Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
M A NU A L
DE A RQ U E O L O GI A
PRÉ-HISTÓRIC A
Prefácio do Professor V ítor Oliveira Jorge
19
PARTE II
Arqueologia de Campo
O aspecto mais importante da arqueologia é o trabalho de campo. É
evidente que este tem que estar fundamentado num corpo teórico, de que
se viu a evolução, de forma muito sintética, nos capítulos 1 e 2, e que lhe
dá a estrutura racional e a lógica ao nível das várias decisões que devem
ser tomadas em cada um dos passos ou fases de um trabalho ou projecto
arqueológico. Contudo, sem trabalho de campo não pode haver teoria. E
esta só deve ser desenvolvida desde que possa ser aplicada sobre (ou com)
os dados arqueológicos empíricos resultantes da prospecção ou escavação
arqueológicas e é, de facto, m uitas vezes indissociável o aspecto
metodológico da arqueologia do seu fundamento teórico (veja-se, como
exemplo, o caso da Teoria de Ligação no que diz respeito aos aspectos de
processos de formação de sítio ou aínda o caso da etnoarqueologia). Se
não houver qualquer aplicação teórica à realidade arqueoíógica, então, o
exercício teórico não passa disso mesmo - um exercício ou entretém
mental, cujo valor não é mais do que do que o de um balão cheio de ar
quente...
Assim, a base da investigação arqueológica deve ser sempre o
trabalho de cam po e este deve assentar em vários níveis de decisão que,
essencialm ente, enform am um plano ou projecto de investigação.
Lem bremo-nos dos planos propostos por Petrie no Velho Mundo e por
K idder nas A m éricas no início do século xx e também dos trabalhos de
Taylor com o seu “M étodo Conjuntivo” e da proposta de Binford, em
1964, sobre projectos de investigação. Apesar das diferenças nas perspec-
tivas teóricas e metodológicas, reconhece-se em todos eles a necessidade
de um plano de conjunto que assenta sempre no trabalho de campo e que
nos surge como uma forma estruturante da investigação arqueológica.
Para sim plificar a questão da escolha de metodologia e organização do
85
M anual db A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
86
A r q ue o l o gia dk C a mp o
87
M anual pe A r q ue o l o gia P r é- H is t ó r ic a
89
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
90
T éc nic as d e Pr osp e cçã o A r q u e o ló g ic a
91
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
92
T é c n íc a s db P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
94
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
96
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
97
M anual de A r q ue o l o gia P r é - H is t ó r i c a
98
T é c n ic a s pe P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
Tabela 6
Horscshuc Rcscrvoir. 1.7 38. > 37.0 37,0 Fuellcr et al., 1976
A ri'onn
Hopi Buliei, Arizona 82.0 1.0 2.6 2,6 Gumerman, 1969
Black Mesa, Arizona 4K.5 .10..? 16.3 24.4 Layhfi ( to}.. 1976
Bules R esm oir, 15.2 56,5 18,0 18,0 Debowoski t t al., 1976
Arizona
99
M anual de A r q ue o l o gia P r é- H is t ó r ic a
1Ü0
T é c n ic a s db P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
101
M a nua l de A r q ue o l o gia P r é - H is t ó r i c a
102
T é c n ic a s d l- P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
103
M anual de A r q u í-o l o g i a P r é- H is t ó r ic a
104
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
Tabela 7
a) Exemplos de informação presente em fichas de prospecção.
