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1. Introdução
Seja bem-vindo(a)! Você iniciará o estudo de Cartogra�a, Geogra�a Urbana e
da População, uma das disciplinas que compõem os cursos de graduação na
modalidade EaD.

Essa disciplina está dividida em cinco ciclos de aprendizagem, cada um deles


correspondendo a um grupo de conteúdos e objetivos especí�cos.

Tais conteúdos e objetivos visam contribuir para a formação do professor de


Geogra�a que atuará nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino
Médio, com competência ética, política e técnica, além de habilidades e co-
nhecimentos voltados ao domínio de saberes geográ�cos e pedagógicos, ou
seja, com um per�l pro�ssional capaz de traduzir os conhecimentos especí�-
cos de sua área em linguagens e signi�cados coerentes com o estudo e a
aprendizagem geográ�ca na Educação Básica.

A proposta desta disciplina visa compreender os conceitos, os processos, a es-


trutura, o conteúdo do espaço e do sistema urbano e articulá-los aos estudos
dos indicadores e dinâmicas populacionais. Propicia, também, precedente a
essa parte, o conhecimento básico necessário, a partir do qual o aluno possa
construir um referencial teórico com base sólida sobre a linguagem universal
da Cartogra�a, área fundamental para o ensino da Geogra�a.

Além disso, a disciplina se pauta pelos princípios da pesquisa como estratégia


educativa e da formação para o entendimento das demandas educacionais da
atualidade, de modo a formar pro�ssionais comprometidos em seus processos
de auto(trans)formação, da produção acadêmica para a mudança da realidade
e da constituição das identidades e capacidades propositiva, investigativa e
criativa.
Por �m, os estudos dessa disciplina objetivam contribuir para a formação de
um professor-pesquisador da própria prática, capaz de constante avaliação
crítica a respeito de suas ações.

2. Informações da Disciplina
Ementa
A Cartogra�a, Geogra�a Urbana e da População   colabora para a formação
pro�ssional do futuro professor de Geogra�a, no sentido de pensar as repre-
sentações grá�cas, enquanto uma Linguagem, e, portanto, exigindo conheci-
mentos cientí�cos e técnicos, mas também como fenômeno cultural e social.
São objetos de estudo: as Representações Grá�cas que, apesar de serem ver-
sões particulares como será exposto nos Fundamentos da Cartogra�a, descre-
vem relações espaciais a partir da visualização de imagem e de um conjunto
de dados que permitem leitura, análise e interpretações do mundo. Para tanto,
analisa-se Conceitos, Processos, Estrutura e Conteúdo do espaço e do sistema
urbano e articula-os aos estudos dos Indicadores e Dinâmicas Populacionais.
Neste sentido, aborda a História da Cartogra�a, a coletânea de Signos e os ele-
mentos cartográ�cos e aspectos que permitem a leitura e utilização de mapas,
tanto da Cartogra�a Sistemática quanto da Temática. A disciplina aborda ain-
da a Evolução do Sensoriamento Remoto aplicado à Geogra�a. No desenvolvi-
mento da Geogra�a Urbana e o seu Campo de Estudo aborda Conceitos,
Práticas Socioespaciais e Con�itos Socioambientais nas dimensões da análise
urbana e o Crescimento das cidades e Redes Urbanas. E aborda ainda o
Planejamento e a Produção do Espaço, a leitura do Planejamento e da Política
Urbana e a Metropolização do Espaço. Por �m, apresenta os Fundamentos da
Geogra�a da População e o Crescimento Demográ�co, além das principais
Estrutura da População. E os Movimentos Migratórios.

Objetivo Geral
Compreender os fundamentos e os princípios teóricos da Cartogra�a
Sistemática e Temática, bem como do Sensoriamento Remoto aplicado à
Geogra�a, e estudar os conceitos, os processos, a estrutura e o conteúdo do es-
paço e do sistema urbano e articulá-los aos indicadores e dinâmicas populaci-
onais.
Objetivos Especí�cos
• Conhecer os princípios teóricos da Cartogra�a Sistemática e da
Cartogra�a Temática e suas relações com a Geogra�a.
• Compreender os conceitos básicos e a evolução do Sensoriamento
Remoto.
• Compreender o campo e o objeto da Geogra�a Urbana, bem como os prin-
cipais conceitos referentes a estrutura e a dinâmica das cidades e do sis-
tema urbano.
• Identi�car os processos de crescimento urbano e a constituição de redes
urbanas bem como conhecer a teoria sobre o planejamento urbano e sua
aplicação no Brasil.
• Re�etir sobre os indicadores utilizados na análise populacional e aplicar
os conceitos e fundamentos da geogra�a urbana e da análise populacio-
nal na interpretação da realidade urbana local.
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Prática Pedagógica

Olá! Seja bem-vindo(a) ao ambiente de orientação da Prática Pedagógica de


Cartogra�a, Geogra�a Urbana e da População. Aqui, você encontrará as infor-
mações necessárias para a construção e o desenvolvimento da proposta de
prática.

É importante ressaltar que a Prática Pedagógica é parte fundamental de seu


curso, pois visa à formação docente conforme de�nição da BNC - Educação
Básica, constituindo-se como estratégia para aprimorar as aprendizagens es-
senciais para a atuação docente, relacionadas aos aspectos intelectual, físico,
cultural, social e emocional, a partir da vivência do cotidiano escolar e da inte-
ração teoria e prática.

 Para ler a íntegra dessa recente legislação, conhecida como BNC-Formação, clique aqui
(https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-n-2-de-20-de-dezembro-de-2019-234967779).

Em conformidade com esse princípio e a legislação vigente, foram estabeleci-


dos alguns requisitos ao desenvolvimento da Prática Pedagógica, os quais se-
rão importantes para garantir o efetivo cumprimento desse componente curri-
cular:

1. Inicialmente, deverá ser efetivado o ajuste formal entre o Claretiano -


Centro Universitário (instituição formadora) e a escola parceira ou conve-
niada, com preferência para as instituições de ensino públicas.

2. A realização da Prática Pedagógica deverá ser acompanhada pelo profes-


sor/tutor do Claretiano e por um professor experiente da escola onde o es-
tudante a desenvolve, com vistas à integração entre o curso e o campo de
atuação.
3. A Prática Pedagógica estará presente em todo o percurso formativo do es-
tudante, com a participação da equipe docente do curso, devendo ser de-
senvolvida em uma progressão que, partindo da familiarização inicial
com a atividade docente, conduza, de modo harmônico e coerente, no
qual a prática deverá ser engajada e incluir a mobilização, a integração e
a aplicação do que foi aprendido nas disciplinas, bem como deve estar
voltada à resolução dos problemas e das di�culdades vivenciadas.

4. Os relatórios elaborados pelo estudante durante o desenvolvimento da


Prática Pedagógica deverão ser enviados no Portfólio da disciplina, com-
pilando as evidências das aprendizagens requeridas para a atuação do-
cente.

1. Como desenvolver a Prática Pedagógica?


O desenvolvimento da Prática Pedagógica pressupõe atividades presenciais e
virtuais incluindo visitas e observação de ambientes escolares, protocolo de
documentos, além do envio de relatórios na ferramenta Portfólio da Sala de
Aula Virtual.

A Prática Pedagógica será desenvolvida ao longo de todo o semestre letivo, di-


vidida em etapas, com dois momentos de entrega de relatórios, indicados no
cronograma da disciplina e descritos no material didático. As etapas compre-
endem a seguinte sequência:

1. Identi�cação.

2. Caracterização.

3. Observação.

4. Planejamento.

5. Aplicação.

6. Relatório Final.
Para ter acesso a descrição das etapas do desenvolvimento da Prática Pedagógica desta disciplina, con-
sulte os Ciclos 2 e 4 nas ferramentas Plano de Ensino e Portfólio.

Todo o acompanhamento da realização da Prática Pedagógica �cará a cargo


do professor/tutor a distância, que fará a orientação de todas as etapas e a va-
lidação dos documentos, sempre supervisionado pelo professor responsável
da disciplina.

A Prática Pedagógica é parte integrante do Sistema de Avaliação da Aprendizagem da dis-


ciplina. Para cada uma das etapas de realização, haverá uma pontuação especí�ca, totali-
zando 13 pontos, caso você obtenha o desempenho máximo.
A carga horária da Prática Pedagógica será de 100h, distribuídas nas etapas que a com-
põem.

2. Etapas de desenvolvimento da Prática


Pedagógica

Portfólio 1

Horas Totais
Atribuídas
Atividade Nota
20h

Planejamento e orga-
Etapa 1 nização da Prática 5h
Pedagógica. 3.0 pontos
Contextualização da
Etapa 2 15h
Prática Pedagógica.

Portfólio 2
Horas Totais
Atribuídas
Atividade Nota
80h

Observação de ambi-
Etapa 3 entes e situações de 15h
aprendizagem - aula.

Elaboração do plano
Etapa 4 de aula ou da sequên- 20h 10 pontos (3.0 pontos
cia didática. dedicados à
Fundamentação
Desenvolvimento da Teórica)
Etapa 5 25h
prática (regência)

Elaboração e entrega
Etapa 6 do relatório crítico- 20h
re�exivo.

3. Ofícios e Documentos
Nas diferentes etapas da Prática Pedagógica, será necessária a geração, preen-
chimento e assinatura de diferentes documentos obrigatórios disponíveis na
SAV (ferramenta Material). Veja quais são eles:

• Pedido de Autorização para Prática Pedagógica de Estudante (download)


(https://md.claretiano.edu.br/hisartprehiscon-gp0041-fev-2022-grad-ead-
p/wp-content/uploads/sites/17/2020/12/PedAutPraPedEst-1.doc): docu-
mento o�cial, de caráter pessoal e intransferível, por meio do qual o aluno
faz a solicitação e a emissão do documento, submetendo-o à assinatura
da instituição conveniada.

• Termo de Compromisso para Práticas Pedagógicas (download)


(https://md.claretiano.edu.br/hisartprehiscon-gp0041-fev-2022-grad-ead-
p/wp-content/uploads/sites/17/2020/12/TerComPraPed.docx): documento
o�cial, de caráter pessoal e intransferível, por meio do qual o aluno faz a
solicitação e a emissão do documento, submetendo-o à assinatura da ins-
tituição conveniada, de modo a convencionar entre as partes o que caberá
a cada uma delas durante a realização da Prática Pedagógica.

• Declaração de Comprovação de Prática Pedagógica (download)


(https://md.claretiano.edu.br/hisartprehiscon-gp0041-fev-2022-grad-ead-
p/wp-content/uploads/sites/17/2020/12/DecComPraPed.docx): documen-
to o�cial, de caráter pessoal e intransferível, por meio do qual o aluno faz
a solicitação e emissão do documento, submetendo-o à assinatura do pro-
fessor/supervisor responsável da escola onde ele desenvolve sua Prática
Pedagógica.

Importante:
Caso você realize a Prática Pedagógica de mais de uma disciplina em uma mesma escola, o Pedido de
Autorização para Prática Pedagógica de Estudante e o Termo de Compromisso para Práticas Pedagógicas
poderão ser únicos. Lembre-se, apenas, de sempre enviá-los nos respectivos Portfólios de cada disciplina.

4. Sistema Avaliativo
As disciplinas com carga horária de Prática Pedagógica terão uma estrutura
avaliativa diferente das demais, com atividades que serão desenvolvidas pre-
sencialmente em ambientes escolares, em etapas que deverão ser cumpridas
de acordo com o cronograma da disciplina.

Além das atividades direcionadas à Prática Pedagógica, a disciplina terá co-


mo instrumentos avaliativos: Fórum de Abertura, Questões Online e Avaliação
Semestral Interdisciplinar (ASI).

No quadro a seguir, veja como está estruturado todo o sistema avaliativo das
disciplinas nessa modalidade:

Valor/pon-
Instrumento Composição Aplicação Ciclo
tos
2 questões re- 2,0
Questões
ferentes a cada (0,40 por ci-
Online SAV Todos
ciclo de apren- clo)
dizagem

     
Fórum de
Interatividade SAV 1º 2,0
Abertura
 
   
   
1ª e 2ª etapas
Portfólio 1 SAV 2º 3,0
da atividade
 

  Prova interdis-
ciplinar objeti-
  va, formada
por 6 questões
NOTA de múltipla es-
1 colha, que con- Aplicada
Avaliação
templam os de modo
Semestral
conteúdos e as online, Todos 3,0
Interdisciplinar
competências com aces-
(ASI)
de todas as so na SAV.
disciplinas do
semestre letivo
em um único
instrumento de
avaliação

Relatório Final
das Práticas
 
Portfólio 2 Pedagógicas    
NOTA
Relatório �nal desenvolvidas SAV 4º 10,00
2
e documenta-
ção comproba-
tória
5. Aprovação/Validação da Prática
A aprovação da Prática Pedagógica estará atrelada ao atendimento dos objeti-
vos propostos. A não realização da atividade proposta gerará dependência da
disciplina.
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Ciclo 1 – O Espaço Como Representação

Carolina Doranti Tiritan

Objetivos
• Compreender as representações grá�cas enquanto uma linguagem.
• Analisar o espaço como representação.
• Introduzir os fundamentos teóricos da Cartogra�a, apresentando algu-
mas de�nições e a metodologia cartográ�ca.

Conteúdos
• Representações grá�cas enquanto uma Linguagem, exigindo conheci-
mentos cientí�cos e técnicos, mas também como fenômeno cultural e
social.
• Novos desa�os teóricos para o mapa a partir da análise do espaço como
representação.
• Introdução aos fundamentos da Cartogra�a, algumas de�nições e meto-
dologia cartográ�ca.

Problematização
O que são representações grá�cas? Quais são os novos desa�os teóricos para
os mapas? O espaço como representação: por que a necessidade da
Cartogra�a? Quais são os fundamentos teóricos e as de�nições da
Cartogra�a? Qual a relação entre Cartogra�a e Geogra�a? O que é localização
e orientação?

Orientação para o estudo


Neste ciclo, ao realizar as leituras recomendadas, atente-se aos ciclos e tópi-
cos correspondentes, para não fugir ao tema estudado. Assista aos vídeos su-
geridos e não deixe de responder ao Quiz.

Bons estudos!

1. Introdução
Neste primeiro ciclo de aprendizagem, estudaremos as representações grá�-
cas enquanto uma linguagem, e propomos um olhar para os novos desa�os
teóricos para o mapa a partir da análise do espaço como representação. Por
�m, veremos uma introdução dos fundamentos da Cartogra�a, apresentando
algumas de�nições e a metodologia cartográ�ca.

Bons estudos!

2. A Representação Grá�ca: Uma Linguagem


Quando se fala em mapas, imediatamente se faz associação à Geogra�a. É um as-
pecto eminentemente cultural. Os mapas, portanto, representariam a Geogra�a, tu-
do o que é geográ�co. Tais construtos seriam a própria Geogra�a, portanto, sinôni-
mo (MARTINELLI, 2020).

A citação anterior abre a introdução do livro Mapas da Geogra�a e Cartogra�a


Temática, do livro de Marcello Martinelli (2020), que aborda uma síntese da
evolução dessa técnica com a produção de uma cartogra�a temática, pensan-
do em uma geogra�a atuante. O livro é uma das referências desta disciplina, e
indicamos que você continue a leitura dessa introdução, assim como o con-
teúdo das páginas 13 à 22, e veja como o autor expõe a representação grá�ca
como uma linguagem.

 Pronto para saber mais?


Faça a busca pelo nome da obra na página da Biblioteca Virtual Pearson,
para ler a Introdução e as páginas solicitadas da obra Mapas da
Geogra�a e Cartogra�a Temática, de Marcelo Martinelli (2020).

Vimos que o autor inclui as representações grá�cas no universo da comunica-


ção que, por sua vez, faz parte da comunicação social. Ou seja, é uma lingua-
gem e possui uma coletânea de signos que devem ser estudados. E essa apren-
dizagem ocorre, de modo sistemático, principalmente no âmbito escolar, nas
aulas de Geogra�a.

Vamos aprofundar assistindo ao vídeo "As Representações Cartográ�cas".


Nele, a Cartogra�a será de�nida por pesquisadores renomados da
Universidade de São Paulo, sendo um deles a nossa referência introdutória
deste ciclo, Marcello Martinelli. Será apresentado um breve histórico da evolu-
ção das representações cartográ�cas, bem como o ensino da cartogra�a nas
escolas.

Vamos aprofundar a história da cartogra�a no próximo ciclo de aprendiza-


gem, mas esperamos que o vídeo tenha contribuído em todos os aspectos cita-
dos anteriormente e, principalmente, para sua prática, permitindo a observa-
ção em sala de aula com comentários dos melhores especialistas.

Construída a ideia de que a cartogra�a é uma linguagem e permite uma comu-


nicação visual, vamos analisar o espaço como representação.

3. O espaço como Representação


Neste tópico, veremos uma discussão a partir da proposição de novos desa�os
teóricos para o mapa, a partir da a�rmação de uma virada cartográ�ca. Para
isso, faça a leitura das páginas 42 à 54 da obra de Carlos e Cruz (2019), intitula-
da A necessidade da Geogra�a.

 Vamos aprender mais sobre a necessidade da Geogra�a?

Este livro é um projeto feito a várias mãos e que traz componentes im-
portantes sobre a Geogra�a. Portanto, recomendamos que faça a busca
pelo nome da obra A necessidade da Geogra�a (CARLOS; CRUZ, 2019), que
está disponível na Biblioteca Virtual Pearson.

Com a leitura do artigo indicado a seguir, esperamos esclarecer que estamos


em um novo momento e, hoje, o desa�o se encontra na percepção do espaço
por todos, especialmente das crianças e adolescentes que nascem utilizando
os dispositivos tecnológicos digitais. De acordo com o autor, "a virada carto-
grá�ca está se construindo sob o desa�o de enfrentar e expressar novas dinâ-
micas espaciais presentes em nossa realidade". Ou seja, é imposição de reali-
dade e um desa�o grande para o ensino da Geogra�a/Cartogra�a.

 Que tal aprofundarmos mais sobre a virada cartográ�ca?

Para dar sequência e aprofundar um pouco mais a respeito desse desa�o


que temos pela frente, propomos a leitura do artigo Uma virada cartográ-
�ca? (LÉVY, 2008), que nos apresenta nas páginas 153 a 167  uma provo-
cação quando diz que, no fundo, estamos diante de uma "virada geográ�-
ca", na medida em que estamos discutindo as "relações entre nossas so-
ciedades e seus espaços". Assim, se propõe uma discussão para pensar o
mapa.   Para ler o artigo Uma virada cartográ�ca? (LÉVY, 2008), clique
aqui (http://beu.extension.unicen.edu.ar/xmlui/handle/123456789/364).

Reconhecendo que a linguagem cartográ�ca e a linguagem geográ�ca devem


ser retomadas, re�etindo sobre essa relação entre ambas e o ensino da
Geogra�a, e aí considerando um desa�o o contexto das novas tecnologias e a
formação da percepção do espaço pelo estudante, passamos para o próximo
artigo Mapas desejantes: uma agenda para a Cartogra�a Geográ�ca (GIRARDI,
2009), que propõe uma discussão entre o que é "desejo do cartógrafo" e o mapa
desejante (qual a "realidade do usuário do mapa"). Essa intersecção, de acordo
com as referências do artigo, quanto mais próxima, maior será a possibilidade
de acertos (adequações) na escolha pela linguagem cartográ�ca.

 O "desejo do cartógrafo" e o mapa desejante!

Para acessar o artigo Mapas desejantes: uma agenda para a Cartogra�a


Geográ�ca (GIRARDI, 2009), clique aqui (http://www.scielo.br/pdf/pp
/v20n3/v20n3a10.pdf).

4. Cartogra�a: Conceito e De�nições


A Cartogra�a não é apenas uma representação espacial de acontecimentos re-
ais, isto é, a espacialização dos fenômenos em forma de símbolos e imagens
que facilitam a localização e a leitura da informação, mas também uma forma
de codi�cação e representação do espaço e dos fenômenos ocorridos nele.

De início, estudaremos as principais de�nições de Cartogra�a e as razões pe-


las quais ela pode ser considerada uma ciência e ao mesmo tempo uma arte.
Depois disso, conheceremos um pouco da linguagem cartográ�ca, ou seja,
quais os símbolos e signos utilizados e quais as regras de uma utilização raci-
onal dessa linguagem.

Posteriormente, serão apresentadas as relações estabelecidas entre


Cartogra�a e Geogra�a, pois, mesmo havendo diversas ciências ligadas à
Cartogra�a, nenhuma é tão próxima quanto a ciência geográ�ca, pois ambas
se utilizam do espaço e seus elementos para a construção da sua própria ciên-
cia.

O professor de Geogra�a utilizará a Cartogra�a como um instrumento de apoio


à construção do saber geográ�co e, ao ensiná-la ao aluno, seja do ensino fun-
damental seja do ensino médio, o levará a interpretar e compreender os fenô-
menos ocorridos no espaço, que estarão representados nos mapas por meio da
linguagem cartográ�ca.

Algumas de�nições de cartogra�a


A Cartogra�a constitui-se na elaboração de cartas e mapas, ou seja, na espaci-
alização de uma ou várias informações. Em 1964, a Associação Cartográ�ca
Internacional (ACI) adotou a seguinte de�nição de Cartogra�a:

Conjunto de estudos e operações cientí�cas, artísticas e técnicas, baseado nos re-


sultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à ela-
boração e preparação de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como
sua utilização (ACI, 2012).

De acordo com essa de�nição, a Cartogra�a é considerada tanto uma arte


quanto uma ciência. No entanto, Oliveira (1988) a�rma que ela não pode ser
uma ciência, como a Geogra�a ou Geologia, nem uma arte, que produz diferen-
tes emoções, conforme a sensibilidade de cada um.

Não é uma ciência nem uma arte, mas é, sem dúvida alguma, um método cientí�co
que se destina a expressar fatos e fenômenos observados na superfície da Terra e,
por extensão, na de outros astros como a Lua, Marte etc., através de simbologia pró-
pria (OLIVEIRA, 1988, n. p.).

Já Duarte (2002, p. 21) considera que tanto a ciência como a arte fazem parte
das atividades que dizem respeito à Cartogra�a e, segundo o autor, ela pode
ser considerada uma ciência porque:

Constitui-se (a Cartogra�a) num campo de atividade humana que requer desenvol-


vimento de conhecimentos especí�cos, aplicação sistemática de operações de
campo e de laboratório, planejamento destas operações, metodologia de trabalho,
aplicação de técnicas e conhecimentos de outras ciências, tudo com vistas à obten-
ção de um documento de caráter altamente técnico (o mapa).
Para Duarte, se considerarmos o fato de que um mapa precisa respeitar deter-
minados aspectos técnicos, como clareza e objetividade, além de ser agradá-
vel aos olhos do leitor e apresentar expressividade e sensibilidade, a
Cartogra�a pode ser entendida como uma arte.

Você pode se perguntar: como podemos utilizar produtos cartográ�cos em


nosso dia a dia sem que sejamos geógrafos ou professores e estudantes de
Geogra�a? A resposta para essa pergunta é simples. Desde a pré-história, os
homens se preocupam com a localização dos territórios de suas ações e tam-
bém com a espacialização de suas rotas. Essa preocupação em representar o
ambiente ao seu redor de maneira duradoura sempre existiu e pode ser cons-
tatada nas pinturas rupestres, nas cascas de árvores e em outros materiais
disponíveis aos homens pré-históricos.

Como você pode perceber, essa preocupação persiste até hoje e se faz mais
evidente com o aumento da tecnologia e com o avanço da globalização. A so-
ciedade necessita cada vez mais dos mapas e das cartas, tanto para localizar-
se, como para obter informações sobre a localização de fenômenos como: o au-
mento da população, a criminalidade, a ocorrência de algum con�ito, ou ainda
para identi�car determinadas feições geográ�cas – como �orestas, desertos e
rios. Essas informações cartográ�cas estão sempre presentes nos meios de
comunicação, como jornais, revistas, televisão e internet.

Com a introdução da informática na cartogra�a, a partir de meados dos anos


1970, qualquer pessoa com acesso a internet pôde obter informações como a
pesquisa de rotas, mapas etc. Além disso, o advento da informática e a intro-
dução de seu uso no fazer cartográ�co desenvolveram seu potencial interati-
vo. Os sistemas de informação geográ�ca (SIG), a multimídia e a internet tor-
naram a cartogra�a interativa na medida em que, quando colocados para tra-
balhar a favor da cartogra�a, permitem que o usuário “converse” não mais
com o cartógrafo, mas com o mapa (RAMOS, 2005).

Assim, o objetivo da cartogra�a tem mudado. Hoje toda uma linha de pesquisa
em cartogra�a, decorrente do movimento de visualização cartográ�ca, busca o
estabelecimento de parâmetros para novas relações entre o leitor e o mapa.
Ramos (2005, p. 16), fala sobre a comunicação e visualização cartográ�ca:

De um lado está a comunicação cartográ�ca, relacionada à apresentação de resul-


tados para um público amplo, sem a utilização de recursos interativos; do outro, a
visualização cartográ�ca, baseada na exploração individual dos componentes do
mapa em um ambiente interativo, para que o usuário realize suas próprias buscas e
análises e, portanto, chegue a um conhecimento novo.

A partir desta ideia pode-se dizer que a visualização cartográ�ca é um proces-


so de apreensão de conhecimento derivado da visualização cientí�ca. Esse
conceito, segundo o autor mencionado anteriormente, pode ser encontrado
também na bibliogra�a como “visualização geográ�ca” ou “geovisualização” –
termos que se referem à visualização espacial em que o mapa desempenha
papel preponderante.

Segundo Dürsteler (2002) a palavra visualização cartográ�ca pode ser de�nida


como a formação de uma imagem mental de um conceito abstrato, e essa de�-
nição pode ser tomada como ponto de partida para re�exão. Por exemplo, por
conceito abstrato entende-se algo que não seja visível, ou seja, a visualização é
um processo que não envolve necessariamente a visão. Já por imagem men-
tal entende-se a construção mental de conhecimento. Desse modo, a visuali-
zação se relaciona à forma como as informações recebidas pelo cérebro hu-
mano são transformadas em conhecimento.

Ramos (2005 apud MacEacheren et al., 1992, p. 101), defende que:

[...] os métodos da cartogra�a temática desenvolvidos no século XVIII podem ser


compreendidos como a origem da visualização geográ�ca (aqui a termilogia adota-
da pelos autores):

[...] o uso de representações visuais concretas – seja em papel seja por meio de
computador ou outra mídia – para tornar contextos e problemas espaciais visíveis,
engajando-se às mais poderosas habilidades humanas para o processamento de
informação, aquelas associadas à visão.

Ramos (2005, p. 39) discorre que:


A de�nição adotada pela Comissão de Visualização e Ambientes Virtuais da
Associação Cartográ�ca Internacional enfatiza o processo de visualização carto-
grá�ca, desde a exploração dos dados até a apresentação dos resultados. A comis-
são de�ne visualização geográ�ca como:

Visualização geográ�ca (GVis) pode ser de�nida como uma forma de visualização
de informações baseadas em mapas que enfatiza o desenvolvimento e a avaliação
de métodos visuais desenhados para facilitar a exploração, análise, síntese e apre-
sentação de informação georreferenciada. GVis possui uma ênfase que combina o
desenvolvimento de teoria, ferramentas e métodos, e no entendimento de como as
ferramentas e métodos são usados para propiciar o entendimento e facilitar a to-
mada de decisão.

Ainda de acordo com o autor citado anteriormente:

A visualização não é apenas uma nova abordagem cartográ�ca, mas também uma
nova forma de pensar a aplicação da cartogra�a como instrumentos de pesquisa.

[...]

O processo de comunicação cartográ�ca pode ser visto como um conjunto de eta-


pas que visam à transmissão de uma mensagem da mente do cartógrafo para a
mente do usuário; ao longo desse processo a mensagem passa por uma série de
transformações.

Assim, pode-se admitir que a cartogra�a constitui-se enquanto conjunto de


estudos e operações cientí�cas, artísticas e técnicas que, mediante a obtenção
dos resultados das observações diretas ou da exploração de uma documenta-
ção, tem como �nalidade a elaboração e/ou o estabelecimento dos mapas (até
sua impressão de�nitiva e/ou publicação).

Linguagem cartográ�ca
Segundo Joly (1990, p. 13), a Cartogra�a pode ser considerada uma linguagem,
pois “utiliza uma gama de símbolos compreensíveis por todos, com um míni-
mo de iniciação”. Como uma linguagem, a Cartogra�a exprime, mediante o
emprego de signos, um pensamento e um desejo de comunicação com outras
pessoas, embora ela seja uma linguagem exclusivamente visual.

Para compreendermos melhor as propriedades dessa linguagem, devemos en-


tender a Semiologia grá�ca, área de estudo ligada às diversas teorias e formas
de representação, as quais, quando aplicadas à Cartogra�a, permitem analisar
as vantagens e os limites das variáveis visuais empregadas na simbologia
cartográ�ca.

Carvalho e Moura (2008 apud Joly, 1991) relatam que:

A Semiologia grá�ca está ao mesmo tempo ligada às diversas teorias das formas e
de sua representação e às teorias da informação, desenvolvidas pela psicologia
contemporânea. Aplicada à cartogra�a, ela permite avaliar as vantagens e os limi-
tes das variáveis visuais empregadas na simbologia cartográ�ca e, portanto formu-
lar as regras de uma utilização racional da linguagem cartográ�ca.

Encerrada durante muito tempo dentro de limites técnicos bastante restriti-


vos, porém magni�camente superados, hoje essa linguagem modi�ca-se rápi-
da e consideravelmente pela introdução vigorosa dos métodos da informática
e da automação.

Por essa razão, é possível elaborar regras para uma utilização lógica da lin-
guagem cartográ�ca (JOLY, 1990). Esta linguagem apresenta componentes e
variáveis que dão ao mapa a vantagem de permitir a representação dos obje-
tos observados na superfície terrestre em um plano, mantendo sua posição ab-
soluta e suas relações em distâncias e direções.

Os componentes mais importantes são:

1. Componentes de localização: as componentes de localização são aquelas


que podem ser determinadas por duas dimensões privilegiadas num pla-
no, perpendicular uma à outra; São as chamadas coordenadas geográ�-
cas, ou seja, x a longitude e y a latitude. O produto das grandezas x e y de-
termina uma superfície.
Dessa maneira, o plano cartográ�co é uma �gura do espaço que possui
propriedades métricas consideráveis, ou seja, a coordenada geográ�ca é a
componente que faz com que um mapa seja superior a uma simples �gu-
ra ou a um croqui, pois já está de�nida e padronizada mundialmente. Por
meio da coordenada geográ�ca é possível obter a localização exata das
coisas e dos lugares no globo terrestre, de modo que a longitude represen-
ta as direções leste e oeste, e a latitude as direções norte e sul.
2. Componentes de quali�cação: a componente de quali�cação é o “z”, ou se-
ja, um terceiro valor no plano. O “z” nada mais seria do que o dado ou con-
teúdo existente no lugar, podendo ser qualitativo, quantitativo ou ambos.
Trata-se de uma modulação do fundo do mapa por uma mancha (cor ou
sinal), que ocupa uma superfície mais ou menos extensa, conforme o ca-
so. – e conhecida como implantação da mancha sobre o plano. Distingue-
se três modos de implantação, de acordo com a extensão do objeto ou do
fenômeno tal como ele existe no campo:

• Implantação pontual - quando a superfície ocupada é insigni�cante, mas lo-


calizável com precisão.
• Implantação linear - quando sua largura é desprezível em relação a seu com-
primento, o qual, apesar de tudo, pode ser traçado com exatidão.
• Implantação zonal - quando cobre no terreno uma superfície su�ciente para
ser representada sobre o mapa por uma superfície proporcional homóloga
(DINIZ, 2002) .

A combinação dos dois componentes geográ�cos e de um componente de


quali�cação constitui uma imagem cartográ�ca.

Para Pancher (2012 apud Joly, 1990), “um mapa pode ser uma imagem carto-
grá�ca simples ou uma �gura formada pela associação de várias imagens car-
tográ�cas percebidas ao mesmo tempo pelo leitor”. Essas imagens, por de�ni-
ção, estão destinadas a ser vistas e lidas por um observador e, portanto, o car-
tógrafo deve, como o pintor ou o desenhista, dobrar-se às leis psico�siológicas
da percepção visual.

Essa é uma das maiores restrições da criação cartográ�ca. No arsenal dos pro-
cedimentos grá�cos, o cartógrafo deve escolher os que facilitarão a leitura rá-
pida e a assimilação da informação por um usuário não obrigatoriamente es-
pecializado.

Dentro disso, o cartógrafo dispõe, de acordo com Bertin (1973, n. p.), de seis va-
riáveis retinianas, ou variáveis visuais, por meio das quais pode exprimir a di-
ferenciação local dos componentes de quali�cação. Essas seis variáveis são as
seguintes:

Forma da mancha, geométrica ou �gurativa, permite ao mesmo tempo uma quali�-


cação precisa dos objetos e uma boa percepção de sua similitude ou de suas dife-
renças.

Tamanho, ou dimensão da superfície da mancha, pode ser proporcional ao do obje-


to a representar, constituindo-se na melhor expressão de uma comparação entre
quantidades distintas.

Orientação, na ausência da cor, é uma boa variável seletiva, sobretudo em implan-


tação zonal.

Cor ou tonalidade é a variável mais forte, facilmente perceptível e intensamente


seletiva, é a mais delicada para manipular e a mais difícil de utilizar.

Valor (intensidade), ou matiz da cor, é resultado de uma adição à cor pura ou cor
“chapada” de certa quantidade de branco que enfraquece a tonalidade e permite di-
ferenciar subgrupos de um conjunto de um mesmo tamanho ou da mesma forma, e
também um bom meio de classi�cação para ordenar uma série progressiva.

Granulação, ou estrutura da mancha, é uma modulação da impressão visual forne-


cida por variações de tamanho dos elementos �gurados, sem modi�cação da pro-
porção de cor e de branco por unidade de superfície; assim como o valor, a granula-
ção é uma boa variável seletiva e, secundariamente, de classi�cação de uma série
ordenada.

No quadro presente na Figura 1 você visualizará o conjunto dessas variáveis e


sua relação com as componentes qualitativas. É importante ressaltar que cada
uma das variáveis visuais tem suas propriedades perceptivas, mas nenhuma
delas possui todas ao mesmo tempo.
Fonte: Joly (2005, p. 73).

Figura 1 Variáveis visuais, suas propriedades visuais e modos de implantação.

Teoricamente, é possível combinar inúmeras variáveis em um mesmo ponto


do plano, para que �quem caracterizadas diversas qualidades de um mesmo
objeto. Muitas vezes se faz necessário utilizar essa mesma combinação (forma
+ cor, por exemplo), para reforçar a percepção das semelhanças. Cabe então à
pessoa que está elaborando o mapa escolher as qualidades que deixarão a in-
formação mais inteligível e mais transmissível.

Nesse sentido, é importante conhecer o emprego desta linguagem cartográ�ca


nas aulas de Geogra�a. Veja a indicação de um importante artigo que faz men-
ção a esse assunto:
 Que tal aprofundarmos sobre a linguagem cartográ�ca?

Recomendamos a leitura de A linguagem cartográ�ca e o ensino-


aprendizagem da geogra�a: algumas re�exões (LIMA, 2012), que faz uma
revisão de literatura e expõe considerações referentes à utilização da lin-
guagem cartográ�ca no ensino-aprendizagem da Geogra�a Escolar. Para
realizar a leitura, clique aqui (https://periodicos.ufsm.br/geogra�a/article
/view/7338/4377).

 Vídeos complementares

Agora, para entender melhor a linguagem Cartográ�ca e o desenvolvi-


mento do pensamento espacial, acompanhe o vídeo a seguir:

Segundas Geográ�cas - A Linguagem Cartográ�ca e o desenvolvimento


do Pensamento Espacial (https://www.youtube.com/wat-
ch?v=X8Z_Iuy3E0M)

Na sequência, indicamos mais um vídeo. Desta vez você vai acompanhar


uma aula com o Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias, intitulada "Como men-
tir com mapas (https://www.youtube.com/watch?v=a-MDhFVIQL0)".

Para fechar este ciclo de aprendizagem e o tópico, indicamos dois podcasts. O


primeiro do canal Geografando, que fala sobre Cartogra�a e a representação da
Terra. Já o segundo é do canal Geogra�a em Pauta, que faz uma breve análise
dos aspectos cartográ�cos.
 

Neste momento, re�ita sobre sua aprendizagem respondendo à questão a se-


guir.

5. Considerações
Chegamos ao �nal do primeiro ciclo de aprendizagem. Até aqui foi apresenta-
do a você que a Cartogra�a não se trata apenas da construção de cartas e ma-
pas, mas também da leitura e interpretação destes, a partir de uma linguagem
própria.

Por meio dela, é possível localizar diversos acontecimentos e ações no espaço


geográ�co. A cartogra�a está presente em nosso dia a dia, em jornais, revistas,
websites, na busca pela melhor rota, na previsão do tempo, entre outros.

Vimos que as novas tecnologias digitais vêm mudando e já é certo que muda-
ram a nossa percepção espacial, este será um desa�o para os professores de
Geogra�a.

No último tópico deste ciclo, você teve uma imersão sobre as de�nições e os
conceitos da cartogra�a e sugerimos alguns materiais multimídias como ví-
deos e podcasts que lhe auxiliam na aprendizagem.

