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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS
SOL 626 - GÊNESE E CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS

RELATÓRIO DA VIAGEM AO PLANALTO CENTRAL - MG

Docente:
João Carlos Ker

Discentes:
Demetrio Ângelo Lama Ismínio (84917)
Jailson Silva Sousa (80776)
Leonardo Abud Dantas de Oliveira (76202)
Webert Saturnino Pinto (60879)

VIÇOSA – MINAS GERAIS


JUNHO DE 2017
INTRODUÇÃO

O Brasil, reconhecido como o quinto maior pais do planeta, dado sua grande extensão
territorial de 8 547 403 km2 (IBGE, 2000). O projeto RADAMBRASIL, desenvolvido entre 1970
e 1985, mapeou todo o território brasileiro e constatou que duas formas de relevo aqui
predominam sendo eles planaltos e depressões. Assim mesmo constatou que apenas 3%
está acima de 900 m.
Estas características são manifestadas no estado de Minas Gerais, com uma área
territorial de 588, 4 mil km2 representando o 6,9% da área territorial brasileira. A maior parte
das rochas é do Pré-Cambriano. A avaliação altimétrica do território mineiro está entre 100 m
(várzeas do Rio Doce no leste mineiro) a 2892 m situadas em planaltos, sendo que mais da
metade do estado localiza-se no Planalto Atlântico, com relevos denominados Mares de
Morros (Ab´Saber, 1922). O regime pluviométrico é também bastante distribuído entres as
regiões de maior e menor altitude variando de 500 mm nos vales de Jequitinhonha e Mucuri
a 1750 mm na Mantiqueira (Minas Gerais, 1990).
O Cerrado, maior bioma, ocupa cerca de 57% da extensão territorial no Estado de
Minas Gerais, aparece especialmente nas bacias dos rios São Francisco e Jequitinhonha
(IEF, 2014), nesse bioma as estações secas e chuvosas são bem definidas. A vegetação
natural é composta por gramíneas, arbustos e árvores. As diferentes formas de relevo,
somadas as especificidades de solo e clima, propiciaram paisagens muito variadas,
recobertas por vegetações características, adaptadas a cada um dos inúmeros ambientes
particulares inseridos no estado.
Então toda essa diversidade de ambientes expressos pela correlação de fatores
geológicos, climáticos e pedológicos, pode ser observada durante a viagem de campo. Assim
mesmo o aparecimento da vegetação do Cerrado está condicionado principalmente a acidez,
fertilidade, capacidade de retenção de agua e profundidade do solo, além das queimadas que
na região ocorrem de forma espontânea ou provocada. Assim, o reconhecimento da
vegetação auxilia no reconhecimento dos solos na paisagem.
De modo geral, a paisagem transita para o cerrado ao sul e a oeste, para a região dos
campos rupestres ao centro e para a floresta atlântica a leste, exibindo fases de transição de
difícil caracterização, ou como manchas inclusas em outras formas de vegetação. As veredas
e os campos de várzeas aparecem em menor escala, incluídos nos biomas.
A Mata seca aprece no Norte do Estado, no vale do rio São Francisco. As formações
vegetais desse bioma se caracterizam pela presença de plantas espinhosas, galhos secos e
poucas folhas na estação seca. No período de chuvas, a mata floresce intensamente
apresentando grandes folhagens. A vegetação desse bioma é muito rica. As imponentes
Barrigudas, ou Embarés, são as principais árvores do bioma.
Em áreas do Triangulo Mineiro e parte do planalto central brasileiro se observa uma
transição marcante entre a paisagem ao longo dos rios principais, onde ocorre floresta,
principalmente sobre solos profundos de textura argilosa e com alguma fertilidade,
circundando de cerrado sobre solo também profundo com textura variando de media a
argilosa e baixa fertilidade (Resende et al., 1988).
O Roteiro Pedológico com o objetivo de se vislumbrar estes diferentes ambientes,
compreender a gêneses de seus diferentes solos e suas dinâmicas foi realizada entre os dias
15 a 17 de junho de 2017, pelas estradas das regiões de Viçosa - Paraopeba - Patos de Minas
e Lavras.
MAPA GEOLOGICO DE MINAS GERAIS

O arcabouço geológico mineiro tem grandes unidades litológicas ou litoestratigráficas


e o mapa geológico apresenta os principais grupos; que demostra os tipos de rochas
predominantes nestas várias formações. Em Minas Gerais, na região Norte é predominante
os sedimentos variáveis e calcários, no Noroeste dominam os sedimentos arenosos, no Leste
e Sul tem se granito – gnaisse e no Oeste (Triangulo Mineiro) ocorre arenito nas áreas centrais
e próximo aos principais cursos de água tem o afloramento de basaltos.

Figura 1. Mapa geológico de Minas Gerais (CODEMIG & CPRM, 2014)


O complexo geológico tem importante influencia na formação e desenvolvimento dos
solos. Pois os solos herdam características morfológicas, físicas e químicas das rochas que
foram originados. Por tanto, para uma melhor compreensão e aproveitamento no uso dos
solos é necessário o entendimento da geologia regional (Figura 1).

ÁREAS GEOLÓGICAS NO DECORRER DO ROTEIRO

CRÁTON DO SÃO FRANCISCO

O Cráton do São Francisco, é uma unidade geotectônica que ocupa grande parte do
território mineiro (Figura 2). Na literatura são consideradas como embasamento as rochas
mais velhas que o Supergrupo Espinhaço, as quais representam as unidades, mas antigas
das coberturas, dessa forma a seguir será usado o termo embasamento.
O embasamento do Cráton São Francisco é constituído por um complexo arranjo de
terrenos metamórficos de alto grau (gnaisses, granitoides e granulitos) de idade arqueana,
associações de tipo granítico e cinturões de rochas supracrustais paleoproterozóicas, assim
como rochas plutónicas com grande variedade composicional, expostos no extremo sul do
cráton (Cinturão Mineiro) e na porção nordeste, no estado da Bahia (Teixeira et al., 2000).

Figura 2. Províncias estruturais do brasil, segundo o modelo de Almeida et al. (1976).


Dentro da geologia, destaca-se o visto durante o recorrido, sendo elas Supergrupo Rio
das Velhas, Grupo Manique y Nova Lima; Complexo Bação; Supergrupo Minas, grupo Itabira
(Quadrilátero Ferrífero); Supergrupo São Francisco, Grupo Bambuí, Subgrupo Paraopeba,
Formação Sete Lagoas e Formação Serra da Saudade; Materiais do terciário; Grupo Areado
e Grupo Mata da Corda.

Quadrilátero Ferrífero (QF)

O QF (Figura 3) constituído por rochas oriundas do Arqueano até o Paleoproterozóico,


é uma área importante no âmbito geológico e de mineração. O Supergrupo Rio das Velhas
composto de metassedimentos vulcanoclásticos, químicos e pelíticos, é considerado um
cinturão de rochas verdes; o Supergrupo Minas composto de metassedimentos pelíticos e
quartzosos (Foto 1), sendo o mais significativo em termos económicos, contendo os minérios
de Fe, localmente denominados itabiritos (Roeser e Roeser, 2010), e o complexo Bação
constitui uma estrutura dômica do complexo cristalino inserida no sul do Quadrilátero Ferrífero
(Figuereido et al., 2002).