1. Número de sítio 1. N°
2. Foto aérea 2. Sítio
3. Designação anterior do sítio 3. N° de identificação
4. Município 4. T opónimo
5. Vila 5. Lugar
6. Tipo de propriedade 6. F reguesia
7. Tipo de cultura agrícola 7. C oncelho
8. Ambiente 8. Distrito
9. Localização (em relação a outros 9. D G N
sítios arqueológicos) 10. SubR egião
10. Descrição do sítio 11. Carta Militar Portuguesa
i 1. Área 12. UTM
12. Altura 13. A ltitude
13. Cota 14. T ipo de sítio
14. Vegetação 15. D esc rição
15. Topografia 16. Á rea
16. Solo 17. C ronologia (absoluta e relativa)
17. Grau de erosão 18. Interpretação
18. Presença de terraços artificiais 19. G eomor fologia
19. Presença de estradas, edifícios e pa- 20. L itogia
redes modernas 21. Recursos mineiros
20. Presença de alvenaria 22. H idrografia
21. Outras evidências de construção 23. Solos
22. Presença de cimento e estuque 24. C apacidade dos solos
23. Outras estruturas habitacionais 25. O cupação actuai dos solos
24. Utensílios de transformação (mo- 26. O bse r vações
ventes, dormentes, etc) 27. Referências bibliográficas
25. Artefactos cm obsidiana
26. Artefactos em basalto
27. Cerâmicas
28. Fases culturais
29. Enterramcntos humanos
30. Comentários
31. Mapas, fotos
32. Código
33. Anotador
34. Ntí do saco de artefactos recolhidos
35. N° de saco dc outros materiais reco-
lhidos
36. Data
Manual de A r q u e o l o g ia Pr é -H is t ó r ic a
í ■ “ - ~ ~ ~ ~
a.
5
(-
h D
o £
£ '5 a
H
O n 2
c tí
o n>
O CJ
.5 £•
o; 2
-o CL
h*
_o
Q.
4E>
o
5
_ IO *3
o *2 o
« f i."
3
8
3
106
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
108
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
n x rm iu iu i ivvntno f i w u m f o m i a .m
110
T é c n ic a s d e P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
íll
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
I !2
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
Figura 25. Carta Militar de Portugal, n° 600, Vita Real de St.° Antônio.
I
!• II
a )(
llll 1
i2»
H 1 1
| I J
•8 ■* í
i 1í I
? J f| I 22 ||!
I j M
3
i &
i*K<y jjU U * ? 11
-< k ^ r5 ’ jj
*1 fiBj
i * + °
3} j h?
II v ■* ♦
II-
, , l ! ! !!
Ii flllli
iHh
?I
U !
! íÍ11!!í11 1 1
! ! í | * j I ' ! ! 11
i II ! I I i I ! I i 111 h 1 i
j ® «• S Vj
H
i
iL U T .
.. i i UHIII
í I
l i 111 I f* i *
1 1
ÉUtfcfA»
a»tiKjrppot*
♦P
\
\m
$
#
5
10
7
11/
4
ir
14
17
ia 20
-A -
~n? n 24
", 27 t 2»
f
ao 31 32
35 3* p i
3r 40
UÜ
V1
42 43
45 45/ 47
< v 49 50 J c
51 52 b
i 15
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
U t r t á U c * C 4 * U *1
1 16
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
--
-i-
bkk n \ %
? ií j :3? J*fcJjefjTÍJ!JíjoH‘ZÍ«1.«i«s| y } rrnrr
Figura 30. Sislcma cie fusos c paralelos cm UTM.
118
T é c n ic a s db P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
51?,
i 1
■3 3 *
Q<
a. o
13 *à52 I i
*S S' *o
I5 ti
5 | 1 | I
3 .»
§ ?!
I I
!ái
*I: O
?I *"Ikf Mi
!5 z í x*
1S *
Is *
7C
à </")
T> ^ •í
O cm
11?
§-
! l|
i-s|.
IlI
Figura 31. Legenda cias CMP para leitura das coordenadas UTM e Gauss.
119
Manual de A r q ue o l o gia P r é -H is t ó r ic a
120
T é c n ic a s db P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
121
___ __________M a n u a l dk A k q u i- o i .o g i a P r ( M Iis t ó r ic a ____ _ _
122
TKC NICAS DF. P h o SPKCÇAC) ÁRQUEQ1.ÓCICA
123
M a n u a l de A r q ue o l o gia P r é- H is t ó r ic a
T abela 8
125
Manual oh A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
126
T i k -n i c a s i)}; P r o s p w c A o A r q u h o l ó ís i c a
127
Manual pe A r q u e o l o gia P r é-H is t ó r ic a
12S
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
o sítio arqueológico. Estes m étodos têm custos que podem ser relativa-
m ente elevados, principalm ente se for necessário adquirir equipamento.
