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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
GEOLOGIA ESTRUTURAL I (GEO0306)

RELATÓRIO DE CAMPO

AUTORES:

FILIPE FREIRE ALENCAR

MARCELO GUSTAVO SILVA SILVA

MATHEUS DIAS OLIVEIRA

RENATO DE LIMA CARDOSO JUNIOR

NATAL/RN
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

GEOLOGIA ESTRUTURAL I (GEO0306)

RELATÓRIO DE CAMPO

Relatório de excursão de campo entregue


aos orientadores em 14 de junho de 2019,
em cumprimento às exigências legais como
pré-requisito parcial à obtenção da 3ª nota
da disciplina de Geologia Estrutural I.

ORIENTADORES:
PROF. DR. ALEX FRANCISO ANTUNES

PROF. DR. EMANUEL FERRAZ JARDIM DE SÁ

PROF. DR. FERNANDO CÉSAR ALVES DA SILVA

NATAL/RN
2019
Sumário
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
2. O ARCABOUÇO GEOLÓGICO DA REGIÃO DO SERIDÓ .............................................. 2
2.1 Complexo Caicó ......................................................................................................... 2
2.2 Grupo Seridó .............................................................................................................. 2
2.3 Granitóides Brasilianos ............................................................................................. 2
2.4 Tectônica e metamorfismo ........................................................................................ 3
3. DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TIPOS DE ESTRUTURAS ............................................ 7
3.1 Considerações iniciais sobre a cronologia das estruturas .................................... 7
3.2 Fabric, Zonas de Cisalhamento e Estruturas em Granitóides Brasilianos e
rochas associadas ........................................................................................................... 7
3.3 Deformação Polifásica no Grupo Seridó e no Complexo Caicó ........................... 10
3.4 Estruturas “Tardias” nos litotipos do Embasamento Pré-Cambriano ................. 15
4. CRONOLOGIA RELATIVA DE UNIDADES ESTRATIGRÁFICAS, ESTRUTURAS E
INTRUSÕES ....................................................................................................................... 17
5. REGIMES DE DEFORMAÇÃO E MODELO DA MACROESTRUTURA ......................... 21
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 22
Referências bibliográficas ................................................................................................ 23
1

1. INTRODUÇÃO

A análise estrutural de terrenos cristalinos é parte vital da interpretação


estratigráfica dessas regiões, bem como etapa básica de estudos de prospecção e
beneficiamento mineral. A excursão realizada nos dias 03 – 04 de Maio de 2019, pela
disciplina de Geologia Estrutural I sob a supervisão dos professores doutores Alex
Francisco Antunes, Emanuel Ferraz Jardim de Sá e Fernando César Alves da Silva
teve como objetivo complementar o aprendizado desenvolvido na disciplina a partir
de perfis realizados ao longo da mesorregião Central Potiguar.
Para isso, foram visitados sete afloramentos ao longo da BR-304 (Figura
1.1), entre os municípios de Caiçara do Rio dos Ventos e Açu no estado do Rio Grande
do Norte, com o objetivo de coletar parâmetros estruturais e conhecer a
litoestratigrafia regional.

Figura 1.1: Mapa de localização e pontos amostrados durante a excursão.


2

2. O ARCABOUÇO GEOLÓGICO DA REGIÃO DO SERIDÓ

2.1 Complexo Caicó


De acordo com Jardim de Sá (1994), este complexo atua como
embasamento da Faixa Seridó abrangendo os estados do Rio Grande do Norte e
Paraíba. Essa unidade é composta de rochas de idade arqueana e
paleoproterozoicas, principalmente ortognaisses TTG, paragnaisses e diques e
soleiras de anfibolitos. Em campo, o contato entre esse Complexo e o Grupo Seridó
é alóctone, se desenvolvendo ao longo de zonas de cisalhamento, mas contato tipo
como deposicional é observado em outras partes da região.
Segundo Hackspacher et al. (1990), Legrand et. al. (1991), Souza et. al.
(2007) e Dantas et al. (2004), datações realizadas no complexo por U-Pb em zircões
revelam idade Orosiriana-Riaciana para as metaplutônicas.

