Você está na página 1de 105

Universidade de Aveiro Departamento de Geociências

2004

Estêvão Inácio Caracterização Petrográfica e Geoquímica dos


Sumburane Granitóides de Manica
Universidade de Aveiro Departamento de Geociências
2004

Estêvão Inácio Caracterização Petrográfica e Geoquímica dos


Sumburane Granitóides de Manica

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos


requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Geoquímica,
realizada sob a orientação científica da Doutora Maria do Rosário Azevedo e
do Doutor José Francisco dos Santos, Professores Auxiliares do
Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro.
O júri

Presidente Professor Doutor Eduardo Anselmo Ferreira da Silva


Professor Associado com Agregação da Universidade de Aveiro

Professora Doutora Maria Elisa Preto Gomes


Professora Associada da Universidade de Tràs-os Montes e Alto Douro

Professor Doutor José Francisco Horta Pacheco dos Santos


Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Professora Doutora Maria do Rosário Mascarenhas Almeida Azevedo


Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro
agradecimentos Às diversas entidades individuais e institucionais que tornaram possível
a realização deste trabalho, quero manifestar o meu reconhecimento.
Em primeiro lugar, aos meus orientadores, Profª. Doutora Maria do
Rosário Azevedo e Prof. Doutor José Francisco dos Santos, tanto um como ao
outro, pela sua direcção eficaz, a sua pré-disposição permante para a
discussão dos resultados e todo o inestimável apoio prestado nas diversas
etapas do trabalho foram determinantes para a concretização do mesmo.
Ao Prof. Doutor Manuel Carlos Serrano Pinto que promoveu a minha ida
para a Universidade de Aveiro, agradeço o interesse com que sempre
acompanhou o progresso dos meus trabalhos e a sua voluntariedade na
discussão de questões de geologia de Moçambique, em particular de Manica.
À Sofia Leite Mota e à Ana Couto e a outros colegas, pela valiosa e
constante ajuda, quero manifestar a minha gratidão.
À Associação das Universidades de Língua portugues (AULP), à
Universidade de Aveiro e ao Departamento de Bolsas da Universidade
Eduardo Mondlane, que financiaram e suportaram os meus estudos, quero
exprimir os meus sinceros agradecimentos.
A todos os docentes, funcionários e colegas do Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro que contribuíram para a realização
deste trabalho quero deixar expresso o meu agradecimento.
À minha família e amigos agradeço as palavras de apoio e incentivo
que me deram durante o tempo da realização deste trabalho.
resumo A região de Manica localiza-se no sector centro-oeste da República de
Moçambique entre as latitudes 18°50’S - 19°00’S e as longitudes 32°45’E - 32°55’E.
É predominantemente constituída por terrenos da associação rochas verdes – granitos
de idade Arcaico tardio e representa o prolongamento para leste do cratão do
Zimbabwe. O cinturão de rochas verdes de Manica é composto por uma sequência de
de metavulcanitos máficos e ultramáficos (formação de Macequece) sobre a qual
assenta em discordância uma sucessão metasedimentar clástica (formação de M’Beza
– Vengo). Embora não existam dados geocronológicos que permitam estabelecer com
exactidão a idade absoluta das rochas verdes da região de Manica, a Formação de
Macequece tem sido equiparada ao Sebakviano-Bulavaiano (3.5–2.7 Ga) e a de
M’Beza-Vengo ao Shamvaiano (2.65-2.6 Ga), com base em correlações
litoestratigráficas.

Os corpos ígneos intrusivos formam um extenso complexo batolítico na


bordadura do cinturão de rochas verdes (granitos externos) e diversos “stocks” no
interior do cinturão (granitos internos). As suas idades variam entre 2.7 e 2.6 Ga. De
acordo com as suas características mineralógicas e geoquímicas, os granitóides de
Manica têm sido subdivididos em dois grupos: (a) a série tonalitica-granodiorítica-
trondjemítica – TTG – e (b) a série de granitos ricos em K.

A amostragem realizada no âmbito desta tese restringiu-se aos granitóides que,


segundo a cartografia geológica existente, fazem parte da série TTG. Verificou-se,
contudo, que algumas das litologias amostradas mostravam afinidades com o grupo de
granitos ricos em potássio pelo que foram tratadas separadamente.

A assinatura geoquímica das rochas da série TTG é compatível com uma


origem a partir de magmas produzidos por fusão parcial de crusta oceânica subductada
de composição anfibolítica deixando um resíduo de anfíbola, granada e óxidos de Ti.
Processos como os mencionados só terão sido possíveis por o gradiente geotérmico no
Arcaico ser significativamente superior àquele que se regista nos ambientes de
subdução modernos.

Para a génese dos granitos ricos em potássio, podem admitir-se dois tipos de
cenários: (a) cristalização fraccionada a partir de magmas TTG e (b) fusão parcial da
crusta continetal arcaica.
abstract The Manica area is located in the western part of Mozambique between
latitudes 18°50’S - 19°00’S and longitudes 32°45’E - 32°55’E. It is predominantly
composed of Late Archaean granite-greenstone terrains representing the eastern
extension of the Zimbabwe craton. The Manica greenstone belt is dominated by an E-
W trending series of ultramafic/mafic metavolcanics (Macequece formation)
unconformably overlain by a clastic metasedimentary sequence (M’Beza – Vengo
formation). Despite the lack of precise geochronological data, lithostratigraphic
correlations suggest that the Macequece formation may correspond to the Bulawayan
Group (3.5-2.7 Ga) and the M’Beza – Vengo formation to the Shamvaian Group (2.65-
2.6 Ga).

In the Manica area, the plutonic association is represented by large batholiths of


granitoid rocks bordering the greenstone belt (external plutons) and several stocks
within the belt (internal plutons) with ages ranging between 2.7 e 2.6 Ga. On the basis
of their mineralogical and geochemical characteristics, the Manica granitoids have
been subdivided into two main groups: (a) the tonalite-granodiorite-trondjemite – TTG
- series and (b) the K-rich monzogranite suite.

The samples studied in this thesis are all located in intrusive bodies belonging
to the TTG series according to the available geological maps. However, some of these
samples show affinities with the group of K-rich granitoids and have therefore been
treated separately.

The geochemical signature of the TTG suite is consistent with an origin by


partial melting of subducted oceanic crust with amphibolitic composition, leaving
behind a residue of garnet, amphibole and Ti oxides. This was possible only because
the geothermal gradient prevailing in the Archaean was significantly higher than that
existing in recent subduction environments.

For the genesis of the K-rich granitoids, two alternative scenarios can be
envisaged: (a) fractional crystallization from TTG magmas or (b) partial melting of
Archaean continental crust.
ÍNDICE
Pág.
1
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1 – OBJECTIVOS DO TRABALHO…………………………………………... 1
1.2 – LOCALIZAÇÃO, ACESSOS, ASPECTOS MORFOLÓGICOS E CLIMA 2
1.3 – TRABALHOS PRÉVIOS…………………………………………………... 4
1.4 – METODOLIGIA DE TRABALHO………………………………………… 6

CAPÍTULO 2 – ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO 9


2.1 – GEOLOGIA REGIONAL…………………………………………………... 9
2.2 – CRATÃO DO ZIMBABWE………………………………………………... 10
2.2.1 – Evolução…………………………………………………………………... 11
2.2.1.1 – Episódio de crescimento crustal -3600 – 3000 Ma……………………... 11
2.2.1.2 - Episódio de crescimento crustal -3000 – 2750 Ma……………………… 12
2.2.1.3 - Episódio de crescimento crustal -2750 – 2600 Ma……………………… 12
2.2.1.4 - Cavalgamento para oeste -2680 – 2600 Ma……………………………... 13
2.2.1.5 – Intrusão de granitóide tardio-tectónicos de fusão crustal
2640 – 2560 Ma…………………………………………………………………… 14
2.2.2 – Litoestratigrafia…………………………………………………………… 14
2.2.2.1 – Sebakiano……………………………………………………………….. 16
2.2.2.2 – Bulawaiano Inferior…………………………………………………….. 16
2.2.2.3 – Bulawaiano Superior…………………………………………………… 17
2.2.2.4 – Shamvaiano……………………………………………………………... 17
2.3 – A REGIÃO DE MANICA………………………………………………….. 18
2.3.1 – Litoestratigrafia…………………………………………………………… 18
2.3.2 – Magmatismo………………………………………………………………. 20
2.3.3 – Estrutura e metamorfismo………………………………………………… 22
2.3.4 – Interesse económico………………………………………………………. 23

xv
25
CAPÍTULO 3 – PETROGRAFIA
3.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS GRANITÓIDES DE MANICA…………………. 25
3.2 – SÉRIE TTG…………………………………………………………………. 29
3.2.1 – Quartzo-diorito……………………………………………………………. 29
3.2.2 – Tonalitos-Trondjemitos-Granodioritos…………………………………… 35
3.2.3 – Granitos TTG……………………………………………………………... 41
3.3 – GRANITOS RICOS EM POTÁSSIO………………………………………. 42
3.4 -CONCLUSÕES ……………………………………………………………... 47

CAPÍTULO 4 – GEOQUÍMICA 49
4.1 – GEOQUÍMICA DE ELEMENTOS MAIORES……………………………. 49
4.2 – GEOQUÍMICA DE ELEMENTOS VESTIGIAIS…………………………. 53
4.2.1 – Elementos de transição……………………………………………………. 54
4.2.2 – Elementos litófilos de grande raio iónico (LILE)………………………… 56
4.2.3 L Elementos de grande força de campo…………………………………….. 57
4.2.4 – Terras raras………………………………………………………………... 59
4.3 – DIAGRAMAS MULTI-ELEMENTARES NORMALIZADOS…………… 65
4.4 – DIAGRAMAS DE DISCRIMINAÇÃO DE AMBIENTE
GEOTECTÓNICO………………………………………………………………... 70
4.5 – GEOLOGIA ISOTÓPICA………………………………………………….. 72
4.5.1 – Dados isotópicos Rb-Sr (rocha-total)……………………………………... 72
4.5.2 – Dados isotópicos Sm-Nd………………………………………………….. 75
4.6 – CONCLUSÕES……………………………………………………………... 78

CAPÍTULO 5 – SÍNTESE FINAL………………………………………………

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………… 87

APÊNDICE I – Química Mineral


APÊNDICE II – Geoquímica de rocha total. Normas CIPW

xvi
ÍNDICE DE FIGURAS
Pág.

Figura 1.1 - Mapa simplificado de Moçambique mostrando a divisão administrativa


do país (adaptado de United Nations, 1998)…………………………………………… 2
Figura 1.2 – Vista parcial da Serra Vengo (foto do autor)…………………………….. 3
Figura 1.3 – Aspecto geral da vegetação da região de Manica (foto do autor).............. 4
Figura 2.1 - Mapa simplificado da África Austral, mostrando a distribuição dos
principais cratões e cinturões móveis (adaptado de Hunter & Pretorius, 1981 e Afonso
et al., 1998)…………………………………………………………………………….. 10
Figura 2.2- Mapa simplificado do cratão do Zimbabwe mostrando a localização das
principais faixas de greenstones (adaptado de Blenkinsop et al., 15
1997)…………………………………………………………………………….............
Figura 2.3 - Esquema geológico simplificado da região de Manica (adaptado de
Afonso et al., 1998)…………………………………………………………... 19
Figura 2.4 - Esquema geológico simplificado da região entre Manica e Chimoio
(adaptado de Manhiça et al., 2001)…………………………………………………….. 21
Figura 3.1 – Mapa geológico do distrito de Manica com a localização das
amostras…………………………………………………………………………............ 26
Figura 3.2 – Classificação dos granitóides do distrito de Manica (O’Connor, 1965,
modificado por Barker, 1979)………………………………………………………….. 27
Figura 3.3 – Projecção dos feldspatos dos quartzo-dioritos, tonalitos, granodioritos e
trondjemitos da série TTG no diagrama Ab-An-Or……………………………………. 30
Figura 3.4 – Diagrama AlVI vs Fe/(Fe + Mg) mostrando as composições das biotites
de Manica......................................................................................................................... 30
Figura 3.5 – Diagrama Si vs Mg/(Mg+ Fe2+) mostrando as composições das anfíbolas
dos quartzo-dioritos e tonalitos de Manica…………………………….......................... 31
Figura 3.6 – Projecção dos feldspatos dos granitos de Manica no diagrama Ab-An-
Or ……………………………………………………………………………………..... 43
Figura 4.1 - – Diagramas de variação de óxidos de elementos maiores para os
granitóides de Manica………………………………………………………………….. 51
Figura 4.2 – Diagramas de variação dos elementos de transição……………………… 55
Figura 4.3 – Diagramas de variação dos elementos litófilos para os granitóides de

xvii
Manica………………………………………………………………………………….. 57
Figura 4.4 – Diagramas de variação do Y e do Zr para os granitóides de Manica……. 58
Figura 4.5 – Diagramas de variação das terras raras nos granitóides da região de
Manica………………………………………………………………………………….. 60
Figura 4.6 – Padrões de Terras raras do quartzo-diorito e dos tonalitos de Manica,
normalizados para o manto primordial (Sun & McDonough, 1989)…………………... 61
Figura 4.7 – Padrões de Terras raras dos granodioritos de Manica, normalizados para
o manto primordial (Sun & McDonough, 1989)……………………………………….. 62
Figura 4.8 – Padrões de Terras raras dos trondjemitos de Manica, normalizados para
o manto primordial (Sun & McDonough, 1989)……………………………………….. 63
Figura 4.9 – Padrões de Terras raras dos granitos da série TTG de Manica,
normalizados para o manto primordial (Sun & McDonough, 1989)……………........... 64
Figura 4.10 – Padrões de Terras raras dos granitos ricos em potássio de Manica,
normalizados para o manto primordial (Sun & McDonough,1989)…………………… 65
Figura 4.11 - – Diagramas multi-elementares dos granitóides de Manica…………….. 66
Figura 4.12 - – Projecção dos granitóides de Manica nos diagramas de discriminação
tectónica de Pearce e tal. (1984)………………………….…………………………….. 71
Figura 4.13 - – Diagrama isocrónico para as amostras de Vumba……..……………… 74
Figura 4.14 - – Diagrama isocrónico para as amostras de Vumba e
Mondunguara……………………………………………………………………............ 74
Figura 4.15 – Diagrama Nd vs tempo geológico (Tassinari e tal., 2003)……………. 77
Figura 5.1 – Padrões de terras raras dos granitóides de Manica………………………. 83
Figura 5.2 – Diagramas multi-elementares dos granitóides de Manica, normalizados
para o manto primordial (Sun & McDonough, 1989)………………………………….. 84

xviii
ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS
Pág.

Foto 3.1 – Plagioclase com macla polissintética segundo a lei de albite no


quartzo-diorito (nicóis cruzados). Amostra MS-09……………………………... 33
Foto 3.2 – Cristais anédricos de anfíbola e biotite no quarzo-diorito (nicóis
paralelos). Amostra MS-09……………………………………………………… 33
Foto 3.3 – Secção basal de anfíbola no quartzo-diorito. A anfíbola mostra
pleocroísmo entre o amarelo acastanhado e o verde escuro (nicóis paralelos).
Amostra MS-09………………………………………………………………….. 33
Foto 3.4 - Cristais de plagioclase e quartzo primários em (nicóis cruzados).
Amostra MS-04………………………………………………………………….. 37
Foto 3.5 - Domínios granoblásticos em torno de cristais primários de
plagioclase em granodiorito (nicóis cruzados). Amostra MS-23………………... 37
Foto 3.6 - Cristais de plagioclase com sericitização e saussuritização muito
intensas em trondjemito (nicóis cruzados). Amostra MS-11………………….... 37
Foto 3.7 - Cristal tardio, intersticial, de microclina em tonalito (nicóis
cruzados). Amostra MS-01……………………………………………………... 39
Foto 3.8 – Aspecto geral da textura de um tonalito com afinidade
granodiorítica, podendo observar-se, no canto superior direito, pseudomorfose
seguindo biotite de clorite com agulhas de rútilo no seu interior (nicóis
cruzados). Amostra MS-019……………………………………………….…… 39
Foto 3.9 – Agregado fascicular de cristais de actinolita em tonalitos (nicóis
cruzados). Amostra MS-01……………………………………………………… 39
Foto 3.10 - Aspecto geral da textura dosgranitos ricos em potássio em que se
observam cristais de microclina pertítica com bordos de recristalização em que
predomina o quartzo (nicóis cruzados). Amostra MS-08……………………….. 45
Foto 3.11 – Granito rico em potássio com desenvolvimento de mirmequites no
contacto entre plagioclase e microclina, no canto inferior esquerdo (nicóis
cruzados). Amostra MS-18……………………………………………………… 45
Foto 3.12 – Aspecto da amostra MS-03 com sericitização intensa da
plagioclase nicóis cruzados). Amostra MS-03…………………………..……… 45

xix
ÍNDICE DE TABELAS
Pág.

Tabela 3.1 – Classificação das amostras estudadas……………………………. 28


Tabela 4.1 – Coeficientes de partilha para elementos de transição……………... 54
Tabela 4.2 – Coeficiente de partilha o Ba, o Rb e o Sr…………………………. 56
Tabela 4.3 – Coeficientes de partilha para as terras raras………………………. 59
Tabela 4.4 – Dados isotópicos Rb-Sr para granitóides da sequência TTG de
Manica (Vumba)………………………………………………………………… 73
Tabela 4.5 – Dados isotópicos Sm-Nd………………………………………….. 75
Tabela 4.6 – Valores de Nd e idades modelo…………………………………… 76

xx
Capítulo 1 – Introdução

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

O presente trabalho insere-se no Programa de Colaboração Institucional entre os


Departamentos de Geociências da Universidade de Aveiro (UA) e o Departamento de
Geologia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), realizado ao abrigo dos Protocolos
de Cooperação entre as duas universidades. Uma das acções desse programa tem como
objectivo a elevação do nível científico dos docentes da UEM através da realização de
cursos de pós-graduação em Aveiro.
Esta tese tem como principal objecto de estudo os granitóides do distrito de Manica,
que se situa na parte centro-oeste da República de Moçambique, junto à fronteira com a
República do Zimbabwe. Do ponto de vista geológico e à escala regional, a região de
Manica integra-se no Cratão do Zimbabwe, o qual é constituído essencialmente por
“greenstone belts” e granitóides, de idade arcaica. Nos últimos dez anos, foram realizados
vários estudos de índole geológica no distrito de Manica, destacando-se entre eles os
trabalhos da autoria de Manuel (1992), Manhiça (1998) e Muchangos (2000). No entanto,
os dados de natureza petrológica, geoquímica e geocronológica são ainda escassos, pelo
que se pretende com esta tese contribuir para uma melhor compreensão dos processos
petrogenéticos envolvidos na formação das rochas graníticas da região.

1.1 OBJECTIVOS DO TRABALHO

Para a realização deste trabalho foram definidos os seguintes objectivos principais:


• caracterização petrográfica dos diferentes tipos de granitóides da região de Manica;
• caracterização geoquímica dos granitóides de Manica em termos de elementos
maiores e elementos traço;
• identificação da assinatura magmática das rochas graníticas da região de Manica e
definição dos processos petrogenéticos mais relevantes;

1
Capítulo 1 – Introdução

• estabelecimento de hipóteses sobre o ambiente geodinâmico em que os eventos


ígneos terão ocorrido.

1.2 LOCALIZAÇÃO, ACESSO, ASPECTOS MORFOLÓGICOS E CLIMA

A área em estudo localiza-se no centro da República de Moçambique, na província


de Manica, no distrito com o mesmo nome, a 265 km por estrada da cidade da Beira. Está
situada entre os paralelos 18º 50' S e 19º 00' S e entre os meridianos 32º 45' E e 32º 55' E,
ocupando uma superfície de aproximadamente 600 Km2 (Fig. 1.1).

30° 34 ° 36 °
10 ° 10 °
32° 38° 40° 42°

TANZANIA
M
A

a lo
R ov u m sa
L A

es
M
12° NIASSA 12°
ZAMBIA da
CABO
g en DELGADO
Lu
L ag

REPÚBLICA
W

o N ia

DEMOCRÁTICA Pemba
DO CONGO Lichinga Oceano
(
sa
I

Índico
rio
14° Lú 14°
NAMPULA
Lago
Malombe

Cabora Bassa Nampula Moçambique


Lusaka TETE Lago
Chilua
L i go

Tete
(

16° 16°
nha

Z
am Li Ilha Angoche
b ez cu
i ng
o
ZAMBÉZIA
Lake Kariba

Harare
MANICA Quelimane
18° 18°

Manica SOFALA
ZIMBABWE Chimoio

Beira
20° 20°
uzi
MOÇAMBIQUE
B

Sav e
Fronteira Internacional
Limite de Província
Estrada
22° 22°
BOTSWANA INHAMBANE Linha férrea
Capital do país
C
ha

GAZA
Li

ng
m

Capital da província
po

an e
po

Inhambane Distrito de Manica


ÁFRICA DO SUL
24° 24°

Xa
i -X
ai
Pretória Oceano
Maputo
(

26 ° MAPUTO Índico 26°


Mbabane
SUAZILANDIA
0 50 100 150 200 km

28° 30° 32° 34° 36° 38° 40° 42 °

Figura 1.1 – Mapa simplificado de Moçambique mostrando a divisão administrativa do país


(adaptado de United Nations, 1998)

2
Capítulo 1 – Introdução

O distrito de Manica faz fronteira a ocidente e a norte com a República do


Zimbabwe, a leste com o distrito de Chimoio e a sul com o vale do Rio Munene.
As principais vias de comunicação que passam por Manica são a estrada nacional e a
linha férrea que ligam a cidade portuária da Beira e a cidade zimbabweana de Mutare,
através da vila fronteiriça de Machipanda.
As vias de acesso que ligam a vila de Manica (sede do distrito) às diversas
localidades são boas, sendo constituidas por estradas de terra batida. Fora destas vias,
devido à densa vegetação, a acessibilidade aos locais de interesse geológico torna-se
muitas vezes dificil, aproveitando-se frequentemente os caminhos utilizados pelas
populações locais.
O distrito de Manica é uma das regiões mais acidentadas do território moçambicano.
Os alinhamentos de montanhas e cordilheiras têm uma orientação E-W e altitudes médias
superiores a 700 m, podendo atingir 1900 m nos pontos mais elevados.