No entanto, na m aior parte dos casos, é m ais fácil e melhor a integração
de especialistas no projecto, ou m esm o a contratação dos serviços de um
especialista, o que dim inui consideravelm ente os custos destes métodos.
Com a inclusão no projecto das prospecções geoquím icas ou geofísicas as
despesas derivadas do trabalho de escavação diminuem.
Pode-se, portanto, dizer que as técnicas de detecção remota em
arqueologia não só aum entam a eficiência do trabalho arqueológico,
com o também m elhoram a qualidade científica no que respeita à análise
do potencial arqueológico do sítio, perm itindo uma interpretação mais
correcta dos vestígios e, na m aioria parte dos casos, dim inuindo os custos
gerais do projecto.
«■
130
T é c n íc a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
131
M anual de A r q ue o l o gia P k é -H is t ó r ic a
132
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
• M étodos m agnéticos
133
M anua l de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
134
T é c n ic a s de P r o sp f x ç ã o A r q u e o l ó g ic a
• Resisüvidadc Eléctrica
135
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
136
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
r*:ÍJm- I&
0* 1* i*_3i---41
Sca!&-
138
T é c n ic a s de P r o spec ç ã o A r q u e o l ó g ic a
139
M anual de A r q ue o l o gia P r é- H is t ó r ic a
• G eoRadar
II
c
1/5 ~ = « ££v “ § «
3.
& C
O oL ' S -H “
IO CÃ S ? ”2»
Q. <T> 55 5 “ S 53‘ °
W 't •g 3 <*> a .
o =r. <x> rr o
o 1/5
On g ^ 25. 3. 3
ü è' cra _. < s.
õ » 2 o 2 c
g £
Cl 3
O g
c
3 5 ri- g S £- • »CL
3 *?
O. o
Vi
Cl 5T « a.
< £
s> 53 ^ s ã> °
S
Crt Ci.
Cn ’ -\o S “° 3
"2
G
"0
O. *2 50
l 1 <1>*
3 Õ
o a>
§ 1? & 3
1? 3
i i 3. i " S 5 3
X
/-s 1 3-“« •••*
► Z o I>•» C
1dD
£2 O X‘ ♦
3 « B. S, S
» 5. o
° (7Q cSm 5* ^j s
o 3 5*
3 Vl 03
<* sv
< 9 3 3
£ | o
5 n l l °»3 "
< *•^5 3
-Os ^
a?
UA
LA
= •§
o 3 k
w O
< J=
íO £ss a c
õ > N <B
ü ü i nriflliMTnr.iiBwfftrwnrthi
T a bela 9 . C a r acte r ísticas d os m étodos d e p r osp e c ç ão geof ísicos (segu n do K vamme, 2 0 0 1 : 3 6 0 , T a b le 13. 1).
Elcctromagnctismo/ G PR
M agnetismo Resistividade
Condsutívidade
nS
Unidades nT Ohm/m mS/m
4.1. O equipamento
146
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
“O seu objecíive é
providenciar ao investi-
gador um mínimo possí-
vel de remeximentos do
nível, e poder antecipar
a natureza e possível di-
mensão das camadas que
se encontram a ser esca-
madas pela equipa. É um
vislumbre do fu tu ro ...”
(Wheeler, 1954:66).
Í47
M anual de A r q ue o l o gia P r é -H is t ó r ic a
Figura 50, Sondagem de 1 mJem Vafe Boi. Note-se que o arqueólogo que cs‘á a
trabalhar lem 1,85 m de altura e está de pé. Esta sondagem atingiu o> 2,5 m de
profundidade.