2.2 Grupo Seridó


Essa unidade corresponde a rochas metasupracrustais de idade
neoproterozoica que recobrem o Complexo Caicó. É composto pelos mármores,
calciossilicáticas e paragnaisses da Formação Jucurutu, quartzitos e
metaconglomerados da Formação Equador e filitos e micaxistos da Formação Seridó,
em um empilhamento estratigráfico propostas por Jardim de Sá (1994), mantendo
proposições feitas por Jardim de Sá (1978a,1984c) e Jardim de Sá e Salim (1980).
Estudos realizados por Van Schmus el al. (2003), evidenciam através do
método U-Pb SHRIMP um período de sedimentação entre, aproximadamente, 650 e
628 Ma (Ediacarano).

2.3 Granitóides Brasilianos


Em toda a Província Borborema, são observados granitóides sin- a pós-
cinemáticos de idade ediacarana a cambriana, classificados por Jardim de Sá et. al.
3

(1981), em três subtipos: Gx (rochas básicas e intermediárias), G3 ( granitos e


granodioritos porfiríticos ou equigranulares) e G4 (leucogranitos tardios).

2.4 Tectônica e metamorfismo


Com base nas observações de estilos estruturais realizadas em campo,
embasadas pela pesquisa bibliográfica, foi possível diferenciar quatro eventos
deformacionais na região (Figura 2.1); os três primeiros são acompanhados por um
metamorfismo notável, enquanto que o último é identificado somente por estruturas
frágeis, de crosta rasa.

Figura 2.1: Afloramento de paragnaisse na margem da BR-304 (Assu - RN) exibindo estruturas
de três eventos deformacionais diferentes (bandamento metamórfico associado a D₁, dobras
intrafoliais, por vezes transpostas, geradas durante D₂, e dobras com plano axial verticalizado
e vergência oposta a S₂, representando D₃). O plano da foto tem direção aproximadamente E-
W, com o leste à direita.

2.4.1 Evento D₁/M₁


Essa deformação é caracterizada pelo desenvolvimento de uma foliação
penetrativa de alto strain (S₁), paralela ao bandamento composicional (S₀) dos
paragnaisses do Complexo Caicó (Jardim de Sá, 1994). Essa deformação afeta todos
os litotipos dessa unidade, os quais podem apresentar idade anterior (como as
metasupracrustais) ou contemporânea a esse evento (como metaplutônicas
encontradas na região).
4

Hackspacher et. al. (1995, apud. Costa e Dantas, 2018) atribuíram para
esse evento uma idade orosiriana (1,9 a 2,0 Ga); concordando com o que foi
constatado em campo.

Quanto ao metamorfismo, M₁ está caracterizado pela formação do


bandamento composicional máfico-félsico em rochas do embasamento, por vezes
acompanhado da migmatização dessas, a exemplo das figuras 3.30a e 3.30b. Isso
mostra que M₁ foi um evento de metamorfismo regional de alto grau, na presença de
água, que atingiu a fácies anfibolito superior e localmente culminou com a anatexia
das rochas.

Figura 2.2:(a) - Bandamento composicional paralelo a S₁ em ortognaisses do Complexo Caicó.


(b) - Ortognaisse migmatizado do Complexo Arábia. Fonte: Costa e Dantas (2018).

2.4.2 Evento D₂/M₂

O segundo evento deformacional/metamórfico está registrado em quase


todas as rochas visitadas em campo, sendo inclusive o primeiro evento identificado
nos micaxistos do Grupo Seridó. Trata-se, portanto, de um fenômeno de abrangência
regional e idade neoproterozoica (brasiliana).

Seu estilo deformacional é marcado por dobras apertadas a isoclinais, por


vezes crenuladas (Medeiros, 2008) ou sem raíz (especialmente em exsudados de
quartzo), originalmente recumbentes e com vergência para NW e NNW. Esses
dobramentos geraram uma foliação de plano axial S₂, paralela ao acamamento dos
micaxistos e semiparalela à foliação S₁ do complexo de embasamento, marcada por
uma paragênese nas fácies anfibolito inferior a superior e com formação localizada de
5

rochas blastomiloníticas com trama L penetrativa de rake alto (Medeiros e Dantas,


2015).

Tais estruturas, associadas com fenocristais rotacionados e estruturas S-C


descritos pela literatura (Medeiros e Dantas, 2015; Oliveira e Cunha, 2018; Jardim de
Sá, 1994) indicam uma tectônica tangencial com transporte para NW e NNW, onde o
contato do Grupo Seridó com o embasamento atuou como uma zona de detachment
acomodando zonas de cisalhamento contracionais que, graças à fricção, levaram à
migmatização do Complexo Caicó (Jardim de Sá, 1994).

