio com o surgimento do NATM- New Austrian Tunelling Method- em
1960.
Com o NATM novos parâmetros e conceitos geotécnicos referentes à
estabilidade dos maciços começaram a ser adotados em obras subterrâneas. Com a
aplicação deste método, além de inovações quanto aos tratamentos objetivando à
estabilidade das frentes de serviço, ocorreu uma grande evolução das técnicas de
escavação subterrânea e dos equipamentos até então utilizados, com toda a
segurança possível e reduzindo de forma direta os custos [1].
As construções subterrâneas têm desenvolvimentos de suporte provisório e
definitivo utilizando como base critérios empíricos de classificação de maciços
rochosos. A posterior modelação a partir de modelos numéricos de cálculo através
do método dos elementos finitos, procura analisar a influência que exercem alguns
fatores sobre o comportamento dos túneis, tais como: o estado de tensão inicial do
maciço, a dimensão das aberturas, e os modelos usados na representação do
comportamento mecânico dos diversos materiais [1,2].
Nesse sentido, os métodos empíricos de classificação geomecânica para
suporte de túneis permitem uma primeira aproximação do tipo de suporte necessário
para uma dada obra, e uma previsão plausível do seu desempenho. Esses métodos
levam em consideração um número limitado de parâmetros geotécnicos, em geral,
passíveis de serem determinados à custa de ensaios simples de laboratório e a
partir de observações da superfície e do estudo da amostragem efetuada nas
sondagens mecânicas permitindo, assim, a divisão dos maciços rochosos em várias
classes e, com isso, o seu zoneamento em termos de comportamento geomecânico,
possibilitando a escolha do suporte adequado, de acordo com as características
avaliadas no maciço rochoso [1,2].
As investigações geológicas preliminares em um projeto passaram a ter uma
importância ainda maior para as escavações subterrâneas. O quadro geológico-
geotécnico identificado por elas permitirá uma correta projeção das metodologias a
serem empregadas, dos tratamentos necessários para garantir a estabilidade dos
maciços a serem escavados, além do correto dimensionamento prévio dos recursos
humanos, materiais e equipamentos a serem disponibilizados para as obras [1].

2. Fundamentação

O NATM introduziu a aplicação de tratamentos específicos para cada classe


de maciço, sendo estes preliminarmente definidos na fase de projeto [1].
Para a escavação de um túnel, por exemplo, a partir do quadro geológico-
geomecânico revelado pelas investigações, os maciços a serem escavados podem
ser classificados em até cinco classes de rocha, como previsto pelo NATM:

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 Classe V: maciços formados por solo de alteração ou rocha totalmente
alterada, com pouca ou sem nenhuma coesão, ausência de auto suporte e
estabilidade quando escavados; na presença de água subterrânea esses
maciços são classificados como Classe VI.
 Classe IV: maciços de rocha mais fraturada e apresentando faixas
intercaladas de rocha alterada, com menor coesão, auto suporte e
estabilidade temporária, sendo que o quadro pode se agravar na presença de
água subterrânea;
 Classe III: maciços de rocha sã, fraturada, com certo grau de auto suporte e
coesão, porém entrecortado por famílias de fraturas segundo diferentes
direções e mergulhos, podendo ocorrer faixas de alterações nessas fraturas,
relacionadas a maiores concentrações de água subterrânea.
 Classe II: maciços de rocha sã, sem alterações, autoportantes e coesos,
porém já apresentando no mínimo uma família de fraturas ou diaclases;
 Classe I: maciços de rocha sã, sem alterações, autoportantes e coesos, com
ausência de planos de fraturas ou diaclases que, no entanto, podem ocorrer
de forma isolada;
Uma das primeiras classificações geomecânicas conhecidas, adaptável a
rochas e solos, foi elaborada por Terzaghi. Nesta classificação, os terrenos foram
englobados em nove classes, sendo indicada para cada uma a carga transmitida ao
suporte. Todavia esta classificação possui divergências quanto à eficiência da
escolha adequada dos suportes de túneis, tendo em vista que não leva em
consideração o estado de tensão inicial no maciço, limitando a previsão das cargas
transmitidas ao suporte após a formação do vazio. Além do mais, Terzaghi limita a
escolha do suporte em túneis a cambotas metálicas. Por este motivo, surgiram
outros sistemas de avaliação geomecânicas para classificação e dimensionamento
de suportes em túneis que englobavam critérios quantificáveis e que forneciam
indicações mais precisas no que se dizia respeito às propriedades intrínsecas do
maciço.
A partir dos anos 1970, graças a um maior e melhor detalhamento da
geologia local e de seus condicionantes geotécnicos, os maciços estão sendo
mapeados e classificados pelo RMR (Rock Mass Rating- Bieniawski) e pelo sistema
Q de Barton. Estas classificações são mais rigorosas e precisas que uma primeira
classificação pelo NATM e deverão ser sempre bem fundamentadas, ajustadas e até
refeitas corretamente já na fase das escavações subterrâneas, quando as frentes de
avanço devem ser acompanhadas e mapeadas por geólogos experientes [1].

