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/geobraagrmeiamb-gs0034-ago-2022-grad-ead-np/)
1. Introdução
Boas-vindas!
Desse modo, a disciplina contribui para que o aluno possua um arcabouço teó-
rico que permita pensar, investigar e analisar a produção do espaço geográ�co
brasileiro em sua totalidade, oportunizando, assim, instrumentos teóricos ne-
cessários à sua prática pedagógica na Educação Básica.
Vamos em frente?
2. Informações da Disciplina
Ementa
A disciplina Geogra�a do Brasil, Agrária e Meio Ambiente aborda a produção
do espaço geográ�co como produto das especi�cidades das dinâmicas da na-
tureza e social e das relações que se estabelecem entre elas. Essas dinâmicas
também estão articuladas em diferentes escalas geográ�cas, que envolvem do
local ao global, perpassando as escalas regional e nacional. Assim, as condi-
ções naturais do território brasileiro (clima, vegetação, relevo, hidrogra�a),
analisadas a partir dos domínios morfoclimáticos, relacionam-se à análise
das características biogeográ�cas estudadas em escala mundial. Além disso,
a disciplina propõe uma re�exão crítica do processo de desenvolvimento do
capitalismo no país, com destaque para problemas sociais, econômicos e polí-
ticos que afetam o campo e a cidade no Brasil. Nesse sentido, o exame de con-
centração de terras, con�itos sociais e processo de modernização da agricul-
tura contribuem para explicar tanto a desigualdade do campo como os proble-
mas ambientais e sociais do espaço urbano. Essa forma de abordagem propi-
cia ao aluno entender o espaço como uma totalidade, subsidiando-o teorica-
mente, para re�etir sobre a natureza dos problemas e, para além disso, conhe-
cer as possibilidades de intervenção da sociedade no espaço e, particularmen-
te nesta disciplina, das ações estabelecidas por meio do planejamento ambi-
ental.
Objetivo Geral
Compreender a produção do espaço geográ�co por meio da relação entre a di-
nâmica da natureza e das ações sociais, articulando a questão agrária e ambi-
ental, visando pensar o território brasileiro em sua totalidade.
Objetivos Especí�cos
• Compreender as características naturais do território brasileiro.
• Articular características climáticas, geológicas, geomorfológicas e hidro-
grá�cas para a caracterização do território brasileiro.
• Re�etir sobre o processo de modernização da agricultura e as contradi-
ções da questão agrária brasileira.
• Analisar os impactos ambientais do desenvolvimento do capitalismo no
campo e na cidade e as perspectivas do desenvolvimento sustentável.
• Identi�car os principais instrumentos de planejamento ambiental.
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Jucilene Galvão
Vivian Fernanda Mendes Merola
Objetivo
• Compreender as características naturais do território brasileiro.
Conteúdos
• As principais unidades do relevo brasileiro.
• Os sistemas atmosféricos atuantes e os tipos de clima no Brasil.
• As bacias hidrográ�cas brasileiras.
Problematização
Quais as principais unidades do relevo brasileiro? Como os sistemas atmos-
féricos atuam sobre o Brasil? Qual a composição do sistema hidrológico bra-
sileiro?
De acordo com Tassinari (2009, p. 85), “esses dois tipos de crosta apresentam
espessuras muito diferentes entre si, geralmente entre 25 e 50 km para a cros-
ta continental, e entre 5 e 10 km para a crosta oceânica [...]”, podendo a crosta
continental chegar até 100 km sob as cordilheiras para manter a isostasia,
princípio de equilíbrio entre o peso da litosfera e o manto.
Vale dizer que, estando o Brasil situado sobre a Placa Americana, as análises
que faremos aqui se referem, pois, à porção brasileira da Placa Americana.
[...] o relevo terrestre é fruto da atuação de duas forças opostas – a endógena (inter-
na) e a exógena (externa) – sendo que as internas são as geradoras das grandes for-
mas estruturais do relevo e as externas são as responsáveis pelas formas escultu-
rais (ROSS, 2001, p. 33).
Sul).
Plataformas ou Crátons
Segundo Ross (2001), as Plataformas, ou Crátons, são formadas por rochas me-
tamór�cas muito antigas que já estiveram expostas a inúmeros processos ero-
sivos. Tais processos conferiram a essas estruturas formas muito rebaixadas,
e, devido a essa característica, elas estão sempre localizadas nas bordas dos
Cinturões Orogênicos e das Bacias Sedimentares. Além disso, as Plataformas
datam da era Pré-cambriana, ou seja, apresentam idades entre 900 milhões e
4,5 bilhões de anos.
Bacias sedimentares
No Brasil, essa estrutura (de bacias sedimentares) é representada pela Bacia
Sedimentar Amazônica, pela Bacia Sedimentar do Parnaíba ou Maranhão-
Piauí e pela Bacia Sedimentar do Paraná. Essas bacias são formadas por ca-
madas de rocha e podem atingir cinco quilômetros de espessura. Algumas da-
tam do período Pré-cambriano, ou seja, começaram a se formar há 600 mi-
lhões de anos, constituindo-se pelas inúmeras fases de deposição marinha e
glacial que ocorreram no planeta. Devemos destacar que as Bacias
Sedimentares muitas vezes recobrem áreas de Plataformas e ocupam, segun-
do Ross (2001), 75% das terras emersas do planeta.
Com a caracterização das estruturas, vamos, agora, tratar das formas, ou seja,
das unidades do relevo do Brasil.
Porém, em �ns dos anos 1950, após novos estudos, Aziz Ab’Saber usou um no-
vo critério para tal classi�cação: o morfoclimático, baseado nos processos de
sedimentação e erosão. Assim, todas as áreas onde predominam agentes de
erosão são planaltos, e todas as áreas onde predominam agentes de sedimen-
tação são planícies.
Mas foi Jurandyr Ross, nos anos 1980, que, apoiado nos estudos anteriores e
em novas tecnologias de mapeamento e observação do espaço, chegou mais
perto da realidade, destacando uma terceira unidade de relevo, a depressão.
Para tanto, ele se utilizou da análise das características morfoestruturais (es-
truturas do relevo), morfoclimáticas (efeitos do clima) e morfoesculturais
(ações externas).
Assim, partindo da classi�cação do relevo brasileiro proposta por Ross (2001),
estudaremos três tipos de unidades geomorfológicas: os planaltos, as depres-
sões e as planícies.
Planaltos
Depressões
As depressões foram geradas por meio de processos erosivos com grande atu-
ação nas bordas das bacias sedimentares. Essas erosões, ocorridas em perío-
dos secos e úmidos, esculpiram as formas do relevo conhecidas por depres-
sões periféricas.
Planícies
Ao longo do tempo, o Brasil teve três importantes classi�cações dos seus com-
partimentos de relevo, todas elaboradas por professores e pesquisadores da
Universidade de São Paulo (USP). A primeira delas data da década de 1940 e
foi criada pelo professor Aroldo de Azevedo e coincide com o início do curso
superior de Geogra�a no país. A segunda, de 1958, é de autoria de Aziz
Ab'Saber, e a terceira, mais recente e comumente reconhecida, foi elaborada
por Jurandyr Ross e publicada em 1989.
Para conhecer um pouco mais sobre essa última classi�cação, assista, no ví-
deo a seguir, a uma palestra do professor doutor Jurandyr Ross, na qual apre-
senta como o relevo brasileiro pode ser regionalmente dividido e expõe a me-
todologia de diferenciação das formas em uma perspectiva regional.
Após a iniciação dos gregos, esses estudos �caram esquecidos durante muitos
séculos, voltando a �orescer com o Renascimento. Galileu Galilei, por exem-
plo, foi o inventor do termômetro em 1593, e Torricelli inventou o Barômetro,
em 1643.
A Climatologia constitui o estudo cientí�co do clima. Ela trata dos padrões de com-
portamento da atmosfera em suas interações com as atividades humanas e com a
superfície do planeta durante um longo período de tempo.
5. Sistemas atmosféricos
Os sistemas atmosféricos são entendidos, de maneira geral, como as intera-
ções dos diferentes campos de pressão. Esses sistemas possibilitam a intera-
ção de todos os elementos que os constituem, a saber: o conjunto de gases, a
energia recebida em forma de calor e os movimentos de rotação da Terra,
além dos fatores climáticos, responsáveis pela consolidação do tempo e dos
climas. Os componentes dos sistemas atmosféricos são: as massas de ar e as
frentes.
Massas de ar e frentes
Para iniciarmos a caracterização das massas de ar que atuam no Brasil, é ne-
cessário conceituá-las brevemente. De acordo com Galvani (2012):
Clima Equatorial
Predomina na porção norte do país, mais precisamente nos estados do
Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Amapá e em parte do Mato Grosso e do
Tocantins. Esse clima sofre in�uência direta da Massa Equatorial do Atlântico
(mEa) e da Massa Equatorial Continental (mEc). A temperatura média varia
entre 24°C e 26°C; dessa forma, essa região não apresenta grandes variações
de temperatura entre o dia e a noite, e os meses de setembro e outubro são
considerados os mais quentes. Já entre os meses de junho e agosto, há ligeira
queda nas temperaturas, justi�cada pela penetração da Massa Polar Atlântica
(mPa). O regime pluviométrico, apesar de abundante, não é homogêneo; assim,
as chuvas concentram-se mais no inverno.
Os subtipos que caracterizam esse clima são: Clima Equatorial sem seca ou
superúmido, cuja ocorrência se dá no estado do Amazonas; Clima Equatorial
com subseca e com um a dois meses secos, que se concentra mais no centro
dos estados do Amazonas, Acre, sudeste de Roraima e parte do Amapá e Pará;
e Clima Equatorial com subseca e com três meses secos, que ocorre especial-
mente na fronteira entre o Clima Equatorial e o Tropical do Brasil central.
Os subtipos desse clima são: o Clima Equatorial Tropical com quatro a cinco
meses secos, que ocorre em algumas áreas do estado do Tocantins, do
Maranhão e de Roraima; Clima Equatorial Tropical com seis meses secos;
Clima Equatorial Tropical com sete a oito meses secos; e Clima Equatorial
Tropical com nove a onze meses secos.
Além disso, assista ao vídeo a seguir, que trata dos chamados "rios voadores",
fenômeno natural que leva umidade para as regiões Sul, Sudeste e Centro-
Oeste do Brasil e tem importante in�uência na dinâmica climática.
Oceanos 94
Águas subterrâneas 4
Biosfera <0,01
Atmosfera <0,01
Fonte: Karmann (2000, n. p.).
Assim, em linhas gerais, esse ciclo se inicia com as precipitações, ou seja, pela
ocorrência das chuvas oriundas da condensação do vapor de água presente na
atmosfera. Assim, a aglutinação dessas partículas gera uma gota e precipita.
O segundo passo desse ciclo ocorre pelos processos de evaporação direta in-
trínseca à precipitação; concomitantemente, ocorre o vapor de água formado
sobre o solo. A junção desses dois momentos forma a evapotranspiração.
Seguindo no ciclo, quando a água atinge o solo, podem ocorrer dois processos:
O ciclo hidrológico brasileiro requer atenção, uma vez que “O Brasil concentra
em torno de 12% da água doce do mundo disponível em rios e abriga o maior
rio em extensão e volume do Planeta, o Amazonas” (SOCIOAMBIENTAL, 2012).
[...] uma área de�nida topogra�camente (divisor com outra Bacia Hidrográ�ca), on-
de toda a chuva que cai no seu interior é drenada por um curso d’água (rio princi-
pal) ou um sistema conectado de cursos d’água (a�uentes ao rio principal). Toda
vazão e�uente é descarregada através de uma simples saída (“boca” do rio) no pon-
to mais baixo da área.
Vamos lá?
O principal rio dessa bacia é o Amazonas, com uma extensão de 6.275 km. O
relevo é majoritariamente constituído por planícies, o que não viabiliza a
produção consistente de energia elétrica. Entretanto, nos Andes, local da
nascente do rio Amazonas, a topogra�a apresenta boas quedas. Segundo os
dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANAEEL) (2009), essa bacia,
apesar de ser a maior do mundo, possui uma reduzida capacidade de
produção energética, com apenas 667,3 mW, ou seja, 1% de toda a energia
hidroelétrica produzida no país.
Os rios que compõem essa bacia são perenes, ou seja, nunca secam. Além
disso, a coloração das águas indica as características dos cursos de água: os
que transportam grandes quantidades de sedimentos são conhecidos como
rios de águas brancas, como, por exemplo, o rio Madeira; já os rios com menor
carga de sedimentos são rios de águas pretas, como o rio Negro.
Possui uma área de 967.059 km², o que representa 11% do território nacional, e
engloba o estado de Goiás (26,8%), de Tocantins (34,2%), do Pará (20,8%), do
Maranhão (3,8%) e do Mato Grosso (14,3%), além do Distrito Federal (0,1%). Os
principais rios são o Tocantins e o Araguaia; o primeiro apresenta 2.640 km de
extensão. Essa bacia encontra-se subdividida em dez sub-bacias.
Nessa região, 35% dos recursos hídricos são destinados para uso rural, 29%
para uso urbano e 17% para irrigação. A demanda para o uso industrial é
somente de 4%, e:
[...] embora apresente essa reduzida demanda, o setor industrial tem alguma
importância, principalmente no que se refere ao complexo siderúrgico de Itaqui
(MA) e segmentos de indústrias leves agrupados em distritos industriais. Algumas
das principais tipologias agroindustriais presentes na bacia são frigorí�cos, sucos e
conservas, abatedouros e fecularias (MMA, 2012).
Essa região apresenta uma área de 344.112 km2, o que representa 3,9% do terri-
tório nacional, e drena quase todos os rios do Piauí e parte do Maranhão e do
Ceará. O principal curso de água é o rio Parnaíba e, segundo o site da ANA
(2012a):
O uso das águas dessa região está dividido em: irrigação, com 64%; necessida-
des rurais e urbanas, que correspondem, respectivamente, a 12% e a 13% do to-
tal dos recursos; e o uso industrial, que responde por 1% do consumo.
Do ponto de vista físico, temos, nessa bacia, uma média anual de precipitação
que varia de 350mm a 1.500mm, de forma que os maiores índices são veri�ca-
dos nas nascentes, �cando menos abundante no restante da bacia. Alguns rios
são perenes por causa da in�uência do clima tropical, enquanto outros são
considerados temporários e intermitentes, com características semelhantes
ao que ocorre na Bacia do Atlântico Nordeste. As temperaturas �cam entre
23°C e 26,5°C.
Segundo o site ANA (2012b): “a Região Hidrográ�ca Atlântico Leste tem frag-
mentos dos Biomas da Floresta Atlântica, da Caatinga, pequena área de
Cerrados e, evidentemente, biomas Costeiros e Insulares”.
O maior impacto ambiental veri�cado nessa região ocorre por causa da ocupa-
ção irregular do solo, concentrando-se, muitas vezes, em áreas de encostas, ri-
beirinhas ou de mananciais, o que põe em risco a rede �uvial.
A média anual de precipitação pode chegar a 1.358mm. Os rios dessa bacia são
perenes e alguns deles cortam grandes núcleos urbanos, como, por exemplo, o
rio Tietê, que atravessa São Paulo, recebendo altas cargas de poluentes.
Nessa região:
[...] predominam rios de pequeno porte que escoam diretamente para o mar. As
exceções mais importantes são os rios Itajaí e Capivari, em Santa Catarina, que
apresentam maior volume de água. Na região do Rio Grande do Sul são
encontrados rios de grande porte, como o Taquari-Antas, Jacuí, Vacacaí e Camaquã
(BRASIL, 2012).
Esses rios estão ligados aos sistemas lagunares da Lagoa Mirim e dos Patos.
Possui, como vegetação original, a Mata Atlântica, que tem sofrido intensa
ação antrópica, desde São Paulo até o norte do Rio Grande do Sul. Estima-se,
atualmente, que apenas 12% dela estejam preservadas. A Floresta de Araucária
é encontrada em pequenas extensões e em áreas altas, acima de 600m ou
800m de altitude. Em função da atividade madeireira ocorrida no início do sé-
culo passado, a área está intensamente antropizada.
O site Comitê Ibicui (2012) a�rma que “a maior parte do consumo de água vem
do cultivo do arroz (rizicultura) por inundação, que se concentra no oeste do
Rio Grande do Sul [...]”. E a�rma, ainda, que “os consumos para abastecimento
urbano, rural e industrial e dessedentação de animais são pouco signi�cativos
dentro da relação demanda/disponibilidade da região”. Na região,
São importantes fontes de contaminação das águas super�ciais e subterrâneas na
região os e�uentes da suinocultura e da avicultura no oeste catarinense e os agro-
tóxicos, utilizados principalmente na rizicultura (COMITE IBICUI, 2012).