Em termos de magmatismo, esse evento foi acompanhado pela intrusão


de anfibolitos finos (metabasaltos/metadiabásios) pré-tectônicos e diques
pegmatíticos sin-tectônicos, como observado em campo na região de Angicos.

2.4.3 Evento D₃/M₃

Finalmente, o último e mais difundido evento tectono-metamórfico na área


de estudo, identificado em todos os afloramentos, é caracterizado não só por
dobramentos F₃ abertos a apertados com plano axial subverticalizado e vergência
para SE (oposta a F₂), mas também pelo estabelecimento de diversas zonas de
cisalhamento com cinemática predominantemente inversa-dextral ou apenas dextral,
indicando uma deformação transpressiva por cisalhamento simples regional causada
pelos “pulsos” orogênicos finais do ciclo brasiliano (Brito Neves et. al., 2014).

O fabric associado a esse evento é uma foliação S₃ de mergulho forte para


NW acompanhada de uma lineação de estiramento de baixo rake e mergulho para N.
Tal foliação marca ambos plano axial de F₃, frequentemente acompanhado de
clivagem ou crenulação, e as estruturas S-C desenvolvidas nas zonas de
cisalhamento.

Acompanhando esse evento, é atestada em campo (e reforçada pela


literatura) a ocorrência de magmatismo sin- a pós- tectônico na forma de batólitos e
diques graníticos de ocorrência regional (Figura 2.3):
6

Figura 2.3 : Disposição e idades do magmatismo brasiliano na Província Borborema. Fonte:


Araújo et. al. (2013).

Por fim, o metamorfismo M₃ é multifacetado, envolvendo desde um


metamorfismo regional em fácies anfibolito superior, com forte lineação mineral e
retromorfose para xisto verde, até um metamorfismo dinâmico associado a zonas de
cisalhamento, representado por faixas miloníticas de até 200m de espessura (Costa
e Dantas, 2018). Isso sem mencionar o metamorfismo de contato que as rochas do
Grupo Seridó sofreram próximas às intrusões sin- a pós- tectônicas, com blastese de
estaurolita, fibrolita e outros minerais de alta temperatura em auréolas metamórficas.

D₃ também apresenta uma fase tardia de deformação predominantemente


frágil em crosta média, com o desenvolvimento de estruturas frágeis associadas a
paragêneses de baixo grau metamórfico e cinemática predominantemente
transcorrente. Tal fase foi correlacionada a uma etapa de exumação/esfriamento
crustal pós-orogênica.
7

3. DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TIPOS DE ESTRUTURAS

3.1 Considerações iniciais sobre a cronologia das estruturas


A cronologia do perfil da excursão é dividida em três eventos principais: D1,
D2 e D3. Em relação a D1, caracteriza-se por um bandamento metamórfico distinto,
possível observar apenas no gnaisse do Complexo Caicó, enquanto observa-se
estruturas de minidobras recumbentes,com foliação de ângulo suave, referentes ao
evento D2 na Formação Seridó e no Gnaisse Caicó. Por fim, no evento D3 foram
produzidas dobras com plano axial de mergulho forte, estrutura de interferência em
laço, diques com textura pegmatítica e porfiroclastos sigmoidais, afetando também o
Granito Barcelona, além das unidades citadas anteriormente.

3.2 Fabric, Zonas de Cisalhamento e Estruturas em Granitóides Brasilianos e


rochas associadas
Destacando estruturas, fabric e regime deformacionais distintos, o
afloramento 1 está associado ao Granitóide Brasiliano, enquanto as estruturas e
deformações associadas a Zona de Cisalhamento Santa Mônica estão presentes no
afloramento 6.

Característico por sua geometria em formato de chifre “en cornue” (figura


3.1), o pluton trata-se de um granito porfirítico, com mineralogia básica composta por
quartzo, k-feldspato, biotita e anfibólio. Os cristais de K-feldspato apresentam-se
orientados exibindo sombras de pressão e caudas de recristalização, as biotitas
também apresentam uma orientação, já o quartzo mostra-se levemente estirado.
8

Figura 3.1 : Mapa geológico do plúton Granítico e áreas adjacentes adjacentes, destacando o
formato “en cornue” (Cavalcante, 2015).