Figura 1.2 – Vista parcial da Serra Vengo (foto do autor)

A topografia da região é fortemente influenciada pela litologia e tectónica de falhas


tardia. Os serpentinitos, horizontes conglomeráticos e algumas séries vulcano-sedimentares
formam uma série de massas montanhosas escarpadas enquanto os metapelitos e outras
rochas pouco resistentes dão origem a vales profundos. Os principais alinhamentos
orográficos são, de norte para sul: a Serra Mariangana, ao longo da qual segue a fronteira
com a República do Zimbabwe; a Serra do Vengo (Fig.1.2); a Serra Mangota; a Serra

3
Capítulo 1 – Introdução

Penhalonga, que se prolonga pelo território do Zimbabwe; a Serra Nyautata e a Serra


Isitaca.
As principais linhas de água do distrito de Manica são os rios Munene, a sul, e os rios
Zambúzi e Revuè, a norte. Estes rios percorrem os principais vales e têm vários tributários
com os quais formam uma rede fluvial, controlada pelo tipo de litologia que as linhas de
águas atravessam. A vegetação é muito densa e alta. Nas partes mais elevadas, encontram-
se pinheiros e eucaliptos plantados (Fig. 1.3).

Figura 1.3 – Aspecto geral da vegetação da região de Manica (foto do autor).

O clima da região de Manica é tropical com duas estações: uma quente e chuvosa
entre os meses de Novembro a Abril e outra fria e seca de Maio a Outubro. A média das
temperaturas máximas e mínimas anual é de 28,4º C e 14º C, respectivamente. A
precipitação anual é de 1014 mm, com um máximo de 230 mm em Janeiro e um mínimo
de 9 mm em Julho (FAO, 1984).

1.3 TRABALHOS PRÉVIOS

A região de Manica é conhecida pelo seu grande potencial mineiro desde o século
XV, segundo apontam alguns dos relatos da altura em que os primeiros estrangeiros
(Portugueses e Árabes) desembarcaram em território moçambicano, à procura de ouro.

4
Capítulo 1 – Introdução

Segundo D’Orey (1978), o primeiro estudo de carácter científico foi realizado em


1894 por Freire de Andrade, tendo-se seguido os trabalhos de Theale (1925), Freire de
Andrade (1929), Borges (1949) e Araújo e Gouveia (1965). É a Freire de Andrade (1929)
que se deve a primeira descrição litológica e estratigráfica da região (D’Orey, 1978).
Nos primórdios do século XX, Sawyer elaborou um esboço geológico da região que
veio a ser posteriormente modificado por Pires de Carvalho e Martins (1945).
Entre 1948 e 1952, diversos geólogos, entre os quais, R. F. Barros, J. R. Araújo, A.
Borges, M. Bettencourt Dias e Rodrigues Martins realizaram levantamentos geológicos no
distrito de Manica, integrados nas Brigadas de Fomento Mineiro, organizadas pelos
Serviços de Indústria de Geologia de Moçambique.
No âmbito do Programa de Mineração e Desenvolvimento, os engenheiros J. C.
Gouveia e J. R. Rebolo e os geólogos A. Barrocos, J. R. Araújo, B. P. Ferro, R. S. Ferro,
W. Oberholzer, A. Moura Perlico e M. S. Pinto, efectuaram, entre 1961 e 1963, vários
trabalhos e estudos na região de Manica (Afonso, 1978).
Com base em estudos detalhados da litologia e sua distribuição espacial, Araújo e
Gouveia (1965) elaboraram um quadro que mostrava a evolução dos acontecimentos
geológicos na região de Manica e estabeleceram correlações entre as formações que
afloram em Moçambique e as unidades litoestratigráficas individualizadas no cratão
zimbabweano.
Oberholzer (1964) apresentou a descrição litológica da região de Manica e compilou
o mapa geológico na escala 1:100.000, o qual incluia os cinturões de ouro do Zimbabwe,
nomeadamente o Umtali e o Odzi que tinham sido estudados, respectivamente, por Phaup
em 1937 e Watson em 1962 (D’Orey, 1978). Oberholzer apresentou ainda uma proposta de
divisão litoestratigráfica para a região de Manica e estabeleceu a correlação entre as
sequências de Manica e as formações do Bulawaiano e do Shamvaiano, identificadas no
Zimbabwe.
Em 1968, foi publicado o mapa geológico da Província de Manica à escala 1:
250.000.
No período pós-independência, foram efectuados vários estudos por diversas
empresas privadas e estatais, entre as quais se destacam os seguintes :
- Obretenov (1977) inventariou as minas da região e elaborou um esboço geológico-
estrutural da região à escala 1:50.000;

5
Capítulo 1 – Introdução

- A Direcção Nacional de Geologia (DNG), realizou no distrito de Manica, em


colaboração com brigadas formadas por especialistas de países do leste europeu (ex-RDA,
ex-URSS, Bulgária e ex-Checoslováquia) e a Hunting, diversos trabalhos de pesquisa e
mineração nos fins da década de 70 e no início da década de 80;
- O Departamento de Geologia da Universidade Eduardo Mondlane tem levado a
cabo trabalhos de campo no âmbito das disciplinas que integram o plano curricular da
licenciatura em Geologia. Merecem particular referência os seguintes trabalhos de
culminação dos estudos (Trabalhos de Licenciatura):
• Estudo da Sequência metavulcânica-sedimentar da Serra Vengo (Júnior, 1990);
• Cartografia e Geoquímica dos serpentinitos da Serra Isitaca (Mugabe, 1993);
• Geologia Estrutural do “Greenstone belt” de Manica (Napido, 1993);
• A Geologia da faixa entre Manica e Chazuca e a correlação com os dados rádio-
magnéticos (Cune, 1994);
• Mapeamento geológico-estutural entre as Serras Andrada e Nyautata, região de
Manica (Trindade, 1995);
• Estudo geológico-estrutural da região norte da Vila de Manica (Cidade, 1996).
No âmbito dos seus programas de pós-graduação, diversos docentes do
Departamento de Geologia têm publicado estudos de índole geológica sobre o distrito de
Manica. São exemplos desses trabalhos, os seguintes:
• Geologie, Petrographie, Geochemie und Lagerstatten der Manica- Greenstone-
Belt (Mozambique) (Manuel, 1992);
• Mineralogy and Geochemistry of Bauxite and Bentonite Deposits from
Mozambique (Muchangos, 2000).

1.4 METODOLOGIA DE TRABALHO

A actividade desenvolvida durante o período de preparação da tese incluiu as


seguintes etapas fundamentais: trabalhos de campo, pesquisa bibliográfica, trabalho
laboratorial e trabalho de gabinete.
Os trabalhos de campo, utilizando como base a cartografia existente, visaram
essencialmente o reconhecimento geológico do terreno e a colheita de amostras. A
campanha de amostragem foi projectada de maneira a cobrir as diferentes zonas do distrito

6
Capítulo 1 – Introdução

de Manica onde afloram granitóides: Serra Vumba, Serra Nyautata, ao longo da estrada
Manica – Mondunguara, a sul do antigo campo de Mondunguara, a norte da Vila de
Manica, em Chazuca, Penhalonga, Catandica, Messica e norte do distrito de Manica.
Realizou-se em Julho de 1999, mas devido a dificuldades de vária ordem, nem todos os
locais previamente seleccionados foram amostrados, tendo-se colhido apenas 30 amostras,
das quais 22 são objectos deste estudo
A pesquisa bibliográfica incluiu, numa fase inicial, a consulta de mapas, relatórios de
trabalho e publicações ligados à região de Manica por forma a sintetizar a informação
disponível sobre a área em estudo. Posteriormente, já no decurso do trabalho, a consulta
bibliográfica destinou-se fundamentalmente a apoiar a interpretação dos dados obtidos.
O trabalho laboratorial foi realizado, em grande parte, no Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro e envolveu:
• preparação física das amostras para geoquímica de rocha total;
• caracterização petrográfica das diferentes unidades amostradas;
• química mineral em amostras seleccionadas.
As análises químicas sobre rocha total foram efectuadas nos Activation Laboratories
Ltd. (Canadá), por espectrometria de emissão de plasma ICP (técnica de fusão) para os
elementos maiores e por ICP-MS para elementos vestigiais, incluindo elementos de Terras
Raras.
As análises mineralógicas foram efectuadas numa microssonda electrónica Cameca
Camebax no Laboratório do Instituto Geológico e Mineiro, no Porto, com uma corrente de
15 kV, 20 nA, tempo de contagem 20 segundos e um programa de correcção ZAF.
Finalmente, o trabalho de gabinete foi dedicado ao estudo bibliográfico, digitalização
do mapa geológico da região de Manica, tratamento e interpretação dos resultados e
elaboração do relatório final.

7
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

CAPÍTULO 2

ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

Neste capítulo pretende-se apresentar sinteticamente os principais traços da geologia


da África Austral de modo a enquadrar os processos tectono-magmáticos que ocorreram no
sector em estudo num contexto geodinâmico mais vasto.

2.1 GEOLOGIA REGIONAL

Os terrenos que compõem a África Austral resultaram da acção sucessiva de várias


orogenias que se fizeram sentir desde os tempos Precâmbricos até ao Fanerozóico
(orogenias arcaicas: ca. 3600-2500 Ma, grenvilliana: ca. 1200-1000 Ma e pan-africana-
cadomiana: ca. 650-500 Ma). Como se mostra na Figura 2.1, o continente africano pode ser
subdividido nos seguintes grandes domínios, com base na idade da deformação orogénica
mais tardia que os afectou:
(a) cratões arcaicos;
(b) cinturões móveis pré-grenvillianos;
(c) cinturões móveis grenvillianos;
(d) cinturões móveis pan-africanos;
(e) cinturões móveis grenvillianos com sobreposição da orogenia pan-africana;
(f) depósitos de cobertura, em que se incluem as formações do Fanerozóico.

As marcas das orogenias mais antigas estão particularmente bem preservadas nos
terrenos de idade arcaica que formam os cratões e os cinturões móveis de idade pré-
grenvilliana. Embora os modelos tectónicos propostos para explicar a distribuição das
rochas do Arcaico ainda sejam alvo de grande controvérsia, não subsistem dúvidas que se
trata do mais importante período de crescimento crustal na história da Terra, tendo sido
dominado pelo desenvolvimento da associação greenstones-granitos.

9
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

Durante a orogenia grenvilliana, os processos de acreção continental culminaram na


formação, há cerca de 1.0 Ga, de um supercontinente neoproterozóico conhecido por
Rodinia (Hoffman, 1992; Jacobs et al., 1993; Grantham et al., 1997; Wareham et al.,
1998). Segundo Moores (1991) e Hoffman (1991a), a fragmentação da Rodinia terá
ocorrido há aproximadamente 700 Ma e a subsequente amalgamação do continente
Gondwana estará associado à orogenia pan-africana (ca. 500 Ma).

Cratão da
Scale Tanzania
0 250 500 750 Km
Ub
Cratão de Angola-Kassai en
di a
no
Cratão
Zambiano
N el
óv
m
o
ã e
ur id
nt um
Ci e Ir
d

Cinturão móvel
a de Moçambique
ar
m el
Da m
óv
d e o
el ã
ur id
e
óv nt um Cratão do
m Ci e Ir
ão d Zimbabwe
ur
O ce a

nt BEIRA
Ci
n o A tl
â nti co

Cratão do
Kheis-Matsap
Kaapvaaal MAPUTO
Cratões Arcaicos
Cinturões móveis de idade Namaqualand
Pre-Grenvilliana
Cinturões móveis de idade Grenvilliana NATAL

Cinturões móveis Pan-Africanos


Cinturões Grenvillianos variavelmente Cinturão móvel do Cabo
afectados pela orogenia Pan-Africana ico
I nd
ano
Oce
Cobertura
Área de estudo

Figura 2.1- Mapa simplificado da África Austral, mostrando a distribuição dos principais cratões e
cinturões móveis (adaptado de Hunter & Pretorius, 1981 e Afonso et al., 1998)

2.2 O CRATÃO DO ZIMBABWE

O cratão do Zimbabwe localiza-se na África Austral onde ocupa uma área de


aproximadamente 2680 km2. É limitado por cinturões móveis com diferentes idades (Fig.
2.1) e foi afectado, em diversos sectores, pela deformação associada a cada uma destas
orogenias.

10
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

2.2.1 Evolução

A evolução do cratão do Zimbabwe tem sido interpretada em termos de sucessivos


estádios de crescimento crustal que envolveram a adição de greenstones e granitóides a um
núcleo antigo com cerca de 3.5 Ga de idade (Wilson et al., 1995). Para um grande número
de autores, a instalação de plumas mantélicas sob a crusta continental existente teria sido
responsável por processos de rifting intracontinental e fusão crustal (e.g. Bickle et al.,
1994; Jelsma et al., 1996; Blenkinsop et al., 1997; Hunter et al., 1998) e pela geração de
uma estratigrafia autóctone que se pode correlacionar ao longo de extensos sectores do
cratão (Wilson, 1979; Wilson et al., 1995). Contudo, os dados estruturais disponíveis
sugerem que algumas das sequências de greenstones podem ser alóctones e ter-se formado
em ambientes tectono-magmáticos distintos (e.g. Kusky e Kidd, 1992; Dirks e van der
Merwe, 1997; Dirks e Jelsma, 1998; Jelsma e Dirks, 2000 a-b). Com base em estudos
geocronológicos, geoquímicos e estruturais, Dirks e Jelsma (1998), Jelsma e Dirks (2001)
e Dirks e Jelsma (2002) relacionam o crescimento crustal do cratão do Zimbabwe com
diferentes episódios de acreção lateral de material juvenil (MORB, sequências de arco
vulcânico, granitóides da série tonalito-trondjemito-granodiorito, etc.) ao longo das
fronteiras de placa de um núcleo cratónico em progressivo desenvolvimento. A sequência
de acontecimentos proposta por Dirks e Jelsma (2002) para explicar a evolução do cratão
durante o Arcaico inclui cinco estádios principais (3600-3000 Ma; 3000-2750 Ma; 2750-
2600 Ma; 2680-2600 Ma e 2640-2560 Ma) cujas características se descrevem em seguida.

2.2.1.1 Episódio de crescimento crustal - 3600-3000 Ma


A acreção inicial de greenstones e de granitóides da série tonalito-trondjemito-
granodiorito (TTG), entre os 3.6 e 3.3 Ga, terá dado origem à formação e estabilização de
um conjunto de fragmentos de crusta continental, que poderiam ter feito parte de um único
núcleo protocratónico (segmento Tokwe) ou de diferentes blocos microcontinentais. Os
fragmentos protocratónicos parecem ter sido afectados por deformação regional antes dos
3.35 Ga o que indica que estas secções da litosfera deveriam ter atingido suficiente rigidez
para transmitir tensões de fronteira de placa. Os gnaisses TTG mais antigos apresentam
assinaturas isotópica primitivas (Taylor et al., 1991; Hunter, 1997; Horstwood, 1998) que
se tornam mais evoluídas nos granitos intrusivos com 3.35 Ga de idade (Taylor et al.,

11
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

1991). A oeste do bloco protocratónico mais importante (segmento Tokwe), o processo de


estabilização crustal é seguido por sedimentação de plataforma ( 3.0 Ga), documentada
pela presença de zircões detríticos com idades compreendidas entre 3.81 e 3.06 Ga
(Dodson et al., 1988; Hunter, 1997).

2.2.1.2 Episódio de crescimento crustal - 3000-2750 Ma


A ocorrência de magmatismo félsico calco-alcalino entre 2.95-2.77 Ga origina um
cinturão magmático com orientação N-S, ao longo do bordo ocidental do segmento
Tokwe, que exibe idades progressivamente mais jovens para oeste, sugerindo uma
migração do arco vulcânico nesta direcção. Tanto as rochas vulcânicas ácidas como os
granitóides TTG associados apresentam características isotópicas primitivas e uma
ausência sistemática de componentes herdados o que aponta para o envolvimento de
material crustal juvenil na sua petrogénese (Hawkesworth et al., 1979, Taylor et al., 1991).
Em contraste, os corpos intrusivos da mesma idade, que afloram no interior do segmento
Tokwe, mostram uma assinatura isotópica significativamente mais evoluída (Hunter,
1997). A progressão do arco magmático é acompanhada pela acreção, para ocidente, de
vulcanitos oceânicos máficos/ultramáficos, ironstones, rochas vulcânicas de arco,
sedimentos vulcanoclásticos e sedimentos de margem passiva (ou bacia marginal) (Jelsma
e Dirks, 2001).
2.2.1.3 Episódio de crescimento crustal – 2750-2600 Ma
O episódio 2.75-2.58 Ga é marcado pelo desenvolvimento de um novo arco
vulcânico calco-alcalino, situado a oeste dos terrenos de 2.9-2.8 Ga, que é possível seguir
ao longo de cerca de 700 Km segundo uma orientação NE-SW (Condie e Harrison, 1976,
Wilson, 1981, Kusky, 1998). Formam-se, nesta altura, a maioria das associações de
greenstones. A actividade vulcânica e subsequente instalação de granitóides e pórfiros
indiciam um processo de acreção a uma crusta relativamente juvenil (Taylor et al., 1991;
Jelsma et al., 1996). Na extremidade NE do arco magmático, o magmatismo félsico
prolonga-se até 2.65 Ga. Alguns autores consideram a hipótese de se ter dado a abertura de
um rift (back-arc) na área de Belingwe, separando o núcleo crustal (3.6-3.3 Ga), a leste, do
arco (2.9-2.8 Ga), a oeste (e.g. Hunter et al., 1998). Um arco semelhante poderá ainda ter
sido gerado a SE do segmento Tokwe, onde um alinhamento de cinturões de rochas verdes
foi interpretado como a sutura de um oceano que abriu aos 2.9 Ga e veio a fechar aos 2.7
Ga (Kusky, 1998).

12
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

2.2.1.4 Cavalgamento para oeste – 2680-2600 Ma


Durante o período 2.75-2.58 Ga, algumas sequências de greenstones sofreram
deformação importante entre 2.68 e 2.60 Ga. Os processos de deformação e concomitante
vulcanismo, sedimentação e plutonismo tiveram lugar em domínios tectónicos bem
definidos, limitados por zonas de cisalhamento. Nas sequências mais antigas, a deformação
concentrou-se em zonas de cisalhamento discretas como é o caso do cavalgamento de base
do complexo ultramáfico de Mashaba (Wilson, 1968) e das zonas de cisalhamento que
atravessam o centro do cinturão de rochas verdes de Mutare, cortando unidades com idades
mais antigas que 2.74 Ga (Chenjerai, 1995). Em sequências mais recentes, a formação de
greenstones, o vulcanismo, o metamorfismo e a deformação fazem parte de um processo
contínuo de acontecimentos que segue o mesmo padrão. A geometria da deformação dúctil
mais precoce começa com cisalhamentos horizontais que produzem empilhamento
tectónico e estruturas duplex segundo zonas (ultra) miloníticas discretas (Jelsma e Dirks,
2000 a; Hofman et al., 2001). Este tipo de deformação é acompanhada, nos níveis crustais
superiores, por deposição de sequências clásticas sin-tectónicas junto das frentes de
cavalgamento (e.g. cinturões de greenstones de Midlands, Shamva e Belingwe) enquanto,
em níveis crustais mais profundos, se formam dobras deitadas entre cisalhamentos
(Campbell e Pitfeld, 1994). Ao desenvolvimento de cisalhamentos horizontais e dobras
deitadas, seguem-se processos de cavalgamento, ao longo de zonas de cisalhamento
fortemente inclinadas para E, levando à justaposição de terrenos exóticos com histórias de
deformação anterior distintas. As zonas de cisalhamento deste tipo definem padrões
anastomosados através de todo o cratão e estão relacionadas com uma lineação E-W que
indica movimento inverso (Wilson, 1968; Jelsma e Dirks, 2000 a-b).
À escala do cratão, verifica-se que a maior parte dos cavalgamentos se localizam nas
margens das sequências de greenstones, em particular, nos contactos entre estas e terrenos
gnáissicos mais antigos ou outros cinturões de rochas verdes de características litológicas e
geocronológicas distintas. Com base na orientação dos cisalhamentos e no padrão de
afloramento das sequências de greenstones parece ser possível delimitar blocos tectónicos
semi-circulares em que o núcleo é ocupado por unidades gnáissicas (Dirks e Jelsma,
2002). O modo como os blocos se sobrepõem confere-lhes uma disposição em “fish-scale”
com os planos de cavalgamento subjacentes mergulhantes para E a registar um movimento
de E para W. Segundo Jelsma e Dirks (2000a), cada um destes blocos pode ser interpretado

13
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

como um cavalgamento ou manto de carreamento independente. A justaposição tectónica


das diferentes unidades (incluindo microcontinentes, arcos vulcânicos, fragmentos de
crusta oceânica), parece ter sido diacrónica. Com efeito, a deformação terá ocorrido aos
2.68-2.67 Ga no cinturão de rochas verdes de Midlands (Horstwood, 1998), 2.65-2.64 Ga
no cinturão de Harare (Jelsma et al., 1996) e 2.62-2.60 Ga na sequência de Dindi-Makaha
(Vinyu et al., 1999). Estes acontecimentos terão sido acompanhados pela instalação
sintectónica de soleiras de rochas ultramáficas ao longo de importantes zonas de
cisalhamento (Dirks & Jelsma, 2002).