No próximo ciclo vamos continuar estudando a Cartogra�a.  Vamos nos apro-


fundar olhando para a história e a evolução das técnicas, vamos diferenciar
cartogra�a sistemática da temática, bem como analisar o Sensoriamento
Remoto aplicado à Geogra�a.
(https://md.claretiano.edu.br/cargeourbpop-

gp0049-ago-2022-grad-ead-p/)

Ciclo 2 – O Espaço como Representação

Carolina Doranti Tiritan

Objetivos
• Conhecer a História da Cartogra�a.
• Estudar e identi�car a coletânea de Signos e os elementos cartográ�cos.
• Diferenciar e compreender a Cartográ�ca Sistemática e a Cartogra�a
Temática.
• Analisar Sensoriamento Remoto aplicado à Geogra�a.

Conteúdos
• História da Cartogra�a.
• A coletânea de Signos;
• Elementos cartográ�cos e aspectos que permitem a leitura e utilização
de mapas, tanto da Cartogra�a Sistemática quanto da Temática.
• Evolução do Sensoriamento Remoto aplicado à Geogra�a.

Problematização
Como evoluiu a Cartogra�a? Quais são os fundamentos teóricos da
Cartogra�a? Qual a relação entre Cartogra�a e Geogra�a? O que é localização
e orientação? O que é e como se calcula a escala cartográ�ca? A Cartogra�a é
uma arte ou uma ciência? Quais são os tipos de projeções cartográ�cas exis-
tentes? Qual a diferença entre Cartogra�a Sistemática e Cartogra�a
Temática? Quais os principais conceitos relacionados à leitura e à utilização
de mapas e grá�cos? Como é trabalhada a linguagem cartográ�ca no ensino
de Geogra�a? Como o sensoriamento remoto é aplicada à Geogra�a?
Orientação para o estudo
Para o melhor aproveitamento deste ciclo de estudos, acesse os materiais
complementares para ampliar seus conhecimentos quanto aos temas abor-
dados. Assista ao(s) vídeo(s) sugerido(s) e não deixe de responder ao quiz. Ele
não vale nota, mas testa seus conhecimentos.

Bons estudos!

1. Introdução
Neste segundo ciclo de aprendizagem, conheceremos a História da
Cartogra�a, passando pelos signos e os elementos cartográ�cos que permitem
a leitura crítica das representações grá�cas. Além disso, será apresentado as-
pectos que permitem a caracterização e diferenciação entre cartogra�a siste-
mática e cartogra�a temática. Por �m, será analisado o Sensoriamento
Remoto aplicado à Geogra�a.

Bons estudos!

2. História da Cartogra�a
A História da cartogra�a é paralela com o desenvolvimento das técnicas e, a
partir de uma Geogra�a sistematizada (século XIX), reconhecemos que os ma-
pas da Geogra�a sempre foram destaques e um diferencial para esta ciência.
Enquanto disciplina, a associação entre Geogra�a e o mapa ocorre até hoje.
Para iniciar este ciclo de aprendizagem, realize a leitura do artigo Os Mapas da
Geogra�a, de Marcello Martinelli, que aborda na história, o momento em que
houve o franco desenvolvimento de mapas solicitado para atender a demanda
de uma produção geográ�ca. É importante notar neste artigo que a renovação
da ciência cartográ�ca ocorre após novo contexto intelectual, quando o ho-
mem se tornou objeto de ciência.

Para acessar o artigo Os Mapas da Geogra�a de Marcello Martinelli, clique aqui


(http://docs.fct.unesp.br/docentes/geo/raul/cartogra�a_tematica/leitura%202/1-
MAPAS%20DA%20GEOGRAFIA.pdf).

Cartogra�a e geogra�a
Como mencionamos anteriormente, das ciências relacionadas à Cartogra�a a
mais importante é a Geogra�a, independentemente de qual ramo os fatos e os
fenômenos a serem mapeados tenham sido originados.

Dias (2011) relata que a cartogra�a:

[...] hoje tornou-se essencial para o ensino de Geogra�a, seja para o aluno suprir as
necessidades de seu dia-a-dia seja para entender o ambiente a seu redor. Onde, o
aluno, por meio de mapas e cartas topográ�cas, tem acesso a informações físicas,
econômicas, sociais e humanas do ambiente. O que contribui de forma contunden-
te para que, o aluno, entenda melhor os processos e os fenômenos provocados tanto
pela ação do homem quanto pela natureza.

A Cartogra�a é subdividida em dois campos: sistemática e temática, ambas


igualmente importantes para a Geogra�a, embora apresentem características
distintas.

A Figura 1 mostra as terminologias utilizadas na classi�cação dos mapas nes-


ses dois campos.
Fonte: Archela (2000, n. p.).

Figura 1 Terminologias utilizadas na classi�cação dos mapas em Cartogra�a sistemática e temática.

• Cartogra�a Sistemática: Trata-se do mapeamento base, sistemático, que


utiliza convenções e escalas padrão e busca o equilíbrio da representação
altimétrica e planimétrica – ou seja, dos acidentes naturais e culturais de
uma região, como o relevo, a rede de drenagem e as estradas de rodagem.
Segundo Archela (2000), a preocupação central da Cartogra�a
Sistemática está na localização precisa dos fatos, na implantação e ma-
nutenção das redes de apoio geodésico, na execução dos recobrimentos
aerofotogramétricos e na elaboração e atualização dos mapeamentos bá-
sicos.
De acordo com as normas da legislação cartográ�ca em vigor, estabeleci-
das no decreto-lei n. 243/67, que regulamenta as Diretrizes e Bases da
Cartogra�a e da Política Cartográ�ca Nacional, a “Cartogra�a sistemática
tem por �m a representação do espaço territorial brasileiro por meio de
cartas, elaboradas seletiva e progressivamente, consoante prioridades
conjunturais, segundo os padrões cartográ�cos terrestre, náutico e aero-
náutico”.

• Cartogra�a Temática: Trata-se do mapeamento resultante da coleta, aná-


lise e interpretação de dados, e da representação das informações sobre
uma carta base. Neste caso é mais importante o conteúdo que vai ser re-
presentado no mapa do que a precisão dos contornos ou da rede de para-
lelos e meridianos.

Marques (2011) discorre que:

Os temas analíticos podem ser obtidos por correlação entre vários temas elementa-
res ou entre séries estatísticas. São representados na utilização da técnica mais
conveniente e têm o objetivo de melhorar a visualização, incluindo, além de mapas,
outras formas de representação como grá�cos, blocos diagramas e croquis.
Veja o quadro presente na Figura 2, elaborado por Sanchez (1981), no qual ele
diferencia a Cartogra�a Temática da Sistemática:

Fonte: Sanches (1981, n. p.).

Figura 2 Principais diferenças entre Cartogra�a Sistemática e Cartogra�a Temática.

Archela (1999) discorre que as informações dispostas na Figura 3:


[...] evidenciam que a fronteira entre cartogra�a temática e sistemática não é tão
bem de�nida. Dependendo da situação, um mapa pode ser classi�cado como temá-
tico ou sistemático.

Entretanto, Joly (1990) elucida esta questão ao a�rmar que se convencionou inter-
nacionalmente, adotar o termo cartogra�a temática para designar todos os mapas
que tratam de outro assunto além da simples representação do terreno.

Rosa (1996) ressalta que em qualquer um dos campos da Cartogra�a, a coleta, o re-
gistro, a análise e a edição dos dados em formato grá�co são operações tradicionais
e rotineiras. Embora haja uma estreita dependência da cartogra�a temática em re-
lação à sistemática - uma vez que esta fornece a base para todos os tipos de mapas,
há uma grande diferença quanto aos métodos utilizados, que sofreram alterações
profundas com o advento das novas tecnologias.

Atualmente, mesmo considerando que a cartogra�a temática está muito mais liga-
da à Geogra�a do que a cartogra�a sistemática, e que não é exclusiva da Geogra�a,
ela é reconhecida como a Cartogra�a da Geogra�a como escreveu Lacoste (1988).
Ele deixou claro que não é possível relacionar à Geogra�a a elaboração de cada um
dos diferentes tipos de mapas resultantes de pesquisas realizadas por geólogos, bo-
tânicos e climatólogos entre outros. Por outro lado, ressaltou que se considerarmos
conjuntamente os diferentes tipos de mapas temáticos que representam um mes-
mo território, parece legítimo, considerá-los como objetos geográ�cos.

Neste trabalho, Lacoste levanta a seguinte questão sobre os mapas: Por que é ne-
cessário procurar considerar conjuntamente as representações espaciais estabele-
cidas pelas diferentes disciplinas cientí�cas? E responde, enfatizando a relação da
Geogra�a com a Cartogra�a:

Porque a ação seja ela do tipo econômico ou militar, por exemplo, não se aplica, na
realidade, sobre um espaço abstrato cuja diferenciação resulta da análise de uma
só disciplina, mas sobre um território concreto cuja diversidade e complexidade só
podem ser extraídas por uma visão global.

Nesta disciplina será enfatizada a Cartogra�a Sistemática, pois ela é a base


fundamental para a Cartogra�a Temática, ou seja, sem ela não é possível ela-
borar com precisão os mapas temáticos (este outro campo da cartogra�a será
estudado na disciplina Cartogra�a Temática).

Localização e orientação
Desde os primórdios, localizar-se e orientar-se no espaço geográ�co sempre
foi uma preocupação do ser humano. Isso acontecia a principio pela necessi-
dade de encontrar alimento e abrigo. No entanto, com o passar do tempo sur-
giram novas necessidades como traçar rotas de comércio e de navegação, pla-
nejar manobras no campo de batalha, encontrar recursos no subsolo, de�nir o
melhor local para a instalação de uma indústria, entre outros.

Uma vez que estamos constantemente em busca de orientação e localização, é


importante estudarmos alguns componentes que podem nos auxiliar em nos-
sa localização no espaço.

Forma e movimento da Terra

Graças à esfericidade do Planeta Terra, temos diferentes zonas climáticas: po-


lares, temperadas e tropicais. Quanto mais nos afastamos do Equador, maior a
inclinação com que os raios solares incidem na superfície terrestre; a mesma
quantidade de energia passa a ser distribuída por uma área cada vez maior, o
que torna as temperaturas progressivamente mais baixas (veja a Figura 3).

Figura 3. Incidência de raios solares em diferentes pontos da Terra.

Para Grimm (1991):


A Terra tem dois movimentos principais: rotação e translação. A rotação em torno
de seu eixo é responsável pelo ciclo dia-noite. A translação se refere ao movimento
da Terra em sua órbita elíptica em torno do Sol. A posição mais próxima ao Sol, o
perihélio (147x106Km), é atingido aproximadamente em 3 de janeiro e o ponto mais
distante, o afélio (152x106Km), em aproximadamente 4 de julho. As variações na ra-
diação solar recebidas devido à variação das distâncias são pequenas.

As estações são causadas pela inclinação do eixo de rotação da Terra em relação à


perpendicular ao plano de�nido pela órbita da Terra (plano da eclíptica). Esta incli-
nação faz com que a orientação da Terra em relação ao Sol mude continuamente
enquanto a Terra gira em torno do Sol. O Hemisfério Sul se inclina para longe do
Sol durante o nosso  inverno e em direção ao Sol durante o nosso verão. Isto signi�-
ca que a altura do Sol, o ângulo de elevação do Sol acima do horizonte, para uma
dada hora do dia (por exemplo, meio dia) varia no decorrer do ano. No hemisfério
de verão as alturas do Sol são maiores, os dias mais longos e há mais radiação so-
lar. No hemisfério de inverno as alturas do Sol são menores, os dias mais curtos e
há menos radiação solar (GRIMM, 1999).

Coordenadas Geográ�cas

O globo terrestre pode ser dividido em uma rede de linhas imaginárias que
permitem localizar qualquer ponto de sua superfície. Essas linhas determi-
nam dois tipos de medidas: a latitude e a longitude, que em conjunto são cha-
madas de coordenadas geográ�cas (MOREIRA; SENE, 2004). Assim, para loca-
lizar qualquer lugar, na superfície terrestre, de forma exata, é necessário usar
duas indicações, uma letra e um número. Há necessidade de utilizar elemen-
tos de referencia que possibilitam localizar com exatidão qualquer lugar da
Terra.

A rede cartográ�ca ou geográ�ca nos dá a indicação das coordenadas geográ�cas.


Os pontos de orientação dão um rumo, isto é, uma direção, mas não permitem loca-
lizar com exatidão um ponto na superfície terrestre. Assim, quando dizemos que a
área x está a leste de y, não estamos dando a localização precisa dessa área, mas
apenas indicando uma direção. Para saber com exatidão onde se localiza qualquer
ponto da superfície terrestre usamos as coordenadas geográ�cas (CORRÊA, 2009).

As linhas imaginárias que formam as coordenadas geográ�cas são chamadas


de paralelos e meridianos: os paralelos são aquelas linhas paralelas ao equa-
dor e os meridianos aquelas que são perpendicular a ele, que vão de polo a po-
lo e cruzam com os paralelos.

Ainda segundo Corrêa (2009):

Cada meridiano possui seu antimeridiano, isto é um meridiano oposto que, junto
com ele, forma uma circunferência. Todos os meridianos têm o mesmo tamanho.
Convencionou-se o meridiano de Greenwich, que passa próximo a cidade de
Londres, na Inglaterra, como o meridiano principal, o marco zero. A partir dos para-
lelos e meridianos, estabeleceram-se as coordenadas geográ�cas, que são medidas
em graus, para localizar qualquer ponto na superfície terrestre.

Existem pelo menos quatro modos de designar uma localização exata para qual-
quer ponto no globo terrestre. Nos três primeiros sistemas, o globo é dividido em la-
titudes, que vão de 0 a 90º (Norte e Sul) e longitude, que vão de 0 a 180º (Leste ou
Oeste). Para efeitos práticos, usam-se as siglas internacionais para os pontos carde-
ais: N=Norte, S=Sul, E=Leste/Este, W=Oeste.

Para as latitudes, o valor de cada unidade é bem de�nido. O círculo tem


20.003,93km, dividido por 180, concluímos que um grau (º) equivale a 111,133km.
Dividindo um grau por 60, torna-se que um minuto (') equivale a 1.852,22m.
Dividindo um minuto por 60, tem-se que um segundo (") equivale a 30,87m. Para as
longitudes, há um valor especí�co para cada posição, que aumenta de 0 nos pólos
até a linha do Equador, onde está seu valor máximo.

Vejamos, na Figura 4, a localização exata para qualquer ponto no globo terres-


tre usando os pontos cardeais: N=Norte, S=Sul, E=Leste/Este, W=Oeste.
Figura 4 Rosa dos ventos.

Fusos horários

Devido ao movimento de rotação da Terra, vários pontos da superfície do pla-


neta apresentam diferença de horários.

Sobre isso, Geomult (2010 apud Moreira e Sene 2007) discorre que:
Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24 horas de duração do movi-
mento de rotação, resultam 15 graus. Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira,
passa-se uma hora, e cada uma dessas 24 divisões recebe o nome de fuso horário.

Desde a chamada Conferência Internacional do Meridiano, em 1884 nos EUA, as re-


giões situadas em um mesmo fuso adotam o mesmo horário. Foi também nessa
conferência que se convencionou adotar o meridiano de Greenwich como a linha
de referência para medir as longitudes e acertar os relógios em todo o planeta. Para
tanto, de�niu-se o seguinte procedimento:

O fuso de referência se estende de 7º30’ para leste a 7º30’ para oeste do meridiano
de Greenwich, o que totaliza uma “faixa” de 15 graus. Portanto a longitude na qual
termina o fuso seguinte a leste é 22º30’ E (e, para o fuso correspondente a oeste,
22º30’ W). Somando continuamente 15º a essas longitudes, obteremos os limites
teóricos dos demais fusos do planeta.

As horas mudam, uma a uma, à medida que passamos de um fuso a outro, entre-
tanto, como as linhas que os separam cortam várias unidades politico-
administrativas ao meio, os países �zeram adaptações estabelecendo, assim, os li-
mites práticos dos fusos, na tentativa de manter, na medida do possível, um horário
uni�cado num mesmo pais, estado ou província. No caso dos fusos teóricos, basta-
ria, para determinarmos a diferença de horário entre duas localidades, saber a dis-
tância leste-oeste entre elas, em graus, e dividi-la por 15, a medida de cada fuso.
Porém, com a adoção dos limites práticos, em alguns locais os fusos podem medir
mais ou menos que os tradicionais 15º.

O mapa de fusos do planeta mostra que as horas aumentam para leste e diminuem
para oeste, de qualquer referencial adotado. Isso ocorre porque a Terra gira de oeste
para leste. Como o Sol nasce de leste, à medida que nos deslocamos nessa direção,
estamos indo para um local onde o Sol nasceu antes; portanto nessa região as ho-
ras estão “adiantadas” em relação ao local onde partimos. Quando nos deslocamos
para oeste, entretanto, estamos nos dirigindo a um local onde o Sol nasce mais tar-
de; portanto nesse lugar as horas estão “atrasadas” em relação ao nosso ponto de
partida.

A seguir, a Figura 5, ilustra o mapa do fuso horário mundial:


Fonte: IBGE (2009).

Figura 5 Mapa do fuso horário mundial.

É importante ressaltar que, para compreender a história da Cartogra�a em sua


amplitude, não podemos nos restringir ao conhecimento ocidental, ou seja,
eurocêntrico, uma vez que há diversas formas de representar o espaço em
meio a diferentes culturas. Cada povo teve ou tem maneiras distintas de
perceber e produzir imagens espaciais e, portanto, pode contribuir
signi�cativamente para a Cartogra�a. Vamos em frente!

Esboço histórico
Precedendo a própria escrita, os mapas são formas muito antigas de comuni-
cação. Eles servem, sobretudo para representar os elementos que compõem a
paisagem geográ�ca. Essa representação é feita a partir de elementos como
pontos, linhas texturas cores e textos, denominados signos da cartogra�a.

Devemos lembrar, no entanto, que os mapas nunca serão uma representação


realista dessa paisagem, serão sempre uma representação parcial, a�nal, seu
objetivo principal é o de permitir que haja um registro e a localização desses
elementos da paisagem além de permitir nossa orientação no espaço geográ�-
co (MOREIRA; SENE 2004).

Desenhos pré-históricos gravados em cavernas e petroglifos mostram que as


primeiras manifestações cartográ�cas remontam dessa época. Os homens
pré-históricos representavam seu espaço nas paredes e pedras a partir de pin-
turas rupestres e entalhamentos. Os desenhos estavam relacionados com a
sua própria subsistência e localização, mostrando as formas como caçavam,
como eram os animais, como se interagiam entre si.

Morales (2008) discorre que:

Entre os petroglifos mais importantes �guram os descobertos em Bedolina (Capo di


Ponte. Itália), por Raffaelo Battaglia, que os deu a conhecer, em Londres, durante
uma conferência de arqueologia, ocorrida no ano de 1962; alguns estudos defendem
que estas gravuras, se tratam de imagens dos terrenos cultivados, em um vale, na
Idade do Bronze.

Não obstante, é importante salientar que também estão documentadas as provas


de que surgiram, ao mesmo tempo, desenhos mais transcendentes do tipo astronô-
mico, incluindo as imagens da Lua, do Sol, de estrelas isoladas e de constelações.

No entanto, os são considerados registros históricos, propriamente ditos,


formaram-se em épocas muito mais remotas, sendo que o mais antigo de que
se tem notícia, é o do mural de Çatal-Hüyük (veja a Figura 6), que foi descober-
to, no transcurso de escavações no ano de 1963, por J. Mellart. Com ele é que
se inicia a verdadeira cartogra�a, e é possível identi�car a imagem de um po-
voado e um vulcão em erupção. Com isso a cartogra�a então teria aproxima-
damente 800 anos.

Figura 6 O muro pintado de Çatal-Hüyük (Turquia).

Segundo Morales (2008) no Oriente médio, estão localizados inúmeros exem-


plos dessas representações. Estão muito melhor delineados, e mais bem con-
servados, pois a argila na qual foi esculpido era de melhor qualidade. O autor
coloca ainda que dentre todas elas três merecem destaque, por serem muito
singulares.

O primeiro deles é a planta de um templo, que forma parte da estátua de Gudea (sé-
culo XXI  a.C.), e incorpora uma escala grá�ca; o segundo, desenhado em escala, é o
celebre  plano do povoado de Nippur (1.500 a.C.), o qual mostra as muralhas da cida-
de, canais, armazéns e até um parque; o terceiro exemplo é a primeira representa-
ção orientada de que se tem notícias, conhecida como o mapa de Nuzi, nele �gura
uma propriedade rural, com uma superfície de uns 121 hectares, e o nome de seu
proprietário. Entretanto o mais interessante é que, sobre o mesmo, se observa a pre-
sença de três pontos cardeais: Este (na sua parte superior), Norte e Oeste
(MORALES, 2008).

Assim, é possível concluir que desde a antiga Babilônia já eram conhecidos os


elementos básicos da cartogra�a e que eles eram essenciais para os estudos
da geodésia e da cartogra�a matemática. Foi nessa região também em que
surgiu o primeiro mapa mundi, numa representação muito super�cial e esque-
mática.

O mapa em argila, data do século VI a.C. e representa o desenho do mundo como


um disco �utuando em um mítico oceano, um mundo praticamente limitado pela
cidade da Babilonia, que é simbolizada por um retângulo alargado, e o rio Eufrates
que �ui desde as montanhas da Armênia (MORALES, 2008).

Este mapa pode ser visualizado na Figura 7.


Fonte: Morales (2008, p. 3).

Figura 7 O mundo babilônico (o original mede 12,5 x 8 cm).

Morales (2008), discorre que nesse período, surge a civilização egípcia que vai
adquirir um grande desenvolvimento na Astronomia e na Matemática.
Heródoto vai a�rmar, muitos anos depois que nessa região é que se inventou
também a Geometria. Nas biogra�as de Pitágoras, constata-se que o conheci-
mento esteve in�uenciado em seu aprendizado adquirido no Egito, onde de-
senvolveu a Geometria prática que deu origem a Topogra�a em meados do sé-
culo IV a.C.

Ainda segundo o autor citado anteriormente,  os podemos dizer que a geome-
tria dos egípcios vem se re�etindo há tempos memoráveis, em sua agrimen-
sura. Desde esse período, o povo egípcio tem o conhecimento de “replantear os
detalhes topográ�cos desaparecidos pelas cheias do rio Nilo”.

Nessa região, eram frequentes os trabalhos cadastrais e de exploração mine-


ral, no entanto a expressão grá�ca é muito difícil de ser encontrada pois, o pa-
piro que era usado como suporte era muito frágil, com exceção de alguns que
estão até hoje muito bem conservados. Assim, temos o papiro de Turín, tam-
bém denominado “plano das minas de ouro” ou do ano de 1150 a.C.

O papiro de Turín tem de duas partes sendo que a mais importante tem chega
a medir 40 cm de altura, apresentando um desenho de dois caminhos parale-
los entre si, conectados por outro um outro caminho transversal que percorre
regiões montanhosas de cor rosácea. As cores são explicadas a partir de um
texto que mostra o que signi�ca cada uma das zonas coloridas. Segundo
Brandão et. al. (2012), “o signi�cado da cor é explicado por um texto que classi-
�ca as zonas coloridas como as zonas em que se extraia o ouro”.

Mapas orientais
Os chineses desenvolveram uma cartogra�a de excelente qualidade e os ára-
bes criaram a primeira bússola. Neste item conheceremos algumas das con-
tribuições da cartogra�a chinesa. Que também é muito antiga e apresenta for-
mas muito particulares de representação, sendo de grande importância para
cartogra�a, pois in�uenciou muitos mapas posteriormente criados pelos euro-
peus.

Pei Hsiu  é considerado um dos grandes nomes da Cartogra�a Chinesa. Seus


trabalhos eram acompanhados por textos que explicavam esses mapas. Os
mapas nunca foram localizados, apenas os textos explicativos que permitiram
fazer com que estudiosos reconstruíssem alguns desses mapas, levando à
conclusão de que vários princípios cartográ�cos que são conhecidos nos dias
de hoje já eram utilizados por Pei Hsiu. É importante lembrar que o desenvol-
vimento da cartogra�a pelos chineses não teve nenhum elo com o do mundo
ocidental (DUARTE, 2002).

Outro trabalho importante foi o do almirante Zheng He (1371 – 1433), elaborado


no século 15 da era Cristã. Trata-se de uma mapa náutico, manuscrito, que
mostra o itinerário desde o porto de Nanquim, na China, passando pelo estrei-
to de Ortnuz e os portos da costa oriental da África, além de várias outras in-
formações. Veja este mapa na Figura 8:
Fonte: UNESCO apud DUARTE (2002, p. 40).

Figura 8 Portulando de Zheng He.

Segundo um artigo de Eric Choi Chi Hong (2001), em meados


da década de 70, foram desenterrados do Túmulo nº 3 da Dynastia Han, em
Chang Sha, Hu Nan, três mapas elaborados em seda, denominados: a
“´Con�guração da Terra’, o ‘Mapa de Guarnição’ e o ‘Mapa de Quinta’. Estes ob-
jetos provaram que as técnicas de cartogra�a durante a Dinastia Xi Han já ti-
nham atingido um nível bastante elevado” (BARBOSA, 2011).

Ainda segundo Choi Chi Hong, o cartógrafo Pei Xiu, de Xi Jin (224-271),  faz
um relato das experiências dos antigos cartógrafos, apresentando os seis prin-
cípios da cartogra�a, denominados, a Escala, a Direção, o Caminho, o “Gao
Xia”, o “Fang Xie” e o “Yu Zhi”. Os três últimos levam em conta os princípios da
distância segundo uma linha reta, sendo que ainda hoje, a escala, a direção e a
distância são elementos fundamentas da Cartogra�a moderna.

Esses artigos que foram desenterrados do túmulo Ma Wang Dui provaram que
a China já dominava e fazia uso de avançadas técnicas de medição há muitos
e muitos anos. Sendo que pela primeira vez, é a�rmado a importância da esca-
la e da direção, através dos “seis princípios” (HONG 2001).

Os mapas antigos descobertos nas Dinastias Ming e Qing possuíam uma gran-
de componente artística, pois possuíam uma característica muito mais artísti-
ca do que de mapas. Pei Xiu, acreditava que na cartogra�a devia ser aplicado o
método de “Ji Li Hua Fang”, que consistia em traçar vários quadratinhos no
plano, para que fosse atingida uma grande precisão física.

Nesse período, na China, acreditava-se que o mundo era completamente plano


o que impedia o desenvolvimento cientí�co da cartográ�a, pois não se acredi-
tava que a Terra era redonda.

Hong (2001) aponta durante a Dinastia Ming, tanto a quantidade quanto o tipo
de mapas multiplicaram-se. No entanto, embora as teorias cartográ�cas mais
cientí�cas do Ocidente mesmo tendo chegado a china, por volta do ano de
1573-1619, não foram aceitos pelos chineses pois seus pensamentos eram mui-
to tradicionais e muito radicais nessa época.

Existem ainda algumas teorias encontradas em livros da Dynastia Xian Qing,


que permitem evidenciar que o surgimento e o desenvolvimento da cartogra-
�a são consequência da necessidade militar e política.

A primeira obra especí�ca sobre cartogra�a é denominada “Guan Zi-Mapa” e


mostra a importância da cartogra�a para �ns militares, pois era preciso co-
nhecer a topogra�a, a localização, a con�guração e a superfície de montanhas
vales, rios, montes, colinas, �orestas, bosques, estepes, caminhos, cidades, en-
�m, conhecer o espaço geográ�co.

Hong (2012) relata que nesse livro:


[...] o autor de�niu as características e realçou a importância dos mapas nas acções
militares.

Na Dinastia Zhou, apareceu a palavra “Ban Tu (território)” que correspondia a um


registo habitacional e a um mapa (citado do “Zhou Li. Tian Guan”). Segundo o Han
Fei (280-233 A.C.), o mapa faz parte do território. Ele referiu que se alguém oferecer
um mapa nacional a um terceiro, isso poderia signi�car que lhe ia oferecer o terre-
no. A história da tentativa de assassínio (frustrada) levada a cabo por Jin Ke, no
ano 227 A.C., teve como pretexto a oferta do mapa de Du Kang (lugares da província
He Bei) do Estado Yan ao Imperador da dinastia Qing.

Assim, explica-se a importância do mapa na área política e militar. Nas dinastias


seguintes, o governo central pediu mapas de todas as províncias, a �m de reforçar a
governação central e desenhar um mapa único de todo o país. É bastante interes-
sante que o caráter chinês “Tu” (desenho ou mapa), se for um verbo, também signi-
�ca “desejar”. No “Zhang Guo Ce. Qing Ce Si” (História da Era dos Estados
Combatentes, Capítulo do Qing), está escrito que depois de se conquistar os estados
de Han e Wei, segue-se o “Tu” (o desejo de ocupar todo o mundo). Através desta his-
tória também se explica a ligação permanente entre mapa e os políticos ambicio-
sos.

Contribuição grega
Veremos agora algumas das contribuições gregas para a história da cartogra-
�a e utilizaremos como base o artigo A evolução dos mapas através da histó-
ria, de Mario Ruíz Morales.

Segundo o autor,

As primeiras referências cosmográ�cas dos gregos são, todavia pré-cientí�cas, as-


sim como as observadas na descrição que se faz na Ilíada, do escudo de Aquiles;
ainda que se mencionem, na obra de Homero, os quatro pontos cardeais associados
aos ventos Boreal (norte), Euro (sul), Noto (Este) e Cé�ro (oeste)” (MORALES, 2008, p.
5).

A expansão colonial sobre o Mediterraneo superou a vião de mundo tão limi-


tada de Homero, servindo em grande parte, para que os pensadores gregos
tentassem sistematizar o conhecimento geográ�co, ao formular perguntas
cruciais como: “Qual é a forma e o tamanho da Terra? Que magnitude e distri-
buição têm as massas continentais e oceânicas? Que tipo de habitantes, e em
que extensão, povoam a Terra? (MORALES, 2008).

As várias gerações de pitagóricos que se sucederam entre o grande mestre e


Filósofo são apontados como responsáveis pela a�rmação de que Terra era es-
férica.

Morales (2008) relata que Dicearco de Mesina:

[...] era considerado um dos mais importantes geógrafos gregos, sendo o primeiro a
descrever e dimensionar o Ecumene (mundo conhecido), assinalando 60.000 está-
dios de Este a Oeste e 40.000 estádios de Norte a Sul.

Na representação cartográ�ca que se lhe atribui, traçou como principal linha dire-
triz (o diagrama), uma que discorre de Oeste a Este, seguindo o Mediterrâneo, de
modo que a superfície terrestre �cava dividida em duas metades, uma septentrio-
nal e outra meridional. A segunda linha diretriz era uma perpendicular à anterior,
traçada em Rodas, a qual coincidia sensivelmente com o meridiano Siena-
Lysimachia” .

Dicearco fez também uma descrição geral da Terra e realizou um estudo sobre a al-
tura dos montes do Peloponeso e da Grécia, que resultou num dado muito signi�ca-
tivo, mesmo com o pouco interesse mostrado pelos antigos no conhecimento do re-
levo terrestre.

Veja, na Figura 9, o Mapa-múndi de Dicearco.


Fonte: Morales (2008, p. 6).

Figura 9 Mapa-múndi de Dicearco com o diagrama central.

O autor termina sua breve resenha sobre a cartogra�a grega mencionando a


ilustre importância de Ptolomeu. Sua hipótese geocêntrica, que explica os mo-
vimentos planetários, se tornou o promotor da cartogra�a moderna ao dese-
nhar quatro sistemas cartográ�cos para obter uma imagem plana do mundo.

Ptolomeu foi o pioneiro a falar de longitudes, nos termos semelhantes aos atu-
ais, introduzindo a simbologia para a representação cartográ�ca antecedente
dos símbolos convencionais (MORALES, 2008).

A estagnação da cartogra�a
Durante a Idade Média, a evolução do conhecimento cientí�co – e, consequen-
temente, da cartogra�a – �cou estagnado e reprimido por representar ideias
contrárias às da Igreja Católica (DUARTE, 2002). Essa estagnação geográ�ca,
que ocorre na Idade Média, foi tão expressivo que a esfericidade da Terra che-
gou a ser considerada uma ideia banal e pois não se ajustava ao conteúdo da
Bíblia, que era considerada o livro da verdade.

Segundo Duarte (2002), nesse período houve um retrocesso no desenvolvi-


mento do conhecimento cientí�co devido à crença de que a Terra não poderia
ser esférica, uma vez que a Igreja não admitia um mundo de face para baixo.
Isso explica o estilo simplista dos novos mapas, nos quais todos os continen-
tes possuíam tamanhos iguais. Esses mapas eram circulares e �caram conhe-
cidos por Orbis Terrarum, ou então mapas “T” no “O”. Veja, na Figura 10, um
exemplo desse tipo de mapa:
Figura 10 Mapa do tipo Orbis Terrarum.

Entretanto, no decorrer dos anos surgiram novas ideias e a Igreja passou a


aceitar algumas delas, como, por exemplo, a esfericidade da Terra. Acreditava-
se que Deus havia criado a terra na forma geométrica mais perfeita: a esfera.

Com o início das Grandes Navegações, ainda na Idade Média, começam a ser
elaborados os Portulanos, que vão se dividir em dois grupos distintos, ou seja o
grupo dos espanhóis e o grupo dos italianos. Os italianos tinham como princi-
pal característica desenhar somente o perímetro do litoral, sendo que os espa-
nhóis estendiam sua representação para a zona continental, simbolizando
melhor as características físicas, desenhando rios e representando monta-
nhas e planícies assim como as posições das cidades e outros lugares de inte-
resse. Aos espanhóis, pertence ainda o atlas catalão ou de Cresques, que foi
confeccionado por uma família judia de Mallorca em 1375, onde aparece pela
primeira vez a palavra Granada (MORALES, 2008).

Veja, na Figura 11, um exemplo de portulano (no caso, elaborado por João
Teixeira Albernaz):

Fonte: Morales (2008, p. 19).


Figura 11 Mapa Portulano do Atlântico e Pací�co oriental, desenhado por João Teixeira Albernaz, em 1681.

De acordo com o autor citado anteriormente, aproximadamente em 1405, a


obra de Ptolomeu foi traduzida para o Latim, e reapareceu na época do
Renascimento com algumas modi�cações e atualizações. Seus textos foram
conservados pelos árabes, que os enriqueceram com seus próprios estudos
(DUARTE, 2002).

Os árabes também estavam envolvidos em conquistas territoriais e sentiam a


necessidade de avaliar os recursos das novas terras (Ibidem).

Além disso, queriam implantar um sistema �scal e tributário mais e�ciente, o


que favoreceu muito o desenvolvimento da Cartogra�a (Ibidem).Foi graças ao
fechamento do Canal de Suez – o principal caminho para as Índias – pelos
árabes, que os navegadores europeus começaram a procurar novas rotas e,
consequentemente, ao descobrimento da América. Isso contribui também,
indiretamente, para a atualização dos mapas existentes na época.

Cartogra�a durante o renascimento e a in�uência das


grandes navegações
Com o Renascimento e a busca por novas terras, os navegadores procuravam
por mapas cada vez mais atualizados e aperfeiçoados. Os mapas eram confec-
cionados com base em seus relatos, e a necessidade de atualização fez com
que fossem surgindo novos especialistas na elaboração dos mapas.

Uma importante �gura desse período foi Gerhard (Gerardo) Mercator, respon-
sável pelo desenvolvimento de vários estudos sobre Matemática e Cartogra�a.

Lorenset e Silva (2006) relatam que:

Muitos trabalhos de Mercator reformularam concepções estabelecidas por


Ptolomeu, como o mapa da Europa, feito em 1554, que reduziu o Mediterrâneo para
53 graus de comprimento.
Esse mapa é ilustrado na Figura 12, enquanto na Figura 13 pode ser observada
uma atualização feita em 1995.

Figura 12 Mapa da Europa elaborado por Mercator em 1554.


Figura 13 Mapa da Europa elaborado por Mercator atualizado em 1995.

Entretanto, seu trabalho mais importante é sua Projeção Cartográ�ca, que de�-
ne meridianos retos e equidistantes, além de paralelos também retos, porém,
cada vez mais espaçados entre si nos polos.

A Figura 14 ilustra um planisfério baseado nessa projeção (esse e outros tipos


de projeção serão estudados mais adiante).

Figura 14 Planisfério baseado na Projeção de Mercator.

Assim, durante o período das Grandes Navegações e da descoberta de “novos


mundos”, os mapas e as técnicas foram sendo aprimorados em toda a Europa.

Os franceses também publicaram muitos atlas e mapas, assim como ingleses,


holandeses e espanhóis, além dos portugueses –, que in�uenciaram
consideravelmente o desenvolvimento dessa atividade no Brasil.

3. História dos mapas no Brasil


No início da colonização do Brasil começaram a ser realizados os primeiros
delineamentos do litoral. Apesar da pobreza de nomes, houve a identi�cação
dos indígenas e das �orestas de pau-brasil.

Nos mapas do século 17, elaborados por portugueses, holandeses, ingleses e


espanhóis, podemos observar que a maioria deles exibem características náu-
ticas. No entanto, é somente no século 18 que a documentação cartográ�ca
apresenta melhorias signi�cativas.

Em 1808, a chegada da Família Real Portuguesa representou um grande im-


pulso, tanto na Cartogra�a como nos empreendimentos artísticos e cientí�cos.
Neste ano foi criada a Imprensa régia e confeccionada a planta da cidade do
Rio de Janeiro, concluída por Ferreira Souto em 1812.