2.1. Classificação de Bieniawski pelo RMR


A classificação geomecânica proposta por Bieniawski, bastante versátil e de
fácil utilização, surgiu logo após a necessidade de quantificar com maior precisão
parâmetros geológicos no maciço frente à necessidade de dimensionamento de
suporte em aberturas subterrâneas.
O sistema RMR (Rock Mass Rating), assim intitulado por Bieniawski, analisa
uma série de parâmetros geológicos e geotécnicos no maciço e ponderam uma
pontuação frente estes parâmetros. A partir do valor obtido para o RMR pode-se
estimar uma série de informações úteis, como o vão autoportante, o tempo de auto
sustentação, a pressão de suporte para uma dada abertura, e também, ajudar na
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escolha do método de escavação. Também, pode-se estimar: a coesão, o ângulo de
atrito interno, o módulo de deformação do maciço rochoso e a pressão de suporte
máxima variando conforme a classe do maciço. No entanto, estas informações só
deverão ser utilizadas para estudos de viabilidade e projetos preliminares. Ensaios in
situ e modelagens numéricas para definições de suportes permanentes serão
sempre essenciais, principalmente para o caso de cavernas ou grandes aberturas,
em que as condições geológicas apresentam uma grande variação [1].
Para determinar o RMR de um dado maciço rochoso, alguns parâmetros
geomecânicos devem ser analisados e receberão uma pontuação crescente, quanto
mais favorável for à estabilidade na frente de escavação [1]:
 Resistência à compressão simples (de 0 a 15 pontos);
 RQD= Índice de Qualidade das Rochas (de 3 a 20 pontos);
 Maior ou menor espaçamento entre as fraturas mapeadas (de 5 a 20
pontos);
 Condições das fraturas (de 0 a 30 pontos);
 Posição, orientação das fraturas em relação às escavações (de -60 a 0
ponto);
 Presença ou ação de água subterrânea (de 0 a 10 pontos).
O somatório destes pontos irá determinar o valor do RMR e, assim, a classe
do maciço. Baseado no valor do RMR é possível projetar o vão autoportante, o
tempo de auto sustentação, a pressão de suporte para uma dada abertura de um
maciço, a dimensão e a geometria mais adequada para as seções de escavação e,
também, projetar os tratamentos primários a serem aplicados, estimar a coesão, o
ângulo de atrito interno, o módulo de deformação do maciço e a pressão de suporte
máxima variando conforme sua classe [1,4]:
Tabela 1- Classe do maciço pelo RMR [1].

Classes I II III IV V
PONTOS 110/81 81/61 60/41 40/21 < 20
DESCRIÇÃO Ótimo Bom Regular Pobre Muito
pobre
SUSTENTAÇÃ 10 anos 6 meses 1 semana 5 horas 10 minutos
O
VÃO/SEÇÃO 15 m 10 m 5m 2,5 m 1m

Bieniawski estabeleceu recomendações quanto ao modo de escavação e tipo


de suporte a adaptar para túneis com cerca de 10 metros de vão, tensão vertical
inferior a 25 [MPa] e escavados com explosivos.