Figura 3. Geologia do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: (Teixeira, 1982)


Foto 1. Presença de Quartzitos no topo

Dessa maneira, em áreas de ocorrência de itabirito, dolomitos ferruginosos e rochas


básicas predominam solos rasos como Cambissolos e Neossolos Litólicos, apresentando
grande riqueza de ferro, sendo geralmente classificados como perférricos. Por outro lado,
locais que apresentam menor pedregosidade e relevo menos acidentado é comum a
ocorrência de Latossolos Vermelhos perférricos associados às áreas itabiríticas.
Segundo Carvalho Filho et al. (2010) com exceção dos solos ferruginosos, em toda a
área do Quadrilátero Ferrífero os teores de alumínio trocável, assim como os de matéria
orgânica, são bem maiores nos solos sob floresta do que naqueles sob vegetação de campo
cerrado ou campo, o que ao lado da condição topográfica sugere que a presença da floresta
está relacionada a maior disponibilidade de água.

Grupo Bambuí

O grupo Bambuí corresponde a uma extensa cobertura pelito - carbonatada do


Neoproterozóico aflorante nos estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais, e apresenta
formações as seguintes formações: Jequitaí, Sete Lagoas (Foto 2), Serra de Santa Helena,
Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias (Foto 3).
Figura 4. Coluna estratigráfica do Grupo Bambuí (Dardenne, 1978)

Foto 2. Material calcário da formação Sete Lagoas

No campo foram recorridas dentro da formação Sete Lagoas, Serra de Santa Helena
e Serra da saudade. A formação Sete Lagoas composta de rochas carbonáticas com
intercalações margosas (calcário com 30 a 60% de argila) e pelíticas, formando contrastes na
paisagem que variam desde manchas contendo vegetação com biomassa abundante
intercaladas, em distancias pequenas, com regiões de solos quimicamente muito pobre e de
vegetações pouco protuberante. A Formação Serra de Santa Helena, composta por folhelhos
e siltitos acinzentados que separam os níveis carbonáticos das formações Sete Lagoas e
Lagoa do Jacaré a Formação Serra de Saudade composta de folhelhos, argilitos e siltitos
esverdeados que passam progressivamente a siltitos arcoseanos.

Foto 3. Pelíticas de Bambuí (Foto em campo, março do 2017) da formação Três


Marias

Sendo comum nestas áreas a ocorrência de Cambissolos, Neossolos e Latossolos.


No domínio dos Cambissolos são relevantes as consequências das restrições físico químicas,
a vegetação predominante é pobre que o cerrado, com altura de vegetação ainda menor. Os
Latossolos do grupo Bambuí há melhores condições de drenagem, exploração do sistema
radículas, menos perdas por erosão o que favorece o estabelecimento de vegetação de
cerrado.

Grupo Areado

Em campo foi visto a Formação Três Barras que ocorre diretamente sobre o Grupo
Bambuí (Foto 4). Esse grupo é caracterizado por um espesso pacote de arenito cuja principal
característica é a bimodalidade, conferida por alternâncias de laminas de areia grossa e areia
média fina, com presença de estratificações plano – paralelas e cruzadas (Foto 5). Foi
observado concreções ferruginosas e a desferrificação do material.
Figura 5. Coluna estratigráfica do Grupo Areado (Fragoso et al., 2011)

Arenito

Bambuí

Foto 4. Contato arenito – Bambuí (Foto tirada em campo, março do 2017)

Foto 5. Arenito exibindo estratificação cruzada da formação Três Barras


Grupo Mata da Corda

O grupo Mata da Corda é representado por uma alternância de rochas vulcânicas e


epiclásticas. Estes litotipos são pertencentes, respectivamente as formações patos e
Capacete, sendo a Formação Patos recorrido no roteiro
Na Figura 5 observa-se o seguinte a) materiais de tonalidade esverdeada, b) materiais
de solo de tonalidade avermelhada e c) presença de material magnético num solo em estágios
avançado de intemperismo. Então a Formação Patos é representada por rochas vulcânicas
alcalinas de depósitos piroclásticos, além de derrames, condutos vulcânicos e diques.
(Moraes et al., 1986) o que resulta em solos de fertilidade alta, sendo comum a ocorrência
com maior frequência de Nitossolo Vermelho Eutrófico, Latossolo vermelho Distroférrico,
cambissolo Háplico Tb Eutrófico e Nitossolo litólico Eutrófico.

Figura 6. Materiais encontrado no Grupo da Mata da Corda, Formação Patos de Minas


1° Dia (15/06/2017)

1ª PARADA : Cambissolo Háplico Tb Distrófico Típico


Localização: Coordenadas geográficas: 20°22'15.3" S e 43°16'21.4" W
Altitude: 845 m
Município: Mariana, MG

A geologia da área encontra-se num ambiente de micaxistos, com provável influência


de quartzitos, que pertence ao Supergrupo Rio das Velhas do Pré-Cambriano. O relevo
predominante é o ondulado, ou seja, é uma região com relevo mais movimentado (Ker &
Schaefer, 1995), com pastagens e vegetação secundária, sem palmeiras e reflorestamento
(Eucalipto) (Foto 6).

Foto 6. Paisagem representativo do Cambissolo

Na figura 7 observa-se o seguinte: a) O perfil do solo observado no corte de estrada é


um Cambissolo Háplico Tb Distrófico típico (SiBCS, 2006), antes classificado como
Cambissolo Álico Tb A moderado textura média fase floresta tropical subcaducifólia relevo
forte ondulado do XXV-CBCS 3 (Ker & Schaefer, 1995). Esse solo apresenta horizontes
A/Bi1/Bi2/Bi3/Bi4/CR, com Horizonte A granular de coloração mais escurecida quando
comparado ao horizonte B com uma coloração mais amarelada, sem gradiente textural e
presença de mica e muscovita na fração areia e muita ilita na fração argila b) estrutura fraca
em blocos do horizonte B e c) presença de material muito micáceo no horizonte CR.
b

a c

Figura 7. a) Perfil do Cambissolo Háplico Tb Distrófico, b) estrutura em blocos, fraca do


horizonte B e C) material micáceo do horizonte R.

A fertilidade natural deste solo é baixa, com limitação de relevo fortemente ondulando
montanhoso o que inviabiliza muito a utilização. Além de mais o solo é de textura media sem
estrutura o que indica uma resistência a erosão baixa, onde o material de origem laminar por
causa da muscovita, vai favorecer a erosão. Se essa paisagem quando já está desmatado é
difícil de recuperar, o eucalipto observado nessa área seria mais para recompor a unidade da
paisagem do que para tirar uma produtividade espetacular.

2ª PARADA : Complexo Bação


Localização : Coordenadas geográficas: 20°21'39.6" S e 43°39'26.3" W
Altitude: 1062m
Município: Ouro Preto, MG

O complexo Bação constitui uma estrutura dômica do complexo cristalino inserida no


sul do Quadrilátero Ferrífero. Segundo o FEAM (2010), os solos dominantes no complexo
Bação são: Latossolos Vermelhos – Amarelos distrófico típico A moderado textura argilosa;
fase cerrado, relevo plano e suave ondulado (LVAd1) e os Cambissolos Háplicos distrófico
típico A fraco/moderado textura argilosa; fase caatinga hipoxerófila, relevo forte ondulado
(CXbd1)
Por outro lado, dentro desta província do bação observou-se a presença de voçorocas,
o que é a forma de erosão mais visível aparecendo nas áreas de Latossolos. Essa área de
voçorocamento não tem jeito de recuperação, a engenharia ficaria muito cara, então a melhor
coisa e deixar, o que a vegetação natural vai cobrindo com o tempo tal como se observa na
foto 7. A gênese dessas voçorocas deve-se provavelmente a presença do horizonte C mais
próximo a superfície no terço inferior das encostas, onde fica uma camada muito pouco
espessa de Latossolo, então como esse horizonte C é muito arenoso, pobre em Fe, fica
propenso a erosão onde desencadeia a forma de voçoroca. Outro seria que esse material do
solo, esteve ligado a atividade de mineração pela procura de ouro.