A rocha exibe uma predominância de folheação em detrimento de


estruturas lineares, caracterizando assim uma trama ou fabric do tipo SL (Figura 3.2).
A feições lineares no afloramento é pouco visível, porém Lx apresenta uma orientação
NE-SW, com um rake (aguardando segundo, ou alguém que tenha o valor do rake)
de mergulho baixo, onde a sua foliação S apresenta um mergulho relativamente
moderado.

Figura 3.2: Bloco Esquemático do Afloramento 1, demonstrando o fabric SL do granito


Barcelona.
9

O plúton apresenta uma reologia característica, é perceptível uma evolução


reológica do material magmático, onde há uma notável variação de comportamento
viscoso até visco-plástico. Os fenocristais de K-feldspato não apresentam uma cauda
de recristalização, mas é perceptível ao longo do corpo uma orientação característica
com forma magmática preservada, indicando que essa orientação foi adquirida junto
ao fluxo magmático.

Posteriormente, em um período de regime plástico predominante, com


temperaturas de iguais ou superiores 450°, há uma notável rotação dos fenocristais
de K-feldspatos, onde também fica explícito um padrão de deformação não coaxial
destacada pelo “entelhamento” do mesmo (figura 3.3). Nota-se também que há a
presença de estruturas de caudas de recristalização, indicando uma deformação em
regime sólido, e sombra de pressão em clastos fortemente afetados por essa rotação,
onde é mais perceptível em clastos com forma sigmoidal do tipo σ, ou rotacionais do
tipo δ e simétrico do tipo φ, essas estruturas indica um regime de cisalhamento
simples/geral com direção predominante dextral, também havendo movimento
sinistral (fig xx).

Figura 3.3: Clastos de k-feldspato exibindo entalhamento e caudas de recristalização e/ou


sombras de pressão, caracterizando a cinemática dextral da zona de cisalhamento Picuí-João
Câmara que está relacionada ao Granito Barcelona.

Nota-se um faturamento ao longo do afloramento, caracterizado por micro


juntas de distensão nos cristais de K-feldspatos, inferindo uma súbita diminuição da
temperatura, ou seja, menores que 450°, caracterizando um regime rúptil/frágil.
10

A presença de fraturas ou juntas distensionais como orientações variadas,


preenchidas por veios de quartzo ou diques de pegmatitos. Por fim foi constatado nos
diques de pegmatitos sets de fraturas perpendiculares umas das outras indicando
estrutura do tipo tablete de chocolate (figura 3.4).

Figura 3.4: Sets de Fraturas perpendiculares nos veios de pegmatitos (estrutura tablete de
chocolate).

Na região da Zona de Cisalhamento Santa Mônica são observados


ultramilonitos do tipo S>L caracterizados por seus porfiroclastos de k-feldspato com
forma sigmoidal e cinemática inversa dextral, além disso Ld é de difícil visualização e
possui rake moderado. O alto strain na região é inferido devido as foliações S e C
estarem paralelizadas entre si e também através dos ribbons de quartzo e caudas de
comprimento centimétrico de alguns porfiroclastos.

3.3 Deformação Polifásica no Grupo Seridó e no Complexo Caicó


3.3.1 Grupo Seridó (afls. 2 e 3)
As rochas referentes a esta litologia são os Micaxistos da Formação Seridó
que foram observadas em cortes de estrada e lajedo.
11

É constatado o acamamento S0, devido a origem sedimentar do protólito,


através da alternância composicional (colorações claras e escuras) de bandas
quartzosas e micáceas, de espessura fina e contínua. Este acamamento foi afetado
pelo evento deformacional D2, produzindo dobras F2 que são identificadas por meio
de veios dobrados intrafoliais com geometria recumbente paralelas a S 0 (Figura 3.5).
Além disso, a xistosidade (S2) possui biotitas e veios de quartzo orientados.

Figura 3.5: Dobra recumbente (F2) exibindo foliação de ângulo suave (S2), cuja a disposição a
torna paralela ao acamamento (S0).