2.2. Sugestão de Suporte de túneis de Romana


Romana estabeleceu recomendações quanto ao modo de escavação e tipo
de suporte em túneis com vão entre 10 e 14 metros. Para tal, buscou complementar
novos parâmetros à classificação de Bieniawski. Todavia, Romana estabeleceu
essas novas recomendações com base em estudos geológicos na construção de
túneis na Península Ibérica, por esta razão os parâmetros descritos podem não ser
representativos para outras regiões.

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A classificação de Bieniawski divide o índice RMR em cinco classes (I, II, III,
IV e V) variando entre “Muito boa” a “Muito má”. Romana propõe então a
substituição do sistema de cinco classes por um sistema de 10 subclasses. Tendo
cada subclasse uma amplitude de 10 pontos, e para manter certo grau de correlação
com a classificação de Bieniawski, denomina-se com a numeração romana de
Bieniawski (I, II, III, IV e V) seguido de uma letra, a para a metade superior e b para
a metade inferior de cada classe.

2.3. Classificação de suporte de túneis pelo índice Q (Barton)

Baseado em mais de 200 casos históricos de problemas em obras


subterrâneas, Barton et. al. desenvolveram esse sistema de classificação, pelo NGI-
Instituto Geotécnico da Noruega. Esse índice é determinado a partir do
levantamento de seus parâmetros geomecânicos e é calculado pela expressão:
Q= (RQD/Jn) x (Jr/Ja) x (Jw/SRF), onde [1,4]:
 RQD (de 10 a 100);
 Jn= nº de famílias de fraturas (de 0,5 a 20);
 Jr= rugosidade das paredes das fraturas (de 0,5 a 4);
 Ja= grau de alteração das paredes das fraturas (de 0,07 a 20);
 Jw= influência da água subterrânea (0,05 a 1);
 SRF= (Stress Reduction Factor), estado de tensões do maciço no entorno da
seção da escavação.
Em suma: o maciço será classificado numa classe inferior, com valor do
índice Q reduzido, na medida em que o RQD for baixo (<50); o nº de famílias de
fraturas for alto (Jn>1); a rugosidade das paredes das fraturas for baixa, ou paredes
lisas (Jr<1); as paredes das fraturas forem mais alteradas ou preenchidas com rocha
alterada (Ja>1); ocorrer uma maior quantidade de água subterrânea na frente (J w<1)
e/ou SRF alto (>1), adotado quando há presença de minerais expansivos ou de
maciços sujeitos a fenômenos geológicos como rockbursting [1].
Em princípio, uma classificação geomecânica de maciços rochosos baseado
neste índice pode ser assim expresso [1]:

Tabela 2- Classificação pelo índice Q[2].

CLASSE I II III IV V VI
INDICE >20 10<Q<2 4<Q<10 1<Q<4 0,1<Q<1 <0,1
Q 0

3. Tratamentos de acordo com a classificação geomecânica


A partir das classificações geomecânicas dos maciços pelo NATM, e ajustes
pelo RMR ou Q, para cada classe de maciço deverão ser previstos os tratamentos a
serem aplicados, acompanhando o avanço da frente de escavação. Estes se
constituem nos tratamentos primários, ou até definitivos, que irão proporcionar uma
maior estabilidade nas frentes de escavação, evitando-se problemas acidentais
como queda de blocos, por exemplo, além de inibir a iniciação de processos de
relaxamento-deformação do maciço, que podem ocorrer em função do avanço das
escavações [1].
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Para classes de maciços com menor auto suporte e coesão (maciços de
classe inferior a IV) poderão, também, ser indicados e quantificados tratamentos
especiais, a serem aplicados preliminarmente às escavações subterrâneas, de modo
a dispor uma maior estabilidade temporária. Isso favorecerá as escavações na
frente, além de propiciar a aplicação de tratamentos primários posteriores, seguindo
passo a passo o avanço das escavações [1]. Os principais tratamentos referentes a
suportes nas escavações, a partir do advento do NATM são segundo Geraldi [1]:

Tratamentos preliminares especiais:


 Enfilagens mecânicas;
 Enfilagens tubulares injetadas;
 Pregagem da frente de escavação;
 Injeções de consolidação do maciço;
 Consolidação temporária do maciço por congelamento.
Tratamentos primários e revestimentos:
 Chumbadores de aço, tipo monobarra, ancorados com calda de cimento ou
resinas epóxicas;
 Telas metálicas soldadas;
 Tirantes de aço, tipo monobarra, ancorados com resinas epóxicas e pós-
tensionados;
 Concreto projetado;
 Concreto moldado;
 Cambotas metálicas, feitas de perfis metálicos ou com barras de aço
soldadas, as chamadas cambotas “treliçadas”;
 Concreto projetado reforçado com fibras metálicas ou de polipropileno.
Além desses, algumas classes de maciços podem exigir tratamentos prévios
e/ou durante a escavação da frente, como a drenagem da água subterrânea nas
frentes e rebaixamento do lençol freático [1].
Nos projetos, essas metodologias permitem ao técnico maior controle, e
consequentemente, maior segurança nas escavações subterrâneas, podendo ser
previstos e quantificados com grande precisão, a partir de uma correta classificação
geomecânica preliminar dos maciços [1].
Devido às condições geomecânicas mais favoráveis em maciços de classes I
e II, a aplicação de tratamentos primários poderá até ser desnecessária ou
acompanhar o avanço da frente com certa defasagem, de modo a não interferir os
ciclos de escavação. Entretanto, para maciços de classes III e IV, maciços rochosos
com condições geomecânicas variadas, a cada avanço devem ser aplicados os
tratamentos necessários, após a conclusão dos serviços de limpeza da rocha
detonada [1].
De acordo com o grau de alteração do maciço e suas condições de auto
sustentação, as escavações da frente serão sempre acompanhadas da aplicação de
suportes e revestimentos primários, tratamentos específicos para se conseguir uma
maior estabilidade da frente escavada, sendo que, no final das escavações, o túnel
deverá ser revestido com concreto moldado ou mesmo com camada mais espessa
de concreto projetado aplicado sobre armadura metálica, ou concreto projetado
reforçado com fibras [1].

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Como dito antes, com o surgimento do NATM e da classificação dos maciços
rochosos, foram projetados suportes, revestimentos e tratamentos, a serem
aplicados durante as escavações de túneis. Os maciços rochosos, classificados
como uma das classes I, II ou III, contemplam rochas duras e autoportantes quando
escavadas. Todavia, nos maciços rochosos de classe IV, a presença de
descontinuidades atuantes como falhamentos, planos de xistosidades, fraturas e
água subterrânea, podem criar zonas de instabilidade ao longo do traçado do túnel,
de forma isolada ou em conjunto [1]. Poderão ocorrer acidentes geotécnicos durante
as escavações, tais como quedas de blocos ou de lascas de rocha, além de ser
iniciados processos de instabilização mais amplos.
Por isso se faz necessária a execução de tratamentos durante as
escavações, com a aplicação de suportes e revestimentos primários, seguindo a
evolução, avanço da frente, inibindo esses processos de instabilização e, portanto,
propiciando maior segurança para os trabalhos.
O NATM recomenda a aplicação dos seguintes suportes e revestimentos
primários, para a escavação de túneis em rocha [1]:

3.1. Chumbadores monobarra ou ancoragens passivas

Aplicados de forma isolada ou segundo uma distribuição regular na seção de


escavação de um túnel e visam à fixação de blocos e cunhas de rocha ou mesmo
como reforço de abóbadas e paredes rochosas provenientes das escavações em
maciços mais fraturados. São os principais suportes primários para tratamentos
localizados em trechos de túneis escavados em maciços rochosos de classes I e II,
permitindo a continuidade normal das escavações e melhorando as condições de
segurança.
Esses chumbadores são fabricados, normalmente com barras de aço CA-50,
diâmetros de 7/8” a 1”, comprimento variando de 2 a 6m (monobarra ou
interconectados com luvas especiais) e devem receber uma pintura anticorrosiva.
Sua fixação nos furos é feita com a utilização de argamassas de cimento, com
aditivos especiais, ou cartuchos de resinas epóxicas, que deverão preencher todo o
espaço anular entre o furo e a barra de aço.
Segundo Geraldi, 2011 [1]: “Os chumbadores não receberão nenhuma carga
ou protensão após a sua colocação no furo e seu princípio de funcionamento pode
ser assim explicado: ocorre inicialmente uma tração natural, inicial e instantânea da
barra de aço ancorada, provocada pelo relaxamento do maciço rochoso em
escavação, seguida da posterior reação da barra tracionada, que exercerá uma
força de compressão contra o maciço”.

3.2. Tirantes monobarra


Estes tirantes são fabricados com barras de aço CA-50 ou de aços especiais,
com maior resistência a tração, em geral com comprimentos de 2 a 6m e diâmetro
de 1” a 1 ¾”, também com pintura anticorrosiva. Entretanto, uma vez aplicados,
estes receberão cargas de tração-protensão, variando de 8 a 20 ton. de modo a
exercer sobre o maciço esforços de compressão quase que imediatos, inibindo de
forma rápida qualquer processo de movimentação, ruptura ou deformação do
maciço na frente de escavação. Sua utilização é indicada para maciços de classes

9
III e IV, que envolvem rochas sãs a medianamente alteradas, com grau de
fraturamento elevado [1].
Sua aplicação será sempre em conjunto, com os tirantes distribuídos
radialmente ao longo do trecho de túnel, em fileiras ou malhas geometricamente
demarcadas, normalmente na abóbada ou nas paredes do túnel, com espaçamentos
e afastamentos adequados a cada situação, criando um arco de maciço sob forte
compressão, de modo a conferir à seção escavada, por completo, uma maior
estabilidade, o chamado efeito “arco colaborante” (vide Figura 1).

Figura 1- Aplicação de chumbadores e/ou tirantes radiais em abóbada de túneis escavados em rocha, e
revestimento com concreto projetado de acordo com a classificação geomecânica dos maciços.
Retirado de Geraldi, 2011:pág 222, [1].

Para aplicação da protensão, os tirantes serão colocados nos furos já


preenchidos com cartuchos de resina epóxicas. Em geral, na extremidade do furo
serão colocados dois cartuchos de resina de pega-rápida (40 a 60 minutos, quando
a protensão deverá ser aplicada), sendo o restante do furo preenchido com
cartuchos de resina de pega-lenta. Esses tirantes têm sua extremidade rosqueada e
são equipados com placas de aço especiais, uma cunha para posicionamento e
duas porcas. A protensão será conferida apertando-se a primeira porca contra a
placa, utilizando-se ferramentas especiais, como chaves de impacto. A carga de
tração conferida ao tirante deverá ser checada depois com torquímetros [1].
Assim como nos chumbadores, os tirantes deverão ser aplicados em furos da
ordem de 1,5 vez o diâmetro da barra de aço. Também são fabricados os tirantes de
coquilha expansiva, que poderão receber cargas de protensão da mesma ordem dos
tirantes de resina. O baixo custo somado à facilidade de colocação dos tirantes de
resina, entretanto, tem sido decisivo para a adoção deste tipo de tirante na grande
maioria das obras de mineração subterrâneas.
Segundo Geraldi, 2011 [1]: “Para a utilização de tirantes, não poderá ser
empregada argamassa de cimento para sua incorporação ao maciço, uma vez que
iria ocorrer o completo aprisionamento da barra de aço, impossibilitando a execução
do seu giro para se aplicar a tração-protensão desejada”.
O atirantamento em maciços de classes III e IV será sempre sistemático,
acompanhando sempre os avanços da frente de escavação. Sua aplicação com
maior defasagem em relação ao avanço da frente poderá ser totalmente inofensiva,
visto que o maciço mais fraturado já pode ter entrado em estado de relaxamento,
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com desprendimento inicial de blocos e cunhas de rocha. Sua correta aplicação
proporcionará à escavação uma estabilidade quase que permanente; todavia,
sempre é aconselhável proceder a um revestimento final, com concreto projetado,
do trecho já reforçado com tirantes (vide figura 2) [1].