Além disso, assista ao vídeo a seguir, no qual o professor doutor Antonio Cezar
Leal aborda o Planejamento e Gestão das Águas em Bacias Hidrográ�cas.
Para responder a questão, observe o mapa das massas de ar, na Figura 18, a se-
guir:
8. Considerações
Neste primeiro ciclo de aprendizagem, você teve a oportunidade de aprender
sobre as características naturais do território brasileiro, no que se refere, espe-
cialmente, a relevo, clima e hidrogra�a. Ao �nal deste ciclo, é importante iden-
ti�car sobre qual relevo, clima e bacia hidrográ�ca seu município se encontra.
/geobraagrmeiamb-gs0034-ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivo
• Articular características climáticas, geológicas, geomorfológicas e hi-
drográ�cas para a caracterização do território brasileiro.
Conteúdos
• Biomas brasileiros.
• Domínios morfoclimáticos.
• Litoral brasileiro.
Problematização
Como conceituar os biomas e quais suas características no Brasil? Quais as
características de cada um dos domínios morfoclimáticos brasileiros? Qual a
importância natural e socioeconômica do litoral brasileiro?
1. Introdução
Avançaremos, agora, na compreensão da caracterização natural do Brasil.
Contudo, para que estes estudos e leituras tenham uma abordagem geográ�ca,
é preciso tentar interligar os aspectos geológicos, geomorfológicos, climáticos
e biológicos com a vida e as atividades humanas.
2. Ecossistemas brasileiros
As características gerais do território brasileiro quanto à constituição física
podem ser ressaltadas segundo a separação em macrodomínios paisagísticos.
Tais características foram reunidas seguindo como referência a obra do pro-
fessor Aziz Ab’Sáber (2003) sobre os domínios da natureza do Brasil e suas po-
tencialidades paisagísticas.
Este ciclo apresenta uma divisão do território por meio de seus ecossistemas.
O termo “ecossistema”, pela sua de�nição, deve abranger os componentes bió-
ticos e abióticos e suas relações. Muito próximo ao conceito de “bioma”, que,
“[...] de�ne-se como uma comunidade de seres vivos, ou seja, fauna e �ora e
suas interações entre si e com o meio ambiente” (TROPPMAIR, 2008, p. 69).
Jurandir Ross, no livro Geogra�a do Brasil, adota uma classi�cação mais pró-
xima do conceito de domínios de paisagem proposto por Ab’Sáber, conside-
rando que “[...] uma formação vegetal é resultado de sua história e de sua eco-
logia, adotou-se o conceito de agrupamento” (ROSS, 2001, p. 158).
Ecossistema amazônico
A Floresta Amazônica, região de uma das mais belas paisagens biodiversas do
planeta, estende-se do Brasil à Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Peru e
Bolívia. Não existe um muro ou porteira indicando onde começa um bioma e
termina outro. As formações vegetacionais vão, aos poucos, ganhando sua
uniformidade. Segundo Ab’Sáber (2006b, p. 73):
Para quem faz pesquisas nos con�ns de Mato Grosso, no extremo norte de
Tocantins ou no centro do Maranhão, é fácil saber onde começa a Amazônia.
Quando as �orestas deixam de ser apenas galerias amarradas nos fundos dos vales
quando as matas sobem e fecham as vertentes e inter�úvios, onde antes, para o sul,
sudeste e leste existiam cerrados e matas secas cedem lugar a intermináveis �o-
restas [...] aí começa a Amazônia.
Além dos estados citados, a Amazônia abrange Acre, Pará, Amazonas, Amapá,
Rondônia e Roraima, totalizando cerca de 49,29% do território nacional (IBGE,
2004). De maneira geral, a vegetação amazônica divide-se em três patamares
básicos, associados à posição do relevo: matas de igapó, matas de várzea e
matas de terra �rme.
Mata de igapó
A mata de igapó (Figura 1) é a região da �oresta situada nas áreas baixas, bem
próximo ao leito dos rios, permanecendo inundada durante praticamente o
ano todo. As plantas adaptam-se para sobreviver com suas raízes e tronco
submersos parcialmente. Segundo Ross (2001), essa vegetação ocupa, aproxi-
madamente, 15 mil km2 do total da hileia amazônica. Dada a constante pre-
sença da água e a grande quantidade de matéria orgânica, os solos são extre-
mamente ácidos.
Mata de várzea
Justamente a extração dessa seiva foi uma das grandes responsáveis pela
con�guração política da Região Norte do país. Ao �nal do século 19, o Brasil
tornou-se grande exportador de borracha, principalmente para abastecer a
crescente indústria automobilística. No auge da produção da borracha, a cida-
de de Manaus ganhou status de grande capital, cujo principal expoente foi o
grande Teatro Amazonas, uma casa de ópera e grandes espetáculos localizada
no coração da �oresta tropical da América do Sul.
O território do estado do Acre foi anexado pelo Brasil (ele pertencia antes à
Bolívia) em razão da exploração da borracha naquela área da �oresta. Além da
seringueira, �orescem, na mata de várzea, diversos tipos de palmeiras, como a
bacaba e o famoso açaí, amplamente consumido em todo o Brasil, por seu alto
valor calórico e nutritivo (JOLY, 1970).
Situadas nos patamares mais distantes da calha dos rios, as matas de terra �r-
me (Figura 2) representam cerca de 90% da área total da bacia amazônica. É
na �oresta de terra �rme que se encontram os exemplares mais representati-
vos da �oresta sob o ponto de vista do valor econômico, com árvores ultrapas-
sando os 60m de altura, como a castanheira-do-pará, a sapucaia, a maçaran-
duba etc.
Tal composição de dossel bloqueia a maioria dos raios solares que chegam à
�oresta, impedindo, dessa forma, a con�guração de uma vegetação expressiva
no solo da �oresta, tornando o ambiente com pouca luminosidade (quase ne-
nhuma de forma direta) e extremamente úmido. A pouca luz direta que atinge
o solo causa uma disputa constante pelos raios solares por parte das espécies
arbóreas recém-germinadas e com poucos centímetros de altura.
Figura 2 Mata de terra �rme.
Um termo utilizado pelo mesmo autor é “campinamara”, que marca uma tran-
sição entre esses redutos de cerrado (campinas) e as �orestas “verdadeiras”.
Tal termo também é designado pelo Ibama (2010), que, aliás, também fatia a
�oresta em várias áreas além das já citadas, como �orestas ombró�las aber-
tas, �orestas ombró�las densas, formações pioneiras, refúgios montanos e sa-
vanas amazônicas.
Segundo Ross (2001), a destruição da �oresta está relacionada com graves pro-
blemas agrários no país. O próprio governo brasileiro passou a lotear a
Amazônia em grandes projetos agrários subsidiados. Por ser grande fonte de
matérias-primas, a Amazônia recebeu diversos programas de mineração,
principalmente na Serra de Carajás. Esses programas, tanto de caráter agrário
como industrial, levaram à ocupação desordenada e à urbanização.
Um grande símbolo dessa ocupação sem critérios da Amazônia foi a constru-
ção da Rodovia Transamazônica, da BR-364 e BR-429, que facilitaram o acesso
à região, mas à custa de intensos desmatamentos. Além disso, projetos hidre-
létricos de grande porte, como a construção das hidrelétricas de Balbina e
Samuel, representam impactos ambientais muito grandes para a Amazônia.
A Amazônia hoje sofre pela retirada de seu bem mais precioso: a �oresta.
Veicula-se, a cada dia, a perda de dezenas de hectares pelo desmatamento e
queimada da vegetação, seja para a comercialização de madeira, seja para a
criação extensiva de gado. Inúmeras são as consequências desses impactos:
Caatinga
A palavra “caatinga” deriva do tupi-guarani, que signi�ca “mata branca”, devi-
do à aparência do cenário regional durante o período seco. A caatinga (Figura
3) constitui um conjunto, ou como mencionam alguns autores, um mosaico de
coberturas vegetais que formam uma área que separa, de um lado, a Floresta
Amazônica, e, de outro, as matas do domínio tropical atlântico. Como já abor-
dado, o domínio das caatingas caracteriza-se pela baixa pluviosidade; assim,
de uma maneira geral, constitui-se de um ecossistema mais espaçado, de for-
mações mais abertas em relação ao bioma amazônico.
Figura 3 Caatinga.
Para grande parte da população que vive distante desse ecossistema, as caa-
tingas constituem uma vegetação homogênea, composta somente por vegeta-
ção espinhenta, com pequena biodiversidade. Engana-se quem pensa dessa
maneira. É claro que essa é uma característica desse bioma, mas não a única.
Segundo Ross (2001), a caatinga propriamente dita é uma mata seca que perde
suas folhas durante a estação seca.
De acordo com Ab’Sáber (2006b, p. 110): “As caatingas nordestinas têm combi-
nações de espécies xerofíticas, conforme a variação das sub-regiões pedológi-
cas e climáticas regionais”. Dentro desse universo, ocorrem caatingas arbusti-
vas herbáceas nos solos mais rasos e de média altitude, cerca de 400-500 me-
tros. Nas bandas mais rochosas, de solos pedregosos, encontram-se espécies
de árvores de folhas miúdas e, por vezes, espinhentas, entremeadas por cactá-
ceas. Já nos lajedos, concentram-se todas as variedades de cactos existentes,
como mandacarus, xiquexiques e coroas-de-frade.
Andrade Lima (1966 apud AB’SÁBER, 2006b, p. 111) resume de maneira muito
didática essa heterogeneidade da caatinga:
Pode-se citar, como exemplo dessa vegetação, a Serra da Capivara (Figura 4),
no Piauí, onde existem a�oramentos de paredões de rochas sedimentares, for-
mando cânions de algumas dezenas de metros de profundidade, cujo subsolo
consegue armazenar uma reserva hídrica su�ciente para alimentar, pratica-
mente, durante o ano todo, uma vegetação de matas densas e biodiversas.
Locais como esse geram grande endemismo de espécies animais e vegetais,
ou seja, muitas espécies habitam somente esse local, em razão da especiação
genética promovida pelo isolamento em relação à vegetação mais aberta e
mais seca.
Exemplos como os relatados mostram que, por mais hostil que pareça o ambi-
ente, não é o clima que faz da caatinga um lugar de vida difícil, mas, sim, a ig-
norância, a falta de vontade política em disponibilizar tecnologia para as fa-
mílias sertanejas, a �m de que estas possam �xar-se e viver decentemente da
sua produção.
Cerrados
Denominados por Ab’Sáber (2006b) de “cerrados dos chapadões centrais”, esse
bioma, ou domínio �togeográ�co, se distribui pelas diversas subunidades do
planalto brasileiro, ocupando uma área de mais de dois milhões de quilôme-
tros quadrados, envolvendo os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Tocantins e Bahia, além do Distrito Federal.
Vale lembrar que essa espacialização do cerrado, como qualquer outro ecos-
sistema, se refere à área nuclear (ou seja, área onde os conjuntos faunísticos e
�orísticos formam uma paisagem homogênea), pois, como vimos anterior-
mente, existem pequenos redutos de algumas formações inseridos em outros
biomas, devido a pequenas variações de umidade, a características pedológi-
cas, ou, ainda, podem ser atribuídos à Teoria dos Refúgios Florestais.
Ab’Sáber (2006b) atribui ao que ele chama de “cerrados dos chapadões cen-
trais” três grandes variações: cerrados, cerradões e campestres. Pela de�nição
do autor, os cerrados são formados por uma vegetação de árvores baixas e
troncos retorcidos, que perdem as folhas durante a estação mais seca do ano.
Os cerradões apresentam-se, por vezes, como bosquetes e eventuais capões
com uma mata mais densa e um pouco mais biodiversa, não tão homogênea.
Os campestres caracterizam-se pela paisagem de uma vegetação mais aberta,
pontilhada por indaiás anões, característica principalmente do sudoeste de
Goiás.
[...] a monotonia exasperante da repetição da paisagem que passa nada atrai o olhar
do viajante. É tudo igual. Árvores e arbustos são réplicas mútuas, de tal sorte que
raramente algo diferente pode ser observado durante a rápida passagem de ônibus
ou automóvel.
Tal avanço das pesquisas contribuiu para o melhor entendimento desse bio-
ma e, também, para o aumento da fronteira agrícola, que se deu com a derru-
bada da vegetação e o uso de fertilizantes em excesso, causando, assim, pre-
juízos de quase 70% a todo o ecossistema (IBAMA, 2010).
A partir do extremo sul da Bahia é que se iniciava a Mata Atlântica densa e biodi-
versa para dentro do território do Brasil de Sudeste, penetrando pelas terras interio-
res do Vale do Rio Doce até se estender por toda a zona da mata sul-mineira.
Segundo Ross (2001), são matas que possuem solos férteis, sob climas com
temperaturas moderadas a baixas no inverno, porém são matas de clima úmi-
do. Um belo exemplo é a região de aparados da serra, onde há uma das paisa-
gens mais incríveis do país, com a formação de cânions bastante profundos,
na região da cidade gaúcha de Cambará do Sul. Existem, também, araucárias
distantes dos planaltos do sul do país, encontradas, por exemplo, em São
Paulo (região de Campos do Jordão) ou mesmo em Minas Gerais e no Rio de
Janeiro.
De acordo com dados fornecidos por Neiman (1989), estima-se que, até 1930,
havia cerca de quatro milhões de hectares de matas de araucárias, e, até mea-
dos dos anos de 1980, essa área estava reduzida a pouco mais de 200 mil hec-
tares, cerca de 5% da área total. O auge da destruição deu-se em razão da ex-
ploração madeireira, sem que houvesse preocupação com a recuperação vege-
tal, visto que grandes exemplares apresentam mais de 50 anos.
[...] aquela que já foi a árvore símbolo do estado do Paraná está hoje restrita a algu-
mas pequenas reservas, muitas delas pertencentes a particulares [...] a mata de
araucária é, assim, um ecossistema considerado praticamente extinto.
De acordo com o Ibama (2010), os campos sulinos (denominação dada pelo ór-
gão para essa formação �togeográ�ca) são, em geral, consequência muito
mais do tipo de solo do que propriamente do clima, bem como da terra para a
pecuária extensiva. Por isso, a região da campanha é propícia para a pecuária
de corte, prática adotada há vários séculos.
Joly (1970) atribui às pradarias, às quais ele denomina de “pampas”, uma pai-
sagem com muito pouca ou nenhuma variação altimétrica e vegetal. Segundo
o autor:
Uma planura sem �m, onde a estrada rola por suaves colinas [...] Faltam referênci-
as de apoio, elementos que permitam julgar distâncias pelas acanhadas vistas do
visitante [...] Uma árvore qualquer agiganta-se, sua silhueta recorta-se contra o azul
do céu e atrai a vista que dela não quer se desviar [...] a planura está coberta por um
verdadeiro mar de plantas herbáceas onde predominam as gramíneas que com su-
as hastes �exuosas curvam-se ao vento(JOLY, 1970, p. 133).
A retirada de extensas áreas de mata ciliar foi necessária, com o intuito de uti-
lizar os solos inundáveis para a plantação de extensos arrozais. As plantações
de soja proliferam na paisagem agrária em que há solos provenientes da de-
composição do basalto, a popular “terra roxa”.
3. Ecossistemas costeiros
O litoral brasileiro possui cerca de 8.000km de extensão, sendo o maior litoral
dentro de um mesmo território do Atlântico Sul. Estende-se desde o Amapá
até o Rio Grande do Sul, possuindo uma variação latitudinal imensa.
O litoral do Sudeste (Figura 10), que vai do Recôncavo Baiano à divisa de São
Paulo com o Paraná, tem como forte característica a barreira da Serra do Mar.
Sua presença permite o barramento da umidade do oceano e faz que ocorram
chuvas orográ�cas constantemente, contribuindo, de maneira fundamental,
para a manutenção da Mata Atlântica. Possui praias bastante extensas, como
a Praia Grande, e a região da Jureia, ambas em São Paulo. Nos locais onde a
Serra do Mar se aproxima do oceano, o litoral �ca bastante recortado, forman-
do diversas baías e enseadas.