Foto 7. Área de voçorocas

É possível que essa área aqui seja uma das regiões do passado ajudava no
abastecimento de alimento de Ouro preto, mais é uma área granítica diferenciada, bem
marcada e bem arredondada dentro do Quadrilátero Ferrífero. Então dentro do QF, como o
material granítico gnaisse reapareceu, essa área vai ser domínio de Latossolo Vermelho
Amarelo; quando é quartzito é dominantemente litólico; quando é filito começa a aparecer
Cambissolo; itabirito quando relevo é muito movimentado, também é Cambissolo. Em áreas
movimentadas permanecem solos rasos, as vezes de quartzito, itabirito e filito.
Então a área do QF, é um soerguimento muito grande, com uma diversidade geológica,
material sedimentar e metamórfica muito grande o que dá origem a uma diferenciação de
solos muito complexas onde é difícil de ver pela topografia existente na área, uma área de
difícil acesso.
3ª PARADA : Cristais de Quartzito
Localização : Coordenadas geográficas: 20°12'30.8" S e 43°50'27.2" W
Altitude: 1217 m
Município: Itabirito, MG

Nessa região foi possível observar dois ambientes, na parte baixa (mar de morros)
(Foto 8), com predomínio de Cambissolo Háplico distrófico típico é léptico A moderado textura
média/argilosa, pedregoso/não pedregoso + Neossolo Litólico distrófico típico A moderado +
Latossolo Vermelho - Amarelo distrófico típico A moderado textura média/argilosa (CXbd21)
(FEAM, 2010) derivado de filito, clorita xisto, anfibolitos, dolomitos, quartzitos do Supergrupo
Rio das Velhas do Arqueano (CODEMIG & CPRM, 2014).

Foto 8. Área de voçorocas

Na parte alta (Foto 9), predomina os Neossolos Litólicos distrófico típico A


fraco/moderado + Afloramento rochoso; ambos fase cerrado e caatinga hipoxerófila, relevo
ondulado e forte ondulado e montanhoso (RLd4) (FEAM, 2010) derivado de quartzitos,
metaconglomerado, filitos do Supergrupo Minas do Proterozóico (CODEMIG & CPRM, 2014).
O quartzito presente nessa área é muito resistente a erosão, preservando na natureza, onde
encontra-se solos bastante rasos, afloramentos de rochas e poucas áreas sem rochas.
Foto 9. Área com presença de afloramentos rochosos

Então o QF as vezes não acurta distancia, onde é possível encontrar diferentes tipos
de solos com predomínio de quartzitos. Assim mesmo foi observado que a vegetação é mais
campestre. A atividade agrícola é bem baixa.

4ª PARADA : Área de mineração


Localização : Coordenadas geográficas: 20°11'55.4" S e 43°50'51" W
Altitude: 1248 m
Município: Itabirito, MG

Nesta área tem predomínio de Neossolos Litolicos distrófico típico A fraco/moderado


+ Afloramento rochoso; ambos fase cerrado e caatinga hipoxerófila, relevo ondulado e forte
ondulado e montanhoso (RLd4) (FEAM, 2010) encontrando-se também cambissolos. Esses
materiais são derivado de quartizitos, metaconglomerado, filitos do Supergrupo Minas do
Proterozoico (CODEMIG & CPRM, 2014).
Na foto 10, foi possível observar uma mistura de material muito grande tal como filito
e caulinita (produto da intemperização do filito). A heterogeneidade do material e de cor
presente, faz difícil de separar um solo de outro. Então é possível separar solos em
associação com outro solo.
Foto 10. Área de mineração

Assim mesmo, o relevo montanhoso de estas áreas até escarpado foi mapeado tudo
como Cambissolo como solo dominante, isso porque o material nasceu meio pre -
intemperizados o que logo formou horizonte B pequeno.
O QF chama a atenção porque é uma área muito rica em extração de minerais de Fe
que começou em 1700 em diante, ele foi muito trabalhado e mapeado desde cedo. Em termos
de solo deixa de desejar, geralmente é Litólico, Cambissolo, Plintossolo pétrico o que em
termos de diferenciação de solo é bem complicado. A mineração deixa um problema sério,
recuperar ou reconstituir não é muito simples, para recuperar essas areas. Quando o
substrato é pobre a gramínea é difícil de cobrir, necessita fazer tratamento pesado com
adubação pesado, para ver se reconstitui para proteger o solo da erosão

5ª PARADA : Plintossolo pétrico


Localização : Coordenadas geográficas: 20°11'40.2" S e 43°52'4.9" W
Altitude: 1247 m
Município: Nova Lima, MG

Nesta área tem predomínio de Neossolos Litolicos distrófico típico A fraco/moderado


+ Afloramento rochoso; ambos fase cerrado e caatinga hipoxerófila, relevo ondulado e forte
ondulado e montanhoso (RLd4) (FEAM, 2010), encontrando-se materiais concrecionários
classificados como Plintossolo Pétrico (Foto 11). Esses materiais são derivados de itabirito,
dolomito e filito do Supergrupo Minas do Proterozoico (CODEMIG & CPRM, 2014).
Foto 11. Corte de estrada do perfil petrico

Então temos um solo com presença de material concrecionários (Foto 12) onde se tem
dificuldade de separar horizontes, classificado como Plintossolo Pétrico (muito avermelhado),
drenagem restrita, mais fica pela quantidade de petroplintita com Ki muito baixo porque o
material é muito pobre em sílica com uma característica marcante de Fe e Mn com valores
altíssimos. Esse Plintossolo Pétrico, ocorre muito no médio dessas rochas itabiríticas, onde a
atividade agrícola não tem sentido nenhuma. O material é usado para pavimentação de
estradas nestas áreas do QF.
Nessa mesma área também foi observado a presença de goethita. A pesar da
abundância de Fe, ela não foi para hematita o que provavelmente que em algum lugar da
rocha deve ter expressado mais umidade que favoreceu a formação da goethita (Foto 12).
Então, o íon Fe depois de oxidado a Fe3+ pode precipitar como goethita ou ferrihidrita
dependendo da maior ou menor atividade desde Fe3+ no sistema, onde se sua quantidade for
apenas suficiente para exceder o produto de solubilidade (Kps=10-42) da goethita que é baixo,
esta se formará.
Foto 12.Presenca de goetita

6ª PARADA : LATOSSOLO VERMELHO Perférrico típico


Localização : Coordenadas geográficas: 20°7'7.6" S e 43°58'5.8" W
Altitude: 1294 m
Município: Nova Lima, MG

Nesta área tem predomínio de Neossolos Litólicos distrófico típico A fraco/moderado