Figura 2- Aplicação de enfilagens tubulares e cambotas em abóbada de túneis escavados em rocha alterada;
revestimento com Concreto Projetado Reforçado com Fibras (CPRF). Fonte: Geraldi, 2011. Pág. 223 [1].

3.3. Tela metálica


A aplicação de telas metálicas é ainda muito utilizada em túneis escavados
em rocha, onde o maciço se encontra mais fraturado e, principalmente, em túneis
escavados em solo e rocha alterada. No geral, a superfície rochosa deverá ser limpa
e receber a projeção de uma primeira camada de concreto projetado de espessura
reduzida (<3cm) [1]. A tela metálica, geralmente eletrossoldada, será assim aplicada
com a utilização de chumbadores curtos, recebendo em seguida a projeção de
novas camadas de concreto projetado até a sua completa cobertura e incorporação
ao maciço.
Com o surgimento do Concreto Projetado Reforçado com Fibras (CPRF), a
tela metálica foi sendo substituída aos poucos nos túneis em rocha como suporte
primário, uma vez que sua utilização apresenta as seguintes desvantagens se
comparadas às do CPRF:
 Flexibilidade e rapidez
A projeção de concreto sobre a tela metálica é muito demorada e
complexa, visto que a colocação da tela exige tempo considerável,
paralisando praticamente as outras atividades na frente da escavação. Há de
se considerar, inclusive, que o maciço já poderá apresentar alguma relaxação
até que se termine o revestimento com tela e concreto projetado.
 Volumes de concreto
A projeção de concreto sobre a tela será sempre de maior volume que
o volume previsto em projeto, em função das maiores perdas por reflexão
provocadas pela própria estrutura da tela e por sua fixação contra o maciço.
Há de se considerar inclusive a necessidade de se cobrir totalmente com o
concreto projetado a área com tela aplicada. No geral, caso se trate de um
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maciço mais fraturado, a superfície rochosa será sempre mais irregular,
surgindo os overbreaks provocados nas escavações. Desse modo, maiores
volumes de concreto sem nenhuma função estrutural poderão ser necessários
para “tapar” estes buracos e cobrir totalmente a tela.
3.4. Concreto projetado
Com o advento do NATM, este suporte passou a ser mais utilizado nas obras
subterrâneas, uma vez que, após sua aplicação com altas pressões contra a
superfície rochosa, o concreto projetado atingirá resistências elevadas, da ordem de
até 3 kg/cm2 em no máximo duas horas, passando a atuar como suporte imediato à
seção em escavação ou escavada [1].
Essa propriedade fundamental aliada à evolução dos equipamentos e aditivos
diversos para a aplicação de concreto projetado fez desse revestimento primário o
principal recurso técnico para a abertura de trechos de maciços em condições
geomecânicas adversas, aumentando quase instantaneamente as condições de
auto suporte do maciço e “inibindo os processos de relaxação e deformação que
podem se instalar na frente recém-escavada” [1].
A mistura das fibras metálicas com o concreto projetado, convenientemente
aplicadas no contorno da seção escavada, substituiu, com vantagens, a utilização de
telas metálicas eletrossoldadas. Antes, as telas eram prefixadas no maciço mais
fraturado que, em seguida, receberia o revestimento de concreto projetado simples.
O Concreto Projetado Reforçado com Fibras Metálicas, prontamente aplicado contra
o maciço recém-escavado, atinge rapidamente resistências ainda mais altas (até 6
kg/cm2 em 3 horas) e se apresenta atualmente no principal artifício de tratamento
primário nas escavações de túneis em maciços muitos fraturados ou alterados, que
apresentam condições variadas de suporte e estabilidade [1].
Para a correta aplicação do concreto projetado, deverá ser feita
preliminarmente uma correta limpeza da superfície rochosa, com a completa
remoção de fragmentos de rocha soltos e uma criteriosa lavagem da área de
aplicação. De acordo com um maior ou menor grau de faturamento da rocha no local
de aplicação, a camada inicial de concreto irá variar de 5 a 10 cm de espessura [1].
Em áreas ou faces de maciço com uma maior presença de água subterrânea,
será necessário fazer drenagens e condução dos cursos de água, evitando-se
maiores perdas por reflexão de concreto, graças à baixa aderência que será
provocada pela presença de água [1].
OBS: Geraldi, 2011 [1], afirma que desde o ano 2000 as fibras plásticas de
polipropileno estão substituindo as fibras metálicas com os mesmos resultados com
relação à resistência do concreto projetado, já que as fibras metálicas causam
grande desgaste nos equipamentos de projeção de concreto e tubulações.
Com o desenvolvimento das modernas metodologias de escavação de túneis
e tratamento dos maciços, essas obras podem ser desenvolvidas hoje em dia
atingindo grandes avanços mensais, vencendo desafios de engenharia que, até
então, eram considerados quase impossíveis de serem superados [1].