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
ISO
A Esc a v a ç ã o A r q it .o ló g ic a
151
Manual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
também aquelas que retlectem as zonas que não foram ocupadas preferen-
cialmente durante o uso desse sítio. Estas últimas são geralmente onde se
encontram menos artefactos e estruturas, mas que ajudam a compreender a
organização intra-espacial de um sítio arqueológico. Finalmente, é de refe-
rir que alguns autores (<>.£., Deetz, 1967:13-14) são apologistas da exis-
tência de uma sondagem que sirva de controlo estratigráfico, localizada fora
da área do horizonte arqueológico. Este tipo de sondagens serve de facto
para melhor se compreender a questão da formação do sítio arqueológico,
comparando-se a área que sofreu o impacto antropogénico com aquela que
foi objecto apenas dos processos geomorfológicos naturais.
Nos estudos geomorfológicos é necessária, por vezes, a abertura de vá-
rias sondagens ou de várias valas de sondagem. Nestes casos, é geralmente
mais fácil recorrer-se ao uso de maquinaria pesada já que as valas necessi-
tam de ser longas e bastante fundas, o que arrastaria os trabalhos para além
do que habitualmente é possível. Assim, e para protecção do próprio sítio
arqueológico, as valas de sondagem devem ser feitas, tanto quanto possível,
fora da zona arqueológica. Contudo, por razões de ordem prática ou de or-
dem científica pode ser necessário fazer essas valas na área do contexto
arqueológico. Teoricamente seria preferível escavarem-se estas valas h mão
mas pontualmente existem restrições de tempo que obrigam a que os traba-
lhos se façam com maquinaria pesada. Nesta situação, deve haver um ar-
queólogo que possa acompanhar de perto a remoção dos sedimentos, por
forma a verificar a presença de artefactos e os recolher. Existem excelentes
profissionais de maquinaria que removem películas relativamente finas de
solo, por vezes inferiores a 10 cm de espessura, permitindo que se separe e
diferencie horizontes arqueológicos. Neste contexto de trabalho é ainda
possível construir crivos de grande dimensão para que o sedimento retirado
pela retro-escavadora possa ser colocado por ela nesses crivos, procedendo-
-se a uma cri vagem grosseira mas imediata, uma vez que a malha desses
crivos não pode ser fina.
Com o “vislumbre do futuro”, como W heler o denominou, proporcio-
nado pelo trabalho das sondagens, o conhecimento do sítio arqueológico
permite uma decisão mais ajuizada e mais racional da metodologia de esca-
vação arqueológica.
152
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
153
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r i c a
154
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
155
M anual de A r q ue o l o gia P k é-H ís t ó r ic a
156
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
158
A E sca v a çã o A r q u e o l ó g ic a
159
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
IcO
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
161
Manual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r i c a
Figura 58. Início do trabalho com uma estação total para implantação da
quadrícula.
163
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
este eixo definido, que geralm ente aponta para norte, m im elizando a
metodologia tradicional de uma quadrícula direccionada a norte, a quadrí-
cula está pronta para ser montada fisicamente no solo (Figura 58). Em de-
terminadas situações é melhor apontar o eixo Y de forma diferente, nom ea-
damente em grutas ou abrigos, em que o eixo dos Y deve ser escolhido em
virtude da morfologia das suas paredes, isto é, este eixo deve ser paralelo à
parede das grutas ou abrigos.
As estações totais, tal como a maior parte dos teodolitos tradicionais,
têm a opção de se trabalhar em graus e grados. E em geral mais fácil traba-
lhar no sistema decimal, pelo que se aconselha a opção dos grados.
Para se escolher a orientação do eixo Y deve primeiro ser escolhido o
datum geral do sítio. Este deve ser perto da zona a escavar, permitindo a
escolha da orientação do eixo Y. Ao contrário dos níveis topográficos, o
datum não tem que ficar num ponto mais alto do que a área a escavar, uma
vez que a barra, que serve de suporte aos primas, pode ser elevada em qual-
quer altura, sendo o valor do comprimento dessa barra digitado na estação
total e incorporado automaticamente na computação dos valores finais.
