Você está na página 1de 24

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

GERAÇÃO DE MAGMAS LEUCOGRANÍTICOS


NO GRANITO NAZARÉ PAULISTA (SP)

ALUNOS
Laíza Maietto, Lúcio Massari, Nayara Coelho e Tayná Galiano

DOCENTES
Adriana Alves, Excelso Ruberti, Silvio Vlach e Valdecir Janasi

PARTE ESCRITA DO SEMINÁRIO

Disciplina: Petrologia Ígnea GMG0331

São Paulo
2018

ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 2
1.1 CONTEXTO GEOLÓGICO 2
1.2 OBJETIVO 3

2. MÉTODOS 4
2.1 ATIVIDADE DE CAMPO 4
2.2 PETROGRAFIA 4
2.3 GEOQUÍMICA4

3. RESULTADOS 5
3.1 TRABALHO DE CAMPO 5
3.1.1 DESCRIÇÃO GERAL DO AFLORAMENTO 5
3.1.2 GNAISSE MIGMATÍTICO 6
3.1.3 CORPO GRANÍTICO 7
3.1.4 ESTRUTURAS OBSERVADAS 8
3.2 PETROGRAFIA 9
3.2.1 LÂMINAS 9
3.2.2 INTERPRETAÇÃO 14
3.3 GEOQUÍMICA14
3.3.1 ÍNDICES E NORMAS 15
3.3.2 GRÁFICOS E DIAGRAMAS 15
3.3.3 INTERPRETAÇÃO DA GEOQUÍMICA 18

4. CONCLUSÃO 19

5. BIBLIOGRAFIA 21

1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTO GEOLÓGICO
O Granito Nazaré está inserido no contexto da Nappe de Empurrão Socorro-

Guaxupé (NESG). Por definição, nappe é um substrato rochoso que se deslocou e se alojou

acima de um corpo mais novo. Colocado sobre a borda SW do cráton São Francisco por

deslocamento para E (Figura 1), a NESG é produto de um processo tectônico

colisional/compressivo (Campos Neto & Caby, 1999b), sendo composto principalmente por

rochas de metamorfismo de alto grau e granitos anatéticos de idade coincidente com a do

metamorfismo principal, de 625 ± 5 Ma (Janasi, 1999).

Figura 1 - Mapa tectônico da porção meridional do Cráton São Francisco e orógenos


Neoproterozóicos circundantes. A NESG corresponde às áreas designadas como “sgn”
(Campos Neto et al., 2011).

A NESG compreende três principais unidades: uma granulítica mais basal (quartzo-

feldspática, portadora de orto-piroxênios e pobre em anfibólios e micas), uma granítica

intermediária (granodioritos, monzogranitos, sienogranitos e sienitos com eventual

ocorrência de enclaves migmatíticos) e uma gnáissica mais superficial, que também

compreende corpos metassedimentares (Claudio Mora et al., 2014). A posterior deformação

associada à Faixa Ribeira (Ribeiro et al., 1995; Campos Neto & Caby, 1999b) separa a
NESG em dois segmentos: Domínio Guaxupé e Domínio Socorro, separados por uma faixa

de rochas do Grupo Andrelândia-Itapira e seu embasamento (Janasi, 1999).

O evento anatético regional associado ao metamorfismo principal resultou em suítes

magmáticas sin-orogênicas cálcio-alcalinas. Os granada-biotita granitos tipo Nazaré

Paulista foram gerados em níveis mais rasos da crosta a temperaturas de 750 °C e pressão

de 5 kbar pela fusão por quebra de muscovita (Janasi, 1999). Em níveis intermediários (7

kbar), protolitos quartzo-feldspáticos menos evoluídos geraram os granitos Pinhal (a

temperaturas de até 850 °C). Ainda de acordo com Janasi (1999), em níveis mais profundos

da crosta foram gerados magmas mangeríticos pela fusão de granulitos residuais,

correspondentes às suítes Divinolândia e São Pedro de Caldas (a temperaturas de 975 °C

950 °C, respectivamente).