2.2.1.5 Intrusão de granitóides tardi-tectónicos de fusão crustal – 2640-2560 Ma


Posteriormente ao empilhamento tectónico dos mantos e cavalgamentos, o pendor
das estruturas de algumas sequências de greenstones acentua-se devido à instalação de
domas de granitos e gnaisses (Jelsma e Dirks, 2000 a). Estes granitóides, com idades entre
2.63 e 2.58 Ga, derivam da fusão de rochas crustais e constituem a chamada série GGM -
granodiorito-granito-monzogranito (Taylor et al., 1991; Jelsma, 1993). A sua intrusão terá
provocado transferência convectiva de calor e consequente arrefecimento do cratão (Dirks
e Jelsma, 1998). Finalmente, a deformação mais tardia é marcada pela reactivação de
muitas das zonas de cavalgamento dúctil como desligamentos frágeis-dúcteis, na fácies
dos xistos verdes (Stowe, 1980; Treloar e Blenkinsop, 1995).

Considerando o conjunto de evidências de campo, Dirks e Jelsma (2002) propõem


um modelo para o crescimento do cratão do Zimbabwe durante o final do Arcaico
envolvendo os seguintes episódios principais: (a) formação de uma zona de subducção
com mergulho para Este, ao longo do bordo NW do bloco protocratónico, entre os 2.72-
2.68 Ga; (b) empilhamento tectónico de mantos e cavalgamentos aos 2.68-2.60 Ga; (c)
intrusão de grandes volumes de magmas graníticos derivados de anatexia crustal entre os
2.64-2.56 Ga e (d) subsequente estabilização do cratão.

2.2.2 Litoestratigrafia

O cratão do Zimbabwe é caracterizado pela presença de um grande número de


associações de greenstones com características diferentes e pela elevada proporção deste
tipo de litologias em relação à de granitóides (Fig. 2.2).

14
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

Cobertura
Cinturão móvel
Dique do Zimbabwe
Faixa de greenstones
Sucessões ocidental/oriental
Granito/gnaisse < 3.5 Ga
Segmento de Tokwe

Figura 2.2- Mapa simplificado do cratão do Zimbabwe mostrando a localização das principais
faixas de greenstones (adaptado de Blenkinsop et al., 1997). 1- Makaha; 2- Mount Darwin; 3-
Chipuriro; 4- Harare; 5- Norton; 6- Chegutu; 7- Midlands; 8- Gweru-Mvuma; 9- Shurugwi; 10-
Beatrice; 11- Manesi; 12- Felixburg; 13- Bubi; 14- Bulawayo; 15- Filabusi; 16- Shangani; 17-
Gwanda; 18- Antelope-Lower Gwanda; 19- Mweza; 20- Buhwa; 21- Belingwe; 22- Masvingo; 23-
Odzi-Mutare.

A nomenclatura utilizada para descrever a litoestratigrafia dos cinturões de rochas


verdes foi revista por Campbell et al. (1992) e acabou por dar origem a um esquema de
classificação que envolve a distinção de quatro grandes unidades: (a) Sebakwiano; (b)
Bulawaiano Inferior; (c) Bulawaiano Superior e (d) Shamvaiano (Blenkinsop et al., 1997).

15
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

2.2.2.1 Sebakwiano
As associações de greenstones mais antigas ocupam uma área com forma triangular,
no sector centro-sul do Zimbabwe, que tem sido designada por segmento Tokwe (Wilson,
1990). São constituídas por vulcanitos ultramáficos, formações ferríferas, anfibolitos,
quartzitos e micaxistos que estão especialmente bem preservados nos cinturões de
Shurugwi e Masvingo (Fig. 2.2). Segundo Taylor et al. (1991), as rochas verdes do
segmento Tokwe foram deformadas em conjunto com gnaisses datados de 3.5 Ga e
subsequentemente intruídas por granitóides com idades de 2.9 Ga e razões isotópicas
87
Sr/86Sr iniciais muito baixas. Por outro lado, o Sebakwiano do cinturão de Shurugwi
parece ter sido intruído pelo tonalito de Mont d’Or datado em 3.35 Ga pelos métodos Rb-
Sr (rocha total) e Pb-Pb (Taylor et al., 1991). Com base na datação referida admite-se que
a formação das associações de greenstones do Sebakwiano seja anterior a 3.35 Ga
(Blenkinsop et al., 1997).

2.2.2.2 Bulawaiano Inferior


Os cinturões de greenstones do Bulawaiano Inferior incluem as seguintes litologias:
quartzitos, conglomerados, formações ferríferas bandadas (BIF), rochas piroclásticas com
composição andesítico-dacítica e lavas máficas e ultramáficas. Wilson et al. (1990)
agruparam as rochas verdes do Bulawaiano Inferior em três unidades principais: (a) uma
associação vulcânica bimodal félsica/máfica-ultramáfica com uma expressão reduzida das
formações ferríferas; (b) uma sequência vulcânica máfica-ultramáfica em que as
formações BIF estão bem representadas e (c) uma sequência félsica vulcanoclástica. A
última unidade repousa, em discordância, sobre rochas deformadas das unidades a) e b)
que têm sido referidas, no seu conjunto, como superunidade de Belingwe. Partindo da
presumível associação entre vulcanismo ácido e plutonismo granítico, Taylor et al. (1991)
e Wilson et al. (1995) usaram as idades obtidas em granitóides para constranger a
formação das rochas do Bulawayano Inferior ao período compreendido entre 3.0 e 2.8 Ga.

2.2.2.3 Bulawaiano Superior


A base do Bulawaiano Superior é marcada por uma importante inconformidade sobre
a qual assenta uma possante sequência de sedimentos clásticos. Esta inconformidade usada
por Wilson (1979) como um nível estratigráfico guia para o Bulawaiano Superior de todo o
cratão, está bem preservada no cinturão de Belingwe (Fig. 2.2), onde a unidade clástica

16
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

suprajacente, conhecida por formação de Mangeri, chega a atingir 250 m de espessura


(Bickle e Nisbett, 1993).
À formação de Mangeri segue-se uma sucessão de komatiitos e basaltos toleíticos
recobertos, no topo, por sedimentos pelíticos (Bickle e Nisbett, 1993). Embora o
Bulawaiano Superior da maior parte dos cinturões de rochas verdes do sector centro-sul do
cratão seja caracterizado pelo predomínio de basaltos toleíticos, as associações de
greenstones localizadas mais a oeste incluem uma espessa sequência de rochas vulcânicas
bimodais e basaltos calco-alcalinos sobre os basaltos toleíticos (Blenkinsop et al., 1997).
Com base nestas diferenças, Wilson (1979) separou os dois grupos sob a designação de
sucessão oriental e ocidental, respectivamente (Fig. 2.2).
As rochas do Bulawaiano Superior são intruídas pelos granitóides de Sesombi e
Chilimanzi. Os primeiros ocupam uma extensa área no sector oeste do cratão. Apresentam
87
idades de ca. 2.70 Ga, baixas razões isotópicas Sr/86Sr e fazem parte da série tonalito-
trondjemito-granodiorito (TTG). Hawkesworth et al. (1975) interpretaram-nos como os
equivalentes plutónicos dos vulcanitos félsicos da sucessão ocidental o que lhes permitiu
atribuir a mesma idade aos greenstones do Bulawaiano Superior. Os granitóides de
Chilimanzi distinguem-se dos de Sesombi por serem mais ricos em potássio, exibirem
87
razões isotópicas Sr/86Sr superiores (0.704) e idades de cerca 2.60 Ga. Datações obtidas
posteriormente em rochas vulcânicas ácidas suportam uma idade de 2.70-2.60 Ga para o
Bulawaiano Superior (Taylor et al., 1991; Wilson et al., 1995; Jelsma et al., 1996).

2.2.2.4 Shamvaiano
O Bulawaiano Superior dá lugar, em vários cinturões de greenstones, a uma unidade
composta por rochas clásticas de granularidade grosseira, arcoses e grauvaques. A
sequência, inicialmente identificada no cinturão de Harare (Fig. 2.2), foi descrita como
assentando em discordância sobre o conjunto do Bulawaiano Superior e contendo
fragmentos de granitos provenientes de um basamento que teria sido exposto pouco antes
da sua deposição (Blenkinsop et al., 1997). Apesar desta formação ter sido reconhecida
nos cinturões de Masvingo e Midlands, onde o seu carácter discordante sobre o
Bulawaiano é inequívoco, noutros terrenos (incluíndo Harare), a natureza do contacto com
as unidades subjacentes nem sempre é tão óbvia. Assim, é possível que algumas das
litologias incluídas no Shamvaiano sejam do Bulawaiano Superior (Wilson, 1979).

17
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

As sequências em que o Shamvaiano está bem definido são intruídas pelos granitos
de Chilimanzi o que leva propôr uma idade mínima de 2.60 Ga para esta unidade
litoestratigráfica (Blenkinsop et al., 1997).

2.3 A REGIÃO DE MANICA

A região de Manica localiza-se no centro da República de Moçambique, na província


de Manica, junto à fronteira com o Zimbabwe (Fig. 2.3). O cinturão de rochas verdes de
Manica, também conhecido por Grupo de Manica, representa o prolongamento do cratão
arcaico do Zimbabwe dentro do território moçambicano onde ocupa uma área de cerca de
35 km de comprimento por 10 a 15 km de largura (Obretenov, 1977). As rochas verdes que
constituem o Grupo de Manica têm sido agrupadas em duas unidades litoestratigráficas
principais: a Formação de Macequece e a Formação de M’Beza-Vengo (D’Orey, 1978;
Afonso et al., 1998) (Fig. 2.3). Embora a idade absoluta destas sequências não seja
conhecida, por analogia com as formações zimbabweanas, parece poder correlacionar-se a
Formação de Macequece com o Sebakviano-Bulawaiano (3.5 – 2.7 Ga) e a de M’Beza-
Vengo com o Shamvaiano (2.65 - 2.6 Ga) (Afonso et al., 1998).
Durante o Arcaico tardio e o Proterozóico, as formações de Macequece e de M’beza-
Vengo sofreram vários fenómenos de intrusão por magmas ácidos e básicos. Os corpos
ígneos intrusivos têm composição predominantemente granitóide e constituem um extenso
complexo batolítico na bordadura do cinturão de rochas verdes (granitos externos) e
diversos “stocks” no interior do cinturão (granitos internos) (Fig. 2.3).

2.3.1 Litoestratigrafia

A Formação de Macequece é a unidade mais antiga do grupo de Manica e é


composta por uma sequência alternada de rochas ígneas básicas/ultrabásicas e
sedimentares metamorfizadas (Fig. 2.3). As litologias ígneas estão representadas por
komatiitos basálticos e komatiitos peridotíticos com intercalações de rochas félsicas. Por
acção do metamorfismo, as rochas ígneas máficas e ultramáficas passam a talcoxistos,
xistos tremolíticos, anfibolitos, serpentinitos, epidotitos e clorititos (Afonso et al., 1998).

18
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

N
Zimbabwe

Vila de Manica

Scale

0 4 8 12 Km

Formação de Macequece Rochas

Aluviões Quartzitos Doleritos

Formação de MBeza-Vengo Metapelitos e metapsamitos Plutões externos

Metassedimentos clásticos Metavulcânicos máficos e ultramáficos Plutões internos

Figura 2.3 - Esquema geológico simplificado da região de Manica (adaptado de Afonso et


al., 1998)

Sobre este conjunto assenta concordantemente um pacote metassedimentar, menos


metamorfizado, constituído por grés, conglomerados, grauvaques e quartzitos bandados
ferruginosos (BIF) (D’Orey, 1978). O pacote metassedimentar também contem
intercalações de rochas lávicas (D’Orey, 1978).
A datação de metavulcanitos félsicos intercalados nas rochas verdes de Manica pelo
método Rb-Sr (rocha-total) deu uma idade de 2801 ± 42 Ma o que fornece alguns
constrangimentos temporais para a formação dos greenstones da região (Manuel, 1992).

A Formação de M’beza–Vengo repousa em discordância sobre a Formação de


Macequece e é constituída por uma sequência metassedimentar de conglomerados,

19
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

grauvaques e pelitos com intercalações de metavulcanitos máficos e ultramáficos (Fig.


2.3). Na base da formação M’beza–Vengo encontra-se uma unidade de conglomerados
grosseiros à qual se seguem grauvaques, arcoses, arenitos, argilitos, siltitos, quartzitos
ferruginosos, quartzitos sericitosos, calcários, xistos negros, xistos argilosos e xistos
glandulares (Afonso et al., 1998). As rochas verdes desta formação estão representadas por
talcoxistos e ensteatitos (Afonso et al., 1998).

2.3.2 Magmatismo

Durante o Arcaico tardio e o Proterozóico, as formações de Macequece e de M’Beza-


Vengo foram intensamente intruídas por granitóides e corpos ígneos básicos de natureza
variada. Com base em critérios mineralógicos e geoquímicos, os granitóides da região de
Manica têm sido classificados em dois grandes grupos: (1) a série tonalítica-trondjemítica-
granodiorítica (TTG) e (2) a série granítica rica em potássio:
• os granitóides da série TTG, incluídos por Afonso et al. (1998) no grupo dos
“granitos-gnaisses cratónicos”, ocorrem como intrusões orientadas e
ortognaissificadas, por vezes charnoquíticas, com idades pós-Macequece e pré-
Vengo. Apresentam composições predominantemente sódicas e caem,
petrograficamente, nas designações de quartzo-dioritos, tonalitos, granodioritos e
trondjemitos (Afonso et al., 1998).
• os granitóides da série rica em potássio, também conhecidos por “granitóides
cratónicos gnaissificados” (Afonso et al., 1998), têm idades pós-Vengo e fazem parte
das fácies remobilizadas da margem moçambicana. Os termos dominantes nesta série
são monzogranitos potássicos cuja instalação parece ter sido contemporânea com a
de diques básicos e ultrabásicos (Afonso et al., 1998).
Os granitóides “externos” que afloram tanto a norte como a sul do cinturão de rochas
verdes de Manica (Fig. 2.2) fazem parte do chamado complexo granítico-gnáissico de
Vumba que, segundo Manhiça et al. (2001), exibe composições típicas das litologias TTG
arcaicas e idades variando entre ca. 3.4 e 2.8 Ga. Com efeito, Manuel (1992) obteve
isócronas Rb-Sr (rocha total) de 3385 ± 255 Ma para um conjunto de amostras de
granitóides, expostos a norte do cinturão de Manica, e de 2527 ± 632 Ma para granitóides
que afloram a sul.

20
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

O complexo granítico-gnáissico de Messica (Fig. 2.4) que se localiza no limite


oriental do cinturão de rochas verdes de Manica, junto à fronteira com o cinturão móvel de
Moçambique, é composto essencialmente por granitos leucocráticos da série rica em
potássio (Manhiça et al., 2001).

Fm. Fronteira Granodiorito


Tchinhadzande
Granito Messica
Granito de Nhansipfe
Granito de Vumba Unidades Cinturão móvel
Pré-Grenvillianas Granodiorito Chimoio de Moçambique
Metassedimentos > 1.2 Ga < 1.2 Ga
Migmatitos Vanduzi
Serpentinitos
Micaxistos Intrusões máficas

Limite ocidental do cinturão de


Moçambique

Figura 2.4- Esquema geológico simplificado da região entre Manica e Chimoio (adaptado
de Manhiça et al., 2001)

A textura destes granitóides varia de equigranular de grão médio a porfiróide. O seu


carácter porfiróide é conferido pela presença de fenocristais de feldspato potássico que
chegam a atingir 2 cm de comprimento. No bordo oeste do maciço, os granitóides de
Messica apresentam um fabric isotrópico que se torna fortemente anisotrópico à medida
que se caminha para leste. Manhiça et al. (2001) obteve uma errócrona Rb-Sr (rocha total)
em seis amostras desta unidade (2618 ± 632 Ma, 87Sr/86Sri = 0.7054, MSWD = 28.9) o que
sugere uma idade de instalação Arcaico tardio – Proterozóico inferior e é compatível com a
idade U-Pb (método convencional) obtida em zircões de granitóides semelhantes do
maciço de Chilimanzi (2601 ± 14 Ma) (Jelsma et al., 1996).
Segundo Manhiça et al. (2001), as rochas dos complexos granítico-gnáissicos de
Vumba e de Messica mostram evidências de terem sido afectadas por fenómenos de
reactivação térmica durante as orogenias Grenvilliana (ca. 1100 Ma) e Pan-Africana (ca.

21
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

550 Ma). As idades 40Ar-39Ar de duas amostras de biotite dos granitóides de Vumba (1084
± 4 Ma e 1067 ± 4 Ma) são interpretadas como reflectindo o processo de acreção do
cinturão de Moçambique à margem leste do cratão do Zimbabwe durante a amalgamação
do supercontinente Rodinia (Manhiça et al., 2001). Por outro lado, a idade 40Ar-39Ar obtida
numa amostra de biotite do maciço de Messica (535 ± 2.5 Ma) é correlacionada com o
fecho do oceano de Moçambique e subsequente formação do continente Gondwana
durante a orogenia Pan-Africana (Manhiça et al., 2001).

2.3.3 Estrutura e metamorfismo

A região de Manica é caracterizada pela presença de estruturas com direcções E-W e


forte pendor para Norte. À medida que se caminha para leste, na direcção do orógeno
Moçambicano, as estruturas principais sofrem uma virgação e passam a assumir uma
orientação ENE-WSW o que sugere que a margem leste do cratão possa ter sido afectada
por um cisalhamento esquerdo (Manhiça et al., 2001).
Nas sequências de greenstones de Manica, a deformação gerou dobras isoclinais
apertadas com planos axiais fortemente mergulhantes para Norte e orientação E-W.
Segundo Oberholzer (1964), as rochas básicas e ultrabásicas afloram geralmente nos
núcleos dos antiformas, enquanto os metassedimentos e quartzitos listrados tendem a
ocupar os flancos e os núcleos dos sinformas. A presença de uma foliação tectónica
concordante com as estruturas do encaixante nas fácies deformadas do complexo granítico-
gnáissico de Vumba sugere uma instalação sintectónica para estes granitóides. Em
contraste, os monzogranitos de Messica não apresentam o fabric planar E-W, mesmo nas
zonas em que contactam directamente com os granitóides de Vumba, o que é tido como
evidência de que a sua intrusão terá ocorrido posteriormente ao episódio de deformação
responsável pelo desenvolvimento de estruturas E-W (Manhiça et al., 2001). As rochas do
maciço de Messica só apresentam um fabric anisotrópico (N-S, subvertical) no sector
oriental, facto que estará provavelmente relacionado com uma remobilização
contemporânea da deformação do cinturão móvel de Moçambique.
No que se refere ao metamorfismo, as associações mineralógicas que se observam
nas rochas arcaicas de Moçambique e do Zimbabwe indicam um metamorfismo na fácies
dos xistos verdes (Oberholzer, 1964; Araújo, 1966; Afonso, 1976; D’Orey, 1978; Watson,
1969; Stocklmayer, 1978). Contudo, nas áreas submetidas à influência térmica das

22
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

intrusões graníticas, as paragéneses das rochas envolventes passam para o tipo anfibolítico
(Afonso et al., 1998).
A área de Manica é afectada pelos seguintes sistemas de fracturas:
a) fracturas de direcção E - W;
b) fracturas de direcção NW – SE;
c) fracturas de direcção NE - SW .
O primeiro grupo de fracturas concorda com a direcção do complexo metamórfico
arcaico pelo que tem sido interpretado como sendo o mais antigo. Grande parte dos filões
de quartzo auríferos localiza-se nos contactos entre os granitos orientados e as rochas
vulcano-sedimentares e a sua instalação parece ter sido controlada por este grupo de
fracturas. O segundo e o terceiro sistemas de fracturas cortam todas as formações arcaicas
pelo que lhes têm sido idades mais recentes. Estas fracturas condicionaram a intrusão de
corpos filonianos doleríticos e gabróicos tardios.
No centro da área estudada, a direcção E-W das associações greenstones-granitos é
interrompida pela “falha de Manica” de direcção NNE – SSW com uma componente de
desligamento esquerdo. Este acidente tectónico pode estar relacionado com a deformação
que ocorreu ao longo da margem oriental do Cratão do Zimbabwe na interface com o
Cinturão de Moçambique.