Segundo Oliveira (1988), grandes esforços foram veri�cados em relação à


Cartogra�a terrestre, no âmbito do Estado-Maior do Exército, com o objetivo de
construir uma carta básica. Em 1901, em consequência da política cartográ�ca
militar, foi criada a Comissão da Carta do Brasil.

O primeiro resultado prático desse incentivo à Cartogra�a por parte do Estado-


Maior do Exército deu-se em 1921, quando foi concluído o levantamento do an-
tigo Distrito Federal, ou seja, do Rio de Janeiro.

Em 1936 foi criado pelo Governo Federal o Instituto Brasileiro de Geogra�a e


Estatística (IBGE), com o objetivo de coordenar as atividades estatísticas, cen-
sitárias e geográ�cas do país. O IBGE inicia em 1939 a preparação do projeto
Carta do Brasil ao Milionésimo.

Após a conclusão da Carta, constatou-se a necessidade de preencher o imenso


vazio territorial brasileiro em escalas topográ�cas básicas. Por essa razão, o
IBGE passou a realizar esse trabalho e, em 1960, houve o planejamento e elabo-
ração do Plano da Carta do Brasil em Escala de 1:100.000.
De acordo com Dalcin (2007, p. 23), ao �nal do ano de 1985:

[...] 98,9% do território brasileiro encontrava-se mapeado; desse total, 61,2% veio a
ser mapeado pelo Serviço Geográ�co, 30,5% pelo Instituto Brasileiro de Geogra�a e
Estatística e 7,2% por terceiros.

Atualmente, o Brasil conta com alta tecnologia e o uso da computação grá�ca


para a realização do mapeamento cartográ�co, como a utilização de técnicas
associadas ao Sistema de Posicionamento Global (GPS) pelo IBGE, desde 1988,
e, ainda, imagens de satélite de alta resolução, bem como levantamentos
aerofotogramétricos em escalas de alto detalhamento. Tudo isso permite que a
elaboração de um mapa seja muito mais precisa.

Enquanto comunicação, os mapas são muito antigos. Cada povo nas suas dis-
tintas maneiras percebeu e produziu imagens espaciais e contribuiu para o
desenvolvimento da Cartogra�a: dos desenhos pré-históricos gravados em ca-
verna até a alta tecnologia e o uso da computação grá�ca, nos dias de hoje. A
sua estima, enquanto linguagem e comunicação, está materializada pelos ma-
pas, independentemente do material usado na sua produção. Para exempli�-
car essa abrangência e riqueza da cartogra�a, veremos a seguir vídeo intitula-
do "História: a história da cartogra�a e a importância dos mapas".

É interessante notar que o professor é historiador e faz uma relação entre pro-
dução de mapas, povos e o contexto vivido na época, inclusive do papel e im-
portância daquele que produz o mapa. Destaca também, assim como Marcello
Martinelli, a visão impregnada de quem elabora o mapa. É uma interpretação
acerca do território representado, a partir de escolhas que carregam o saber
socialmente construídos. Um saber que, enquanto produto social, está atrelado
ao poder. E isso é visível ainda hoje nos planisférios que encontramos nos ma-
teriais didáticos, por exemplo, elaborados a partir de uma visão eurocentrista.

Agora, para entender melhor a linguagem Cartográ�ca na formação do profes-


sor, acompanhe o vídeo que traz a palestra do prof. Dr. Francisco Rodríguez
Lestegás - Universidad de Santiago de Compostela (Espanha), proferida du-
rante o XIII Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geogra�a - ENPEG, re-
alizado na cidade de Belo Horizonte, entre os dias 10 e 14 de setembro de 2017.

E para �nalizar o tópico, veremos o vídeo "Linguagem Cartográ�ca e


Geogra�a", que traz duas falas que associa a linguagem cartográ�ca e a
Geogra�a com a Covid-19. O vídeo tem início com a Profa. Dra. Míriam A.
Bueno (UFG/IESA) e, após, da Profa. Dra. Marquiana de Freitas Vilas Boas
Gomes (Unicentro-PR), e foram proferidas na XVII Semana de Geogra�a
UEG/UnU CSEH, em 2020.

No Tópico 3 - Cartogra�a e Geogra�a, apresentamos a subdivisão da cartogra-


�a em: cartogra�a sistemática e cartogra�a temática. Leia novamente esses
termos, tentando diferenciá-las.

Para aprofundar, realize a leitura do texto Cartogra�a Sistemática e Cartogra�a Temática,


da Prof.ª. Dra. Rosely Sampaio Archela, clicando aqui (http://www.monogra�as.com
/pt/trabalhos/cartogra�a-sistematica-cartogra�a-tematica/cartogra�a-sistematica-
cartogra�a-tematica.shtml).
Agora que já reconhecemos essa distinção, nesse momento, veremos alguns
conceitos cartográ�cos da cartogra�a sistemática.

Agora, você será convidado a estudar os tipos de escala e sua classi�cação.


Além disso, vamos entender como são realizados os cálculos da escala, ques-
tão de grande importância nas relações cartográ�cas.

Dentro do estudo de Cartogra�a, essa temática desperta inúmeros questiona-


mentos, que serão para nós, fonte inspiradora para a construção de conheci-
mentos imprescindíveis ao bom andamento de nossos estudos e à nossa ca-
minhada pro�ssional. “Para a representação da realidade no mapa, é necessá-
rio estabelecer uma correspondência entre as dimensões do terreno e as do
papel” (SOS ESTUDANTE, 2012).

Moreira e Sene (2004) relatam que a escala é a responsável por fazer essa rela-
ção e estabelecer essa correspondência, assim ela vai expressar o quanto os
elementos do espaço geográ�co foram reduzidos para caberem numa folha de
papel ou numa tela de computador.

A escala é considerada pequena quando se reduzem muito os elementos (imagine


quantas vezes o planeta Terra tem de ser reduzido para se produzir um planisfério
do tamanho desta folha) e grande quando os elementos não são muito reduzidos .

Os autores citados anteriormente, exempli�cam dizendo que é:

[...] impossível encontrarmos uma rua de qualquer cidade num mapa-múndi, por-
que na escala utilizada nesse tipo de representação até mesmo uma metrópole se
torna apenas um ponto. Para representar uma rua, é preciso usar uma escala mais
adequada.

Tipos de escala e sua classi�cação


O fator mais importante que in�uencia na quantidade e na precisão de deta-
lhes mostrados num mapa é a ESCALA. Ela pode ser de�nida sucintamente
como:
(E) como sendo a proporção entre uma medição feita no mapa (d) e a sua dimensão
real correspondente no terreno (D). Por convenção a medição no mapa é colocada
antes da dimensão real (exemplo: 1cm igual a 1km ou quando a escala é dada numa
fração representativa 1/1.000.000) (ANDERSON et al., 2012).

Ainda, segundo Anderson et al. (2012):

Todas as cartas são construídas fazendo uso de uma escala. Uma exceção é dos
mapas-esboços, onde a maior preocupação é fornecer a noção do comportamento
espacial dos fatos (sua dimensão relativa), e não o seu tamanho (dimensão absolu-
ta).

Devemos saber que mapas em escala real não existem, ou seja, em que cada
medida feita no mapa corresponda à mesma medida no terreno. Assim, se-
gundo os autores citados anteriormente:

Se um desenho fosse tão grande a ponto de sua escala ser de 1 por 1, é mais adequa-
do chamá-lo de “planta” ou apenas, um desenho. Por exemplo, desenhistas de pe-
ças mecânicas, que muitas vezes fazem desenhos da dimensão normal do objeto ou
maior (ampliado). Contudo, esses desenhos não são mapas.

Esses autores esclarecem que as escalas podem ser quantitativas ou qualitati-


vas. Enquanto existem três tipos de escalas quantitativas, são dois os tipos de
escalas qualitativas.

Quanto às escalas quantitativas, nos mapas e cartas elas são geralmente apre-
sentadas de acordo com uma das três formas a seguir:
Escala Expressa ou Explícita: Indica (verbalmente) que um certo número de unida-
des (centímetros, metros, quilômetros, etc.) no mapa corresponde a um outro nú-
mero de unidades no terreno (metros, milhas). É essencial dizer as unidades de me-
dição de ambas as partes, por exemplo:

1. 1cm por 1km, ou um milímetro representa cem metros.


2. 2 polegadas equivalem a uma milha ou 1cm = 316,80 metros.
3. 1 cm = 800 metros, ou dois centímetros no mapa correspondem a 1,6 km no
terreno.

A escala expressa é o tipo menos so�sticado, comumente destinada ao uso pelos


leigos em cartogra�a, não exigindo muita precisão numérica.

Escala Numérica ou Fração Representativa: Fornece a relação entre o comprimen-


to de uma linha no mapa e o seu correspondente no terreno em forma de fração,
sempre com o valor unitário (1) no numerador.

Portanto é representada pela fração, E= d/D, que relaciona dois valores que tem a
mesma unidade de medida (centímetro, metro, pés, polegadas, quilômetros, etc.).
Por isto é importante lembrar que a escala numérica não tem unidade desde que
qualquer que sejam as unidades elas se anulam numa fração. Este tipo de escala é
a mais precisa para o uso no cálculo de distâncias exatas. Portanto esse é o tipo
mais utilizado nas ciências, especialmente na cartogra�a, geodésia, topogra�a, ge-
ogra�a e em qualquer estudo detalhado de uma área terrestre. ( Éválido notar nes-
tes exemplos que a distância no mapa é sempre estabelecida antes tendo como va-
lor a unidade). Exemplo:

100. 1/100.000 ou 1:100.000.


101. 1/250.000 ou 1:250.000.
102. 1/50.000 ou 1:50.000

Uma escala verbal de “2cm equivale a 500m” não deve ser traduzida como
2cm:500m. O correto é escrevê-la como uma fração representativa: 1:25.000 ou
1/25.000 (pois, 500m = 50.000cm, portanto a relação é de 2/50.000, que simpli�cada
resulta em (2/50.000) / 2 = 1/25.000.

Escala Grá�ca: É constituída por um segmento de reta graduado, a partir de uma


marca zero que indica o valor das distâncias terrestres correspondentes às medi-
das no mapa. Esta graduação normalmente aparece em partes iguais, podendo ter
ainda o primeiro intervalo, subdividido em valores menores que os dos intervalos
normais. Quando esta subdivisão está à esquerda de zero é denominada “talão”
(ANDERSON et al., 2012, p. 1-2).
A Figura 15 mostra as várias formas de escalas grá�cas.

Figura 15 As variadas formas de escalas grá�cas.

Já em relação às escalas qualitativas existem dois tipos: as comparativas e as


intuitivas. Esse tipo de escala não é encontrado em cartas topográ�cas.

Escala comparativa: é uma escala visual, onde simultaneamente compara-se dois


mapas para determinar qual deles tem a escala maior. Isto se baseia em uma das
leis matemáticas que diz “Se tratando de frações com numeradores iguais (por
exemplo, para o caso das escalas numéricas), é maior a fração (relação) que tem o
menor denominador”. Assim, a escala 1/50.000 é maior que a de 1/100.000, porém é
menor que a de 1/25.000. As cartas topográ�cas de escalas maiores podem conter
mais detalhes, ou maior conteúdo, mas representam uma área menor do que as das
cartas de escalas menores.

Escala intuitiva: [...] consiste em denominar se uma escala é pequena, média ou


grande. Esta denominação varia nas diversas disciplinas cientí�cas de acordo com
seus diversos interesses. Sendo assim, a escala média para um geólogo é diferente
da escala média para um arquiteto ou geógrafo urbano. Em geral as cartas e mapas
com escalas de 1:1.000.000 ou menor (como a de um mapa de todo o Brasil ou um
mapa-Mundi) são considerados pequenas. As cartas de escalas médias são as de
1:1.000.0000 até as de 1:25.0000 e as de escalas grandes são as maiores de 1:25.000
[...] (ANDERSON et al., 2012, p. 2).

Esses autores ressaltam que para evitar confusão é preciso lembrar que a ex-
pressão “mapa de escala pequena” não signi�ca o mesmo que “mapa peque-
no”. Este último se refere ao tamanho do papel. O autor coloca ainda alguns
lembretes para resumir os aspectos das escalas qualitativas:

1) Quanto maior o denominador de uma escala numa fração representativa, menor


ela é. A escala de 1:50.000, por exemplo, é somente um quinto da escala de 1:10.000

2) Quanto menor o denominador, maior é a escala. A escala de 1:2.000 é cinco vezes


maior que a de 1:10.000

3) Se um mapa numa escala, por exemplo, de 1:50.000 for ampliado para uma escala
de 1:10.000, passará a ser cinco vezes mais extenso e cinco vezes  mais  largo. O no-
vo mapa terá vinte e cinco vezes o tamanho da folha requerida para o mapa origi-
nalmente numa escala menor.

4) Quanto maior for a escala do mapa, menor será a porção da superfície da Terra
que pode ser representada numa folha de tamanho conveniente, porém maior o nú-
mero de detalhes (número de características, etc.) podem ser apresentados.

5) Quanto menor a escala, maior a porção da Superfície terrestre que pode ser re-
presentada numa folha do tamanho conveniente, porém, será  menor o número de
detalhes que poderão ser apresentados.

6) Os padrões mundiais devem certamente ser representados numa escala peque-


na, porque o propósito é mostrar a distribuição de fenómeno em toda a superfície
terrestre.

7) Os detalhes da topogra�a ou a con�guração da superfície de qualquer região po-


dem ser mostrados satisfatoriamente nos mapas de escala de 1:100.000 ou maiores.

8) A carta Internacional do Mundo (CIM) está sendo feita na escala de 1:100.000


(uma polegada por 16 milhas ou 1cm equivalente a 10km. Os mapas de parede dos
continentes geralmente têm escala pequena de aproximadamente 1:7.000.000
(ANDERSON et al., 2012, p. 5).

Para exempli�car melhor essa relação, observe os dados da Tabela 1:

Tabela 1 Classi�cação dos mapas de acordo com a escala cartográ�ca.


QUANTO AO QUANTO À
ESCALA APLICAÇÕES
TAMANHO REPRESENTAÇÃO

Plantas Cadastrais, le-


vantamentos de deta-
Escala Grande Escala de Detalhe até 1:25.000
lhe ou planos topográ-
�cos

de 1:25.000
Cartas topográ�cas,
Escala Média Escala de Semi-detalhe até
cobertura do solo
1:250.000

Escala Escala de reconheci- de 1:250.000 Mapas e Cartas em


Pequena mento e menores geral
Fonte: Ferreira (2008, p. 10).

Cálculos e transformações de escala

Antes de aprendermos como calcular e transformar escala cartográ�ca deve-


mos, em primeiro lugar, saber quais são os principais elementos de cálculo e
como esses são representados.

De acordo com Anderson et al. (2012, p. 1), os elementos de cálculo de escala


são representados pelas letras:
E= Escala (E= Escala (em forma de uma fração com numerador de valor “um”)

1/E = Denom= Denominador de escala fracionária = Denom

D= Distância no terreno (real); expressos na mesma unidade.

d= Distância no mapa (grá�ca); geralmente em centímetros ou milímetros.

[...]

a) Para achar a distância (D) no terreno, divide-se a distância (d) no mapa pela es-
cala fracionária (E):

D = d/E

Isto é igual multiplicar d pelo denominador de escala.

D = d x Demon

b) Para achar a distância no mapa (d) multiplica-se a escala (E) pela distância no
terreno.

(D): d = E x D isso é igual a d = D/Demon

c) Para achar a escala (E), divide-se a distância no mapa (d) pela distância (D) no
terreno:

E = d/D isso é igual a Demon = D/d

Os mapas desenhados numa escala grande, tais como cadastrais, permitem que se
mostre muito sobre detalhes topográ�cos, como cercas, valas, atalhos, etc.

Os mapas cadastrais (registros de terras para �ns de cobrança de taxas) destinam-


se principalmente para mostrar os limites de propriedades, são geralmente produ-
zidos em escalas que variam de 1:25.000 a 1:2.500, dependendo basicamente do ta-
manho das propriedades da área mapeada.

O fato desses mapas possuírem uma grande escala permite que se realize uma re-
presentação sem exageros graves dos acidentes importantes. Mas, a cobertura es-
pacial de cada carta é pequena e os custos altos.

Sobre as transformações de escala será utilizada ainda a obra de Anderson et


al. (2012). Em seu trabalho ele a�rma que para entender a transformação entre
formas expressas é preciso em primeiro lugar um entendimento das relações
entre as várias unidades de medidas. No sistema métrico as medidas são ba-
seadas em múltiplos de dez, como vemos na Tabela 2.

Tabela 2 Pre�xos usados com as unidades básicas (como metros e gramas) no


sistema métrico.

MAIOR UNIDADE

Deka da 10¹ 10

Hecto h 10² 100

Kilo k 10³ 1000

Mega M 104

Giga G 105

Tera T 106

Peta P 107

Exa E 108

MENOR UNIDADE

Deci d 10-1 0,1

Centi c 10-2 0,01

Mili m 10-3 0,001

Micro µ

Nano n

Pico p

Femto f
atto a
Fonte: adaptado de Anderson (2012, p. 2).

Outro assunto abordado pelo autor referente ao estudo das escalas, é a trans-
formação de uma escala grá�ca em escala numérica. Para transformar uma
escala grá�ca medimos a extensão da escala numérica num mapa e depois
convertemos os valores como descrito a seguir.

Partindo do princípio de que uma escala numérica representa 1cm ( ou 1mm) equi-
valente a um número de centímetros medidos na escala grá�ca e o valor real que
ele representa (em quilômetros ou metros) no terreno 1/comprimento da escala =
X/distância correspondente no terreno (ANDERSON et al., 2012, p. 2).

Como exemplo o autor considera o caso de 3,8cm na escala equivalente a


450km no terreno. É necessário expressar ambos valores na mesma unidade
de medida e dividir o maior pelo menor (D/d), para saber quantas unidades no
terreno são equivalentes a uma unidade no mapa (neste exemplo a resposta
seria 1:11.8000.000. Anderson et al. (2012) ainda observa que a precisão das
medidas feitas com somente dois números representativos não permite que a
resposta �nal no exemplo seja 1:11.842.105 que indica erroneamente uma esca-
la muito exata.

Assim, será sempre feita a medida do máximo nas medidas de comprimento


da escala para ter o maior

A transformação de uma escala numérica em escala grá�ca também é abor-


dada pelo referido autor, que coloca que:
Se o denominador da escala for um número muito simples ou um múltiplo de cem
transforma-se em quilômetros (ou metros) a distância real representada no deno-
minador, obtém-se o valor a que 1 centímetro no mapa equivale na realidade em
quilômetros (ou metros).

Então simplesmente desenha-se uma linha reta e, começando com um ponto zero
à extrema esquerda da linha, e enumera-se cada centímetro com múltiplos conse-
cutivos do valor obtido. Se esse não for conveniente, divide-se o valor por 10 pelo
valor por centímetro, obtendo a medida de centímetros equivalente a um múltiplo
de 1km dependendo da escala [...] (ANDERSON et al., 2012, p. 2).

Assim, antes de começarmos a resolver problemas de escala, são necessárias


algumas observações a respeito das unidades, uma vez que consistem em um
dos maiores problemas na hora de calcular a escala de um mapa. É preciso
tomar muito cuidado quando vamos transformar, por exemplo, centímetros
para metros, ou metros para quilômetros, etc. Embora nosso raciocínio com
relação ao cálculo e conversão da escala esteja muitas vezes correto, é
frequente errarmos na conversão das unidades.

Como na maioria das vezes as medidas das escalas cartográ�cas no mapa


estão em centímetros e as medidas na escala real em quilômetros ou metros,
sempre haverá o cálculo para converter uma unidade na outra. Portanto,
devemos sempre lembrar que as unidades de comprimento são transformadas
de acordo com a seguinte tabela de conversão e medida, visualizada na Figura
16:

Figura 16 Conversão e medidas.

Transformando 1 metro (m) em milímetros (mm):

Primeiro transformamos metro em decímetro, depois transformamos decíme-


tro em centímetro, para em seguida converter centímetro em milímetro.

Como exemplo prático, multiplicamos o metro por 10x10x10 (1000) ; assim 1 x


10 x 10 x 10 = 1000

Ou seja,

1000mm 1m = 1000mm

Caso precise transformar 1000mm em metros é só fazer a operação inversa,


que no caso é a divisão.

 Problemas resolvidos

Para que o cálculo e a transformação de escalas �quem bastante claros,


serão apresentados alguns problemas resolvidos.

1) Cálculo de distância real utilizando escala grá�ca.

Usando o mapa da Figura 17, como calcular a distância real entre Lisboa
e Lyon, empregando a escala grá�ca?
Figura 17 Mapa que mostra as cidades de Lisboa (Portugal) e Lyon (França).

Resolução:

Primeiro mede-se a distância entre as duas cidades no mapa com uma


régua. A distância entre elas é de cerca de 14,5cm no mapa. Em seguida
medimos quantos centímetros têm os 200km na escala grá�ca, no canto
superior da imagem: o resultado é 2cm.

Distância real = ? (valor que queremos descobrir)

Portanto, devemos transformar todos os valores para apenas uma unida-


de. Como queremos saber a distância real que geralmente é dada em km,
vamos transformar todos os valores para esta unidade.

Quais os valores que temos?

A distância entre as duas cidades no papel é 14,5 cm ou seja 0,000145km.

200km na realidade representam 2cm no papel, ou seja 0,00002km.

Assim, podemos utilizar uma regra de três para calcular o valor que que-
remos descobrir:

Se 200km na realidade representam 0,00002km no mapa, quantos km re-


presentam 0,000145km?
200km -----------------------0,00002

X---------------------------0,000145

0,00002x = 200,000145

x = 0,029/0,00002

x = 1450km

 Problemas resolvidos

2) Cálculo da escala numérica

A escala numérica geralmente é dada em centímetros no formato de fra-


ção como, por exemplo, 1:10.000 ou 1:5.000. Ou seja, 1cm no mapa repre-
senta, respectivamente, 10.000cm e 5.000cm na realidade. Portanto, nes-
se caso o ideal é transformar tudo em centímetros.

Como 200km na realidade representam 2cm no mapa, transformamos os


200km em centímetros, ou seja, 20.000.000cm. Assim temos:

20.000.000cm ----------------- 2cm

       X             ----------------- 1cm

2x = 20.000.000

x = 20.000.000/2

x = 10.000.000

A escala numérica então seria 1:10.000.000


 Problemas resolvidos

3) Cálculo da distância real a partir da escala numérica

Considerando a escala numérica de 1:10.000.000 cálculada anteriormen-


te, qual a distância real entre as cidades de Bordeaux e Lyon?

Medindo a distância no mapa temos aproximadamente 5cm de distância


entre as duas cidades. Resolvemos da seguinte forma:

1cm---------------10.000.000

5cm---------------      x

x = 10.000.000 . 5

x = 50.000.000cm que equivale a 500km

Temos que a distância real entre Lyon e Bordeaux é de 500km.

Já estudamos o conceito de escala e sua importância nas relações


cartográ�cas. Agora, vamos re�etir sobre as projeções cartográ�cas, com o
objetivo de aprender a identi�cá-las e interpretá-las mediante critérios
estabelecidos.

Veremos, também, a importância da cartogra�a mundial, tendo como


conteúdo o desenvolvimento da esfera em um plano e a classi�cação das
projeções.

4. Desenvolvimento da esfera em um plano


Sabemos que um globo geográ�co é a representação mais �el que se conhece
da Terra, embora saibamos também que não se trata de uma esfera perfeita.
Em vista disso, o maior drama da Cartogra�a é transferir tudo o que existe na
superfície curva da Terra para uma superfície plana, que será representada na
forma de mapa (DUARTE, 2002).

Para compreender o princípio de que a Terra sendo uma esfera, ao ser coloca-
da numa folha de papel, deve se adaptar à forma plana, basta pressionar o glo-
bo terrestre para que ele �que plano. Você perceberá que ao sofrer tal pressão o
globo irá partir-se em vários lugares, como ilustra a Figura 18:

Figura 18 A Terra pressionada sobre um plano.

É importante observar, também, que ao pressionarmos o globo ele sofrerá uma


série de deformações, as quais a cartogra�a busca solucionar parcialmente
com base no estudo das projeções cartográ�cas.

Uma projeção cartográ�ca, segundo Pancher (2012 apud Duarte, 2002) “é a ba-
se para a construção dos mapas, à medida em que se constitui numa rede de
paralelos e meridianos, sobre a qual os mapas poderão ser desenhados”.

Há diversas maneiras de se obter as malhas de linhas, e cada uma delas gera


determinado tipo de distorção e evita outros.

A princípio, procura-se �guras que sejam facilmente desenvolvíveis, como, por


exemplo, o cilindro, o cone e o plano.
A projeção dos paralelos e meridianos será feita na parte interna do cilindro,
do cone ou diretamente na superfície plana. Nos dois primeiros casos, as �gu-
ras geométricas, depois de feita a projeção, deverão ser tornadas planas, ou se-
ja, a �gura é cortada ao longo de uma de suas linhas e aberta em seguida, co-
mo indica a Figura 19.

O cilindro ou cone passa a ser um plano com a rede geográ�ca nele inscrita,
constituindo-se, então, em uma projeção cartográ�ca cilíndrica ou cônica.

Fonte: adaptado de Duarte (1988, n. p.).

Figura 19 Projeção Cilíndrica direta.

No caso do plano, a projeção é obtida diretamente sobre sua superfície, e o re-


sultado pode ser chamado de projeção plana.

França e Uhlmann (2007, p. 26), lembram que:

A representação da rede geográ�ca sobre um plano necessita de cuidados especi-


ais, tendo em vista que a superfície de uma esfera ao assumir uma forma plana irá
sempre sofrer de deformações.

A projeção dos paralelos e meridianos na superfície interna de um cilindro, de um


cone ou diretamente em um plano, foi a solução geométrica encontrada de modo a
tornar mais fácil o entendimento das deformações. Estes são os três princípios geo-
métricos básicos cujo resultado �nal pode ser obtido diretamente com aplicação de
fórmulas matemáticas.
Vejamos a Figura 20:

Fonte: adaptado de Duarte (1988, n. p.).

Figura 20 Superfícies básicas para obtenção das projeções cartográ�cas.

O estudo sobre projeções cartográ�cas é bastante extenso, envolvendo uma sé-


rie de aspectos. Segundo Anderson et al. (2012) sem projeções cartográ�cas:

[...] todas as representações da Terra com a exceção das de escala grande e de pe-
quenas regiões, que possuem curvaturas negligenciáveis, teriam que ser globos ou
segmentos curvos de globos, os quais são volumosos, dispendiosos, e de difícil pro-
dução e comercialização em massa. Além disso, a �m de examinar uma distribui-
ção espacial do mundo inteiro, os usuários do globo precisam girar e possivelmente
inclinar o globo tão bem quanto mover os seus olhos. Porém para transformar num
plano as superfícies curvas, como as da Terra, Lua, de Marte, ou de uma “cabeça”
esférica e é preciso usar projeções, as quais sempre causam distorções nas formas
e nas relações de distância.

A respeito das distorções geométricas inerentes,  as vantagens dos mapas planos
excedem de longe suas desvantagens;  portanto, as vantagens associadas aos glo-
bos grandes e sem distorções são sobrepujadas, para a maioria dos usos, simples-
mente pelas di�culdades de seu manejo.

Sobre essa situação Nogueira (2009, p. 37) coloca:


Qualquer sistema de projeção representará a superfície da Terra com deformações,
as quais serão tanto maiores quanto mais extensa for a área em verdadeira grande-
za, outros para conservar a forma da área, outros para manter os comprimentos em
certas direções. Contudo não é possível conservar todas essas características da
área em representação.

Essa constatação deu origem às denominadas propriedades das projeções


cartográ�cas.

Propriedades das projeções cartográ�cas


A primeira das propriedades das projeções cartográ�cas é a Conformidade.
Segundo Nogueira (2009, p. 37) é quando há ausência de deformação angular
e, consequentemente, a manutenção da similitude entre as regiões representa-
das. Ou seja, a forma ou �sionomia dos elementos desenhados no mapa
mantém-se igual àquela da superfície terrestre.

Segundo o autor, para conseguir manter essa similitude são alteradas as áre-
as, como é o caso da projeção de Mercator, na qual os ângulos das �guras pe-
quenas são conservados, mas as grandes áreas aparecem aumentadas. O caso
da Groenlândia, exemplo comum em livros didáticos, e que aparece no planis-
fério construído nessa projeção com superfície superior à América do Sul, em-
bora seja oito vezes menor.

A Equivalência, na visão de Nogueira (2009), é aquela que conserva a relação


entre as áreas da superfície terrestre e as representadas no mapa, ou seja, é
mantida a proporção de tamanho entre a superfície real e a do desenho. Nesse
caso, para que a relação entre as áreas seja conservada, é alterada a forma ou a
�sionomia das regiões representadas no mapa. Um exemplo de equivalência é
a projeção de Peters, que faz oposição à de Mercator ao apresentar de forma �-
el as áreas dos países, embora as formas sejam alteradas.

Essa projeção é considerada por alguns como a mais correta, porque mostra o
tamanho real das massas continentais, ao contrário da projeção de Mercator,
que aumenta a área dos países do hemisfério Norte, onde estão os grupos do-
minantes no que tange às questões econômica e cultural (NOGUEIRA, 2009).
Já a Equidistância é a propriedade que:

• Conserva inalterada a relação entre os comprimentos medidos em certas di-


reções.
• Relação de comprimento dos paralelos e meridianos reais com aqueles dese-
nhados nos mapas (GEOLAB, 2012).

Superfícies de projeção

A superfície terrestre, por ser uma esfera ou elipsoide, não é reproduzida sobre
o plano sem grandes deformações. Devido a isso foi desenvolvida uma manei-
ra de minimizar esse problema por meio da criação de superfícies intermediá-
rias ou auxiliares. Essas superfícies são chamadas de superfícies de projeção
e podem ser o plano ou uma superfície auxiliar desenvolvível em um plano
como o cilindro ou o cone. Podemos observar as superfícies de projeção na
Figura 21:

Fonte: Nogueira (2009, p. 38).

Figura 21 Superfícies de projeções: plano, cilindro e cone.

Quanto aos aspectos da superfície de projeção em relação à superfície de refe-


rência, existe a seguinte classi�cação:

Normais ou Polares

Signi�ca que o plano de projeção é perpendicular ao eixo de rotação da Terra,


com ponto de tangência no polo (quando recebe a denominação de Polar).

• Nas projeções cilíndricas, o cilindro que envolve o globo é perpendicular ao


plano do Equador, conhecida como equatorial.
• Nas projeções cônicas, o eixo do cone é paralelo ao de rotação da Terra
(GEOLAB, 2012).
Transversa ou Equatorial

Nogueira (2009), relata que no aspecto transverso, em projeções azimutais, o


plano é perpendicular ao plano do Equador (projeção equatorial); em projeções
cilíndricas, o cilindro é paralelo ao plano do Equador e perpendicular ao eixo
da Terra; e em projeções cônicas, o eixo do cone é perpendicular ao eixo da
Terra, e ambas são projeções transversas.

Horizontais ou Oblíquas

No aspecto oblíquo o plano da projeção azimutal não é nem perpendicular ao


eixo da Terra nem perpendicular ao plano do Equador e, nas cônicas e cilín-
dricas, o eixo não coincide nem é perpendicular ao eixo de rotação da Terra.
Bakker (apud NOGUEIRA, 2009) a�rma que as projeções se comportam, desta
forma, como projeções horizontais. Observe a Figura 22, que exempli�ca todos
os tipos de superfícies de projeções.
Figura 22 Classi�cação das projeções de acordo com sua superfície de projeção. A – Normais ou Polares; B –

Transversa ou Equatorial; C – Horizontal ou Oblíquas.

5. Classi�cação das projeções cartográ�cas de


acordo com suas propriedades
Projeções Conformes
De acordo com Nogueira (2009) a conformidade é a característica de verdadei-
ra forma, na qual uma projeção preserva na carta as magnitudes angulares
formadas pelos mesmos pontos representados na superfície da Terra. O autor
coloca que uma condição necessária é a interseção perpendicular de linhas do
reticulado à semelhança do que ocorre no globo. A propriedade de conformi-
dade é importante em mapas que são usados para analisar ângulos, assim co-
mo ocorre em navegação. Assim podemos dizer que, uma projeção conforme é
aquela em que a escala máxima é igual à mínima em todas as partes do mapa
(a = b). Um pequeno círculo na superfície terrestre se projetará como um círcu-
lo na projeção, caracterizando uma deformação angular nula (IBGE, 1998).

Projeções Equivalentes
A projeção equivalente é aquela que possui característica de igualdade de áre-
as, isto é:

• Cada área está em verdadeira grandeza e, por isto, pode ser relacionada com
outras em qualquer outro setor da representação.
• Envolve transformação inexata dos ângulos e distâncias e é importante em
mapas usados para comparar densidade e os dados de distribuição, como no
caso da demogra�a (GEOLAB, 2012).

Segundo Yoshizane (2012) “as escalas máximas e mínimas são recíprocas: a.b
= 1, mantendo uma escala de área uniforme”.

Deforma muito em torno de um ponto, pois  a escala varia em todas as dire-


ções. Devemos saber que o princípio da equivalência é a manutenção das áre-
as de tamanho �nito (IBGE, 1998).

Projeções A�láticas
De acordo com Nogueira (2009), as projeções a�láticas são aquelas que não
conservam ângulos e nem as áreas sendo que nestes sistemas é dada a prefe-
rencia para reduzir ambas as deformações em vez de eliminar uma a custa de
contemplar a outra. Yoshizane (2012) relata que “as projeções a�láticas não
conservem área, distância, forma ou ângulos, mas podem apresentar alguma
outra propriedade especí�ca que justi�que a sua construção”.

Projeções Equidistantes
De acordo com Geolab (2012), qualquer uma das projeções anteriormente cita-
das pode:

• [...] apresentar o atributo de serem equidistantes em alguma direção, nunca


em todas.
• Estas direções são ausentes de deformações lineares, mantendo as distâncias
corretas em certas direções privilegiadas.

Um exemplo é a projeção conforme de Gauss, equidistante segundo o meridia-


no central que é projetado em verdadeira grandeza, ressalvada a escala
(GAMAEL apud NOGUEIRA, 2009). Uma escala especí�ca é mantida igual à es-
cala principal ao longo de todo o mapa. Por exemplo: a escala ao longo de um
meridiano h = 1.0. Assim, sob certas condições, as distâncias são mostradas
corretamente. Contudo, a eqüidistância não é mantida em todo o mapa, a es-
cala linear é correta apenas ao longo de determinadas linhas ou a partir de
um ponto especí�co (NOGUEIRA, 2009).

Ainda de acordo com o autor, o modo do traçado, as projeções podem ser clas-
si�cadas em:

1. Geométricas: são as que podem ser traçadas diretamente, utilizando as


propriedades geométricas da projeção.
2. Analíticas: são as que podem ser traçadas com o auxílio de cálculo adici-
onal, tabelas ou ábacos e desenho geométrico próprio.
3. Convencionais: são as que só podem ser traçadas com o auxílio de cálcu-
lo e tabelas. São absolutamente arti�ciais e podem ser de�nidas analiti-
camente como uma série de condições necessárias para originar as pro-
jeções convencionais; considerando a representação na totalidade da su-
perfície terrestre, elas poderão ser contínuas ou interrompidas.

As principais projeções são subdivididas de acordo com as superfícies de pro-


jeção, as quais estudaremos a seguir.

Planas ou azimutais
As superfícies de projeção planas ou azimutais podem ser ortográ�ca, estereo-
grá�ca, azimutal equivalente de Lambert, azimutal equidistante, gnomônica
(conforme ilustram as Figuras 23 e 24).

Figura 23 Ortográ�ca: foi popular durante a 2a Guerra Mundial. Com os voos espaciais, foi rebuscada, pois lembra a fo-

togra�a dos corpos celestes.

Figura 24 Estereográ�cas: o aspecto oblíquo tem sido usado para projeção planimétrica de corpos celestes: Lua, Marte,

Mercúrio, Vênus. O aspecto polar elipsóidico tem sido usado para mapear as regiões polares (Ártico e Antártico).

Nogueira (2009) ainda esclarece que a projeção azimutal equivalente de


Lambert, como mostra a Figura 25, tem o aspecto polar com as características
idênticas as das demais azimutais: círculos concêntricos para os paralelos nos
polos e meridianos irradiados.  

O esquema de distorção da projeção, para a esfera, pode ser colocado para se


de�nir as regiões de deformação e distorção da escala. O espaçamento dos pa-
ralelos diminui conforme aumenta a distância do polo. Normalmente, a proje-
ção não é mostrada abaixo de um hemisfério (ou do Equador). É bastante utili-
zada em atlas comercial e mapas que necessitem de relações de equivalência
entre as formas. Além disso, serve de base para mapas geológicos, tectônicos
e de energia; mapas comerciais e mapas geográ�cos (físico, políticos e econô-
micos):

Figura 25 Azimutal Equivalente de Lambert: não é perspectiva, podendo ser chamada de “sintética” por ter sido de-

senvolvida para apresentar a característica de equivalência.

Note que a Projeção Azimutal ou Equidistante não é uma projeção perspectiva,


porém como equidistante tem a característica especial de todas as distâncias
estarem em uma escala real quando medidas do centro até qualquer outro
ponto do mapa (Figura 26). Ela, também, pode ser utilizada no aspecto polar
para mapas mundiais e mapas de hemisférios polares; no aspecto oblíquo pa-
ra Atlas de continentes e mapas de aviação e uso de rádio (NOGUEIRA, 2009).