O evento D3 afetou as estruturas geradas em D2 produzindo padrão de


interferência do tipo coaxial (Figura 3.6). O plano axial das dobras F3 demonstra
uma fissilidade gerada por crenulação, ficando expostas devido a erosão diferencial,
e também apresentam veios boudinados naquelas de dimensão métrica. Estas
possuem vergência para leste, com os planos axiais mergulhando forte (sub-
verticalizados) para oeste, e assim, permitem inferir macrodobras. De acordo com a
classificação de Ramsay, elas são classificadas como sendo do tipo 1B ou 1C, essa
diferença ocorre devido ao mecanismo formador, visto que na primeira ocorreu
flexura ortogonal, enquanto na segunda se deu deslizamento flexural e alta
temperatura.
12

Figura 3.6: Padrão de interferência coaxial, característico do evento D3, observado em rocha
da Formação Seridó.

Foi observada uma zona de alto strain, cuja assembléia mineralógica


composta por andaluzita, estaurolita (Figura 3.7) e cordierita indicam altas
temperaturas. Localmente, D3 verticalizou as foliações S2 e S3 , as tornando paralelas.
Nas zonas de baixo strain são identificadas dobras apertadas menos compactadas,
possivelmente S1 e S0.

Figura 3.7: Imagem exibindo “corredores” de estaurolita (mineral de cor castanho), indicativo
de altas temperaturas (alto strain).
13

Em relação ao Granito Barcelona, a foliação S3 no micaxisto possui


mergulho mais forte, como mostrado nas projeções de Schimdt-Lambert na imagem
(figura 3.8).

Figura 3.8: Projeção estereográfica comparando as atitudes das foliações S3 e a lineação L3X
do Granito Barcelona e do Micaxisto Seridó.

3.3.2 Complexo Caicó (afls. 4 e 5)

Esta unidade é dividida em duas litologias: paragnaisse e ortognaisse.

Inicialmente, no paragnaisse, é constatado o acamamento S 0, em razão de


camadas persistentes em continuidade e espessura centimétrica. O evento D1
originou o bandamento metamórfico, caracterizado por sua foliação penetrativa S1,
além de veios pegmatíticos sin-cinemáticos.

O evento D2 gerou dobras F2, cujo plano axial mergulha suavemente para
leste e veios boudinados simétricos (gerados por estiramento ao longo de y) e
assimétricos (gerados por mecanismo de deslizamento flexural e estrutura linear
marcada por biotita), indicando sua gênese em alta temperatura. No ortognaisse
ocorreram anfibolitos, de origem pós-D1, dobrados com geometria isoclinal, indicando
dobras F2.

Durante o evento D3 foi produzido padrão de interferência do tipo coaxial


(Figura 3.9) e dobras F3 apertadas, nas quais o plano axial mergulha fortemente para
14

oeste, podendo ser inferida uma macrodobra sinforme para oeste.e alojamento de
diques pegmatíticos de extensão métrica paralelos ao plano axial desta dobras F3.
Também podem ser vistas dobras incongruentes, gerando mais um indicativo de
distintas eventos deformacionais.

Figura 3.9: Padrão de interferência em laço ocasionado pelo evento D3 .

No ortognaisse, além dos eventos deformacionais supracitados, é notável


uma zona milonitizada no pegmatito, originando um protomilonito. Ademais, é notável
a existência de duas gerações de anfibolitos (ANF1 e ANF2), nos quais, verifica-se
que ANF1 possui idade pré-D1, pois ele possui a foliação metamórfica do gnaisse,
enquanto ANF2 trunca S1 e é dobrado durante o evento D2, atribuindo-se idade pré
a sin-D2, por fim, o dique granítico com textura pegmatítica (G2) é caracterizado como
sin-D2. Esse contexto está exposto na figura abaixo:
15

Figura 3.10: A imagem mostra duas gerações de anfibolitos (ANF1 e ANF2) e um metagranito
pegmatítico G2 inseridos no ortognaisse Caicó

3.4 Estruturas “Tardias” nos litotipos do Embasamento Pré-Cambriano


Durante o campo, foram observadas em quase todos os afloramentos
estruturas e fabrics de regime semidúctil a frágil, incluindo fraturas de cisalhamento e
juntas de distensão preenchidas por veios graníticos no granito Barcelona, falhas
oblíquas (componente de mergulho normal) a transcorrentes no Micaxisto Seridó e
Complexo Caicó (Figura 3.11), e lineações de estiramento tardias de baixo rake na
zona de cisalhamento transpressiva do afloramento 6.

Figura 3.11: Slickenfibers com rake subhorizontal em falha transcorrente sinistral.


