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O NOVO MAPA GEOLÓGICO DO NORDESTE DE SANTA CATARINA, BRASIL

Mônica Lopes Gonçalves(1), Reginaldo José de Carvalho(2)

(1) Departamento de Geografia – Universidade da Região de Joinville


(2) Departamento de Geografia – Universidade da Região de Joinville

INTRODUÇÃO

A geologia da região de Santa Catarina tem sido estudada na escala 1:50.000, através de projetos de pesquisa
financiados pela Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE.
O objetivo deste trabalho foi mostrar os avanços verificados na geologia da região nordeste de Santa
Catarina, região sul do Brasil, através do estudo da geologia básica da região compreendida entre os municípios
de São Bento do Sul, São Francisco do Sul, Garuva e Jaraguá do Sul, na escala 1:50.000, conforme consta na
figura 01.
A área caracteriza-se por extensas planícies costeiras a leste, contrafortes da Serra do Mar e pela região de
planalto a oeste. As vias de acesso por estradas são muito limitadas, o que obriga o percurso por trilhas,
principalmente na Serra do Mar. Cabe ressaltar que o enfoque deste trabalho foi para as rochas pré-cambrianas e
neoproterozóicas.

METODOLOGIA

O trabalho de campo envolveu o uso de mapas topográficos na escala 1:50.000 do Instituto de Brasileiro de
Estatística e Geografia - IBGE, fotografias aéreas e imagens de satélite. As coordenadas UTM dos afloramentos
foram registradas com auxílio de um GPS. Foram obtidas amostras litológicas das rochas, medidas de estruturas
diversas, além da confecção de lâminas delgadas dos grupos de rochas identificados e realização de análises
petrográficas.

RESULTADOS

A geologia da região nordeste do Estado de Santa Catarina (Figura 02), é composta por embasamento,
granitos alcalinos, rochas sedimentares intercaladas com rochas vulcânicas e sedimentos quaternários.
• EMBASAMENTO
O embasamento é composto por dois grandes grupos de rochas: Complexo Granulítico de Santa Catarina
(HARTMANN et al., 1979) e Núcleo Migmatítico de Injeção Polifásica de São Francisco do Sul. Estas
denominações constam do trabalho de BORTOLUZZI et al. (1986).
O Complexo Granulítico de Santa Catarina na região estudada é formado por gnaisses hiperstênicos quartzo
feldspáticos, leuco a melanocráticos, tendo subordinadamente quartzitos fuchsíticos e quartzitos intercalados
com formação ferrífera e rocha metaultramáfica. As feições migmatíticas predominam, sendo raramente
isótropicas. Em geral os gnaisses são miloníticos com xistosidade variando a direção de maior mergulho do
plano para leste e para oeste com ângulos de mergulho entre 75º à 90º. Em direção a Serra do Mar (oeste), os
quartzitos que formam lentes de direção norte/sul diminuem consideravelmente a sua ocorrência, e a formação
ferrífera ocorre de forma maciça. Corpos de rocha metaultramáfica de dimensões de até 1 Km2 e textura maciça
ocorrem neste embasamento entre os paralelos 7104000 e 7098000 e meridianos 710000 e 716000, conforme
pode ser observado na figura 02.
O Núcleo Migmatítico de Injeção Polifásica de São Francisco do Sul é composto na região por migmatitos de
injeção polifásica, granitos gnáissicos, granitoides e subordinadamente por granada xisto. Na Ilha de São
Francisco do Sul predominam as fácies migmatíticas no Morro das Laranjeiras, nos arredores da Cidade, Morro
do Pão de Açúcar e praias, excetuando-se a Prainha e a Pedreira da Ribeira(figura 02). Os granitóides afloram na
Ilha de São Francisco do Sul somente na Pedreira da Ribeira e Prainha, além das ilhas da Baía da Babitonga e se
estende para norte pelos morros que se situam entre as localidades de Saí e Saí Mirinzinho. A relação de contato
entre o granitóide e gnaisse pode ser observada na foto 01. Há de se ressaltar que estes contatos variam ente
bruscos e transicionais. Lentes de granada xisto ocorrem dentro dos migmatitos.
Com relação as estruturas, o embasamento sofreu pelo menos três fases de deformação, um primeira Dn-1,
originou uma xistosidade, paralela aos planos de bandamento composicional. Esta xistosidade foi intensamente
dobrada de maneira apertada, transpondo a xistosidade nos gnaisses e migmatitos, para uma nova xistosidade –
xistosidade principal, cuja direção de caimento das retas de maior inclinação do plano é para 78º e o ângulo de
mergulho de 80º. Estas dobras são mais observáveis nos quartzitos mais competentes do Complexo Granulítico
(foto2). Uma extensa zona e cisalhamento, caracterizada pela ocorrência de milonitos, ao longo do Canal do
Palmital com direção N-NE/S-SE (figura 02), verificados em rochas quartzíticas e gnáissicas principalmente.
Esta zona de cisalhamento justapôs as duas grandes unidades distinguidas no Pré Cambriano.
A xistosidade principal por sua vez foi ondulada por uma fase de deformação aberta, cuja superfície axial tem
caimento para sul com mergulhos íngrimes e eixo E/W.