+ Afloramento rochoso; ambos fase cerrado e caatinga hipoxerófila, relevo ondulado e forte
ondulado e montanhoso (RLd4) (FEAM, 2010), encontrando-se também Latossolo Vermelho
Perférrico típico (Foto 5). Esses materiais são derivados de itabirito, dolomito e filito do
Supergrupo Minas do Proterozóico (CODEMIG & CPRM, 2014).
Na Figura 8 foi observado o seguinte: a) perfil do solo do Latossolo Vermelho Perférrico
típico com horizontes A/BA/Bw1/Bw2c, onde c indica a presença de concreção, b) estrutura
granular e em bloco do horizonte A e B e c) susceptibilidade magnética com imã. Esse solo é
essencialmente hematítico, a relação hematita:goethita é de 0,99, é um solo de pequena
expressão no quadrilátero, o alto teor de magnetita mascara a cor da MO com estrutura
fortemente desenvolvida em “pó-de-café” típica dos Latossolos com grau de floculação de
100%, resultando em uma boa drenagem.
b

a c
Figura 8. Características de Latossolo Vermelho perferrico tipico

Dentro das características desde solos são a presencia de magnetita e maghemita que
implicam a susceptibilidade magnética, teor de argila uma média de 42% e pseudosilte,
textura media sem gradiente textural, densidade de partículas muito alta, 65% de Fe2O3 e
densidade de partículas passando de 3,5 g/dm3, ki menor do que 0,5 por serem pobres em Si
e Al trocável, pH em KCl maior do que 5 (ácrico) e ΔpH positivo, baixa CTC, soma de bases
inferior a 1,5 cmolc/kg, capacidade de adsorção de P uns dos mais altos do Brasil (3,5 mg/g),
na fração de argila estão presentes hematita, maghemita e traços de caulinita e gibbsita.
No passado esse solo era classificado como Latossolo Ferrífero, na atualidade ela é
classificada como Latossolo Vermelho Perférrico típico, um dos mais características que tem
Brasil. O teor de gibbsita nesse solo é baixo e a rocha pobre em alumínio, a caulinita pode
aparecer mais vai aparecer quando fazer 5 extrações com ditionito para o pico ficar mais claro,
ou seja, o óxido de Fe capeia toda a caulinita.
Pelo tamanho da área teria que ser explorada pela agricultura familiar, porém devido
à grande pobreza do solo, seria necessário um grande aporte de insumos para obter uma boa
produtividade.

7ª PARADA : Gruta Rei do mato


Localização : Coordenadas geográficas: 19°29'12.79" S e 44°16'49.28" W
Altitude: 840 m
Município: Sete Lagoas, MG
Os solos predominantes nessas áreas são Neossolo litólico distrófico típico A
moderado/proeminente + Cambissolo HAPLICO distrófico típico e léptico A moderado textura
média/argilosa, pedregoso/não pedregoso; ambos fase campo cerrado, relevo ondulado e
forte ondulado (RLd3) (FEAM, 2010). Na foto 13 observou-se duas áreas distintas onde
embaixo aparece solo mais profundo, mais intemperizados com vegetação cerrado derivado
de materiais de siltito e argilito ardosiano e mais para acima solos bastante rasos com
vegetação mata seca derivados de material calcário, ambos dentro do Supergrupo do São
Francisco, Grupo Bambuí. Então onde se observa mata seca, o material é calcário e a onde
vou ter cerrado, material pelítico.

Mata seca

Cerrado

Foto 13. Vegetação mata seca e cerrado

O grupo Bambuí se caracteriza por rochas sedimentares ou rochas pelíticas finas


(argilito, siltito). Muitas vezes o calcário é misturado com esse material fino, que quando
dissolver da origem solos bastantes rasos o solo nenhum. O solo da região de maneira geral
é pobre, necessitando de um grande aporte de insumos, a principal utilização agrícola da
região é a pecuária de corte, que geralmente não encara como outro cultivo qualquer.
Figura 9. Perfil Topográfico Viçosa - Paraopeba, com as respectivas paradas no dia 15/06/2017 (Google Earth, 2017)
2º Dia (16/06/2017)

8ª PARADA : LATOSSOLO VERMELHO Típico Distrófico mesoférrico


Localização : Coordenadas geográficas: 19°14'1.28"S e 44°25'54.87"W
Altitude: 770 m
Município: Paraopeba, MG

Este solo pertence à formação da Serra de Santa Helena, onde foi identificado o
supergrupo São Francisco, o grupo Bambuí e o subgrupo Paraopeba. Observa-se que
nesta região ocorre o domínio da vegetação do cerrado, onde predominam solos
vermelhos, espessos e macios. O solo típico desta região é o LATOSSOLO VERMELHO
típico distrófico mesoférrico (8-18% Fe) (Foto 14). Apesar de ser um solo com baixa
fertilidade natural, apresenta boa estrutura (Foto 15) e drenagem. Na região é tradicional
o uso deste solo para pastagem.

Foto 14. Perfil do LATOSSOLO VERMELHO típico distrófico mesoférrico


Foto 15. Estrutura em blocos subangulares

Na literatura, a litologia para esta região indica a presença de argilitos e siltitos


ardosianos, marga e lentes de calcário (CODEMIG & CPRM, 2014) e o mapa de solos
do Estado de Minas Gerais indica a legenda LVd8, onde ocorre o domínio de
LATOSSOLO VERMELHO distrófico típico A moderado, textura argilosa +
CAMBISSOLO HÁPLICO distrófico típico A moderado textura siltosa/argilosa, fase
cascalhenta/não cascalhenta; ambos fase cerrado, relevo plano e suave ondulado
(FEAM, 2010).

9ª PARADA : CAMBISSOLO ÁLICO


Localização : Coordenadas geográficas: 19° 0'17.10"S e 44°39'25.98"W
Altitude: 790 m
Município: Curvelo, MG

Este solo pertence à formação da Serra de Saudade, onde foi identificado o


supergrupo São Francisco, o grupo Bambuí e o subgrupo Paraopeba. Observa-se que
nesta região ocorre o domínio da vegetação do cerrado, com destaque para os Campos
de Cerrado (Foto 16). Os Campos de Cerrados estão em cota altimétrica mais elevada
em relação aos Maciços de Eucalipto, de domínio de LATOSSOLOS VERMELHOS.
Solo profundo

Solo raso

Foto 16. Paisagem da área onde se distingue observar um solo raso do profundo

Nos Maciços de Eucaliptos encontramos solos mais profundos, enquanto nos


Campos de Cerrado pode se observar solos mais raso e com predomínio da vegetação
rasteira, que formam um amplo tapete graminoide. No entanto, este tapete de
gramíneas não é suficiente para cobrir completamente o solo, deixando-o, em partes,
exposto. Como consequência dessa exposição nota-se um horizonte A decapitado e o
selamento da superfície do solo (Foto 17)

Foto 17. Solo decapitado sem horizonte A e o selamento da superfície


Figura 10. a) vista do tapete graminoide, b) vegetação de gramíneas no solo raso e c)
material laminar da superfície selada

Neste solo raso, caracterizado como CAMBISSOLO ÁLICO, se verifica a


presente influência do material pelítico do Grupo Bambuí nos estratos mais elevados,
de superfície selada e com ou não presença de cascalho. No horizonte subsuperficial,
encontra-se alto teor de silte, podendo, nestes solos, chegar a até 80-90% os valores
da soma dos teores de silte e argila. Além desses fatores edáficos, observa-se no perfil
que as rochas estão dispostas em paralelo e na orientação vertical, favorecendo ainda
mais a pouca infiltração e retenção de água nesses solos (Foto 18)

Foto 18. Vista do perfil onde o Horizonte C disposto em paralelo e na vertical

Então o alto teor de silte pode implicar em diversos fatores edáficos: a)


selamento superficial do solo; b) organização estrutural do solo que não favorece o
manejo; c) menor retenção de água (partículas maiores); d) baixa fertilidade natural; e)
estrutura maciça ou estrutura em blocos fracamente desenvolvida; f) presença de mica
(muita muscovita e feldspato). Além disso sstes solos apresentam coloração de
esbranquiçado a amarelado, com baixo teor de C org e baixa ciclagem de nutrientes.
Encontra-se em situação de degradação, com intensas erosões e com pouca ou sem
cobertura vegetal. Pelo fato de apresentar baixa capacidade de retenção hídrica, baixa
fertilidade natural e estrutura de difícil manejo, este solo apresenta baixa aptidão para
uso agrícola.
A litologia para esta região indica a presença de siltitos e argilitos finos
predominantes, de folhelhos e lentes de calcário (CODEMIG & CPRM, 2014) e o mapa
de solos do Estado de Minas Gerais indica a legenda CXbd11, onde ocorre o domínio
de CAMBISSOLO HÁPLICO distrófico típico e léptico A moderado, textura
média/argilosa, pedregoso/ não pedregoso + NEOSSOLO LITÓLICO distrófico típico A
moderado + LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico A moderado textura
média/argilosa (FEAM, 2010).

