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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE CURITIBA

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA

Discente: Tiago Eugênio Coneglian de Oliveira

1. INTRODUÇÃO
O presente relatório se refere à disciplina de Processos de investigação e instrumentação do
subsolo do curso de Pós-Graduação de Engenharia Geotécnica da FATEC-PR, sob a supervisão
do Prof. M.Sc. Felipe Souza Cruz. O relatório em questão apresenta uma descrição do ensaio
de campo SPT – Standard Penetration Test, o mais popular ensaio de investigação de subsolo,
tendo seu uso mais rotineiro em todo o mundo, visto ser um ensaio economicamente bem
acessível.
Segundo Ireland; Moretto; Vargas, 1970, “Nem o equipamento nem os procedimentos de
escavação foram completamente padronizados a nível internacional no ensaio SPT. As
diferenças existentes podem ser parcialmente justificadas pelo nível de desenvolvimento e
investimentos de cada país. Porém, mais importante são as adaptações das técnicas de
escavação às diferentes condições de subsolo”.

2. CONTEXTO GEOLÓGICO
A região do Quadrilátero Ferrífero (QF) cobre uma área de cerca de 7000 km2 no sudeste do
Brasil, porção centro-sul do estado de Minas Gerais (Dorr, 1969). Do ponto de vista geotectônico,
o QF está situado na porção sul de um dos núcleos cratônicos pré-cambrianos, o denominado
Cráton São Francisco (Figura 1) (Almeida, 1977; Inda et al., 1984; Teixeira e Figueiredo, 1994).
Os terrenos pré-cambrianos são compostos por núcleos cratônicos, englobando embasamentos
granito-gnáissicos arqueanos cobertos por sequências supracrustais sedimentares e/ou
vulcânicas arqueanas e proterozóicas. Esses foram remobilizados durante subsequentes
eventos e são bordejados por cinturões orogenéticos proterozóicos (Marshak e Alkmim, 1989).
Figura 1: Mapa geológico mostrando a inserção do Quadrilátero Ferrífero na porção
meridional do Cráton São Francisco. Fonte: Alkmin & Marshak (1998).

2. LITOESTRATIGRAFIA
A geologia do Quadrilátero Ferrífero é comumente dividida em três conjuntos de rochas principais
(Figura 2). As unidades litoestratigráficas que compõem o QF são definidos pela ocorrência de:
1) Terrenos Tonalíticos – Trondhjemíticos – Granodioríticos (TTG);
2) Greenstone belts arqueanos e intrusões paleoproterozóicas, caracterizados pelo Supergrupo
Rio das Velhas e faixas correlatas;
3) Unidades metassedimentares proterozóicas, representadas pelo Supergrupo Minas, Grupo
Itacolomi e o Supergrupo Espinhaço. As rochas da área encontram-se dobradas, falhadas e
foram metamorfisadas em graus variáveis (Dorr, 1969).
Figura 2: Mapa geológico simplificado do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: Alkmin & Marshak
(1998).

2.1 TERRENO TTG


O embasamento cristalino é constituído por domos de gnaisses bandados, com feições de
migmatização denominados de Complexos Bonfim, Caeté, Belo Horizonte, Bação e Santa
Bárbara (Herz, 1970).
Estes complexos são constituídos por rochas gnáissicas polideformadas de composição
trondhjemítica-tonalítica-granodiorítica (TTG) e, subordinadamente, por granitos, anfibolitos e
intrusões máficas a ultramáficas (Herz, 1970; Ladeira et al., 1983; Teixeira et al., 1996).
Análises geocronológicas em amostras de rochas de alguns destes complexos revelaram que a
formação ocorreu em intervalos entre 3380 a 2900 Ma (Teixeira et al., 1996).

2.3 SUPERGRUPO RIO DAS VELHAS


Dorr et al. (1969) denominam as rochas metavulcanossedimentares e metassedimentares
clásticas do QF de Supergrupo Rio das Velhas, subdividindo-a em dois grupos, Nova Lima na
base e Maquiné no topo, e caracterizaram a sequência do Supergrupo Rio das Velhas como um
greenstone belt.
O Grupo Nova Lima compreende uma unidade basal formada principalmente por rochas
vulcânicas toleiíticas-komatiíticas, associadas a rochas sedimentares químicas, unidade
intermediária vulcanoclástica, associada a vulcanismo félsico, e uma unidade superior formada
por sedimentos clásticos.
O Grupo Maquiné foi dividido nas formações Palmital, na base, e Casa Forte, no topo, sendo que
a primeira é constituída por quartzito e quartzo filito, e a última por quartzitos e conglomerados
(Dorr, 1969). É interpretado como sobreposto ao Grupo Nova Lima em contatos concordantes,
discordantes e às vezes gradacionais. Os contatos da sequência metavulcanossedimentar com
terrenos granito-gnáissicos são de natureza intrusiva ou por falhas. Schorscher (1978) descreve
lavas komatiíticas na base da sequência, denominando-a Grupo Quebra Osso.
Baltazar et al. (2007) propõe uma subdivisão estratigráfica a partir do agrupamento dos litotipos
que constituem os Grupos Nova Lima, Maquiné e Quebra Osso separando-os nas seguintes
associações de litofácies, da base para o topo: vulcânica máfica-ultramáfica, vulcanossedimentar
química, sedimentar clástico-química, vulcanoclástica, ressedimentada, costeira (ou litorânea) e
não marinha.