Pantanal
O Pantanal mato-grossense (Figura 12) é um ecossistema que se caracteriza
pela sua grande área de inundação, consistindo na maior planície alagável do
planeta, visto que seu desnível altimétrico gira sempre em torno de 100m a
200m. O Pantanal é uma área deprimida, com, aproximadamente, 22.000km2,
distribuídos pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, drenada pelo
Rio Paraguai e por centenas de a�uentes que extravasam e preenchem a pla-
nície no período de chuvas, de novembro a abril.
Figura 12 Pantanal mato-grossense.
No período seco (de maio a outubro), a paisagem é marcada por diversas lago-
as (denominadas de “baías” na terminologia local). Devido à baixa declividade
do terreno, a velocidade da água que �ui pelos rios também é muito baixa, e,
durante o período chuvoso, a água extravasa da calha dos rios, formando, en-
tão, esse ambiente alagado, que é rico em nutrientes devido à grande carga de
sedimentos trazidos pelas águas (NEIMAN, 1989).
4. Domínios morfoclimáticos
Um dos conceitos mais importantes para a compreensão do território brasilei-
ro é o de domínios morfoclimáticos. Foi elaborado pelo geógrafo brasileiro
Aziz Ab'Sáber como sendo:
É interessante observar, na Figura 13, que essas áreas não são exatamente li-
mítrofes entre si, ou seja, não há o �nal de um domínio e o início imediato de
outro. Há, entre todos os limites, zonas de transição, as quais apresentam ca-
racterísticas tanto de um domínio quanto de outro.
Domínio amazônico
O domínio amazônico caracteriza-se por um sistema de terras baixas, com al-
titudes em média de 150m a 200m, equivalentes, em grande parte, à formação
geológica conhecida como “Grupo Barreiras”, que apresenta baixos e extensos
platôs. Além disso, há extensas planícies de acumulação de sedimentos, que
vão se depositando ao longo da calha dos rios que drenam a região (Figura 14).
Essa feição de terras baixas se altera nas bordas do domínio. Ao Sul, tem-se a
estrutura geológica do planalto brasileiro. A Oeste, há uma grande barreira
constituída pela Cordilheira dos Andes, e, a Norte, está localizada a área do
Escudo das Guianas, que abarca, principalmente, o norte do estado do
Amazonas e parte do estado de Roraima. É nessa estrutura geológica que se
localizam as maiores altitudes do território brasileiro, com destaque para o
Pico da Neblina, que se situa acima dos 3.000 metros de altitude, e para o
Monte Roraima (Figura 15), que atinge altitudes superiores aos 2.700 metros.
É claro que essa feição de terras baixas é muito mais uma simpli�cação do re-
al; evidentemente, existem pontos do relevo que se destacam. Dentre esses
exemplos, pode-se destacar a Serra dos Carajás, no estado do Pará, local bas-
tante conhecido pela grande extração de minérios, como a bauxita.
Figura 15 Monte Roraima – exposição das rochas do Escudo das Guianas.
Por apresentar essa diversidade nas formas de relevo, o domínio dos mares de
morros é mais adequadamente tratado por “domínio tropical atlântico”, visto
que a expressão “mares de morros”, ou “mares de morros �orestados atlânti-
cos”, se cunhou devido à área, caracterizada por um relevo de colinas mamelo-
nizadas, encontradas, principalmente, na área core, no Vale do Rio Paraíba do
Sul (SP).
Outro dado interessante acerca da Mata Atlântica é que, dada sua localização
geográ�ca próxima à fachada litorânea, foi esse o primeiro bioma a ser explo-
rado pelos colonizadores. Esse fator fez que o domínio tropical atlântico se tor-
nasse o domínio de natureza mais densamente povoado e ocupado e, por con-
sequência, palco das alterações antrópicas mais signi�cativas, visto a extensa
urbanização e a industrialização no domínio, principalmente ao longo do eixo
entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Essa escassez de chuvas faz que a drenagem dessa região seja quase toda au-
tóctone e intermitente, ou seja, à exceção do Rio São Francisco, que nasce na
Serra da Canastra, em Minas Gerais, e corre de forma perene por grandes ex-
tensões do semiárido nordestino, a grande maioria dos rios seca durante os
períodos de estiagem prolongada.
Dada a soma da baixa umidade com a intermitência dos rios, lagos etc., a ve-
getação perde em exuberância e quantidade (Figura 16). A adaptação das plan-
tas às severas condições climáticas dá-se por meio da retenção de água, evi-
tando ao máximo sua perda para a atmosfera. Por conta disso, diversas plan-
tas da região do semiárido têm suas características relacionadas ao xeromor-
�smo, apresentando, em diversas espécies, espinhos e troncos com cascas
bastante grossas.
Outra paisagem com grande beleza cênica �ca na região da tríplice fronteira
entre Brasil, Paraguai e Argentina, que são as chamadas “Cataratas do Iguaçu”.
Tal cenário foi possibilitado pelo intenso e constante trabalho do Rio Iguaçu,
que, ao longo de milhares de anos, foi escavando os sedimentos contidos no
leito do rio até chegar à rocha, proporcionando quebra brusca na linearidade
do relevo e quedas com um volume d’água intenso (Figura 18).
Figura 18 Cataratas do Iguaçu.
Por ser o domínio morfoclimático mais austral, ou seja, mais ao Sul do Brasil,
as pradarias mistas caracterizam-se, a exemplo dos planaltos de araucárias,
por clima subtropical, e, ao contrário dos planaltos, a campanha não apresenta
grandes concentrações de chuva, em razão, principalmente, da sua baixa to-
pogra�a e evapotranspiração. É ainda interessante destacar o vento minuano,
soprando quase que constantemente do sul em direção ao continente, in�uen-
ciando todo o ritmo de vida da população local.
Na região do sudoeste gaúcho, com a intensa utilização das terras para a pe-
cuária e a não manutenção de uma vegetação que possa manter o solo, ocor-
rem processos crescentes de deserti�cação na região. Esses processos, uma
vez instalados, causam prejuízos imensos a todas as atividades, pois há cons-
tante perda de material do solo, que se desagrega de maneira crescente.
Alguns autores como Christofoletti (1981) e Strahler (1952) propõem uma hie-
rarquia para a rede de drenagem. Segundo essa hierarquia, rios de primeira or-
dem são canais que não recebem nenhum tributário e rios de segunda ordem
são rios à jusante da con�uência de dois ou mais canais de primeira ordem.
Para conhecer um pouco mais sobre o geógrafo Aziz Ab'Sáber e sua obra, as-
sista ao vídeo a seguir:
Essa extensa costa é banhada por águas quentes que ocupam grande parte
das bordas tropicais e subtropicais do Atlântico Sul Ocidental, que vai desde o
Cabo Orange, na foz do rio Oiapoque, até o Arroio Chuí. Há, nessa faixa, diver-
sos tipos de habitats, que vêm sendo cada vez mais utilizados pelo turismo e
ecoturismo, uma vez que boa parte deles é dotada de relevante beleza cênica.
Segundo Ab’Saber (2006, p. 80), o litoral pode ser entendido como “uma heran-
ça de processos anteriores, remodelados pela dinâmica costeira hoje prevale-
cente”. Desse modo, compõem o litoral brasileiro (Figura 20): a convergência
de praias arenosas, sedimentos calcários, manguezais, costões, rochas, restin-
gas, lagos, rios, dunas, falésias, baías, estuários, recifes de corais e outras ca-
racterísticas, além da dinâmica climática.
Figura 20 Litoral brasileiro do Oiapoque ao Chuí.
O litoral norte brasileiro é formado por inúmeras ilhas, margeadas por gran-
des manguezais, que estão bem conservados devido à sua baixa densidade de-
mográ�ca. Mais da metade dos mangues que ainda resistem à pressão antró-
pica estão concentrados nessa região. As características físico-químicas e ge-
omorfológicas da costa do Amapá e do setor ocidental da costa do Pará são de-
terminadas pelo delta do Amazonas, pois é nessa região que o rio Amazonas
encerra seu curso, depositando uma grande quantidade de sedimentos no
mar. Isso gera uma signi�cativa quantidade de material particulado em sus-
pensão, favorecendo a alimentação de peixes e frutos do mar, que se aprovei-
tam da rica matéria orgânica ali depositada. Como consequência, atividades
como a pesca industrial e artesanal são muito favorecidas.
Litoral Nordeste
Litoral Sudeste
Na sua porção mais oriental, entre o Recôncavo Baiano e a parte norte do Rio
de Janeiro, é caracterizada por ser uma área de transição entre o litoral nor-
destino e o sudeste, ou seja, possui elementos dos dois litorais. Por isso, apre-
senta tabuleiros e planícies costeiras formadas por depósitos sedimentares.
Na parte sul dessa região, ocorre a ressurgência das águas mais profundas
(ressurgência de Cabo Frio), e a temperatura, na parte próxima à costa, pode
baixar até 160C. Esse evento natural torna essa região extremamente produti-
va, sendo uma área de concentração de indústrias pesqueiras.
Veja, na Figura 24, o litoral sudeste, que vai do Recôncavo Baiano até o �nal do
litoral paulista.
Figura 24 Litoral sudeste do Brasil.
Litoral Sul
O litoral sul começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul.
Cheio de banhados e manguezais, o ecossistema da região é riquíssimo em aves,
mas há também outras espécies: ratão-do-banhado, lontras, capivaras etc.
A linha de costa dessa porção litorânea é retilínea, com dunas e inúmeras la-
gunas, como a Lagoa dos Patos. Ela apresenta, também, planícies costeiras ex-
tensas e arenosas, bem como baixa altitude, característica predominante nes-
se litoral. Contudo, esse padrão se altera um pouco na região de Torres, no Rio
Grande do Sul, devido à ocorrência de uma formação basáltica na linha de
costa.
A plataforma, por sua vez, é larga, exceto na região de Mostardas (RS), onde há a
presença de pequenas depressões e elevações, circulares e alongadas, em posição
oblíqua quando comparadas com a linha de costa.
Ilhas Costeiras
O Brasil, além de possuir um riquíssimo litoral, conta, ao longo da costa, com a
presença de um conjunto de ilhas marítimas, divididas, basicamente, em dois
grupos: as Ilhas Costeiras e as Ilhas Oceânicas.
Aquelas denominadas “Ilhas Costeiras” caracterizam-se por estarem próxi-
mas ao litoral e encontram-se apoiadas na parte do relevo do continente que
avança para o mar. “Algumas Ilhas Costeiras muito conhecidas abrigam capi-
tais de estado, como São Luís (MA), Vitória (ES) e Florianópolis (SC)” (JUSVI,
2012).
Ilhas Oceânicas
Essas ilhas costumam estar distantes do litoral e estão apoiadas no fundo do
oceano. No Brasil, as principais Ilhas Oceânicas são os arquipélagos de
Fernando de Noronha, o Atol das Rocas, os arquipélagos de São Pedro e São
Paulo e as ilhas de Trindade e Martim Vaz, no estado de Espírito Santo.
A a�oração vulcânica coberta de corais do Atol das Rocas é uma ilha de 7,2
km2, distante 250 km do continente e 150 km de Fernando de Noronha, cujo
acesso é difícil devido aos recifes. Foi a primeira reserva biológica do país,
sendo criada em 1979.
Ilhas Fluviais
O Brasil possui, ainda, algumas das maiores ilhas �uviais do mundo, como a
ilha de Marajó, com 50 mil km2, considerada a maior ilha �úvio-marinha do
mundo. Localizada na foz do rio Amazonas, no estado do Pará, a Ilha de
Marajó é considerada um dos grandes santuários ecológicos do mundo. Além
dela, há, também, a Ilha do Bananal, com 20 mil km2 de área, a maior ilha
�uvial do mundo, localizada no estado de Tocantins.
7. Considerações
Neste ciclo de estudos, foi possível conhecermos os biomas, os domínios mor-
foclimáticos e o litoral brasileiro. Como vimos, os ambientes naturais têm so-
frido cada vez mais com a ação humana.
/geobraagrmeiamb-gs0034-ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivo
• Re�etir sobre o processo de modernização da agricultura e as contradi-
ções da questão agrária brasileira.
Conteúdos
• Relações de produção no campo.
• Con�itos agrários.
• Modernização da agricultura.
• Agronegócio.
Problematização
O que diferencia a produção camponesa da agrícola capitalista? Quais os
principais con�itos e movimentos de luta pela terra na história do Brasil? O
que signi�cam os conceitos de espacialização e territorialização da luta pela
terra? Quais as características de um movimento socioterritorial? Quais as
características do processo de modernização do campo no Brasil? Quais os
impactos da Revolução Verde? Quais são as relações existentes entre o cam-
po e a cidade? O que é o agronegócio? Qual a participação do agronegócio na
economia brasileira?
1. Introdução
Neste ciclo de aprendizagem, estudaremos a dinâmica territorial do Brasil na
perspectiva das relações de produção no campo, dos con�itos agrários, da mo-
dernização da agricultura e do agronegócio.
As relações capitalistas são, portanto, relações sociais que pressupõem a troca de-
sigual entre o capital e o trabalho, e ambos, capital e trabalho, são produtos de rela-
ções sociais iguais e contraditoriamente desiguais. São, pois, relações que têm ne-
cessariamente que supor capital e trabalho assalariado. Um cidadão só é capitalis-
ta e o seu dinheiro capital quando o coloca no processo produtivo (comprando mei-
os de produção e força de trabalho) para reproduzir, de forma ampliada, esse capi-
tal. É por isso que o capital é produto de uma relação social baseada na troca desi-
gual entre proprietários distintos, porém iguais. O capital é, pois, a materialização
do trabalho não-pago ao trabalhador. É, portanto, a mais-valia expropriada do tra-
balhador. É a fração do valor produzido pelo trabalhador que se realiza nas mãos do
capitalista (OLIVEIRA, 2007, p. 38).
Oliveira (2007), utilizando a obra de José Tavares dos Santos, Colonos do vi-
nho, apresenta um conjunto articulado dos nove elementos estruturais da pro-
dução camponesa:
Como você pode notar, os con�itos sociais no campo, não são uma exclusivi-
dade de nossos tempos, mas uma das marcas do desenvolvimento e do pro-
cesso de ocupação do campo no país.
Além disso, as transformações ocorridas nos últimos cincos séculos nos re-
metem a outra história: a história das possibilidades e das crises agrárias.
Sobre isso, abordaremos os movimentos históricos de luta pela terra no país,
permeando as in�uências deles na formação do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Segundo Fernandes (1999a), no �nal do século 16, havia mais de 15000 africa-
nos escravizados trabalhando nos engenhos. Uma das formas que os negros
tinham para lutar contra a escravidão (cativeiro) e pelo acesso a terra foi a for-
mação de quilombos.
É válido salientar que o referido argumento era ressaltado nos escambos in-
ternos, haja vista sua autonomia e liberdade, pois, não defrontando com a �gu-
ra do patrão a renda �ca na sua mão, tecendo um paralelo com a classe operá-
ria por meio do trabalho assalariado. Conforme relata Oliveira (1996, p. 12): “[...]
a produção coletiva nativa era crime contra a lógica da produção privada/ ex-
propriada do escravo pelo senhor”.
Para tanto, os latifundiários necessitavam cada vez mais de forças para o tra-
balho, o que os levou a utilizar sua perversa sabedoria para escravizar índios e
negros a laço, sob comando de seus jagunços, pistoleiros, tra�cantes, capitães-
do-mato, capangas e bandeirantes. Tal processo atingiu outras fronteiras, pois,
grande parcela da população escravizada era oriunda do continente africano.
Cangaço
A discussão sobre o cangaço, tem fortes laços com o messianismo.
Andrade (1989) a�rma que o cangaço se trata de revoltas populares e campo-
nesas simultaneamente ligadas ao messianismo e ao banditismo.
[...] que negava o acesso à posse da terra aos que nela trabalhavam, em benefício
dos que, tendo direito à terra, utilizavam-na como uma mercadoria, como um bem
negociável (ANDRADE, 1989, p. 14).
Fonte: (ARRUDA, 1989 apud CAMPOS, 2000, p. 57).
Como você pôde notar, a Figura 2 apresenta três áreas de atuação dos movi-
mentos populares predominantes no nordeste. Observe que se faz necessário
de�nir a priori o sertão, visto a semelhança apenas com a seca, não contem-
plando a utilização para áreas mais longínquas, o que o é de fato. A referida re-
gião teve in�uência do cangaço, aproximadamente de 1870 a 1940,
acentuando-se após a Proclamação da República de 15 de novembro de 1889,
cujas bases fundavam-se no misticismo e no “banditismo social”.
O “bandido social” era livre, em relação ao jagunço que dependia do patrão pa-
ra sobreviver, sendo-lhe, portanto, subserviente.