Os corpos plutônicos observados no primeiro dia do trabalho de campo (28/04) do

granito Nazaré Paulista (625 ± 2 Ma, Janasi, 1999), encontra-se no Domínio Socorro. No

extremo meridional do domínio, onde o granito aflora, rochas supracrustais metamorfizadas

em alto grau (biotita gnaisses tonalíticos a granodioríticos, granada-biotita gnaisses e

sillimanita-granada-mica xistos) são invadidas por uma ampla diversidade de granitos

anatéticos.

1.2 OBJETIVO
O intuito deste trabalho é o estudo e discussão acerca da fonte dos magmas

leucograníticos no contexto de geração de magmas por anatexia crustal na região de

Atibaia-Piracaia-Nazaré Paulista (SP). Com base nas estruturas observadas no trabalho de

campo, análises petrográficas e levantamento de tabelas e gráficos dos dados geoquímicos

obtidos por Martins, 2005, procuramos elaborar um modelo para a gênese dos

leucogranitos.

2. MÉTODOS

2.1 ATIVIDADE DE CAMPO


A atividade do primeiro dia do trabalho de campo realizado pela disciplina Petrologia

Ígnea do Instituto de Geociências USP (dia 28/04/2018) consistiu na observação de um

afloramento dos granitos Nazaré Paulista, no qual descrevemos as rochas aflorantes e nos

atentamos para feições que revelassem as fontes e os processos de geração e cristalização

destes magmas.

2.2 PETROGRAFIA
A análise de 5 lâminas no microscópio petrográfico (Lc2, Lc5, NP74C, NP74U,

NP74AD) nos permitiu determinar a mineralogia dos diferentes corpos graníticos de

interesse e assim classificá-los. Os aspectos texturais de cada rocha (microestruturas,

ocorrência de fenocristais, cristalinidade etc) foram observados e usados para inferência de

condições de cristalização e sequência de cristalização.

2.3 GEOQUÍMICA
A partir dos dados geoquímicos obtidos da tese de doutoramento da Profa. Dra.

Lucelene Martins, elaboramos gráficos comparando as assembleias minerais normativas, a

porcentagem de óxidos e a concentração de elementos traço e ETR+Nb+Ta e

determinamos os índices A/CNK, A/NK e Mg/(Mg+Fe2) e as razões Rb/Sr, Sr/Ba, La/Yb e

Ce/Er.

3. RESULTADOS

3.1 TRABALHO DE CAMPO


Localização: Km 48 da Rod. D. Pedro I, região de Atibaia

Tipo de afloramento: Corte de estrada NW-SE

Estado de alteração: Pouco alterado


3.1.1 DESCRIÇÃO GERAL DO AFLORAMENTO

De modo geral, observa-se neste afloramento o contato entre um paragnaisse

migmatítico e um corpo granítico não homogêneo. O contato entre ambos é por vezes

delineado por um corpo pegmatítico (Figura 2) composto essencialmente por quartzo e

feldspato potássico, mas quando o contato entre granito e gnaisse se faz direto, este tem

comportamento subconcordante. Neste contato direto foi possível observar o granito

cortando o gnaisse (Figura 3) e xenólitos do gnaisse no granito (Figura 4).

Figura 2 - Contato entre paragnaisse migmatítico e corpo granítico

delineado por pegmatito destacado em vermelho. Leucossomas do

gnaisse destacados em preto.


Figura 3 - Contato no qual se observa o corpo granítico cortando o
paragnaisse migmatítico destacado em vermelho.
Figura 4 - Contato no qual se observa xenólitos do paragnaisse

migmatítico no granito. Leucossomas do gnaisse destacados em

preto.

3.1.2 GNAISSE MIGMATÍTICO


Estrutura foliada com bandamento metamórfico - alternância entre bandas máficas

(quartzo, feldspato e principalmente biotita) e bandas félsicas (quartzo e feldspato), ambas

possuindo granadas euédricas milimétricas, designado como granada-biotita gnaisse.