Com o datum escolhido, é, então, necessário escolher o eixo dos Y,
marcando-o fisicamente com três pontos em linha. O primeiro é o próprio
datum , que serve de centro; os outros dois são colocados com cavilhas de
metal ou em cimento, um para cada lado, isto é, um a norte do datum e outro
a sul, a qualquer distância. Estes pontos servem simultaneamente como base
para a montagem diária do eixo e respectiva verificação. Este procedimen-
to, de fácil execução, deve seguir alguns passos essenciais:
164
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
165
M anual dc A r q ue o l o gia P r é - H is t ó r i c a
166
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
Tabela 10.
Fragmento do ficheiro ASCII {números 1325 a I335), dos trabalhos realizados
em Vale Boi em 2002.
168
A E sc a v a ç ã o A k q u e o lO ch ca
4.3.3. A crivagem
169
Manual de A r q ue o l o gia P r é -H is t ó r ic a
Figura 60. Sistema de crivagem utilizado na Lapa do Picareiro, com dois crivos
com malha difcronlo, uma dc 6 mm c a outra de I mm.
170
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
4.3,4 O registo
171
Manual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r i c a
aquele com pouca prática ou com alguma falta de jeito para o desenho. Este
tipo de registo perde alguma importância com o uso das estações totais,
uma vez que toda a informação do ponto de vista de proveniência e respec-
tivas cotas é incluída no registo automático da máquina, principalmente se
se utilizarem os sistemas de vários pontos dc proveniência por peça e da
proveniência de baldes. Com este conjunto e com o recurso aos programas
de co m p u ta d o r a p ro p ria d o s , é p o ssív el no la b o ra tó rio p ro d u zir
informaticamente estas plantas, aspecto que simplifica e agiliza o trabalho
no campo. As plantas dos sítios arqueológicos são importantíssimas porque
permitem com preender toda a informação de proveniência dos artefactos c
estruturas exumados e conhecer o contexto topográfico da zona onde se
encontra o sítio arqueológico (Figura 62).
SirflíAV.
Figura 62. Exemplo de uma planta muito completa referente ao Abrigo da Pena
d'Água, Torres Novas (Carvalho, 1998:42).
M a n u a l d i- A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r i c a
^ Vale Boi
Sl
174
A E sc a v a ç ã o A r q u l o l ó g ic a
175
M anua l de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
176
A E sca v a çã o A r q u e o l ó g ic a
Figura 65. Neste corte do Cabeço do Porto Marinho, Rio Maior, apesar dos
processos de estratificação serem na sua maior parte dc origem geológica, é
possível notar-se dois solos de origem antropogénica (indicados pelas setas) e
uma camada de origem antropogénica devido ao trabalho recente com um
arado, cujas marcas sâo bem visíveis no corte (no interior da oval).
177
M anual db A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
178
A E sca v a çã o A r q u e o l ó g ic a
179
M anual de A r q u e o l o g ia P r é -H is t ó r ic a
na que é possível atribuir dois cortes diferentes à mesma camada com base
na comparação da sua litologia. Os dois princípios podem ser integralmente
transportados para a arqueologia e, nomeadamente, para os processos de
estratificação antropogénica. O Princípio da Associação serve a arqueolo-
gia, não só no que diz respeito à própria litologia das camadas, mas também
no que respeita a toda a composição da mesma, nomeadamente no que
concerne aos artefactos, remetendo-nos imediatamente para o Princípio da
Identidade Paleontológica. Este princípio, por sua vez, assenta no conceito
muito importante de fóssil-director.
O fóssil-director, em geologia, é aquele que tem uma existência relati-
vamente curta, mas uma distribuição alargada e que, por isso, é facilmente
reconhecido. A sua função é caracterizar e definir um determinado período
e, consequentemente, permitir a sua identificação. Em arqueologia, o fós-
sil-director não tem só uma função cronológica, que aliãs vimos no capítulo
2, mas também indicador da cultura, 110 sentido arqueológico do termo (Ra-
poso, 1993: 21).