Silvino começou sua luta muito moço, vingando o pai. Agiu em Pernambuco, Ceará
e Paraíba durante 20 anos, tendo sido ferido e preso em 1914, indultado em 1937 por
Getúlio Vargas. Silvino impunha como norma ao seu bando não atacar campone-
ses e trabalhadores pobres. Atacava fazendas e casas de comércio, promovia o sa-
que e muitas vezes distribuía o que arrecadava entre os pobres, inclusive dinheiro.
Era temido e admirado (MARTINS, 1995, p. 59-60).
Canudos
Ainda no contexto do nordeste, podemos destacar outro cenário con�itivo
com relação à terra, denominado de Guerra de Canudos, das Caatingas, das
Taipas entre outros títulos.
Antônio Conselheiro inicia suas andanças pelo Ceará, a princípio como ambu-
lante. Posteriormente, com o incentivo da Igreja Católica, preocupada em for-
mar beatos e beatas, passa a pregar “com os pés nos chão”, cumprindo várias
missões religiosas.
Belo Monte é fundado, portanto, nos primórdios da produção coletiva, uma vez
que tudo que se produzia era distribuído conforme as necessidades de quem
recebia, sem se esquecer dos velhos e doentes.
É válido salientar que tal processo era auxiliado pela Companhia do Bom
Jesus, utilizando, também, do argumento que a terra era de todos. Assim, ape-
nas as coisas pessoais mantinham a particularidade, uma vez que qualquer
pessoa poderia ir para junto de Conselheiro, escolhendo o seu pedaço para
construir sua casa e consequentemente produzir.
Cabe destacar que existiam regras em Belo Monte dentre as quais, a mais rigo-
rosa, referia-se a proibição de bebidas alcoólicas, jogos de azar e de prostitui-
ção.
Canudos, agora conhecido como “povoado de Belo Monte”, chegou a ter aproxi-
madamente trinta mil habitantes e cinco mil casas, sendo considerada a se-
gunda maior cidade da Bahia, �cando apenas atrás da capital Salvador
(CAMPOS, 2000). Na Figura 3, podemos analisar sua dimensão, observem no
primeiro plano a centralidade ocupada pela igreja.
Fonte: (SOLA, 1997, p. 61).
Figura 3 O arraial de Canudos: desenho encomendado por Moreira César, comandante da terceira expedição.
A ausência de mão de obra, não era o único problema, visto o “mau exemplo”
que uma sociedade igualitária poderia fruti�car e espalhar pelo país. Ela de-
sestruturaria todos os valores sociais vigorantes, uma vez que a classe domi-
nante poderia perder parte de suas conquistas, em destaque: o status social,
seguido de suas posses.
Como você pode veri�car, isto nos revela a fragilidade da dependência da na-
ção.
Fechando o tripé, vejamos o papel igreja na �gura dos padres: eles podiam,
quando desejassem, rezar missas e confessar os habitantes de Belo Monte.
Vale ressaltar que Antônio Conselheiro não tinha função sacerdotal. Ele espe-
rava que Deus cuidasse e salvasse o povo por meio de seus milagres, o que evi-
dência novamente, que ele não era perigoso pelo seu misticismo religioso,
nem por sua liderança, mas por suas convicções políticas as quais objetivam
utilizar o que está à disposição dos homens sobre a terra.
O arremate �nal de Canudos, não ocorreu na quarta expedição, pois assim co-
mo nas anteriores, o exército teve que recuar. Contudo, na quinta expedição
contou com os seguintes reforços: mais de dez mil soldados e canhões afoita-
dos para manter a reputação do exército nacional e de seus senhores, extermi-
naram Canudos a “sangues quentes”.
Martins (1995, p. 55), nos lembra que: “[...] ao combater os republicanos, isto é,
os militares e fazendeiros, os sertanejos de Canudos tinham certeza de estar
combatendo os inimigos dos trabalhadores”.
Guerra de Contestado
Segundo Martins (1995), Contestado foi a maior guerra popular da história
contemporânea do Brasil. Trata-se de uma guerra camponesa ocorrida no sul
do país, especi�camente entre Paraná e Santa Catarina, prolongando-se de
1912 a 1916.
Nesse contexto, começam a dialogar com um monge (beato) José Maria que
tinha fama de curandeiro, levando-o ao entendimento com um dos coronéis
(Henriquinho de Almeida). No entanto, o outro (Francisco de Albuquerque) te-
mendo o crescimento dessa oposição, segue os mesmos meios utilizados em
Canudos, denunciando-os de proclamar a monarquia nos sertões (MARTINS,
1995).
Cabe ressaltar que a entrada dos Catarinenses no estado do Paraná foi inter-
pretada como invasão e resultou na intervenção das forças militares para
atacá-los, mesmo com pedidos e argumentos de que eram de paz, sendo o mo-
vimento de camponeses e José Maria, alvejados. Nessa ocasião, muitos foram
mortos, entre eles o próprio José Maria.
Além do próprio exército, cerca de mil vaqueanos uniram-se a luta, que busca-
va o �m, para os que somente pregavam pela não violência aos pobres do
campo, de maneira religiosa e igualitária.
Nessa lógica, Morissawa (2001) nos revela que dos 20 mil rebelados restaram
apenas três mil ao �nal dos combates em que até aviões foram utilizados. Foi
a primeira vez que um avião foi utilizado no país para �ns militares.
Oliveira (1996) a�rma que a luta expunha o preço baixo pago na colheita, o não
pagamento dos salários, a tentativa de redução do pagamento, os castigos e as
multas arbitrárias, além da limitação do direito de plantio de alimentos.
A luta foi entre grileiros de terras que não aceitam pagar pelas benfeitorias de
posseiros nas áreas de valorização da futura rodovia Belém-Brasília, em 1956.
Os jagunços intimidam os posseiros sob a terra grilada. Diante dessa resistên-
cia, são feitas tentativas para transformar os posseiros em parceiros como
ocorria em outras regiões. Aproximadamente três mil pessoas, na região, vi-
venciaram a violência.
O estopim ocorreu com a morte da esposa de José Porfírio após ter sua casa
queimada, além da chegada de militantes do Partido Comunista do Brasil que
iniciam um trabalho coletivo na região fortalecendo a organização desses
camponeses.
Castro (1967) relata que, em primeiro momento, as Ligas estavam voltadas aos
direitos dos defuntos, visto à exclusão desses na sua morte.
Em 1955, João Firmino, morador do Engenho Galiléia, fundava a primeira das Ligas
Camponesas no nordeste brasileiro. Não fora seu objetivo principal, como muita
gente pensa, o de melhorar as condições de vida dos camponeses da região açuca-
reira, ou de defender os interêsses dêsses bagaços humanos, esmagados pela roda
do destino, como a cana é esmagada pela moenda dos engenhos de açúcar. O obje-
tivo inicial das Ligas fôra o de defender os interêsses e os objetivos dos mortos, não
os dos vivos. Os interêsses dos mortos de fome e de misérias; os direitos dos cam-
poneses mortos na extrema miséria da bagaceira. E para lhe dar o direito de dispor
de sete palmos de terra onde descansar os seus ossos e o de fazer descer o seu cor-
po à sepultura dentro de um caixão de madeira de propriedade do morto, para com
êle apodrecer lentamente pela eternidade afora. Para isto é que foram fundadas as
Ligas Camponesas. De início, tinham assim muito mais a ver com a morte do que
com a vida, mesmo porque com a vida não havia muito o que fazer [...]. Só mesmo a
resignação. A resignação à fome, ao sofrimento e a humilhação [...] (CASTRO, 1967,
p. 23, grifo nosso).
Ultab e Master
A União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (Ultab) foi criada pelo
Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1954, com o objetivo de coordenar, or-
ganizar as associações camponesas e criar condições para uma possível ali-
ança política entre operários e os trabalhadores rurais (MORISSAWA, 2001).
Em geral seus líderes eram camponeses, mas havia uns poucos líderes indicados
pelo PCB. Essa organização foi criada aos poucos em todos os estados, com exceção
do Rio Grande do Sul onde havia o Master [...], e em Pernambuco, onde havia as
Ligas Camponesas (MORISSAWA, 2001, p. 94).
De acordo com Morissawa (2001), seus principais líderes foram Lindolfo Silva
e Nestor Veras, este último sequestrado durante a ditadura e jamais encontra-
do.
Ainda sobre a Ultab, Martins (1995) a�rma que representou um germe da futu-
ra Confederação dos Trabalhadores Agrícolas (Contag), conforme conhecemos
atualmente.
Nos anos seguintes, disseminou-se por todo o estado gaúcho. Para o movimento,
eram considerados agricultores sem terra o assalariado rural, o parceiro, o peão e
também os pequenos proprietários e seus �lhos (MORISSAWA, 2001, p. 94).
Nessa lógica, o MST expõe uma das faces do que foi e do que é o povo brasilei-
ro, escancarando as feridas abertas do processo de formação territorial.
Espacializar, ou seja, abrir caminho para a conquista da terra, é fazer com que
o território possa transcender suas próprias dimensões, no que se refere à re-
produção da vida por meio da agricultura camponesa, pois:
Contudo, é importante lembrar que o desa�o de tentar construir uma nova ex-
periência se encontra na atuação do Movimento e no que costumam chamar
de “engendramento” prévio da sociedade, isto é, na transformação das concep-
ções e visões reducionistas da realidade.
Isto nos leva a re�exão sobre a conscientização histórica, a qual pode ser en-
tendida como:
[...] inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujei-
tos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com
um material que a vida lhes oferece (FREIRE, 1980, p. 26).
Isso acontece porque, antes de reconhecerem-se como Sem Terras, eram cam-
poneses expropriados ou mesmo trabalhadores excluídos nas cidades; “[...] sua
conquista social maior talvez seja exatamente a transformação dos desgarra-
dos da terra em novos sujeitos [...]” (CALDART, 2004, p. 32).
Finalmente, podemos observar que nesse fazer eles recriam as lutas, transfor-
mando o sentido da terra, do trabalho coletivo e da escola, lugar privilegiado
para a construção da conscientização.
O MST utiliza-se das ocupações tidas “[...] como forma de luta e acesso a terra,
é um contínuo na história do campesinato brasileiro” (FERNANDES, 2001, p.
61). Dessa forma, “[...] se cria uma outra condição para o enfrentamento. Ao
realizá-la, os sem-terra conquistam a possibilidade da negociação”
(MORISSAWA, 2001, p. 132).
De 100 a
284.536 6,7% 38.574.392 9,1% 135,6
–200
De 200 a
198.141 4,7% 61.742.808 14,7% 311,6
–500
De 500 a
75.158 1,8% 52.191.003 12,4% 694,4
–1.000
De 1.000 a
36.859 0,9% 50.932.790 12,1% 1381,8
–2.000
De 2.000 a
25.417 0,6% 76.466.668 18,2% 3.008,5
–5.000
Observa-se que aqui há uma busca de desvendar parte dos mitos em relação
ao campo e ao agronegócio, uma vez que:
Note que se esse fato fosse verídico “[...] não haveria assim, mais terra impro-
dutiva no Campo brasileiro” (Ibidem, p. 126).
Portanto, fazer com que as “verdades” sejam desmisti�cadas se torna funda-
mental, uma vez que as grandes propriedades não são as mais produtivas e,
mesmo se fossem, continuariam nas mãos de poucos.
A ideia é que a realidade seja delineada para que a terra torne-se mais que ter-
ra, libertando-se da exploração e da barbárie que os negócios a impõe ao ex-
plorar o trabalho de quem não tem terra, ou mesmo utilizando-a como especu-
lação, evidenciando assim que o capitalista, ao se apropriar da terra, não dese-
ja de fato cultivá-la.
Compreendemos que:
O primeiro:
[...] poderia ser caracterizado como aquela reforma agrária do tipo clássico, que foi
feita pelas burguesias industriais no �nal do século passado e até depois da
Segunda Guerra Mundial. É a reforma agrária clássica, capitalista. Qual era seu
principal objetivo: democratizar a propriedade da terra, distribuindo a terra para
os camponeses e os transformando em pequenos produtores autônomos. (2005, p.
157, grifo nosso).
O segundo:
O MST, assim como outros movimentos sociais, visa “derrubar as cercas” e lu-
tar por seus direitos: a terra em um primeiro momento, e a escola em um se-
gundo, embora as escolas itinerantes estejam presentes em diferentes mo-
mentos, inclusive nas marchas, acampamentos e nos eventos nos quais eles
costumam se reunir. O seu princípio é a �exibilidade, para que os educandos
possam aprender em qualquer lugar.
O MST representa toda a luta dos demais movimentos anteriores a sua gesta-
ção. Dessa maneira, representa, juntamente com os demais movimentos soci-
ais agrários, a longa e sangrenta marcha do campesinato brasileiro.
Texto complementar
Vale salientar que esse autor percorreu o país de norte a sul, de leste a oeste nos
mais remotos con�ns dos sertões, sempre buscando a compreensão dos processos
que culminaram na expropriação dos camponeses diante do desenvolvimento
contraditório e desigual do capitalismo, conforme costuma a�rmar em suas re�e-
xões.
Ariovaldo, conhecido também como Ari, nasceu na área rural de Santa Rita do
Passo Quatro, interior de São Paulo. Ele é �lho de trabalhadores e, portanto, sem-
pre discutia com o pai as coisas do campo e da política.
Para ampliar seus conhecimentos sobre trajetória de Ari, sugerimos que leia o tex-
to: O autor no contexto, presente na obra A geogra�a das lutas no campo, publica-
do, inicialmente, em maio de 1988.
[...]
[...].
O Estatuto da Terra, tornado lei pelo regime militar, era lei morta. A colo-
nização na Amazônia aparecia como autêntica contra-reforma; como
escreveu Octavio Ianni, após 20 anos, os militares não permitiram se-
quer que do Estatuto saísse um plano nacional de reforma agrária. Foi a
“Nova República” que se incumbiu dessa missão histórica, sem entre-
tanto obter o apoio de sua base aliada no PMDB, no PFL, e dos latifundiá-
rios, en�m, esqueceu-se que para o Estatuto se tornar Plano havia de ser
superado o fosso controlado pelos especuladores rentistas. Aliás, mais
que isto, o fosso estava controlado pela aliança entre os setores nacio-
nais do capital mundializado e, agora, territorializados. A estatística dos
mortos nas batalhas pela terra foi crescendo, dobrando, triplicando, qua-
druplicando. Nascia a UDR – União Democrática Ruralista, entidade que
aglutinava os latifundiários na defesa de suas propriedades e na forma-
ção de um fundo para eleger congressistas constituintes para defende-
rem seus interesses na Constituição. Ganharam, e �zeram do capítulo
da reforma agrária um texto legal de menor expressão que o próprio
Estatuto da Terra [...].
Mas, mesmo assim, a história tem sido implacável com aqueles que ten-
tam ignorá-la. No Brasil, é quase consenso que qualquer alternativa de
remoção da exclusão social no país passa pela reforma agrária. Ela tem,
portanto, um objetivo social, ou seja, é o caminho para retirar da margi-
nalidade social, no mínimo, uma parte dos pobres. Mas, a reforma agrá-
ria é também econômica, porque certamente levará a aumento da oferta
de produtos agrícolas destas pequenas unidades ao mercado. A reforma
agrária, porém, tem que ser também política. Tem que ser instrumento
mediante o qual esta parcela da população conquiste a sua cidadania.
Sempre ouvi, nos acampamentos de sem-terra, os camponeses acampa-
dos dizendo frases como eu pre�ro morrer lutando por um pedaço de
terra, morrer dignamente, do que morrer como indigente nas periferias
da cidade. Portanto, a chegada à cidadania de grande parte destes po-
bres passa pela reforma agrária [...] (OLIVEIRA, 2001, p. 185-205, grifos do
autor).
Nos últimos anos, há um re�uxo nas lutas e nas políticas de assentamento ru-
ral. Isso não signi�ca o �m das con�itualidades e da violência no campo, que
atingem, especialmente, indígenas e camponeses nas áreas de expansão agrí-
cola.
O termo modernização tem tido uma utilização muito ampla, referindo-se ora às
transformações capitalistas na base técnica da produção ora à passagem de uma
agricultura “natural” para uma que utiliza insumos fabricados industrialmente.
Neste texto o termo modernização será utilizado para designar o processo de trans-
formação na base técnica da produção agropecuária no pós-guerra a partir das im-
portações de tratores e fertilizantes num esforço de aumentar a produtividade
(SILVA, 1996, p. 19).