10ª PARADA : PLINTOSSOLOS PETRICOS


Localização : Coordenadas geográficas: 18°42'3.30"S e 44°57'53.48" W
Altitude: 620 m
Município: Felixlândia, MG

Este solo, assim como CAMBISSOLO ALÍCO, pertence à formação da Serra de


Saudade, onde foi identificado o supergrupo São Francisco, o grupo Bambuí e o
subgrupo Paraopeba. Neste perfil, voltamos ao domínio dos LATOSSOLOS, no entanto,
este perfil se encontra em um ambiente de exceção. Esta pequena área é formada por
uma mancha de solo, com muitos cupins de coloração branca expostos na superfície do
terreno plano (Foto 19). O solo, também de coloração esbranquiçada, apresentou alta
intensidade de selamento superficial e concreções muito próximas à superfície. Estas
características o caracterizam como PLINTOSSOLO PÉTRICO.
Foto 19 Vista da paisagem da área de PLINTOSSOLO

No corte do perfil foi identificado um solo com alto teor de silte e estrutura maciça.
Não apresenta horizonte A, sendo composto por horizonte. A/B (Foto 20).
Provavelmente, este ambiente, em um passado remoto, deve ter sido uma lagoa, na
qual o solo passou pelo processo de desferrificação, seguido por um intenso período de
seca, ao qual possibilitou a precipitação do Fe e a formação de concreções ferruginosas,
como as petroplintitas (Figura 11, a e b). Este solo é facilmente identificado por imagem
de satélite, devido à coloração esbranquiçada. Não tem uso agrícola.

Foto 20. Perfil do PLINTOSSOLO


a b

Figura 11. Concreções ferruginosas

Na literatura, a litologia para esta região indica a presença de siltitos e arenitos


finos predominantes, de folhelhos e lentes carbonáticas (CODEMIG & CPRM, 2014) e
o mapa de solos do Estado de Minas Gerais indica a legenda LVd3, onde ocorre o
domínio de LATOSSOLO VERMELHO distrófico típico A fraco/moderado textura
argilosa + LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico A fraco/moderado
textura argilosa; ambos fase cerrado, relevo plano e suave ondulado (FEAM, 2010).

11ª PARADA : NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS


Localização : Coordenadas geográficas: 18°15'4.33"S e 45° 9'48.12"W
Altitude: 790 m
Município: Três Marias, MG

Este solo pertence à formação do Grupo Areado e Urucuia. Este material é mais
recente geologicamente que o material do Grupo Bambuí. A paisagem é composta por
um solo homogêneo, profundo e intensamente desbarrancado, em corte com ângulos
retos. Este solo apresenta textura arenosa e cor avermelhada (Foto 21). A cor
avermelhada advém da cimentação ferruginosa. Apresenta baixa fertilidade natural.
Este solo foi caracterizado como NEOSSOLO QUARTZARÊNICO.
Foto 21: Vista do barranco erodido em voçoroca.

Este solo, provavelmente, tem < 15% argila, visto que este não tem agregação.
Não tendo agregação, não forma estrutura nem horizonte B. Logo, este solo apresenta
horizonte A/C. As intensas voçorocas observadas podem estar relacionadas à falta de
agregação do solo, que desbarranca em formato de coluna e em profundidade com
pouca intensidade de chuva e declividade.

Figura 12. a) erosão em cortes de ângulos retos, b) da profundidade da voçoroca e c)


Visão geral da área.

Na literatura, a litologia para esta região indica cobertura superficial


indiferenciada (CODEMIG & CPRM, 2014) e o mapa de solos do Estado de Minas
Gerais indica a legenda LVAd12, onde ocorre o domínio de LATOSSOLO VERMELHO-
AMARELO distrófico típico A fraco/moderado textura média + NEOSSOLO
QUARTZARENICO ORTICO típico A fraco/moderado; ambos fase caatinga hipoxerófila,
relevo plano e suave ondulado. (FEAM, 2010).

12ª PARADA : ORGANOSSOLOS TIPICOS


Localização : Coordenadas geográficas: 18°15'1.45"S e 45° 9'53.69"W
Altitude: 780 m
Município: Três Marias, MG

Este solo está a poucos metros de distância do NEOSSOLO QUARTZARÊNICO,


da parada anterior (11ª parada). Assim como o NEOSSOLO, este solo também pertence
à formação do Grupo Arenito. A paisagem é composta por veredas e palmeiras buritis
(Mauritia flexuosa) (Foto 22). A formação do Grupo Bambuí está sotoposto ao Grupo
Arenito. Esta sotoposição de material mais argiloso sob um material mais arenoso criou
condições para o acúmulo de água no perfil do solo e consequentemente, a formação
das veredas.

Foto 22: Vista da vegetação Buriti na vereda

O ambiente de veredas apresenta abundância de água, sendo considerada pela


legislação ambiental um importante manancial, no cerrado, sendo, área de proteção
permanentes (APP). É possível encontrar três tipos de solos nas veredas: a) Gleissolos;
b) Neossolos quartzarênicos hidromórficos; c) Organossolos.

Neste perfil, em especial, encontramos um ORGANOSSOLO. A tradagem


realizada foi > 40cm, e foi coletado mais material orgânico, sem estrutura (textura
orgânica), coloração preto muito intenso e cheiro de barro (Figura 13) .
Figura 13. a) organossolo, b) tradagem e c) solo hidromórfico das veredas.

Na literatura, a litologia para esta região indica cobertura superficial


indiferenciada (CODEMIG & CPRM, 2014) e o mapa de solos do Estado de Minas
Gerais indica a legenda LVAd12, onde ocorre o domínio de LATOSSOLO VERMELHO-
AMARELO distrófico típico A fraco/moderado textura média + NEOSSOLO
QUARTZARENICO ORTICO típico A fraco/moderado; ambos fase caatinga hipoxerófila,
relevo plano e suave ondulado. (FEAM, 2010). No entanto, este ORGANOSSOLO, por
apresentar uma área de pequena expressão, não pode ser incorporado no mapa de
solos.

13ª PARADA : Arenito com estratificação cruzada


Localização : Coordenadas geográficas: 18° 5'8.05"S e 45°29'6.53"W
Altitude: 785 m
Município: São Gonçalo do Abaeté-MG

Este solo pertence à formação do Grupo Areado. Assim como o NEOSSOLOS


QUARTZARÊNICO e o ORGANOSSOLO, este material é mais recente geologicamente
que o material do Grupo Bambuí. A paisagem é composta por um solo heterogêneo e
profundo, onde pode se observar a deposição de diferentes materiais sedimentares.
Esta diferença de estratificação (Foto 23) pode estar relacionada a sedimentos fluviais,
marinhos e eólicos. Uma característica curiosa deste solo é a presença de pontos
desferrificados de coloração branca que contrastam com coloração avermelhada. Os
pontos de desferrificação podem estar relacionados a canais de água, provocados pelas
raízes das árvores, ou por ação biológica e a coloração avermelhada relacionada à
cimentação ferruginosa.
Foto 23. Vista de perfil do Arenito Vitiligo com estratificação cruzada

Na figura 14 observa-se o seguinte: a) solo de textura arenosa com pouca


capacidade de retenção de água no perfil e b) desferrificação do material arenito pela
ação das raízes onde se tem um indicativo do pronunciado déficit hídrico são os
eucaliptos muito fino e pouco desenvolvido

Figura 14. a) Detalhe do solo com alto teor de areia; b) Processo de desferrificação por
ação de raízes.