2.3.4 Interesse económico

Na região de Manica encontram-se jazigos e ocorrências de ouro, cobre, bauxite,


asbestos, talco, manganês, crómio e níquel sendo os mais importantes os de ouro e cobre,
que já foram objecto de exploração (Afonso et al., 1998).
As mineralizaçôes de ouro e de cobre ocorrem em jazidas singenéticas e epigenéticas
relacionadas com as rochas ígneas máficas e ultramáficas ou com os seus equivalentes
metamórficos. As jazidas epigenéticas de ouro são as de maior interesse e estão associadas
a filões quartzo-auríferos com sulfuretos. Os corpos mineralizados de sulfuretos contendo
cobre e outros metais estão encaixados nos komatiitos, felsitos, rochas talco-carbonáticas e
serpentinitos. É o caso do jazigo Mundonguara, na Serra de Isitaca. As concentrações de
asbestos e talco aparecem em bolsadas e veios nos serpentinitos da Formação de
Macequece.

23
Capítulo 2 – Enquadramento Geológico

Actualmente a actividade mineira na região de Manica está muito reduzida e quase


todas as minas de ouro se encontram abandonadas.

24
Capítulo 3 – Petrografia

CAPÍTULO 3

PETROGRAFIA
Neste capítulo far-se-á a descrição petrográfica dos granitóides da região de Manica
apresentando as características mineralógicas e texturais das diferentes fácies, e tentando
estabelecer a sequência de cristalização magmática. Mostra-se, na Figura 3.1, a localização
das amostras estudadas.
Foram realizadas algumas análises químicas de minerais por microssonda electrónica
no Instituto Geológico e Mineiro, Delegação do Porto, com o objectivo de determinar a sua
composição e complementar os dados petrográficos. Os resultados dessas análises são
apresentados no Anexo 1.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS GRANITÓIDES DE MANICA

O diagrama normativo Or-Ab-An, proposto originalmente por O’Connor (1965) e


modificado posteriormente por Barker (1979), tem sido utilizado na classificação de rochas
plutónicas félsicas, nomeadamente por permitir uma separação efectiva de tonalitos,
trondjemitos, granodioritos e granitos. Com efeito, em comparação com a análise modal, o
cálculo normativo parece fornecer uma estimativa mais realista das proporções de
feldspato potássico e plagioclase, em particular nos casos em que há solução sólida
importante entre os componentes sódico e potássico. Além disso, este diagrama pode ser
usado em rochas deformadas e metamorfizadas, desde que não haja evidências de
metassomatismo, para caracterizar os tipos magmáticos originais.
Por estas razões, determinaram-se as normas CIPW para os granitóides de Manica a
partir das composições macroelementares (Anexo 2) e procedeu-se à sua projecção no
diagrama de Barker (1979) (Fig. 3.2).

25
Capítulo 3 – Petrografia

26
Capítulo 3 – Petrografia

Com base nos resultados obtidos, foi possível distinguir dois grandes grupos de rochas:
1- um conjunto de amostras com teores de anortite normativa superiores a 7% que
se distribui desde o campo dos tonalitos até ao dos granitos e apresenta claras
afinidades geoquímicas com as rochas da série TTG;
2- um grupo de amostras que se projecta no campo dos granitos e se caracteriza
pelas suas baixas proporções de anortite normativa (< 7%) e altos valores de
ortose normativa (> 20%). Estes granitóides mostram assinaturas geoquímicas
semelhantes às da série rica em potássio identificada noutras áreas do cratão do
Zimbabwe.

An
Quartzo-diorito
Tonalitos
Trondjemitos
Granodioritos
Granitos (TTG)
Granitos (ricos de K)

T
Gd

Tdj
Gr
Ab Or
Figura 3.2 – Classificação dos granitóides do distrito de Manica (O’Connor,
1965, modificado por Barker, 1979).

Embora Afonso et al. (1998) refiram a presença de monzogranitos da série rica em


potássio entre as formações que constituem o Grupo de Manica, Manhiça et al. (2001)
incluem os granitóides “externos” que afloram tanto a norte como a sul do cinturão de
rochas verdes de Manica no chamado complexo granítico-gnáissico de Vumba que,
segundo este autor, exibe composições típicas das litologias TTG arcaicas e idades
variando entre ca. 3.4 e 2.8 Ga. A amostragem realizada no âmbito deste trabalho permite

27
Capítulo 3 – Petrografia

concluir que o complexo granítico-gnáissico de Vumba contém fácies que poderão não
fazer parte da série TTG. Contudo, a ocorrência de monzogranitos ricos em potássio neste
complexo não pode ser inequivocamente interpretada como representando uma série
distinta da dos restantes granitóides, uma vez que os diferentes tipos litológicos não são
individualizados como unidades independentes em termos da cartografia actualmente
disponível (Fig. 3.1). Deste modo, a utilização da designação de granitos ricos em potássio
para as amostras referidas em 2) tem um carácter fundamentalmente descritivo. Na Tabela
3.1 é apresentada a classificação adoptada para os granitóides em estudo.

Tabela 3.1 – Classificação das amostras estudadas


Tipo de rocha Amostra Localização
Quartzo-diorito MS09 Externo sul - TTG
MS01, MS06, MS07, MS19 Externo sul - TTG
Tonalito
MS28 Interno - TTG
MS11, MS20 Externo sul - TTG
Trondjemito
MS21 Interno - TTG
MS15, MS25 Externo norte - TTG
Granodiorito
MS04 Externo sul - TTG
MS23 Interno - TTG
MS22, MS29, MS30 Interno -TTG
Granito
MS08, MS10, MS12, MS18 Externo sul – ricos em K

Apesar da amostra MS-09 se projectar no campo dos tonalitos, optou-se por


classificá-la como quartzo-diorito em consequência de ela se distinguir nitidamente, em
particular no que se refere ao teor de sílica e à abundância de anfíbola, das restantes
amostras que se situam no mesmo campo. A amostra MS-29, embora apresente um
conteúdo de anortite normativa comparável ao dos granitos ricos em potássio (4.43%), foi
incluída nos granitos da série TTG devido à baixa razão K2O/Na2O (0.80). Finalmente, a
amostra MS-03 deveria ser classificada como trondjemito de acordo com os seus teores de
ortose, albite e anortite normativas. No entanto, as suas características petrográficas e
geoquímicas sugerem que se trata de uma rocha félsica metassomatizada tendo sido
incluída no grupo dos granitóides ricos em potássio por ser muito pobre em minerais
ferromagnesianos e em anortite normativa.

28
Capítulo 3 – Petrografia

Para efeitos de descrição petrográfica, adoptar-se-á a classificação descrita


anteriormente, separando as amostras da série tonalítica-trondjemítica-granodiorítica
(TTG) dos granitos ricos em potássio (monzogranitos).

3.2 SÉRIE TTG

A série TTG inclui rochas cujas composições variam de quartzo-dioritos, passando


por tonalitos, trondjemitos e granodioritos, a granitos (Fig. 3.2).

3.2.1 Quartzo-diorito

O quartzo-diorito corresponde ao termo menos evoluído da sequência em estudo.


Apresenta uma textura granular, xenomórfica a hipidiomórfica, de grão fino (< 1mm) e
contém plagioclase, quartzo, anfíbola e biotite como fases essenciais. A esfena, apatite,
opacos e zircão são fases acessórias comuns. A sericite e o epídoto estão presentes como
minerais de alteração da plagioclase.
O quartzo ocorre em grãos incolores, anédricos com contornos que frequentemente
se adaptam às formas dos outros minerais. Mostra com frequência extinção ondulante e
subgranulação.
A plagioclase existe sob a forma de cristais anédricos e subédricos com macla
polissintética segundo a lei da albite e/ou de periclina (Fot. 3.1). Em vários grãos
observou-se zonamento bem marcado geralmente do tipo normal. As composições obtidas
variam de An27 a An44 (oligoclase a andesina), predominando os termos andesínicos (Fig.
3.3). A sericite e minerais do grupo de epídoto são os principais produtos de alteração da
plagioclase.
A biotite constitui grãos de hábito subédrico, com o pleocroísmo típico entre o
castanho claro e o castanho escuro. Por vezes aparece incluída na plagioclase. A projecção
das análises de biotite, com totais superiores a 97%, no diagrama AlVI vs Fe/(Fe + Mg)
indica que as biotites dos quartzo-dioritos têm razões Fe/(Fe + Mg) intermédias entre a
flogopite (extremo rico em magnésio) e a annite (extremo rico em ferro) e valores de AlVI
compreendidos entre 0.5 e 0.6 (Fig. 3.4).

29
Capítulo 3 – Petrografia

Or
Ortoclase/Microclina
pertíticas

Pertite

Mesopertite Quartzo-diorito
Tonalitos

Andesina
Labradorite
Oligoclase
Bytownite

Ab An
Albite Anortite

Figura 3.3 – Projecção dos feldspatos dos quartzo-dioritos, tonalitos, granodioritos e


trondjemitos da série TTG no diagrama Ab-An-Or

2.0 Eastonite Siderofilite

Quartzo-diorito
1.6 Tonalitos
Granitos ricos de K

1.2
(para 22O)
Alvi

Alumino-flogopite Alumino-annite

0.8

0.4

Flogopite Annite
0.0

0.0 0.5 1.0


Fe/(Fe+Mg)
Figura 3.4 – Diagrama AlVI vs Fe/(Fe+Mg) mostrando as composições das biotites dos
granitóides de Manica

30
Capítulo 3 – Petrografia

No seu conjunto, as biotites dos granitóides de Manica definem uma tendência de


aumento em AlVI e Fe/(Fe + Mg) dos termos mais básicos para os mais ácidos o que é
compatível com o envolvimento de processos de cristalização fraccionada na génese destas
rochas.
Nos quartzo-dioritos, os cristais de anfíbola apresentam um hábito subédrico a
anédrico (Fot. 3.2 e 3.3). Exibem pleocroísmo variando entre o amarelo acastanhado e
verde escuro. A sua composição varia de tschermaquite a magnésio-horneblenda (Si = 6.4-
6.6 e Mg/(Mg+Fe2) = 0.55-0.61) (Fig. 3.5) o que sugere uma origem magmática para este
mineral. A influência dos processos metamórficos de baixa temperatura deverá ter sido
pouco marcada pois mesmo as magnesio-horneblendas são ricas de componente
tschermaquítico.

Quartzo-diorito
Tonalitos

Classificação de Leake et al. (1997)


aplicável a anfíbolas com Ca superior a 1.5
e Na+K, em A, inferior a 0.5
1.0
Tremolite
Magnésio-horneblenda
Mg/(Mg+Fe2)

Tschermaquite Actinolite

0.5

o lit e
Ferro-tschermaquite Ferro-horneblenda -a c t in
F e rro

0.0

5.5 6.0 6.5 7.0 7.5 8.0


Si
Figura 3.5 – Diagrama Si vs Mg/(Mg+Fe2) mostrando as composições de anfíbolas dos
quarzo-dioritos e tonalitos de Manica

A apatite não é muito abundante. Encontra-se sob a forma de pequenos cristais


prismáticos incluídos preferencialmente na plagioclase e no quartzo. A esfena ocorre em
grãos anédricos a subédricos, pontualmente euédricos, e está frequentemente associada à
anfíbola e à biotite. É possível que a esfena seja em parte magmática e, em parte,
secundária, resultante da alteração hidrotermal dos minerais máficos.

31
Capítulo 3 – Petrografia

32
Capítulo 3 – Petrografia

33
Capítulo 3 – Petrografia

34
Capítulo 3 – Petrografia

Os opacos têm ocorrência esporádica e tendem a associar-se aos silicatos


ferromagnesianos. Alguns grãos de opacos estão parcialmente substituídos por óxidos e
hidróxidos de ferro de côr avermelhada e rodeados por esfena secundária.

3.2.2 Tonalitos-Trondjemitos-Granodioritos

Os tonalitos, trondjemitos e granodioritos da região de Manica constituem os termos


intermédios da sequência TTG em estudo e correspondem a uma gama contínua de
composições ocupando a zona de fronteira entre os campos T, Gd e Tdj no diagrama Or-
Ab-An (Fig. 3.2). As diferentes litologias revelam fortes semelhanças texturais e
mineralógicas, distinguindo-se fundamentalmente pelas variações nas proporções modais e
normativas de quartzo, plagioclase e feldspato alcalino.
Apresentam uma textura hipidiomórfica a xenomórfica, granular, de grão fino a
médio. Embora a textura original esteja preservada nalgumas amostras, observam-se muito
frequentemente evidências de processos pós-magmáticos. Nesses casos, os cristais relíquia
são preferencialmente de plagioclase subédrica podendo subsistir alguns grãos de quartzo
de grandes dimensões, anédricos e muito deformados (Fot. 3.4). A matriz envolvente tem
granularidade fina, textura granoblástica e é constituída essencialmente por quartzo e
proporções subordinadas de plagioclase e microclina (Fot. 3.5).
Em termos mineralógicos, estas rochas contêm quartzo e plagioclase como minerais
essenciais. O feldspato alcalino, a biotite, a apatite, o zircão e os opacos constituem as
fases acessórias mais importantes. A anfíbola está presente apenas numa amostra de
tonalito. A sericite, o epídoto, a clorite e a esfena são os minerais de alteração mais
comuns.
O quartzo tende a formar grãos, com dimensões até 2 mm, anédricos, mostrando
frequentemente sinais de deformação que se manifesta pela extinção ondulante e
subgranulação. Observa-se ainda a presença de quartzo límpido sem inclusões no seio de
outros minerais. Nas rochas mais deformadas, o quartzo também ocorre sob a forma de
agregados policristalinos (Fot. 3.5). O cristais com maiores dimensões e extinção
ondulante parecem ser de origem magmática enquanto os pequenos grãos que constituem
os agregados policristalinos são claramente de natureza metamórfica.
Entre os feldspatos, a plagioclase predomina marcadamente. Forma, em geral,
cristais com grandes dimensões (até 2 mm) mas também pode ocorrer em grãos

35
Capítulo 3 – Petrografia

submilimétricos nas zonas granoblásticas. Exibe hábito subédrico e macla polissintética


segundo a lei da albite e/ou de periclina (Fot. 3.4). Os cristais relíquia de plagioclase
sofreram alteração intensa, envolvendo processos de sericitização e/ou saussuritização
(Fot. 3.6). Neste último caso, a alteração é caracterizada pelo desenvolvimento de sericite,
de minerais do grupo de epídoto e de esfena / leucoxena. A sericitização é acompanhada,
esporadicamente, pela formação de pequenas palhetas, subédricas a anédricas, de
muscovite tardia. Pontualmente também pode gerar-se calcite como produto de alteração
da plagioclase. Devido ao elevado grau de alteração em que se encontram, os dados de
microssonda (Fig. 3.3) não parecem reflectir a composição das plagioclases primárias, à
excepção de duas análises de oligoclase (An24). As restantes análises correspondem a albite
com teores em anortite variando entre An3 e An8 que deve resultar dos processos de re-
equilíbrio a baixa temperatura.
O feldspato potássico está preferencialmente presente como cristais intersticiais de
dimensões reduzidas embora se observem alguns grãos isolados de dimensões milimétricas
(Fot. 3.7). Apresenta a macla axadrezada típica da microclina e composições variando
entre Or96 e Or98 (Fig. 3.3). Por vezes, nota-se a existência de exsoluções pertíticas
indicando arrefecimento em condições sub-solidus.
A biotite decresce em abundância dos tonalitos e granodioritos para os trondjemitos.
Ocorre sob a forma de grãos de hábito subédrico e pode apresentar extinção ondulante.
Exibe pleocroísmo entre o amarelo acastanhado e o castanho escuro. Está frequentemente
alterada para clorite + esfena ± epídoto e pode conter agulhas de rútilo no seu interior (Fot.
3.8). Alguns cristais de biotite são completamente pseudomorfizados pela associação
secundária referida anteriormente. Apesar do escasso número de análises disponíveis,
parece ser possível concluir que as biotites dos tonalitos se sobrepõem
composicionalmente às dos quartzo-dioritos (Fig. 3.4). Para os granodioritos e
trondjemitos não foi possível obter informação analítica.
A anfíbola foi identificada unicamente numa amostra de tonalito (MS-01). Tem
carácter nitidamente secundário e o seu aspecto varia desde (a) cristais prismáticos muito
alongados com comprimentos que podem atingir 1 mm e pleocroísmo variando entre verde
amarelado e verde forte, até (b) agulhas com centésimas de mm de comprimento, cor
amarelada a verde pálida, constituindo frequentemente agregados fasciculares (Fot. 3.9).

36
Capítulo 3 – Petrografia

37
Capítulo 3 – Petrografia

38
Capítulo 3 – Petrografia

39
Capítulo 3 – Petrografia

40
Capítulo 3 – Petrografia

Foram realizadas análises químicas de anfíbola e os resultados correspondem a


composições de magnésio-horneblenda de tendência actinolítica (Fig. 3.5). Nas anfíbolas
claramente actinolíticas, não se obtiveram dados analíticos fiáveis pelo que foram
desprezados.
A apatite é uma fase acessória comum em todos os termos da sequência TTG embora
seja mais abundante nos quartzo-dioritos. Constitui cristais de hábito prismático incluídos
em plagioclase e quartzo. A esfena é predominantemente secundária, ocorrendo em grãos
anédricos associados à clorite e como produto de alteração da plagioclase.
A sericite, os minerais do grupo do epídoto e a clorite são os principais minerais de
alteração presentes. A formação da sericite, deve-se provavelmente à adição de água e K+.
Uma fonte importante de K+ poderá ter sido a cloritização da biotite (Shelley, 1983). O K+
libertado reage com a componente anortítica da plagioclase resultando a libertação do Ca2+
que é usado na produção de epídoto e esfena.

3.2.3 Granitos TTG

Os granitos da série TTG de Manica apresentam uma textura granular hipidiomórfica


a xenomórfica. São compostos por cristais de feldspato alcalino, plagioclase e quartzo
dispersos numa matriz resultante de poligonização. Como fases acessórias mais frequentes
contêm biotite, apatite e opacos. Distinguem-se dos termos mais básicos da série pela
maior abundância de microclina e quartzo e menores proporções de biotite. A sericite, os
minerais do grupo do epídoto e a clorite aparecem como minerais de alteração. À escala
microscópica verifica-se a existência quase generalizada de processos de alteração e
recristalização, que se manifestam pela forte sericitização e saussuritização da plagioclase
e pela presença de agregados de quartzo poligonal.
O quartzo é o principal constituinte dos agregados granoblásticos que rodeiam os
cristais de feldspato. Contudo, nalgumas amostras ainda são visíveis cristais milimétricos
com extinção ondulante e forma anédrica. Aparece ocasionalmente na forma de inclusões.
O feldspato alcalino está presente em grãos anédricos, intersticiais, com as maclas
características da microclina e texturas pertíticas. A composição obtida em duas análises é
de Or97 (Fig. 3.6). A plagioclase ocorre essencialmente na forma de grãos subédricos,
fortemente zonados. A sua composição varia de An8 (albite) a An13 (oligoclase) (Fig. 3.6).

41
Capítulo 3 – Petrografia

Devido ao reduzido número de análises e ao grau de alteração, não é possível aferir se


aqueles resultados representam todo o leque composicional existente.
A biotite forma grãos de hábito subédrico a anédrico, variavelmente alterados para
clorite.

3.3 GRANITOS RICOS EM POTÁSSIO

Os granitos ricos em potássio têm composição predominantemente monzogranítica.


A sua textura é granular xenomórfica, de grão médio a fino. São compostos essencialmente
por quartzo, feldspato alcalino e plagioclase. Têm como fases acessórias mais frequentes
biotite, apatite, zircão e opacos. A sericite e a clorite aparecem como principais minerais de
alteração.
Na amostra MS-03, ao contrário das restantes, a plagioclase predomina claramente
sobre a microclina o que aliás está de acordo com a sua projecção no campo dos
trondjemitos no diagrama Or-Ab-An (Fig. 3.2). Contudo, esta amostra tem um teor muito
elevado de SiO2 (80%), que se manifesta petrograficamente na abundância de quartzo.
Distingue-se ainda dos trondjemitos da série TTG pelo seu baixo conteúdo em biotite e
maior importância da microclina. Por estes motivos, é interpretada como uma rocha félsica
metassomatizada com afinidades com o grupo dos granitos ricos em potássio.
O quartzo, na maioria das amostras dos granitos ricos em potássio, ocorre em grãos
anédricos com extinção ondulante. Nalguns casos, pode formar pequenos cristais com
décimas de milímetro que constituem bordos de recristalização em torno dos grãos
milimétricos de quartzo e feldspato (Fot. 3.10).
O feldspato alcalino é predominantemente intersticial. Exibe hábito anédrico, maclas
da microclina e pode conter inclusões de plagioclase e quartzo. A microclina está
frequentemente pertitizada como consequência da exsolução em condições subsolidus (Fot.
3.10). Composicionalmente, os feldspatos alcalinos apresentam teores em ortose variando
entre Or25 e Or95 (Fig. 3.6). Os baixos conteúdos de ortose (Or25 – Or68) obtidos na amostra
MS-08 correspondem provavelmente a análises em domínios com criptopertites. Com
efeito, o grão analisado evidencia, à escala microscópica, uma textura pertítica o que
suporta a hipótese colocada.
A plagioclase ocorre sob a forma de cristais com hábito subédrico a anédrico, macla
polissintética da albite e zonamento pouco marcado. Nos contactos com o feldspato

42
Capítulo 3 – Petrografia

potássico é comum o desenvolvimento de mirmequites (Fot. 3.11). O grau de alteração


parece menos intenso do que nalguns termos da sequência TTG e o fenómeno de
sericitização domina claramente sobre o da saussuritização (Fot. 3.12).
Os dados de microssonda para as plagioclases destas rochas permitem distinguir dois
grupos de composições: (a) oligoclase com teores de anortite entre An18 e An25,
representando os termos primários, e (b) albite com valores de anortite entre An1 e An7
(Fig. 3.6).