Considerando ambas as bandas, o aspecto geral da rocha é de um índice de 50% de

máficos.

Esse gnaisse apresenta corpos tabulares concordantes com o bandamento, mais

claros, mais espessos e de granulometria mais grossa (~5mm) que as bandas félsicas e

foram identificados como leucossomas (Figuras 2 e 4). Estes leucossomas, quartzo-

feldspáticos e apenas 1% de máficos, são evidência de fusão parcial, tratando-se portanto

de um gnaisse migmatítico.

Ao avançar para sudeste, pudemos observar melhor os leucossomas (que se

encontravam em maiores espessuras) delineados muitas vezes por melanossomas ricos em

biotita (Figuras 5a e 5b). Tais melanossomas podem ser interpretados de duas maneiras:
como sendo material residual da fusão parcial que gerou os leucossomas ou como sendo

um produto de alteração entre os leucossomas e o próprio gnaisse.

Figuras 5 - (a) Leucossomas no mesossoma (gnaisse migmatítico)


delineados por melanossomas. (b) Intercalação de leucossomas e
melanossomas.

3.1.3 CORPO GRANÍTICO


O corpo granítico, heterogêneo, pode ser descrito como um corpo maior e maciço

cinza servindo de encaixante para uma grande quantidade de veios cinza claro de aspecto

plástico (venulações) (Figura 6). A estrutura maior, de Q(A+P) (40:60) e IC = 8%, foi

classificada como um monzodiorito de granulação média a fina e apresentava granadas


milimétricas manteadas por biotita (glomérulos granatíferos), o que indica seu caráter

peraluminoso e a ocorrência de fase hidrotermal, além de lhe conferir o nome de granada-

biotita monzogranito.

Figura 6 - Granada-biotita monzogranito cinza

servindo como encaixante para venulações de

monzogranito leucocrático.

As venulações graníticas tinham granulação média grossa, foliação discreta e índice

de cor significativamente menor que o do granada-biotita granito (IC = 5%) e QAP

(20:40:40). Também apresentava glomérulos granatíferos, designado portanto como

granada monzogranito. Para facilitar a distinção entre os dois tipos de granito, iremos por

tratar o granada-biotita monzogranito encaixante como somente “granito cinza” e as

venulações de granada monzogranito como “leucogranito”.

3.1.4 ESTRUTURAS OBSERVADAS


A densa venulação de granitos claros é difusa, se estendendo em todas as direções

e comumente se conectando, formando diques e até mesmo corpos isolados. O caráter

curvilíneo das vênulas evidenciam sua formação enquanto o corpo granítico cinza ainda se

encontrava em estado plástico de mush. Notamos que, a sudeste, trechos do afloramento

no qual as granadas não se faziam visíveis, esta ausência era observada tanto nos corpos

graníticos quanto no gnaisse, sugerindo o gnaisse como rocha fonte dos granitos.

Três hipóteses principais foram levantadas com as evidências em campo: (a) o

gnaisse deve corresponder à rocha fonte de ambos os granitos; (b) o gnaisse deve

corresponder à rocha fonte somente do granito cinza, enquanto o leucogranito pode ter

origem no líquido remobilizado dos leucossomas e (c) os leucogranitos podem ser o produto

de refusão do próprio mush do granito cinza durante sua ascensão na crosta.

3.2 PETROGRAFIA

3.2.1 LÂMINAS

LC-2 (LEUCOSSOMA)

TEXTURAS: Orientação de fluxo magmático, mirmequitas

GRANULARIDADE: Inequigranular

IC: 2%

MINERALOGIA: Plagioclásio: 34%- Xenomórfico, saussuritzação


Quartzo:35%- Euédrico
K-FDP: 5%- Microclínio, mirmequítico
Biotita: 20%- Orientadas, halos pleocróicos
Granada: 4%- Poiquilítica, associada a biotita
Muscovita: 2%- levemente radiada
Clorita:1%- Anédrica, nos interstícios da granada
Fibrolita: <1%
Zircão: <1%- extinção reta
Opacos:3%- Ocorrem sempre a granada
Monazita:<1%
SÍNTESE: Às vezes o quartzo apresenta textura poiquilítica envolvendo o plagioclásio e a
biotita, existem também algumas algumas fraturas no quartzo que são preenchidos por
micas. Granada poiquilítica. Quartzo precoce (arredondado), englobado apenas pela
granada.

