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BRASIL
AULA 2
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rochosas antigas, datadas do Pré-Cambriano e, ao Norte, na região das
Guianas, terrenos baixos de formação sedimentar (Ross, 2011).
Sendo assim, o Brasil possui terrenos que, de maneira geral, são do Éon
Fanerozoico, datados do Paleozoico e Mesozoico – de base sedimentar – e do
Pré-Cambriano – escudos cristalinos. Apesar da formação rochosa ser antiga,
as formas do relevo são recentes, provenientes do desgaste e da sedimentação
dos terrenos cristalinos.
Como método de análise do relevo brasileiro, Jurandyr Ross classifica o
território dividindo analiticamente as formações em estruturas e formas. As
estruturas dizem respeito, principalmente, à composição rochosa de cada
compartimento, sendo divididos em crátons, antigas estruturas cristalinas
compostas por rochas vulcânicas e metamórficas, desgastadas ao longo do
tempo pelos agentes erosivos; cinturões orogênicos, de formação mais recente
e provenientes de soerguimentos derivados de movimentos tectônicos; e bacias
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sedimentares, frutos do desgaste e sedimentação de regiões mais altas (mapa
2).
As formas dizem respeito às características das paisagens, suas áreas
planas ou de declives, sua homogeneidade ou heterogeneidade e estão
classificadas em Bacias Sedimentares (Amazônica, do Maranhão e do Paraná);
Dobramentos do Ciclo Brasiliano (Brasília e Paraguai-Araguaia); Coberturas
Sedimentares Correlatos ao Brasiliano e Crátons pré-brasilianos Amazônico,
São Francisco e Sul-Rio-Grandense.
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Um exemplo desse tipo de formação em pequena escala é o cartão postal
do Pão de Açúcar, na cidade do Rio de Janeiro, RJ (figura 1). Enquanto o Pão
de Açúcar e o Morro da Urca são compostos por orto-gnaisses, rochas bastante
resistentes, entre os dois há uma depressão formada por para-gnaisse, mais
frágil, gerando entre as duas formações rochosas uma porção do terreno com
solos mais profundos e, por consequência, com vegetação mais abundante e
diversa (Fernandes; Peixoto; Tupinambá et al., 2009). Ross (2011) classifica os
planaltos em 1. planaltos em bacias sedimentares; 2. planaltos em intrusões e
cobertura de resíduos; 3. planaltos em núcleos cristalinos arqueados e 4.
planaltos em cinturões orogênicos.
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biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram
como território de atuação de suas comunidades” (Ab’Saber, 2012. p. 9).
Se utilizando, então, dessa noção de paisagem, o geógrafo elabora uma
classificação das paisagens brasileiras em Domínios Morfoclimáticos, em que se
estabelecem regiões paisagísticas de acordo com características
geomorfológicas, climáticas e biológicas do território nacional. Para Aziz,
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Mapa 5 – Domínios Morfoclimáticos Brasileiros (Áreas Nucleares – 1965)
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e marrom na época de estiagem para um colorido muito vivo na época de
chuvas, entre dezembro e março.
Pontos de umidade são encontrados, em especial, nas zonas de
chapadas, como na Diamantina, na Bahia, e do Araripe, no Cariri cearense. É
possível também encontrar belíssimas formações de Inselbergs na Região de
Milagres (Bahia), Quixadá (Ceará), Caicó-Pau dos Ferros (Rio Grande do Norte)
etc. Trata-se de uma região com um potencial turístico pouco explorado, já que
conta com paisagens deslumbrantes em qualquer época do ano, e que sofre com
processos de desertificação e descolagem que, em conjunto com a estrutura
fundiária concentrada, deu origem a diversos problemas sociais, como os
históricos fluxos migratórios desta região em direção ao restante do país.
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Figura 2 – Área de Mata Atlântica na região de Visconde de Mauá, região serrana
do Estado do Rio de Janeiro
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grandes concentrações de cristais e minerais, em especial quartzo, e de quebras
de nível que dão origem a lindas cachoeiras e sítios com águas termais, devido
a proximidades com áreas onde, no passado, ocorreu intenso vulcanismo,
fazendo das águas dos rios naturalmente quentes, como é o caso da região de
Caldas Novas (GO) e Poços de Caldas (MG), que hoje são tomadas por hotéis
e resorts de luxo.
É inegavelmente a região que mais sofre com o avanço do agronegócio
brasileiro, em especial depois que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) desenvolve sementes de soja capazes de viver em ambientes
quentes, secos e arenosos, como o Cerrado (Embrapa, 2016). Nesse sentido,
este, que é conhecido como o Berço das Águas do Brasil, vê sua capacidade
hídrica se reduzindo, sendo uma das causas da crise hídrica vivenciada em
muitos estados do Brasil atualmente. Restam 13,21% deste ambiente original
preservado.