A integridade do contexto arqueológico só pode, portanto, ser verificada
e entendida através de um conjunto de processos e de características que se
baseiam nos princípios da associação e da identidade paleontológica, inte-
grando a m anutenção do conceito de fóssil-director, e do princípio da
sobreposição. Contudo, este conjunto de princípios deve ser visto à luz do
axioma acima enumerado sobre o impacto antropogénico na estratificação
dos sítios arqueológicos.
180
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
Com base nestes conceitos, Harris partiu do princípio de que havia apenas
três relações possíveis entre duas unidades de estratificação arqueológicas:
sobreposição (uma UEA assenta diveeUuncnte na outra), correspondência (uy
duas UEAs correspondem a um só depósito) e independência (as duas UEA são
completamente independentes, sem qualquer relação física entre si). Estes três
tipos de relação entre UEA foram depois ilustrados por Harris (1979:46), sendo
essa simbologia (Figura 66) utilizada na construção de um diagrama de matriz
e stra tig ráfic a re la -
cionai, onde estão pa-
tentes, graficamente,
todos os depósitos ar-
queológicos, bem co-
mo os interfaces de
estruturas (Figuras 67
e 68).
A m e to d o lo g ia
de Harris teve tanto
sucesso que é utiliza- Figura 66. E squem a d e r elação entre depósitos,
da com o norma nos segu n do Harris, 1979 : 46 .
M a n u a l db A r q u e o l o g ia P r é -H is t ó r ic a
F igura 67 . C or le estr atigr áíico e labor ado por H a m s (1979 : 58) salien tando com
linhas e d esign a ções num é r icas os interfaces d e estruturas.
182
A E sc a v a ç A o A r q u e o l ó g ic a
183
M anual de A r q ue o l o gia P r é-H is t ó r ic a
Natural
Legenda:
184
A E sc a v a ç ã o A r q u e o l ó g ic a
F ígura 71 . M atriz d e Harris dese n volv id a d e forma a mostrar o tipo cie depósitos
e a c ronologia (Rosk ams, 2Ü 01 : 2()5).
O tempo é um dos dois vectores principais em arqueologia. De facto, e
independentemente de se trabalhar numa perspectiva histórica ou numa pers-
pectiva antropológica, sem a dimensão tempo não haveria arqueologia. O
conceito e a importância do tempo, contudo, têm tido uma evolução marcante
na história da arqueologia, como se pretendeu salientar na primeira parte
deste trabalho.
A arqueologia, como ciência, afirmou-se à custa da definição da anti-
guidade humana, que surgiu porque o tempo se “alargou”. O processo de
afirmação da arqueologia deu-se porque determinadas técnicas e conceitos
foram desenvolvidos em diversos contextos por arqueólogos. Talvez o as-
pecto principal deste processo tenha sido o facto, já salientado anteriormen-
te, desse desenvolvimento ter ocorrido dentro do âmbito da arqueologia como
método próprio, procurando responder às suas necessidades históricas, teó-
ricas e metodológicas.
Parece ter sido claro para os primeiros pré-historiadores que a forma de
medir o tempo era uma das ferramentas essenciais em arqueologia. As pri -
meiras técnicas organizaram apenas sucessões de eventos, dando assim os
primeiros métodos de datação relativa à arqueologia. Em Portugal, como no
resto do mundo, um desses métodos, a tipologia, é ainda o fundamento para
uma atribuição cronológica imediata dos achados arqueológicos. A utiliza-
ção da seriação, método elaborado a partir dos conceitos da tipologia e bas-
tante fidedigno, tornou-se um imperativo na organização cronológica de
espaços circunscritos, com carácter regional e também de sítios com múlti-
plas ocupações, um pouco por todo o mundo desde o início do século passa-
do. interessante, no entanto, é o facto desse mesmo método nunca ter sido
utilizado em Portugal. Esta lacuna metodológica talvez se deva ao facto de,
até muito recentemente, a arqueologia portuguesa ter assentado apenas na
189
M a n u a l de A r q u e o l o g ia P r é - H is t ó r ic a
190
A M e d íç à o do T emp o
Í9I