Ainda segundo o autor citado anteriormente, a utilização regular em Atlas,


mapas continentais e comerciais tomam o centro de projeção em cidades im-
portantes; em cartas polares; em navegação aérea e marítima; em radiocomu-
nicações (orientação de antenas) e em radioengenharia; em cartas celestes
tendo a Terra como ponto central. Nesses casos utiliza-se a projeção gnomôni-
ca, como mostra a Figura 27.
Figura 26 Azimutal ou Equidistante.

Figura 27 Gnomônica: sendo utilizadas como cartas polares de navegação; navegação marítima e aérea; rádio e radio-

goniometria, radiofaróis; geologia (alinhamento de componentes da crosta); cartas de portos.

Cilíndricas
As superfícies de projeção cilíndrica podem ser classi�cadas em Mercator,
Transversa de Mercator, Equivalente de Lambert e Oblíqua de Mercator, como
ilustram as Figuras 28, 29, 30 e 31.

Na projeção Mercator, os meridianos da projeção de Mercator são retas verti-


cais paralelas, igualmente espaçadas, cortadas ortogonalmente por linhas re-
tas representando os paralelos, que por sua vez são espaçados a intervalos
maiores, à medida que se aproximam dos polos (NOGUEIRA, 2009). Esse espa-
çamento é tal que permite a conformidade, e é inversamente proporcional ao
cosseno da latitude.

Figura 28 Mercator: é ainda bastante empregada em Atlas e cartas que necessitem mostrar direções (cartas magnéti-

cas e geológicas). Praticamente todos os mapas de fusos horários são impressos na projeção de Mercator.

Figura 29 Transversa de Mercator: utilizada para mapeamentos topográ�cos e é base para a projeção UTM (Universal

Transversa de Mercator).

As projeções Transversa de Mercator e a Universal Transversa de Mercator


serão estudadas mais detalhadamente em outro momento.

Segundo Duarte (2002), a projeção Equivalente de Lambert se caracteriza por


ser uma projeção cilíndrica, equivalente e equatorial, ou seja, a escala sobre o
Equador é verdadeira e os paralelos são representados com o mesmo compri-
mento do Equador.
A escala sobre os meridianos é reduzida na proporção inversa do aumento so-
bre os paralelos, e os espaçamentos dos paralelos diminuem à medida que se
aproximam dos polos, indicando uma redução de escala.

Ainda de acordo com Duarte, (2002), à proporção que a latitude aumenta, a es-
cala sobre os paralelos vai sendo progressivamente exagerada e, ao mesmo
tempo, vai diminuindo sobre os meridianos na proporção inversa.

Figura 30 Equivalente de Lambert, na qual há uma grande distorção nas altas latitudes devido à desigualdade entre a

escala nos meridianos e nos paralelos.

Figura 31 Oblíqua de Mercator: é uma projeção semelhante à projeção regular de Mercator, em que o cilindro é tangen-

te a um círculo máximo que não o Equador ou um meridiano.

Desse modo, podemos a�rmar, de acordo com IBGE (1998), que as projeções do
tipo planas ou azimutais são apropriadas para cartas equivalentes em baixas
latitudes e para a confecção de mapas mundiais de baixas latitudes.

Projeções cônicas
As projeções cônicas podem ser classi�cadas em: Equivalente de Albers,
Cônica conforme de Lambert e Policônica.

Equivalente de Albers

Em poucas palavras, nesse tipo de projeção os paralelos são arcos de círculos


concêntricos desigualmente espaçados. Estão mais aproximados nas bordas
norte e sul do mapa, pois o cone é secante; os meridianos são raios de um
mesmo círculo cortando os paralelos ortogonalmente; não há distorção ao
longo do paralelo-padrão (tangência) ou dos paralelos-padrões (secância); os
polos são arcos de círculo. Essa projeção é utilizada para mapas equivalentes
de regiões que se estendem no sentido leste-oeste, e está ilustrada na Figura
32.

Figura 32 Projeção equivalente de Albers.

Cônica Conforme de Lambert

Alguns dos comentários feitos para a projeção de Albers em relação à aparên-


cia são idênticos, como, por exemplo, a aparência do espaçamento dos parale-
los (IBGE, 1998).

A seleção de paralelos-padrões também deve se ater à região que se deseja


mapear. É uma projeção conforme; porém, em altas latitudes, a propriedade
não é válida, devido às grandes deformações introduzidas.
Ainda segundo IBGE (1998), as linhas retas entre pontos próximos
aproximam-se de arcos de círculos máximos. A escala, reduzida entre os
paralelos-padrões, é ampliada exteriormente a eles.

Isso se aplica às escalas ao longo dos meridianos, paralelos ou qualquer outra


direção, uma vez que é igual em um ponto dado. A Figura 33 ilustra a
Conforme de Lambert:

Figura 33 Conforme de Lambert.

Policônica

Utiliza como superfície intermediária de projeção diversos cones tangentes,


em vez de apenas um.

Essa projeção é utilizada para a confecção de: mapas topográ�cos de grandes


áreas e pequenas escalas; cartas gerais de regiões não muito extensas; levan-
tamentos hidrográ�cos; mapa internacional do mundo através da projeção po-
licônica modi�cada, substituído usualmente pela cônica conforme de
Lambert (IBGE, 1998).

A projeção policônica pode ser visualizada na Figura 34:


Figura 34 Projeção policônica.

Além de todas essas projeções cartográ�cas, não devemos deixar de mencio-


nar o conhecido Sistema UTM (Universal Transversa de Mercator), já citado
anteriormente.

Seu princípio básico estabelece que a Terra é dividida em 60 fusos de 6 graus


de longitude, tendo início no antimeridiano de Greenwich (180º), e seguindo
numa ordem de oeste para leste. Com relação à latitude, a divisão consiste em
zonas de 4 graus, enquanto os paralelos-limites são os de 80º sul e 84º norte.

A Figura 35 mostra um mapa-múndi construído sobre o sistema UTM de coor-


denadas:

Fonte: Anderson (1982, n. p.).

Figura 35 Sistema UTM.

A Projeção Universal Transversa de Mercator (UTM)


A projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) é uma projeção cilíndri-
ca, como visto anteriormente. Ela passa pelos polos da Terra, seguindo tan-
gente a um “meridiano central” e ao seu antimeridiano. A precisão é melhora-
da quando se usa um cilindro secante (RICOBOM, 2007). Veja as Figuras 36 e
37.

Figura 36 Tangente.

Figura 37 Secante.

De acordo com Anderson et al. (2012), na projeção UTM:


[...] um mapa de toda Terra sofre grandes distorções “ao �nal do cilindro”. Porém, na
faixa chamada “fuso”, mais próxima do meridiano central, existe poucas distor-
ções. É claro que é possível girar um pouco o cilindro para ter um outro meridiano
na posição central. Isto é a base da projeção Gauss, da qual a projeção UTM é uma
variação especí�ca.

por um acordo geográ�co mundial, os fusos UTM são de seis graus de largura, enu-
merados crescentemente de oeste para leste a partir do meridiano 180º, que se en-
contra no Oceano Pací�co. As regiões polares recebem um tratamento especial e
tomam a forma circular. São necessários 60 fusos de seis graus para cobrir uma es-
fera de 360º. Cada fuso, é bem alongado, possui um meridiano central absoluta-
mente reto e poucas distorções como pode ser visto na �gura 18. En�m, a UTM é
muito bem adequada para cartas de escala entre 1:1000.000 até 1:10.000. Somente é
preciso subdividir a área em tamanhos convenientes para o mapeamento e para
um sistema de coordenadas quadriculadas [...].

Coordenadas UTM

Segundo Anderson et al. (2012):

Em cada fuso da projeção UTM estão marcadas linhas quadriculares de 100 por 100
km com tantas subdivisões quantas se desejem como numa folha de papel milime-
trado.

Vejamos a  Figura 38.


Figura 38 Um fuso de UTM exagerado dez vezes em largura para mostrar a relação entre utm e coordenadas geogra�-

cas.

Ainda segundo o autor:

As quadriculas de uma faixa de UTM possuem um limite oeste, ele está exatamen-
te a 500.000m (500km) a oeste do meridiano central da faixa. Com isso, a linha li-
mite do lado oeste tem o valor zero no sistema métrico decimal. Todas as medidas
na direção leste são positivas e chamadas de abcissas, isto é são medidas feitas na
direção leste a partir da linha zero. Contudo, na realidade essa linha zero nunca
aparece numa carta topográ�ca porque ela extrapola a folha, os lugares terrestres
mapeados em cada faixa nunca vão além de 340km do meridiano central. É neces-
sário lembrar que em cada uma dessass sessenta faixas do sistema UTM tem sua
própria “linha zero”. Sendo assim, as abcissas (numerações a leste da linha zero)
estão anotadas nas margens horizontais das cartas [...] (ANDERSON et al., 2012).

Vejamos as Figuras 39 e 40.


Figura 39 A medição de coordenadas UTM numa carta topográ�ca.

Figura 40 Uma régua com duas escalas para medição de coordenadas UTM.
Os números pequenos que �cam no alto à esquerda signi�cam as centenas de
quilômetros de separação entre aquele ponto e a linha zero, que está no extremo
oeste, eles geralmente não são usados quando se está referindo somente às coorde-
nadas contidas em uma carta.

Para as medidas de coordenadas norte-sul do sistema UTM, a linha do equador


tem o valor zero para o hemisfério Norte e 100.000.000 metros (10.000 quilômetros)
para o hemisfério sul. Portanto, a linha zero do hemisfério sul está perto do pólo
sul; porém, ela nunca aparece numa carta porque as regiões polares têm um siste-
ma especial de coordenadas, a projeção estereográ�ca polar, que substitui as do
UTM.

[...]

Combinando a abcissa com a ordenada cada ponto da superfície da Terra tem seu
par de coordenadas, dentro de uma faixa UTM. Esta quadrícula de coordenadas po-
de ser subdividida quantas vezes se quiser para obter uma precisão de centenas ou
dezenas de metros, e até frações deste, se a carta está numa escala adequada para
tanta precisão .

[...]

Com o sistema de coordenadas UTM é fácil identi�car rapidamente qualquer ponto


numa carta com o quadriculado impresso (ANDERSON et al., 2012, grifo nosso).

Você já notou que, em nosso cotidiano, as representações cartográ�cas se tor-


naram elementos essenciais em nossas vidas? Deparamo-nos com mapas nas
escolas, nos telejornais, nos roteiros de viagem, no computador de bordo do
carro, na rede mundial de computadores, nas estações rodoviárias, en�m, sua
apresentação tornou-se essencial em inúmeros locais.

Pois é, na era da informação, na qual o grande �uxo de informações dita as re-


gras das atuais relações de poder, nada melhor do que um instante de “abarcar
de olhos” para compreender a mensagem comunicativa e “pular” para a próxi-
ma. Se a mensagem for bem estruturada, esse “abarcar de olhos” é o tempo ne-
cessário para percebermos a informação, captar a mensagem, entendê-la e
assimilá-la. E não para por aí, porque, após a sua assimilação, você ainda pode
acreditar ou não na informação veiculada.
Essa tarefa é o desa�o da comunicação visual. A composição de cores e de ele-
mentos é uma “arma” na mão de quem sabe manuseá-la, tornando simples
mensagens em verdadeiras obras de arte de forte valor ideológico.

Com os mapas não são diferentes. Os mapas pertencem à família da represen-


tação grá�ca, são respaldados por teorias cientí�cas e, por isso, nada em um
mapa pode ser considerado por acaso, nem seus símbolos, nem suas cores,
nem seu tamanho e, muito menos, seu conteúdo.

Dessa forma, vamos além da simples visualização de um mapa, ou seja,  bus-


caremos construir um conhecimento especí�co capaz de nos dar condições
para desvendar o universo que está por trás dos mapas, conhecê-lo a fundo,
para, assim, compreender a dimensão da ciência Cartográ�ca!

Vamos conhecer as principais teorias que regem a cartogra�a. Veremos seus


aspectos básicos e suas intrínsecas ligações com a Geogra�a, o que a torna es-
sencial neste curso, a�nal, a cartogra�a nada mais é do que a expressão grá�-
ca da Geogra�a. Pense nisso!

6. Breve panorama teórico da cartogra�a


Para que o estudo da cartogra�a seja proveitoso, é de fundamental importân-
cia conhecer o seu propósito como ciência. Para isso, será apresentada suas
principais bases teóricas.

Princípios teóricos da Cartogra�a


Apesar de registros históricos apontarem que os primeiros documentos carto-
grá�cos datam de séculos antes do aparecimento da própria escrita, a preocu-
pação com a questão teórica é recente, surgindo apenas na metade do século
19, com grande expressão na Alemanha e na França.

No século 17, a cartogra�a desenvolvia-se, principalmente, em função das


grandes navegações e da necessidade de exploração de novas terras para se
con�rmar a expansão territorial. Nessa época, buscava-se mais aprimorar as
técnicas matemáticas e a arte para a apresentação dos mapas do que o seu
conteúdo cientí�co em termos de sistematização das atividades e divulgação
do conhecimento.

Somente no �nal dos anos de 1930, a cartogra�a �rma-se como um campo da


ciência. A partir desse período, surgem inúmeras de�nições, elaboradas por
diversos autores nas mais distintas épocas que explicam seus meios e �ns
(por exemplo, o livro Introdução à Cartogra�a Temática, de Paulo Araújo
Duarte, de 1991, traz um conjunto de de�nições sobre cartogra�a). Todavia, es-
sas de�nições possuem algumas divergências entre si, que variam de acordo
com as concepções dos autores, seus princípios pessoais, a cultura na qual se
inserem, a atmosfera política que os envolve, em resumo, o contexto histórico
em que viveram.

A característica técnica do mapa é indiscutível. Além disso, alguns autores


entendem a cartogra�a como ciência, outros, ainda, como arte, e a grande
maioria aceita as duas concepções. Esta última possui uma grande aceitação
no Brasil, e é adotada por importantes autores especializados na área. Ainda
na década de 1990, surgiram outras de�nições que a classi�caram como disci-
plina, como fez a International Cartographic  Association em 1991.

Como mencionado, a grande maioria das de�nições compartilham um objeti-


vo comum. Podemos considerar que a cartogra�a é ao mesmo tempo:

• Ciência.
• Arte.
• Técnica.

Esses três tópicos serão os pilares de nossos estudos. Assim, transcrevemos, a


seguir, uma de�nição dada à Cartogra�a no ano de 1964, pela International
Cartographic Association (ICA), que engloba esses itens e satisfaz às necessi-
dades do curso.

Cartogra�a é o conjunto de estudos e operações cientí�cas, artísticas e técnicas, baseadas


nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à elabo-
ração e preparação de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como sua utilização
(ASSOCIAÇÃO CARTOGRÁFICA INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA, 2012).
A seguir, analisaremos cada um dos tópicos destacados anteriormente.
Vejamos:

• Ciência: de acordo com Duarte (2002), a cartogra�a pode ser considerada uma
ciência, pois está inserida em um campo de atividade humana que requer o
desenvolvimento de conhecimentos especí�cos, aplicação sistemática de
operações de campo e laboratório, planejamento dessas operações, metodolo-
gia de trabalho e aplicação de técnicas, além do conhecimento de outras ciên-
cias.
• Arte: a sensibilidade artística é própria, também, de todo trabalho cartográ�-
co. Por ser caracterizado como documento exclusivamente visual, o mapa es-
tá submetido a leis �siológicas de percepção da imagem. Assim, para que se
cumpra corretamente sua função de transmitir a informação ao receptor
(dentro da ótica de comunicação), é essencial que haja harmonia entre cores,
símbolos, boa disposição dos elementos (traçados, legenda, letreiros), respei-
tando sempre as regras da semiologia grá�ca, e primando pela estética.
Nesse sentido, Duarte (1991) a�rma que o trabalho cartográ�co deve objetivar
o ideal da beleza. Deve-se salientar que a arte não quer dizer complexidade, e
muito menos que deva se priorizar o aspecto decorativo do mapa em detri-
mento da precisão de sua informação. Na representação cartográ�ca, o cará-
ter artístico, juntamente com o cientí�co, deve compor um conjunto harmoni-
oso, que satisfaça o leitor por meio da beleza, e garanta a qualidade e o nível
de informação fornecida.
• Técnica: a técnica justi�ca-se pelo fato de que todo conjunto de operações ser
direcionado à obtenção de um documento com caráter altamente técnico, o
mapa. Seu objetivo primeiro, de comunicar uma idéia sem dar margens a in-
terpretações contraditórias (MARTINELLI, 1991), con�rma esta posição. Outro
fator que destaca claramente a tecnicidade do mapa é, como indica Joly
(2003), que a atividade cartográ�ca engloba as atividades que vão desde o le-
vantamento de campo, ou mesmo de documentos cartográ�cos já existentes
na bibliogra�a, até a impressão de�nitiva e publicação do mapa elaborado.

Atualmente, com a difusão das geotecnologias, em especial das ferramentas


de geoprocessamento, nas quais se inserem os sistemas de informações geo-
grá�cas (SIG), a técnica assume destacada relevância entre os três itens discu-
tidos. No entanto, não haverá êxito na manipulação das ferramentas essenci-
almente técnicas se o operador não dispuser de bom senso em relação à arte e,
especialmente, à ciência. Caso contrário, a difusão dessas ferramentas condi-
cionará a banalização do tratamento das informações geográ�cas e, conse-
quentemente, a publicação de falsas informações.

A necessidade de compreendermos  a in�uência exercida pela ciência, arte e a


técnica em um simples mapa reside na pretensão desta disciplina em abordar
a cartogra�a sob uma visão holística, para que possamos compreender seu
potencial e seus limites, e não apenas conceber o mapa como produto já pron-
to em papel ou num monitor de vídeo, passando despercebido todo o processo
de elaboração que o antecedeu.

Mas será que é necessário que todos aprendam essas características tão pecu-
liares da ciência cartográ�ca? A justi�cativa para aceitarmos a a�rmativa an-
terior é muito simples.

Estamos nos propondo a nos especializarmos em numa área do conhecimen-


to humano (a Geogra�a) que nos torna indivíduos com conhecimentos especí-
�cos, diferenciados. O que é de domínio do senso comum, por exemplo, a leitu-
ra dos mapas (pelo menos deveria ser), como mencionado, todos sabem. No
entanto, o conhecimento dessas peculiaridades serão o seu diferencial no
campo pro�ssional. O domínio dessas informações garantirá a você a segu-
rança diante dos obstáculos que surgirem, seja em perguntas em sala de aula,
seja fora dela. Não se esqueça de que temos muito mais facilidade de ensinar
aquilo que conhecemos a fundo e com o qual temos experiência.

Sendo assim, é aconselhável que conheçamos todas as suas etapas. Como sa-
lientou Joly (2003), as operações cartográ�cas são extensas, vão desde o le-
vantamento de dados até a divulgação do material. No entanto, isso não signi-
�ca que devemos dominar o manuseio de cada etapa do processo de elabora-
ção do mapa. É desejável, pelo menos no campo pro�ssional, que haja especia-
listas para as diversas etapas do trabalho cartográ�co.

Podemos concluir que o material cartográ�co é o responsável por representar,


de modo adequado, os fatos e fenômenos que ocorrem sobre a superfície da
Terra, no céu, no mar e até mesmo nos astros, constituindo um instrumento
indispensável para o trabalho do geógrafo, pois possibilita tanto o registro co-
mo a análise espacial dos dados. Conhecer e representar a Terra foram os pri-
meiros objetivos da cartogra�a, e ainda hoje é a sua maior preocupação.

Agora, com o foco na Geogra�a, convidamos você a exercitar seu raciocínio de


pesquisador. À luz do que você conhece sobre as diversas concepções de espa-
ço na Geogra�a, como a cartogra�a pode contribuir em cada corrente do pen-
samento geográ�co?

É importante destacar que a cartogra�a convive com pluralismos epistemoló-


gicos, o que ocorre em qualquer outra ciência. Compreender pontos de vista
distintos nos permite visualizar o assunto por outro ângulo, facilitando o en-
tendimento dos “porquês” de diferentes abordagens. Ao defender uma posição,
é importante conhecê-la tão bem quanto suas antagônicas, para que as críti-
cas sejam baseadas em argumentos cientí�cos concretos, e não em “achis-
mos” do senso comum. Desse modo, é de fundamental importância que você
pesquise sobre as diversas abordagens existentes na cartogra�a, assim como
na Geogra�a em geral.

Comunicação cartográ�ca
Há inúmeras formas de comunicar uma mensagem. De maneira simplista, po-
demos indicar a comunicação por meio da fala (comunicação verbal), da mú-
sica, da escrita e de várias outras possibilidades desenvolvidas ao longo da
história do homem.

Esses meios de comunicação atingem o seu objetivo mediante o uso de uma


linguagem especí�ca, que pode ser compreendida como:

Linguagem
Qualquer e todo sistema de signos que serve como meio de comunicação de idéias ou senti-
mentos através de signos convencionais, sonoros, grá�cos, gestuais etc., podendo ser perce-
bida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguir várias espécies de lingua-
gem: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo
tempo, de elementos diversos, como se faz nos �lmes que misturam a linguagem visual
com a sonora (ALMEIDA, 1980, n. p.; HOUAISS, 2001, n. p.).

Dessa forma, podemos considerar a cartogra�a como uma linguagem especí�-


ca, pois atende a todos os requisitos mencionados. Ou seja, possui seus signos
(normatizados pela semiologia grá�ca), exprime uma ideia (o tema abordado)
e é, na maioria das vezes, uma linguagem visual. Existem mapas cuja �nalida-
de não se destina apenas ao sentido visual. Há mapas especiais desenvolvidos
para de�cientes visuais também. A Cartogra�a Tátil é a responsável pela ela-
boração de mapas (maquetes), formados por materiais distintos, apresentando
formas e rugosidades especí�cas, segundo o objeto da realidade que esteja re-
presentando. É especial por ser um meio de comunicação entre indivíduos,
como, por exemplo, o editor do mapa e o receptor.

Segundo Martinelli (1991), as representações grá�cas compõem, de maneira


abrangente, os sistemas de sinais que o homem desenvolveu para possibilitar
a comunicação entre si, criando uma linguagem exclusivamente visual.

O conceito de representação grá�ca sustentou a cartogra�a por longas déca-


das. Vejamos:

Representação Grá�ca é a linguagem grá�ca; bidimensional; atemporal; destinada


à vista. Se expressa por meio da construção da imagem, por isso tem supremacia
sobre as outras formas de linguagem, pois demanda apenas de um instante míni-
mo de percepção. E principalmente, integra o sistema semiológico monossêmico
(MARTINELLI, 1991, p. 9).

Para melhor compreendermos como estrutura a hierarquia da comunicação


visual, apresentamos na Figura 41 o organograma que expõe com clareza esta
ideia.
Fonte: Matias (1996, p. 64).

Figura 41 A representação grá�ca no universo da semiologia.

A Figura 41 expõe a hierarquia existente na semiologia. Observe que da “co-


municação visual” se derivam as “imagens estáticas” e “dinâmicas”, sendo os
mapas representados como �guras estáticas. Essa hierarquia foi elaborada pe-
lo autor no ano de 1996 e, sem dúvida, é extremamente válida e didática ainda
hoje. No entanto, com o passar dos anos, novas necessidades surgem, e os mé-
todos vão se adequando aos novos paradigmas cientí�cos.

Observa-se atualmente que em algumas áreas especí�cas, como, por exemplo,


a Defesa Civil e o monitoramento ambiental, os mapas com representações es-
táticas já não satisfazem mais as necessidades, pois esses serviços estratégi-
cos precisam de representações grá�cas que indiquem a dinâmica dos fenô-
menos geográ�cos, como eles variam no espaço em pequenos lapsos de tem-
po – como é o caso do monitoramento de atividades climáticas extremas
(tempestades, furações, tornados, geadas, ondas de calor, entre outros), en-
chentes, queimadas, derramamento de óleo. Ou seja, são informações funda-
mentais para tomadas de decisões em curtos prazos. O desenvolvimento da
computação na área das Geociências tem avançado nas técnicas denomina-
das “modelagem dinâmica de sistemas ambientais”, que buscam suprir as
atuais necessidades. Quando partimos da concepção de Cartogra�a como lin-
guagem, aceitamos, concomitantemente, seu papel de comunicação visual.
Pois, como indicado anteriormente, a linguagem destina-se à comunicação
entre pessoas.

Nesse sentido, a compreensão do processo de comunicação visual auxilia-nos


na construção dos produtos cartográ�cos e permite-nos criticar o mapa, bem
como avaliar o seu papel social.

A comunicação visual, então, objetiva a compreensão e o entendimento de


uma mensagem, e, no caso da representação grá�ca, a comunicação revela-se
por meio da linguagem monossêmica, que, por sua vez, objetiva evidenciar as
relações fundamentais entre objetos e dados apresentados. Mas, a�nal, como
funciona esse processo?

O processo de comunicação grá�ca fundamenta-se em uma estrutura com-


posta por seis elementos. Acompanhe, a seguir, como Duarte (2002) descreve
cada um deles.

• Remetente: é aquele que envia a mensagem. Dessa forma, para que uma
mensagem seja transmitida com e�ciência será necessário que o cartó-
grafo (remetente) apresente pleno domínio das técnicas cartográ�cas, pa-
ra que possa conceber a simbologia mais adequada capaz de representar
a informação desejada, obtendo êxito na transmissão da informação. No
entanto, somente obteremos sucesso se o cartógrafo compreender a natu-
reza da informação que estará representando. Ou seja, é preciso que o car-
tógrafo compreenda e domine o assunto.

Complementando essa de�nição, Joly (2003, p. 134) a�rma que “[...] para um
bom cartógrafo, primeiro é preciso ser um bom especialista. É preciso domi-
nar o assunto a ser tratado [...] ao mesmo tempo que uma séria maestria da
composição grá�ca”.

Isso signi�ca que o remetente só será capaz de elaborar uma boa mensagem
visual se possuir um bom repertório. Nesse contexto, cabe de�nir repertório e
destinatário.

• Repertório: conjunto de conhecimentos e experiências que permitirão a


elaboração de uma mensagem clara.
• Destinatário: aquele ao qual a mensagem se destina. Se a mensagem esti-
mular uma resposta igual à esperada pelo remetente, o processo de co-
municação está completo.

Como vimos, o destinatário também deve possuir um bom repertório, pois a


leitura do mapa será tanto mais rica, quanto maior for o repertório do leitor.
Outro importante elemento nesse processo é a mensagem, vejamos:

• Mensagem: é a resultante de uma associação de ideias a um ou mais estí-


mulos físicos. Caso contrário, admite-se que houve nesse processo a in-
terferência de um ruído.
A ideia (signi�cado), por sua vez, compreende o pensamento a ser transmiti-
do. O estímulo físico ou signi�cante, no caso da cartogra�a, são as imagens
que compõem o mapa. E a união desses dois elementos forma o signo, respon-
sável por transmitir a mensagem.

• Código: é o meio que possibilita a compreensão do signo. Ele pode ser


uma norma, uma convenção ou uma instrução que facilita a compreen-
são do signo. Por exemplo, em um mapa que se proponha a indicar a dis-
tribuição dos hospitais e dos postos de gasolina em um determinado ter-
ritório, poderemos optar por representar esses elementos por “pontos”
verdes para os hospitais e azuis para os postos. Desse modo, primeira-
mente o destinatário deverá se remeter à legenda para compreender o
que é cada ponto representado. No entanto, se representarmos no mesmo
mapa os locais com: cruzes vermelhas e bombas de gasolina, a descodi�-
cação será imediata por parte do destinatário, nesse caso os códigos faci-
litaram a identi�cação imediata dos pontos no mapa.

Esses símbolos visuais grá�cos são encontrados na literatura como Signos


Icônicos. Eles representam os símbolos que possuem uma relação muito es-
treita entre o signi�cante e o signi�cado, proporcionando uma descodi�cação
quase que imediata. Por isso, são mais vantajosos do que os outros signos lin-
guísticos.

Outro fator contemplado pela comunicação visual é o veículo.

• Veículo: é qualquer elemento de natureza física usado para transportar ou


conduzir a mensagem até o destinatário, tal como o papel, rádio, TV etc.

A Figura 42 ilustra o modelo de comunicação visual utilizado pela cartogra�a.


Vejamos.

Fonte: Duarte (2002, p. 172).


Figura 42 Modelo do processo de comunicação cartográ�ca.

Atualmente, os princípios da comunicação visual são bem aceitos para a car-


togra�a. Contudo, a intensi�cação da informática e da automação nas rela-
ções sociais permitiu maior interatividade entre remetente e destinatário, im-
plicando em algumas modi�cações e no desenvolvimento de outras concep-
ções para a cartogra�a, como poderá ser observado na abordagem sobre visu-
alização cartográ�ca.

Visualização Cartográ�ca
Segundo Ramos (2001), a visualização cartográ�ca é uma nova forma de con-
ceber a cartogra�a.

Inicialmente, é importante desvincularmos a ideia popular de visualização e


assumirmos a acepção cientí�ca do termo.

Em cartogra�a, o termo visualização, conforme cita Scolum (1998), indica não


somente a visualização de um resultado �nal, mas também a apresentação de
informações que possibilitem ao leitor, por meio de sua exploração, estabele-
cer suas próprias análises e chegar a um novo conhecimento.

Portanto, o termo visualização cartográ�ca não centra suas atenções apenas


no trabalho de criação do mapa (como prega a comunicação cartográ�ca),
mas também no seu uso pelo leitor. O processo de visualização cartográ�ca
está relacionado, especialmente, aos mapas estruturados para a consulta em
ambientes digitais interativos, ou seja, mapa como instrumento de análise e
interatividade.

Apesar de ser unânime a compreensão desse termo, há algumas diferenças na


forma de como autores abordam o mapa na visualização cartográ�ca. DiBiase
(1990, apud RAMOS 2001), por exemplo, enfatiza o uso do mapa como relação
entre cartógrafo e leitor, enquanto Taylor (1991, apud RAMOS, 2001) destaca a
tecnologia envolvida no processo de visualização.

Ramos (2001), também, salienta que, em essência, o processo de visualização


cartográ�ca relaciona-se às dualidades:

• Análise versus comunicação.


• Exploração de informações versus apresentação de informações.

De maneira representativa, MacEachren (1994) desenvolveu um modelo muito


interessante denominado “(cartogra�a)” – cartogra�a ao cubo.

Esse modelo é baseado em 3 eixos, como veremos a seguir:

• Eixo 1: relacionado à apresentação do conhecido ou descobrimento do


desconhecido.
• Eixo 2: relacionado à interatividade alta e interatividade baixa.
• Eixo 3: relacionado ao uso público ou privado.

Veja o exemplo apresentado na Figura 43.

Fonte: Maceachren (1994 apud RAMOS, 2001, p. 23).

Figura 43 Cartogra�a ao cubo.

Podemos considerar, portanto, que o princípio do processo de visualização


cartográ�ca é a interação existente entre usuário e mapa. Além disso, a visua-
lização cartográ�ca preocupa-se de que forma o mapa será utilizado, quais
instrumentos de análise serão fornecidos, quais mecanismos de exploração
serão disponibilizados e quais combinações de informação o usuário poderá
fazer.

Por essas razões, a visualização cartográ�ca mantém estreita relação com a


cartogra�a digital, pela in�nidade de possibilidades de desenvolvimento de
aplicações interativas.

Desse modo, podemos concluir que a utilização de uma abordagem cartográ�-


ca não é superior à outra, uma vez que a visualização cartográ�ca não invali-
da a comunicação cartográ�ca, nem mesmo o inverso. Como ambas possuem
objetivos distintos, aplicam-se em diferentes situações. Cabe ao pesquisador,
ou ao educador, tendo em vista seus objetivos, escolher a abordagem cartográ-
�ca que melhor se adéque às suas pretensões.

Após compreender a comunicação e a visualização cartográ�ca, iniciaremos


os estudos sobre o universo da cartogra�a temática.

O desenvolvimento da cartogra�a temática


Quantos tipos de mapa você já viu?

Ao responder a essa questão podemos nos referir a uma grande variedade de


mapas, tais como mapas em pequena escala cartográ�ca, capazes de repre-
sentar o planeta Terra de uma única vez (os planisférios), ou, parte de mapas
topográ�cos utilizados para estabelecer a rota a ser seguida numa trilha eco-
lógica, ou até mesmo mapas menos técnicos, por exemplo, aqueles que apenas
informam o local da “casa dos seus sonhos”, como faz os folders publicitários
distribuídos por construtoras de imóveis e imobiliárias. Já notou quais são as
semelhanças entre eles? Ou quais as suas diferenças?

De maneira geral, podemos dividir a cartogra�a em dois ramos bastante


abrangentes: a cartogra�a sistemática e a cartogra�a temática.
Panorama histórico da cartogra�a temática

Em meados do século 17, com origem francesa, a cartogra�a topográ�ca, ou de


base, caracterizou-se por objetivar a representação exata e detalhada da su-
perfície terrestre no que se refere à posição, forma e dimensão das áreas e su-
as distâncias. Para garantir essa precisão, consideravam-se topográ�cos ape-
nas os mapas que se inseriam entre as escalas de 1:10 000 (um para dez mil) e
1:100 000 (um para cem mil).

Nesses mapas, eram registrados essencialmente os elementos descritivos do


terreno, como a hidrogra�a, as curvas de nível, a vegetação e alguns detalhes
planimétricos (vias de comunicação, cercas de propriedades rurais), limites
políticos (estados, municípios, distritos, área urbana). Portanto, foram utiliza-
dos como um recurso essencial no traçado de estratégias de cunho militar e
organização do espaço geográ�co por conta do Estado.

Além disso, paralelamente à sua utilização, outros mapas se dedicaram a re-


presentar, separadamente, aspectos e fenômenos particulares da superfície
terrestre, de modo que não houvesse acúmulo de informações sobrepostas em
um único mapa.

Por exemplo, se imaginássemos um mapa com uma in�nidade de informa-


ções sobre um mesmo território, como ele seria? Acompanhe pela Figura 44
como seria sua representação.
Figura 44 Sobreposição de informações.

Como podemos observar, o mapa não é capaz de informar nada. A solução pa-
ra este problema, como menciona Joly (2003), foi bastante simples: multiplicá-
los e diversi�cá-los.

Sobre uma base cartográ�ca de limites precisos (mapa topográ�co)


desenvolveu-se os mapas especializados, tais como: mapas administrativos,
mapas geológicos, mapas pedológicos, mapas demográ�cos, mapas industri-
ais, mapas de �uxos, mapas climáticos entre outros.

Como podemos observar, houve a necessidade de tratar estes mapas de uma


maneira mais particularizada, pois, apesar de todo mapa ser especializado na-
quilo que representa, há diferenças consideráveis entre os mapas topográ�cos
e os outros. Adotou-se, desse modo, o nome de Cartogra�a Temática para ge-
neralizar todos os mapas que abordassem outro assunto que não fosse a repre-
sentação precisa do terreno, mas, sim, a espacialização de fenômenos diversos
e de qualquer natureza sobre o espaço geográ�co (em literaturas mais antigas,
observamos, também, o uso da denominação cartogra�a geográ�ca para car-
togra�a temática).

Os mapas temáticos objetivam fornecer uma representação convencional dos


fenômenos localizáveis de qualquer natureza e de suas correlações, com o au-
xílio de símbolos qualitativos e/ou quantitativos dispostos sobre uma base de
referência, geralmente extraída dos mapas topográ�cos, ou dos mapas de con-
junto (JOLY, 2003).

Entretanto, se a intenção do movimento foi dar à cartogra�a temática a cono-


tação de um assunto particular, partiu-se da premissa de que há, em contra-
partida, um assunto de conotação geral. Desse modo, legitimou-se a divisão da
cartogra�a em dois grandes ramos:

• Cartogra�a geral – sistemática: descritiva e geométrica.


• Cartogra�a temática: analítica e explicativa.
Para elucidar melhor as distinções entre os ramos da cartogra�a, apresenta-
mos um quadro explicativo baseado em Duarte (1991). Acompanhe a seguir.

Quadro 1 Caracterização dos segmentos cartográ�cos.

CARTOGRAFIA SISTEMÁTICA CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Mapas topográ�cos (representação Mapas temáticos (representação de


do terreno) qualquer tema)

Atendem a uma ampla diversidade de


Atendem aos usuários especí�cos.
propósitos.

Podem ser utilizados por muito tem- Geralmente os dados são superados
po. com rapidez.

Não requerem conhecimento especí- Requerem conhecimento especí�co


�co para sua compreensão. Leitura para sua compreensão. Interpretação
simples. complexa.

Elaborados por pessoas especializa- Geralmente elaborados por pessoas


das em cartogra�a. não especializadas em cartogra�a.

Utilizam cores de acordo com a con-


Utilizam cores de acordo com as rela-
venção estabelecida para mapas to-
ções entre os dados que apresentam.
pográ�cos.

Uso de símbolos grá�cos, especial-


Uso generalizado de palavras e nú- mente planejados para facilitar a
meros para mostrar os fatos. compreensão de diferenças quantita-
tivas e qualitativas.

Sempre servem de base para outras Raramente servem de base para ou-
representações. tras representações.
Fonte: adaptado de Archela (2000); Duarte (1991, p. 22).

A de�nição de Salichtchev (1977, apud MARTINELLI, 1991, p. 35) apresenta de


forma explícita o que a cartogra�a temática é capaz de oferecer à sociedade,
ao mencionar que ela é a “[...] ciência que trata e investiga a distribuição espa-
cial dos fenômenos naturais e culturais, suas relações e suas mudanças atra-
vés do tempo, por meio da representação cartográ�ca”.
Podemos perceber em sua de�nição a preocupação com a reprodução da reali-
dade de forma grá�ca e generalizada, que incluem as distribuições espaciais
dos fenômenos naturais e sociais.