Na literatura, a litologia para esta região indica a presença de folhelho, arenito,


feldspático, arenito lítico, arenito conglomerático, conglomerado, polimítico e siltito
(CODEMIG & CPRM, 2014) e o mapa de solos do Estado de Minas Gerais indica a
legenda CXbd12, onde ocorre o domínio de CAMBISSOLO HÁPLICO distrófico A fraco,
textura média/argilosa, cascalhento + NEOSSOLO QUARTZARENICO órtico típico e
léptico álico A fraco; ambos do cerrado, relevo suave ondulado e ondulado
14ª PARADA : Latossolo Vermelho Amarelo
Localização : Coordenadas geográficas: 18°04’33,67’’ S e 45°29’57,21” O
Altitude: 798 m
Município: Três Marias - MG

O solo em questão, um Latossolo Vermelho Amarelo de textura média (Figura


15), tem como material de origem um Arenito, pertencente à formação do Grupo Areado,
que representa a unidade litoestratigráfica basal do Cretáceo da Bacia do São
Francisco, que são coberturas de origem predominantemente continental e de natureza
arenosa, horizontal, que cobre boa parte dos chapadões do Brasil central, e o que
explica a pouca ocorrência de afloramentos de sedimentos Paleozoicos (Baptista, 2004;
Schaefer, 2013).

Figura 15. Latossolo Vermelho Amarelo textura média distrófico

Os chapadões, embora situados hoje em níveis altimétricos diversos, estão


quase sempre associados a Neossolos Quartzarênicos, ou Latossolos de textura média,
em geral com teores de argila na faixa de 20 %, ou pouco acima, e sustentam as mais
amplas e contínuas coberturas de cerrado stricto sensu do Brasil (Figura 16).
Figura 16. Paisagem típica dos chapadões areníticos com sedimentos do Cretáceo e
coberturas Cenozoicas, associados a Neossolos Quartzarênicos (Campos Cerrados)
ou Latossolos Vermelho-Amarelos textura média (Cerrado stricto sensu), com as
Veredas características da drenagem intensa em substratos arenosos.

Extraído de Schaefer (2013).

Neste local, o solo está em um relevo plano, derivado da estrutura horizontal dos
sedimentos, e devido às características químicas e físicas do material de origem, o solo
apresenta textura média, o que permite uma boa drenagem e uma baixa retenção de
água, apresentando assim, um pronunciado déficit hídrico nessa região, e sendo
susceptível à propagação do fogo, e que, pela baixa fertilidade natural destes solos,
permitem a dominância pelo cerrado (Figura 17).

Figura 17. Vegetação típica do cerrado, árvores de médio


porte, retorcidas, de folhas ásperas e casca grossa e rugosa.
Os arenitos dessa região com cores rosadas e vermelhas, apresentam
proporções de matriz argilosa variando de zero até 20 %. A concentração de feldspatos
é variável, ocorrendo desde quartzo arenitos a subarcósios (14 a 18 % de feldspatos)
(Campos e Dardenne, 1997). Sgarbi (1991) estudando a Formação Areado, Bacia do
São Francisco, no oeste do Estado de Minas Gerais, na região do Alto Rio Paranaíba,
verificaram que, os arenitos foram submetidos a processos diagenéticos que originaram
padrões de porosidade, textura e mineralogia bastante diferentes daqueles observados
na rocha original, e foram cimentados por feldspato potássico sobrecrescido em grãos
detríticos, bem como por sílica e calcita, de natureza intergranular, formando
respectivamente silcretes e calcretes típicos.
Dessa maneira, a gênese de um solo de textura média a partir do arenito em
questão, é explicado pela constituição química desse material de origem, que durante
sua formação (deposição), foi cimentado por feldspato potássico, que através do
intemperismo poderá formar a caulinita e gibbsita, a depender da intensidade do
intemperismo e da condição de drenagem.
15ª PARADA : Formação de Plintita e Laterita (Plintização e Laterização)
Localização : Coordenadas geográficas: 18°03’11,40’’ S e 45°39’12,16” O
Altitude: 808 m
Município: Luizlândia do Oeste – MG

Nesta área observamos o resultado do processo de plintização, que é


caracterizado por acumulações localizadas de óxidos de Fe (hematita e goethita), na
forma de mosqueados e nódulos macios, geralmente de cor vermelha, capazes de
endurecer irreversivelmente por meio de ciclos de umedecimento e secagem, e são
identificados pelo termo plintita (Figura 18).

Presença
de
Plintita

Figura 18. Área com ocorrência de plintita e laterita, oriundas dos processos
pedogenéticos de Plintização e Laterização, respectivamente.

Logo abaixo deste local verificou-se a presença de uma vereda, o que indica
que, no passado, o nível do lençol freático (LF) foi mais elevado, o que condicionou a
formação da plintita, pela precipitação cíclica de Fe na zona de flutuação do LF,
originando inicialmente mosqueados, que evoluem a nódulos e concreções (Figura 18).
A alternância de ciclos de umedecimento e secagem, permite que haja novo aportes de
Fe que impregnam nódulos, bem como a cristalização dos óxidos, produzindo a sua
cimentação; quando endurecido esse material passa a ser chamado de petroplintita.
O termo laterita refere-se a camadas (ou perfis) de material duro e cimentado,
constituído pela associação de óxidos de Fe (goethita e hematita), caulinita e quartzo.
Outros termos aplicados a esses materiais são: couraça ferruginosa, couraça laterítica,
ferricrete, petroplintita, canga, piçarra e pedra cupim. Assim, tanto a formação da plintita
(plintização) como a da laterita (laterização) são processos de acumulação de óxidos de
Fe e Al.

16ª PARADA : Latossolo Amarelo


Localização : Coordenadas geográficas: 18°03’16,72’’ S e 45°39’15,09” O
Altitude: 817 m
Município: Luizlândia do Oeste – MG

Ao subirmos mais um pouco, acima da zona do ambiente de formação da plintita,


com a melhoria das condições de drenagem, há condições para formação de um
Latossolo.
Segundo o mapa geológico do estado de Minas Gerais (CODEMIG & CPRM,
2014), a litologia para esta região indica a presença de arenito, siltito, folhelho, e
conglomerado, todos sedimentos do grupo Areado.
Nesta parada, o solo apresenta um teor de argila inferior a 15 % até
aproximadamente 1 m de profundidade, tendo em sequência um aumento do teor,
atingindo 18 % de argila, o que o põe, além das outras características, dentro da classe
dos Latossolos. Pela carta de munsell, este solo apresentou cores entre 7,5 a 10 YR,
sendo classificado, portanto, como um Latossolo Amarelo de textura média. Apresenta
um horizonte A moderado, espesso, é um solo bem drenado, de baixa fertilidade natural
(distrófico). O horizonte Bw apresenta uma estrutura fraca em blocos subangulares,
quase maciça, devido ao baixo teor de argila neste solo (Figura 19).