Or
Ortoclase/Microclina
pertíticas

Pertite

Mesopertite
Granitos (TTG)
Granitos ricos de K

Andesina
Labradorite
Oligoclase
Bytownite

Ab An
Albite Anortite

Figura 3.6 – Projecção dos feldspatos dos granitos de Manica no diagrama Ab-An-Or

A biotite constitui grãos de hábito subédrico a anédrico com pleocroísmo entre o


castanho pálido e o castanho escuro. Está alterada para clorite ± esfena em proporções
variáveis. A projecção das análises de biotite, com totais superiores a 97%, no diagrama
AlVI vs Fe/(Fe + Mg) mostra que as biotites dos granitos ricos em potássio são as que estão
mais próximas da composição da alumino-annite, com razões Fe/(Fe + Mg) próximas de
0.6 e valores de AlVI compreendidos entre 0.67 e 0.70 (Fig. 3.4).

43
Capítulo 3 – Petrografia

44
Capítulo 3 – Petrografia

45
Capítulo 3 – Petrografia

46
Capítulo 3 – Petrografia

A apatite, o zircão e os opacos ocorrem preferencialmente como inclusões nos


minerais essenciais.

3.4 CONCLUSÕES

Os granitóides da região de Manica foram divididos em dois grupos: os granitóides


da série TTG e os granitóides ricos em potássio. Os granitóides do primeiro grupo têm
composições que variam de quartzo-dioritos, passando por tonalitos, granodioritos e
trondjemitos até aos granitos. Os termos mais evoluídos dessa série, distinguem-se dos
menos evoluídos pela maior importância do feldspato potássico, ausência de anfíbola e
carácter mais leucocrático. Os granitos ricos em potássio têm composição monzogranítica
e apresentam teores mais elevados de microclina do que os seus equivalentes da série TTG.
Na sua maioria, as rochas de ambas séries apresentam texturas primárias com
indícios de terem sido afectadas por processos de deformação e recristalização que se
manifestam pelo desenvolvimento, em vários graus, de domínios granoblásticos
constituídos por quartzo e proporções subordinadas de plagioclase e feldspato alcalino.
Mostram ainda evidências de alteração envolvendo participação significativa de fluidos
aquosos, sendo os casos mais comuns a sericitização e a saussuritização da plagioclase,
bem como a cloritização da biotite.
Com base nas relações texturais observadas podem tirar-se as seguintes conclusões
sobre a sequência de cristalização:
- a plagioclase e os minerais ferromagnesianos (anfíbola e biotite) apresentam em
geral formas subédricas e são envolvidos pelo quartzo e feldspato alcalino
intersticiais o que sugere uma cristalização precoce para aquelas fases minerais;
- a esfena e os opacos de origem primária decrescem em abundância dos termos mais
básicos para os mais ácidos e estão normalmente associados aos cristais de anfíbola
e de biotite, devendo ter-se gerado simultaneamente com estes minerais;
- a apatite e o zircão ocorrem habitualmente como inclusões nos minerais essenciais
pelo que deverão ter-se formado durante os estádios iniciais da consolidação
magmática, em particular no caso dos líquidos com composições graníticas;
- o quartzo e o feldspato alcalino representam as últimas fases a precipitar a partir
dos líquidos magmáticos sendo difícil estabelecer uma cronologia relativa para
estes dois minerais;

47
Capítulo 3 – Petrografia

- a clorite, a sericite, o epídoto, a actinolite, a esfena secundária e os óxidos e


hidróxidos de ferro correspondem a produtos de alteração hidrotermal de baixa
temperatura, afectando predominantemente a biotite e a plagioclase.

48
Capítulo 4 – Geoquímica

CAPÍTULO 4

GEOQUÍMICA
O estudo geoquímico cingiu-se às mesmas amostras usadas para o estudo
petrográfico. As análises químicas dessas rochas foram realizadas por espectrometria de
emissão de plasma ICP (técnica de fusão) para os elementos maiores e por ICP-MS para
elementos vestigiais, incluíndo as terras raras, nos Activation Laboratories Ltd. (Canadá).
Os resultados analíticos são apresentados no Anexo 2.
Este capítulo tem por objectivo a identificação da assinatura geoquímica dos
granitóides da região de Manica, com base nos resultados das análises químicas e dos
estudos petrográficos e mineralógicos abordados no capítulo anterior.

4.1 GEOQUÍMICA DE ELEMENTOS MAIORES

Os granitóides objecto deste estudo foram divididos em dois grupos principais: um


grupo claramente integrado na série TTG; outro grupo de granitos ricos em potássio. No
primeiro, incluem-se rochas com graus de diferenciação muito distintos (SiO2 variando de
58.99% até 77.53%) mas sempre com teores de potássio baixos (K2O < 3.22%), enquanto o
segundo abarca granitóides francamente ácidos (SiO2 = 73.49%) e com potássio em
proporções significativas (K2O = 3.93%). Para a descrição do comportamento e das
tendências evolutivas dos elementos maiores, menores e vestigiais foram utilizados
diagramas de variação química, usando SiO2 como índice de diferenciação.
O quartzo-diorito (MS-09) representa o termo menos evoluído da série TTG sendo
caracterizado por um teor baixo de SiO2 (58.99%) e álcalis (4.91%) e concentrações
elevadas de Al2O3 (17.12%), Fe2O3t (6.89%), MgO (3.10%) e CaO (7.33%). A razão
K2O/Na2O é de 0.31.
Os termos mais diferenciados, com composições variando entre tonalitos e granitos,
apresentam teores de SiO2 e álcalis comparativamente mais altos (67.94 - 77.53% e 5.3 –

49
Capítulo 4 – Geoquímica

7.1%, respectivamente), conteúdos inferiores de Al2O3 (12.17 - 15.61%), Fe2O3t (1.53 -


3.57%), MgO (0.22 – 1.42%) e CaO (0.3 – 4.09%) e razões K2O/Na2O inferiores a 1.00.
Em termos geoquímicos, os granitos ricos em potássio distinguem-se das rochas do
grupo anterior por apresentarem razões de K2O/Na2O sistematicamente superiores a 1.00
(1.10 - 1,95). Para além disto, é de mencionar o pequeno espectro de valores de SiO2
(73.49 - 78.50%) e Al2O3 (11.98 - 13.81%) bem como os baixos teores de Fe2O3t (0.82% -
1,67%), CaO (0.47% a 1.54%) e MgO (0.15 – 0.48%). Tal como já tinha sido discutido no
Capítulo 3, a amostra MS-03 não se enquadra totalmente em nenhum dos grupos definidos
embora seja tratada em conjunto com os granitos ricos em potássio.
Na Figura 4.1, estão representados os diagramas de Harker para os granitóides de
Manica. À excepção de Na2O e K2O, todos os restantes óxidos mostram uma correlação
negativa com SiO2, definindo uma tendência curvilínea desde o quartzo-diorito, passando
pelos tonalitos, granodioritos e trondjemitos, até aos granitos. O comportamento observado
poderá ser interpretado como indicativo de uma relação cogenética, envolvendo
cristalização fraccionada, entre todos os granitóides de Manica. Apesar de haver uma
lacuna composicional entre 58.99 e 67.94% de SiO2, o quartzo-diorito parece corresponder
ao termo menos evoluído da série, a partir do qual teria sido gerada a hipotética sequência
magmática.
O declínio dos valores de Al2O3 e CaO com o aumento de SiO2 sugere uma
participação importante da plagioclase nos processos de diferenciação, embora o
decréscimo do CaO também possa ser atribuído, em parte, ao fraccionamento de anfíbola.
Por outro lado, a cristalização dos minerais máficos mais abundantes (anfíbola e
biotite) explica as fortes correlações negativas de MgO, Fe2O3t, TiO2 e MnO com SiO2. O
comportamento do Fe2O3t e do TiO2 pode ainda indicar o envolvimento de óxidos e esfena
(no caso de TiO2) no processo de fraccionação. Sendo o Mn geoquimicamente muito
semelhante ao Fe, as hipóteses colocadas àcerca da variação do Fe2O3t poderão ser
aplicadas à relação entre MnO e SiO2.
Nos diagramas referentes ao Na2O e ao K2O, regista-se uma dispersão muito forte,
provavelmente causada pela grande mobilidade dos elementos alcalinos em meio aquoso.
Visto que estas rochas testemunham episódios de alteração pós-magmática (de que são
exemplos a sericitização e a saussuritização descritas no capítulo da petrografia), as fracas
correlações dos álcalis com o índice de diferenciação deverão ser um reflexo daquela
alteração.

50
Capítulo 4 – Geoquímica

6 Quartzo-diorito
Fe2O3 (%)

Tonalitos
4 Granodioritos
Trondjemitos
2 Granitos(TTG)
Granitos ricos de K
0
60 70 80 90
SiO2 (%)
18
4

16
3
Al2O3 (%)
MgO (%)

14
2

12
1

10
0
60 70 80 90
60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

10

0.12
8
MnO (%)
CaO (%)

6
0.08

0.04
2

0 0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

Figura 4.1: Diagramas de variação de óxidos de elementos maiores para os granitóides de Manica.

51
Capítulo 4 – Geoquímica

5
K2O (%)

Na2 O (%)
4

2
3

0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

1 0.25

0.8 0.2
P2 O5(%)
TiO2 (%)

0.6 0.15

0.4 0.1

0.2 0.05

0 0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

Figura 4.1 (cont.): Diagramas de variação de óxidos de elementos maiores para os granitóides de
Manica.

No diagrama K2O vs SiO2 é visível uma clara separação entre os membros da série
TTG e os granitos do grupo rico em potássio. Apesar da dispersão observada, o K2O
parece ter “grosso modo”, para as rochas da série TTG, uma correlação positiva com SiO2.
No caso do Na2O, tal já não se verifica, o que poderá ser explicado não só por a alteração
poder ter apagado a variação primária deste constituinte químico, mas também por em
magmas intermédios a ácidos o comportamento do Na passar de predominantemente
incompatível a predominantemente compatível, em consequência do progressivo aumento
da importância das plagioclases sódicas na cristalização magmática.

52
Capítulo 4 – Geoquímica

Finalmente, a correlação negativa entre P2O5 e SiO2 pode ser devida ao


fraccionamento da apatite, que está sistematicamente presente como fase acessória.

4.2 GEOQUÍMICA DE ELEMENTOS VESTIGIAIS

A maioria dos elementos vestigiais não formam minerais próprios. São


frequentemente incorporados na estrutura dos minerais essenciais e acessórios em
substituição dos elementos maiores. O seu comportamento durante os processos de fusão e
cristalização pode ser descrito através de um parâmetro conhecido como coeficiente de
partilha (KD), definido pela razão entre as concentrações do elemento no mineral e no
líquido com o qual está em equilíbrio. De acordo com o KD que apresentam, os elementos
vestigiais são classificados como:
- compatíveis (KD>1) quando são preferencialmente incorporados nas fases sólidas
que coexistem com o líquido;
- incompatíveis (KD<1) quando têm tendência a ficar retidos no líquido.
Comparativamente aos elementos maiores, os elementos vestigiais são mais sensíveis
às diferentes etapas dos processos petrogenéticos bem como às variações de ambiente
geodinâmico, o que os torna indicadores geoquímicos fundamentais no estudo dos
fenómenos magmáticos. Com a aquisição de dados cada vez mais precisos sobre os
coeficientes de partilha (KD) para os diferentes minerais, a utilização dos oligoelementos
em petrologia ígnea tem vindo a tornar-se progressivamente mais importante.
Os elementos vestigiais que mostram um carácter marcadamente compatível durante
os processos de fusão mantélica fazem parte da primeira série de transição da tabela
periódica (Cr, V, Sc, Ni, Co) e apresentam fortes semelhanças, em termos de dimensão e
carga, com o Fe e o Mg.
Para os elementos com comportamento incompatível tem sido adoptada uma divisão
em dois grupos com base na sua força de campo (razão entre a carga e o raio iónicos):
elementos de baixa força do campo (LFSE) e elementos de grande força de campo (HFSE)
(Rollinson, 1993). Os elementos do primeiro grupo são também conhecidos como
elementos litófilos de grande raio iónico (LILE) e incluem o Ba, o Rb, o Sr, o Cs, o Th e o
U. Por outro lado, o Zr, o Hf, o Nb e o Ta são exemplos típicos de elementos do segundo
grupo. As terras raras (TR) e o Y são geralmente incluídos no grupo dos HFSE embora as
terras raras leves tenham alguma afinidade com o grupo dos LILE. É de sublinhar que o

53
Capítulo 4 – Geoquímica

comportamento incompatível de alguns dos elementos (P, Ba, Zr) dos dois grandes grupos
referidos pode tornar-se compatível em sistemas magmáticos com composições
intermédias a ácidas.

4.2.1 Elementos de transição

O crómio, o vanádio, o escândio, o níquel e o cobalto são geralmente compatíveis em


relação às fases que coexistem com líquidos de composição básica e intermédia, o que leva
a que a sua concentração em rochas félsicas seja normalmente muito baixa. Embora
possam formar minerais próprios, estes elementos são predominantemente incorporados
em minerais máficos (Tabela 4.1), e de cristalização relativamente precoce, como a olivina,
a clinopiroxena, a anfíbola e a magnetite, pelo que as suas concentrações tendem a
decrescer com a diferenciação magmática.

Tabela 4.1 – Coeficientes de partilha para elementos de transição


Líquidos de composição andesítica* Líquidos de composição dacítica / riolítica**
Plagioclase Horneblenda Magnetite Plagioclase Biotite Ilmenite FK
Ni 0.010 10 10
Co 0.010 13 8 89 0.24
V 0.010 32 30
Cr 0.010 30 32 5-20 3-109
Sc 0.010 10 2 0.053 14-15 6-11 0.02-0.04
* Gill (1981); **Mahood & Hildreth (1983); Nash & Crecraft (1985)

Na Figura 4.2, são apresentados os diagramas de variação química para o Cr, o V, o


Sc, o Ni e o Co nas rochas estudadas. De um modo geral, as concentrações destes
elementos parecem definir tendências evolutivas lineares ligeiramente curvas, decrescendo
com a diferenciação, o que suporta o envolvimento de processos de cristalização
fraccionada na petrogénese dos granitóides de Manica.
O Cr mostra maior dispersão de valores e pior correlação com a SiO2, verificando-se
inclusivamente que o quartzo-diorito contém um teor (Cr = 30 ppm) ligeiramente inferior
ao de algumas amostras de tonalitos e granodioritos (máximo 37 ppm). Embora a diferença
observada não seja muito grande, é difícil explicar o desfasamento entre o comportamento
deste elemento e o dos restantes metais de transição, admitindo-se, por isso, a hipótese de
se tratar de um problema analítico.

54
Capítulo 4 – Geoquímica

30

40

20
Cr (ppm)

Ni (ppm)
30

10
20

10 0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

160 25

20
120
Sc (ppm)
V (ppm)

15
80
10

40
5

0 0
56 60 64 68 72 76 80 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

30

Quartzo-diorito
20
Co (ppm)

Tonalitos
Granodioritos
Trondjemitos
10 Granitos(TTG)
Granitos ricos de K

0
60 70 80 90
SiO2 (%)
Figura 4.2: Diagramas de variação dos elementos de transição

55
Capítulo 4 – Geoquímica

As tendências de variação dos elementos de transição nos granitóides de Manica são


consistentes com a cristalização de anfíbola e de óxidos de Fe e Ti, nos primeiros estádios
de evolução magmática. Em fases subsequentes, a participação de biotite na associação
mineral que fraccionou poderá também ter contribuído para o empobrecimento destes
elementos nos líquidos mais diferenciados. Estas conclusões estão, aliás, de acordo com as
evidências petrográficas e com o comportamento geoquímico dos elementos maiores que
fazem parte do grupo dos metais transição (Fe, Ti e Mn).

4.2.2 Elementos litófilos de grande raio iónico (LILE)

Como já foi referido anteriormente, o bário, o rubídio e o estrôncio comportam-se


como elementos incompatíveis nas paragéneses mantélicas. Durante o fraccionamento
magmático, o Sr substitui o Ca2+ na estrutura das plagioclases e o K+ na do feldspatos
potássicos, enquanto o Ba e o Rb mostram uma marcada preferência pela biotite e
feldspato potássico (Tabela 4.2).

Tabela 4.2 – Coeficientes de partilha para o Ba, o Rb e o Sr


Líquidos andesíticos* Líquidos dacíticos / riolíticos**
Plagioclase Horneblenda Magnetite Plagioclase Horneblenda Biotite FK
Rb 0.05-0.07 0.04 0.01 0.04-0.11 0.014 2.24-4.20 0.34-1.75
Sr 1.60-2.82 0.2-0.4 0.01 2.84-15.63 0.022 0.12-0.45 3.76-5.40
Ba 0.16-0.50 0.10 0.01 0.31-1.52 0.044 5.37-23.5 4.30-11.5

*Green & Pearson (1985); Drake & Weill (1975); Gill (1981); Philpotts & Schnetzler (1970)
**Arth (1976); Mahood & Hildreth (1983); Nash & Crecraft (1985)

Nos diagramas de variação da Figura 4.3, observa-se uma correlação negativa, com
declive acentuado, entre o Sr e a SiO2 o que sugere que a cristalização de plagioclase teve
um papel importante nos processos de diferenciação magmática. Para os casos do Ba e do
Rb, regista-se uma dispersão muito forte (Fig. 4.3), que deverá ser o reflexo da alteração
pós-magmática a que estas rochas foram sujeitas (Capítulo 3). Com efeito, uma das
características típicas dos elementos deste grupo é a sua grande mobilidade em meio
aquoso.

56
Capítulo 4 – Geoquímica

200

160
Rb (ppm)

Quartzo-diorito
120
Tonalitos
Granodioritos
80
Trondjemitos
Granitos(TTG)
40 Granitos ricos de K

0
60 70 80 90
SiO2 (%)

1000 500

800 400
Ba (ppm)

Sr (ppm)

600 300

400 200

200 100

0 0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

Figura 4.3: Diagramas de variação dos elementos litófilos para os granitóides de Manica.

4.2.3 Elementos de grande força de campo

Os elementos de grande força de campo (HFSE) podem ser subdivididos em dois


subgrupos: (1) os elementos que só em condições especiais formam minerais próprios e (2)
os elementos que são constituintes essenciais de algumas fases minerais acessórias. São
exemplos do primeiro subgrupo o Nb e o Sn e do segundo, o Zr e o Y. O Zr ocorre
fundamentalmente sob a forma de zircão, embora também possa ser incorporado em
pequenas quantidades na anfíbola, allanite, monazite e xenótimo e substituir o Ti na esfena

57
Capítulo 4 – Geoquímica

ou no rútilo. O Y é um componente essencial do xenótimo, mas pode ser introduzido na


estrutura da esfena, apatite, monazite, allanite e anfíbola.
Na Figura 4.4, são apresentados os diagramas Zr vs SiO2 e Y vs SiO2 para os
granitóides de Manica. Nos termos menos evoluídos da sequência (SiO2 = 59-73%), o Zr e
o Y tendem a decrescer com o aumento de sílica o que estará relacionado com a
cristalização precoce de anfíbola, esfena, apatite e zircão.

Quartzo-diorito
Tonalitos
Granodioritos
Trondjemitos
Granitos(TTG)
Granitos ricos de K

250

60
200
Y (ppm)

40
Zr (ppm)

150

20 100

50
0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

Figura 4.4: Diagramas de variação do Y e do Zr para os granitóides de Manica

A ausência de correlações entre estes elementos e a sílica nas rochas mais


diferenciadas pode resultar de três tipos de factores, não necessariamente exclusivos: (a)
competição entre minerais, que fraccionaram em diferentes estádios de evolução
magmática, pelo mesmo elemento; (b) acumulação de fases minerais para as quais estes
elementos são compatíveis; (c) existência de duas linhagens distintas.
Embora os granitos ricos em potássio e os termos da série TTG pareçam definir dois
alinhamentos nos diagramas da Figura 4.4, o que apontaria para a terceira possibilidade, os

58
Capítulo 4 – Geoquímica

dados actualmente disponíveis, não permitiram testar essa hipótese. Como, por outro lado,
a restante informação geoquímica apoia uma relação genética entre todos os granitóides
estudados, os factores considerados em (a) e (b) serão os mais plausíveis para explicar a
fraca correlação observada.

4.2.4 Terras raras

Nas rochas ígneas ácidas, as fases acessórias (allanite, esfena, monazite, xenótimo,
apatite, zircão) são as principais receptoras de terras raras (TR), embora este grupo de
elementos possa apresentar coeficientes de partilha superiores a 1 em minerais essenciais
como a anfíbola e a biotite (Tabela 4.3). O Eu é o único elemento do grupo das TR que
ocorre sob a forma de iões divalentes, em contraste com os iões de carga 3+ característicos
dos outros lantanídeos, o que permite que os feldspatos incorporem muito mais facilmente
aquele elemento do que as restantes TR (Tabela 4.3).