16

A análise de pares conjugados no granito Barcelona (Figura 3.12) e nos


afloramentos 5 e 7 (Figuras 3.13) mostram que o elipsóide de strain responsável pela
formação dessas estruturas tem a mesma orientação que aquele imposto pelo evento
D₃. Ela também mostra que tais fraturas são muito possivelmente planos reativados
durante essa fase frágil, devido à obliquidade entre as slickenlines e a linha de
intersecção dos planos, provavelmente antigas fraturas de Riedel (R’ e Y)
reaproveitadas como pares conjugados.

Figura 3.12: Fraturas conjugadas no granito Barcelona. Note que o eixo Z por elas definido é
subparalelo ao Z definido pela foliação no granito.
17

Figura 3.13: Diagramas de Schimdt-Lambert mostrando os eixos de strain dos pares


conjugados referentes aos afloramentos 5 (A) e 7 (B).

Tais estruturas, quando apresentam blastese, são marcadas por uma


paragênese de baixo grau metamórfico (fácies xisto verde inferior a média), com
presença de sericita e clorita (± sílex) nos planos de fratura e marcando a lineação. O
que indica que foram geradas em nível crustal baixo (pressuposto corroborado pela
orientação quase vertical do eixo Y nos elipsóides de strain associados), com
profundidades na ordem de 3-4 km e temperaturas em torno de 300°C (limite de
plasticidade do quartzo).

4. CRONOLOGIA RELATIVA DE UNIDADES ESTRATIGRÁFICAS, ESTRUTURAS


E INTRUSÕES
A foliação S₁ ocorre apenas nos gnaisses dos afloramentos 4 e 5 e em
parte dos anfibolitos desse último, indicando que essas rochas são as mais antigas
da região, e que há um intervalo de tempo significativo entre elas e os demais litotipos.

Consultando a literatura, o Complexo Caicó é tomado como de idade


paleoproterozoica (Souza et. al., 2007), o que coloca a idade mínima de D₁ nesta era,
e a idade máxima no Neoproterozoico, antes da deposição do Grupo Seridó em c.a.
650 Ma (Van Schmus et. al., 2003). Entretanto, a maioria dos trabalhos na região
18

colocam esse evento durante o Riaciano-Orosiano, associado à colagem


Transamazônica-Eburneana.

Não obstante S₁ ser de alto grau metamórfico, a deposição das


supracrustais do Grupo Seridó diretamente acima do Complexo Caicó indica que
essas rochas foram exumadas após D₁, saindo da crosta profunda para a rasa.

Entretanto, elas foram soterradas novamente durante D₂, juntamente com


as rochas do Grupo Seridó e a segunda geração de anfibolitos, como indicado pelas
estruturas dúcteis (dobras recumbentes, veios de quartzo e granito pegmatítico) e a
paragênese metamórfica associada a essa fase. O estilo estrutural desse evento
indica uma tectônica tangencial contracional com transporte para NW e NNW. Sua
idade relativa indica uma idade ediacarana, associada à colagem Brasiliana-Pan
Africana.

Finalmente, os padrões de interferência coaxial e a rotação de estruturas


formadas em D₂ (como a zona de cisalhamento Santa Mônica, que transitou de
contracional para transpressiva e finamente transcorrente devido talvez à rotação do
plano de cisalhamento) indica que D₂ e D₃ são eventos de deformação progressiva,
associados à mesma orogênese e de idade próxima. Entretanto, a presença, no
granito Barcelona, de S₃ apenas indica que houve um intervalo de tempo considerável
entre elas.

D₃, na sua fase inicial de alto strain, teve caráter altamente invasivo,
rotacionando, truncando e muitas vezes apagando as estruturas anteriores, o que
indica que tal evento foi de extremamente alto strain, e de nível crustal mais profundo
que D₂. A paragênese de alta temperatura associada a essa fase corrobora essa ideia,
e também indica que o magmatismo regional G₃ teve um papel importante em
aumentar o fluxo de calor na crosta da região, e também o gradiente geotérmico. Foi
nessa fase, portanto, que ambos os picos deformacionais e metamórficos foram
alcançados, marcando a lineação de estiramento mais penetrativa na região (Figura
4.1):
19

Figura 4.1: Mapa geológico regional com as elipsóides de strain associadas à fase principal de
D₃ (cima) e à fase de exumação (embaixo). A orientação das elipses foram baseadas em dados
de L₃ₓ e pares conjugados de falhas. Informação geológica obtida de Angelim et. al. (2006),
adaptada com informações obtidas em campo.