2.4 SUPERGRUPO MINAS


Derby (1906) foi o primeiro a definir o termo Supergrupo Minas para um grupo de rochas que
incluía quartzitos (itacolomitos), formações ferríferas xistosas ou bandadas, xistos e itabiritos.
Dorr et al. (1969) subdivide o Supergrupo Minas pelos grupos Caraça (clástico), Cauê (químico),
Piracicaba (clástico/químico). O Grupo Caraça é constituído por quartzitos e metaconglomerados
da Formação Moeda, que gradam para metapelitos da Formação Batatal, passando a uma
espessa sequência de formações ferríferas. Essas Formações Ferríferas Bandadas pertencem
à Formação Cauê que, juntamente com a Formação Gandarela, compõem o Grupo Itabira. Com
o aumento de estratos de formações ferríferas carbonáticas e metadolomitos estromatolíticos,
ocorre a transição para a Formação Gandarela. Sobre a Formação Gandarela, separados por
discordância erosiva local, estão depositados metapelitos com alguns estratos de quartzitos
intercalados, além de ocasionais metadolomitos localizados das Formações Fecho do Funil e
quartzitos ferrosos da Formação Cercadinho, ambos pertencentes ao Grupo Piracicaba.
O Grupo Sabará é uma sequência de metaturbiditos, metatufos, metavulcanoclásticas,
conglomerados e diamictitos. O Supergrupo Minas sobrepõe o greenstone belt Rio das Velhas
ao longo de uma discordância angular e erosiva, e representa uma sequência de margem
continental.

2.5 GRUPO ITACOLOMI


O Grupo Itacolomi é representado por sedimentos clásticos imaturos (Dorr, 1969). Sobrepõe o
Supergrupo Minas por uma discordância angular. Contém zircão com idade mínima de 2060 Ma
(LA-ICPMS Pb-Pb in zircão; Machado et al., 1996).

2.6 SUPERGRUPO ESPINHAÇO


O Supergrupo Espinhaço cobre uma pequena área no QF, teve seu desenvolvimento via
processos de rifteamento no Estateriano (Brito-Neves et al., 1995), que levou à deposição de
espessa sequência de sedimentos clásticos continentais e marinhos entre 1840 a 1714 Ma (U-
Pb; Machado et al., 1989). A Figura 3 mostra os principais eventos e idades geológicas no
Quadrilátero Ferrífero.

Figura 3: Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero com os principais eventos e idades


geológicas (Rosiére et al., 2008).

3. ASPECTOS ECONÔMICOS
A mineração de ouro no Brasil começou em meados do século XVII, aproximadamente no ano
de 1690, com extração principalmente no estado de Minas Gerais. A produção mundial de ouro
no ano de 2016 foi em cerca de 2.860 toneladas segundo a USGS (2017), sendo a China o maior
produtor com cerca de 450 toneladas. As três maiores empresas produtoras em Minas Gerais
são: AngloGold Ashanti, Kinross Gold e Jaguar Mining (World Gold Council. 2017).
O Anuário Mineral do DNPM de 2016 aponta que o Brasil produziu cerca de 76,9 t de ouro
primário. O estado de Minas Gerais detém a maior produção com 31,35 t, seguido pelo Pará
(19,75 t), Goiás (11 t), Bahia (5,7 t), Amapá (4,03 t), Mato Grosso (3,9 t), e Maranhão (7,6 t)
(Lobato et. al, 2018). No mapa abaixo (Figura 4) estão as minas, depósitos e escavações que
ocorreram até o ano de 2018 no Quadrilátero Ferrífero, grande parte dessas operações se
encontram ativas até o presente ano.
Figura 4: Mapa geológico simplificado do Quadrilátero Ferrífero com inserção das minas,
depósitos e escavações da região (Lobato et al., 2018).
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alkmim, F.F., Marshak, S., 1998. Transamazonian orogeny in the Southern São Francisco Craton
region, Minas Gerais, Brazil: evidence for Paleoproterozoic collision and collapse in Quadrilátero
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Almeida, F.F.M., 1977. O cráton do São Francisco. Revista Brasileira de Geociências 7, 349-364.

Baltazar, O. F., Zucchetti, M., 2007. Lithofacies associations and structural evolution of the
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Derby, A. O. 1906. The Serra do Espinhaço, Brazil. Journal of Geology 14, 374-401.
Dorr II J. V. N., Gair J. E., Pormenore J. B., Rynearson G. A. 1957. Revisão Estratigráfica
Precambriana do Quadrilátero Ferrífero. Div.Fom.Prod.Min.,Avulso, 81, 31p.

Dorr II J. V. N.1969. Physiographic, Stratigraphic and Structural Development of the Quadrilátero


Ferrífero, Minas Gerais, Brazil. U.S.G.S. Professional Paper, 641(A), 110p.

Herz, N., 1970. Gneissic and igneous rocks of the Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brazil.
United States Geological Survey Professional Paper 648-B. 58pp.

Ladeira, E.A., Roeser, H.M.P., Tobschal, H.J., 1983. Evolução petrogenética do Cinturão de
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Geologia de Minas Gerais. Sociedade Brasileira de Geologia, Belo Horizonte, pp. 149–165.

Lobato, L.M, Costa, M.A, Recursos Minerais de Minas Gerais – RMMG, 2016.

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Schobbenhaus, C., Campos, D. A., Derze, G. R. & Asmus, H. E., 1984 (Rditors). Geologia do
Brasil – Texto explicativo do mapa geológico do Brasil e área oceânica adjacente, MME /DNPM,
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das Velhas, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, Instituto de
Geociências, Departamento de Geologia, Universidade de Minas Gerais, 207p.

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