Tabela 4.3 – Coeficientes de partilha para as terras raras


Líquidos andesíticos* Líquidos dacíticos / riolíticos**
Plagioclase Horneblenda Esfena Plagioclase FK Biotite Apatite
La 0.23-0.30 0.50 2.00 0.380 0.07-0.08 14.50
Ce 0.14-0.22 0.24-0.27 0.04-0.05 0.04-4.34 21.1-34.7
Nd 0.12-0.15 0.17-0.21 0.03-0.04 0.04-2.56 32.8-57.1
Sm 0.08-0.12 1.2-3.0 10.00 0.01-0.17 0.02-0.03 0.06-2.12 46.0-62.8
Eu 0.08-1.21 2.11-5.42 1.13-4.45 0.15-2.02 25.5-30.4
Dy 0.05-0.13 0.06-0.11 0.01-0.06 0.10-1.72 34.8-50.7
Ho 1.5-3.0 10.00
Yb 0.03-0.05 1.2-2.1 0.05-0.09 0.01-0.03 0.18-1.47 15.4-23.9
Lu 0.03-0.05 6.00 0.05-0.09 0.01-0.03 0.19-1.62 13.8-20.2

*Green & Pearson (1983; 1985); Drake & Weill (1975); Gill (1981); Philpotts & Schnetzler (1970)
**Arth (1976); Mahood & Hildreth (1983); Nash & Crecraft (1985); Fujimaki (1986)

Entre as fases acessórias, a monazite e a allanite retêm preferencialmente as terras


raras leves (TRL), enquanto o zircão e o xenótimo mostram maior afinidade para as terras
raras pesadas (TRP) (Brooks et al., 1981; Mahood & Hildreth, 1983; Fujimaki, 1986;
Ward et al., 1992). A esfena e a apatite não discriminam tão fortemente as TRP das TRL e
são os minerais que exibem maiores coeficientes de partilha para as terras raras

59
Capítulo 4 – Geoquímica

intermédias (TRM) (Arth, 1976; Green & Pearson, 1983; Mahood & Hildreth, 1983;
Fujimaki, 1986).
Apresentam-se na Figura 4.5 os diagramas de variação química das terras raras nos
granitóides de Manica. Tal como no caso dos HFSE, as TR parecem decrescer para valores
de sílica compreendidos entre 59-73%, mas não definem nenhuma tendência de variação
regular nos termos mais diferenciados (SiO2 > 73%).

500

400
TR (ppm)

Quartzo-diorito
300
Tonalitos
Granodioritos
200 Trondjemitos
Granitos(TTG)
100 Granitos ricos de K

0
60 70 80 90
SiO2 (%)

500 40

400
30
TRP (ppm)
TRL(ppm)

300
20
200

10
100

0 0
60 70 80 90 60 70 80 90
SiO2 (%) SiO2 (%)

Figura 4.5: Diagramas de variação das terras raras nos granitóides da região de Manica.

60
Capítulo 4 – Geoquímica

É possível que o fraccionamento de anfíbola, esfena e apatite tenha sido responsável


pelo decréscimo de terras raras nas primeiras fases de diferenciação, o que, aliás, é
concordante com a diminuição dos teores de MgO, Fe2O3t, TiO2 e P2O5 com o aumento de
sílica. Por outro lado, a dispersão observada nas composições mais ácidas deverá ter
resultado da acumulação e/ou competição entre minerais com elevados coeficientes de
partilha para as TR.
Os padrões de terras raras dos granitóides de Manica foram traçados usando as
concentrações de lantanídeos no manto primordial como factores de normalização (Sun &
McDonough, 1989). Como se pode observar na Figura 4.6, os perfis de terras raras do
quartzo diorito e dos tonalitos são sub-paralelos, sugerindo uma relação genética entre
estas litologias. O quartzo-diorito apresenta um grau de fraccionamento de TR (LaN/YbN =
7.1), TRL (LaN/SmN = 3.1) e TRP (GdN/YbN = 1.6) inferior ao dos tonalitos (LaN/YbN =
20-31; LaN/SmN = 6.7-8.0; GdN/YbN = 1.7-2.2) e é, deste conjunto de amostras, aquela em
que os teores de TRP são mais elevados. As diferenças encontradas podem resultar da
participação de anfíbola ± esfena ± apatite na associação mineral cuja cristalização
condicionou a passagem dos líquidos quartzo-dioríticos a tonalíticos.

SiO2(%)
MS09 58.99
MS01 67.94
MS06 70.12
100.0
MS07 68.17
ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

MS19 71.67
MS28 70.86

10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

Figura 4.6: Padrões de terras raras do quartzo-diorito e dos tonalitos de Manica, normalizados para
o manto primordial (Sun & McDonough, 1989).

61
Capítulo 4 – Geoquímica

Exceptuando a amostra MS-19, onde se regista uma nítida anomalia positiva de Eu


(Eu/Eu* = 2.2), tanto o quartzo-diorito como os tonalitos se caracterizam pela ausência de
anomalias significativas deste elemento (Eu/Eu* = 0.8–1.2). A inexistência de anomalias
negativas de európio nestas litologias indica que não houve fraccionamento assinalável de
plagioclase, o que é consistente com o seu carácter pouco diferenciado. Por outro lado, a
presença de uma anomalia positiva de Eu (Eu/Eu* = 2.2) na amostra com teores mais
elevados de sílica (SiO2 = 71.67%) indicia a possível acumulação de plagioclase em
estádios mais avançados da evolução magmática. De facto, os dados petrográficos
mostram que a plagioclase ocorre como uma fase de cristalização precoce nas fácies mais
diferenciadas.
Considerando a natureza relativamente primitiva dos magmas quartzo-dioríticos e
tonalíticos, as elevadas razões TRL/TRP obtidas estão provavelmente relacionadas com
processos ocorridos na fonte, nomeadamente com a presença de granada e anfíbola
residuais (Martin, 1986; Rapp et al., 1991). A anfíbola e, sobretudo, a granada discriminam
fortemente as TRP das TRL pelo que a sua retenção na fonte tenderá a produzir líquidos
enriquecidos em TRL.
Na Figura 4.7, apresentam-se os padrões de terras raras dos granodioritos da região
de Manica.

100.0
SiO2(%)
ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

MS04 69.86
MS15 69.78
MS23 72.28
MS25 69.78
10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

Figura 4.7: Padrões de terras raras dos granodioritos de Manica, normalizados para o manto
primordial (Sun & McDonough, 1989).

62
Capítulo 4 – Geoquímica

Em termos de índice de diferenciação magmática, os granodioritos da região de


Manica (SiO2 = 69.78-72.28%) sobrepõem-se aos tonalitos (SiO2 = 67.94-71.67%). Não é
por isso de estranhar que os seus padrões de terras raras sejam muito semelhantes aos
anteriormente descritos (Fig. 4.6 e 4.7). Com efeito, as razões LaN/YbN (6.9-28.9),
LaN/SmN (4.5-6.8) e GdN/YbN (1.4-2.3) são comparáveis às dos quartzo-dioritos e
tonalitos. Além disto, verifica-se que os granodioritos também não apresentam anomalias
de Eu (Eu/Eu* ] 1.0) sugerindo que o fraccionamento de plagioclase não foi
suficientemente importante para superar o efeito produzido pela separação de anfíbola
durante os processos de cristalização fraccionada.
Os perfis de terras raras dos trondjemitos da região de Manica (Fig. 4.8) mostram
que estas rochas tendem a exibir valores ligeiramente mais elevados das razões LaN/YbN
(11.9-50.9) e LaN/SmN (6.0-12.6) do que os quartzo-dioritos, tonalitos e granodioritos,
enquanto as razões GdN/YbN (1.3-2.6) se situam praticamente no mesmo intervalo.
Consistentemente com o seu grau de diferenciação (SiO2 = 72.41-73.05%), algumas
amostras de trondjemitos apresentam anomalias positivas de Eu (Eu/Eu* = 1.0-1.5) o que
reforça a ideia de poder ter havido acumulação de plagioclase neste estádio de evolução
dos magmas TTG. Note-se que, segundo Arth et al. (1978), a remoção de anfíbola e
plagioclase em iguais proporções também pode gerar este tipo de anomalias pois a anfíbola
exerce uma influência muito superior à da plagioclase no comportamento das terras raras.

100.0
ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

SiO2(%)
MS11 73.05
MS20 73.04
MS21 72.89
10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

Figura 4.8: Padrões de terras raras dos trondjemitos de Manica, normalizados para o manto
primordial (Sun & McDonough, 1989).

63
Capítulo 4 – Geoquímica

Na Figura 4.9, estão representados os padrões de terras raras dos granitos TTG.
Embora os perfis obtidos se sobreponham na generalidade aos das litologias já descritas
(LaN/YbN = 4.5-26.4; LaN/SmN = 4.0-7.6; GdN/YbN = 0.9-2.5), os granitos podem mostrar
razões LaN/YbN inferiores e anomalias negativas de Eu (Eu/Eu* = 0.6-0.9). Estas
características parecem indicar uma diminuição da influência do fraccionamento de
anfíbola e o concomitante aumento do papel da plagioclase durante os últimos estádios de
evolução magmática (líquidos trondjemíticos líquidos graníticos).

100.0
SiO2(%)
ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

MS22 72.41
MS30 74.43
MS29 77.53

10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

Figura 4.9: Padrões de terras raras dos granitos da série TTG de Manica, normalizados para o
manto primordial (Sun & McDonough, 1989).

Finalmente na Figura 4.10 são apresentados os padrões de terras raras dos granitos
ricos em potássio da região de Manica. Estes granitóides distinguem-se dos membros da
sequência TTG pela grande variabilidade das razões LaN/YbN (4.5–119.2) e pela existência
sistemática de anomalias negativas de Eu (Eu/Eu* =0.3-0.7). Tal como nos granitos da
série TTG, a presença deste tipo de anomalias nos granitos ricos em potássio testemunha o
fraccionamento da plagioclase, facto que é concordante com o decréscimo de Al2O3 e CaO
com a diferenciação. Por outro lado, a ampla gama de razões TRL/TRP observada mostra
que, a partir do momento em que a separação de anfíbola, esfena e apatite perde influência,
deixa de haver regularidade na variação das concentrações dos lantanídeos. A dispersão
das razões LaN/YbN nas composições mais ácidas deverá, por isso, ter sido condicionada
pelos efeitos de acumulação e/ou competição entre minerais com elevada capacidade de
incorporação de TR (KD >> 1).

64
Capítulo 4 – Geoquímica

SiO2(%)
MS03 80.31
MS08 78.50
100.0
MS10 75.02
ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

MS12 74.91
MS18 73.49

10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

Figura 4.10: Padrões de terras raras dos granitos ricos em potássio de Manica, normalizados para o
manto primordial (Sun & McDonough, 1989).

4.3 DIAGRAMAS MULTI-ELEMENTARES NORMALIZADOS

Os diagramas multi-elementares normalizados permitem analisar o comportamento


de diversos grupos de elementos vestigiais de uma forma condensada. No caso dos
elementos de maior mobilidade (Cs, Rb, K, Ba, Sr), os perfis multi-elementares são
fortemente influenciados pela acção de fluidos pós-magmáticos, a qual pode mascarar a
assinatura original das rochas. Em contrapartida, os padrões dos elementos de menor
mobilidade (TR, P, Y, Hf, Zr, Ti, Nb, Ta) dão indicações sobre o quimismo da fonte e os
processos de fusão/cristalização.
Na Figura 4.11, apresentam-se os diagramas multi-elementares dos granitóides de
Manica, normalizados em relação ao manto primordial (Sun & McDonough, 1989). Nestes
diagramas, os diferentes elementos estão ordenados, da esquerda para a direita, em termos
de incompatibilidade decrescente (Rollinson, 1993). Para efeitos de comparação,
projectaram-se ainda a composição média da crusta total arcaica e as composições das
componentes félsica e máfica da crusta superior arcaica (Taylor & McLennan, 1985).

65
Capítulo 4 – Geoquímica

Crusta total
Componente félsica
1000 Componente máfica
MS09

100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

TONALITOS
MS01
MS06
1000 MS07
MS19
MS28
100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

Figura 4.11 – Diagramas multi-elementares dos granitóides de Manica.

66
Capítulo 4 – Geoquímica

GRANODIORITOS
MS04
1000 MS15
MS23
MS25
100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

TRONDJEMITOS
MS11
1000
MS20
MS21

100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

Figura 4.11 – (Cont.) Diagramas multi-elementares dos granitóides de Manica.

67
Capítulo 4 – Geoquímica

GRANITOS(TTG)
1000 MS22
MS29
MS30
100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

GRANITOS RICOS DE K
MS03
MS08
MS10
MS12
1000
MS18

100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

Figura 4.11 – (Cont.) Diagramas multi-elementares dos granitóides de Manica.

68
Capítulo 4 – Geoquímica

No seu conjunto, os padrões multi-elementares dos diferentes membros da sequência


granitóide de Manica indicam uma assinatura geoquímica tipicamente calco-alcalina como
é evidenciado pelas seguintes características: (a) forte fraccionamento LILE/HFSE
(ThN/ZrN = 2.48-51.91); (b) presença de uma anomalia negativa de Nb bem pronunciada
(ThN/NbN = 4.47-99.68; LaN/NbN = 2.84-20.76) e (c) existência de anomalias negativas de
P e Ti que se acentuam nitidamente nos termos mais ácidos (SiO2 > 74%).
A deficiência de Nb nas litologias estudadas pode ser atribuída a três tipos de
factores: (a) contaminação / assimilação de crusta continental superior, (b) derivação, por
cristalização fraccionada, a partir de magmas básicos calco-alcalinos e (c) derivação, por
fusão parcial, de uma fonte crustal máfica, com óxidos de Ti na associação mineralógica
residual. Tendo em conta o carácter primitivo dos termos quartzo-dioríticos e tonalíticos
(nomeadamente, a ausência de anomalias negativas de Eu) é possível excluir as duas
primeiras hipóteses. A existência de baixas razões isotópicas 87Sr/86Sr iniciais (87Sr/86Sri
0.702 para 2.7 Ga) nestes granitóides é um argumento adicional contra o envolvimento
significativo de material metassedimentar na génese da sequência TTG.
Por outro lado, o elevado grau de fraccionamento LILE/HFSE deverá estar
relacionado com a retenção de granada e anfíbola na fonte durante os processos de fusão
parcial, tal como já foi invocado a propósito das elevadas razões TRL/TRP, na secção
4.2.4.
As evidências apresentadas sugerem que o tipo de fonte mais provável para os
líquidos TTG primitivos sejam rochas de composição anfibolítica, como as que estão
presentes em crusta oceânica subductada. Processos envolvendo geração de magmas em
crusta oceânica a sofrer subducção, só parecem possíveis em condições em que o gradiente
geotérmico, ao longo dos planos Benioff, é superior àquele que actualmente se regista, em
situações normais, nos referidos ambientes tectónicos. Contudo, a idade arcaica destas
rochas permite supor que o gradiente geotérmico existente aquando da génese dos magmas
da série TTG de Manica fosse propício à fusão de crusta oceânica anfibolitizada.
Embora a presença de apatite e óxidos de Ti no resíduo explique, em parte, o
comportamento do P e do Ti, pois mesmo as fácies menos diferenciadas (quartzo-dioritos e
tonalitos) apresentam anomalias negativas daqueles elementos, o aumento da magnitude
destas anomalias nas composições mais ácidas sugere que os perfis obtidos tenham sido
condicionados pela separação de apatite, esfena, anfíbola e biotite durante a cristalização.

69
Capítulo 4 – Geoquímica

A variabilidade exibida pelo Sr (anomalias positivas, anomalias negativas, ausência


de anomalias) poderia ser atribuível ao papel da plagioclase durante a evolução magmática.
Contudo, o desfasamento entre o comportamento deste elemento e o do Eu leva a supor
que o Sr tenha sido afectado pelos fenómenos de alteração pós-magmática.
No seu aspecto geral, os padrões multi-elementares dos granitóides de Manica são
similares aos observados em outras sequências TTG arcaicas (Weaver & Tarney, 1980;
1981; Martin, 1993; Opiyo-Akech et al., 1999) e em granitóides de arcos vulcânicos
continentais modernos (Atherton & Petford, 1993; Tarney & Jones, 1994; Muir et al.,
1995). É de sublinhar ainda a forte semelhança entre as composições dos granitóides de
Manica e a da componente félsica da crusta superior arcaica (Fig. 4.11). Com efeito, os
termos dacíticos das sequências vulcânicas bimodais usados para definir esta componente
são indistinguíveis quimicamente das associações plutónicas de tonalitos-trondjemitos-
granodioritos (Taylor & McLennan, 1985).

4.4 DIAGRAMAS DE DISCRIMINAÇÃO DE AMBIENTE GEOTECTÓNICO

Nos diagramas de discriminação composicional propostos por Pearce et al. (1984)


para intrusões fanerozóicas, todas as rochas estudadas são projectadas no campo dos
granitóides de arco vulcânico (VAG) (Fig. 4.12). Embora a aplicação destes diagramas a
granitóides de idade arcaica deva ser tratada com cuidado devido à mudança dos regimes
geodinâmicos ao longo da história da Terra, no caso presente o ambiente geotectónico
indicado é consistente com a informação geoquímica que se discutiu nas secções
precedentes.
Como já foi referido anteriormente, as características petrográficas e geoquímicas da
sequência granitóide de Manica permitem incluí-la na série calco-alcalina, típica de
ambiente de margem continental activa, o que é demonstrado pelos seguintes aspectos: (a)
é formada por rochas com composições variando entre quartzo-dioritos e granitos,
passando por tonalitos e granodioritos; (b) mostra um enriquecimento claro dos LILE
relativamente aos HFSE; (c) apresenta sistematicamente uma anomalia negativa de Nb (d)
define uma linha evolutiva de progressivo empobrecimento em Fe2O3, TiO2 e MnO com a
diferenciação desde os termos mais primitivos. Assim, a projecção das amostras de Manica
no campo dos granitóides de arco vulcânico (VAG) definido por Pearce et al. (1984)
parece ser coerente com a sua assinatura geoquímica.

70
Capítulo 4 – Geoquímica

1000

SYN-COLG
WPG

100
Rb (ppm)

ORG
10
VAG

10 100 1000

Y + Nb (ppm)

Quartzo-diorito
Tonalitos
100
Granodioritos
Trondjemitos
Granitos(TTG)
Granitos ricos de K

10 WPG
Ta (ppm)

SYN-COLG

1 ORG

VAG

0.1

0.1 1 10 100
Yb (ppm)

Figura 4.12: Projecção dos granitóides de Manica nos diagramas de discriminação tectónica de
Pearce et al. (1984).

71
Capítulo 4 – Geoquímica

4.5 GEOLOGIA ISOTÓPICA

A maioria dos granitóides estudados fazem parte do chamado complexo granítico-


gnáissico de Vumba que margina o cinturão de rochas verdes de Manica, tanto a norte
como a sul. As rochas que compõem este complexo têm sido incluídas na série TTG
(Afonso et al., 1998; Manhiça et al., 2001) e apresentam idades Rb-Sr (rocha-total)
compreendidas entre ca. 3.4 e 2.8 Ga (Manhiça et al., 2001).
Importa, no entanto, sublinhar que, quer as margens de erro, quer os valores de
MSWD associados às errócronas em que se baseou a datação dos granitóides de Manica
são extremamente elevados pelo que estas “idades” devem ser encaradas como meramente
indicativas. Para além disto, é preciso ter em conta que o sistema isotópico Rb-Sr é muito
vulnerável a processos de alteração pós-magmática e/ou interacção com outros magmas em
sistema aberto o que coloca constrangimentos adicionais na interpretação dos resultados.
Apesar das limitações citadas, as idades obtidas em diferentes plutonitos do cratão do
Zimbabwe parecem indicar que a instalação dos granitóides da série TTG ocorreu entre 3.4
e 2.7 Ga e antecedeu a dos granitos da série rica em potássio (2.6-2.5 Ga) (Taylor et al.,
1991; Wilson et al., 1995; Jelsma, 1993; Jelsma et al., 1996; Vinyu et al., 1999; Dirks &
Jelsma, 2002).

4.5.1 Dados isotópicos Rb-Sr (rocha-total)

Apresentam-se na Tabela 4.4, as análises isotópicas Rb-Sr (rocha total), obtidas por
Tassinari et al. (2003) no Centro de Pesquisas Geocronológicas da Universidade de São
Paulo, para nove amostras da parte sul do complexo granítico-gnáissico de Vumba. As
amostras 11137, 11142, 11139 e 11144 foram colhidas no mesmo afloramento que a
amostra MS-01. Existe também correspondência, em termos de localização, entre as
amostras 11113, 11118, 11157, 11156, 11159 e a amostra MS-18.
Usando o programa ISOPLOT de Ludwig (2001), verifica-se que as amostras da
pedreira de Vumba definem uma errócrona de 2762 ± 130 Ma, com uma razão inicial de
87
Sr/86Sr = 0.7020 ± 0.0034 (MSWD = 31) (Fig. 4.13). Quando projectadas conjuntamente
com as amostras de Mondunguara dão uma errócrona de 2713 ± 340 Ma com uma razão
inicial de 87Sr/86Sr = 0.7015 ± 0.0077 (MSWD = 310) (Fig. 4.14).