Com tal avanço sobre os pequenos, foi reservado aos camponeses, de maneira
especial àqueles que resistiram em abandonar suas terras, a mão de obra ba-
rata usada pelos grandes empresários agrícolas.
Vale salientar que essa situação permitia o acúmulo de riqueza nas mãos de
poucos. Desse modo, os grandes fazendeiros que gozavam da liberdade, da-
vam início às aglomerações urbanas com o papel fundamental na difusão da
produção de riqueza.
Desta maneira, a dependência citada por Graziano da Silva (1996), levaria a su-
bordinação da agricultura às formas de produção e transformações impostas
pelo ritmo da indústria, impedindo seu desenvolvimento autônomo e susten-
tável, talvez com menor agressão aos ecossistemas e a uma agricultura mais
solidária e justa na sua escala de produtividade. O urbano e o rural nas suas
diferenças.
Em Brandão (2007), sabemos que tudo está em constante mudança, mas ainda
há muito o que mudar. Somos alimentados por grãos, frutas e folhas, que, quei-
ramos ou não, são advindos da produção de pequenos agricultores familiares,
seja nas diversas formas de cultivo, orgânica, permacultura, agrossilvicultura.
Entretanto, imensas áreas são tomadas pelo cultivo da soja e criação de gado
que convivem com comunidades tradicionais, ora paci�camente, ora em con-
�itos. En�m, estas transformações podem representar uma resistência ao mo-
do de vida, assim também como uma progressiva perda da autonomia para
uma economia rural intensamente agropastoril.
[…] que “lá” na cidade, as fábricas estão repletas de trabalhadores, enquanto no cam-
po largos espaços de produção precisam estar cada vez mais vazios de braços hu-
manos, para dar lugar às poucas máquinas que, primeiro, substituíram famílias de
camponeses e, depois, as próprias pessoas de trabalhadores volantes. Assim, diante
do avanço expropriador e uniformizante do capital �exível, todas as supostas anti-
racionalidades que a ele se opõem podem ser compreendidas como diferentes al-
ternativas de outras realidades (BRANDÃO, 2007, p. 44).
Suzuki (2007) defende que no campo, a existência dos caiçaras, dos quilombo-
las, das populações ribeirinhas, dos ocupantes de fundos de pastos, das popu-
lações indígenas, dentre múltiplas possibilidades de resistência e de criação
de formas sociais que se conformam em territórios que negam o território do
capital, marcado pela lógica da modernização buscando a constituição de
uma nova relação entre o campo e a cidade, no mundo da “modernidade” e do
“moderno”.
O Brasil rural que dá certo produz, mas não emprega, pois ao incorporar o moderno
(alta tecnologia) expulsa centenas de trabalhadores rurais. Se territorializa, mas ao
se territorializar, desterritorializa camponeses. Produz com selo para exportação,
porém, usando e abusando dos recursos naturais (BAGLI, 2006, p. 135).
Vale ainda ressaltar que Graziano Neto (1982) já traduzia os “dois lados da mo-
eda” sobre das di�culdades encontradas junto à agroindústria pelos pequenos
produtores, vejamos:
Em suma:
[...] a agricultura se torna um ramo da própria indústria. Não se pode mais ser con-
siderada um setor autônomo, com mercado de trabalho e equilíbrio interno própri-
os. Ao contrário, integrou-se no restante da economia de tal forma que não pode
mais ser separada dos setores que lhe fornecem insumos e/ou compram seus pro-
dutos (SILVA, 1999, p. 1).
[...] tem sido feita não só pela sujeição da agricultura à agroindústria através da
transformação desta em consumidora dos produtos industriais, mas também atra-
vés de tributos que os rentistas cobram à agricultura (renda da terra) (OLIVEIRA,
1981, p. 17).
[...] aí reside uma diferença fundamental entre a terra e o capital, pois a terra sem
produção alguma rende, ou como se diz comumente “se valoriza”, e a condição de
proprietário é o requisito para se abocanhar de parte dessa riqueza produzida soci-
almente (OLIVEIRA, 1981, p. 6-7).
Como você pode notar, alguns dos motivos que as empresas multinacionais
utilizam para se apropriar de nossas terras, especialmente na Amazônia, asse-
gurando para si o direito de extrair renda, enquanto de fato não poderiam,
uma vez que agregam renda e lucro, tornando claro como a renda da terra está
subordinada ao capital.
Assim, foram criadas leis que, ao mesmo tempo em que permitiam o acesso
de todos a terra, culminavam na apropriação indevida por meios ilegais, su-
bordinando o escravo agora livre e o imigrante que não possuía dinheiro para
adquirir seu pedaço de terra, o que contribui para a transformação nas rela-
ções de trabalho e in�uência do mercado exterior sobre o circuito de produção.
[...] Para tanto, três legislações foram das mais importantes: a Lei nº 601 – Lei de
Terras (que legitima a compra e a venda como única forma de apropriação da ter-
ra), a Lei Eusébio de Queiroz (que põe �m ao trá�co negreiro) e a Lei do Comércio.
Lei nº. 601, de 18 de setembro de 1850, Lei de Terras, vem legitimar a mercantiliza-
ção da terra como única forma de aquisição, bem como as posses anteriormente
existentes, sendo que, para a realização da titulação, o Estado, que estava em for-
mação, utilizou-se da única informação possível que garantisse o efetivo levanta-
mento da ocupação das terras: o registro paroquial (SUZUKI, 2007, p. 89-90).
O rural que não vemos está presente também naquilo que é entendido por não agrí-
cola. A agricultura é uma das “partes” do rural. Ambos não podem ser tratados co-
mo sinônimos. Os espaços rurais são heterogêneos e comportam uma série de ati-
vidades que ultrapassam a lógica agrícola. Múltiplas são as estratégias de vida de-
senvolvidas no interior de tais espaços. Reduzi-los ao agrícola seria tão equivocado
quanto reduzir o urbano à indústria (BAGLI, 2006, p. 94).
O crescimento do trabalho não agrícola é, portanto, impor tante para tantas fa-
mílias que hoje permanecem em suas terras, mesmo que a desigualdade na
atividade agrícola seja massacrante e que o processo pela qual estão sendo in-
corporadas, as atividades não agrícolas, pode minimizar o modo de vida e so-
brevivência do camponês, levando a uma disputa com o urbano.
Você pode pensar: apresentados o arsenal para uma produção de alto rendi-
mento, sementes variadas e grande aparato tecnológico, de que forma os paí-
ses pobres teriam acesso para produzirem em seus territórios?
Com o decorrer dos anos, percebeu-se que nem toda a tecnologia utilizada nos
países ricos era a mais indicada para as condições socioeconômicas dos agri-
cultores. A referida percepção foi talvez um pouco tardia, visto a dependência,
muitas vezes desnecessária destes agricultores, o que também elevou os cus-
tos da produção.
[...] somente os grandes produtores tiveram condições de aplicar todo o “pacote tec-
nológico” que acompanhava as sementes “milagrosas” desenvolvidas nos centros
de pesquisa. A concentração da terra agravou-se. Mas agravaram-se também os
desequilíbrios ecológicos: surgiram pragas e doenças antes desconhecidas, que
exigiram maiores doses de venenos, que, por sua vez, desequilibraram mais ainda o
ecossistema e comprometeram toda a produção; surgiram problemas de conserva-
ção do solo, de erosão (NETO, 1982, p. 87).
Além disso, na questão da fome, os termos colocados, culpam aqueles que na-
da possuem, vítimas deles próprios, de um crescimento desordenado da popu-
lação e da incapacidade de produzir riquezas.
7. Relação campo-cidade
Os termos “campo” e “cidade” conduzem a um pensamento de realidades dis-
tintas, o qual tem sofrido nas últimas décadas intensas modi�cações, criando
um novo quadro entre as relações, agricultura e indústria.
O campo e cidade no Brasil passaram por intensa metamorfose, não só porque hou-
ve uma mudança nos seus conteúdos e nas suas formas, mas, também, devido às
possibilidades novas que foram se constituindo de estabelecimento de vínculos e
de in�uência de um sobre a outra, ou vice-versa (SUZUKI, 2007a, p. 135).
Podemos observar que as relações entre campo e cidade são estreitadas no co-
tidiano, situação esta encontrada:
[...] haja vista a circulação de pessoas, mercadorias, informações e idéias que as es-
tradas, o comércio, a indústria, as redes de telecomunicação, dentre outras formas
de conexão, permitem, assim, relações dialéticas entre campo e cidade. São rela-
ções que se complementam, que se interpenetram, que se ligam demonstrando as
imbricações entre as relações do vivido, dos homens e mulheres e seu(s) espaço(s),
portanto, dos próprios espaços produzidos: campo e cidade (MONDARDO, 2006, p.
67).
Em suas re�exões, o autor deixa claro que não devemos a�rmar que o �m do
meio rural ocorre por simples ação da in�uência do meio urbano, mas em
uma transformação profunda e que ambos os meios sofrem com tais ações.
Por essa razão, devem-se buscar novos meios, ou:
[...] só nos restarão duas direções: aceitar a idéia de que o rural foi ou está sendo se-
pultado pela expansão do urbano e, portanto, não é mais uma categoria descritiva
ou explicativa útil, ou considerar que rural e urbano sempre foram categorias inú-
teis para a análise (ALENTEJANO, 2010, p. 8).
Outros, que estão no campo, lutam para se manter no campo, para se reproduzir en-
quanto camponês. Mas vão além. Lutam pelo acesso a tudo aquilo que a cidade po-
de representar. O acesso à infraestrutura, às diferentes opções de lazer, à possibili-
dade de continuar estudando, à comunicação, ao encontro, à centralidade etc.
(GOLDFARB, 2006, p. 135-136).
Além das dos detalhes no âmbito social, podemos observar no físico natural
de ambas as realidades diferenças na paisagem que ao mesmo tempo podem
se facilmente notadas e outras que nem sequer são visualizadas, seja nas for-
mas, cores, sons e sensações.
A paisagem rural também possui seu colorido próprio. Entretanto, são cores mais
discretas e singelas, encantando mais pela sutileza do que pela intensidade e varie-
dade. A predominância de tons verdes é marcante nos espaços rurais, o que torna o
colorido da paisagem rural mais homogêneo. Durante a noite, as cores se escon-
dem sobre a penumbra em ambas as paisagens. Eis que uma outra diferença se ex-
pressa. Diferença percebida por um outro colorido, oriundo das luzes dos faróis dos
carros, dos postes de iluminação pública, dos luminosos. A paisagem urbana se di-
ferencia por essa intensidade de luzes, podendo ser percebida a quilômetros de dis-
tância. Na paisagem rural, as luzes encontram-se dispersas, quase isoladas, como
estrelas solitárias. Formas, cores e também sons (BAGLI, 2006, p. 180).
Portanto, como salienta Bagli (2006), precisamos nos atentar para as particu-
laridades da realidade brasileira e suas transformações, para a construção de
estratégias que não somente incentivem o crescimento e solidi�cação do
agronegócio, mas também apoiem o desenvolvimento social no rural.
Isto signi�ca que não apenas em relação ao modelo capitalista de vida, é im-
portante primar por melhorias na vida camponesa sem deixar para trás a cul-
tura e os saberes de cada comunidade. Além disso, é preciso buscar o campo
como uma forma de vida e trabalho e não somente como uma “válvula de es-
cape” para os problemas existentes na cidade.
Textos complementares
Segundo Adas (1988), fome signi�ca a situação que uma pessoa �ca, durante um
período prolongando, carente de alimentos que lhe fornecem energia necessária
ao desenvolvimento da vida e à saúde. Para ele, há dois tipos de fome:
Outra perspectiva a ser refuta é o “malthusianismo”, visto que a fome não é fruto
do crescimento populacional, embora a teoria de Thomas Robert Malthus tenha
ressurgido após a Segunda Guerra Mundial com objetivo de alertar a população
sobre os perigos do crescimento, de maneira especial, nos países subdesenvolvi-
dos o que em partes demonstra a fragilidade do discurso.
A fome e a renda são duas faces de uma mesma moeda, ou seja, não es-
tão dissociadas. Entre o alimento e a necessidade que o ser humano tem
de se alimentar interpõe-se o dinheiro. No caso das populações urbanas,
a alimentação de uma pessoa é diretamente proporcional a sua renda.
Quanto aos camponeses, o problema vai além da renda; relaciona-se
também com o acesso a terra, aos meios de produção, à estrutura fun-
diária e a outros aspectos [...] (ADAS, 1988, p. 28).
Observe que a fome e a pobreza não podem ser interpretadas com um “olhar sim-
plista” e por vezes “escamoteadas” com o avanço técnico e cientí�co do Primeiro
Mundo; é preciso entendê-la como algo arti�cial de conjunturas econômicas de-
feituosas, que foram criadas pelos homens, e, portanto, passíveis de ser alteradas.
[...] já em 1974 a FAO concluía que “[...] em termos mundiais, a quantida-
de de alimentos disponíveis é su�ciente para proporcionar a todo o
mundo uma dieta adequada”. Assim, a questão da fome não é discutida
de frente: é escamoteada. Consideram-se apenas os aspectos secundári-
os, negligenciando-se os principais: aqueles que resultam da maneira
como a sociedade está organizada. Os fatores políticos, sociais, econô-
micos e culturais são subestimados ou ignorados, como por exemplo:
Além dessa obra, Josué de Castro publicou outros títulos sobre o referido tema, em
destaque Geopolítica da fome e O livro negro da fome, os quais foram traduzidos
em diversos idiomas.
[...] foi um exemplo de homem público e de cientista; ele não negou aos
combates pela modernização, no sentido amplo, do país, pelas campa-
nhas de diminuição das diferenças sociais entre as pessoas e as classes,
assim como pela apresentação de soluções para os problemas regionais
e internacionais (ANDRADE, 2004, p. 118).
Cabe destacar, conforme os estudos Megido e Xavier (2003), que o termo agro-
business foi cunhado a partir da construção de uma metodologia para estrutu-
ração da cadeia agroalimentar.
Por essa razão, desde meados da década de 1970, o referido termo se tratava de
um processo que envolve alimentos, �bras e biomassa. Portanto, é, segundo os
autores, muito maior que simplesmente a produção rural, utilizando, para tan-
to, o exemplo de que o agrobusiness representa cerca de ¼ da economia mun-
dial.
Observe que, embora tenha um declínio no percentual, o valor total dos produ-
tos oriundos do agronegócio aumentou nas últimas décadas. Isso é muito sig-
ni�cativo, especialmente quando tratamos da produção e exportação dos pro-
dutos agrícolas, tal dimensão ainda é muito debatida, visto a inserção do
Brasil no comércio mundial, bem como o signi�cado particular do agronegó-
cio.
Oliveira (2003, p. 15) tece a seguinte indagação: “[...] qual o papel das exporta-
ções brasileiras no comércio mundial e em seu interior, qual o papel do agro-
negócio”?
Cabe ressaltar também o papel dos países da América do Sul que produzem
sob o regime internacional. Nesses países, foram introduzidos, além da meca-
nização, diversos pacotes, como por exemplo: as sementes transgênicas.
Um exemplo evidente desse processo é a compra de terra por parte das trans-
nacionais que passam a controlar o mercado de agrocombustíveis.
Figura 11 Propaganda da transnacional Syngenta representando área de quatro países onde predomina o monocultivo
da soja.
Há, desse modo, dois processos distintos que podem caminhar paralelamente
mesmo que exista uma disputa desleal, visto a desigualdades socioeconômi-
cas.
[...] o mercado futuro, portanto não substitui o mercado a termo, mas é um comple-
mento que permite proteção contra variações adversas de preço do ativo
(CARMONA, 2009, p. 74).