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Figura 3 – Fragmento de Mata com Araucárias na região de Almirante
Tamandaré (PR)
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fronteira com Argentina e Uruguai, é uma área típica de zonas quentes,
subúmida e sujeita a estiagem de fim de ano.
São prados mistos, onde predominam gramíneas e arbustos. Os rios são
pouco volumosos e meândricos, formando áreas de Várzea, conhecidas
popularmente como banhados, como é o caso da Estação Ecológica do Taim,
no município de Rio Grande (RS), uma das principais zonas de preservação
ambiental do mundo.
Os fortes ventos da região estimularam a construção de diversos parques
eólicos nesse domínio. Grande parte da vegetação original foi retirada para dar
espaço à rizicultura e à pecuária bovina, assim como a silvicultura que ocupa
grande parte das encostas, provocando acelerado processo de arenização e
desertificação dos solos (Suertegaray, 2018). É um dos biomas mais degradados
e menos protegidos do Brasil (Fontana; Reed, 2019).
NA PRÁTICA
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Os climas no Brasil foram alterados ao longo do tempo. Mudanças
climáticas, causadas naturalmente por pequenas alterações na dinâmica
atmosférica, fizeram com que durante algum tempo, por exemplo, fosse possível
caminhar pela Bahia de Guanabara, já que o período da glaciação de Würm, que
durou até cerca de 12 mil anos atrás, resfriou o planeta, rebaixando o nível dos
oceanos. Nesse sentido, ambientes como a Mata com Araucárias tinham neste
momento uma dimensão muito maior pelo que hoje chamamos de território
brasileiro.
Com o aquecimento da atmosfera, esse domínio se retrai às atuais
dimensões, mas deixando “ilhas” de sua formação típica em outros domínios,
como podemos ver nas formações de Araucárias da região serrana no Rio de
Janeiro, ou ao Sul da Bahia, mostrando que esse ambiente pode ter sido muito
maior no passado.
Essas “ilhas” ou “refúgios” podem ser encontradas em todos os biomas,
como nos pontos de cactáceas, típicas de Caatinga, em zonas de Mata Atlântica.
Trata-se de enclaves ecossistêmicos em espaços de médio porte que
denunciam a dinâmica das mudanças climáticas e paleoecológicas do
Quaternário.
É um conhecimento de extrema importância já que nos permite avaliar e
antever os impactos que possíveis mudanças nos climas que viemos a sofrer
pela ampliação do processo de urbanização e industrialização podem provocar
na dinâmica das paisagens.
FINALIZANDO
Elisée Reclús, geógrafo francês de fins do século XIX, dizia que “o Homem
é a Natureza tomando consciência de si mesma” (Reclus, 2010, p. 44). O fato de
termos que isolar poucos fragmentos de vegetação sob a forma de Parques
Nacionais ou Estaduais é uma consequência histórica de uma cultura criada
onde o que se chama hoje de “natureza” é algo externo – e feminino – que deve
ser dominada pelo homem – no masculino.
Foi necessária a “naturalização” da cisão entre o ser social e o ser natural
para justificar a “dominação” da natureza. Mas a chamada natureza não é
natural. No processo histórico da evolução dos processos produtivos e de troca,
foi necessário inventar uma ideia de natureza.
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A geografia, que, em teoria, deveria ser a ciência que não propõe a cisão
entre o homem e a natureza, cria uma divisão interna se apropriando de tal
discurso quando se fala em Geografia Humana e Geografia Física. Logo, se
temos um problema de, por exemplo, a grande fragmentação da Mata Atlântica,
que nos obrigou a confiná-la em parques e reservas como a Grande Reserva
Mata Atlântica, na região de Serra do Mar entre os Estados de São Paulo e
Paraná.
E se hoje esses mesmos parques têm dificuldades em renovar-se graças,
também, a esse mesmo isolamento e tendo-se em vista que projetos como
corredores ecológicos não são suficientes para restabelecer plenamente esses
sistemas das perdas que sofrem decorrentes dessa mesma fragmentação,
temos um problema muito grande em mãos.
A problemática ambiental que hoje tanto nos aflige é, antes de tudo, um
problema social. Logo, dentro de um modo de produção em que a natureza é
vista enquanto recurso ou obstáculo para a obtenção de lucros e sua
preservação é ainda vista enquanto reserva para uso futuro, não é possível
criarmos a concepção de que, ao derrubarmos uma árvore, estamos derrubando
um pouco de nós mesmos.
À geografia e aos geógrafos cabe pensar nos ambientes naturais
brasileiros, no sentido de pensar, pela educação ambiental, caminhos para uma
vida digna no que diz respeito ao direito fundamental ao “meio ambiente
ecologicamente equilibrado”, presente no artigo 255 da Constituição Federal.
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REFERÊNCIAS
LACOSTE, Y. A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra. São
Paulo: 1988.
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