Re�etindo sobre essa de�nição, Santos (2002) a�rma que ela se aproxima mui-
to da Geogra�a, visto que nela se apresentam dois elementos fundamentais
para essas ciências: a relação Natureza – Sociedade.

A cartogra�a, portanto, pode in�uenciar o geógrafo, o professor de Geogra�a e


o estudante de Geogra�a. Nesse caso, a cartogra�a deve atuar especialmente
como reveladora de informações geográ�cas.

Vale salientar que a extensão e a localização, dois dos cinco princípios da


Geogra�a, evidenciam-se por meio da representação grá�ca.

Por �m, é importante ressaltar que a cartogra�a temática, da mesma forma


que o processo de representação grá�ca, possui uma função tríplice: regis-
trar/coletar, tratar e comunicar informações.

7. Escala Cartográ�ca x Escala Geográ�ca


Conforme discutimos no tópico anterior, a cartogra�a temática aproxima-se
muito da Geogra�a. Essa semelhança, portanto, surge da necessidade de re-
presentar e compreender espacialmente os fenômenos naturais e culturais
que nos cercam, sua análise e a busca pelo entendimento das correlações.

Um dos elementos que aproximam essas ciências é a escala.

Com base na compreensão dos conteúdos estudados, responda: qual das ima-
gens a seguir (Figura 45) possui a maior escala?
Figura 45 Imagem escala terra Brasil.

Como podemos notar, a imagem apresentada pela Figura “B” apresenta uma
escala cartográ�ca maior se comparada à escala da Figura “A”. Acompanhe,
agora, o caso a seguir.

Um determinado geógrafo está realizando um estudo sobre as alterações cli-


máticas nos últimos 100 anos. Sua pesquisa está dividida em dois momentos
distintos. No primeiro momento, ele faz uma observação geral considerando
todo o planeta Terra. Em um segundo momento, ele aborda apenas as altera-
ções ocorridas no território brasileiro. Pergunta-se: em qual dos momentos de
sua pesquisa o geógrafo adotou uma escala maior para abordar seus estudos?
É evidente que a imagem apresentada pela Figura “A” representa maior escala
se comparada à da Figura “B”.

A confusão que fazemos para responder a essas questões está no fato de utili-
zarmos o termo escala aleatoriamente em nosso cotidiano. Como salienta
Castro (2003), na Geogra�a, o raciocínio analógico entre escala cartográ�ca e
escala geográ�ca di�culta a problematização deste conceito.

Logo, na verdade, o que se observa é a confusão entre a escala fração matemá-


tica e a escala extensão.

Em razão disso, o geógrafo tem di�culdades ao utilizar os termos “grande” e


“pequena” escala para designar superfícies de tamanhos inversos a esses qua-
li�cativos.

Re�etindo sobre esse assunto, Castro (2003, p. 119) a�rma que “[...] referir-se ao
local como grande escala e ao mundo como pequena escala é utilizar a fração
como base descritiva e analítica, quando ela é apenas um instrumental”.

O conceito de escala geográ�ca se contrapõe ao conceito de escala cartográ�-


ca, uma vez que o primeiro se traduz pela amplitude da área geográ�ca em es-
tudo, ou seja, quanto maior a extensão da área, maior será a escala geográ�ca
associada.

De acordo com Castro (2003, n.p.): “A análise geográ�ca dos fenômenos requer
objetivar os espaços na escala em que eles são percebidos”.

Evidencia-se, assim, o conceito antagônico que é a escala cartográ�ca. Esta é


escolhida apenas para dar visibilidade ao espaço mediante sua representação.
Lembre-se de que, quanto maior a escala geográ�ca, menor será a escala car-
tográ�ca.

Para elaboração de um projeto de pesquisa, momento em que decidimos a pro-


blemática a ser trabalhada, devemos decidir também o recorte espacial que
iremos abordar. Este recorte irá variar de acordo com os objetivos de análise, e
infraestruturas disponíveis para realizar a pesquisa. Sobre esse contexto,
Castro (2003) comenta que os gregos já haviam a�rmado que quando o tama-
nho muda, as coisas mudam, e que na relação entre fenômenos e tamanho
não se transferem leis de um tamanho a outro sem problemas. O recorte espa-
cial refere-se à escala geográ�ca, posteriormente, em função dela, será deter-
minada a escala cartográ�ca, que dará apenas visibilidade ao fenômeno.

Para complementar nossa compreensão, acompanharemos, no próximo tópi-


co, como obter a escala cartográ�ca adequada para dar visibilidade a um fenô-
meno, mediante um recorte espacial de�nido. A partir de agora, será necessá-
rio utilizar as expressões completas, como “escala cartográ�ca” e “escala geo-
grá�ca”, para que não haja confusões entre esses conceitos (distintos).

8. Determinação da escala numérica e a gene-


ralização cartográ�ca
Ao apresentar um mapa que contenha informações precisas, como, por exem-
plo, um mapa de “uso do solo e cobertura vegetal”, disposto na Figura 46, deve-
mos ter o cuidado em representar todos os elementos que deverão ser propos-
tos para a escala cartográ�ca sugerida, ou seja, não podemos omitir informa-
ções, e nem mesmo apresentá-las em excesso. Vejamos.

Figura 46 Mapa de uso do solo e cobertura vegetal.

Dessa forma, é importante prever qual é o menor elemento a ser cartografado,


para garantir a sua presença no mapa, desprezando os elementos inferiores,
de modo que não haja excesso de informação. Esta tarefa pode ser alcançada
considerando a precisão grá�ca do mapa.
Retomemos o exemplo do mapa de uso e de cobertura do solo. Já delimitada a
porção da superfície terrestre a ser representada cartogra�camente (uma ba-
cia hidrográ�ca, por exemplo), decidimos que o menor elemento de nosso inte-
resse que será representado são formações arbóreas, cujo diâmetro de seu dos-
sel é de 10 metros. Ou seja, na visão vertical (visão cartográ�ca), o menor obje-
to a ser representado é um elemento de 10 metros.

Como indicado pelo IBGE, o menor comprimento grá�co que se pode represen-
tar em um desenho é um ponto com diâmetro igual ou superior a 0,2mm.

A medida de 0,2mm �cou estabelecida como erro grá�co – o menor ponto per-
ceptível pelo homem. Assim, partindo de uma escala cartográ�ca de�nida,
pode-se determinar o erro admissível ou erro tolerável para um determinado
elemento, que é calculado da seguinte forma:

Et = 0,0002m * M

Onde:

• Et = Erro tolerável, em metros.


• M = Denominador da escala numérica.

Acompanhe o seguinte caso: na escala cartográ�ca de 1:1 (dimensão real), te-


mos a capacidade �siológica de enxergar um ponto com 0,0002m de diâmetro.
Ao diminuirmos a escala cartográ�ca, como faz qualquer mapa (pois todo ma-
pa é uma redução da realidade), esse valor precisa ser reajustado para que
possamos enxergá-lo. Logo, ao reduzirmos a escala cartográ�ca de 1:1 para 1:10
000 (um para dez mil), por exemplo, devemos ajustar o valor 0,0002m em:

1) Escala cartográ�ca 1:1 – Dimensão real.

a) Et = 0,0002m * M
b) Et = 0,0002*1
c) Et = 0,0002

2) Escala cartográ�ca 1:10 000 – Redução do Real.


a) Et = 0,0002m * M
b) Et = 0,0002m * 10 000
c) Et = 2m.

Isso signi�ca que, se tivermos o valor da escala numérica, é possível obter o


erro tolerável do mapa.

Da fórmula apresentada, obtém-se que:

M = Et / 0,0002

Retornando ao exemplo do mapa e sabendo-se que o menor objeto a ser mape-


ado é de 10m, a menor escala que se deve adotar sem que haja a necessidade
de utilizar uma simbologia ou convenção cartográ�ca é:

• M = 10 / 0,0002
• M = 50 000

Logo, a escala cartográ�ca adota para satisfazer às considerações iniciais des-


te exemplo é de 1:50 000 ou maior.

Os acidentes geográ�cos, cujas dimensões forem menores que os valores dos


erros de tolerância, não deverão ser representados gra�camente. No caso, se-
ria necessário utilizar-se convenções cartográ�cas, cujos símbolos irão ocu-
par, no desenho, dimensões independentes da escala.

Generalização cartográ�ca
A escolha e a conveniência da escala a ser utilizada dependerão das dimen-
sões da porção do território que se queira mapear, bem como do objetivo do
mapa.

Tais fatores irão determinar a quantidade dos detalhes que se deseja visuali-
zar baseando-se em suas dimensões reais.

A decisão quanto ao nível de detalhamento ou quantidade de informações


contidas em um mapa é denominada generalização.

A generalização, portanto, corresponde ao grau de minuciosidade dos detalhes


representados, distinguindo-se daquilo que é essencial e adaptando os ele-
mentos quantitativos e qualitativos de tal forma que não prejudique tanto a
clareza e apresentação, quanto à precisão da informação.

9. Tradução grá�ca
Para iniciarmos os estudos deste tópico, é importante relembrar a de�nição de
Cartogra�a Temática, vejamos:

A Cartogra�a Temática é o ramo da cartogra�a que se preocupa com a representa-


ção espacial de fenômenos Geográ�cos. Ou seja, sua preocupação é transcrever pa-
ra o mapa tudo aquilo que possui dimensão espacial (SALICHTCHEV, 1977 apud
MARTINELLI, 1991, p. 35).

Para facilitar nossos estudos, aceitaremos quatro regras básicas propostas por
Duarte (1991), as quais serão tomadas como “leis” na representação grá�ca,
mais precisamente para a representação temática.

1. Um fenômeno se traduz por um sinal, e só um.


2. Um valor forte ou fraco se traduz por um sinal forte ou fraco, respectiva-
mente.
3. As variações qualitativas se traduzem pela variação da forma dos sinais.
4. As variações quantitativas traduzem-se pela variação do tamanho e/ou
intensidade dos sinais.

No decorrer deste tópico, abordaremos cada uma das leis da representação te-
mática.

Compreendendo a natureza da informação espacial –


Semiologia Grá�ca
Devemos considerar uma série de fatores que são preliminares à elaboração
do produto �nal, o mapa. Dessa forma, as etapas preliminares visam à análise
da natureza da informação espacial, e sua melhor representação.

Segundo Bertin (1967), a representação cartográ�ca e�ciente deve ser cons-


truída para possibilitar a visão do fenômeno representado, e não sua leitura,
ou seja, quanto mais "natural" for a apreensão do fenômeno representado,
mais e�ciente será a imagem grá�ca.

Visando à pesquisa de novas formas de representação grá�ca, Bertin (1967)


criou, então, a semiologia grá�ca, que é uma linha de pesquisa na qual se bus-
ca a compreensão da natureza da informação para viabilizar a melhor repre-
sentação, por meio do conhecimento e aplicação dos princípios de linguagem
visual, o que torna sua apreensão imediata.

Desse modo, Bertin (1967), em sua teoria, a�rma que a representação grá�ca
tem por base transcrever visualmente três relações lógicas fundamentais que
podem se estabelecer entre objetos.

• Diversidade (≠) /similaridade (=).


• Ordem (O).
• Proporção (Q).

Essas relações, descritas anteriormente entre objetos, devem ser transcritas


gra�camente por relações visuais de mesma natureza. Vejamos:

• A diversidade entre objetos deve ser representada por uma diversidade


visual.
• A ordem, por uma ordem visual.
• A proporção, mediante uma proporção visual.

Desse modo, tanto o emissor quanto o receptor têm uma única interpretação
dos fatos representados.

Com esse processo, Bertin (1967) a�rma que se efetiva o esquema de comuni-
cação monossêmica, o qual se refere à expressão que remete a um mesmo
sentido. O signo monossêmico é fechado, impede uma leitura plural. Cada sig-
ni�cado corresponde a um único signi�cante.
Na semiologia grá�ca, a relação entre objetos é tratada pelo nível de organiza-
ção. Ele transcreve a relação que existe entre os objetos de um determinado te-
ma. A compreensão dessa relação é fundamental para selecionar apropriada-
mente a melhor forma de se representar gra�camente os dados. Vale dizer,
neste contexto, que o conceito de nível de organização utilizado pela semiolo-
gia grá�ca é correlato ao conceito de escala de mensuração, muito utilizado
pela Estatística.

Contudo, a nomenclatura usada para semiologia grá�ca foi adequada da esta-


tística, visando atender aos seus propósitos. Dessa forma, temos que (Tabela
3):

 Tabela 3 Classi�cação da natureza da informação.

Estatística Semiologia
Grá�ca
(Escala de
mensura- (Nível de Síntese descritiva das relações entre objetos
ção) Organização)

Relações entre objetos

Associativo (Ξ) É caracterizada por objetos ou fenômenos


que apenas têm relação de igualdade ou dife-
Nominal
Seletivo (≠) rença mútua, por exemplo: tipos de biomas;
unidades pedológicas.

É caracterizada por elementos que guardam


relação de grandeza ou hierarquia entre si,
podendo, portanto, organizar-se de forma
Ordinal Ordenado (O)
crescente ou decrescente: Classes sociais;
degradação ambiental – baixa, média, alta;
hierarquia urbana.
A mesma característica da escala ordinal,
porém, os dados estão organizados em inter-
valo de classes pré-de�nidas, e o “ponto zero”
Intervalar
nesta escala não signi�ca ausência do fenô-
meno: Altimetria do relevo; classes de decli-
vidade; faixa etária.
Quantitativo(Q)
Igual à intervalar, porém, o ponto zero signi-
�ca ausência do fenômeno: Número de mor-
tes entre crianças de até um ano de idade;
Razão
presença de casos de dengue; número de cri-
mes cometidos com arma de fogo por bairro
de uma cidade.
Fonte: adaptado de Ramos (2001, p. 64).

A escolha dos níveis de organização signi�cará, no mapa, a escolha do nível


da informação que o redator do mapa pretenderá transmitir ao receptor.

Planejamento do documento cartográ�co


Para compreender a representação grá�ca nesse contexto, é importante obser-
var como ocorre o processo que envolve a criação da imagem.

A representação grá�ca se expressa mediante a construção de uma imagem.


A criação da imagem visual é, inevitavelmente, realizada sobre as duas di-
mensões do plano cartesiano (X, Y). Esse binômio determina a localização ge-
ográ�ca da informação (X – latitude; Y – longitude), e permite que se identi�-
que a distância e a orientação da informação.

A terceira dimensão visual (Z) representa a tradução grá�ca assumida pelo


fenômeno na imagem. Acompanhe a ilustração pela Figura 47.
Fonte: Martinelli (1991, p. 3).

Figura 47 Plano cartesiano e a tradução grá�ca.

O produto dos eixos X e Y, (a área), determina uma superfície. Dessa forma,


considera-se o plano cartográ�co como uma superfície de propriedades métri-
cas consideráveis. Assim, a observação do mapa permite, de antemão, que a
primeira compreensão que se tenha dele seja uma mensagem de localização.

Já a dimensão “Z” é denominada de componente de quali�cação. É na verdade


um sinal que traduz as características quantitativas e/ou qualitativa de um
objeto, ou fenômeno real.

Traduzir gra�camente uma informação, segundo Duarte (1991), signi�ca


transformar dados descritivos (ou tabulares) em alguma forma de representa-
ção grá�ca, tais como: mapas ou diagramas. Para tanto, é necessário compre-
ender como ocorre o fenômeno no espaço, e, assim, escolher o melhor símbolo
que o represente no papel.

Determinados quais fenômenos serão representados no mapa (cidade, ruas,


formações vegetais, lagos, população, distribuição de renda etc.), e tendo por
referência a escala cartográ�ca que se irá trabalhar, é possível prever o modo
de implantação do sinal (fenômeno) sobre o plano cartográ�co.

Os modos de implantação podem ser de�nidos da seguinte forma:

• Implantação pontual: quando a superfície ocupada é insigni�cante, mas


localizável com precisão. Entre exemplos, podemos destacar cidades, ca-
sas, indústrias, coordenadas informadas pelo GPS, ocorrências de fenô-
menos etc. Estes símbolos transmitem a ideia de localização exata no ter-
ritório, podendo ser usado o próprio ponto, ou até mesmo �guras geomé-
tricas, convenções cartográ�cas, en�m, variados códigos, de preferência,
fechados (posto de gasolina, avião, casa, entre outros).
• Implantação linear: quando sua largura é desprezível em relação ao seu
comprimento, apesar disso, pode ser traçado com exatidão. Como exem-
plo, podemos citar as estradas, rodovias, ferrovias, rios, correntes mari-
nhas, limites de propriedades, limites políticos etc.
• Implantação zonal: quando cobre no terreno uma superfície su�ciente
para ser representada sobre o mapa. Transmite a ideia de distribuição es-
pacial do fenômeno. Alguns temas que podem ser retratados por meio da
implantação zonal são as unidades de solo, biomas, climas, densidade de-
mográ�ca, bacias hidrográ�cas, entre outros.

Os modos de implantação variarão em função da escala cartográ�ca adotada


no mapa. Por exemplo, o modo de implantação zonal utilizado para represen-
tar as cidades em uma carta em escala de 1: 50 000, na qual são esboçados os
contornos da área urbana, terá de ser ajustado para o modo de implantação
pontual se houver uma redução da escala cartográ�ca. No entanto, não será
possível representar o objeto com a riqueza de seus detalhes, embora possa-
mos pontuá-lo precisamente no plano cartográ�co.

Fenômenos Contínuos x Fenômenos Discretos


Como discutimos, de maneira geral, toda a teoria inerente à cartogra�a temá-
tica baseia-se em três modos de implantação da informação: pontual, linear e
areal (zonal). Contudo, existe outra discussão implícita à representação grá�-
ca, relacionada à natureza do fenômeno geográ�co, que pode ser contínuo ou
discreto, abrupto ou suave.

Temos que:

• Fenômeno discreto: compreende um fenômeno, ou um atributo, que ocor-


re em posições distintas, com um espaço vazio entre estas posições. Ou
seja, o espaço vazio é o espaço em que o fenômeno ou atributo não existe.
Podemos citar como exemplo a população urbana, nesse caso são encon-
trados “vazios” demográ�cos nas áreas rurais em função da grande con-
centração existente nas áreas urbanas. A produção agrícola, também,
exempli�ca esta situação, uma vez que a produção agrícola de diferentes
produtos varia seus cultivos ao longo do espaço.
• Fenômeno contínuo: compreende um fenômeno que ocorre continua-
mente ao longo do espaço, sem interrupção ou lacuna, ou seja, um fenô-
meno, ou atributo, contínuo ocorre em todo o lugar, embora seu valor va-
rie. São exemplos a temperatura, a pressão atmosférica, a densidade de-
mográ�ca, a produtividade agrícola. Estes últimos são considerados con-
tínuos, pois constituem índices em que o valor total é divido por unidades
de área, o que caracteriza a continuidade espacial.

Segundo Slocum (1998), os fenômenos (contínuos ou discretos) podem ser


abruptos ou suaves. O fenômeno suave é aquele cujos valores modi�cam-se ao
longo do espaço, enquanto nos fenômenos abruptos as mudanças dos valores
são mais bruscas. A distribuição das indústrias no estado de São Paulo pode
ser considerada um exemplo de fenômeno abrupto, pois há uma expressiva
concentração industrial nessa região. Em contrapartida, nos demais municí-
pios, a distribuição é mais uniforme.

De maneira geral, fenômenos abruptos ou suaves são mais facilmente associ-


ados a fenômenos contínuos, no entanto, os discretos também podem ter esta
conotação.

Todavia, para que o mapa obtenha o resultado esperado pelo remetente, há


formas visuais incorporadas aos modos de implantação que viabilizam a assi-
milação da mensagem pelo receptor. São as chamadas variáveis visuais, que
são de�nidas em função da mensagem que se pretende transmitir ao destina-
tário.

Considera-se variável visual toda a diversi�cação imposta aos símbolos de


modo a traduzir uma informação para a linguagem grá�ca. Bertin (1967) de�-
niu as seguintes variáveis visuais, o tamanho, a intensidade (valor), a granula-
ção, a cor, a orientação e a forma.

No tópico seguinte, veremos particularmente as especi�cidades de cada variá-


vel visual.
10. Variáveis visuais
Conhecemos, até o momento, a necessidade da compreensão da natureza da
informação espacial, decifrando a relação entre objetos (similaridade/diversi-
dade, de ordem e de proporcionalidade) para, assim, optar pela melhor forma
de transcrevê-la para o mapa. Para viabilizar esse processo, foram apresenta-
das as três dimensões do plano para a construção do mapa, retomemos:

• A dimensão “X e Y”: responsáveis pela localização geográ�ca e orienta-


ção do fenômeno na superfície representada.
• A dimensão “Z”: variação visual da mancha que transcrevemos no plano,
responsável pela percepção da mensagem pelo destinatário, pode assu-
mir três signi�cados variáveis em função do fenômeno observado: ponto,
linha e zona (superfície). Cada um desses signi�cados pode sofrer varia-
ções visuais, tais como: tamanho, intensidade (valor), granulação, cor, ori-
entação e forma.

Estudaremos agora, apoiados nas descrições de Duarte (2002), as principais


características de cada variável visual (ou variáveis retinianas). No entanto,
abordaremos com maior ênfase a variável visual cor, atualmente muito utili-
zada em função das possibilidades oferecidas pelo universo digital. Vejamos.

Tamanho
O tamanho compreende a variação da dimensão dos símbolos (altura, largura,
profundidade), permitindo que sejam extraídas informações sobre a grandeza
dos componentes do mapa. Esta é a variável mais apropriada quando se pre-
tende transmitir um nível de informação quantitativo (Q). Observe a ilustração
pela Figura 48.
Fonte: Martinelli (1991, n. p.).

Figura 48 Tamanho.

Valor (intensidade)
A variável valor, consiste na diversi�cação da tonalidade de uma cor, quando
valores fortes e fracos são representados, respectivamente, por tons escuros e
claros, ou seja, variação do preto ao branco (ou de qualquer outra variação to-
nal). Essa variável é dissociativa, pois dissocia qualquer outra variável com a
qual ela pode combinar. Vale destacar que, no caso de uma só tinta, a técnica
de degrade é que mostrará a intensidade do fenômeno. Acompanhe a demons-
tração dessa variável por meio da Figura 49.

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).

Figura 49 Valor.

A variação de valores fracos e fortes por tonalidades claras e escuras vale para
todas as relações ordenadas ou quantitativas. Por exemplo, se representásse-
mos a expansão da área urbana de uma cidade, os bairros mais antigos seriam
representados por cores mais claras, e os bairros mais recentes seriam indica-
dos por valores mais escuros. A sequência de cores segue uma ordem lógica já
de�nida, que será apresentada posteriormente.

Granulação (Textura)
Esta opção é pouco usada, e se assemelha à variável valor, porém de�nida co-
mo uma variação de tamanho de elementos �gurados, sem modi�cação da
proporção de cor. É obtida a partir do tamanho e espaçamento das primitivas
grá�cas ponto e linha. Nesse caso, as linhas apresentam sempre a mesma di-
reção, variando apenas o espaçamento ou a espessura, capaz de transmitir a
sensação de diferentes valores. Veja mediante a Figura 50 a variável granula-
ção.

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).

Figura 50 Granulação. 

Cor
A cor é uma variável seletiva que mais se empregada nas representações, jun-
tamente com as variáveis tamanho e valor. Ela pode ser usada para agrupar
objetos pertencentes a uma mesma classe ou distinguir grupos de formas se-
melhantes, ou ainda sugerir noções de hierarquia a elas. É uma variável muito
importante e complexa, principalmente devido à intensi�cação de seu uso e à
utilização dos recursos dos softwares grá�cos que são aprimorados constan-
temente. Além disso, em termos de manuseio, ela é a mais delicada, pois con-
tém maior número de conceitos, o que di�culta o seu uso. Em função dessas
características, a variável cor será analisada com mais profundamente logo
adiante.

Acompanhe pela Figura 51 a disposição da variável cor.


Fonte: Martinelli (1991, n. p.).

Figura 51 Cor.

Orientação
A orientação (Figura 52) é aplicada como linhas e formas alongadas, a varia-
ção na direção das linhas que preenchem a área é obrigatória, mas a distância
entre elas deve ser a mesma. Além disso, esta variável corresponde à inclina-
ção do traço nas representações em uma só linha, quando então usamos ha-
churas e tramas.

Loch (2006) considera que as diferentes direções assumidas pelas linhas são:
vertical, horizontal e inclinada (45°).

Fonte: Martinelli (1991, n. p.).

Figura 52 Orientação.

Forma
Trata-se do efeito ou da con�guração dos símbolos, podendo ser usadas varia-
ções geométricas, combinações de traços e �guras, além de símbolos evocati-
vos. Neste caso, devemos prestar atenção às convenções cartográ�cas adota-
das para representação de determinados temas e objetos, como, por exemplo, a
mineração representada por dois martelos cruzados, aeroporto pelo símbolo
de um avião, entre outros.  E por �m a forma (Figura 53) representa uma variá-
vel ideal para diferenciar inúmeros caracteres, ou seja, para diferenciar dados
qualitativos. Vejamos:
Fonte: Martinelli (1991, n. p.).

Figura 53 Forma.

De acordo com Joly (2003), cada uma dessas variáveis tem suas propriedades
perceptivas, no entanto, nenhuma delas possui todas as propriedades ao mes-
mo tempo. Em contrapartida, é possível combinar muitas variáveis num mes-
mo ponto no plano para caracterizar várias qualidades de um mesmo objeto,
como, por exemplo, a forma mais a cor.

Martinelli (1991) destaca que as seis variáveis visuais mais as duas dimensões
do plano têm propriedades perceptivas necessárias para uma adequada trans-
crição grá�ca que deve ser considerada para traduzir adequadamente as três
relações fundamentais entre objetos, a relação de similaridade e diversidade,
de ordem e de proporcionalidade.

Com base nos conceitos descritos anteriormente, vejamos o quadro proposto


por Bertin (1967) (Figura 54), que sugere que estes elementos sejam memoriza-
dos pelo redator grá�co.
Fonte: Cardoso (1984, n. p.).

Figura 54 Quadro das variáveis visuais.

11. Fundamentos e aplicações da variável visu-


al cor
Inicialmente, identi�caremos a natureza das cores para depois compreender-
mos sua relação com a Cartogra�a.

De acordo com Farina (1986), a cor não existe por si só, na realidade ela é uma
sensação, ou uma realidade sensorial. Ou seja, o que percebemos é apenas a
re�exão de parte da radiação eletromagnética (REM), proveniente de determi-
nada fonte, que pode ser natural, como o sol, ou qualquer outra fonte arti�cial
que emita luz visível, como uma lâmpada. A luz visível que incide sobre a su-
perfície da terra, ao interagir com a matéria, tem uma parte absorvida e outra,
re�etida, sendo que esta última é interceptada por nossos olhos.

A porção do espectro eletromagnético, à qual nossos olhos são sensíveis, ou


seja, podemos enxergar, é denominada de faixa do visível e representa uma
pequena faixa espectral que varia do violeta ao vermelho (380 a 760 nanôme-
tros), e cada cor corresponde a um intervalo espectral. Observe essa descrição
na Tabela 4.

Tabela 4 Distribuição espectral da região do visível.

MATIZ FAIXA ESPECTRAL (NM)

Violeta 380 - 450

Ciano 450 – 500


Verde 500 – 570

Amarelo 570 – 590

Laranja 590 – 610

Vermelho 610 - 760


Fonte: adaptado de Meneses e Madeira Neto (2001, p. 12).

Com base na disposição da Tabela 4, podemos observar que o espectro eletro-


magnético representa a distribuição da radiação eletromagnética por regiões,
segundo o comprimento de onda e frequência, que abrange desde curtos com-
primentos, que caracterizam a alta frequência, até longos comprimentos ou de
baixa frequência.

Além disso, observa-se a existência de radiação fora da faixa do espectro visí-


vel. Essa radiação é invisível a olho nu, entretanto, determinados comprimen-
tos de onda podem ser vistos por meio de outras formas de registros da REM
(como fotogra�as e imagens).

O sensoriamento remoto é a ciência responsável por estes registros. Ou seja, o


sensoriamento remoto possibilita adquirir dados a distância, sem contato físi-
co com o objeto de estudo. Podemos citar como exemplo a máquina de raio X.
Quando sofremos uma fratura óssea e tiramos uma radiogra�a da região dese-
jada, o que vemos é a imagem obtida através da re�exão do raio X (invisível a
olho nu) sobre a estrutura óssea, mas que pode ser registrado por sistemas que
possuem sensibilidade a esta faixa do espectro, que é capaz de registrar a ra-
diação como se fosse uma máquina fotográ�ca trabalhando com a luz visível.
Outro exemplo são os satélites arti�ciais que orbitam sobre a Terra. Seus sen-
sores possuem sensibilidade para registrar a energia re�etida em diversos
comprimentos de onda, como o infra-vermelho,  entre outras.

Concluímos, portanto, que olho e cérebro humanos constituem-se num siste-


ma sensível a REM na faixa visível, e para a visualização dos outros compri-
mentos espectrais, há determinados sistemas arti�ciais.

Como ocorre, então, o processo de percepção da luz pelo olho?


De maneira geral, pode-se dizer que a luz visível é captada por nosso sistema
ocular, transformada em impulsos elétricos para posteriormente ser transferi-
da ao cérebro, a cor é, portanto, um produto do processamento mental da faixa
visível da REM. Nota-se que a cor é subjetiva, pois depende da sensibilidade e
percepção de cada indivíduo.

Enquanto produto do processamento mental, a cor, quando interpretada pelo


cérebro, tem a capacidade de desencadear diversas reações emocionais e �si-
ológicas no indivíduo. Algumas experiências psicológicas têm provado que há
uma reação física do indivíduo diante da cor. A premissa de que o estímulo
provocado por determinadas cores conduzem a determinadas reações �sioló-
gicas levou hospitais a adotarem as cores como técnica auxiliar no tratamen-
to de patologias. O Hospital das Clínicas em São Paulo-SP, por exemplo, pintou
as paredes do ambulatório infantil de azul claro, obtendo bons resultados no
sentido de recuperação dos pacientes e melhora de estima, uma vez que esse
tom de azul é capaz de provocar a diminuição do ritmo cardíaco e da respira-
ção, proporcionando a sensação de bem-estar ao indivíduo.

Também é com base nas reações �siológicas causadas pelas cores que as pro-
pagandas e o marketing em geral se assentam. As cores expostas de forma
isoladas ou combinadas são capazes de despertar desejos como fome, sede,
consumo, sensação de bem-estar, irritação, excitação, relaxamento, volume,
distância, proximidade etc. Logo, a escolha das cores não é aleatória, pois
existe uma ordem natural que rege a harmonia para o uso das cores, e esta or-
dem está intimamente ligada à distribuição espectral das cores.

A Cartogra�a, na busca de aprimorar a linguagem monossêmica, utiliza a dis-


posição das cores a seu favor. O intuito é o de facilitar a comunicação entre o
redator do mapa e o receptor da mensagem, além de tornar a leitura do mapa
uma tarefa agradável.

Para a aplicação desse mecanismo na cartogra�a, é necessário compreender


alguns aspectos relativos ao uso das cores.

Na Cartogra�a Temática tanto na aplicação das cores como na de qualquer


outra simbologia há diretrizes sugeridas que respaldam o redator para a apli-
cação das variáveis. No entanto, em grande parte, o importante é que os ma-
pas sejam elaborados mediante o bom senso do redator.

Quando se trabalha com cores, segundo autores como McCleary (1983),


Morrison (1984), DiBiase et al. (1991) e MacEachren (1994), citados por Slocum
(1998), complementando os estudos de Bertin (1977), acrescentam como variá-
veis visuais para mapas coloridos as dimensões da cor: matiz, brilho e satura-
ção. Vejamos.

• Matiz (Tom): é o atributo associado ao comprimento de onda dominante.


Assim, o matiz representa a cor dominante. Quando nos referimos a um
objeto como vermelho, azul ou verde, estamos nos referindo ao matiz.
Segundo Martinelli (1991), o matiz está associado a uma radiação espec-
tral pura, correspondendo a um único intervalo espectral. É a cor pura.
• Saturação: refere-se à pureza relativa, ou seja, a saturação ocorre quando
a cor se afasta da cor neutra. Essa sensação é proporcionada pela quanti-
dade de cinza misturada à cor. Quanto mais saturada a cor, menor a pre-
sença de cinza. É a variação que assume um mesmo matiz.
• Brilho (luminosidade): indica a quantidade de branco inserida em cada
matiz, ou a quantidade de energia re�etida.

O uso das cores no mapa deve ser considerado em conjunto com os elementos
que compõem o produto cartográ�co, que proporcione um resultado percepti-
velmente harmonioso, leve aos olhos de quem o vê.

Diante dos detalhes apresentados, é de fundamental importância conhecer as


cores mais profundamente, a �m de que possamos contribuir para a elabora-
ção de mapas mais e�cientes.

Cores primárias, secundárias e terciárias


Ao mencionar a classi�cação das cores em primárias e secundárias, torna-se
necessário levar em consideração o processo de formação da cor. Vimos ante-
riormente que a luz é fundamental para a percepção da cor, uma vez que as
cores só existem e só são vistas com a presença da luz. Dessa forma, será es-
sencial abordar os conceitos de cor-pigmento e da cor-luz.
A cor-pigmento é a substância usada para imitar os fenômenos da cor-luz.
Cores que podem ser extraídas da natureza, como materiais de origem vegetal,
animal ou mineral, e que da sua mistura, por meio dos processos industriais,
surge o pigmento (CARVALHO, 2006).

Os pigmentos classi�cam-se pelas cores:

• Primárias: essas cores são constituídas pelos seguintes pigmentos: ma-


genta, amarelo e ciano. Misturadas em proporções variáveis, produzem
todas as cores do espectro.
• Secundária: é a cor formada por duas cores primárias misturadas em
partes iguais: verde, laranja e violeta.
• Terciária: é a cor intermediária entre uma cor secundária e qualquer das
duas primárias que lhe dão origem.

A cor-luz baseia-se na luz solar e pode ser vista por meio dos raios luminosos.
A cor-luz representa a própria luz, capaz de se decompor em várias cores. A
formação das cores nesse sistema é feita pelo processo aditivo. No sistema
cor-luz, as cores primárias serão: verde, vermelho e azul.

Círculo das cores e paleta de cores


Para a compreensão da utilização das cores, iremos dispô-las em um círculo
cromático. Este círculo é construído considerando uma série de círculos colo-
ridos segundo a sucessão espectral dos comprimentos de onda da REM na re-
gião do visível. Ele, portanto, é composto pelas cores: violeta, azul, Verde, ama-
relo, laranja e vermelho. Acompanhe pela Figura 55 esta disposição.
Figura 55 Círculo das cores padrão.

O círculo das cores pode facilitar o entendimento das paletas de cores utiliza-
das nos sistemas grá�cos (Figura 56) para geração de mapas digitais. A
sequência de cores apresentadas será fundamental para a representação de
ordem, hierarquia, similaridade/diversidade entre objetos.

Na edição grá�ca computadorizada, a paleta de cores (padrão para os siste-


mas operacionais e softwares) é equivalente ao círculo das cores. Seu uso é
muito mais fácil, pois permite uma visualização imediata das inúmeras possi-
bilidades de matizes e nuances que podem ser aplicadas na construção da
imagem.
Figura 56 Círculo das cores de um sistema grá�co.

O matiz amarelo pertence às cores quentes. No entanto, pode-se dizer que o


amarelo é a cor mais fria entre as cores quentes.

Considerando a sequência espectral, as cores criam duas ordens visuais opos-


tas a partir do amarelo: os matizes frios em direção ao violeta (cores frias), e os
matizes quentes em direção ao vermelho (cores quentes).

Aplicação das cores na representação cartográ�cas


Podemos aplicar as cores na representação cartográ�ca por meio dos esque-
mas: qualitativo e quantitativos. A seguir, será apresentado cada esquema em
particular.

Nesse sentido, o esquema qualitativo de cores é empregado para mostrar as


relações associativas ou seletivas entre objetos.

Podem ser usados diferentes matizes como verde, azul e magenta, de brilhos e
saturação semelhantes. Cada cor é associada a uma classe, o que torna possí-
vel indicar as classes temáticas semelhantes (mesmas cores) ou distintas (co-
res diferentes).

Na escolha das cores em um mapa qualitativo associativo ou seletivo, o cartó-


grafo deve se atentar para não escolher cores que conotem graus de importân-
cia entre as classes, como, por exemplo, de cores discretas a cores vivas, ou
uma sequência hierárquica, de cores frias para quentes.  O ideal, nesse caso, é
escolher as cores de maneira aleatória no círculo cromático.

A escolha aleatória das cores deve levar em consideração a harmonia visual


no conjunto do mapa, dando preferência a matizes claros, ou com pouco mais
de brilho. Um bom exemplo de escolhas de cores para mapas qualitativos em
que não se deseja indicar hierarquia ou importância são aquelas apresentadas
nos mapas de divisão política.

Para indicar fenômenos opostos, ou apenas distinção entre eles, sugere-se o


uso do método denominado harmonia pelas cores opostas, demonstrado pela
Figura 57. É necessário ressaltar que cor oposta é aquela que se encontra em
posição diretamente oposta no círculo das cores.