Dólares dos
Estados Unidos Décimo quinto
Março, maio,
da América por 270 sacas dia útil do mês
Açúcar agosto, outu-
saca de 50 quilos de 50 quilos anterior ao mês
cristal bro e dezem-
líquidos, com du- líquidos de vencimento do
bro
as casas deci- contrato
mais
Centavos de dó-
12,5 tonela-
lar dos Estados
das métri- Março, maio, Décimo dia útil
Unidos da
cas, equiva- julho, outu- anterior ao pri-
Algodão América por li-
lentes a bro e dezem- meiro dia do mês
brapeso, com du-
27.557,50 bro de vencimento
as casas deci-
libras-pesos
mais
Fevereiro,
março, abril,
Reais por ani- Último dia útil do
maio, junho,
Bezerro mal, com duas 33 animais mês de venci-
julho, agosto,
casas decimais mento
setembro e
outubro
Décimo quinto
Reais por metro 30 metros Março, maio,
dia útil do mês
Álcool cúbico (1.000 li- cúbicos agosto, outu-
anterior ao mês
Anidro tros), com duas (30.000 li- bro e dezem-
de vencimento do
casas decimais tros) bro
contrato
Dólares dos
Estados Unidos
Março, maio, Sexto dia útil an-
da América por 100 sacas
Café- julho, setem- terior ao último
saca de 60 quilos de 60 quilos
Arábica bro e dezem- dia do mês de
líquidos, com du- líquidos
bro vencimento
as casas deci-
mais
Dólares dos
Estados Unidos Janeiro,
Café- da América por 250 sacas março, maio, Último dia útil do
Robusta saca de 60 quilos de 60 quilos julho, setem- mês de venci-
Conillon líquidos, com du- líquidos bro e no- mento
as casas deci- vembro
mais
Fonte: (BOLSA DE MERCADORIAS E FUTUROS, 2003 apud CARMONA, 2009, p. 77).
Assim, não é demais lembrar que a produção dos três alimentos básicos no país, ar-
roz, feijão e mandioca, também não crescem desde os anos noventa, e mais, o
Brasil tornou-se o maior país importador de trigo do mundo. Portanto, o caminho
para a saída da crise e da construção de uma política de soberania alimentar conti-
nua sendo a realização de uma reforma agrária ampla, geral e massiva (OLIVEIRA,
2009, p. 15).
Texto complementar
No texto a seguir, você poderá analisar alguns dados referentes ao censo agrope-
cuário brasileiro, o que contribuirá teoricamente com a leitura do campo e das po-
líticas executadas nas últimas décadas.
Partindo deste censo, podemos veri�car quem produz o quê, como produz e onde
produz. É uma visão ampla principalmente para os meios de comunicações que
apregoam a produção da agricultura camponesa-familiar como parte da produção
do agronegócio.
Querem, portanto, compreender o agronegócio como totalidade é uma ideologia
que destrói a agricultura familiar ou camponesa; o que o censo desconstrói, visto a
distinção entre os projetos de desenvolvimento. Fica evidente que o agronegócio
não incorpora o campesinato, ele acaba fortalecendo-o.
Tabela 3 Utilização (por tipo de utilização) das terras nos estabelecimentos, se-
gundo a agricultura familiar: Brasil – 2006.
Leitura complementar
10. Considerações
Neste ciclo, foi possível analisarmos os modelos de produção no campo, os
con�itos agrários, a modernização do campo e da cidade no âmbito brasileiro.
Observamos, ainda, as perspectivas históricas do avanço do capitalismo e su-
as implicações no modo de produção e, sobretudo, nas transformações territo-
riais.
Por essa razão, precisamos entender os aspectos econômicos para além deles
mesmos, ou seja, os camponeses se reproduzem dentro e fora da lógica do
mercado, ora se submetendo à industrialização, ora avessos a ela.
/geobraagrmeiamb-gs0034-ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivo
• Analisar os impactos ambientais do desenvolvimento do capitalismo no
campo e as perspectivas do desenvolvimento sustentável.
Conteúdos
• Impactos ambientais rurais.
• Exploração dos recursos naturais.
• Desenvolvimento sustentável.
Problematização
Quais os impactos ambientais provocados pela expansão do capitalismo no
campo? É possível o desenvolvimento sustentável no campo? Quais as carac-
terísticas da agroecologia? Como a agroecologia se contrapõe ao agronegó-
cio?
Este é um tema signi�cativo na Educação Básica, pois aponta para uma pers-
pectiva direta de pensar a relação sociedade e natureza.
Esse modelo agrícola, projetado em escala nacional com a expansão das fron-
teiras agrícolas, carregou consigo a supressão de importantes formações ve-
getais, a destruição da biodiversidade genética e a erosão dos solos.
Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo a seguir, uma reportagem
que mostra os problemas ambientais provocados pelo desmatamento, e tam-
bém como isso impacta a vida das tribos indígenas.
Além disso, conheça o site Banco de Dados de Queimadas do Inpe
(https://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/bdqueimadas/), que apresenta uma
série de mapas e dados sobre as queimadas no Brasil. Por meio dos �ltros, vo-
cê poderá realizar uma pesquisa mais especí�ca também.
Portanto, eles enxergam sua vida no campo como uma totalidade; mesmo
quando estão subordinados ao mercado, demonstram um compromisso com a
terra de trabalho, e não apenas com o negócio.
Nesse contexto, podemos a�rmar que as relações sociais são enfatizadas, uma
vez que a escolha de como e para quem produzir só faz sentido se houver mer-
cado.
Já o mercado, por sua vez, não quer comprar qualquer coisa, especialmente se
pensamos nos gêneros alimentícios. Daí a proposição de pensarmos a quali-
dade dos alimentos, assim como os mecanismos que culminaram na sua pro-
dução.
O governo de FHC implantou o tido “novo mundo rural”, cuja importância para
o desenvolvimento do campo estava nos pequenos agricultores; são políticas
para tratar a questão agrária na ótica do capital e do mercado, destruindo as
formas históricas de luta dos trabalhadores (FERNANDES, 2001).
Tal enredo levou a criação da reforma agrária pelo correio na tentativa de des-
mobilizar os movimentos sociais. Outra discussão pertinente se refere à políti-
ca de crédito:
Nesse sentido, o governo FHC, por meio de seus projetos e ações, utilizou o
conceito de agricultura familiar – agricultor familiar – com um signi�cado
imbuído de projeções modernas, ou seja, apostaram que o camponês está so-
frendo uma metamorfose para alcançar o moderno, portanto, a�rmam que es-
tão fortemente inseridos nas relações de mercado e não exclusivamente de-
pendentes da agricultura (FELICIANO, 2006).
Nesse paradigma defende-se que o produtor familiar que utiliza os recursos técni-
cos e está altamente integrado ao mercado não é um camponês, mas sim um agri-
cultor familiar. Desse modo, pode-se a�rmar que a agricultura camponesa é famili-
ar, mas nem toda a agricultura familiar é camponesa, ou que todo camponês é agri-
cultor familiar, mas nem todo agricultor familiar é camponês. Criou-se, assim, um
termo supér�uo, mas de reconhecida força teórico-política (FERNANDES, 2001, p.
29-30, grifo do autor).
Note que a discussão de Bombardi (2003) é reveladora, uma vez que se trata de
um equívoco apontar esses camponeses como pequenos empresários; a lógica
do mercado é a lógica do lucro, do negócio, da mais-valia contrária à ordem
moral camponesa, que sabe que o negócio implica a perda de uma das partes,
conforme o estudo de Kass Woortmann (1990), intitulado Com parente não se
neguceia.
A questão vai além de de�nições concretas, pois o sistema a que estão subme-
tidos tanto o camponês como o agricultor familiar sugere a compreensão da
luta por um espaço político contra o capital, que mais destrói do que permite
condições saudáveis e igualitárias para a vida no campo.
Por essa razão, para o camponês, a terra tem um sentido de reprodução do es-
paço e da vida familiar com autonomia, autogestão e liberdade.
Dessa forma, a busca pela agricultura sustentável, com baixo uso de insumos
externos, diversi�cados e e�cientes em termos energéticos, representa uma
preocupação dos agricultores, ecologistas e críticos em todo o mundo.
[...] a educação parece ser um dos problemas mais urgentes, pois através dela se re-
cupera a integridade das pessoas enquanto cidadãos. A noção de direito de cidada-
nia é tão importante para discutir as temáticas do desenvolvimento sustentável,
como para reivindicar recursos �nanceiros e apoio do Estado. Outro problema pre-
sente em muitas comunidades agrícolas é a degradação ambiental, fruto de um
modelo de desenvolvimento baseado na substituição dos recursos naturais por re-
cursos industrializados. Para vencer estas di�culdades, os atores envolvidos nestes
trabalhos precisam ser criativos e aproveitar os recursos disponíveis localmente,
sejam ambientais, culturais, artesanais, industriais, econômicos e sociais (BORGES,
2000, p. 36).
Altieri (1987 apud ALTIERI, 2004, p. 65) defende que, para uma agricultura sus-
tentável com produção diversi�cada e de boa qualidade, os sistemas alternati-
vos devem ser empregados de acordo com a localidade agroecológica, buscan-
do solucionar as diversas necessidades dos agricultores, como “[...] a diversi-
dade agrícola no tempo e no espaço, através de rotações de culturas, cultivos
de cobertura, consorciações, sistemas de cultivo-criação etc.”.
Como você pode notar, várias das de�nições de sustentabilidade rural se ba-
seiam na manutenção da produção e do lucro para aos agricultores, mas, ao
mesmo tempo, buscam reduzir os impactos ambientais.
[...] a noção de sustentabilidade agrícola tem sido de uso limitado para formadores
de políticas e pesquisadores, na tentativa de determinar os efeitos das várias políti-
cas e tecnologias. Em outras palavras, os recursos necessários para o futuro não
devem ser esgotados para satisfazer o consumo de hoje. Os livros de�nem renda
como a quantidade máxima que pode ser consumida no presente no ano, sem re-
duzir o potencial de consumo nos anos futuros (isto é, sem reduzir os bens de capi-
tal) (ALTIERI, 2004 p. 81-82).
O preço que a geração atual e as posteriores pagarão ou pelo qual já estão sen-
do cobradas, é decorrente do crescente processo da prática do consumo dos
recursos não renováveis e da escassez de políticas concretas para reduzir os
danos ambientais contra a terra, o que tem se mostrado como uma perspecti-
va visível e preocupante da atualidade.
Mesmo que escassos, surgem, no cenário atual, bons exemplos para mostrar
como se faz para estimular a sustentabilidade e o desenvolvimento dos peque-
nos e médios agricultores.
Caporal (2009) cita o Rio Grande do Sul, onde demonstra que, sem a participa-
ção do Estado, não ocorre o chamado “desenvolvimento sustentável”.
No entanto, existe uma diversidade de correntes que podem ser agrupadas sob
esta de�nição, o que nos leva a conhecer um pouco da sua história.
Observe que tanto as experiências práticas quanto as re�exões teóricas sobre
agroecologia apresentaram, no Brasil, uma relevante presença a partir do �nal
da década de 1980 e princípios dos anos 1990, sendo grande parte em decor-
rência dos trabalhos das ONGs e cientistas ligados historicamente ao movi-
mento de agricultura alternativa.
Agroecologia nos faz lembrar uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente,
que promove a inclusão social e proporciona melhores condições econômicas para
os agricultores de nosso estado. Não apenas isso, mas também temos vinculado a
Agroecologia à oferta de produtos “limpos”, ecológicos, isentos de resíduos quími-
cos, em oposição àqueles característicos da Revolução Verde. Portanto, a
Agroecologia nos traz a idéia e a expectativa de uma nova agricultura, capaz de fa-
zer bem aos homens e ao meio ambiente como um todo, afastando-nos da orienta-
ção dominante de uma agricultura intensiva em capital, energia e recursos natu-
rais não renováveis, agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista soci-
al e causadora de dependência econômica (2002, p. 13).
Não são raras as vezes em que agroecologia tem se confundido com um mo-
delo de agricultura, com um produto ecológico, com uma prática ou tecnologia
agrícola e, até mesmo, com uma política pública.
Atualmente, a agroecologia tem se destacado com uma das opções para uma
agricultura sustentável, uma vez que, além de produzir produtos menos agres-
sivos à saúde, é, também, uma forma de promover qualidade de vida e subsis-
tência do pequeno agricultor e sua família, sem, no entanto, perder sua atua-
ção no mercado competitivo, com produtos agroecológicos e economicamente
solidários (CANDIOTTO; CARRIJO; OLIVEIRA, 2008).
Entendemos, portanto, que uma condição essencial para uma agricultura sus-
tentável é um ser humano consciente, cuja atitude em relação à natureza seja
de coexistência e não de exploração.
Agricultura orgânica
Segundo Bonilla (1992), por volta da década de 1930, o botânico inglês Albert
Howard, que trabalhava na Índia, deu início a uma pesquisa junto aos campo-
neses hindus que não usavam pesticidas nem fertilizantes, mas devolviam à
terra resíduos acumulados de vegetais e animais.
De acordo com as ideias de Conejero (et al., 2009), foi somente após os episódi-
os do “mal da vaca louca” e de contaminações por defensivos agrícolas que o
mercados dos orgânicos conseguiu se �rmar de forma sólida, dando lucro aos
produtores.
Nesse contexto, podemos re�etir sobre a ampliação das áreas de cultivos des-
ses produtos. “Em 2001, o Brasil detinha 270.000 hectares de área de produção
orgânica. Em 2003, o Brasil já contava com uma área aproximada de 841.000
hectares” (CONEJERO et al., 2009, p. 95).
Agricultura biodinâmica
Em paralelo ao surgimento da agricultura orgânica, eis que um �lósofo con-
ceituado, Rudolf Steiner, criador do movimento conhecido como
“Antroposo�a”, após ser consultado por um grupo de agricultores com proble-
mas nos animais e nas plantações, demonstrou na Polônia, em 1924, que o
cultivo da terra devia se ater a uma visão relacionada à grande in�uência dos
astros sobre as plantas e os animais. Surgia, portanto, a agricultura biodinâ-
mica.
Note que ele não considera essencial a associação da agricultura com a pe-
cuária e recomenda o uso de matéria orgânica advinda de outras fontes exter-
nas da propriedade, contrária aos biodinâmicos.
Agricultura natural
Surgida no Japão em 1935, com base nas ideias de Mokiti Okada, a agricultura
natural tem como princípio o respeito pelas leis naturais, com incentivo à ro-
tação de culturas, uso de adubos verdes, emprego de compostos e uso de co-
bertura morta sobre o solo.
Nesse tipo de agricultura, não são aceitas a remoção do solo nem a utilização
de dejetos de animais como fertilizantes, sendo a fertilização realizada por
meio do auxílio de microorganismos e compostos orgânicos de origem vegetal
(CANDIOTTO; CARRIJO; OLIVEIRA, 2008).
Por essa razão, na prática, o esterco animal é totalmente rejeitado, e esses pro-
dutos que são comercializados possuem fórmula e patentes detidas pelo fabri-
cante (CERVEIRA, 2002).
Permacultura
Segundo Mars (2008), no �nal dos anos 1970, surgiu o conceito de permacultu-
ra, que busca integrar todos os componentes do ecossistema e gerar paisagens
produtivas por meio de uma abordagem holística que possibilita um modo de
viver sustentavelmente e com praticidade.
[...] uma moldura que une muitas disciplinas, integrando assuntos sobre aqüicultu-
ra, horticultura, tecnologia solar, investimentos éticos, solos e muitos outros, onde
cada um contribui como uma parte do todo. [...] é uma integração harmônica de de-
sign com ecologia (MARS, 2008, p. 1-2).
Tal prática, que incorpora todos os aspectos dos seres humanos e de seus an-
seios, sugere que, para um design bem sucedido, os permacultores necessitam
atentar-se para cuidados éticos com a pessoa, o ambiente, os limites e redistri-
buição de excedentes, bem como buscar pela sustentabilidade de longo prazo,
o que os possibilita criar um sistema autogestionário (MARS, 2008).
Agro�orestas
Cabe ainda citar o termo agro�orestas, que se baseia na sucessão ecológica e
no desenvolvimento de estágios sucessivos na recuperação de áreas �orestais
devastadas, sendo que, em cada fase, se prioriza a utilização de espécies nati-
vas.
Em seu livro O negócio é ser pequeno, ele descreve que, para uma tecnologia
igualitária e bené�ca a um grande número de pessoas, é necessário:
AGRICULTURA AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL CONVENCIONAL
2) Atua considerando o
agrossistema como um
todo, procurando ante-
2) Atua diretamente so-
ver as possíveis con-
bre os indivíduos produ-
seqüências da adoção
tivos, visando somente
Aspectos tecnológicos das técnicas. O manejo
ao aumento da produção
do solo visa sua movi-
e da produtividade.
mentação mínima, con-
servando a fauna e a �o-
ra.
1) Retorno econômico
1) Rápido retorno econô-
em médio e longo prazo,
mico, com objetivo soci-
com elevado objetivo so-
al de classe.
cial.
Banco de sementes
Ao longo da história, agricultores e, especialmente, agricultoras, têm conser-
vado, selecionado e melhorado sementes, dando origem a uma grande diversi-
dade de cultivos e variedades utilizadas na produção agrícola, mantendo vari-
edades adaptadas a diferentes regiões por gerações.