NOME: Granodiorito, quase tonalítico

Figura 7 - Leucossoma LC-2 com plagioclásios saussuritizados.

LC-5 (LEUCOSSOMA)

TEXTURAS: Orientação de fluxo magmático, mirmequitas

GRANULARIDADE: Inequigranular

IC: 2%

MINERALOGIA: Granada: 3%
Clorita - 2%
Plagioclásio: 34%
Quartzo- 34%
Biotita- 2%
K-FDP: 25%

SÍNTESE: Quartzos precoces (arredondados) encontram-se


englobados apenas pelas granadas.
NOME: Monzogranito

Figura 8 - Leucossoma LC-5 com quartzos prismáticos à arredondados

capturados apenas pela granada.

NP-74U (CORPO LEUCOGRANÍTICO)


IC: 3%
GRANULARIDADE: Inequigranular

MINERALOGIA: Plagioclásio: 35%- Saussuritzação, ~An32


Quartzo:35%- Subedrico
K-FDP: 30%- Microclínio
Biotita
Granada: Subédrica, fraturada, poiquilítica
Muscovita: Xenomórfica
Clorita: Associada a biotita
Biotita Verde: ALteração da granada

SÍNTESE: Quartzo precoce (arredondado), englobado por todos os minerais, granada,


feldspato e próprio quartzo.

NOME: Sienogranito
Figura 9 - Feldspatos com textura poiquilítica na amostra do leucogranito

NP74-U.

NP74-AD (CORPO LEUCOGRANÍTICO)

TEXTURAS: Hipidiomórfica

GRANULARIDADE: Inequigranular, mirmequitas

IC: 13%

MINERALOGIA: Plagioclásio: 10%- Xenomórfico, saussuritzação, ~An20


Quartzo:27%- Euédrico
K-FDP: 45%- Microclínio, mirmequítico
Biotita: 20%- Bem distribuída, halos pleocróicos
Granada: 5%- Poiquilítica, fraturada
Biotita Verde:3%- levemente radiada
Zircão: <1%- extinção reta
Fibrolita: 5% Anédrica, orientada, corta os minerais
Monazita:<1%

SÍNTESE: Grande quantidade de quartzos arredondados, que provavelmente são precoces


e capturados pelo feldspato alcalino, plagioclásio, granada e até mesmo outros quartzos. A
textura é granular hipidiomórfica. Ocorrem muitas mirmequitas.
NOME: Sienogranito

Figura 10 e 11: Abundância de quartzo arredondado sendo capturado por

outros minerais (plagioclásio, feldspato K, granada e por outros quartzos) na

amostra NP74-AD.

NP-74C (GRANITO “CINZA”)


IC: 17%

MINERALOGIA: Plagioclásio: 30%- Saussuritzação, ~An25


Quartzo:20%
K-FDP: 30%- Microclínio
Biotita: 10%- Halos pleocróicos
Granada: 7%- Poiquilítica
Fibrolita: 1%
Andaluzita: 1%
Muscovita: 1% Birds Eyes

SÍNTESE: Cristais de K-FDP, plagioclásio, quartzo, biotita e granada são bem formados. O
plagioclásio está quase sempre saussuritzado. A granada está sendo substituída por biotita
verde (que possui menos titânio), por isso é principal e precoce. A andaluzita também está
sendo alterada para muscovita. Quartzo precoce englobado por todos os minerais.

NOME: Monzogranito

Figura 11 e 12 - Plagioclásios saussuritizados e granadas com alteração de

clorita ao seu redor.