72
Capítulo 4 – Geoquímica

Estas “idades” são, dentro dos limites de erro, coincidentes com a obtida em
vulcanitos félsicos intercalados na sequência de greenstones de Manica (2768 ± 38 Ma,
87
Sr/86Sri = 0.7049 ± 0.0011, MSWD = 0.80), utilizando os dados analíticos de Manuel
(1992). Distinguem-se, no entanto, das idades apresentadas pelo mesmo autor para os
granitóides da parte norte do complexo de Vumba (3385 ± 255 Ma) e para as fácies
expostas a sul (2527 ± 632 Ma).
A grande dispersão de idades Rb-Sr demonstra que não é possível datar com precisão
a intrusão dos granitóides do complexo de Vumba através deste sistema isotópico. De
facto, existem fortes probabilidades das isócronas obtidas não reflectirem a idade de
instalação uma vez que o Rb e o Sr são elementos muito móveis em meio aquoso e as
rochas de Manica mostram sinais de terem sido intensamente afectadas por processos de
alteração pós-magmática (de que são exemplos a sericitização e a saussuritização descritas
no capítulo da petrografia).

Tabela 4.4 – Dados isotópicos Rb-Sr para granitóides da sequência TTG de Manica (Vumba)*
87
Ref. Litologia Localização Sr Rb Rb/86Sr Erro (2 )
87
Sr/86Sr Erro (2 )
11137 TTG- ext. sul Mondunguara 176.0 102.8 1.698 0.017 0.757820 0.000038
11142 TTG- ext. sul Mondunguara 262.4 73.5 0.812 0.003 0.734309 0.000022
11139 TTG- ext. sul Mondunguara 248.8 64.6 0.753 0.006 0.734477 0.000029
11144 TTG- ext. sul Mondunguara 223.5 67.9 0.881 0.008 0.733468 0.000029
11113 TTG- ext. sul Vumba 137.9 109.0 2.308 0.020 0.794322 0.000050
11118 TTG- ext. sul Vumba 125.4 110.9 2.584 0.023 0.806303 0.000073
11157 TTG- ext. sul Vumba 201.7 55.2 0.794 0.007 0.732994 0.000059
11156 TTG- ext. sul Vumba 132.9 88.5 1.940 0.008 0.778505 0.000311
11159 TTG- ext. sul Vumba 249.4 45.3 0.526 0.007 0.724033 0.000029

*Tassinari et al. (2003)

Embora a informação isotópica actualmente disponível não permita estabelecer com


exactidão a idade dos corpos amostrados, o valor central das errócronas apresentadas (2.7
Ga) cai no intervalo de idades aceites para as sequências TTG arcaicas do cratão do
87
Zimbabwe. Por outro lado, a baixa razão Sr/86Sr inicial ( 0.702) confirma o carácter
primitivo dos granitóides de Manica bem como a ausência de componentes herdados,
apontando para o envolvimento de material crustal juvenil na sua petrogénese.

73
Capítulo 4 – Geoquímica

0,82

0,80

0,78
Sr/86Sr

0,76
87

0,74

Age = 2762 ± 130 Ma


87 86
Initial Sr/ Sr =0,7020 ± 0.0034
0,72
MSWD = 31

0,70
0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 3,2
87
Rb/86Sr
Figura 4.13: Diagrama isocrónico para as amostras de Vumba

0,82

0,80

0,78
Sr/86Sr

0,76
87

0,74

Age = 2713 ± 340 Ma


87 86
0,72 Initial Sr/ Sr =0,7015 ± 0.0077
MSWD = 310

0,70
0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 3,2
87 86
Rb/ Sr
Figura 4.14: Diagrama isocrónico para as amostras de Vumba e Mondunguara

74
Capítulo 4 – Geoquímica

4.5.2 Dados isotópicos Sm-Nd

Na Tabela 4.5, mostram-se os resultados das análises isotópicas Sm-Nd, obtidas por
Tassinari et al. (2003), de duas amostras da associação TTG de Manica (11144 e 11134),
uma amostra de um felsito (11147), uma amostra do granito de Messica (11161) e duas
amostras de granitóides do cinturão móvel de Moçambique (11125 e 11129). Considerou-
se importante incluir os dados referentes a unidades que não foram tratadas neste trabalho
(Messica e cinturão móvel de Moçambique) para se poder comparar as assinaturas
isotópicas dos diferentes tipos de litologias ígneas expostas na região.

Tabela 4.5 – Dados isotópicos Sm – Nd*


147
Ref. Litologia Localização Sm Nd Sm/144Nd 143
Nd/144Nd Erro (2 )
Granitóides da série TTG - Vumba
11144 TTG- ext. sul Mondunguara 3.181 18.390 0.1046 0.510799 0.000014
11134 TTG- interno Chazuca 1.805 11.077 0.0985 0.510791 0.000015
Vulcanitos do cinturão de rochas verdes de Manica
11147 Felsito Chazuca 2.493 16.446 0.0917 0.510606 0.000015
Granitóides da série rica em potássio - Messica
11161 Gr. rico em K Messica 7.934 53.727 0.0893 0.510653 0.000012
Granitóides do cinturão móvel de Moçambique
11129 Gr. remobilizado Vanduzi 2.586 18.691 0.0837 0.511205 0.000015
11125 Gr. remobilizado Boé Malanga 15.19 76.314 0.1204 0.511673 0.000010
* Tassinari et al. (2003)

O complexo plutónico de Messica localiza-se no extremo oriental do cratão do


Zimbabwe, junto à fronteira com o cinturão móvel de Moçambique, e corresponde à única
unidade de granitóides da série rica em potássio cartografada em Moçambique (Manhiça et
al., 2001). Estes autores obtiveram uma idade Rb-Sr (rocha total) para o complexo de
Messica (2618 ± 632 Ma, 87
Sr/86Sri = 0.7054, MSWD = 28.9) que é compatível com a
datação U-Pb (método convencional) efectuada em zircões de granitóides semelhantes do
maciço de Chilimanzi (2601 ± 14 Ma) (Jelsma et al., 1996).
As amostras do cinturão móvel de Moçambique representam granitóides
proterozóicos que sofreram remobilização durante as orogenias grenviliana e pan-africana
(Afonso et al., 1998; Manhiça et al., 2001).

75
Capítulo 4 – Geoquímica

Assumindo extracção da crusta a partir de manto empobrecido (DePaolo, 1981),


calcularam-se as idades-modelo TDM das diferentes amostras. Da observação da Tabela
4.6, ressalta a existência de dois grupos de valores: (a) um, entre 2.9 e 3.2 Ga,
correspondendo a litologias, tanto da sequência TTG como da série rica em potássio, do
cratão do Zimbabwe, e (b) outro, à volta de 2.2 Ga, obtido em granitóides do cinturão
móvel de Moçambique. Por outro lado, quando se assume diferenciação da crusta a partir
do reservatório condrítico (TCHUR), as rochas do cratão do Zimbabwe dão idades-modelo
entre 2.8 e 3.0 Ga enquanto as do cinturão móvel de Moçambique apresentam valores de
ca. 1.9 Ga (Fig. 4.15).

Tabela 4.6 – Valores de Nd e idades-modelo

Ref. fSm/Nd TDM TCHUR (0) (2.7Ga) (2.6Ga) (1.1Ga)


Granitóides da série TTG - Vumba
11144 -0.47 3179 3023 -35.87 -3.90 -5.10 -22.97
11134 -0.50 3014 2849 -36.03 -1.92 -3.20 -22.26
Vulcanitos do cinturão de rochas verdes de Manica
11147 -0.53 3079 2931 -39.64 -3.17 -4.55 -24.92
Granitóides da série rica em potássio - Messica
11161 -0.55 2958 2800 -38.72 -1.41 -2.82 -23.66
Granitóides do cinturão móvel de Moçambique
11129 -0.57 2159 1927 -27.95 +11.39 +9.91 -12.08
11125 -0.39 2245 1922 -18.82 +7.74 +6.74 -8.10

Aceitando o modelo mais plausível de os magmas TTG primitivos terem sido


produzidos por fusão de crusta máfica com granada residual, as idades-modelo acima
referidas indicam que a formação dos magmas básicos que originaram a crusta oceânica
subductada teria ocorrido, no mínimo, há 2.9 Ga, se aqueles líquidos tiverem sido gerados
por fusão do manto empobrecido, ou há 2.8 Ga, se provieram de manto condrítico.
Determinaram-se ainda os valores de Nd iniciais (indicados a letra normal, na
Tabela 4.6) usando as seguintes idades de instalação: 2.7 Ga para as rochas da série TTG,
2.6 Ga para os granitóides da série rica em potássio (Messica) e 1.1 Ga para as fácies
remobilizadas do cinturão móvel de Moçambique. Os resultados moderadamente negativos
obtidos para as rochas arcaicas ( Ndi entre -1.9 e -3.9) são compatíveis com as idades
presumidas, bem como com a derivação dos líquidos TTG primitivos por fusão de crusta
básica.

76
Capítulo 4 – Geoquímica

Nd
20

10
Manto empobrecido
DePaolo

CHUR
-10

-20

-30

GRANITOS RICOS EM K
GRANODIORITOS - SUÍTE TTG
-40 GRANODIORITOS RETRABALHADOS

T(Ga)
-50
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4

Figura 4.15 – Diagrama b Nd vs tempo geológico (Tassinari et al., 2003).

Embora os granitos de Messica pertençam a uma série considerada geneticamente


distinta da sequência TTG, existem fortes semelhanças entre as duas associações em
termos do sistema isotópico Sm-Nd, sugerindo que os granitóides da série rica em potássio
resultem ou de cristalização fraccionada de magmas TTG ou da fusão parcial da crusta
continental com composição TTG. A última hipótese seria a mais consistente com os
modelos até agora apresentados para a evolução do cratão do Zimbabwe (Capítulo 2).
Comparados com os granitóides arcaicos, as rochas do cinturão móvel de
Moçambique exibem idades-modelo significativamente mais recentes e valores de Nd2.7Ga
e Nd2.6Ga geologicamente implausíveis. Isto vem confirmar a sua idade proterozóica e
demonstrar a ausência de relação genética com as litologias do cratão do Zimbabwe. Nota-
se ainda que os valores de Ndi, para uma idade de 1.1 Ga, são fortemente negativos ( Ndi
de -12 e -8), o que faz supor que a sua intrusão seja anterior à orogenia grenvilliana.

77
Capítulo 4 – Geoquímica

4.6 CONCLUSÕES

A disposição dos granitóides de Manica ao longo de uma linha evolutiva comum em


quase todos os diagramas de variação química sugere que os diferentes membros da
sequência estejam relacionados entre si por processos de diferenciação magmática. A
presença de uma lacuna composicional entre o quartzo-diorito e os tonalitos poderá
eventualmente resultar de uma deficiência na amostragem.
O decréscimo progressivo de Al2O3, CaO, MgO, Fe2O3t, MnO, TiO2, P2O5, CaO e
elementos de transição com o aumento de SiO2 é consistente com o fraccionamento de
anfíbola, plagioclase, esfena, apatite e óxidos de ferro e titânio durante as primeiras fases
de evolução magmática (líquidos quartzo-dioríticos líquidos tonalíticos / granodioríticos
líquidos trondjemíticos). Por outro lado, o aparecimento de anomalias negativas de Eu
na passagem de líquidos trondjemíticos a líquidos graníticos parece indicar uma
diminuição da influência da cristalização de anfíbola e o concomitante aumento do papel
da plagioclase nos últimos estádios de diferenciação magmática. Finalmente, os efeitos de
acumulação e/ou competição entre minerais acessórios com elevada capacidade de
incorporação de TR e HFSE terão condicionado a dispersão das concentrações destes
elementos e a variabilidade de razões TRL/TRP nas fácies mais ácidas (SiO2 > 74%).
Embora exista um grupo de amostras que foram classificadas como granitos ricos em
potássio devido às suas elevadas razões K2O/Na2O (> 1.00), verifica-se que não constituem
um conjunto individualizado nem definem tendências divergentes da sequência principal.
Assim, a sua assinatura geoquímica é compatível com uma origem por cristalização
fraccionada a partir de magmas TTG apesar de não se poder excluir completamente a
hipótese de terem derivado da fusão parcial de crusta continental arcaica.
Na globalidade, os granitóides de Manica apresentam razões de A/CNK ] 1.0, forte
fraccionamento LILE/HFSE (ThN/ZrN = 2.48-51.91) e anomalias negativas de Nb bem
pronunciadas (ThN/NbN = 4.47-99.68; LaN/NbN = 2.84-20.76) o que, aliado às restantes
características geoquímicas e petrográficas, permite considerá-los parte de uma associação
magmática calco-alcalina, típica de ambiente de margem continental activa. Tal como
noutras sequências TTG arcaicas, a génese dos líquidos mais primitivos pode ser explicada
pela fusão parcial da crusta oceânica anfibolitizada com granada, anfíbola e óxidos de Ti
residuais (Martin, 1986; Rapp et al., 1991). O elevado gradiente geotérmico necessário

78
Capítulo 4 – Geoquímica

para fundir parcialmente a crusta oceânica, apesar de anómalo nos ambientes de subducção
actuais, seria a situação comum no Arcaico.

79
Capítulo 5 – Síntese final

CAPÍTULO 5

SÍNTESE FINAL
O Grupo de Manica localiza-se no centro da República de Moçambique, na província
de Manica, junto à fronteira com o Zimbabwe. Representa o prolongamento do cratão
arcaico do Zimbabwe dentro do território moçambicano. As principais unidades
litoestratigráficas identificadas no grupo de Manica são: a Formação de Macequece e a
Formação de M’Beza-Vengo (D’Orey, 1978; Afonso et al., 1998). Embora a idade
absoluta das rochas verdes da região de Manica não seja conhecida, por analogia com as
formações zimbabweanas, a Formação de Macequece tem sido equiparada ao Sebakviano-
Bulavaiano (3.5–2.7 Ga) e a de M’Beza-Vengo ao Shamvaiano (2.65-2.6 Ga) (Afonso et
al., 1998).
A Formação de Macequece é a unidade mais antiga e é composta por uma sequência
alternada de rochas ígneas básicas/ultrabásicas e sedimentares metamorfizadas. As
litologias ígneas estão representadas por komatiitos basálticos, komatiitos peridotíticos e
horizontes esporádicos de vulcanitos félsicos. Sobre este conjunto assenta
concordantemente um pacote metassedimentar, menos metamorfizado, constituído
essencialmente por grés, conglomerados, grauvaques e quartzitos bandados ferruginosos
(BIF), com algumas intercalações de rochas lávicas (D’Orey, 1978).
A Formação de M’beza –Vengo repousa em discordância sobre a Formação de
Macequece e é formada por uma sequência metassedimentar de conglomerados,
grauvaques e pelitos com níveis intercalados de metavulcanitos máficos e ultramáficos.
Durante o Arcaico tardio e o Proterozóico, as formações de Macequece e de M’beza-
Vengo sofreram vários fenómenos de intrusão por magmas ácidos e básicos. Os corpos
ígneos intrusivos têm composição predominantemente granitóide e constituem um extenso
complexo batolítico na bordadura do cinturão de rochas verdes (granitos externos) e
diversos “stocks” no interior do cinturão (granitos internos). As suas idades variam entre
2.7 e 2.6 Ga (Manhiça et al., 2001).

81
Capítulo 5 – Síntese final

Com base em critérios mineralógicos e geoquímicos, os granitóides arcaicos do


cratão do Zimbabwe têm sido agrupados em dois tipos de associações: (1) a sequência
tonalítica-trondjemítica-granodiorítica (TTG) e (2) a série granítica rica em potássio. A
primeira está representada, na região de Manica, pelos plutonitos internos e pelo complexo
de Vumba, que margina o cinturão de rochas verdes a sul e a norte. O maciço granítico de
Messica, localizado no extremo oriental da faixa de greenstones é a única unidade da série
rica em potássio cartografada em Moçambique.
A amostragem realizada no âmbito desta tese restringiu-se aos granitóides que, de
acordo com a cartografia geológica existente, fazem parte da série TTG. As suas
composições variam de quartzo-dioritos, passando por tonalitos, granodioritos e
trondjemitos, até monzogranitos. Os termos menos evoluídos apresentam uma textura
granular, hipidiomórfica a xenomórfica, de grão fino a médio e têm plagioclase (andesina)
+ quartzo + anfíbola (horneblenda) + biotite como associação paragenética principal. A
esfena, a apatite e os opacos constituem as fases acessórias mais comuns. As rochas mais
diferenciadas distinguem-se das fácies mais máficas pela presença de feldspato potássico
(microclina), composição mais sódica da plagioclase (oligoclase) e ausência de anfíbola e
de esfena primária.
À escala microscópica verifica-se ainda que estes granitóides foram intensamente
afectados por processos de deformação e recristalização, que se manifestam pela extinção
ondulante e recristalização do quartzo, abundante desenvolvimento de mirmequites nos
contactos entre feldspato potássico e plagioclase, sericitização e saussutirização da
plagioclase e geração de actinolite e clorite. Em alguns casos, é possível observar um
fabric anisotrópico, conferido pela orientação preferencial das biotites, quartzo e
feldspatos.
Em termos geoquímicos, as amostras estudadas foram divididas em dois grupos: um,
com composições típicas das sequências TTG; outro, mostrando afinidades com a série de
granitos ricos em potássio. No primeiro grupo, incluem-se rochas com graus de
diferenciação muito distintos (SiO2 variando de 58.99% até 77.53%) mas sempre com
teores de potássio baixos (K2O Q 3.22%) e razões K2O/Na2O inferiores a 0.84. O segundo
grupo abarca granitóides francamente ácidos (SiO2 S 73.49%), com altas concentrações de
potássio (K2O S 3.93%) e razões K2O/Na2O superiores a 1.10. Apesar das diferenças
referidas, os granitos ricos em potássio não constituem um conjunto individualizado nem
definem, na maioria dos diagramas de variação química, tendências divergentes da

82
Capítulo 5 – Síntese final

sequência principal. A sua assinatura geoquímica é compatível com uma origem por
cristalização fraccionada a partir de magmas TTG, apesar de não se poder excluir
completamente a hipótese de terem derivado da fusão parcial de crusta continental arcaica.
Na globalidade, a sequência granitóide de Manica tem uma natureza calco-alcalina,
típica de ambiente de margem continental activa, o que é suportado pelas seguintes
características: (a) é formada por rochas variando entre quartzo-dioritos e granitos,
passando por tonalitos e granodioritos; (b) define uma linha evolutiva de progressivo
empobrecimento em Fe2O3, TiO2 e MnO com a diferenciação; (c) mostra elevadas razões
LILE/HFSE e TRL/TRP (Fig. 5.1); (d) apresenta sistematicamente uma anomalia negativa
de Nb (Fig. 5.2).
Série TTG
MS09
100.0
ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

100.0 Granitos ricos de K


ROCHA / MANTO PRIMORDIAL

10.0

1.0

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Dy Ho Er Yb Lu

Figura 5.1: Padrões de terras raras dos granitóides de Manica.

83
Capítulo 5 – Síntese final

1000 Série TTG


MS09

100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

GRANITOS RICOS DE K
1000

100

10

0.1

Th K Nb La Ce Sr Nd P Zr Hf Sm Ti Y Yb

Figura 5.2: Diagramas multi-elementares dos granitóides de Manica.

Os termos mais primitivos (quartzo-dioríticos e tonalíticos) são interpretados como


os magmas parentais, a partir dos quais - por fraccionamento de anfíbola, plagioclase,
esfena, biotite e apatite - se terão gerado os restantes membros da sequência. Os dados
geoquímicos sugerem ainda que a fonte dos líquidos parentais terá sido crusta oceânica
subductada de composição anfibolítica. Neste modelo, os elevados valores das razões
LaN/YbN e ThN/ZrN bem como as anomalias negativas de Nb seriam explicados pela
retenção de anfíbola, granada e óxidos de Ti no resíduo.

84
Capítulo 5 – Síntese final

Processos como os mencionados, envolvendo fusão de crusta oceânica em ambiente


de subducção requerem gradiente geotérmicos superiores àqueles que se registam
actualmente. Contudo, há fortes evidências de que o regime térmico prevalecente durante o
Arcaico excedeu o patamar crítico para a ocorrência de fusão de crusta máfica ao longo
dos planos de Benioff (Martin, 1993). Sequências semelhantes à estudada neste trabalho
são, aliás, comuns em terrenos arcaicos à escala mundial e têm sido enquadradas num
modelo petrogenético como o agora descrito.

85
Bibliografia

BIBLIOGRAFIA
AFONSO, R.S. (1976). A Geologia de Moçambique. Notícia explicativa da Carta Geológica de
Moçambique, 1/2 000 000. Dir. Serv. Geol. Minas, Maputo, 1ªed. 1976 b, 2ª ed. 1978, 175 p.
AFONSO, R.S., MARQUES, J.M. & FERRARA, A. (1998). A Evolução Geológica de
Moçambique. Inst. Invest. Cient. Tropical, Dir. Nac. Geol. Maputo. Lisboa, 95 p.
ANDRADE, A.F. (1929). Esbôço Geológico da Província de Moçambique. Imp. Nac. Lisboa, 229
p.
ARTH, J.G. (1976). Behaviour of trace elements during magmatic processes – a summary of
theoretical models and their applications. J. Res. U.S. Geol. Surv., 4, 41-47.
ARTH, J.G., BARKER, F., PETERMAN, Z.E. & FRIEDMAN, I. (1978). Geochemistry of the
gabbro-diorite-tonalite-trondhjemite suite of southwest Finland and its implications for the
origin of tonalitic and trondhjemitic magmas. J. Petrol., 19, 289-316.
ARAÚJO, J.R. (1966). The Mozambique Belt in the Barué Area, Manica and Sofala District,
Mozambique with special reference to the petrology, stratigraphy and metamorphism. PhD
Thesis, Department of Earth Sciences, University of Leeds, U.K.
ARAÚJO, J.R. & GOUVEIA, J.C. (1965). Contribuição para o estudo da geologia do distrito de
Manica e Sofala – Formações Precâmbricas. Bol. Serv. Geol. Minas, L. Marques, Moçambique.
ATHERTON, M.P. & PETFORD, N. (1993). Generation of sodium-rich magmas from newly
underplated basaltic crust. Nature, 362, 144-146.
BARKER, F. (1979). Trondhjemite: definition, environment and hypotheses of origin. In: F. Barker
(Eds). Trondhjemites, Dacites and Related Rocks, Developments in Petrology 6. Elsevier,
Amsterdam.
BARKER, F. & ARTH, J.G. (1976). Generation of trondhjemitic-tonalitic liquids and Archean
bimodal trondhjemite-basalt suites. Geology, 4, 596 – 600.
BICKLE, M.J. & NISBET, E.G. (1993). The development of the Belingwe greenstone belt: a study
in the development of the continental crust. Geol. Soc. Zimbabwe Special Publications, 2, A.A
Bakerma, Rotterdam.
BICKLE, M.J., NISBET, E.G. & MARTIN, A. (1994). Archaean greenstone belts are not oceanic
crust. J. Geol., 102, 121-138.
BLENKINSOP, T.G., MARTIN, A., JELSMA, H.A. & VINYU, M.L. (1997). The Zimbabwe
craton. In: De Wit, M.J., Ashwal, L.D. (Eds). Greenstone Belts. Oxford University Press.
Oxford. 567-580.