Entretanto, D₃ termina com a exumação dos terrenos deformados,


marcado em sua fase final pelas estruturas frágeis vistas em campo e pelo
magmatismo pós-tectônico sincrônico a elas. É possível que nem todas as fraturas
vistas em campo tenham sido formadas nessa época, visto que fraturas secas no
micaxisto (Figura 4.2) podem ter sido geradas muito mais tarde, durante a abertura
do rifte Potiguar, mas faltam dados para verificar essa ambiguidade.
20

Figura 4.2: Fratura de cisalhamento normal no Micaxisto Seridó, de idade duvidosa.

A cronologia da região está resumida na figura 4.3:

Figura 4.3: Coluna litoestratigráfica para as unidades vistas em campo, acompanhada da linha
de tempo estrutural e detalhamento das estruturas.
21

5. REGIMES DE DEFORMAÇÃO E MODELO DA MACROESTRUTURA


Objetivando a contextualização dos regimes deformacionais que abrangem
a região abordada pela excursão foram analisadas, interpretadas e observadas
correlações cronoestratigráficas a partir dos dados obtidos em campo para sua
posterior reconstituição.

É possível notar no afloramento 1 a seção de movimento contendo os eixos


de strain σ1/Z (E-W) e σ3/X (N-S) sub-horizontais com σ2/Y sub-vertical. Com base na
relação de baixo ângulo apresentada pelos planos S e C, cerca de 30°, a presença
de fenocristais com entelhamento evidenciando rotação apresentando movimentação
dextral produzida por cisalhamento geral, indicando que o Granito Barcelona teria sido
submetido a um regime transpressivo dextral. As evidências macroscópicas podem
ser complementadas pelas feições de caldas de recristalização e sombra de pressão,
indicando cristalização cinemática dentro das condições de PFC (Pre Full
Crystallization) possivelmente em porções rasas da crosta sob baixas PT.

Seguindo a sequência, os afloramentos nas unidades que representam


micaxistos da Formação Seridó e o Complexo Caicó, apresentam mesmas
orientações cinemáticas, onde o regime está imposto pelo último evento
deformacional D3 que afeta a região. No afloramento 2, o plano axial das dobras exibe
mergulho moderado para W, e a partir da orientação da sillimanita é identificado o
estiramento N-S, além disso, em Y é evidenciado o estiramento no plano axial das
dobras F3 por meio da boudinagem de veios de quartzo. No afloramentos
subsequentes a tendência é um mergulho forte, quase verticalizado, a moderado da
foliação S3 para E, como nos afloramentos 3, 4 e 5, sendo possível interpretar como
uma macroestrutura em leque ou flor positiva (Figura 5.1). No afloramento 6, trata-se
de uma zona de alto strain, relacionada a Zona de Cisalhamento Santa Mônica, com
eixos de strain correspondentes aos citados anteriormente.
22

Figura 5.1: Bloco diagrama simplificado do trajeto Riachuelo - Lajes/RN, destacando


macroestrutura em flor positiva.

No afloramento 7, presente no Complexo Caicó, são observadas falhas de


rejeito predominantemente direcional, sendo classificadas como transcorrentes, nos
quais o plano de direção NE-SW apresentam cinemática dextral e os NW-SE
cinemática sinistral, estando associados a condições de crosta rasa. A análise do
strain corrobora com a inferida durante D3, sendo um regime de predominante
cisalhamento puro transpressivo.

6. CONCLUSÃO
Utilizando os dados obtidos em campo, foi possível caracterizar vários eventos
tectono-metamórficos diferentes na Faixa Seridó, mesmo utilizando-se de poucos
afloramentos estratégicos. Isso mostra a importância da análise estrutural para
estudos geológicos, e o poder que essas informações possuem na elaboração de um
panorama interpretativo. Também é evidente a importância de, no pré-campo,
selecionar afloramentos-chaves para visitar, que ofereçam o máximo de informações
tanto gerais como específicas.

A atividade de campo, portanto, é parte vital da disciplina de Geologia


Estrutural, sem o qual o conteúdo ministrado em aula não é totalmente aproveitado.
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