3.2.2 INTERPRETAÇÃO
Nota-se petrograficamente o caráter peraluminoso de todos as rochas de interesse

pela presença, além da granada, de andaluzita e fibrolita no granito cinza (NP74C) e fibrolita

nos leucogranitos (NP74U e NP74AD) e leucossomas (Lc2 e Lc5). Nota-se também a

presença de minerais ricos em ETR (zircão e monazita), às vezes por sua identificação

direta, às vezes pela observação de halos pleocróicos na biotita.

Nos leucogranitos (NP74U e NP74AD) a recorrente textura poiquilítica de feldspatos,

plagioclásios e granadas com inclusões de quartzos bem arredondados nos sugere que os

quartzos, precoces, foram capturados do mush anterior às venulações.

3.3 GEOQUÍMICA
Os dados geoquímicos obtidos por Martins, 2005, das rochas de interesse foram

utilizados para o levantamento dos índices e tabelas a seguir.

3.3.1 ÍNDICES E NORMAS


A presença de coríndon nas normas obtidas com a planilha de John D. Winter

(Figura 7) evidenciam mais uma vez o caráter peraluminoso observado em campo e

petrograficamente pela ocorrência de granadas. Optamos por utilizar os nomes das

amostras como os mesmos dados por Martins, 2005 (NP74AD, NP74U, NP74AC, Lc2 e

Lc5). As normas e índices obtidos se encontram abaixo:

Figura 13 - Normas das duas amostras de leucogranito (AD e U), granito cinza, duas

amostras de leucossomas (Lc2 e Lc5) e mesossoma.


Figura 14 - Caráter máfico (mg#), índices A/CNK, A/NK e FeO+MgO+TiO2.

Figura 15 - Relações entre os elementos traço Rb/Sr e Sr/Ba e os ETR La/Yb e Ce/Er.

3.3.2 GRÁFICOS E DIAGRAMAS


Os gráficos elaborados consistem na comparação da assembléia mineral normativa,

da porcentagem de óxidos e da concentração de elementos traço, ETR+Nb+Ta.

Figura 16 - Comparação gráfica das assembleias minerais normativas.


Figura 17 - Comparação gráfica da porcentagem de óxidos.

Figura 18 - (a) Comparação gráfica dos ETR+Nb+Ta e (b) detalhe dos ETR pesados.
Figura 19 - Diagramas de variação geoquímica usando SiO2 como índice de diferenciação.

3.3.3 INTERPRETAÇÃO DA GEOQUÍMICA


Comparativamente, os índices A/CNK e A/NK do granito cinza são menores que os

dos leucogranitos. O índice de máficos mg# e a soma Feo+MgO+TiO2, por outro lado, são

maiores no granito cinza que nos leucogranitos. O leucossoma Lc5 (identificado

petrograficamente como leucossoma granítico) possui índices A/CNK e A/NK muito distintos

do leucossoma Lc2 (identificado como tonalítico), com valores próximos aos dos

leucogranitos.
As razões Rb/Sr e Sr/Ba aumentam do granito cinza para os leucogranitos e, mais

uma vez, nota-se que os valores do Lc5 diferem muito dos encontrados para o Lc2 e se

aproximam mais dos valores obtidos nos granitos. Relações entre ETR mais incompatíveis

sobre menos incompatíveis (La/Yb e Ce/Er) decaem do granito cinza para os leucogranitos.

Graficamente, nota-se uma grande afinidade geoquímica entre mesossoma,

leucossomas e corpos graníticos através das comparações das assembleias normativas

(Figura 10), da porcentagem de óxidos (Figura 11) e da concentração de ETR+Nb+Ta

(Figuras 12). Nota-se ainda que, normativamente os leucossomas se mostram muito mais

semelhantes entre si, mas demonstram uma diferença relevante na concentração de ETR.

Estes mesmos parâmetros gráficos, em especial o da concentração de ETR, demonstram

mais uma vez que a amostra Lc2 possui mais afinidade com os leucogranitos que a amostra

Lc5.