• GRANITOS ALCALINOS
Na região estudada ocorrem quatro corpos ígneos a saber do sul para o norte (figura 02): Granito Corupá,
Granito Piraí, Granito Dona Francisca e Granito Morro Redondo. De acordo com SIGA JR (1995) estes corpos
representam um expressivo magmatismo de natureza alcalina - peralcalina que ocorreu entre 600-570 Ma. Ainda
neste mesmo período SIGA JR (op.cit.) associa o vulcanismo ácido-intermediário, relacionado a evolução das
Bacias de Campo Alegre (situada imediatamente a leste da área deste estudo), Guaratubinha (localizada ao norte
da área em estudo) e Corupá (situada na porção sudoeste da área deste estudo) num regime tectônico distensivo.

• BACIA VULCANO SEDIMENTAR DE JOINVILLE


A descoberta da ocorrência desta bacia sedimentar na região é fato inédito, visto que na literatura geológica
não existe menção para tal ocorrência (figura 02). Esta bacia vulcano sedimentar é representada por:
conglomerados, arenitos e riolitos. Os conglomerados ocorrem geralmente como blocos de mais de cinco metros
de diâmetro, bastante homogêneos. Perfazem a maior parte da área das rochas vulcano-sedimentares.
Eventualmente, percebe-se níveis de arenito com estratificação cruzada, dentro do conglomerado, que apresenta
os planos de estratificação sedimentar sub- horizontais com no máximo cinqüenta centímetros de espessura
(foto 03). O acamamento sedimentar apresenta mergulhos de 20 a 30º para a direção noroeste com exceção de
um local onde a direção de caimento das camadas é para sul com 32º de inclinação.
Na área estudada o conglomerado está depositado diretamente sobre o embasamento e sotoposto pelo riolito.
Mesoscopicamente os seixos do conglomerado, em geral, são bem arredondados, com tamanho variando entre
um centímetro à meio metro. O conglomerado exibe pouca matriz, principalmente nos níveis mais basais. Nota-
se uma redução do tamanho dos seixos da direção noroeste para sudeste. A maioria dos seixos são constituídos
por granito, gnaisses, quartzo leitoso e rocha ultramáfica. Eventualmente, os seixos se apresentam mais
angulosos, como se fosse uma brecha. Próximo ao contato com o riolito, o conglomerado exibe mais matriz e
menos seixo e estes são mais angulosos e com diâmetro de 3 a 4 centímetros. A matriz desta rocha possui cor
cinza-escuro com granulometria de areia fina e estrutura maciça.
Petrograficamente , o conglomerado é constituído predominantemente por clastos de grãos inequigranulares
de quartzo, microclínio, plagioclásio e, subordinadamente, por fragmentos de líticos. Esses clastos possuem
formas que variam de arredondadas a angulosas, indicando um mal selecionamento, em meio a uma matriz
muito fina (síltica ?) que constitui no máximo 10% da rocha. Alguns cristais de quartzo e feldspatos e outros só
de quartzo (quartzo policristalino) encontram-se formando aglomerados (amalgmados), que foram interpretados
como clastos de fragmentos líticos. Os clastos angulosos com alguns subarredondados, apresentam constituições
que variam desde fragmentos líticos a minerais e apresentam estatisticamente uma leve orientação, o que define
uma foliação incipiente, provavelmente sedimentar.
Em função da grande quantidade de clastos (90%), pode-se caracterizar essa rocha como clasto-suportada. A
matriz é de granulometria argilo-síltica e apresenta como paragênese predominante: argilo-mineral, opacos e
clorita. Apesar de se encontrar em pequena porcentagem, a matriz é constituída por epidoto, clorita e muscovita.
Essa constituição é indicativa da superimposição nesta rocha de um incipiente fenômeno de metamorfismo
termal ou um intenso processo diagenético.
Os clastos de quartzo apresentam-se, em muitos casos, como cristais subédricos, com faces angulosas e
bordas com “engolfamento”, indicativo de contribuição vulcânica e/ou de movimentos de massa . Observam-se
também cristais de feldspatos subédricos com faces bem definidas.
Por conta do que foi exposto esta rocha foi classificada como rocha sedimentar aglomerática, formada de
clastos de minerais e fragmentos líticos. A forma dos clastos de cristais associado com a composição dos clastos
líticos permite aventar uma origem vulcanoclástica para essa rocha. Difícil distinguir entre uma rocha
piroclástica, ou uma rocha epiclástica de baixa maturidade, formada a partir de material vulcanoclástico. Ao
microscópio pode ser classificada como Conglomerado ou um Lapili tufo.