Figura 57 Mapa de divisão dos bairros da área urbana de Piracicaba – SP.

Contudo, nos mapas qualitativos pode haver também a necessidade de ex-


pressar hierarquia ou importância entre os objetos. Neste caso, é preciso se-
guir a ordem cromática apresentada no círculo das cores. O redator do mapa
decide qual das categorias mapeadas é a mais importante para os objetivos do
mapa, e lhe atribui a cor mais forte (escura).

As cores empregadas podem ser de matizes claros para escuros, como, por
exemplo, verde, amarelo, laranja e vermelho, método conhecido por esquema
sequencial, que se utiliza do método harmonia policromática. Observe o mapa
de declividade apresentado pela Figura 58.

Observe que no esquema sequencial (Figura 58) a harmonia das cores é forma-
da pelo emprego de cores vizinhas no círculo cromático.
Figura 58 Declividade.

 Outro método utilizado é a harmonia monocromática, na qual se aplica a vari-


ação de tom em um único matiz, por exemplo, a variação do matiz verde claro
até o verde escuro, apenas com a diminuição do brilho. Vejamos essa demons-
tração na Figura 59.

Figura 59 Harmonia monocromática.

Esquema quantitativo de cores

A representação de mapas quantitativos segue o mesmo raciocínio apresenta-


do na harmonia policromática e monocromática. Os dados quantitativos e or-
denados são arranjados de forma lógica, em uma sequência de degraus de alto
para baixo como anteriormente descrito. Em que:

• Categorias de valores baixos são representadas por cores claras.


• Categorias de valores altos são representadas por cores escuras.

Acompanhe a aplicação do esquema quantitativo na Figura 60.


Figura 60 Mapa de distribuição da população negra em Piracicaba.

Até o presente momento, estamos vendo como podemos utilizar as cores, o


que elas signi�cam e sua importância como  forte elemento a serviço da co-
municação visual por meio da representação grá�ca. No entanto, o conceito de
“cor”, no amplo universo da comunicação visual, é muito mais complexo e de-
licado do que simplesmente seu discernimento entre cores quentes e cores fri-
as.

A cor, como vimos, é uma realidade sensorial, induzida por determinado com-
primento de onda eletromagnética. Em contato com nosso sistema visual, ca-
da comprimento é processado e interpretado por nosso cérebro de distintas
maneiras; consequentemente, nosso corpo responderá de diferentes maneiras
a cada comprimento de onda. Dessa forma, entramos num assunto extrema-
mente importante para a comunicação visual, que é o poder psicológico e �si-
ológico exercido pela cor sobre o indivíduo.

Por existir tais reações, a cor assume um caráter estratégico e pode ser mani-
pulada para realçar ou mascarar certas informações. Esse tema é tão impor-
tante e tão relevante quando estamos tratando de comunicação visual que sua
discussão não cabe no momento, até mesmo porque, agora, é muito mais im-
portante conhecermos como é que as cores podem ser aplicadas, segundo a
natureza da informação espacial.
12. Sensoriamento Remoto Aplicado à
Geogra�a
O que vem à nossa mente quando ouvimos falar em sensoriamento remoto?

Em um primeiro momento, pode ser um pouco complicado de�nir em pala-


vras seu signi�cado. Mas, se pudéssemos nos expressar com imagens, talvez
elas fossem algo como será visto na Figura 61.

Figura 61 Satélites arti�ciais: Hubble e Landsat (satélites de origem norte-americana em órbita na Terra).

A Figura 61 apresenta dois satélites arti�ciais, ou seja, construídos pelo ho-


mem, orbitando o planeta Terra com o intuito de obter dados de nosso interes-
se sobre a superfície terrestre. Essas imagens são ícones da atual era espacial
em que vivemos.

O estreitamento do binômio ciência e tecnologia proporcionou o desenvolvi-


mento de ferramentas capazes de operar continuamente, sem a necessidade
de o homem estar à frente de um painel de comandos ininterruptamente.

Assim, os satélites arti�ciais, programados em laboratórios, são lançados a


milhares de quilômetros da Terra para cumprirem o objetivo de captar dados
de sua superfície e, posteriormente, reenviá-los a bases situadas em cada um
dos cinco continentes responsáveis em decodi�car as informações e
transformá-las nas conhecidas imagens de satélite que tanto nos impressio-
nam.

Vamos conhecer, agora, um pouco dessa fascinante ciência que estabeleceu


novos horizontes ao desenvolvimento de trabalhos cientí�cos e tecnológicos e
que permite ao homem compreender mais a fundo o seu próprio planeta e ca-
da um dos elementos que o compõem.

Da maior à menor escala, o sensoriamento remoto registra dados da monta-


nha ao mineral que a constitui; das grandes manchas urbanas ao arranjo es-
pacial das casas de um único bairro. Além disso, o sensoriamento remoto
revela-se como importante ferramenta didática auxiliar ao desenvolvimento
cognitivo do indivíduo.

Conheceremos, ainda, a história do sensoriamento remoto e como ele pôde in-


�uenciar fortemente a dinâmica de formação do espaço geográ�co.
Abordaremos, também, as atuais de�nições que estabelecem os limites dessa
ciência.

O programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), que será


visto na Figura 62, é, hoje, fundamental para o Brasil acompanhar o desmata-
mento amazônico e para a China realizar seu planejamento territorial.
Figura 62 Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-2B).

Considerações iniciais sobre Sensoriamento Remoto


Observe a Figura 63 e analise se podemos encontrar nossa cidade.

Precisamente, talvez não a encontremos. Mas, podemos encontrar a região na


qual ela se insere ou, dependendo de sua localização, podemos contar com a
ajuda dos limites precisos demarcados pelas luzes que se destacam no cair da
noite em nosso planeta.

Procure, por exemplo, o estado de São Paulo e aponte a região da grande São
Paulo. E o restante? O que mais podemos reconhecer a partir da observação
das luzes noturnas que enfeitam a superfície terrestre?
Figura 63 Global city lights.

A Figura 64 é um mosaico constituído por milhares de imagens orbitais obti-


das na ausência de luz solar, proporcionando a visão noturna da superfície
terrestre.

A Figura 64, portanto, é constituída por um conjunto de imagens orbitais que,


tomadas de forma sistematizadas, ou seja, seguindo uma determinada
sequência, nos oferece uma visão total da superfície terrestre no período de
ausência da luz do Sol nas faces do globo.

A imagem noturna permite-nos outra percepção, diferente daquela que costu-


mamos ter quando vemos uma imagem da Terra captada durante o dia, como
apresentada na Figura 64.

Figura 64 Planisfério (mosaico constituído por centenas de imagens orbitais obtidas na presença da luz do Sol sobre a

superfície terrestre).

Nesse mosaico, observamos grandes manchas de �orestas, a diversidade de


conjunto de solos que se expressam por diferentes tonalidades na superfície
terrestre, ou as grandes áreas brancas nas extremas latitudes cobertas por ge-
lo.

No entanto, por meio dessa imagem, mal temos a percepção do relevo (repare
que nem mesmo a cadeia montanhosa do Himalaia pode ser delimitada com
precisão), dando a impressão de que a crosta terrestre é uma imensa planície.

Entre todas as cidades do globo, nessa escala, podemos inferir somente as me-
galópoles, que, com muita atenção, percebemos que despontam como peque-
nas manchas escuras ao meio da vastidão de terras, dando-nos a sensação de
que a natureza ainda não foi alterada pelo trabalho antrópico.

Na Figura 64, observada anteriormente, aplica-se a análise inversa. Deixamos


de ver as imensas áreas vazias que comportam pequenos pontos escuros per-
didos no meio do nada e vemos a real distribuição das áreas urbanizadas, que,
na verdade, são as que controlam os grandes espaços “vazios” do globo terres-
tre.

A visão noturna da Terra permite-nos ir muito além de um simples reconheci-


mento de localidades geográ�cas. Podemos viajar na história da formação ter-
ritorial de cada país ou mesmo analisar a distribuição espacial das riquezas,
do poder, da população, do acesso ao capital e da tecnologia.

Desse modo, enxergamos os eixos de desenvolvimento interligados por redes


que determinam o �uxo de informação e mercadorias; vemos o “brilho” dos
países mais poderosos em detrimento da “escuridão” daqueles que sedem suas
riquezas, seja por meio da exportação de recursos naturais, seja por explora-
ção de mão de obra barata daqueles que, por não conhecerem outra realidade,
não têm outra opção.

Podemos, ainda, re�etir sobre as críticas de Eduardo Galeano (jornalista e es-


critor uruguaio que ganhou destaque ao expor os panos de fundo do poder e os
modos de produção como instrumentos necessários para evidenciar as engre-
nagens do mecanismo de dominação global), quando diz que alguns países se
especializaram em perder, enquanto outros se especializaram em ganhar
(GALEANO, 1983).

As inúmeras re�exões de cunho geográ�co que podem ser realizadas a partir


da visualização da superfície terrestre nos são facilitadas pela tecnologia es-
pacial disponível em nossos dias.

A história do desenvolvimento do sensoriamento remoto mostra que, aos pou-


cos, o homem foi alcançando diferentes perspectivas de pontos de vista. O que
era visto “de frente” pelo homem, passou a ser visto “por cima”, e cada vez
mais alto.

Dessa forma, a visão que o homem tem da Terra passou de um ponto de vista
horizontal e limitado para um vertical e amplo; do chão para o balão, posteri-
ormente, ao avião, e, hoje, os satélites que orbitam a Terra a centenas de quilô-
metros da superfície são verdadeiras extensões arti�ciais de nossos olhos.
Cada um desses estágios permitiu ao homem que realizasse inúmeras inter-
pretações e conclusões a respeito do planeta Terra.

O início do século 21 representa um novo marco na história do sensoriamento


remoto, pois inicia-se a ampla difusão do seu conhecimento, assim como a fa-
cilidade de acesso por parte da sociedade aos seus produtos.

Dessa forma, o que antes era tecnologia exclusiva de militares, com �nalidade
estratégica e de guerra, passou a ser propriedade de uma sociedade que utiliza
esse material para realizar críticas à ação do próprio homem em sua interação
com o meio ambiente.

Apesar de sua difusão, os produtos de sensoriamento remoto não perderam


seu caráter estratégico, e, atualmente, eles despontam como uma das princi-
pais “armas” de mercado. São, também, imensamente utilizados por órgãos
públicos como documentos-base para subsidiar tomadas de decisão, e são in-
dissociáveis da cartogra�a, pois todas as informações extraídas das imagens
de sensoriamento remoto são representadas num plano cartográ�co.

Talvez ainda não tenhamos notado, mas deparamo-nos com produtos de sen-
soriamento remoto a todo o momento.
Nos telejornais ou mesmo em mídias impressas, podemos observar produtos
de satélites meteorológicos (veja na Figura 65a), com os quais arriscamos fa-
zer a previsão do tempo, observando a característica da distribuição das nu-
vens sobre diversas áreas.

Observamos, também, imagens da �oresta amazônica (veja na Figura 65b) e


apontamos facilmente as áreas que estão sendo devastadas e, até mesmo,
aquelas que foram queimadas. Isso é possível justamente pela difusão que
vem ocorrendo desse conhecimento.

Figura 65 Condições atmosféricas (a). Imagem do satélite CBERS-2 (b).

A Figura 65a apresenta a condição atmosférica (nuvens altas e baixas) na re-


gião da América do Sul no dia 08/07/2008, às 21h15 min. A Figura 66b apre-
senta uma imagem do satélite CBERS-2 do município de Aripuanã (MS), indi-
cando o des�orestamento: áreas em verde são de �orestas ou �orestas em re-
generação. Áreas em vermelho são solos expostos. A forma regular indica áre-
as que foram desmatadas.

Há, ainda, outras atividades em nosso cotidiano que estão intrinsecamente


vinculadas ao sensoriamento remoto. Na área da saúde, por exemplo, é possí-
vel nos prevenir conhecendo a concentração diária de radiação UV (ultravio-
leta), radiação que é nociva à saúde, por isso, representa importante dado aos
órgãos de saúde pública.
Outra contribuição importante do sensoriamento remoto ocorre em épocas de
seca – como no inverno das regiões subtropicais, pois disponibiliza informa-
ções que, tratadas, permitem ao homem antever quais áreas possuem maior
potencial de queima, podendo, assim, antecipar um plano de manejo que dimi-
nua o impacto ao ambiente físico e social.

O controle de queimadas ganha especial destaque por causa da atual política


energética em que o Brasil se insere, pois os canaviais que cobrem o território
nacional ainda possuem técnicas de manejo dependente da queima da palha
para a colheita da cana-de-açúcar.

Talvez possamos a�rmar que a agricultura é uma das áreas que mais se bene-
�ciou com o desenvolvimento do sensoriamento remoto, evoluindo para o que
hoje denominamos agricultura de precisão.

Atualmente, podemos ver a Terra de longe, observá-la e analisá-la como algo


afastado de nós. Observamo-na em detalhes de informações em nossa tela de
computador ou em documentos impressos. A princípio, analisamo-na como
se não �zéssemos parte do grande problema ambiental que nos assola, pois te-
mos a facilidade de observar o problema de outro ângulo, como se realmente
estivéssemos do lado de fora do problema.

Você já pensou sobre o signi�cado do termo meio ambiente ou o que ele


abrange?

Esse termo sempre foi muito utilizado como sinônimo de natureza ou mais es-
peci�camente dos elementos físicos que o compõem.

No entanto, “meio ambiente” traz em seu conceito a interação entre as esferas


do meio físico, biológico e social (SANTOS, 2004). Quando mencionamos o
grande problema ambiental que nos assola, não estamos nos referindo apenas
ao denominado aquecimento global ou ao problema do mau gerenciamento
das águas, mas incluímos, também, a segregação socioespacial, a distribuição
de renda etc.

Mas nos afastamos apenas como uma estratégia, para enxergamos o proble-
ma com outros olhos e, após termos levantado erros e achado caminhos para
uma solução, voltamos a nos incluir em nosso planeta, respaldados com mais
informações para enfrentar a realidade. Assim, tentamos contornar alguns er-
ros e, ao mesmo tempo, prevenir-nos de outros.

O sensoriamento remoto é, portanto, a ciência que permite esse procedimento.


Atualmente, é uma ciência, uma tecnologia e uma ferramenta de apoio às di-
versas áreas do saber, que, aos poucos, vem rompendo as barreiras dos grupos
cientí�cos e ganhando cada vez mais espaço dentro do mercado privado, do
ambiente público e inserindo-se nos sistemas de ensino.

Temos como grande desa�o e responsabilidade o papel de difundi-lo ainda


mais pelos diferentes seguimentos da sociedade, o que tem ocorrido de ma-
neira satisfatória nos últimos anos.

Panorama histórico do Sensoriamento Remoto: da fotogra-


�a primitiva aos sensores espaciais
O homem sempre teve a necessidade de registrar as diversas características e
elementos do ambiente que o rodeava. Os registros eram realizados com o in-
tuito de gerir seu espaço da melhor forma possível. As riquezas naturais, seus
limites geográ�cos, a população e seu crescimento demográ�co, ou até mesmo
os astros, sempre foram objetos de sua preocupação.

Esses inventários da superfície terrestre eram realizados com a tecnologia


presente em cada época. Assim, passamos em nossa história, paulatinamente,
das pinturas em cavernas às placas de barro e, posteriormente, aos papiros.

O homem, utilizando essas técnicas mais rudimentares, pôde registrar, por


meio de desenhos, o meio ambiente em que vivia. Porém, o desenho impedia
que os registros fossem obtidos de modo contínuo e repetitivo. Observar e de-
senhar exigia tempo e, principalmente, muita paciência. Além disso, a área da
superfície terrestre observada provavelmente era sempre de poucos quilôme-
tros.

Aponta Sausen (1998) que o homem, em toda a sua curiosidade, não se satisfez
apenas com o que podia ver ao nível do solo. Na busca por informações sobre
o seu ambiente, passou a procurar plataformas mais elevadas que lhe permi-
tissem ampliar o seu campo de visão. Subiu em árvores para ver do alto e, de
forma mais geral, o local onde vivia. Escalou colinas e montanhas, o que lhe
possibilitou uma visão não só do local onde vivia, mas também de toda a re-
gião ao seu redor.

Isso conduz às inúmeras implicações na organização das sociedades, pois, no


passado, as guerras eram constantes e tinham como �nalidade a ampliação
territorial e domínio de povos, tornando-se a visão estratégica da área um
ponto fundamental para o êxito das atividades.

Saltando na história, passando pelo desenvolvimento da imprensa, que permi-


tiu a difusão dos registros, vamos para o desenvolvimento dos estudos sobre a
teoria da luz, os avanços no campo da óptica, e de experimentos com substân-
cias fotossensíveis, fatos que foram decisivos para o surgimento do sensoria-
mento remoto.

Em 1822, o francês Niepa gerou a primeira imagem fotográ�ca fazendo uso de


uma câmara primitiva e papel quimicamente sensibilizado à luz (SAUSEN,
1998), como observado na Figura 66a. Esse evento deu impulso às pesquisas
de tal forma que o processo fotográ�co pôde ser amplamente difundido. A par-
tir daí, ocorreram as primeiras aplicações do uso de fotogra�as na área mili-
tar. Esse processo permitiu ao homem registrar, de forma instantânea e repeti-
tiva, o que podia observar ao seu redor.

Como menciona Novo (1992), em 1856, quando uma câmara fotográ�ca foi co-
locada num balão (Figura 66b) e apontada para baixo, em direção à superfície
da Terra, é que foi obtida a primeira fotogra�a aérea e o primeiro produto do
que hoje consideramos sensoriamento remoto.
Figura 66 Máquina fotográ�ca do ano de 1906 (a). Reprodução de um dos modelos de balões construídos no �nal do

século 19 (b).

Segundo Florenzano (2002), os primeiros registros de uma fotogra�a aérea que


foram tomados de forma perpendicular ao terreno datam do ano de 1862, e fo-
ram obtidos de um balão tripulado por militares do exército norte-americano
durante a guerra civil.

Com a evolução das pesquisas sobre câmaras fotográ�cas, houve, também,


uma evolução nas pesquisas sobre as plataformas que as transportavam. Com
o tempo, os balões passaram a ser substituídos por aviões.

Em 1909, com o desenvolvimento dos aviões, iniciou-se a tomada das fotogra-


�as aéreas. Em 1930, com o aperfeiçoamento dos processos de revelação e co-
piagem das fotogra�as aéreas, os Estados Unidos, o Canadá e a Alemanha rea-
lizaram as primeiras coberturas sistemáticas dos seus territórios para �ns de
levantamento de recursos naturais. Esse fato culminou com a crescente im-
portância da fotointerpretação para uso civil, e iniciaram-se, também, os estu-
dos de reconhecimento dos alvos que compunham a superfície terrestre
(NOVO, 1992).

A compreensão das características espectrais dos alvos terrestres forma, hoje,


um dos principais campos de estudo do sensoriamento remoto.

Veja, na Figura 67, um dos mais poderosos caças da Primeira Grande Guerra.
Figura 67 O SPAD S.XIII foi um caça biplano francês da Primeira Guerra Mundial.

Durante a Segunda Guerra Mundial, houve um grande desenvolvimento do


sensoriamento remoto. De acordo com Florenzano (2002), nesse período, foi
desenvolvido o �lme infravermelho (Figura 68), com o objetivo de detectar a
camu�agem (principalmente para diferenciar vegetação de alvos pintados de
verde), e introduzidos novos sensores, como o radar, além de ocorrerem avan-
ços nos sistemas de comunicações.

Figura 68 Distinção de vegetação sadia e camu�agem.

Distinção de vegetação sadia e camu�agem por meio do �lme infravermelho.


A Figura 68 apresenta uma fotogra�a aérea colorida, ou seja, as cores que nela
vemos são as mesmas que vemos normalmente a olho nu. A mesma fotogra�a
área, quando registrada com o �lme infravermelho denominado “falsa-cor”,
mostra que a vegetação sadia re�ete a energia infravermelha muito mais forte
que a energia verde, aparecendo nas fotogra�as em tons de vermelho. Os alvos
camu�ados de verde, por serem arti�ciais, têm baixa re�etância no infraver-
melho e, portanto, mostram uma cor azulada (Figura 68).

Após a Segunda Guerra Mundial, a aeronáutica também prospera de forma


notável, o que confere maior estabilidade às plataformas de observação. Com
isso, os aviões tornaram-se uma das mais úteis e comuns plataformas utiliza-
das para transportar sistemas de sensoriamento remoto. Eles podem trans-
portar quase todos os tipos de sensores, desde a convencional câmera fotográ-
�ca até câmeras de televisão, imageadores multiespectrais e radares.

De forma similar aos aviões, os foguetes também tiveram um grande desen-


volvimento durante e após a Segunda Guerra Mundial, e, na década de 1960, as
primeiras imagens orbitais, ou seja, tiradas de satélites, foram obtidas pelos
satélites tripulados Mercury, Gemini e Apollo, que podem ser vistos na Figura
69 (FLORENZANO, 2002).
Figura 69 Comparação entre os satélites tripulados Mercury, Gemini e Apollo.

A contribuição mais importante dessas missões foi demonstrar o potencial e


as vantagens da aquisição de imagens orbitais, o que incentivou a construção
dos demais satélites de coleta de dados meteorológicos e de recursos terres-
tres (GARCIA, 1982).

Com o primeiro lançamento do satélite meteorológico, em 1960, iniciou-se os


registros sistemáticos de imagens da Terra. Em 1972, foi lançado o primeiro
satélite de recursos terrestres, o ERTS-1, mais tarde denominado LANDSAT-1
(Figura 70).
Figura 70 Earth Resources Technology Satellite (ERTS-1), 1972.

Atualmente, além dos satélites americanos de recursos terrestres da série


Landsat, há inúmeros outros, como os da série SPOT, desenvolvidos pela
França. O IRS da Índia, o ALOS do Japão, entre outros.

Um ponto importante a ser destacado é o fato de o Brasil ser um dos países


que detém avançada tecnologia no que diz respeito ao monitoramento da su-
perfície terrestre por sensoriamento remoto.

A missão de desenvolver e construir satélites cabe ao Instituto Nacional de


Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão público vinculado ao Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT). Em 1988, o governo brasileiro assinou um acordo internaci-
onal de cooperação com o governo chinês, visando ao desenvolvimento dos
satélites CBERS-1 e CBERS-2 (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS
ESPACIAIS, 2012c). Observe as Figuras 71 e 72.
Figura 71 Construção e testes do satélite CBERS no Inpe, São José dos Campos.

Figura 72 CBERS-2B.

O programa encontra-se, atualmente, em fase avançada. No �nal de 2007, foi


lançado o CBERS-2B, terceiro satélite do programa Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres. Os satélites dessa série foram projetados para cobertura global e
com �nalidade de:

• Monitoramento ambiental.
• Aplicações como mapas de queimadas e des�orestamento da região
amazônica.
• Estudos na área de desenvolvimento urbano nas grandes capitais do país.

Consoante o Inpe, hoje o Brasil é o maior distribuidor de imagens de satélite


no mundo, graças à política de distribuição gratuita implantada em junho de
2004.

Atualmente, está em operação a nova geração de sistemas de sensoriamento


remoto, com imagens orbitais de alta resolução espacial, como os satélites
“Ikonos II” e “QuickBird” (Figura 73), respectivamente, com resoluções de até 1
m e 61 cm.

Figura 73 Imagem do satélite Ikinos (a). Imagem do satélite QuickBird (b).

Vimos que a história do sensoriamento remoto está estreitamente ligada ao


uso militar das tecnologias espaciais. Autores como Garcia (1982), Novo (1992),
Sausen (1998) e Florenzano (2002) atribuem a origem do sensoriamento remo-
to à origem das fotogra�as aéreas.

Nessa linha de raciocínio, a American Society of Photogrammetry (1975), con-


siderando as tecnologias utilizadas na evolução do sensoriamento remoto, di-
vide a história em dois principais períodos:

• De 1860 a 1960 – quando o sensoriamento remoto era baseado exclusiva-


mente no uso de fotogra�as aéreas.
• De 1960 aos dias de hoje – quando o sensoriamento remoto se caracteriza
por uma variedade de fotogra�as, imagens e sistemas sensores multi e
hiperespectrais acoplados em diversas plataformas.

De acordo com o que foi apresentado sucintamente, nota-se que o sensoria-


mento remoto possui sua gênese no esforço inter e multidisciplinar das áreas
da Matemática, Física, Química, Biologia, Ciências da Terra e da Computação.
Isso explica o fato de seu uso e aplicação envolver um número tão grande de
pessoas de diferentes áreas do conhecimento.

Em projetos desenvolvidos na área de sensoriamento remoto di�cilmente


trabalha-se de maneira individual. Seu estudo e aplicação requerem uma vi-
são ampla e conhecimento diversi�cado, podendo haver trabalhos prejudica-
dos se analisados por uma única pessoa.

Após algumas explanações sobre sensoriamento remoto e o conhecimento de


seu histórico, podemos de�nir seu campo de atuação e seus métodos de traba-
lho por meio de sua de�nição.

De�nição de Sensoriamento Remoto


De�nir sensoriamento remoto não é uma tarefa simples. Sua de�nição abarca
especi�cações contrárias à abrangência que seu nome parece representar.
Pode-se julgar que há uma imprecisão já no termo “remoto”, pois pode signi�-
car tanto um satélite localizado a 32 mil quilômetros de altitude quanto instru-
mentos portáteis que realizam as medições em pequenas distâncias, como
aquelas obtidas em campo por meio de espectroradiômetros.

Mas, na verdade, “remoto”, no contexto do sensoriamento remoto, indica ape-


nas uma “medição indireta”, realizada sem o contato físico entre um sensor e
o objeto (FUSSEL et. al, 1986).

Partindo desse princípio, advém a primeira de�nição de sensoriamento remo-


to: “A tecnologia que permite a aquisição de informações sobre objetos sem o
contato físico entre eles” (NOVO, 1992, p. 1).

No entanto, essa de�nição também se apresenta muito ampla, pois, como


exempli�ca Novo (1992), poderíamos considerar o telescópio como um instru-
mento sensor. Dessa forma, a autora destaca que o sensoriamento remoto é as-
sociado à aquisição de medidas nas quais o homem não é parte essencial do
processo de detecção e registro dos dados.

Assim, não poderíamos considerar o telescópio como um instrumento sensor,


pois sua função é apenas ampliar a paisagem observada. Outro fato a se consi-
derar é que o sensoriamento remoto possui uma �nalidade especí�ca, e não a
obtenção aleatória de dados.

Restringindo dessa forma sua de�nição, surgem dois novos elementos a se-
rem considerados:

• Como um objeto pode ser registrado a distância sem que haja o contato fí-
sico?
• Quais informações são de interesse ao sensoriamento remoto?

As respostas a essas duas questões permitem de�nir com um pouco mais de


precisão o que é o sensoriamento remoto.

Inicialmente, para que haja a transferência de dados de um objeto a um sen-


sor, é preciso que haja um meio que interligue esses componentes. Em senso-
riamento remoto, essa tarefa é realizada pela energia eletromagnética ou radi-
ação eletromagnética (REM), aquela proveniente do Sol, e que se desloca no
vácuo a uma velocidade de 300.000 km/h, com capacidade de transferir ener-
gia de um ponto ao outro independente da distância entre eles.

Essa radiação, ao entrar em contato com a superfície terrestre, interage entre


re�exões, difusões, espalhamentos e absorções com a superfície dos objetos de
tal forma que a radiação que retorna à atmosfera está alterada de sua forma
inicial, sendo esta radiação a ser registrada pelos sensores.

Em termos de �nalidade, restringimos a observação aos componentes da bios-


fera terrestre, pois, se considerarmos os componentes do Universo, entraría-
mos no campo da Astronomia.
Diante do que foi exposto, aceitaremos, nesta disciplina, a seguinte de�nição
para sensoriamento remoto:

Sensoriamento remoto é a tecnologia que permite obter imagens e outros tipos de


dados da superfície da terra, através da captação e do registro da energia re�etida
ou emitida pela superfície (FLORENZANO, 2002, p. 9).

Ou ainda poderemos considerar esta mesma interpretação apresentada por


Novo (1992, p. 2), mais re�nada:

Sensoriamento remoto é a utilização conjunta de modernos sensores, equipamen-


tos para processamento de dados, equipamentos de transmissão de dados, aerona-
ves, espaçonaves etc., com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do re-
gistro e da análise das interpretações entre a radiação eletromagnética e as subs-
tâncias componentes do planeta Terra em suas mais diversas manifestações.

Para �nalizar essa de�nição, é importante termos claro que o sensoriamento


remoto é tanto uma ciência quanto uma ferramenta.

Fussel et al. (1986) destaca que essa diferenciação pode ser atribuída conside-
rando o modo de implementação do sensoriamento remoto.

Se o considerarmos em si próprio, ou seja, o estudo de desenvolvimento de no-


vas tecnologias para obtenção de imagens, desenvolvimento da computação
aliado à matemática para elaboração de equipamentos capazes de re�nar os
dados obtidos, ou mesmo no desenvolvimento de novos satélites, o sensoria-
mento remoto pode ser considerado uma ciência, pois possui uma �nalidade
em si mesma. Assim, considerado ciência, torna-se uma área especí�ca, que
possui métodos próprios de trabalho para se construir determinado conheci-
mento.

Mas, se utilizarmos o sensoriamento remoto como uma tecnologia para obter


informações de nosso interesse, ou seja, o sensoriamento remoto como um
meio para solucionar problemas, e não como uma �nalidade, o considerare-
mos uma ferramenta ou técnica.
E assim se faz a maioria do uso do sensoriamento remoto, que serve como im-
portante ferramenta a inúmeras ciências. A biologia, a ecologia, a geogra�a e
até mesmo a história (pois os primeiros registros de sensoriamento remoto
vistos datam de 1856) são importantes fontes de dados do passado, permitindo
a análise temporal de fenômenos e áreas terrestres.

Na geogra�a, o sensoriamento remoto é muito utilizado como subsídio ao pla-


nejamento, e, na educação, surge como uma ferramenta de grande potencial,
capaz de despertar atenção e desenvolver a noção espacial, sensorial e percep-
tiva da criança.

Agora que já de�nimos o Sensoriamento Remoto, vamos aprofundar analisan-


do os níveis de aquisição de dados e a qualidade de um sistema sensor.

13. Níveis de aquisição de dados: plataformas


terrestres, aéreas e orbitais
De acordo com Florenzano (2002), os sistemas sensores são equipamentos que
captam e registram a energia re�etida ou emitida pelos elementos da superfí-
cie terrestre. Esses sensores podem ser acoplados em diversas plataformas,
obtendo dados em diferentes níveis de altitude, ou seja, há diferentes distânci-
as do sensor em relação à superfície terrestre.

As plataformas podem ser classi�cadas em:

• Plataformas terrestres – quando os dados são obtidos no nível do solo.


São realizadas medições de dados em campo ou em laboratório, por meio
de torres e sistemas radiométricos de campo.
• Plataformas aéreas – quando os dados são obtidos no nível de aeronaves,
helicópteros e balões, os dados de sensoriamento remoto podem ser ad-
quiridos por sistemas sensores de lasers, sistemas fotográ�cos ou radar.
• Plataformas orbitais – a obtenção de dados no nível orbital é realizada
por meio de sistemas sensores a bordo de satélites arti�ciais.

Observe as plataformas na Figura 74.


Fonte: Florenzano (2002, p. 38).

Figura 74 Níveis de aquisição de dados por sensoriamento remoto. Três distâncias do sensor à superfície terrestre:

terrestre, aéreo e orbital.

Moraes (2002) observa que, para cada nível de coleta de dado, há um tipo ade-
quado de tecnologia para o registro das informações, ou seja, há diferentes
sensores.

Os aparelhos utilizados para obter dados em campo não geram imagens, mas
sim grá�cos. Normalmente, eles registram a intensidade da radiação que está
sendo re�etida (irradiância) por um alvo.

No nível aéreo, os sistemas utilizados, na grande maioria, são câmeras aerofo-


tográ�cas. As tecnologias e os procedimentos de coleta e registro de informa-
ção geram as denominadas fotogra�as aéreas ou aerofotogra�as.

Já as plataformas orbitais, apesar do mecanismo de aquisição de dados, se-


guem praticamente o mesmo princípio das plataformas aéreas, de registrar a
radiação re�etida ou emitida pela superfície. Os procedimentos são um pouco
diferentes, e essas tecnologias geram as denominadas imagens orbitais. Essas
plataformas ainda podem ser classi�cadas em função do tipo de órbita: órbita
geoestacionária e órbita polar.
Observando a Figura 75, podemos perceber que o tamanho da área registrada
na imagem varia em virtude do nível da plataforma. Dessa forma, quanto mai-
or for a altitude do sensor, maior será a distância em relação à superfície da
Terra, e maior será a dimensão da área observada (FLORENZANO, 2002).

Fonte: Florenzano (2002, p. 13).

Figura 75 Dimensão da área observada por sensoriamento remoto em virtude do nível de aquisição da imagem.

Qualidade de um sistema sensor: resolução espacial, tem-


poral, espectral e radiométrica
É importante destacar os elementos que de�nem a qualidade dos sensores, a
qual é determinada em função de suas resoluções.

Há quatro tipos de resolução: espectral, espacial, radiométrica e temporal.

Novo (1992) de�ne resolução espacial como a capacidade de um sensor “en-


xergar” ou distinguir objetos da superfície terrestre. Ela pode ser de�nida co-
mo o menor elemento ou superfície distinguível por um sensor. É similar à re-
solução grá�ca das máquinas digitais.
Porém, enquanto a resolução da máquina normalmente é medida em dpi
(pontos por polegada), a resolução espacial é medida em metros ou centíme-
tros. Quando um sensor possui resolução espacial baixa, há a generalização da
informação; logo, quando o sensor possui alta resolução espacial, é possível
captar informações detalhadas do terreno. Observe as Figuras 76 e 77.

Fonte: Gomes (2007, p. 26).

Figura 76 Comparação entre diferentes resoluções espaciais.


Fonte: Gomes (2007, p. 27).

Figura 77 Exemplo de diferentes resoluções numa fotogra�a convencional.

Segundo Novo (1992), resolução temporal está relacionada com a repetitivida-


de com que o sistema sensor pode adquirir informações de um mesmo local.
A repetitividade pode variar de minutos (como dos satélites meteorológicos) a
horas (como alguns satélites de monitoramento terrestre) e até meses ou anos
(como alguns aerolevantamentos realizados).

Desse modo, quanto maior a resolução temporal, ou seja, quanto maior a sua
repetitividade de coleta de informação sobre uma mesma área, melhor será
para o monitoramento e controle do espaço observado, pois mais registros são
adquiridos num curto lapso de tempo.

A resolução espectral é de�nida por Moraes (2002) como a largura espectral


em que opera o sensor. Portanto, a resolução espectral de�ne o intervalo es-
pectral no qual são realizadas as medidas.

Simpli�cando, quanto mais capacidade o sensor tiver para registrar um maior


número de regiões espectrais, melhor será a sua resolução espectral. Como
exemplo, suponha que o satélite “a” tenha sensibilidade para registrar três re-
giões espectrais, e o satélite “b” tenha sensibilidade em registrar cinco regiões
espectrais diferentes. Neste exemplo, o satélite “b” apresenta resolução espec-
tral maior que o satélite “a”. Acompanhe o exemplo pela Figura 78.
Figura 78 Resolução espectral. O satélite “b” apresenta resolução espectral maior que o satélite “a”, pois é sensível a

maior número de regiões espectrais.

A resolução radiométrica, de acordo com Moreira (2001), de�ne a e�ciência do


sistema sensor em registrar pequenos sinais, de medir pequenas variações na
intensidade da radiância re�etida ou emitida pelo alvo para um mesmo inter-
valo espectral.

O autor a�rma que esta resolução está associada à capacidade do sistema sen-
sor em discriminar sinais elétricos com pequenas diferenças de intensidade.
Esta diferenciação resulta na quantidade de níveis de cinza apresentada na
imagem. Observe a Figura 79.

Fonte: adaptado de Gomes (2007, p. 29).

Figura 79 Resolução radiométrica. Capacidade do sensor em distinguir diferentes alvos que possuem próximos valo-
res de re�ectância. A maioria das imagens disponíveis atualmente possui 256 (de 0 a 255, sendo que o zero também é

um valor do sinal, e não signi�ca ausência de informação) níveis de cinza.

Considera-se que o conjunto das quatro resoluções apresentadas de�ne a qua-


lidade do sistema sensor. A nova geração de satélites busca re�nar, principal-
mente, o quesito da resolução espectral, surgindo no mercado os satélites de-
nominados hiperespectrais. Já a resolução espacial dos satélites atingiu tal
re�namento que hoje se obtém imagens com resolução de centímetros (sub-
métricas), conforme mostra a Figura 80.

Figura 80 Imagem do satélite Quickbird, com resolução espacial de 60 cm. Rio de Janeiro/Brasil.

14. Sistemas sensores


Como vimos nos ciclos anteriores, as variações de energia eletromagnética de
determinada área observada podem ser coletadas por sistemas sensores.

Os sensores são dispositivos capazes de detectar a energia eletromagnética


(em determinadas faixas do espectro eletromagnético) proveniente de um al-
vo, transformá-la em sinal elétrico, registrá-la e armazená-la e, posteriormen-
te, convertê-la em imagens ou grá�cos (como os grá�cos de comportamento
espectral) (MORAES, 2002).