Através dos diagramas, nota-se a tendência de maior afinidade química entre o

granito cinza e leucogranitos do que entre leucogranitos e leucossomas. Ainda, na maioria

dos diagramas em que os leucossomas demonstraram diferença significativa entre si,

notava-se novamente a maior afinidade do Lc5 com os granitos (em especial nos diagramas

K2O, MnO e Rb).

O aumento dos índices A/CNK e A/NK e da razão Rb/Sr do granito cinza para os

leucogranitos coincidem com o esperado entre “protólito” e fundido nas condições de

quebra de biotita ou muscovita na ausência de água. Do mesmo modo, a diminuição das

relações La/Yb e Ce/Er e o enriquecimento em ETR são esperados na relação fonte/fundido

devido à fusão de fases minerais como zircão, plagioclásio e monazita. Os elementos La e

Ce são mais incompatíveis e os Yb e Er, menos incompatíveis - assim espera-se que essas

razões cresçam conforme o avanço do fracionamento. Vale ressaltar que, estranhamente,

notamos um aumento na razão Ba/Sr, enquanto espera-se que as razões Rb/Sr e Ba/Sr

sejam contrárias.

As várias evidências de que o leucossoma Lc5 (granítico) possuía mais afinidade

com os leucogranitos, enquanto o Lc2 (tonalítico) se mostrava bastante distinto

quimicamente, nos levou à hipótese de mistura entre os líquidos leucograníticos com os

leucossomas. As maiores concentrações de ETR pesados no leucogranito U podem sugerir

uma “contaminação” por leucossomas em maior proporção do que no leucogranito AD.


4. CONCLUSÃO
O granada-biotita gnaisse observado pertence a uma das três principais unidades do

Complexo Metamórfico Piracaia descritas por Campos Neto et al. (1983), unidade essa que

inclui granada-biotita gnaisses bandados como o observado, com bandamento

composicional centimétrico a decimétrico. Tratando-se do produto metamórfico de um

pacote sedimentar, é esperado que o gnaisse estudado apresenta variação composicional -

tal como observado em campo pela ausência de granadas no segundo ponto (uma porção

originalmente menos aluminosa, que possuía poucos argilominerais).

Por definição, um migmatito é uma rocha silicática heterogênea que sofreu fusão

parcial e originou partes mais claras (leucossomas, de aparência plutônica) que se

intercalam com partes mais escuras (melanossomas, concentração de máficos) e uma parte

mais ou menos preservada da rocha metamórfica original (mesossoma ou paleossoma). O

avanço do metamorfismo iniciou o processo de migmatização do gnaisse, iniciando a fusão

no ponto de mínimo (no eutético) entre os cristais de quartzo e feldspato do gnaisse. Pelo

menos parte do líquido resultante não adquiriu volume suficiente para se mobilizar e

ascender, somente para gerar bolsões félsicos (os leucossomas). Simultaneamente à

formação dos leucossomas pode haver a formação dos melanossomas, que podem

representar tanto o conjunto de cristais residuais da fusão quanto o resultado da reação

entre líquido e mesossoma.

Embora em campo tenha sido observado predominantemente esses sinais de

metatexia (estágio inicial da fusão parcial com formação de líquido não mobilizado),

constatamos também uma relação entre a presença de granadas no gnaisse e a presença

de granadas no granito. Assim sugerimos que devia haver íntima ligação entre o gnaisse, os

leucossomas e a composição dos corpos graníticos.

Leucossomas retidos podem ser interpretados como o registro do trajeto de

ascensão e extração de material fundido (Brown et al.1999; Sawyer, 2001; Brown, 2004) -

por densidade, alívio de pressão ou filter pressing, gerando o acúmulo de magmas

graníticos na crosta continental. Janasi, 1999, sugeriu que a ascensão e acúmulo do líquido

dos leucossomas teriam gerado as venulações leucograníticas, enquanto a geração do

granito cinza se daria pela influência de mais de uma fonte: a mistura do líquido da fusão
parcial do gnaisse migmatítico (os leucossomas) com o líquido da fusão parcial de

ortognaisses, e também destacou a importante influência de restitos em sua composição,

lhe conferindo por exemplo caráter mais máfico.