4. Tratamentos para a escavação de túneis em maciços de classe V


As técnicas usualmente empregadas para tratamentos preliminares em
maciços de classe V são [2]:
4.1. Enfilagens tubulares injetadas
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Consistem na execução prévia de furos acompanhando o contorno da seção
da escavação do túnel, em toda sua extensão ou na abóbada. Nesses furos serão
colocados tubos de aço tipo Schedule de 2” a 2 ½”, que serão injetados com caldas
de cimento, formando um arco de proteção mais resistente englobando toda a seção
de escavação do túnel ou, no mínimo, seu teto.
Poderá ser necessário executar mais de um lance de enfilagens ou até
mesmo se empregar sistematicamente esse tratamento ao longo de todo o traçado
do túnel, em maciços com baixo grau de auto suporte.
Os furos terão de 3” a 4” de diâmetro, com profundidade de 10 a 12m, de
acordo com as condições locais do maciço. Uma vez concluídas as injeções,
procede-se o avanço gradual do túnel, com a colocação de cambotas metálicas e
projeção de concreto, até se chegar a 8 ou 10m de penetração, permanecendo um
trecho de 2m de enfilagens como uma proteção à frente, para a execução de mais
um lance de enfilagens, se for preciso [2].
4.2. Enfilagens mecânicas
Caracterizam-se na perfuração e colocação nos furos de barras de aço,
normalmente de aço CA-50 de 1”, que serão colocadas no maciço com resina
epóxica ou argamassa, seguindo o contorno da escavação. Normalmente essas
enfilagens são colocadas principalmente na escavação da abóboda, onde o maciço
se apresentar com baixas condições de estabilidade temporária [2].
4.3. Colunas de CCPH (Jet Grouting)
Trata-se do principal tratamento para escavações em maciços mais frágeis,
de baixa coesão, sem qualquer estabilidade temporária. De modo geral, esse
método consiste na “fabricação” de colunas justapostas de concreto no interior do
maciço a escavar, dispostas de modo a envolver a seção de escavação formando
um arco de proteção com grande resistência (vide figura 3) [3].
A fabricação das colunas é feita a partir da perfuração de um furo piloto com
diâmetro de 4” a 6”, utilizando uma perfuratriz rotativa especial. Atingida a
profundidade projetada, geralmente entre 8 e 12m, a coluna de perfuração passará a
atuar como ferramenta de injeção de calda de cimento com altas pressões que, no
seu giro e recuo, irá desintegrando o maciço misturando-o com cimento injetado,
formando a coluna em diâmetros de 0,4 até 1 m [2].
Sua limitação se encontra na menor ou maior resistência do material que
forma o maciço. Sendo um maciço mais consistente, mesmo que alterado, não será
possível a sua desagregação e formação da coluna, impedindo de o método ser
aplicado.