87
Bibliografia

BROOKS, C.K., HENDERSON, P. & RONSBO, J.G. (1981). Rare earth elements partitioning
between allanite and glass in the obsidian of Sandy Braes, Northern Ireland. Mineral. Mag., 44,
157-160.
CAMPBELL, S.D.G. & PITFIELD, P.E.J. (1994). Structural controls of gold mineralisation in the
Zimbabwe craton: exploration guidelines. Zimbabwe Geological Survey Bulletin, 101, 270.
CAMPBELL, S.D.G., OESTERLEN, P.M., BLENKINSOP, T.G., PITFIELD, P.E.J. &
MUNYANYIWA, H. (1992). A provisional tectonic map and the tectonic evolution of
Zimbabwe. Annals of the Zimbabwe Geological Survey, XVI, 31-51.
CASTRO, A.D. (1989). Petrografia Basica. Texturas, Classificación y Nomenclatura de Rocas.
Paraninfo (Ed.), Madrid.
CHENJERAI, K.G. (1995). The Mutare Greenstone Belt, Zimbabwe: geology, geochemistry and
gold mineralization. Tese de Doutoramento, Universität Zu Göttingen.
CIDADE, J.B. (1996). Estudo Geológico-Estrutural da Região Norte da Vila de Manica. Trabalho
de Diploma. Departamento de Geologia, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo,
Moçambique.
CONDIE, K.C. (1981). Archaean Greenstone Belts. Developments in Precambrian Geology 3,
Elsevier, Amsterdam, 434 pp.
CONDIE, K.C. & HARRISON, N.M. (1976). Geochemistry of the Archaean Bulawayan Group,
Midlands greenstone belt, Rhodesia. Precambrian Res., 3, 253-271.
CUNE, G.R. (1994). A Geologia da Faixa entre Manica e Chazuca e a Correlação com os Dados
Rádiomagnéticos. Trabalho de Diploma, Departamento de Geologia, Universidade Eduardo
Mondlane, Maputo, Moçambique.
DePAOLO, D. (1981). Neodymium Isotopes in the Colorado Front Range and crust-mantle
evolution in the Proterozoic. Nature, 291, 193-196.
DePAOLO, D. (1988). Neodymium Isotope Geochemistry, An Introduction, Springer Verlag, 187 p.
DIRKS, P.H.G.M. & JELSMA, H.A. (1998). Horizontal accretion and stabilization of the
Zimbabwe craton. Geology, 26, 11-14.
DIRKS, P.H.G.M. & JELSMA, H.A. (2002). Crust-mantle decoupling and the growth of the
Archaean Zimbabwe craton. J. African Earth Sci., 34, 157-166.
DIRKS, P.H.G.M. & VAN DER MERWE, J. (1997). Early duplexing in an Archaean greenstone
sequence and its control on gold mineralisation. J. African Earth Sci., 24, 603-620.
DODSON, M.H., COMPSTON, W., WILLIAMS, I.S. & WILSON, J.F. (1988). A search for
ancient detrital zircons in Zimbabwean sediments. J. Geol. Soc. London, 145, 977-983.
D’OREY, F.L.C. (1978). A Génese das Mineralizações Cupro-niquelíferas da Edmundian (Vila de
Manica, Moçambique). Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa, Portugal

88
Bibliografia

DRAKE, M.J. & WEILL, D.F. (1975). Partition of Sr, Ba, Ca, Y, Eu2+, Eu3+ and other REE
between plagioclase feldspar and magmatic liquid: an experimental study. Geochim.
Cosmochim. Acta, 39, 689-712.
FAO (1984). Agroclimatological Data Africa. Vol. 2, Roma.
FUJIMAKI, H. (1986). Partition coefficients of Hf, Zr and REE between zircon, apatite and liquid.
Contrib. Mineral. Petrol., 94, 42-45.
GILL, J.B. (1981). Orogenic Andesites and Plate Tectonics. Springer-Verlag, Berlin, 358 p.
GRANTHAM, G.H., STOREY, B.C., THOMAS, R.J. & JACOBS, J. (1997). The break-up
position of Haag Nunataks within Gondwana: possible correlations in Natal and Dronning
Maud Land. In: Ricci, C.A. (Eds). The Antarctic Region: Geological Evolution and Processes.
Proceedings of the VII International Symposium of Antarctic Earth Sciences, Siena, 13-20.
GREEN, T.H. & PEARSON, N.J. (1983). Effect of pressure on rare earth elements partition
coefficients in common magmas. Nature, 305, 414-416.
GREEN, T.H. & PEARSON, N.J. (1985). Experimental determination of REE partition coefficients
between amphibole and basaltic liquids at high pressures. Geochim. Cosmochim. Acta, 49,
1465-1468.
HAWKESWORTH, C.J., MOORBATH, S., O’NIONS, R.K. & WILSON, J.F. (1975). Age
relationships between greenstone belts and ‘granites’ in the Rhodesian Archaean craton. Earth
Planet. Sci. Lett., 25, 251-262.
HAWKESWORTH, C.J., BICKLE, M.J., GLEDHILL, A.R., WILSON, J.F. & ORPEN, J.L. (1979).
A 2.9 b.y. event in the Rhodesian Archaean. Earth Planet. Sci. Lett., 43, 285-297.
HOFFMAN, P.F. (1991a). Did the break-out of Laurentia turn Gondwanaland inside out? Science,
252, 1409-1412.
HOFFMAN, P.F. (1991b). On accretion of granite-greenstone terranes. In: Robert, F., Shean, P.A.,
Green, S.B. (Eds). Nuna Conference on Greenstone Gold and Crustal Evolution, Val D’Or.
Geological Association of Canada Special Publications, 32-45.
HOFFMAN, P.F. (1992). Global Grenvillian kinematics and fusion of the Neoproterozoic
supercontinent Rodinia. Geological Association of Canada. Program with abstracts, v. 17, 49.
HOFMAN, A., DIRKS, P. & JELSMA, H. (2001). Late Archaean foreland basin evolution,
Belingwe greenstone belt, Zimbabwe. Sedim. Geol., 141/142, 131-168.
HORSTWOOD, M.S.A. (1998). Stratigraphy, Geochemistry and Zircon Geochronology of the
Midlands Greenstone Belt, Zimbabwe. PhD Thesis, University of Southampton, U.K.
HUNTER, D.R. & PRETORIUS, D.A. (1981). Structural Framework. Precambrian of Southern
Hemisphere. Universidade do Natal, República da África do Sul, 397 – 419.

89
Bibliografia

HUNTER, M.A. (1997). The Tectonic Setting of the Belingwe Greenstone Belt, Zimbabwe. PhD
Thesis, University of Cambridge, U.K.
HUNTER, M.A., BICKLE, M.J., NISBET, E.G., MARTIN, A. & CHAPMAN, H.J. (1998).
Continental extensional setting for the Archaean Belingwe Greenstone Belt, Zimbabwe.
Geology, 26, 883-886.
INSTITUTO NACIONAL DE GEOLOGIA (1987). Carta Geológica da República Popular de
Moçambique (escala 1/1.000.000). Ministério dos Recursos Minerais.
JACOBS, J. (1991). Strukturelle Entwicklung und Abkuhlungsgeschichte der Heimefrontfjella
(western Droning Maud Land). Berichte zur Polarforschung, v. 97, 141 p.
JACOBS, J., THOMAS, R.J. & WEBER, K. (1993). Accretion and indentation tectonics at the
southern edge of the Kaapvaal craton during the Kibaran (Grenville) orogeny. Geology, 21,
203-206.
JELSMA, H.A. (1993). Granites and Greenstones in Northern Zimbabwe. PhD Thesis, Free
University of Amsterdam, Netherlands.
JELSMA, H.A. & DIRKS, P.H.G.M. (2000a). Tectonic evolution of a greenstone sequence in
northern Zimbabwe: sequential early stacking and pluton diapirism. Tectonics, 19, 135-152.
JELSMA, H.A. & DIRKS, P.H.G.M. (2000b). Neoarchaean tectonomagmatic evolution of the
Zimbabwe craton. J. African Earth Sci., 31, (1a), 33.
JELSMA, H.A. & DIRKS, P.H.G.M. (2001). Crustal growth and formation of the Zimbabwe
craton. Geological Society Special Publications, in press.
JELSMA, H.A., VINYU, M.L., VALBRACHT, P.J., DAVIES, G.R., WIJBRANS, J.R.,
VERDURMEN, E.A.T. (1996). Constraints on Archaean crustal evolution of the Zimbabwe
craton: a U-Pb zircon, Sm-Nd and Pb-Pb isotopic study. Contrib. Mineral. Petrol., 124, 55-70.
JÚNIOR, R.G.M. (1990). Estudo da Sequência Metavulcano-sedimentar a Sul da Serra Vengo.
Trabalho de Diploma, Departamento de Geologia, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo,
Moçambique.
KALSBEEK, F. (2001). Geochemical comparison between Archaean and Proterozoic
orthogneisses from the Nagssutoqidian orogen, West Greenland. Precambrian Res., 105, 165 –
181.
KUSKY, T.M. (1998). Tectonic setting and terrane accretion of the Archaean Zimbabwe craton.
Geology, 26, 163-166.
KUSKY, T.M. & KIDD, W.S.F. (1992). Remnants of an Archaean oceanic plateau, Belingwe
Greenstone Belt, Zimbabwe. Geology, 20, 43-46.

90
Bibliografia

LEAKE, B.E. et alia (1997). Nomenclature of amphiboles: report of the subcommittee on


amphiboles of the International Mineralogical Association, Commission on New Minerals and
Mineral Names. Can. Mineral., 35, 219-246.
LUDWIG, K.R. (2001). Users manual for Isoplot/Ex rev. 2.49. Berkeley Geochronological Center
Special Publications, 1A, 56 p.
MAHOOD, G. & HILDRETH, W. (1983). Large partition coefficients for trace elements in high-
silica rhyolites. Geochim. Cosmochim. Acta, 54, 2015-2050.
MANHIÇA, A.D.S.T. (1998). The Geology of Mozambique Belt and Zimbabwe Craton around
Manica, Western Mozambique. Tese de Mestrado, Universidade de Pretória.
MANHIÇA, A.D.S.T., GRANTHAM, G.H., ARMSTRONG, R.A., GUISE, P.G. & KRUGER, F.J.
(2001). Polyphase deformation and metamorphism at the Kalahari craton - Mozambique Belt
boundary. In: Miller, J.A., Holdsworth, R.E., Buick, I.S. & Hand, M. (Eds). Continental
Reactivation and Reworking. Geological Society of London Special Publications, 184, 303-322.
MANUEL, I.R.V. (1992). Geologie, Petrographie, Geochimie und Laggerstatten de Manica
Greenstone Belt, Moçambique. Tese de Doutoramento, Rheinisch-Westfalishen Technishen
Hochschule Aachen, Alemanha.
MARTIN, H. (1986). Effect of steeper Archaean geothermal gradient on geochemistry of
subduction – zone magmas. Geology, v. 14, p 753-756.
MARTIN, H. (1993). The mechanisms of petrogenesis of the Archaean continental crust –
comparison with modern processes. Lithos, 30, 373 –388.
McBIRNEY, A. R. (1993). Igneous Petrology. Jones & Bartlett Publishers. London, 508 p.
MOORES, E.M. (1991). Southwest U.S. – East Antarctic (SWEAT) connection: a hypothesis.
Geology, 19, 425-428.
MUCHANGOS, A.C. (2000). Mineralogy and Geochemistry of Bauxite and Bentonite Deposits
from Mozambique. Tese de Doutoramento, Universiteit Utrecht.
MUGABE, J. (1993). Cartografia e Geoquímica dos Serpentinitos da Serra Isitaca. Trabalho de
Diploma, Departamento de Geologia, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique.
MUIR, R.J., WEAVER, S.D., BRADSHAW, J.D., EBY, G.N. & EVANS, J.A. (1995). The
Cretaceous Separation Point batholith, New Zealand: granitoid magmas formed by melting of
mafic lithosphere. J. Geol. Soc. London, 152, 689-701.
NAPIDO, A.D. (1993). Geologia estrutural do Greenstone Belt de Manica. Trabalho de Diploma,
Departamento de Geologia, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique.
NASH, W.P. & CRECRAFT, H.R. (1985). Partition coefficients for trace elements in silicic
magmas. Geochim. Cosmochim. Acta, 17, 403-415.

91
Bibliografia

O’ CONNOR, J.T. (1965). A classification for quartz rich igneous rocks based on feldspar ratios.
U.S. Geol. Surv. Prof. Paper, 525 B, B79 - B84.
OBERHOLZER, W. (1964). A Geologia da Mancha de Manica. Relatório inédito, Serv. Geol.
Minas, L. Marques, Moçambique.
OBRETENOV, N. (1977). Região Mineira de Manica. Relatório inédito, Dir. Nac. Geol., Maputo,
Moçambique.
OPIYO-AKECH, N., TARNEY, J. & HOSHINO, M. (1999). Petrology and geochemistry of
granites from the Archaean terrain north of Lake Victoria, western Kenya. J. African Earth Sci.,
29 (2), 283-300.
PEARCE, J. A., HARRIS, N. B. & TINDLE, A. G. (1984). Trace element discrimination diagrams
for the tectonic interpretation of granitic rocks. J. Petrol., 25, 956-983.
PHILPOTTS, J.A. & SCHNETZLER, C.C. (1970). Phenocryst - matrix partition coefficients for K,
Rb, Sr and Ba with applications to anorthosite and basal genesis. Geochim. Cosmochim. Acta,
34, 307-322.
PINTO, M.S. (1969). Geochemistry of Some Granites of the Manica e Sofala District,
Mozambique. MSc Thesis, Department of Earth Sciences, University of Leeds, U.K.
RAPP, R.P., WATSON, E.B. & MILLER, C. F. (1991). Partial melting of amphibolite/eclogite and
origin of Archaean trondhjemites and tonalites. Precambrian Research, v. 51, p. 1-25.
ROLLINSON, H. (1993). Using Geochemical Data: Evaluation, Presentation, Interpretation.
Longman, Essex, 352 p.
SHELLEY, D. (1993). Igneous and Metamorphic Rocks under the Microscope. Chapman & Hall,
London, 445 p.
SHERATON, J.W. & BLACK, L.P. (1983). Geochemistry of Precambrian gneisses: relevant for
the evolution of crust Antartic shield. Lithos, 16, 273 – 296.
STOCKLMAYER, V.R. (1978). The geology of the country around Inyanga. Rhodesia Geological
Survey Bulletin, 79.
STOWE, C.W. (1980). Wrench fault tectonics in the Archaean Rhodesian Craton. Geological
Society South Africa, 83, 193-206.
SUN, S. & McDONOUGH, W.F. (1989). Chemical and isotopic systematics of oceanic basalts:
implications for mantle composition and processes. In Saunders, A D. & Norry, M.J. (Eds.).
Magmatism in the Ocean Basins. Geol. Soc. Spec. Publ., nº 42, London, 313 – 345.
TARNEY, J. & JONES, C.E. (1994). Trace element geochemistry of orogenic igneous rocks and
crustal growth models. J. Geol. Soc. London, 151, 855-868.

92
Bibliografia

TASSINARI, C.C.G., SUMBURANE, E. & PINTO, M.S. (2003). Novos dados Rb-Sr e Sm-Nd
nos terrenos granito-greenstone da região de Manica, centro de Moçambique: Evidências de
acreção continental no Arqueano e Paleoproterozoico. VII Congresso de Geoquímica dos Países
de Língua Portuguesa, Maputo, Livro de resumos alargados (em impressão).
TAYLOR, P.N., KRAMERS, J.D., MOORBATH, S., WILSON, J.F., ORPEN, J.L. & MARTIN,
A. (1991). Pb-Pb, Sm-Nd and Rb-Sr geochronology in the Archaean craton of Zimbabwe.
Chem. Geol., 87, 175-196.
TAYLOR, S.R. & MCLENNAN, S.M. (1985) The Continental Crust: It’s Composition and
Evolution, Blackwell, Oxford, 312 pp.
TCHAMENI, R., MEZGER, K., NSIFA, N.E. & POUCLET, A. (2000). Neoarchaean crustal
evolution in the Congo Craton: evidence from K rich granitoids of the Ntem Complex, Southern
Cameroon. J. African Earth Sci., 30, 133 – 147.
TRELOAR, P.J. & BLENKINSOP, T.G. (1995). Archaean deformation patterns in Zimbabwe: true
indicators of Tibetan style crustal extrusion or not? In: Coward, M.P & Ries, A.C. (Eds). Early
Precambrian Processes. Geological Society South Africa Special Publications, 95, 87-108.
TRINDADE, N.S.R. (1995). Mapeamento Geológico-Estrutural entre as Serras Nhautata e
Andrada, região de Manica. Trabalho de Diploma, Departamento de Geologia, Universidade
Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique.
UNITED NATIONS (1998). Mozambique Map nº 3706 Rev. 2. Department of Public Information
Cartographic Section.
VINYU, M.L., MARTIN, M.W., BOWRING, S.A., HANSON, R.E., JELSMA, H.A. & DIRKS, P.
H. (1999). First U – Pb zircon ages from a craton-margin Archaean orogenic belt in Northern
Zimbabwe. Precambrian Res., 98, 67-82.
WARD, C.D., MCARTHUR, J.M. & WALSH, J.N. (1992). Rare earth element behaviour during
evolution and alteration of the Dartmoor granite, SW England. J. Petrol., 33, 785-815.
WAREHAM, C.D., PANKHURST, R.J., THOMAS, R.J., STOREY, B.C., GRANTHAM, G.H.,
JACOBS, J. & EGLINGTON, B.M. (1998). Pb, Nd and Sr isotope mapping of Grenville-age
Crustal Provinces in Rodinia. J. Geol., 106, 647-659.
WATSON, R.L.A. (1969). The geology of the Cashel, Melsetter and Chipinga areas. Rhodesia
Geological Survey Bulletin, 60.
WEAVER, B.L. & TARNEY, J. (1980). Rare earth geochemistry of Lewisian granulite-facies
gneisses, Northwest Scotland: implications for the petrogenesis of the Archaean lower
continental crust. Earth Planet. Sci. Lett., 51, 279-296.
WEAVER, B.L. & TARNEY, J. (1981). Lewisian gneisse geochemistry and Archaean crust
development models. Earth Planet. Sci. Lett., 55, 171-180.

93
Bibliografia

WILSON, J.F. (1968). The geology of the country around Mashaba, Rhodesia Geological Survey
Bulletin, 62, 139.
WILSON, J.F. (1979). A preliminary reappraisal of the Rhodesian basement complex. In:
Anhaeusser, C.R., Foster, R.P., Stretton, T. (Eds), A symposium on mineral deposits and
transportation and deposition of metals, Geological Society South Africa Special Publications,
5, 1-23.
WILSON, J.F. (1981). The granite-gneiss-greenstone shield, Zimbabwe. In: Hunter, D.R.T. (Eds).
Precambrian of the Southern Hemisphere. Elsevier, Amsterdam. 454-488.
WILSON, J.F. (1990). A craton and its cracks: some of the behaviour of the Zimbabwe block from
the late Archaean to the Mesozoic in response to horizontal movements and the significance of
some of its mafic dyke patterns. J. African Earth Sc., 10, 483-501.
WILSON, J.F., NESBITT, R.W. & FANNING, C.M. (1995). Zircon geochronology of Archaean
felsic sequences in the Zimbabwe craton: a revision of greenstone stratigraphy and a model for
crustal growth. In: Coward, M.P & Ries, A.C. (Eds). Early Precambrian Processes. Geological
Society South Africa Special Publications, 95, 109-126.
WINTER, J.D. (2001). An Introduction to Igneous and Metamorphic Petrology. Prentice Hall Inc.,
Upper Saddle River, New Jersey.

94
RIA – Repositório Institucional da Universidade de Aveiro

Estes anexos só estão disponíveis para consulta através do CD-ROM.


Queira por favor dirigir-se ao balcão de atendimento da Biblioteca.

Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia


Universidade de Aveiro

Você também pode gostar