Figura 19. Latossolo Amarelo textura média distrófico com A moderado


17ª PARADA : Área com Tufito (Grupo Mata da Corda)
Localização : Coordenadas geográficas: 18°38’05,02’’ S e 46°21’33,61” O
Altitude: 1025 m
Município: Patos de Minas – MG

A litologia da região é formada pelo Grupo Mata da Corda, com ocorrência de


lavas, piroclásticas e arenito cinerítico (CODEMIG & CPRM, 2014). As rochas deste
Grupo assentam-se diretamente sobre as rochas sedimentares do Grupo Areado ou
sobre os metassedimentos do Grupo Bambuí, vistos em paradas anteriores. Este Grupo
é constituído de rochas vulcânicas alcalinas que ocorrem na forma de depósitos
piroclásticos, além de derrames, condutos vulcânicos e diques.

Figura 20. Coluna estratigráfica do Grupo Areado e Mata da Corda

Nesse ponto inicia-se a ocorrência de um material com influência tufítica, um


material esverdeado, muito rico em Fe, e o próprio material as vezes forma blocos na
estrutura, possuindo formação similar aos slinckendises, indicando uma argila de
atividade muito (Figura 20).
Figura 21. Material de Tufito do Grupo Mata da Corda.

O Tufito é uma rocha magmática resultante da consolidação de cinzas


vulcânicas. É geralmente rica em óxidos de ferro magnéticos isoestruturais ao espinélio
(MgAl2O4) de composição química variável (Foto 24).

Foto 24. Atração magnética pelo material de tufito.

Os solos desenvolvidos de materiais dominantemente tufíticos dessa região são


magnéticos, e essas propriedades magnéticas têm origem nos espinélios de ferro
excepcionalmente ricos em magnésio e titânio. Grãos magnéticos desse tufito e do solo
derivado tendem a preservar proporções variáveis de magnetita (Silva et al., 2005).
Nessa área, com relevo bem movimentado, há ocorrência de solos com
horizonte A chernozêmico sobre um horizonte B incipiente, com argila de atividade alta,
caracterizado pelo alto fendilhamento, que segundo a SiBCS é classificado como um
Chernossolo e pela Soil Taxonomy como um Mollisol (Foto 25)
Foto 25. Chernossolo (SiBCS) e/ou Mollisol (Soil Taxonomy)

Além dos Chernossolo, nessas áreas com relevo mais movimentado, há maior
ocorrência de solos com horizontes A chernozêmicos, com presença de grumos (Foto
26), diretamente sobre o material de origem (Tufito), sendo classificado como Neossolos
fragmentários, que são solos com contato lítico fragmentário. Já nas áreas aplainadas
ocorrem os Latossolos Vermelhos perférricos, antigos Latossolos Roxo.

Figura 22. Estrutura em grumos no horizonte A chernozêmico.

18ª PARADA : Horizonte Concrecionário


Localização : Coordenadas geográficas: 18°37’02,70’’ S e 46°23’45,36” O
Altitude: 1061 m
Município: Patos de Minas – MG

Nessa parada, observamos a presença de um material concrecionário,


designado por horizonte F, que se desenvolveu nos bordos das chapadas, caracterizado
com uma carapaça laterítica conhecida como "tapiocanga", formando às vezes uma
cornija bem destacada ou aflorando como grandes conglomerados ferruginosos, em
áreas mais dissecadas. Estas capas resistentes são responsáveis pela preservação dos
testemunhos das superfícies, pela sustentação do chapadão, e apresenta elevados
teores de Fe, o que garante uma maior sustentação. A ocorrência da canga laterítica,
evidencia uma condição climática diferente da atual, iniciada provavelmente no Terciário
Inferior (Carmo, 1977).
Localmente encontram-se solos concrecionários exibindo fertilidade natural
elevada quando ocupam encostas com maior declividade e, muitas vezes, relacionadas
com bordas de antigas superfícies de erosão ou superfície de aplanamento da região
central do Brasil.

Horizonte Concrecionário

Foto 26. Presença de um horizonte concrecionário.

19ª PARADA : Latossolo Vermelho perférrico


Localização : Coordenadas geográficas: 18°38’05,33’’ S e 46°27’33,22” O
Altitude: 917 m
Município: Patos de Minas – MG

Na Figura 23 é apresentando um diagrama que representa um ambiente de


ocorrência de Latossolos Vermelhos, antigos Latossolos Roxo. Nota-se que, com a
melhoria da drenagem, nessa área mais “quebrada”, com uma melhor drenagem, e com
o alto teor de Fe, permite a formação da hematita, levando à gênese de um Latossolo
Vermelho perférrico (Figura 22 a), que tem como material de origem o Tufito.
Figura 23. Bloco-diagrama do ambiente de ocorrência do Latossolo Vermelho (antigo
Latossolo Roxo) sobre o Tufito

Extraído de Carmo (1977).

Estes solos são profundos, com textura argilosa, desenvolvendo uma coloração
arroxeada, apresentando de modo geral: pequena variação de cor entre os horizontes
A e B; sub horizontes de difícil separação visual; alta porosidade e alta permeabilidade,
devido a estrutura do tipo “pó de café”; apresentam teores de TiO2 bem mais elevado
que aqueles solos originados de basalto, o que confere uma maior riqueza em
elementos traços, principalmente o Cr; apresentam uma atração magnética altíssima
(Figura 22 b); apresentam elevada capacidade de adsorção de P; e apesar de serem
originados de um material de origem rico (Tufito), este solo são distróficos, o que indica
que houve um acentuado intemperismo na formação destes.

A B

Figura 24. Latossolo Vermelho Perférrico (A) com atração magnética (B)
3º Dia (17/06/2017)
20ª PARADA : Latossolo vermelho
Localização : Coordenadas geográficas: 18°39'33.94"S 46°28'44.57"W
Altitude: 844 m
Município: Patos de Minas – MG

Deixando a cidade de Patos de Minas foi avistado um perfil profundo, de


coloração vermelha, bastante intensa, com horizonte Bw (Figura 26A e 26B),
caracterizando-se como um Latossolo vermelho, possivelmente, distroférrico, com
estrutura pó-de-café, indicando provável aumento nos teores de Al e formação de
gibsita.
Ao longo do perfil foram observadas concreções tipo chumbinho de caça (Figura
26C). Estas formações são compostas, em geral, predominantemente por óxidos de Fe,
com possível contribuição de óxido de Mn e até, mesmo que em bem reduzida escala
óxidos de elementos traço, como Zn, Cu, Ba e Li, de acordo com, de acordo com
OLIVEIRA et al., (2001).

B C

Figura 26. Latossolo vermelho com concreções tipo “chumbinho de caça”.


Diferentemente do perfil anterior, este apresenta muito baixa atividade
magnética, indicando a influência de outro material além daquele que deu origem aos
Latossolos Vermelhos Perférricos da região, basicamente tufitos.
A diferenciação deste perfil em relação ao anterior provavelmente deve-se a
transição na coluna estratigráfica que ocorre a nesta região, onde o Grupo Mata da
Corda (K2mc) composto por materiais de origens plutônicas e vulcânicas (lavas,
piroclásticas e arenitos cineríticos), transiciona para material com influência da
Formação Serra da Saudade (NP3bss), composta por material sedimentar ou com baixo
grau metamórfico, mais pobre em Fe, como siltitos, argilitos e argilitos verdes.