Com a criação dos bancos de sementes, alguns acreditam que ainda é possível
preservar as verdadeiras sementes, mesmo que:
[...] a Revolução Verde tenha sido responsável pela perda de grande parte da diver-
sidade e variabilidade das plantas cultivadas, em função da transformação de
agroecossistemas em monocultivos de variedades de estreita base genética, existe
ainda hoje um número considerável de propriedades rurais que mantêm plantas
cultivadas que só foram melhoradas pelas mãos de agricultores e agricultoras, de-
nominadas variedades tradicionais, antigas, caseiras, ladrasses (raças da terra) ou
crioulas. Estas variedades, que detêm a maior variabilidade dentre as plantas culti-
vadas, são mantidas em grande parte através de bancos de sementes de agriculto-
res de todo o mundo e, principalmente, nos países em desenvolvimento (PELWING;
FRANK; BARROS, 2008, p. 416).
Tais sementes, que se adaptam aos diversos locais e às suas variações, têm
maior variação genética, estão de acordo com a agroecologia e permitem mai-
or liberdade ao produtor.
Isto nos remete à proposta de Novo Mundo Rural desenvolvida por José
Graziano da Silva (2002), em que aponta a necessidade de diversi�car as for-
mas de geração de renda. Tal discussão, conhecida como part-time-farmer
nos países desenvolvidos, equivalente a um “agricultor em tempo parcial”.
Tal interesse pelo meio rural como fonte de lazer e qualidade de vida se inten-
si�cou no Brasil por volta dos anos 1980, mais especi�camente no estado cata-
rinense, devido às di�culdades pelas quais passava o setor agropecuário, sen-
do as propriedades rurais abertas à visitação.
Desde então, tal atividade passou a ser considerada atividade econômica e ca-
racterizada como turismo rural, estendendo-se na atualidade, em todo territó-
rio nacional. Entende-se, ainda, que as atividades desenvolvidas na área rural
não possuem características do meio rural, e sim atividades de lazer, esporti-
vas, típicas dos moradores urbanos. Aspectos referentes ao turismo, ao territó-
rio, à economia local e aos recursos naturais e culturais norteiam o que consi-
deramos, na atualidade, “turismo rural”, conjunto de ações que visam melho-
rar a renda do trabalhador rural-camponês ao agregar valores aos produtos e
serviços e promover o resgate da cultural local (BRASIL, 2004).
Para Campanhola e Silva (2000) apud Cyrilo, Nascimento e Chehade (2005, p.
5):
Joaquim (2003) apresenta o fenômeno TER (Turismo em espaço rural), que te-
ve sua manifestação por volta de 1971 na França; um termo usado com
frequência na Europa, dando ênfase à ligação antiga do lazer com o meio rural
por meio de alojamento em casas de familiares e amigos e, posteriormente,
para as atividades secundárias, como curtos períodos de férias, e a importân-
cia do “retorno a terra”, resgatando as origens que muitos perderam ao viven-
ciar o êxodo rural.
Ainda nesse espaço, aceita-se o termo “agroturismo”, que é uma “[...] derivação
do turismo rural, mas caracteriza-se por uma interação mais efetiva entre o
turista com a natureza e as atividades agrícolas [...]” (BRASIL, 2004), como o
ecoturismo e turismo de aventura.
Por essa razão, a nomenclatura usada como “turismo rural”, “turismo urbano”
ou “turismo em espaço rural” está errônea. Outros tipos de atividade rural sur-
gem, como o turismo rural pedagógico, com visitas e atividades simuladas do
dia a dia na fazenda; o turismo rural com �nalidade acadêmica, unindo teoria
e prática de forma criativa e uma nova exploração. O Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST) acolhe em seus acampamentos e assenta-
mentos congressistas, voluntários, pesquisadores e simpatizantes que minis-
tram cursos sobre o movimento (RODRIGUES, 2003).
Nesse rol de modalidades em fase de expansão por todo o país, o turismo rural
também se complementa com o termo Ecoturismo, valorizado pela sua per-
cepção com a natureza e a humanização que integra a atratividade pelas pai-
sagens naturais e outras propostas desenvolvidas em harmonia com os agros-
sistemas.
Associar tais realidades no espaço brasileiro é uma feliz resultante, visto a ex-
tensa diversidade de paisagens naturais que servem de suporte nas diferentes
regiões, além de manifestações cotidianas que exprimem a singularidade do
meio rural (PIRES, 2003).
[...] os organismos gestores devem ser capazes de, além de adotar uma visão a mais
longo prazo, e estratégica, portanto, viabilizar a integração e a participação demo-
crática da comunidade no processo de planejamento do turismo, de modo a apro-
veitar as oportunidades que ele oferece, um tanto para dar impulso ao desenvolvi-
mento econômico e social quanto para a conservação ambiental (SILVEIRA, 2003, p.
141).
Agora, assista ao vídeo a seguir, que apresenta, de forma bem didática, a de�-
nição de agroecologia e sua importância na produção do campo, destacando
suas diferenças em relação à agricultura convencional.
9. Considerações
Neste ciclo, estudamos as formas de degradação dos recursos naturais provo-
cadas pelo modelo de desenvolvimento territorial no campo, baseado em me-
canização, uso de agrotóxicos e expansão de fronteiras agrícolas.
Vamos em frente?
(https://md.claretiano.edu.br
/geobraagrmeiamb-gs0034-ago-2022-grad-ead-np/)
Objetivo
• Identi�car os principais instrumentos de planejamento ambiental.
Conteúdos
• Conceitos básicos do planejamento ambiental.
• Zoneamento e licenciamento ambiental.
• Preservação e educação ambiental.
Problematização
Qual a importância do planejamento ambiental? Como os instrumentos da
Política Nacional do Meio Ambiente contribuem para a efetivação de políti-
cas ambientais? Como elaborar um zoneamento e um licenciamento ambi-
ental?
Bons estudos!
1. Introdução
Vamos, neste momento, tratar dos conceitos de política e planejamento ambi-
ental. Além disso, conheceremos os instrumentos de planejamento e discuti-
remos brevemente a educação ambiental.
2. Planejamento ambiental
O signi�cado da palavra planejamento é a "[...] elaboração, por etapas, com ba-
ses técnicas, de planos e programas com objetivos de�nidos" (HOLANDA, 1986
apud CASCAES, 2014, p. 13). Portanto, planejamento ambiental, segundo José
Afonso da Silva (2000, p. 774 apud CASCAES, 2014, p. 13), "[...] é um processo
técnico instrumentalizado para transformar a realidade existente no sentido
de objetivos previamente estabelecidos".
Isso quer dizer que, por meio de processos técnicos instrumentalizados, que
são de�nidos em um plano ou uma política ambiental, podemos transformar
ou adaptar as nossas ações para estabelecer objetivos de manutenção ou recu-
peração do equilíbrio do meio ambiente. Essas políticas devem sempre estar
baseadas em técnicas cientí�cas e na legislação ambiental, que possuem o es-
copo de estabelecer conteúdos e exigências mínimas para conquistarmos o
objetivo de manter o ambiente em equilíbrio.
O ser humano vem deixando sua marca no meio ambiente há mais de 100 mil
anos, provavelmente, desde a época em que conseguiu dominar o fogo.
Inicialmente, suas alterações do ambiente natural eram de pequena escala,
quase imperceptíveis, no entanto, elas foram se intensi�cando ao longo do
tempo, passando pela época da Revolução Agrícola, do uso de combustíveis
fósseis, até atingir o ápice no período em que vivemos, após o início de uma
forte intensi�cação da degradação ambiental com a Revolução Industrial.
Em toda a sua história, o planeta Terra já passou por cinco grandes extinções
de seres vivos. A mais conhecida delas foi a mais recente, há cerca de 65 mi-
lhões de anos, que ocasionou na extinção dos dinossauros, possivelmente pe-
los efeitos decorrentes do impacto de um asteroide próximo ao Golfo do
México. A mais desastrosa delas, entretanto, ocorreu há 145 milhões de anos,
quando os efeitos de atividades vulcânicas destruíram mais de 50% das espé-
cies de seres vivos marinhos.
Hoje em dia, fala-se que estamos no período da sexta grande extinção da his-
tória do planeta. A destruição de habitats, assim como o aquecimento global,
ambos causados pelo homem, são os principais motivos dessa grande extin-
ção, que está afetando tanto os seres animais quanto os vegetais. Dentre todas
as espécies, o ser humano é a que tem potencial risco de extinção, caso conti-
nuemos no ritmo que estamos hoje.
Vamos lá?
3. Conceitos
Política ambiental é um conjunto de princípios e direcionamentos que tem por
objetivo assegurar a qualidade e a preservação do meio ambiente. As políticas
ambientais podem ser públicas, quando emanadas pelo Poder Público por
meio de lei, ou privadas, quando a iniciativa para o seu estabelecimento é par-
ticular, como a implantação de um sistema de gestão ambiental em um em-
preendimento.
1. Meio ambiente natural: composto pelos ambientes naturais, tal como foi
criado e vem evoluindo sem a interferência humana.
2. Meio ambiente arti�cial: é o ambiente construído pelo ser humano, como
os centros urbanos, as edi�cações e outras alterações produzidas por ele.
3. Meio ambiente cultural: é composto pelo conjunto de valores histórico,
artístico e outros de valor cultural, criados ou não pelo homem.
4. Meio ambiente laboral: é o ambiente de trabalho do homem.
Para garantir o acesso ao meio ambiente, é necessário que ele esteja sadio e
equilibrado e que hajam políticas de disponibilização desse recurso à socieda-
de que, por sua vez, necessita de identi�cação dos objetivos e instituição de
um sistema de planejamento ambiental, envolvendo a criação de instrumen-
tos econômicos, políticos, legais e técnicos para o compor.
Dois séculos mais tarde, em 1815, José Bonifácio de Andrada e Silva fez a se-
guinte re�exão:
Se a navegação aviventa o comércio e a lavoura, não pode haver navegação sem ri-
os, não pode haver rios sem fontes, não há fontes sem chuvas, não há chuva sem
umidade, não há umidade sem �orestas [...] sem umidade não há prados, sem prado
não há gado, sem gado não há agricultura, assim tudo está ligado na imensa cadeia
do Universo e os bárbaros que cortam as suas partes pecam contra Deus e a nature-
za e são os próprios autores de seus males (PÁDUA apud PELICIONI, 2004, p. 432).
A partir dessa Conferência, a ONU criou um órgão que originou a ONG Earth
Council, com sede na Costa Rica, cuja missão foi de elaborar a Carta da Terra.
Esse documento é uma declaração universal de conduta para as pessoas, com
foco na sustentabilidade. Os princípios foram separados em quatro tópicos:
Por meio desses princípios, esse documento tem por objetivo examinar os va-
lores vigentes e escolher o caminho mais prudente.
O texto da lei contém princípios explícitos ou implícitos, que devem ser veri�-
cados sempre, seja pela lei seja pelo planejamento ambiental.
Podemos citar inúmeros documentos existentes que nada mais são do que
instrumentos de planejamento, tais como: legislação ambiental, estudos técni-
cos, escritos dirigidos à busca de soluções, publicação de novas tecnologias,
bases de dados ambientais, experiência subjetiva de pro�ssionais do meio am-
biente, dados físicos históricos da área, levantamento de questionários volta-
dos à população local, entre outros. No entanto, a simples existência desses
instrumentos não é su�ciente para a efetivação da preservação ambiental.
Assim como em uma orquestra, na qual os instrumentos devem ser tocados
para que a melodia seja produzida, esses instrumentos de planejamento têm
de ser efetivados, e sua caracterização tecnicamente realizada.
Carta do Rio
Princípio 1
Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sus-
tentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natu-
reza.
Princípio 2
Os Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios
do Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos
segundo suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a respon-
sabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem
danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdi-
ção nacional.
Princípio 3
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido, de modo a permitir que sejam
atendidas eqüitativamente as necessidades de gerações presentes e futuras.
Princípio 4
Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve consti-
tuir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada
isoladamente deste.
Princípio 5
Todos os Estados e todos os indivíduos, como um requisito indispensável para o
desenvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a
pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atender
às necessidades da maioria da população do mundo.
Princípio 6
Princípio 7
Os Estados devem cooperar, em um espírito de parceria global para a conservação,
proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre.
Considerando as distintas contribuições para a degradação ambiental global, os
Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Os países desenvol-
vidos reconhecem a responsabilidade que têm na busca internacional do desen-
volvimento sustentável, em vista das pressões exercidas por suas sociedades so-
bre o meio ambiente global e das tecnologias e recursos �nanceiros que contro-
lam.
Princípio 8
Para atingir o desenvolvimento sustentável e mais alta qualidade de vida para to-
dos, os Estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de produção e
consumo e promover políticas demográ�cas adequadas.
Princípio 9
Os Estados devem cooperar com vistas ao fortalecimento da capitação endógena
para o desenvolvimento sustentável, pelo aprimoramento da compreensão cientí-
�ca por meio do intercâmbio de conhecimento cientí�co e tecnológico, e pela in-
tensi�cação do desenvolvimento, adaptação, difusão e transferência de tecnologi-
as, inclusive de tecnologias novas e inovadoras.
Princípio 10
A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no ní-
vel apropriado, de todos os cidadãos interessados. Em nível nacional, cada indiví-
duo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que
disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e ati-
vidades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar
em processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a
conscientização e participação pública, colocando a informação à disposição de
todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrati-
vos, inclusive no que diz respeito à compensação e reparo de danos.
Princípio 11
Os Estados devem adotar legislação ambiental e�caz. Padrões ambientais e objeti-
vos e prioridades em matéria de ordenação ao meio ambiente devem re�etir o
contexto ambiental e de desenvolvimento a que se aplicam. Padrões utilizados por
alguns países podem resultar inadequados para outros, em especial países em de-
senvolvimento, acarretando custos sociais e econômicos injusti�cados.
Princípio 12
Os Estados devem cooperar para o estabelecimento de um sistema econômico in-
ternacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvol-
vimento sustentável em todos os países, de modo a possibilitar o tratamento mais
adequado dos problemas de degradação ambiental. Medidas de política comercial
para propósitos ambientais não devem constituir-se em meios para imposição de
discriminações arbitrárias ou injusti�cáveis, ou em barreiras disfarçadas ao co-
mércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento de
questões ambientais fora da jurisdição do país importador. Medidas destinadas a
tratar de problemas ambientais transfronteiriços ou globais devem, na medida do
possível, basear-se em um consenso internacional.
Princípio 13
Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e
indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais. Os Estados de-
vem, ainda, cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de
normas de direito internacional ambiental relativas à responsabilidade e indeni-
zação por efeitos adversos de danos ambientais causados em áreas fora de sua ju-
risdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.
Princípio 14
Os Estados devem cooperar de modo efetivo para desestimular ou prevenir a rea-
locação ou transferência para outros Estados de quaisquer atividades e substânci-
as que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde hu-
mana.
Princípio 15
De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser ampla-
mente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver
ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza cientí�ca
não deve ser utilizada como razão para postergar medidas e�cazes economica-
mente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
Princípio 16
Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da
poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos
custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o
interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.
Princípio 17
A avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreen-
dida para atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerá-
vel sobre o meio ambiente e que dependam de uma decisão de autoridade nacio-
nal competente.
Princípio 18
Os Estados devem noti�car imediatamente a outros Estados quaisquer desastres
naturais ou outras emergências que possam gerar efeitos nocivos súbitos sobre o
meio ambiente destes últimos. Todos os esforços devem ser empreendidos pela
comunidade internacional para auxiliar os Estados afetados.
Princípio 19
Os Estados devem prover, oportunamente, a Estados que possam ser afetados noti-
�cação prévia e informações relevantes sobre atividades potencialmente causado-
ras de considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o meio ambiente, e
devem consultar-se com estes tão logo quanto possível e de boa fé.
Princípio 20
As mulheres desempenham papel fundamental na gestão do meio ambiente e no
desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial para a promoção
do desenvolvimento sustentável.
Princípio 21
A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo devem ser mobilizados
para forjar uma parceria global, com vistas a alcançar o desenvolvimento susten-
tável e assegurar um futuro melhor para todos.
Princípio 22
As populações indígenas e outras comunidades, bem como outras comunidades
locais, têm um papel fundamental na gestão do meio ambiente e no desenvolvi-
mento, em virtude de seus conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados de-
vem reconhecer identidade, cultura e interesses dessas populações e comunida-
des, bem como habituá-las a participar efetivamente da promoção do desenvolvi-
mento sustentável.
Princípio 23
O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos à opressão, domi-
nação e ocupação devem ser protegidos.