Os sistemas sensores ainda podem ser classi�cados em imageadores ou não


imageadores, que, conforme Moraes (2002), são:
• Sistemas imageadores: são sistemas que fornecem como produto �nal
uma imagem da área observada, como os scanners e as câmaras fotográ-
�cas.
• Sistemas não imageadores: também denominados radiômetros ou espec-
troradiômetros, apresentam o resultado em forma de dígitos ou grá�cos.

Outra classi�cação para os sistemas sensores tem por base a fonte de radia-
ção.

Nos exemplos apresentados anteriormente, a principal fonte de radiação cita-


da foi o Sol. No entanto, há outras fontes arti�ciais de radiação eletromagnéti-
ca, como é o caso dos sistemas de radar. Os radares emitem sua própria ener-
gia, constituindo-se em uma fonte arti�cial de energia.

Os sistemas dependentes da re�exão da radiação solar são denominados sis-


temas sensores passivos (Figura 81a). Já os sistemas que emitem sua própria
radiação são denominados sistemas sensores ativos (Figura 81b).

Fonte: Moreira (2001, p. 34).

Figura 81 Sistemas passivos: sistemas que recebem a re�exão da radiação solar (a). Sistemas ativos: sistemas que

emitem sua própria radiação (b).

Observe que, no sistema passivo, a radiação que incide nos alvos da superfície
terrestre provém do Sol (fonte externa). Ao interagir com os alvos, parte da ra-
diação é re�etida, atingindo, posteriormente, o detector de um sistema sensor.
Em contrapartida, se o sistema sensor possui uma fonte de radiação, isto é,
não depende de uma fonte externa para irradiar o alvo, ele é dito ativo.

Nesse caso, o sensor emite um �uxo de radiação em determinada faixa espec-


tral que interage com os alvos na superfície da Terra, e a parte re�etida é en-
tão captada pelo sensor novamente.

Como exemplo de sensores ativos na natureza, podemos apontar o morcego,


que emite seu próprio sinal para o meio, captando a energia re�etida e distor-
cida. A leitura que ele faz do ruído indica obstáculos, alimentos, entre outros.

Características dos sistemas sensores


Moreira (2001) demonstra que um sistema sensor é constituído basicamente
por um coletor, que pode ser um conjunto de lentes, espelhos e antenas; um
sistema de registro (detetor), que pode ser um �lme ou outros dispositivos; e
um componente responsável pela ampli�cação e registro do sinal elétrico
(processador), conforme é ilustrado na Figura 82.

Fonte: Moreira (2001, p. 120).

Figura 82 Componentes de um sistema sensor.

Uma vez que a energia emitida, espalhada ou re�etida pelo alvo atinge o sen-
sor, este deve ser capaz de realizar duas funções básicas:
• focalizar a energia sobre um detetor;
• transformar a energia focalizada numa intensidade de sinal elétrico pas-
sível de ser registrado de forma permanente (como a imagem).

O sistema sensor apresentará características diferenciadas por causa do nível


de coleta de dados. São muitos os tipos de sistemas sensores, no entanto, vere-
mos, de maneira abrangente, alguns modelos, como os sensores fotográ�cos e
os sensores orbitais.

Sensores fotográ�cos
Segundo Moreira (2001), sensores fotográ�cos são todos os dispositivos que
registram a energia re�etida pelos alvos da superfície terrestre em uma pelí-
cula fotossensível, ou seja, o detetor tradicionalmente chamado �lme fotográ-
�co.

Os produtos obtidos por esses sistemas são as fotogra�as aéreas, que podem
ser pancromáticas (apresentadas em preto e branco) ou coloridas (normal ou
falsa cor).

A Figura 83 apresenta a plataforma aérea e seus produtos.


Fonte: Moreira (2001, p. 150).

Figura 83 Sistema sensor acoplado em uma plataforma aérea.

Observe na Figura 84, o detalhe de uma fotogra�a aérea. A fotogra�a aérea


pancromática recebe esse nome porque abrange toda a radiação do espectro
eletromagnético da região do visível, sem fazer distinção entre regiões espec-
trais. Logo, é como se fosse uma fotogra�a colorida comum, mas convertida
em níveis de cinza.
Figura 84 Fotogra�a aérea pancromática, escala aproximada de 1:25000.

As câmaras aéreas foram os primeiros sistemas sensores a serem utilizados


para a extração de informações sobre a superfície terrestre. Posteriormente a
elas, vieram os sistemas orbitais.

Sensores orbitais

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2012):

Os sistemas sensores orbitais exploram as características de uma plataforma


embarcada em uma órbita que deve ser:

1. Circular, para garantir que as imagens tomadas em diferentes regiões da


Terra tivessem a mesma resolução e escala;
2. Permitir o imageamento cíclico da superfície, para garantir a observação
periódica e repetitiva dos mesmos lugares;
3. Ser síncrona com o Sol (heliossíncrono), para que as condições de ilumi-
nação da superfície terrestre se mantivessem constantes;
4. Horário da passagem do satélite deve atender às solicitações de diferen-
tes áreas de aplicação (geologia, geomorfologia, agricultura etc.).

Após o lançamento do primeiro satélite (Earth-1, depois chamado Landsat),


inúmeros outros satélites foram desenvolvidos com sistemas sensores cada
vez mais aprimorados.

No entanto, a principal diferença entre os sistemas fotográ�cos e os sistemas


orbitais reside no fato de que estes produzem um sinal elétrico para posterior-
mente (ou mesmo em tempo real) ser transmitido a uma estação remota.

O Brasil recebe imagens de satélites (Landsat, CBERS, RDARSAT e Spot) por


meio de uma antena de recepção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), localizada em Cuiabá-MT, local estratégico por estar no centro geodési-
co da América do Sul.

Enquanto os sensores fotográ�cos possuem um detector fotoquímico (o �lme),


os sensores orbitais possuem detectores capazes de transformar a radiação
eletromagnética em um sinal elétrico.

Dessa forma, se abstrairmos a diferença entre os tipos de detectores, veremos


que os sistemas orbitais possuem basicamente os mesmos componentes de
um sistema fotográ�co.

É importante lembrar-se de que ao fazer referência a uma imagem orbital, in-


dicamos antes o nome do satélite que a originou e, na sequência, o modelo do
sistema sensor. Observe a Figura 85.
Fonte: adaptado de Gomes (2007, p. 31-34).

Figura 85 O nome em vermelho refere-se ao sensor, o nome em preto designa o satélite (plataforma) que comporta o

sensor.

É importante que se faça menção aos sistemas sensores juntamente com o


nome do satélite, pois cada sensor possui características próprias, como as ca-
pacidades de resolução espectral, espacial, radiométrica e temporal.

Pode haver o uso do mesmo sistema sensor em mais de um satélite, pois eles
não são exclusivos, a não ser nos satélites comerciais. Estes, por serem desen-
volvidos com uma �nalidade especí�ca, não têm sua tecnologia divulgada.

A seguir, percorreremos o estudo sobre as geotecnologias inicialmente para,


em seguida, entrar na Cartogra�a e Ensino: construção social e meio entre o
sujeito e o objeto de conhecimento.

15. Geotecnologias: o sensoriamento remoto na


aquisição de dados geográ�cos e o sig como
meio de visualização
No território brasileiro, os problemas ambientais têm sido intensi�cados como
resultado da velocidade e extensão da ocupação do homem, particularmente a
partir da década de 1950.

Assim, fez-se necessária a utilização de tecnologias que possuíssem agilidade


para acompanhar as mudanças na paisagem, com o intuito de detectar e mo-
nitorar sistematicamente os problemas ambientais.

Neste contexto, as técnicas de sensoriamento remoto têm se mostrado impor-


tantes instrumentos para execução das atividades de monitoramento no meio
ambiente, uma vez que elas permitem uma visão detalhada e sinótica da su-
perfície terrestre.

Atenção!
Os sistemas sensores, principalmente os orbitais, viabilizam o levantamento, a análise e o monitoramento
sistemático de elementos do meio físico terrestre. Como exemplo de monitoramento, podemos destacar o
programa do Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE, denominado Sistema DETER – Detecção de
Desmatamento em Tempo Real (http://www.obt.inpe.br/deter/), entre outros, como PRODES
(http://www.obt.inpe.br/prodes/index.html) e CANASAT (http://www.dsr.inpe.br/laf/canasat/).

De acordo com Novo (1992, p. 15), o sensoriamento remoto é um sistema com-


posto por duas fases principais, a saber:

• Aquisição de dados: relacionado a processos de detecção e registros das


informações.
• Análise de dados: constitui no tratamento e interpretação das informa-
ções obtidas pelo sistema sensor.

Dessa forma, os produtos originados a partir do sensoriamento remoto, em ní-


vel de plataformas aéreas ou orbitais, vêm se tornando indispensáveis aos tra-
balhos que se destinam à temática geo-ambiental. A periodicidade com que os
dados são disponibilizados viabiliza a realização dos trabalhos, pois a atual
tecnologia permite a obtenção de sucessivos registros para um mesmo local,
permitindo a caracterização e o controle sistemático das áreas de interesse.

As técnicas de sensoriamento remoto envolvem a utilização de imagens obti-


das a partir de diversos tipos de sistemas sensores, destacando-se as fotogra-
�as aéreas e aquelas obtidas por meio de plataformas orbitais, permitindo a
aquisição de informações em diferentes níveis, para diferentes objetivos temá-
ticos.

As fotogra�as aéreas são produtos de larga aplicação para a identi�cação e


mapeamento dos recursos naturais utilizados em diversos estudos temáticos.
Para Garcia (1982), as fotogra�as aéreas podem aumentar consideravelmente
o rendimento das operações relativas ao planejamento de bacias de drenagem,
mapeamento de solos e uso e manejo das terras em função da sua boa resolu-
ção espacial. Destacamos, também, a importância das fotogra�as aéreas para
a caracterização dos elementos da paisagem, tais como a geometria das ver-
tentes, especialmente favorecidas pela visão estereoscópica dos pares aerofo-
tográ�cos.

Informação complementar
Imagens ou fotogra�as aéreas de mesma área, porém, obtidas de uma posição diferente, nos
permitem uma visão tridimensional da paisagem. Segundo Florenzano (2002), a estereos-
copia refere-se ao uso da visão binocular na observação de um par de fotogra�as ou ima-
gens desse tipo. Ela é um recurso que proporciona, mantendo a perspectiva vertical, uma
visão de imagens ou fotogra�as em três dimensões (3D). O estereocópio é o equipamento
utilizado para observarmos pares estereoscópicos.

Entre as fotogra�as aéreas, as mais utilizadas são as pancromáticas, referen-


tes à faixa da luz visível do espectro eletromagnético. Entretanto, em alguns
trabalhos, tem sido utilizado um tipo especial de fotos aéreas coloridas que
abrangem a porção do infravermelho próximo, e são denominadas de falsa-
cor, uma vez que nelas as cores naturais dos alvos apresentam-se modi�ca-
das, e o infravermelho próximo não se associa a nenhuma cor naturalmente
perceptível pelo olho humano.

Informação Complementar
A aquisição de dados de uso do solo/cobertura vegetal por meio de registros aerofotogramé-
tricos é realizada por procedimentos de foto-interpretação, amplamente difundidos por ma-
nuais especí�cos, como o American Society of Photogrammetry (1952).

No procedimento de interpretação das imagens, devem ser analisados ele-


mentos como a forma, a tonalidade, a textura, o padrão e os arranjos dos ou-
tros alvos da superfície analisada. Assim, torna-se necessário para a interpre-
tação dos registros o conhecimento do comportamento espectral de alvos (ob-
jetos terrestres) e o conhecimento dos fatores que os in�uenciam.

No entanto, uma das desvantagens apresentadas pelas fotogra�as aéreas resi-


de no fato de que a análise mais detalhada da variação da cobertura vegetal
em termos temporais torna-se limitada pela ausência de constantes recobri-
mentos aerofotogramétricos, em pequenos intervalos temporais, como, por
exemplo, a cada semana ou a cada dia. E, como alternativa, sugere-se o uso de
imagens orbitais para a avaliação ambiental, pois o sensoriamento remoto or-
bital propicia maior frequência de imagens para a atualização de dados.

Os sistemas de sensoriamento remoto orbital tiveram seu advento a partir do


ano de 1972, com o lançamento do primeiro satélite da série Landsat, pela
NASA. Em 1984, a agência espacial francesa CNES lançou o primeiro satélite
da série SPOT. Desde então, inúmeros trabalhos são desenvolvidos visando à
caracterização do meio ambiente e ao levantamento dos indicadores que pro-
movem sua degradação.

A extensão do território brasileiro e o pouco conhecimento dos recursos naturais, aliados ao


custo de se obter informações por métodos convencionais, foram fatores decisivos para a
entrada do país no programa de sensoriamento remoto por satélite.

A partir de de 1999, com a nova geração de sistemas de sensoriamento remoto,


estão disponíveis à comunidade cientí�ca imagens orbitais de alta resolução
espacial, como, por exemplo, os sistemas Ikonos II e QuickBird, respectiva-
mente, com resoluções  nominais de até 1metro e 60 centímetros em seus mó-
dulos pancromáticos.

Atualmente, a repetitividade de cobertura proporcionada pelos sistemas orbi-


tais, com capacidade de obter imagens com frequências que variam entre 5, 16,
26 dias sobre um dado ponto na superfície terrestre, favorece o acompanha-
mento de alvos que apresentam caráter dinâmico, como é o caso das altera-
ções da cobertura vegetal face à agressiva intervenção do homem.

Com as facilidades dessas imagens orbitais de alta resolução e possibilidade


de obtenção de produtos ortoreti�cados, é promissora a intensi�cação de suas
aplicações em estudos de detalhes em grandes escalas, que necessitam de in-
formações com precisão geométrica e cujos alvos apresentam, em geral, pe-
quenas dimensões espaciais.

Os aplicativos mais usados atualmente para o manuseio e análise dos dados


provenientes de sensores remotos são os de Processamento Digital de
Imagens e os denominados Sistemas de Informações Geográ�cas - SIGs. Esses
sistemas de geoprocessamento têm se mostrado competentes para combinar
diferentes dados temáticos georreferenciados, ou seja, planos de informação, e
gerar novos produtos cartográ�cos.

Análise e integração de dados por meio de Sistemas


de Informações Geográficas
Historicamente, a coleta de informações sobre a distribuição geográ�ca dos
recursos naturais era feita por meio de documentos e mapas em papel. No en-
tanto, a partir do desenvolvimento de novas tecnologias em meados do século
20, tornou-se possível o armazenamento, manipulação e análise das informa-
ções em ambientes computacionais, e é neste contexto que desponta o termo
geoprocessamento (CÂMARA, 1996).

Geoprocessamento
O geoprocessamento engloba a área do conhecimento que tem por base técnicas matemáti-
cas e computacionais com a �nalidade de tratamento e análise de informações geográ�cas.

Dentro da tecnologia do geoprocessamento, destaca-se a ferramenta computa-


cional denominada Sistemas de Informações Geográ�cas - SIG, ou
Geographic Information Systems – GIS, que permite realizar análises comple-
xas, integrando dados de diversas fontes e criando bancos de dados georrefe-
renciados e relacionáveis (DRUCK, et al, 2004).

Os Sistemas de Informações Geográ�cas - SIGs são ferramentas capazes de


manipular funções que representam os processos ambientais em diversas re-
giões, de uma forma simples e e�ciente, permitindo uma economia de recur-
sos e tempo. Estas manipulações permitem agregar dados de diferentes fon-
tes, como imagens de satélite, mapas topográ�cos, mapas temáticos etc. em
diferentes escalas. Assim, o resultado geralmente é apresentado sob a forma
de mapas temáticos com as informações desejadas.

É importante salientar que muitas vezes o termo “Sistemas de Informações


Geográ�cas” é confundido com o termo “Geoprocessamento”. O
Geoprocessamento, segundo Câmara (1996), é o conceito mais abrangente e re-
presenta qualquer tipo de processamento de dados georreferenciados, enquan-
to um Sistema de Informações Geográ�cas processa dados grá�cos e não grá-
�cos (alfanuméricos) com ênfase nas análises espaciais e modelagens de su-
perfícies.

Em resumo, Goodchild (1987) menciona que os Sistemas de Informações


Geográ�cas - SIGs constituem pacotes computacionais (softwares) estrutura-
dos para aquisição, armazenagem, manipulação e suporte à análise de dados
geocodi�cados.

Em função dessas características, a aplicação dos SIGs pode auxiliar no de-


senvolvimento de instrumentos para o planejamento e gestão da ocupação
adequada da terra, pois contribui com estudos ambientais ao proporcionar
métodos de análise e de integração de dados referente aos aspectos sócio-
ambientais de uma área.

Quanto ao uso dos SIGs, podemos elencar quatro grandes �nalidades ligadas
aos estudos ambientais:

• mapeamento temático;
• diagnóstico ambiental;
• avaliação de impacto ambiental;
• ordenamento territorial (CÂMARA et al., 1998, p. 86)

Os SIGs, por meio dos seus diferentes módulos, permitem a elaboração das di-
versas análises necessárias ao conhecimento da ocupação atual do solo em
uma determinada área, além de permitir a caracterização dos elementos da
paisagem, fornecendo valores quantitativos de suas extensões e a distribuição
espacial dos diferentes tipos de fragmentos que a compõe.

A utilização combinada das técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessa-


mento permitem a manutenção de registros do uso da terra ao longo do tem-
po. As imagens de satélite tornaram-se muito importantes e úteis, pois permi-
tem avaliar as mudanças ocorridas na paisagem de uma região em um dado
período, registrando a cobertura vegetal em cada momento.

Já sobre a inserção dos SIGs, podemos a�rmar que ela permitiu quanti�car e
tratar as informações extraídas, gerando, sob supervisão do pesquisador, ma-
pas derivados, como os de riscos ambientais. A estrutura do SIG é capaz de ar-
mazenar informações georreferenciadas em um banco de dados geográ�co,
além de permitir a constante atualização dos dados e, consequentemente, a
retomada dos dados arquivados para futuros planejamentos na área.

No Brasil, têm sido realizados eventos especí�cos na área de SIGs e geotecnologias de uma
forma geral. Especialmente a partir do início dos anos de 1990, como GEOBRASIL, posterior-
mente o Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto realizado pelo INPE, têm sido apre-
sentados e publicados trabalhos de diversos interesses temáticos.
Deve-se destacar, também, a atenção dada nesse evento à área da educação.

As tecnologias geográ�cas ganharam dimensões que extrapolam em muito o


campo da pesquisa e, atualmente, são ferramentas fundamentais em empre-
sas privadas e em instituições governamentais em inúmeros ramos de ativi-
dade.

O forte conteúdo estratégico que as ferramentas proporcionam conduziu o


surgimento de grupos de discussão em rede, que divulgam socialmente seus
benefícios e estimulam o seu uso. Nesas linha, softwares livres passaram a
ser desenvolvidos, garantindo a acessibilidade do emprego da geoinformação
independentemente da presença de capital disponível.

Para conhecer um pouco mais sobre o assunto e interagir em diversos fóruns e redes de
discussão, sugerimos o site FOSSGIS Brasil (https://www.geocursos.com.br/fossgis/). Nesse
site, promovem-se o debate e a divulgação de tecnologias livres de geoprocessamento.

16. Cartogra�a e ensino: construção social e


meio entre o sujeito e o objeto de conhecimen-
to
Zacharias (2008), citando Vygotsky, comenta que a linguagem signi�ca um
sistema simbólico dos grupos humanos, e representa um salto qualitativo na
evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos e as formas de organiza-
ção do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio
dela que as funções mentais são socialmente formadas e culturalmente trans-
mitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas dife-
renciadas.

De acordo com Vygotsky (1988), a ideia de mediação indica que, enquanto su-
jeito do conhecimento, o homem não tem acesso direto aos objetos, mas aces-
so mediado, por meio de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos
de que dispõe. Assim, a construção do conhecimento é mediada por outros su-
jeitos. O “outro sujeito” pode apresentar-se por meio de objetos, da organização
do ambiente e do mundo cultural que rodeia o indivíduo.

Neste contexto, pode ser inserida a Cartogra�a. Como uma linguagem media-
dora entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

Tradicionalmente, a Cartogra�a é subutilizada no ensino básico e reduz-se ao


simplismo da mera ilustração artística, como discute Sousa e Katuta (2001).
Contudo, ela deve ser entendida como construção social, não como algo aca-
bado e estático.

No próximo tópico, trataremos do uso da Cartogra�a na educação.

Cartogra�a mediando a construção de um conhecimento


integrado: sociedade, natureza e espaço
A organização do Ensino Fundamental, proposta pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs, subdivide a estrutura curricular em quatro ci-
clos: 1º ciclo com as 1ª e 2ª séries, 2º ciclo com as 3ª e 4ª séries, 3º ciclo com as
5ª e 6ª séries e 4º ciclo com as 7ª e 8ª séries. Com o propósito de minimizar
possíveis problemas de aprendizagem, o PCN prevê vários objetivos a serem
alcançados pelo aluno ao término de cada ciclo (BRASIL, 2007).

Tratando exclusivamente do PCN de Geogra�a, observa-se que a maioria dos


objetivos pode ser amplamente contemplada a partir da utilização da
Cartogra�a, pois esta contribui com a abordagem de diversos temas, e como
todo e qualquer novo saber, este deve ser apresentado à “clientela” partindo
das noções mais simples até as mais complexas (ARCHELA et al., 2005).

Nesse mesmo contexto, Simielli (1986) considera a alfabetização cartográ�ca a


essência da Cartogra�a em termos de produção e leitura de mapas. Indica que
essa alfabetização deve ser iniciada nos primeiros anos do Ensino
Fundamental, quando o processo de ensino da linguagem grá�ca é transmiti-
do aos alunos do 1º ao 5º ano. Já do 6º a 9º ano, além da alfabetização carto-
grá�ca, devem ser incluídas a análise, a localização e a correlação dos fatores
socionaturais.

Dessa forma, a prática da Cartogra�a é referenciada no PCN já no 1º ciclo do


Ensino Fundamental, e propõe que o espaço vivido pelo aluno seja objeto de
estudo ao longo desta etapa do ensino, e que esse seja relacionado com o con-
texto mundial de forma gradativa e cada vez mais abrangente.

Nesse sentido, o aluno inicia conhecendo o espaço de sua sala de aula ou de


sua casa. Depois, vai crescendo no conhecimento do espaço de sua escola, da
quadra desta escola, de seu bairro, de sua cidade etc., até entender e compre-
ender o espaço mundial.

Brasil (1997, p. 35), na análise do PCN, observa que os objetivos gerais propos-
tos para a área da Geogra�a tentam sanar determinados problemas conceitu-
ais. Esses problemas podem ser resumidos a: abandono de conteúdos funda-
mentais como espaço, paisagem, território etc.; discussão de conceitos sem
exempli�cações; modismos para temáticas atuais; memorização de conteúdos
desnecessários e, principalmente, o dualismo entre geogra�a física e humana.
Diante deste contexto, é nítido o esforço por parte do PCN em fazer com que o
aluno reconheça e compreenda mais amplamente as relações e as interações
entre fenômenos sociais, fenômenos naturais e entre ambos, e a consequente
transformação do espaço geográ�co.

A partir de atividades que valorizam o conhecimento prévio dos alunos e que


respeitam suas particularidades, parte-se para a construção da noção de cida-
dania. Entende-se, pela análise do PCN, que essa construção é válida quando o
aluno é sensibilizado por meio do reconhecimento do seu espaço cotidiano,
que permite com que ele estabeleça maiores laços com o “seu” lugar e, conse-
quentemente, alcance o entendimento de que as relações entre sociedade e
natureza formam um todo integrado.

Com isso, alcança-se um dos maiores objetivos, pois é atenuada a dicotomia


geográ�ca, havendo uma aproximação e uma interconectividade da Geogra�a
física com a humana.

De acordo com Brasil (1997, p. 54), para atingir seus objetivos propostos, o PCN
sugere pequenos objetivos especí�cos, que dão liberdade ao professor tratar
dos temas de maneira livre, dada a generalização em que são apresentados.

Assim, segundo o PCN, ao �nal do terceiro ciclo, o aluno já apresenta condi-


ções para estabelecer as relações mencionadas anteriormente (BRASIL, 2007).

Re�etindo sobre este contexto, Brasil (1997) argumenta que o aluno será capaz
de:

Reconhecer que a sociedade e a natureza possuem princípios e leis próprios e que o


espaço geográ�co resulta das interações entre elas, historicamente de�nidas
(BRASIL, 1997, p. 56).

Perceber, na paisagem local e no lugar em que vivem, as diferentes manifestações


da natureza, sua apropriação e transformação pela ação da coletividade, de seu
grupo social (BRASIL, 1998, p. 56).

Reconhecer a importância da Cartogra�a como uma forma de linguagem para


trabalhar em diferentes escalas espaciais as representações locais e globais do
espaço geográ�co (BRASIL, 1998, p. 56).

Criar uma linguagem comunicativa, apropriando-se de elementos da linguagem


grá�ca utilizada nas representações cartográ�cas (BRASIL, 1997, p. 57)

Os mapas são instrumentos extremamente ricos em informação, e podemos


considerar como uma de suas grandes virtudes o entendimento de diferentes
variáveis sobre um mesmo espaço, auxiliando na relação entre fatos e no en-
tendimento da realidade como um todo integrado.
Brasil (1997, p. 76) ainda destaca que: “É fundamental, sob o prisma metodoló-
gico, que se estabeleçam as relações entre os fenômenos, sejam eles naturais
ou sociais, com suas espacialidades de�nidas”.

De modo geral, podemos perceber que a preocupação dos autores que produ-
zem o material didático em relação à Cartogra�a é de simplesmente usá-la co-
mo uma ferramenta para a compreensão e exempli�cação dos assuntos trata-
dos, e não utilizá-la como uma forma de conhecimento em si ou mesmo como
construção do conhecimento.

A Cartogra�a insere-se como grande aliada para compreensão dos temas abordados, como
veículo de entendimento da ocorrência e espacialização dos fenômenos.

Souza e Katuta (2001), ao discutirem sobre o papel da Cartogra�a no Ensino


Fundamental, a�rmam que é preciso encará-la além de seus aspectos visuais
e artísticos, propondo alternativas para a sua utilização que ultrapassem o
simplismo da imagem e cheguem ao nível de conhecimento necessário para a
compreensão da realidade que o indivíduo vive e que pode ser transformada,
consequentemente, transformando ele também.

Uma última re�exão sobre o uso dos mapas na grande maioria das escolas,
apresentados em apostilas ou em livros tradicionais, leva à conclusão de que a
maneira como eles são utilizados, apresentando o conteúdo imediato do texto,
mas não integrando e incorporando o que já foi apresentado, expõe ao aluno
uma realidade um tanto caótica, pois os fenômenos aparecem desordenados e
independentes. Assim, os conteúdos dos mapas pouco ou em nada subsidiam
o aluno no desenvolvimento/entendimento da realidade.

Segundo Almeida (2001), é a primeira vez que as recomendações curriculares


o�ciais tratam a Cartogra�a de modo mais especí�co, como parte do progra-
ma de Geogra�a. Ainda que isso represente um avanço, a autora ainda levanta
que várias questões devem ser consideradas para que a Cartogra�a se torne,
de fato, um bom meio para se conhecer “os lugares e o mundo”.

Os mapas, durante muito tempo, foram considerados como o principal meio


para o ensino de Geogra�a, porém, nos currículos o�ciais, constavam poucos
detalhes a esse respeito. Tais documentos mencionavam, principalmente, lo-
calização, orientação e representação de dados, como conhecimentos neces-
sários para o estudo do espaço geográ�co. E, atualmente, os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o ensino de Geogra�a nos dois primeiros ciclos do
Ensino Fundamental citam, entre os conteúdos a serem ensinados, a “lingua-
gem cartográ�ca” (ALMEIDA, 2001).

Esta colocação nos conduz a uma re�exão sobre as reais possibilidades da


Cartogra�a no processo de construção do conhecimento. Pense nisso.

PCN e Cartogra�a

O PCN apresenta a Cartogra�a como um recurso fundamental para o ensino e


a pesquisa, uma vez que este, ao mesmo tempo em que restringe os mapas
aplicados ao campo do ensino da Geogra�a, abre espaço para a utilização de
diversos tipos de mapas, pois os conteúdos propostos pelo PCN, no que diz res-
peito ao ensino de Geogra�a, são bastante generalistas.

Segundo Brasil (1998, p. 76):

Tanto para a pesquisa como para o ensino da Geogra�a é preciso ter clareza sobre a
escolha do recorte e da escala com que se irá trabalhar. Vale a pena lembrar que, no
estudo dos lugares, para que o aluno possa se situar melhor, a Cartogra�a estará
neste ciclo priorizando a grande escala, garantindo-lhe maior detalhamento dos
fatores que caracterizam o espaço de vivência no seu cotidiano.

Todavia, o que se encontra atualmente nos materiais didáticos é a priorização


de mapas de escala pequena, o que di�culta estabelecer uma relação daquilo
representado no mapa com seu espaço de vivência.

No PCN, é mencionada ainda a necessidade de criar condições para que o alu-


no possa, por meio de mapas temáticos referentes tanto a fenômenos naturais
como sociais, desenvolver estudos analíticos de maneira a estabelecer rela-
ções com a realidade.
No entanto, o que entra em questão é: Qual é a realidade mostrada ao aluno?

De acordo com Santos (2002), ao apresentarem uma realidade distante do coti-


diano do aluno, os mapas, carregados de conteúdos técnicos, são úteis ao mer-
cado de trabalho ou como conteúdos meramente preparatórios para vestibula-
res, ou mesmo apresentam uma realidade que não está relacionada com a vi-
da do aluno.

Ainda segundo o autor:

Devemos entender a Cartogra�a como uma construção social, não como algo
pronto, acabado e estático. A Cartogra�a, como também a Cartogra�a Escolar, não é
meramente um amontoado de técnicas, ela constrói, reconstrói e, acima de tudo,
revela informações (SANTOS 2002, p. 10).

Ao ver os mapas nos livros didáticos, o aluno receberá como informação que
os dados relevantes são aqueles expressos nas representações. Dessa forma,
são essas informações que serão valorizadas pelo aluno.

Atenção!
As informações trabalhadas em representações cartográ�cas são selecionadas como relevantes por seus
elaboradores e, muitas vezes, estes são sujeitos aos interesses daqueles que �nanciam estas confecções.

Como você pode perceber, a Geogra�a é uma ciência de extrema importância


para que a criança desenvolva seu senso crítico, portanto, lembre-se de que os
mapas devem contemplar os diversos elementos que constroem o espaço e a
sociedade.

17. Perspectivas do sensoriamento remoto


Na atual era espacial, a precisão dos dados e a velocidade dos �uxos de infor-
mação simbolizam o carro-chefe do crescimento econômico e do desenvolvi-
mento dos países.
Nesse contexto, o sensoriamento remoto possui um papel fundamental, pois é
o grande responsável pelas rápidas atividades de hoje. Televisão, rádio, inter-
net, celular, GPS, ou seja, todos os meios de comunicação de alta velocidade
estão imbricados com as tecnologias espaciais, logo, essa tecnologia não pode
se dar ao luxo de falhar. Caso contrário, o caos se instalará, já que todos nós
somos dependentes, mesmo que indiretamente, dos satélites arti�ciais.

Entre os objetivos cientí�cos, o sensoriamento remoto auxilia em um dos te-


mas mais marcantes neste início de século, e que preocupa as grandes insti-
tuições de pesquisa, que é a questão denominada (pela mídia) “aquecimento
global”.

Sabe-se que mudanças climáticas naturais sempre ocorreram na Terra; toda-


via, têm-se a hipótese que essas foram agravadas pela intervenção do homem
no equilíbrio natural do planeta.

Desse modo, as mudanças climáticas antropogênicas estão associadas às ati-


vidades humanas, como, por exemplo, a produção industrial, o desmatamento
e as queimadas que provocam o aumento da poluição, a formação de ilhas de
calor etc., e, para todos estes itens, o sensoriamento remoto é fundamental pa-
ra nortear as decisões.

O desenvolvimento de satélites meteorológicos associado à evolução dos pro-


gramas computacionais tem permitido a formação de um acervo documental
composto por grande volume de dados. Quanto mais dados, mais precisas �-
cam as modelagens matemáticas e, consequentemente, mais precisas são as
previsões do tempo.

Observe como as coisas estão encadeadas: a melhora da previsão do tempo


não só traz maior segurança para nós, no sentido que possibilita o planeja-
mento de muitas de nossas atividades, como também permite o planejamento
a longo prazo das atividades agrícolas.

A agricultura de precisão permite maior rendimento da produção agrícola.


Esse fato possui relação com as questões ambientais, pois diminui a necessi-
dade da expansão das fronteiras agrícolas, diminuindo o risco de desmata-
mento, o que diminui as chances de erosão, não ocasionando o acúmulo de se-
dimentos nos rios e corpos d’água. Isso se pensarmos apenas nos elementos
do ambiente físico, pois os benefícios estendem-se, também, para os seres ve-
getais e animais, garantindo aquilo que denominamos biodiversidade.

Nesse sentido, o desenvolvimento do sensoriamento remoto não precisa, ne-


cessariamente, ser medido pela construção de novos sistemas sensores ou di-
retamente pelas novas tecnologias espaciais.

Um grande indicador é a quantidade de trabalhos cientí�cos elaborados em


todo o mundo e, mais especi�camente, no Brasil. O número de teses e disserta-
ções defendidas na área, em conjunto com a realização de grandes eventos ci-
entí�cos de abrangência nacional e internacional, são verdadeiros termôme-
tros de seu crescimento.

Vale destacar que uma parte desse crescimento pode ser correlacionada com
o fortalecimento e a ampliação dos cursos de Pós-graduação no país, e outra
deve-se ao crescimento intrínseco da tecnologia de imageamento e de proces-
samento de dados.

A ampliação dos programas de Pós-graduação que abordam esta temática in-


dica, também, o aumento do interesse pelo entendimento dos objetos, fenôme-
nos e processos da Terra que podem ser observados e estudados por meio do
sensoriamento remoto e das tecnologias associadas.

Particularmente, nos últimos anos, o acesso aos dados de diferentes nature-


zas, como os de alta resolução e os de micro-ondas, por exemplo, têm amplia-
do e despertado ainda mais o interesse pelo sensoriamento remoto.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordena-


dor do principal evento de sensoriamento remoto no Brasil, o professor José
Carlos Epiphanio, justi�ca o crescimento do sensoriamento remoto ao comen-
tar que em uma época em que as cidades trazem crescentes preocupações
quanto à sua expansão, planejamento, condições ambientais de vida, e o meio
não urbano apresenta desa�os quanto ao seu conhecimento, monitoramento,
manejo, degradação, poluição etc., o sensoriamento remoto e as geotecnologi-
as mostram-se como aliados indispensáveis na detecção, no entendimento,
na análise e solução de muitas dessas situações.

Assim, à medida que novos e crescentes problemas são postos e novos instru-
mentos de imageamento e análise surgem, é natural que haja crescente inte-
resse pelo sensoriamento remoto.

Novo (1992) aponta que o Brasil é um país que apresenta dimensões continen-
tais, com regiões contendo �orestas tropicais e grandes áreas de difícil acesso
e baixa densidade populacional; extensa região costeira; vastos ecossistemas;
agricultura intensa em algumas regiões e expansões das fronteiras agrícolas
em outras; questões ambientais de variados tipos; fronteiras longas e pouco
habitadas; riqueza de recursos naturais, necessitando de mapeamento e ge-
renciamento.

Sobre esse assunto, o relatório “Enfrentar e vencer desa�os” (BRASIL, 2000)


a�rma que todas essas características justi�cam as formas e intensidades dos
investimentos brasileiros que vêm sendo realizados para a utilização de todos
os potenciais da tecnologia espacial, especialmente o sensoriamento remoto
para o conhecimento, mapeamento, uso e monitoramento de seus recursos.

O Brasil é o terceiro maior usuário mundial de produtos do espaço


(INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS, 2005), principalmente
imagens de sensoriamento remoto e, após o lançamento do CBERS 1, ingres-
sou no seleto grupo de países que dominam todo o ciclo da tecnologia espaci-
al.

O grande volume de dados coletados pelo satélite sino-brasileiro permite que


boa parte desse material seja disponibilizada ao público. Há, na internet, uma
in�nidade de sites que disponibilizam imagens orbitais tanto para estudos ci-
entí�cos quanto para as observações em geral, aquelas realizadas sem a ne-
cessidade de estudos precisos. Esses dados são de grande pertinência para o
desenvolvimento de novas propostas de ensino-aprendizagem, além de ser
fundamental para a difusão do conhecimento.

Veremos, agora, como se obter imagens de sensoriamento remoto disponibili-


zadas gratuitamente.

Disponibilidade dos produtos de sensoriamento remoto na


internet
Apontaremos algumas possibilidades de obtenção de imagens de satélites pe-
la internet. No entanto, as fotogra�as são um pouco mais difíceis de serem en-
contradas em boa qualidade, gratuitamente. Já as imagens orbitais re�etem
bem a difusão do sensoriamento remoto, visto o grande número de sites que
possuem imagens para download.

Entre as diversas imagens e sites destinados ao sensoriamento remoto na in-


ternet, inicialmente, demonstraremos a aquisição dos produtos orbitais dispo-
níveis no acervo digital do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE,
que, de fato, consiste no principal centro de excelência e pesquisa nesta área
aqui no Brasil.

Importante ressaltar que as imagens que obteremos devem ser visualizadas


em programas especí�cos, como SIG SPRING (http://www.dpi.inpe.br/spring
/portugues/download.php), software gratuito, também disponibilizado pelo
INPE..