21ª PARADA : Latossolo vermelho-amarelo ácrico


Localização : Coordenadas geográficas: 19° 1'56.56"S 46°13'40.18"W
Altitude: 1.133 m
Município: Carmo do Paranaíba – MG

No município de Carmo do Paranaíba foi observado uma paisagem muito


aplainada e extensa, caracterizando-se com uma chapada. O material de origem
indicado no mapa geológico de Minas Gerais (CODEMIG & CPRM, 2014) é do Grupo
Areado (K1a), que pode apresentar arenito, siltito, folhelho, conglomerado. No entanto,
a textura do solo (muito argilosa), pode indicar a influência de algum material de origem
vizinho, provavelmente da Formação Serra da Saudade, de composição mais argilosa.
O perfil localizado nesta parada era o de um solo de coloração bastante
amarelada, com alguma influência muito pequena de hematita (5YR 5/6) (Figura 27A).
O solo é muito argiloso (70-80 % de argila), e a estrutura observada foi a tipo pó-de-café
(Figura 27B), bem típica, que se deve a presença de elevados teores de óxidos de Fe
(13% de Fe2O3) e de alumínio (gibsita), o que é sugerido também pelo muito baixo Ki
deste solo, reflexo de um elevado grau de intemperismo e desenvolvimento
pedogenético.
O predomínio de goethita tem como provável causa distanciamento entre os
cursos d'água e aspecto plano do terreno, que faz com que a água permaneça no
sistema por um período mais longo, ainda que as condições físicas do solo favoreçam
a drenagem.
A área em questão passou um processo de reforma agrária pioneiro na década
de 1970, o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP). Atualmente
a área possui uma agricultura intensiva, favorecida pelo relevo e pelas condições físicas
do solo, sendo cultivadas extensas áreas em cafeicultura (Figura 27C) e com hortícolas.
Cabe destaque para o cultivo de raízes e tubérculos, como cenoura e batata,
favorecidos pela estrutura do solo tipo pó-de-café. Por outro lado, os elevados teores de
goethita e gibsita tornam este solo um forte dreno de P.
Pela Soil Taxonomy, este perfil seria classificado como Oxissol sob regime údico
(secção de controle constantemente úmida), caráter ácrico (muito intemperizado),
sendo portando definido com um Acrudox.

B C

Figura 27. Latossolo vermelho-amarelo ácrico


22ª PARADA : Divisor de águas das Bacias do Rio Paranaíba e do Rio São
Francisco
Localização : Coordenadas geográficas: 19° 5'55.59"S 46° 9'51.97"W
Altitude: 1.103 m
Município: Rio Paranaíba – MG

Nesta parada, realizada em um ponto que se situa sobre o divisor de águas das
Bacias do Rio Paranaíba e do Rio São Francisco, foi possível observar o afloramento
de um material de coloração esverdeada, indicado pela seta na Figura 28, que, contudo,
não possui ligação com o material tufítico, característico da Formação Mata da Corda,
mas está sim ligado ao verdete presente Grupo Bambuí.
Nesta área o uso agrícola já se mostra bem menos intenso em relação ao ponto
anterior, muito embora o clima seja semelhante nas das duas localidades, o que logo
deve-se às variações no material de origem, o que também é denunciado pelo relevo
mais movimentado em relação às paradas interiores.

Figura 28. Paisagem com afloramento de material verde com influência do Grupo
Bambuí
23ª PARADA : Transição Mata da Corda-Bambuí
Localização : Coordenadas geográficas: 19°44'39.85"S 46° 2'20.74"W
Altitude: 1.160 m
Município: Córrego D’anta – MG
Neste local observou-se que a quebra das concreções (cangas lateríticas)
marginais do chapadão leva a uma aceleração do processo de transporte de materiais
das áreas mais elevadas para as mais rebaixadas. Esta tendência é resultado de uma
condição climática mais úmida que permite que a erosão avance sobre o chapadão,
graças, também, à remoção da canga laterítica que o protegia.

Do ponto de vista geológico, este é um ponto de transição entre a Formação


Mata da Corda, no topo da coluna estratigrágica, descendo e retornando ao Bambuí
(Figura 29B). Indicativo desta transição é o afloramento de verdete, material de
coloração esverdeada, laminar, rico em Al e K (Figura 29A). Outro indicativo da transição
é a ocorrência mais generalizada de Cambissolos, característicos sobre materiais de
origem do Grupo Bambuí. No entanto, diferentemente do observado em solos sobre o
Grupo Bambuí na região de Paraopebas, o relevo aqui mostra-se mais movimentado,
indicando, também, que os sedimentos sofreram maior movimentação.

Com a quebra e transporte de material do chapadão, formas metálicas mais


solúveis, de Fe e Mn, por exemplo, podem ser mobilizadas para ambientes menos
redutores, sofrendo oxidação, e pela solubilidade precipitando-se com aglomerados
oxídicos puros (Figura 29C), onde observa-se a ocorrência do dióxido de manganês ou
pirolusita (MnO2).

B C

Figura 28. Transição Mata-da-corda-Bambuí


24ª PARADA : Contato Geológico de estrato do Grupo Bambuí com
Gnaisse/Granitoide
Localização : Coordenadas geográficas: 20°18'11.70"S 45°33'50.34"W
Altitude: 721m
Município: Arcos, MG

Descendo mais pela coluna estratigráfica, após passar por uma extensa área
dominada por Cambissolos sobre o domínio do Grupo Bambuí, chegou-se à Arcos, onde
foi observado o contato geológico de dois materiais do Pré-Cambriano, o gnaisse ou
granitoide sotoposto a um estrato do grupo Bambuí (Figura 30).

Bambuí
(saprolito)

Gnaisse/granitoide
(saprolito)

Figura 30. Contato Geológico de estrato do Grupo Bambuí com Gnaisse/Granitoide

25ª PARADA : Paredão Calcário da Província cárstica de Arcos-Pains-


Doresópolis
Localização : Coordenadas geográficas: 20°18'44.92"S 45°35'51.84"W
Altitude: 722 m
Município: Arcos – MG
Em Arcos observou-se também a ocorrência de relevo cárstico da Província
Arcos-Pains-Doresópolis, sendo esta uma das mais importantes de Minas Gerais. Este
material calcário é pertencente à formação Sete Lagoas (NP3bsl).

A Figura 31 mostra um paredão calcário, apresentando aspecto ruiniforme ou


colunar devido ao elevado grau de entalhamento provocado pela dissolução da rocha
calcária pelo ácido carbônico. Este ácido é formado pela reação CO2 atmosférico e
pedosférico (Equação 1). O ácido então se dissocia, liberando íons hidrônio (H3O+)
(Reação 2), que regem com o CaCO3(s) solubilizando-o aos íons bicarbonato (HCO3-) e
Ca2+ (Equação 3), que são transportados pela água por seus cursos para níveis de base
mais baixos.

CO2(g) + H2O ⇄ H2CO3(aq) (1)


H2CO3(aq) ⇄ HCO3- (aq) + H3O+ (aq) (2)
CaCO3(s) + H3O+ (aq) ⇄ HCO3-(aq) + Ca+2(aq) (3)

Mata Seca

Estrutura
colunar/ruiniforme

Figura 31. Relevo cárstico apresentado paredão com feição ruiniforme e colunar

Os solos em regiões calcárias são formados pelas impurezas presentes na


composição destes materiais, uma vez que os carbonatos sendo solúveis são poderiam
formar a matriz do solo. No caso, observa-se a formação de um solo raso, muito devido
à provável elevada pureza da rocha calcária. Isto pode ser evidenciado pela presença
de Mata Seca no solo formado sobre o paredão.

Devido a esta elevada pureza a região apresenta intensa atividade de mineração


de material calcário e indústria de cimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os diferentes materiais de origem, clima e relevo refletem de forma expressiva


a diversidade dos solos do Cerrado. O solo pode ser um componente natural do
ecossistema que auxilia de forma geral na compreensão do ambiente e nas
modificações ocorridas na paisagem.

As características morfológicas dos solos, que representam processos de


gênese, é essencial para classificar os solos, e em muito locais a vegetação é um
indicativo para estratificar ambientes e auxiliar na descrição dos diferentes solos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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