Princípio 24
A guerra é, por de�nição, contrária ao desenvolvimento sustentável. Os Estados
devem, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à proteção do
meio ambiente em tempos de con�ito armado e cooperar para seu desenvolvi-
mento progressivo, quando necessário.
Princípio 25
A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisí-
veis.
Princípio 26
Os Estados devem solucionar todas as suas controvérsias ambientais de forma pa-
cí�ca, utilizando-se dos meios apropriados, em conformidade com a Carta das
Nações Unidas.
Princípio 27
Os Estados e os povos devem cooperar de boa fé e imbuídos de um espírito de par-
ceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração e para o
desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo do desenvolvi-
mento sustentável (IPHAN, 1995).
A Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída pela Lei nº 6.938/81, con-
siderada a lei mais importante em matéria ambiental. Foi criada após a políti-
ca ambiental que estava sendo desenvolvida contínua e internacionalmente,
cujo registro histórico mais importante foi o Encontro de Nações de
Estocolmo, que ocorreu no ano de 1992.
Essa lei conceitua, sistematiza e fornece bases para a instituição da ação am-
biental integrada no Brasil, �xando os objetivos e princípios norteadores da
política ambiental brasileira. Seu principal objetivo é:
Quando a Lei nº 6.938/81 fala que deve ser assegurada a "[...] qualidade ambi-
ental propícia à vida", isso quer dizer que o meio ambiente não é um ambiente
que deve ser mantido como originalmente se concebeu, sem interferência hu-
mana. A lei a�rma que deve ser assegurado que o meio ambiente esteja em
um padrão minimamente exigido para possibilitar a criação e manutenção
natural da vida, em todas as suas formas existentes. Portanto, a Lei não quer
tornar o ambiente como algo intocável, mas sim algo passível de uso, algo que
pode ser conceituado como recurso, ou seja, aquilo que pode ser utilizado.
Também, ao a�rmar que o meio ambiente deve ser sadio, "[...] visando assegu-
rar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]"
(BRASIL, 2011), a Lei está rea�rmando que um meio ambiente de qualidade é
essencial para uma vida digna, de acordo com os anseios do ser humano, tal
como o desenvolvimento de uma nação, seja esse desenvolvimento industrial,
político, social, cultural, urbano etc. A nossa vida está intimamente ligada ao
meio ambiente e dele não se pode dissociar, por isso, ele deve ser preservado.
Objetivos
O Artigo 4º da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente delimita os objetivos
da política nacional brasileira. Segundo essa lei, Artigo 5º, todas as diretrizes
em matéria ambiental que sejam destinadas a orientar a ação de governos da
União, dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios deve-
rão ser formuladas em normas e planos, observando os princípios expostos
anteriormente, além dos objetivos apresentados a seguir, que são:
I – a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação
da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II – a de�nição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e
ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios;
III – o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas
relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV – o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o
uso racional de recursos ambientais;
V – a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, a divulgação de dados e
informações ambientais e a formação de uma consciência pública sobre a necessi-
dade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;
VI – a preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utiliza-
ção racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do
equilíbrio ecológico propício à vida;
VII – a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou inde-
nizar os danos causados, e ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos
ambientais com �ns econômicos (adaptado de BRASIL, 1981).
O SISNAMA é composto por uma rede de órgãos ambientais, cada uma com
atribuições especí�cas:
I – órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente
da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais
para o meio ambiente e os recursos ambientais;
II – órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), com a �nalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos
naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões com-
patíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qua-
lidade de vida; [...] (BRASIL, 2011).
Instrumentos
Instrumentos são os meios pelos quais se faz valer as regras focadas no de-
senvolvimento sustentável, ou seja, a compatibilização das atividades econô-
micas com a preservação do meio ambiente.
Texto complementar
As relações do ser humano com o mundo natural são determinadas pelas mais di-
versas concepções que, em geral, focalizam o homem como elemento extrínseco
ao meio ambiente e superior a ele. Em particular, a concepção antropocentrista
(que predominou na cultura judaico-cristã do Ocidente) pretendeu dar ao ser hu-
mano poderes ilimitados e inquestionáveis sobre o Planeta Terra.
Essa problemática pode ser considerada sob o ponto de vista geral e amplo do re-
lacionamento do ser humano com o mundo natural ou de determinada sociedade
com o meio ambiente – não apenas o do seu entorno imediato, mas, ainda, aquele
que é atingido por uma ação à distância – uma vez que as demandas de recursos
naturais e a produção de rejeitos não conhecem limites e levam seus impactos pa-
ra longe, aonde não se cogitava chegar. Basta olhar para o comércio internacional
e as guerras tecnológicas da atualidade.
Relacionar-se signi�ca dizer respeito a, referir-se a, ter a ver com. Toda relação su-
põe os termos e os fundamentos relacionais. Termos relativos são aqueles que não
podem existir sem um outro num contexto dado; por exemplo, pai e �lho são ter-
mos relativos, um supõe o outro. O fundamento relacional, no caso, é a paternida-
de ou a �liação.
Ser humano e mundo natural são termos relativos: um não pode prescindir do ou-
tro, mesmo porque a espécie humana faz parte do mundo natural e não pode viver
sem ele. Por seu turno, o ecossistema planetário não pode prescindir da espécie
humana, seja como integrante, seja como responsável histórica pelos seus desti-
nos. Ser humano e mundo natural, assim como sociedade e meio ambiente, são
termos relativos, porque há um compromisso entre ambos, laços de interesse mú-
tuo; em síntese, um tem a ver com o outro. O fundamento relacional é a qualidade
ambiental para o planeta e qualidade de vida para a espécie humana.
Pelo visto, pode-se concluir que a essência da questão ambiental situa-se precisa-
mente no relacionamento da espécie humana com o conjunto do mundo natural.
Em poucas palavras, os fundamentos relacionais (cientí�cos, econômicos, sociais,
culturais e políticos) precisam ser radicalmente revistos com aquela atenção que
se dedica às autópsias.
Objetivos e diretrizes
O objetivo do zoneamento ambiental é subsidiar as decisões dos agentes públi-
cos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que utilizem
os recursos naturais, direta ou indiretamente, assegurando a consecução do
desenvolvimento sustentável. Para isso, deve-se levar em conta:
• A importância ecológica.
• As limitações e fragilidades dos ecossistemas.
• Estabelecer vedações, restrições e alternativas de exploração do territó-
rio.
7. Zoneamento ambiental
Modalidades de zoneamento ambiental
Segundo Moraes (2002), há duas formas de zoneamento ambiental: o zonea-
mento urbano e o zoneamento rural. O zoneamento urbano será abordado
mais adiante, especi�camente na temática sobre planejamento ambiental ur-
bano. Agora, focaremos, apenas, o zoneamento rural.
Para uma melhor compreensão da matéria, Moraes (2002), subdivide o zonea-
mento ambiental rural em três fases:
Essa primeira fase se trata do zoneamento que deve ser realizado a nível fede-
ral, ou seja, em todos os estados, pelo Ministério do Meio Ambiente. Até hoje,
esse zoneamento em escala federal ainda não foi realizado e consiste em letra
morta no papel.
O proprietário de uma área pode utilizar seu espaço da maneira que lhe convi-
er, porém, deve respeitar os interesses sociais, como a função social de sua
propriedade e a conservação do meio ambiente. Essas limitações serão encon-
tradas na de�nição de zoneamento na qual sua propriedade se enquadrar.
Regiões Norte,
Centro-Oeste e 1:1.000 a 1:250.000
ZEE dos esta-
Nordeste
dos ou re-
giões Região Sudeste,
Sul e Zona 1:250.000 a 1:100.000
Costeira
Os ZEE estaduais, regionais e locais poderão ser reconhecidos pela União caso
tenham sido referendados pela Comissão Estadual do ZEE, aprovados pelas
Assembleias Legislativas Estaduais e compatibilizados com o ZEE estadual,
no caso dos ZEE regionais e locais.
Conteúdo
A divisão do território em zonas, que consiste no próprio zoneamento ambien-
tal, deve estar de acordo com as necessidades de proteção, conservação e re-
cuperação dos recursos naturais (Quadro 3), porém, ela também deverá consi-
derar outros aspectos, como a utilidade e simplicidade, de modo que sua im-
plementação e compreensão pelos cidadãos seja facilitada.
Elementos
Planejar a melhor maneira de dividir um território em áreas com �nalidades
diferenciadas não é uma tarefa simples, já que ele requer uma equipe de pro-
�ssionais com diferentes formações e uma integração racional e concreta dos
dados investigados.
Milaré (2009) detalha os passos que podem ser seguidos em um estudo de zo-
neamento ambiental:
As alterações dos produtos do ZEE, como mudança nos limites das zonas ou
indicações de novas diretrizes, deverão ocorrer após dez anos da conclusão ou
última modi�cação no zoneamento. Uma exceção a esse prazo pode ocorrer
no caso da modi�cação aumentar o rigor da proteção ambiental ou atualiza-
ções decorrentes de aprimoramento técnico-cientí�co. As alterações, no en-
tanto, não poderão reduzir o percentual da reserva legal de�nido na Lei, nem
áreas protegidas de qualquer natureza (BRASIL, 2002).
Tais alterações poderão ocorrer após consulta pública e aprovação pela
Comissão estadual do ZEE e pela Comissão Coordenadora do ZEE (BRASIL,
2002).
Texto complementar
Caracterização do município
São José do Rio Preto está localizado no Noroeste Paulista, a 452 km de São Paulo
e a 600 km de Brasília. O distrito sede do município se localiza nas coordenadas
20º49’11” de latitude Sul e 49º22’46” de longitude Oeste. Sua área é de 434,10 km²,
sendo 96,81 km² de área urbana e 337,29 km² de área rural, o que corresponde a
pouco mais de 20% do seu território. Sua população, de acordo com dados do
Censo Demográ�co – 2000, era de 358.523 habitantes, sendo 337.289 (94%) na zona
urbana.
O município está localizado na bacia hidrográ�ca do rio Preto, uma das 12 sub-
bacias da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Bacia Turvo/Grande
(UGRHI 15, conforme a subdivisão vigente no Estado de São Paulo). A bacia do Rio
Preto, com 2.866,60 km2, é a que possui maior área dentre as sub-bacias que com-
põem a UGRHI.
De�nição do local
O estudo elaborado para o caso em questão, ainda que não tenha recorrido a um
grande volume de informações – pela mera inexistência de tais informações –
amparou-se nos aspectos metodológicos descritos no presente trabalho. Sendo as-
sim, o zoneamento ambiental foi elaborado com base nas informações existentes
– tipos de solo, declividade do terreno, infra-estrutura, recursos hídricos, uso e
ocupação do solo, complementadas por informações especí�cas obtidas por meio
de trabalhos de campo para a interpretação de imagens orbitais e para a realiza-
ção de um levantamento geotécnico especí�co.
Figura 3 Relevo da área de estudo e alternativas de�nidas após o zoneamento ambiental preliminar.
Assim sendo, executou-se um estudo comparativo entre duas áreas com essas ca-
racterísticas. A primeira área, localizada junto à con�uência do córrego São Pedro
com o rio Preto, no limite da área urbana, recebeu a denominação de alternativa
“A”. A segunda área está situada na margem direita do rio Preto, mais afastada da
zona urbana, a jusante da con�uência deste com o córrego do Talhado, denomina-
da alternativa “B”. Ao �nal das avaliações, e uma vez que ambas as áreas não
apresentavam grandes diferenças quanto aos impactos ambientais que seriam ge-
rados, além de apresentarem um desempenho com relação à diluição dos e�uen-
tes da ETE que atende ao enquadramento dos corpos d’água, decidiu-se que a al-
ternativa B seria a mais adequada, por contemplar um afastamento maior da zona
urbana permitindo uma margem de segurança temporal para a adoção de medi-
das que viessem a orientar a expansão do município, no sentido de manter a cida-
de afastada da estação.
Uma vez que já havia sido efetuada uma avaliação especí�ca sobre uma segunda
área (considerada, pela viabilidade ambiental veri�cada após a elaboração do zo-
neamento ambiental preliminar, como uma alternativa locacional), o órgão esta-
dual responsável pela avaliação do pedido de licenciamento solicitou apenas uma
complementação sucinta ao RAP inicialmente encaminhado, focalizando alguns
temas especí�cos sobre a área B, apresentada a partir desse momento como a área
sobre a qual seria implementada a ETE (MONTAÑO, 2007, p. 49-64).
1. Relatório ambiental.
2. Plano e projeto de controle ambiental.
3. Relatório ambiental preliminar.
4. Diagnóstico ambiental.
5. Plano de manejo.
6. Plano de recuperação de área degradada.
7. Análise preliminar de risco.
• parcelamento do solo;
Atividades diversas • distrito e polo industrial.
• silvicultura;
• exploração econômica da madeira ou lenha e
subprodutos �orestais;
• atividade de manejo de fauna exótica e criadouro
de fauna silvestre;
Uso de recursos na- • utilização do patrimônio genético natural;
turais • manejo de recursos aquáticos vivos;
• introdução de espécies exóticas e/ou genetica-
mente modi�cadas;
• ·uso da diversidade biológica pela biotecnologia.
9. Etapas do licenciamento
De acordo com o Artigo 10º da Resolução CONAMA nº 237/97, o licenciamento
ambiental tem oito etapas:
Espécies de licença
Há três espécies de licença a serem concedidas pelos órgãos ambientais com-
petentes, as quais conheceremos, detalhadamente, a seguir.
Nível federal
Em nível federal, a expedição do licenciamento cabe ao Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pelo qual de-
vem ser licenciados os empreendimentos ou as atividades com signi�cativo
impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:
Nível estadual
Segundo o CONAMA (2011), ao órgão ambiental estadual, ou do Distrito
Federal, compete o licenciamento dos empreendimentos e atividades com as
seguintes características:
Nível municipal
Ao órgão ambiental municipal compete o licenciamento dos empreendimen-
tos ou atividades de:
Texto complementar
O empreendimento
O Rodoanel Mário Covas – Trecho Sul Modi�cado é uma obra do Governo de São
Paulo, sob a responsabilidade da Dersa, com, aproximadamente, 57 km de exten-
são, que tem como objetivo principal facilitar e reduzir os custos da transposição
da RMSP, principalmente por veículos de transporte de cargas, que não terão que
se utilizar do sobrecarregado sistema viário metropolitano, bem como atender os
�uxos de transporte com origem ou destino na metrópole.
A análise do EIA/RIMA foi realizada pelo DAIA, tendo como base, as vistorias téc-
nicas e novas manifestações de outros órgãos, como: as prefeituras municipais re-
lacionadas à rodovia; a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(CETESB); o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT); o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); a Empresa de
Planejamento Metropolitano do Estado de São Paulo (EMPLASA); o Instituto de
Botânica (IBt); o Ministério Público Estadual; o Ministério Público Federal, entre
outros.
Para a emissão das catorze Licenças de Instalação foram estabelecidos três níveis
de prioridade: A, B e C, sendo consideradas na primeira categoria as obras de arte
das intersecções do Rodoanel com os grandes eixos rodoviários e com as represas,
com ações pouco representativas em termos de supressão de vegetação.
Foram incluídos na prioridade B os grandes trechos da futura rodovia, cujas obras
requerem as ações mais signi�cativas de supressão de vegetação e a categoria C,
que corresponde aos trechos urbanizados da futura rodovia.
Além disso, assista ao vídeo a seguir, que mostra, de forma bem didática, a im-
portância do zoneamento ambiental.
Dica de leitura!
A educação ambiental é um tema muito amplo e complexo. Para que vo-
cê possa re�etir e buscar sempre, em suas ações e práticas pedagógicas,
considerar a importância da sustentabilidade, faça a leitura do texto O
sujeito ecológico: a formação de novas identidades na escola (https://re-
positorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/8680/2/O_sujeito_ecologi-
co_a_formacao_de_novas_identidades_culturais_na_escola.pdf), de
Carvalho (2013).
Sugerimos, agora, que você re�ita sobre sua aprendizagem, realizando a ques-
tão a seguir.
13. Considerações
Neste último ciclo, estudamos um pouco sobre o planejamento ambiental, bem
como pontos centrais da política ambiental.
Desejamos que os estudos realizados tenham contribuído para que você, futu-
ro docente da área, aproveite todas as potencialidades de seus alunos, respei-
tando, também, as suas necessidades, fazendo com que eles olhem o mundo
em todas as suas dimensões, sintam-se valorizados e enxerguem a autonomia
de "como se aprende".