O granada-biotita granito possui textura nebulítica (bandamento bem definido em

certos pontos e disperso em outros), a qual é associada a diatexitos (estágio de alto grau de

fusão). Em diatexitos, o fundido (leucossomas) e resíduos (restitos/máficos) não se

separam e o fluxo de magma ocorre destruindo estruturas, desagregando e carregando

esses restitos. A assimilação de restitos pelo granito cinza, que teria desagregado biotitas,

granadas e minerais acessórios do gnaisse, se verifica pelos altos teores de

FeO+MgO+TiO2.

A partir do que observamos em campo, petrograficamente e principalmente nas

análises geoquímicas (o enriquecimento em ETR, o crescimento na razão de ETR mais

incompatíveis sobre menos incompatíveis e a afinidade evidente na concentração de

elementos maiores, menores e traços), as venulações do leucogranito são compatíveis com

uma formação a partir do fracionamento do próprio granito cinza. O processo

descompressivo adiabático do mush do granito cinza poderia tê-lo refundido parcialmente

por quebra de biotita. Essa refusão proporciona um aumento na pressão interna do mush,

provocando fraturas dúcteis nas quais se alojaram as venulações de leucogranitos. Esse

modelo explica a presença de granadas em igual ou maior quantidade no leucogranito que

no granito cinza, pois a granada dos leucogranitos seria magmática e não metamórfica,

associada à quebra da biotita conforme a equação Bt + Pl + Qtz = Opx + Grt + Kfs + Liq

(Vielzeuf & Montel,1994) e como reforçado por Martins, 2005, ao verificar o enriquecimento

em ETRP+Y para as bordas dos cristais (devido à dissolução de fases acessórias ricas em

ETR durante a refusão, tais como zircão e monazita).

Com os dados disponíveis, sugerimos que os leucogranitos correspondam ao

modelo de refusão do mush do granito cinza por descompressão adiabática, e que a

interação entre os líquidos dos leucossomas e o líquido leucogranitico pode ter acontecido

de forma heterogênea. Assim, alguns dos leucossomas correspondem ao modelo de Brown,

2004, de que seriam “evidências da ascensão de fundidos”, e essa “contaminação” dos

leucogranitos em diferentes proporções explicaria sua grande variedade composicional.


5. BIBLIOGRAFIA

MARTINS, Lucelene. Geração e migração de magmas graníticos na crosta continental: estudos


de detalhe em granitos e migmatitos da região de Nazaré Paulista (SP). 2006. Tese de
Doutorado. Universidade de São Paulo.

JANASI, Valdecir de Assis. Petrogênese de granitos crustais na Nappe de Empurrão Socorro-


Guaxupé (SP-MG): uma contribuição da geoquímica elemental e isotópica. 1999. Tese de
Doutorado. Universidade de São Paulo.

NETO, Mario da Costa Campos et al. Orogen migration and tectonic setting of the Andrelândia Nappe
system: An Ediacaran western Gondwana collage, south of São Francisco craton. Journal of South
American Earth Sciences, v. 32, n. 4, p. 393-406, 2011.

MORA, Claudio Alejandro Salazar; NETO, Mario da Costa Campos; BASEI, Miguel Angelo Stipp.
Syn-collisional lower continental crust anatexis in the Neoproterozoic Socorro-Guaxupé Nappe
System, southern Brasília Orogen, Brazil: Constraints from zircon U–Pb dating, Sr–Nd–Hf signatures
and whole-rock geochemistry. Precambrian Research, v. 255, p. 847-864, 2014.

JANASI, V. A.; MARTINS, Lucelene; VLACH, Silvio RF. Detailed field work in two outcrops of the
Nazaré Paulista anatectic granite, SE Brazil. Revista Brasileira de Geociências, v. 35, n. 1, p. 99-
110, 2005.

Você também pode gostar