CONCLUSÃO

O grande avanço do conhecimento geológico foi a descoberta da ocorrência de uma bacia de rochas
sedimentares na região da Serra do Mar compreendida pelos picos do Castelo dos Bugres, Pelado, Jurapê, Usina
do Piraí e Usina do Oitavo Salto. A Bacia Vulcano Sedimentar de Joinville em conjunto com as bacias já
estudadas de Campo Alegre, Guratubinha e Corupá vem corroborar a tese do regime distensivo que atuou
durante o Neoproterozóico na região nordeste de Santa Catarina.
Os resultados estão servindo de base para os estudos e trabalhos sobre a evolução geotectônica da região.
Outro alcance destes estudos foi com relação ao Uso e Ocupação do Solo da área para elaboração de cartas de
risco geológico, prevenindo a ocorrência de catástrofes naturais.

Agradecimentos: Agradecemos a Universidade da Região de Joinville pelo financiamento da pesquisa, a


Presidência do CCJ pelo incentivo na edição do mapa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Doutorado. Universidade de São Paulo. 1993.

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HARTMANN, L. A.; SILVA L. C. & ORLANDI FILHO, V. O Complexo Granulítico de Santa Catarina - Descrição e Implicações
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HOBBS, B.E., MEANS, W.D. & WILLIAMS, P.F. An Outline of Structural Geology. Wiley International Edition. John Wiley &
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KAUL, Pedro Francisco Teixeira. O Magmatismo Na Serra Do Mar e Adjacências (Sul do Brasil) No Final Do Proterozóico E
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Crustal. Tese de Doutoramento. Universidade de São Paulo. 1997.
Oceano
Atlântico

Brasil

Oceano
Pacífico

54º 53º 52º 51º 50º 49º 48º

- 26º

Santa Catarina - 27º

- 28°

- 29º

Estado do Paraná
N
Garuva
Campo Alegre Itapoá

ga
on
b it
Joinville da
Ba
o

ía
Ba São Francisco
ntic

do Sul
Atlâ

Corupá
ano

Schroeder
Araquari
Oce

Guaramirim

Jaraguá do Sul

Figura 01: Localização da área de estudo

Foto 01: Contato brusco entre o granitóide e o gnaisse facoidal.


Foto 02:Duas fases de deformação superimpostas no embasamento

Foto 03: Detalhe do afloramento do conglomerado exibindo nível de arenito


N
686000 692000 698000 704000 710000 716000 722000 728000 734000 740000 746000 752000

73
LEGENDA
7122000 7122000
Litologias:

80
MR 68
60 DEPÓSITOS QUATERNÁRIOS

293 DIABÁSIO
296
7116000
Bacia Vulcano - Sedimentar de Joinville Bacia Vulcano - Sedimentar de Corupá
7116000
75 44
ARCÓSIO ARGILITO
76 CONGLOMERADO
Rio Cubatão

57 CONGLOMERADO
85
307
32 Granitos
12
Rio Quiriri

Neoproterozóico
43
MR DF Morro redondo
7110000
21 7110000

342 DF 65 87
67 49 65
Dona francisca
8
38 60 CO PI Corupá
45 Piraí
56
65 73
24 34 78
Complexo Granulítico de Santa Catarina
60
7104000
Rio Cubatão
SF 7104000

12 45
281 25
76 Quartzito
58 Rio Cubatão
52
A Rocha metaultramáfica
Rio
68do Júlio G
ON
21 65

BI T
45 Rio Cubatão
60 61
40 53 61
BA
71
Complexo Migmatítico de injeção Polifásica de São Francisco
7098000 63 80 7098000

DA
85 74
Gnaisse migmatítico
ÍA
BA
33
231
40 153 105 262
20 Granada silimanita xisto
86 88
A’ 203 115 A SF
R io

Granito cinza
197
PI
Pira

114 43
í

7092000 B’ B
80 112 89 7092000
Rio C

72 40
61 86 45 Estruturas:
ac

50 Rio Acaraí
37
hoei

93
ra

36
73
258
145
47
52 43

O
7086000 394 76 75 7086000
52 43

NTIC
Rio Ita

CO 30
pocuzin

TLÂ
37
80
ho

OA
56 Rio Pir 81

22 241 Acamamento sedimentar
7080000 62 56 7080000
Zona de cisalhamento
46

EA N
68
A’ A Direção dos Perfis

OC
54 366
60

7074000
75
72
54º 48º
7074000
Mapa digitalizado utilizando
- 26º
cu
Itapo
Rio de base as folhas topográficas
12 73
43 20 do Instituto Brasileiro de Geogra-
fia - IBGE, exceto* elaborado pelo SANTA CATARINA
Rio Itapocu Serviço Geográfico do Exército -
23 SGE, escala 1:50.000.

7068000 7068000 * Garuva


686000 692000 698000 704000 710000 716000 722000 728000 734000 740000 746000 752000 MI-2870/1 MI-2870/2 -29º

Joinville Araquari
Escala Gráfica
Projeção Universal Transversal de Mercator
UTM

Figura 02: Novo Mapa Geológico da Região Nordeste de Santa Catarina.

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