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Figura 3-Aplicação de Jet Grouting e escavação preliminar de sidedrifts para túneis em terrenos de baixa coesão;
aplicação posterior de cambotas metálicas e revestimento com concreto projetado, inclusive a construção de
arco invertido. Fonte Geraldi, 2011, Pág:237.

4.4. Pregagem da frente


A utilização sistemática do “jet grouting” como agulhamento da frente de
escavação será de alto custo e até inviável em alguns tipos de rochas mais
heterogêneos. Normalmente, visando uma maior estabilidade temporária da frente
de escavação, é utilizado o agulhamento ou pregagem da frente. Isso consiste na
perfuração, seguida da instalação de tubos de PVC rígido com diâmetro de 64 a
100mm, com até 15m de profundidade. Os furos são horizontais, dispostos em
malhas de perfuração adequadas à maior ou menor instabilidade da frente e serão
injetados com calda de cimento, promovendo o “enraizamento” ou pregagem da
frente [1].
Sem maiores riscos de ocorrência de abatimentos para o interior do túnel, a
pregagem irá facilitar e muito as escavações, a colocação de cambotas e a projeção
de concreto.
4.5. Injeções de consolidação do maciço
Estas irão proporcionar uma maior coesão intergranular, consolidar e até
impermeabilizar o maciço em tratamento, melhorando suas condições de auto
sustentação e estabilidade temporária para as futuras escavações subterrâneas [2].

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5. Conclusão
A realização de investigações geológica-geotécnica é cada vez mais fundamental
para concepção de projetos de escavações subterrâneas, tendo uma importância
impar para definições de parâmetros das metodologias a serem utilizadas para
execução destas obras. Além das investigações preliminares, o acompanhamento
técnico constante durante as escavações para otimização das atividades a serem
realizadas nos tratamentos e escavações do maciço a frente.
Quando temos o domínio do que foi projetado com o que está sendo observado
nas frentes de serviços, não tem o porquê de não executar um bom serviço e manter
a frente de escavação estável com segurança.

6. Referências
1. AGUIAR, J. C. N. M. Calibração de uma Classificação de Suportes de
Túneis com o Obtido em Modelo. Faculdade de Engenharia- Universidade
do Porto, Mestrado Integrado em Engenharia Civil, p. 5-42. Porto, Portugal,
2010.
2. ANDRADE, G.G Geotecnia Aplicada a Túneis Executados Pelos Métodos
NATM ou Similares, São Paulo: Apostila, 2011.
3. AZEVEDO, I. C. D.; MARQUES, E. A. G. Introdução a Mecânica das
Rochas. Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais: Editora UFV, p. 90-
105, 2006.
4. BIENIAWSKI Z.T. Engineering rock mass classification: A complete
manual for engineer and geologists in mining, civil, and petroleum
engineering /Ed: Wiley – Interscience 1989. Cáp 5 – 73 – 88.
5. FIORI, A. P. Carmignani, L. Fundamentos de mecânica dos solos e das
rochas: aplicações na estabilidade de taludes. Rev e ampl. Curitiba: ED.
UFPR, 2009. Págs: 395, 396, 398, 399.
6. FOSSEN, H..Geologia estrutural. Tradução Fábio R. D. de Andrade. São
Paulo: ED Oficina de Textos, 2012. p. 172-179.
7. GERALDI, J. L. P. O ABC das Escavações de Rocha. Rio de Janeiro: ED.
Interciência, 2011. Págs: 169-175, 182, 183, 193, 218-228, 235-246.
8. STEREONET. Disponível em: www.app.visiblegeology.com/stereonet.html.
Retirado em <07 de maio de 2016>.

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