Acesse o endereço do INPE (http://www.dgi.inpe.br/CDSR/), conforme indica-


do na Figura 86. Para adquirir os arquivos, é preciso realizar um cadastro pré-
vio. Esse cadastro vale tanto para direcionar as imagens selecionadas (arqui-
vo FTP) para um endereço de e-mail, como arquivar o per�l do usuário.
Posteriormente, acesse seu login.
Figura 86 Catálogo de imagens orbitais disponibilizada pelo INPE. Indicação das telas de cadastro e login para aquisi-

ção das imagens.

Logo em seguida, você retornará à página inicial, devendo preencher os se-


guintes parâmetros (Figura 87):

Figura 87 Complementação de parâmetros de cena para �ltragem das cenas disponíveis. Satélite, intervalo de tempo,

cobertura de nuvens e local.

A primeira opção corresponde ao seu satélite de interesse. Como vimos ao lon-


go da disciplina, cada satélite possui suas características particulares, que de-
vem ser levadas em consideração. Para conhecer mais de cada um dos satéli-
tes indicados, realize uma busca na internet, sugerindo a seguinte sentença:
“características satélite + “nome do satélite””. Indique um intervalo de tempo
para determinar a época que você deseja.

Um dos aspectos mais relevantes para o desenvolvimento de um bom traba-


lho é a baixa presença de nuvens na imagem, uma vez que elas impedem o re-
gistro daquilo que está imediatamente a baixo, como as áreas afetadas por sua
sombra. Para �ltrar essas informações, sugere-se que se indique um porcentu-
al máximo de cobertura de nuvens por quadrante na imagem. Supõe-se, as-
sim, que a imagem é dividida em 4 quadrantes: Q1 e Q2 – Esquerda e Direita
Superiores; Q3 e Q4 – Esquerda e Direita Inferiores consecutivamente.

Por �m, indique país, município e estado de interesse. Neste exemplo, seguire-
mos com a região de Batatais-SP (Figura 88). Clique em “Executar”.

Figura 88 Indicação da disponibilidade de imagens na região de interesse e limite entre as orbitas (linha amarela sen-

tido Norte-Sul) e imagens (linha amarela sentido Norte-Sul e Leste-Oeste).

Será retornado em tela um quadrante, tendo como centro a região desejada,


composto por um mosaico de imagens falsa cor, normalmente com destaque à
vegetação, sempre marcante nas regiões intertropicais, presentes em tons de
verde associados ao canal do infravermelho. Os limites contornados em ama-
relo correspondem aos limites (borda) de cada imagem. A seta azul indica a
localização do município escolhido, e a simbologia seguida das coordenadas
numéricas indica as características da imagem (L5 – LandSat5; 74/220 – cor-
responde à localização da cena no contexto da articulação entre as imagens;
seguido da última data disponível para download).

Clique na simbologia. Em seguida, serão listadas todas as imagens disponí-


veis para download (Figura 89) segundo as prede�nições de data e porcentual
de cobertura de nuvens.

Figura 89 Seleção das imagens segundo critérios de �ltro estabelecidos pelo usuário.

Selecione aquela que desejar clicando em “adicionar ao carrinho”. Será apre-


sentada um preview da imagem selecionada, com as respectivas informações
detalhadas da cena (Figura 90).
Figura 90 Preview da imagem selecionada juntamente com informações do imageamento.

Selecione aquela que desejar clicando em “adicionar ao carrinho”. Será aberta


uma nova tela apresentando um preview da imagem selecionada, seguida das
respectivas informações detalhadas da cena. Retorne novamente à pagina ini-
cial avance para a opção “carrinho”. Clique em “Prosseguir” para �nalizar sua
busca (Figura 91). Será encaminhado ao seu e-mail um link para fazer o
download das imagens.

Figura 91 Finalização do pedido e direcionamento do arquivo (Link FTP) ao endereço de e-mail do usuário.

Vale destacar que as imagens obtidas são denominadas “brutas”, ou seja, são
imagens sem edições, (apenas pré-processadas), individuais para cada banda,
em tons de cinza. Possuem georreferenciamento, ou seja, cada ponto na ima-
gem tem sua localização de�nida pelas coordenadas geográ�cas, o que permi-
te sobreposição com outros produtos cartográ�cos que assim estejam tam-
bém. Como mencionamos, para utilizar da melhor forma, é indicado o uso de
um SIG.

Para você aprender a visualizar e manipular suas imagens, sugerimos a leitu-


ra do manual do SIG SPRING (http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/manu-
ais.html), e a realização dos exercícios indicados em seu tutorial.

Para utilização mais imediata de imagens, já processadas (em cor verdadeira)


e georreferenciadas, destacamos o software Google Earth (https://www.goo-
gle.com.br/earth/about/versions/#download-pro).

Atualmente, pode ser encarado como uma das mais poderosas ferramentas de
mercado e planejamento, dado o elevado potencial estratégico de seus dados e
informações, além, é claro, de ser um dos principais passatempo de qualquer
geógrafo!

Por meio desse software gratuito, é possível navegar em 3D, ou até mesmo ob-
ter imagens de qualquer ponto do globo terrestre em boa qualidade e resolu-
ção. Porém, as imagens desse programa não devem ser utilizadas para �ns ci-
entí�cos, pois os procedimentos de tratamento não são especi�cados, e o geor-
referenciamento é apenas aproximado.

Em sua tela inicial, podemos visualizar um modelo esférico do planeta Terra,


com o sombreado do relevo bem realçado e os continentes com os detalhes de
sua superfície apresentado por imagens orbitais (Figura 92). Um zoom bem
próximo à superfície permite-nos enxergar que, na verdade, se trata de um
grande mosaico composto por inúmeras imagens (Figura 93). Além da visua-
lização vertical das localidades, é possível alterar o ponto de visada da super-
fície, tornando-o oblíquo em relação ao terreno (Figura 94).
Figura 92 Tela de entrada do software Google Earth. Apresentação do mosaico do planeta Terra.

Figura 93 Indicação de limites entre imagens na composição do mosaico. As diferenças de sensores, iluminação, ân-

gulo de inclinação do sensor e �uxos de energia, além das características da atmosfera no instante do imagieamento,

conferem diferentes tonalidades às imagens.


Figura 94 Visualização do terreno em diferentes ângulos de inclinação. Localização de países, estados e cidades.

Além da navegação interativa, lugares especí�cos de interesse do navegador


podem ser encontrados indicando-se corretamente o nome do local e suas re-
ferências, por exemplo: “Batatais – SP, Brasil” (con�ra a demonstração na
Figura 95).

Figura 95 Localização de países, estados, cidades, bairros e ruas, inserindo no campo “voar para” o local desejado.

Após ter encontrado o local de interesse e selecionado o melhor ângulo, salve


a imagem clicando em “Arquivo” > “Salvar” > ”Salvar Imagem...” (Figura 96).
Figura 96 Procedimentos para salvar a imagem desejada.

Com um pouco de curiosidade e muita criatividade, você dispõe de um grande


aliado em sala de aula. Um recurso geográ�co capaz de trabalhar diferentes
conceitos como escala, região, identidade local entre outros.

Sensoriamento remoto como ferramenta didático-


pedagógica
O sensoriamento remoto apresenta-se como o grande símbolo da atual era es-
pacial e do monitoramento ambiental terrestre, transformando-se numa ferra-
menta tão essencial para a população que o seu conhecimento vem extrapo-
lando os limites dos laboratórios e grupos cientí�cos e ganhando cada vez
mais espaço no cotidiano das sociedades.

Vemos seus produtos nos telejornais, como a previsão do tempo, o monitora-


mento do desmatamento na Amazônia, o mapeamento da expansão das fron-
teiras agrícolas, a questão da segurança com o rastreamento de veículos e,
principalmente, nas telecomunicações que dependem dos sinais de satélite.
Em outras palavras, sensoriamento remoto signi�ca difusão do conhecimento
e, cada vez mais, uma maior facilidade de acesso por parte dos diversos segui-
mentos da sociedade.

O fato de o sensoriamento remoto estar se tornando tão comum, assim como


qualquer outro conhecimento cientí�co, faz com que haja a necessidade de ele
ser abordado dentro das escolas. Dessa maneira, cabe a nós, professores, a res-
ponsabilidade de instruir corretamente os alunos a respeito dessa área do sa-
ber cientí�co, a�nal, o conhecimento que se transmite na escola é o próprio
conhecimento cientí�co.

Por isso, é conveniente conhecermos os detalhes um pouco mais a fundo, já


que a ciência do sensoriamento remoto não está diretamente nas imagens e
nas �guras, mas sim na maneira como são obtidas.

Com posse desse conhecimento, é possível cumprirmos eticamente o nosso


objetivo na condição de professores: formar cidadãos com capacidade de in-
tervir na sociedade com participações consistentes e construtivas.

Dessa forma, são inúmeras as possibilidades de uso dos produtos de sensoria-


mento remoto no ensino. A criatividade é fundamental, pois como pudemos
ver, a atividade do sensoriamento remoto envolve um forte grau técnico, o que,
a princípio, pode di�cultar a aplicação desse recurso em séries iniciais.

Florenzano (2002) ressalta que, a partir da análise e interpretação de imagens


de sensores remotos, os conceitos geográ�cos de lugar, localização, interação
homem/meio físico, região e dinâmica podem ser articulados.

As imagens, vistas em diferentes escalas, permitem a visualização do planeta,


do estado, da cidade e, até mesmo, da rua, o que permite desenvolver na crian-
ça a noção de abstração, escala cartográ�ca e perspectiva, além de inseri-la
no contexto espacial em que vive.

O sensoriamento remoto é, também, um grande aliado para a iniciação da geo-


gra�a física, pois facilmente delimitamos as áreas continentais e oceânicas,
as cadeias montanhosas e as localizações de cursos d’água.

Em relação ao aspecto de desenvolvimento econômico e social, as imagens de


alta resolução espacial são ótimos recursos, pois, por meio delas, é possível
compararmos os diferentes arranjos espaciais urbanos. Observe as Figuras 97
e 98.
Figura 97 Região de Marrocos. Imagem do satélite Quickbird.

Figura 98 Região de Paris, Arco do Triunfo. Google Earth V.7.0.2

Vale ressaltar que o uso escolar dos produtos e das técnicas de sensoriamento
remoto se apresenta como recurso para o processo de discussão/construção
de conceitos pelos alunos, além de ser um conteúdo em si mesmo.

Santos (1998) veri�cou as possibilidades de uso do sensoriamento remoto em


diferentes disciplinas, como geogra�a, história, ciências, matemática, educa-
ção artística, entre outras, principalmente em abordagens interdisciplinares;
por exemplo, na focalização do tema “meio ambiente”.

Outro aspecto positivo do sensoriamento remoto na sala de aula é a possibili-


dade de associarmos as atividades realizadas em campo à contextualização
das informações obtidas a partir das imagens de satélite e fotogra�as aéreas.
Esse tipo de prática pode nortear o desenvolvimento de projetos voltados à
educação ambiental por meio do estudo do meio ambiente local.

O uso escolar do sensoriamento remoto como recurso didático-pedagógico no


processo de ensino-aprendizagem permite desmisti�car a ideia de que uma
tecnologia de ponta é algo distante da escola, bem como proporciona aos pro-
fessores um novo meio de promover ou proceder à socialização da ciência,
além de aproximar a relação do ensino com o conhecimento e com a vida dos
alunos.

Responda à questão autoavaliativa proposta a seguir, para veri�car se assimi-


lou o conteúdo apresentado.

18. Considerações
Neste ciclo, inicialmente estudamos como a cartogra�a evoluiu identi�cando
e interpretando os principais eventos no percurso da História da Cartogra�a
que levaram o homem a mapear e a sistematizar a superfície terrestre.
Observamos que o seu desenvolvimento está diretamente relacionado as téc-
nicas e inovação, dos primeiros mapas até os dias atuais com o advento da
Cartogra�a Digital.

Na sequência, vimos que a cartogra�a é subdividida em Sistemática e


Temática e, neste tópico, ainda percorremos por conceitos de escala e projeção
e por princípios teóricos que fundamentam a Cartogra�a do ponto de vista da
comunicação cientí�ca. Em relação a escala cartográ�ca, vimos a classi�ca-
ção e o cálculo, inclusive com exercícios resolvidos. Sobre as projeções, vimos
que é por meio delas que é possível representar o globo terrestre em um plano,
apesar das distorções, que devem ser estudadas e entendidas para melhor
compreensão. Assim vimos como as projeções são classi�cadas, quais as su-
perfícies de projeção e sua relevância na construção dos mapas, além de estu-
dar a Projeção Universal de Mercator, mais conhecida como UTM.

Em seguida, vimos os princípios teóricos que fundamentam a Cartogra�a do


ponto de vista da comunicação cientí�ca. A compreensão destas bases é fun-
damental para o entendimento de suas potencialidades e para o desenvolvi-
mento de sua prática, especialmente no segmento temático da atividade car-
tográ�ca.

Para �nalizar este ciclo, vimos a partir do funcionamento do Sensoriamento


Remoto, as características dos diversos sistemas sensores existentes, respon-
sáveis pelo registro das informações, passando pela atual tendência da
Cartogra�a Digital, inserida no contexto das geotecnologias. Com caráter re�e-
xivo, trouxemos brevemente o processo de aprendizagem da Cartogra�a e a
proposta educacional para o ensino dessa ciência.

No próximo ciclo vamos entrar nas práticas socioespaciais e na Geogra�a


Urbana. A proposta é entender e explicar o processo da produção do espaço a
partir da produção-reprodução da vida humana. E como vimos nos dois pri-
meiros ciclos, a representação espacial se torna fundamental para orientar e
fazer re�etir sobre a forma como tem se estruturado a sociedade, uma socie-
dade cada vez mais urbana, e por isso mesmo, uma provocação no 4º ciclo de
aprendizagem, a partir de uma análise do processo de metropolização do es-
paço.
(https://md.claretiano.edu.br/cargeourbpop-

gp0049-ago-2022-grad-ead-p/)

Ciclo 3 – Geogra�a Urbana e as práticas socioespaci-


ais

Regina Tortorella Reani

Objetivos
• Compreender o campo e o objeto da Geogra�a Urbana, bem como os
principais conceitos referentes a estrutura e a dinâmica das cidades e
do sistema urbano.
• Identi�car o conjunto temático que envolve três dimensões da análise
urbana: os con�itos socioespaciais urbanos, os socioambientais e as re-
presentações espaciais.
• Identi�car os processos de crescimento urbano e a constituição de redes
urbanas.

Conteúdos
• Geogra�a Urbana e o seu Campo de Estudo: Conceitos, Práticas
Socioespaciais e Con�itos Socioambientais nas dimensões da análise
urbana e o Crescimento das cidades e Redes Urbanas.

Problematização
Qual o campo de estudo da Geogra�a Urbana? Como de�nir o espaço urbano?
Como ocorre a produção e o uso do solo no espaço urbano? O que é a cidade?
Quais condições possibilitaram o surgimento e a evolução das cidades?
Quais os elementos do tecido e do sítio urbano? Quais as diferenças internas
das cidades? Qual o signi�cado do conceito de lugar para a geogra�a? Qual o
debate da pluralidade teórico-metodológica na Geogra�a atual para as análi-
ses urbanas? O que são os con�itos socioespaciais urbanos e socioambien-
tais? Como estas dimensões espaciais se articulam, entrecruzando, com as
formas de representação? Quais as características da urbanização brasileira?
O que é rede urbana? Como se caracteriza a rede urbana brasileira? Como o
processo de urbanização in�uenciou historicamente a con�guração da rede
urbana brasileira? Quais as características da rede urbana paulista? Quais as
diferenças entre metrópole, megalópole e cidades globais?

Orientação para o estudo


Assim como nos ciclos anteriores, diversos materiais e conteúdos adicionais
estão disponíveis para que você possa ampliar seus conhecimentos. Neste
ciclo, estudaremos a cidade, que envolve uma ação interdisciplinar, sendo
campo de análise de diversas ciências entre elas a Sociologia, a História, o
Urbanismo, a Economia e a Geogra�a. Para o estudo da cidade não existe
uma metodologia única. É necessário adotar diferentes abordagens para
compreender a complexidade dos problemas urbanos. Para tanto, indicamos
o vídeo D-22-Complementares - Espaço Urbano (https://www.youtube.com
/watch?v=zXKDYukoIGY), que traz uma análise do espaço geográ�co urbano
do ponto de vista da Geogra�a marxista. Este vídeo conta com a contribuição
do Prof. Dr. Anselmo Alfredo, coordenador do Labur – Laboratório de
Geogra�a Urbana da Universidade de São Paulo (USP).

Bons estudos!

1. Introdução
Neste terceiro ciclo de aprendizagem, conheceremos o campo de estudo da
Geogra�a Urbana. Veremos que, atualmente, ela assumiu o papel de com-
preender a cidade com base na realidade vivida e que o pesquisador está inse-
rido no espaço urbano, fazendo parte das transformações que ocorrem nesse
espaço. Assim, o espaço urbano e as interações sociais que nele ocorrem são o
objeto de estudo da Geogra�a Urbana. Além disso, trataremos a forma como a
cidade se estrutura e se con�gura, bem como estudaremos dois temas de
grande relevância para a compreensão e estudo da organização do território
brasileiro: a urbanização brasileira e a rede urbana.
3. Campo da geogra�a urbana
De acordo com Carlos (1994, p. 9): “Não existe geogra�a sem a produção geo-
grá�ca, sem o ‘pensar-se’ a realidade, sem a explicação teórica advinda da in-
terpretação no real”.

Estudar a cidade envolve uma abordagem interdisciplinar, devido às diversas


questões que seu estudo coloca, sendo campo de análise de diversas ciências,
entre elas a geogra�a, a sociologia, a história, o urbanismo, a economia, etc. Da
mesma forma, podemos a�rmar que não há uma metodologia única para o
seu estudo. Logo, é necessário adotar diferentes abordagens para compreen-
der a complexidade dos problemas urbanos.

A Geogra�a, ciência que tem como objeto de estudo o espaço e as relações so-
ciais que nele ocorrem, aborda a questão urbana por meio do dinamismo espa-
cial, buscando identi�car e explicitar a localização e a distribuição dos fenô-
menos físicos e humanos sobre o espaço urbano (CLARK, 1985).

De acordo com Clark (1985, p. 18), “[...] a Geogra�a Urbana é o ramo da


Geogra�a que se concentra sobre a localização e o arranjo espacial das cida-
des”.

O estudo da Geogra�a Urbana é algo recente, teve início na década de 1910. Seu
objeto de pesquisa vem passando por uma reestruturação, acompanhando as
mudanças epistemológicas da ciência geográ�ca, desde a Geogra�a
Tradicional até a Geogra�a Quantitativa e à Geogra�a Crítica.

Inicialmente, o enfoque da Geogra�a Urbana era o sítio urbano. Todavia, atual-


mente, há uma maior busca pelos aspectos comportamentais e políticos da
estrutura urbana.

Os estudos de sítio urbano relacionam-se basicamente na classi�cação, análi-


se e comparação da topogra�a urbana. Assim, tal estudo caracteriza onde a ci-
dade está assentada, determinando, em suma, suas características topográ�-
cas.
O estudo das características físicas do local é de extrema relevância, já que o
tipo de relevo pode de�nir o modo de ocupação e organização de determinada
localidade e, até mesmo, impor limites ao desenvolvimento urbano. Porém, o
estudo do espaço urbano não pode se basear somente nas características físi-
cas do local, pois há vários elementos sociais, econômicos e políticos que tam-
bém in�uenciam nas questões urbanas.

Já os estudos de tecido urbano procuravam classi�car e diferenciar as cidades


com base em seu plano viário, aparência das edi�cações e função ou uso do
solo. Essa linha de conhecimento surgiu na Alemanha e foi bastante criticada
por ter uma abordagem mais empírica e descritiva (CLARK, 1985).

Na década de 1960, o estudo da Geogra�a Urbana por meio de modelos foi am-
plamente utilizado, no qual Chorley e Haggett (1967) tiveram grande participa-
ção. O estudo de modelos foi desenvolvido em dois campos distintos: da locali-
zação de cidades e da estrutura social e espacial interna das cidades (CLARK,
1985).

Antes disso, em 1933, Walter Christaller publicou a obra Central Places in


Southern Germany, dando origem à Teoria dos Lugares Centrais, uma das
mais importantes teorias de localização urbana. Como aponta Clark (1985, p.
29):

[...] [a teoria] demonstrou que princípios e relações fundamentais determinam a


distribuição de cidades, e que esses fatores podem ser modelizados de maneira a se
atingir explicações teóricas gerais de localização urbana.

A Teoria dos Lugares Centrais é marcadamente quantitativa, buscando identi-


�car a estrutura e o estado de um conjunto de cidades que se interagem e se
interdependem como uma unidade (elemento físico) em operação.

Ainda na década de 1960, a Escola de Ecologia Humana de Chicago coloca a


importância da análise setorial e social. Com isso, apresentava-se uma teoria
de mudança social urbana que predizia as implicações para a estrutura social
e econômica da cidade. Teoria essa que também foi defendida por Burgess
(1925) e por Hoyt (1939).

Outras abordagens surgiram na década de 1970. Uma delas é a comportamen-


tal, que se interessa pelo modo como os indivíduos percebem a cidade e to-
mam decisões sobre ela. Outra é a abordagem da economia política, que busca
explicar os problemas urbanos com referência a ideologias políticas alternati-
vas, preocupada com questões sociais (CLARK, 1985).

Dentro da abordagem de economia política, podemos encontrar duas linhas


diferentes. A primeira preocupa-se com a análise dos con�itos e com a admi-
nistração na cidade, enquanto a segunda, inspirada nos escritos de Karl Marx,
discute o sistema capitalista, a justiça social e o meio ambiente urbano.

Atualmente, muitas preocupações da Geogra�a Urbana re�etem a forma como


a sociedade tem se estruturado política e economicamente. A Geogra�a
Urbana, assim como a ciência geográ�ca, passa a explicar o processo da pro-
dução espacial a partir da produção-reprodução da vida humana. O homem,
de habitante passa a ser entendido como sujeito (CARLOS, 1994). “A sociedade
considerada criadora de espaço é a sociedade tal como ela é, dividida em clas-
ses” (CARLOS, 1994, p. 158).

A Geogra�a e a Geogra�a Urbana têm buscado o entendimento da realidade


histórica, não só a sua compreensão, mas também a explicação da sua trans-
formação, visando compreender os processos envolvidos na realidade urbana.
Há uma busca pelo estudo da realidade vivida, o que afasta a ideia do pesqui-
sador distante, que vê as coisas de fora, e supera a Geogra�a meramente des-
critiva. Opta-se por uma Geogra�a participativa, re�etindo, assim, sobre o su-
jeito que produz a cidade (CARLOS, 1994).

Década de 1970
A década de 1970 foi um momento marcante no estudo do urbano, pois, nesse
período, ocorre uma ruptura e uma transformação na produção do conheci-
mento sobre o urbano. Segundo Carlos (1994, p. 159):
A passagem do entendimento da organização do espaço ao espaço produzido apon-
ta uma superação importante [...] a dimensão social assume papel preponderante,
abrindo novas perspectivas para a geogra�a.

Com a nova Geogra�a, troca-se a base de estudo “organização do espaço” para


“produção do espaço”. A noção de espaço organizado, no sentido de arrumação
e de sistematização, com a renovação da Geogra�a, ganha um novo sentido, de
modo que o espaço passa a ser visto como palco das atividades humanas, ou
seja, o lugar onde a sociedade constrói sua existência (CARLOS, 1994).

Com a evolução do pensamento geográ�co, o fenômeno urbano passa a ga-


nhar uma nova visão. Como complementa Carlos (1994, p. 177):

 [...] o espaço (urbano, rural) é analisado como fruto do processo de produção que se
estabelece no seio da sociedade, que tem por objetivo a reprodução da existência
humana, sendo, portanto, fruto do trabalho.

Nesse sentido, a população passa a ser vista como produtora do espaço. O es-
tudo da realidade urbana passa a ser o objetivo da Geogra�a Urbana, e, com is-
so, o espaço passa a ganhar uma dimensão social e histórica. Carlos (1994, p.
194) ressalta, ainda, que:

O espaço urbano, de palco da atividade humana, passa a ser analisado enquanto


produto histórico e social, desigual e contraditório, lugar privilegiado das lutas de
classe e dos movimentos sociais, enquanto unidade do diverso.

A Geogra�a Urbana, hoje, não se contenta mais em somente de�nir e descre-


ver a morfologia da cidade. Seu campo de estudo, bem como o da ciência geo-
grá�ca, tem tomado novos rumos. Ela analisa a cidade como campo da luta de
classes, como espaço da produção social do trabalho humano. O uso do solo
articula-se à ideia de valor de uso e de troca. A localização, a acessibilidade, a
segregação sócio espacial, a qualidade de vida, a desigualdade social, a pobre-
za, os movimentos sociais urbanos, a moradia, os projetos urbanos (planos das
cidades), a cidadania e o direito à cidade são todos elementos do campo de es-
tudo da Geogra�a Urbana.

Para elucidar a discussão em torno do campo de estudo da Geogra�a Urbana,


podemos de�nir essa área de estudo de acordo com Gonçalves de Abreu (1994,
p. 134, grifos nossos):

[...] esta seria uma especialização da geogra�a que trata de uma especi�cidade do
real: a cidade [...] a geogra�a urbana trata do fenômeno urbano [...] entendido como
qualquer manifestação que diz respeito à cidade, seja quanto ao processo de urba-
nização, seja quanto ao crescimento das cidades ou ao estudo da estrutura interna
das mesmas.

3. Espaço urbano
O que é o espaço urbano? O geógrafo Roberto Lobato Corrêa (2005, p. 7), discute
essa questão em seu livro O espaço urbano. A reposta dada por ele é:

O espaço de uma grande cidade capitalista constitui-se, em um primeiro momento


de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais
usos de�nem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades
comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residenciais, distintas
em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva
para futura expansão. Este complexo conjunto de usos da terra é, em realidade, a
organização espacial da cidade ou, simplesmente, o espaço urbano, que aparece as-
sim, como espaço fragmentado.

Ainda para Corrêa (2005, p. 145), “[...] [o espaço urbano] é fragmentado e articu-
lado, re�exo e condição social, e campo simbólico de lutas”.

Assim, o espaço urbano refere-se às diferentes formas de uso da terra e ao mo-


do como esses usos se organizam espacialmente na cidade. Usos diferentes
(indústria, comércio, moradias, ruas etc.) que, muitas vezes, entram em con�i-
to, re�etindo o modo de vida da sociedade.

De acordo com Carlos (1994, p. 12), “[...] o urbano vai-se reproduzindo a partir
da luta de interesses entre o que é fundamental para a reprodução, de um lado,
do capital e, de outro, da vida”.

Segundo Corrêa (1993, p. 7): “O espaço urbano é fragmentado, mas ao mesmo


tempo articulado”. Cada porção do espaço mantém relação com as demais,
mas a intensidade da relação pode variar de lugar para lugar. Essas relações
vão ocorrer por meio dos �uxos de veículos, pessoas, mercadorias e capital. Ou
seja, a ida ao trabalho, à escola, ao cinema, os encontros com amigos, praias,
parques etc.

A articulação entre as partes do espaço urbano também se dá de forma abstra-


ta, isto é, de forma menos visível. O capital circula por meio de decisões de in-
vestimentos, mais-valia, juros, salários etc. “Essas relações espaciais são de
natureza social tendo como matriz a própria sociedade de classes e seus pro-
cessos” (CORRÊA, 1993, p. 8).

Dessa forma, as relações espaciais integram as diferentes partes da cidade,


unindo-as em um conjunto articulado, cujo núcleo de articulação tem sido,
tradicionalmente, o centro da cidade, o qual desempenha papel fundamental,
na concentração de comércio e serviços, e atração populacional (CORRÊA,
1993).

O espaço urbano é dividido e segregado. Há diferentes padrões de moradias


presentes nas cidades. Existem áreas mais ricas e luxuosas, com moradias de
alto padrão, providas de melhor infraestrutura (áreas de lazer, vias largas com
asfalto, saneamento etc.), e outras onde a pobreza é nítida, o padrão das mora-
dias é precário, sendo desprovidas de infraestrutura.

Para Corrêa (1993, p. 10): “O espaço é um condicionante da sociedade”. Com es-


sa a�rmação o autor mostra que a forma como o espaço se estrutura é fator
condicionante da sociedade, ou seja, a existência de um conjunto hospitalar
atrai um determinado número de farmácias e clínicas. Assim, há uma vanta-
gem no fato desses serviços estarem juntos não apenas para eles, mas tam-
bém para a sociedade e para o capital.

Além disso: “O espaço urbano é o lugar onde os diferentes grupos sociais vi-
vem e se reproduzem” (CORRÊA, 1993, p. 23). Cada lugar representa uma reali-
dade social. Nele, estão embutidos as características locais, a cultura, os cos-
tumes, formas especiais que revelam um sentimento, laços de afeição, possí-
veis de proporcionar alegrias e tristezas ao homem. Ou seja, o espaço urbano
passa a ter dimensões e signi�cados variados segundo as diferentes classes e
grupos sociais.

“O espaço da cidade é, também, o cenário e o objeto das lutas sociais, pois es-
tas visam, a�nal de contas, o direito à cidade, à cidadania plena e igual para
todos” (CORRÊA, 1996, p. 151).

Com base nas ideias aqui expostas e nos escritos de Corrêa (1993), é importan-
te revisarmos algumas informações para melhor compreensão do espaço ur-
bano:

1. O espaço urbano é fragmentado e articulado.


2. A articulação entre as diferentes partes do espaço se dá pelos �uxos de
pessoas, serviços, mercadorias e do capital.
3. O espaço urbano é re�exo da sociedade, das ações que ocorreram no pas-
sado e que deixaram suas marcas nas formas espaciais do presente.
4. Por ser re�exo social e fragmentado, o espaço urbano, especialmente o da
cidade capitalista, é profundamente desigual.
5. Por ser re�exo social e porque a sociedade tem a sua dinâmica, o espaço
urbano é, também, mutável, dispondo de uma mutabilidade que é com-
plexa, com ritmos e natureza diferenciados.
6. O espaço é, também, condicionante da sociedade.
7. O espaço urbano é o lugar onde os diferentes grupos sociais vivem e se
reproduzem.
8. O espaço da cidade é cenário e objeto das lutas sociais.

Para concluir esta discussão a respeito do espaço urbano, vamos observar a


de�nição dada por Corrêa (1993, p. 9):

Eis o que é o espaço urbano: fragmentado e articulado, re�exo e condicionante soci-


al, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma
de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais.
O espaço urbano é fragmentado em diferentes usos da terra e diferentes paisa-
gens urbanas, formando o que podemos chamar de mosaico urbano. Ele é
constituído pelo núcleo central, pela zona periférica do centro, pelas áreas in-
dustriais, pelos subcentros, por áreas residenciais distintas em termos de for-
ma e conteúdo, como as favelas e os condomínios exclusivos, pelas áreas de
lazer e, entre outras, por aquelas áreas submetidas à especulação imobiliária
visando à futura expansão. Como a�rma Corrêa (2005, p. 145), “[...] o arranjo es-
pacial da fragmentação pode variar, mas ela é inevitável”.

Produção e apropriação do espaço urbano


Outra questão importante a ser levantada neste momento é: Quem produz o
espaço urbano? Quem é responsável pela fragmentação do espaço? Segundo
Corrêa (1993, p. 11): “O espaço urbano é um produto social, resultado de ações
acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e
consomem o espaço”.

Diferentes agentes vão atuar no processo de produção do espaço. Entre eles,


podemos destacar:

1. Proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais.


2. Proprietários fundiários.
3. Promotores imobiliários.
4. Estado.
5. Grupos sociais excluídos.

Os três primeiros agentes têm uma similaridade: a apropriação de uma renda


da terra. Todos os cinco se inter-relacionam. Os interesses dos grupos sociais
excluídos vão de encontro aos dos três primeiros agentes. O Estado tem o pa-
pel de tentar minimizar os con�itos de classe. A atuação desses agentes vai
produzir o espaço urbano, a sua fragmentação e articulação.

A produção do espaço urbano está, pois, relacionada aos diferentes usos do so-
lo, ou seja, à forma como o espaço vai ser apropriado e quem se apropriará
desse espaço. Isso, na sociedade capitalista, irá gerar vários con�itos pelo do-
mínio do espaço.
4. Breve discussão sobre o uso do solo na soci-
edade capitalista
Antes de iniciarmos esse tópico, é preciso esclarecer a expressão “uso do solo”.

Uso do solo
O termo “uso do solo” necessita de esclarecimento uma vez que o modo mais correto seria
“uso da terra”, porém o termo uso do solo acabou sendo utilizado por vários autores, pesqui-
sadores e na própria legislação brasileira (lei de parcelamento do solo). Assim, em acordo
com o referencial bibliográ�co consultado para a elaboração desse texto utilizaremos o ter-
mo “uso do solo”.

Segundo Carlos (1994, p. 12):

O processo de produção do espaço é desigual – isto aparece claramente através do


uso do solo – e decorre do acesso diferenciado da sociedade à propriedade privada
e da estratégia de ocupação do espaço urbano.

O ser humano, para viver, necessita ocupar um determinado lugar no espaço,


de modo a suprir as condições materiais de existência e da produção dos mei-
os de vida. Como coloca Harvey (1973, p. 135):

O solo e as benfeitorias são mercadorias das quais nenhum indivíduo pode dispen-
sar. Não posso existir sem ocupar espaço, não posso trabalhar sem ocupar um lu-
gar e fazer uso de objetos materiais aí localizados, e não posso viver sem moradia
de alguma espécie. É impossível existir sem alguma quantidade dessas mercadori-
as.

Assim, o solo, o acesso a terra e suas benfeitorias são essenciais à vida


humana. O homem precisa do solo para realizar seu trabalho, suas interações
sociais, para que possa viver em sociedade. Porém, a posse do solo é
determinada pela renda. Dessa forma, muitos não têm acesso a ele, enquanto
outros se utilizam da posse do solo para acumular riqueza e poder (REANI,
2007).
O processo de reprodução do capital indica os modos de ocupação do espaço
pela sociedade, baseados nos mecanismos de apropriação privada, que impõe
uma determinada con�guração ao espaço urbano. Segundo Carlos (2005, p.
49):

Tal con�guração decorre de dois modos de uso do solo: a) vinculado à reprodução


do capital, b) vinculado à reprodução da sociedade, tanto da força de trabalho,
quanto a população em geral (consumidores).

Na economia capitalista, o solo por ser considerado propriedade privada,


passa a ter valor e a ser fonte de renda, valorizando o capital. De acordo com
Paul Singer (1980, p. 22), “[...] se a propriedade privada dos meios de produção
fosse abolida, o capitalismo desapareceria, mas se a propriedade do solo fosse
socializada não [...]”. Logo, o autor conclui que:

[...] o capital imobiliário é, portanto, um falso capital. Ele é, sem dúvida, um valor
que se valoriza, mas a origem de sua valorização não é atividade produtiva, mas a
monopolização do acesso a uma condição indispensável àquela atividade.

O valor que o solo possui serve como monopólio das classes mais abastadas
sobre as menos favorecidas economicamente. E para que a classe dominante
exerça seu poder, à classe de menor renda cabem as terras sem valor, como
aquelas nas encostas de morros, várzea de rios, terrenos afastados da área
central, sem infraestrutura e equipamentos urbanos necessários. Para Carlos
(2005, p. 33):

[...] as desigualdades sociais colocam em xeque as formas de apropriação,


expressas no parcelamento do solo urbano e, consequentemente, nas formas de
uso. Evidencia-se a impossibilidade do sistema capitalista em atender as
necessidades de uma parcela cada vez maior da população; tal fato propicia o
questionamento por parte da sociedade dos processos que produzem
contraditoriamente riqueza e pobreza.

O valor de qualquer solo, urbano ou rural, depende das possibilidades de uso


que ofereça. Num sistema capitalista, como o brasileiro, as lógicas econômi-
cas são baseadas na acumulação de capital e na obtenção de lucros. “Há uma
tendência para transformar valores em mercadorias, cuja circulação garanta a
reprodução do capital” (SANTOS, 1989, p. 25).

O uso do solo dá-se pela reprodução do capital e, por isso, ocorre de forma de-
sigual e injusta, uma vez que nem todos possuem esse capital – re�exo do
modelo econômico adotado no país. Como a�rma Singer (1980, p. 33), “[...] a ci-
dade capitalista não tem lugar para os pobres”. É preciso ter renda monetária
como requisito indispensável para ter acesso à “mercadoria” solo. No entanto,
a economia capitalista não assegura o mínimo de renda a todos, ou seja, nem
todos têm meios para pagar pelo direito de ocupar um pedaço de solo urbano.

A posse do solo é um dos fatos que melhor representa as desigualdades soci-


ais. Além disso, a posse da terra tem grande in�uência na produção do espaço
urbano, na ordenação territorial, na estruturação urbana e na distribuição de
equipamentos, bens e serviços, sendo essencial a sua distribuição equitativa
para o bom desenvolvimento do meio urbano. Segundo Correia (2002, p. 13):

A renovação e o crescimento urbano, a provisão adequada de infraestruturas, de


equipamentos colectivos e de habitação, a (re)organização do espaço rural, a defesa
e salvaguarda de zonas únicas; ou a proteção e valorização da paisagem – em sín-
tese: a obtenção de um ambiente saudável e o alcance de um melhor nível de quali-
dade de vida – só poderão ser alcançados se o solo for utilizado e gerido segundo os
interesses da sociedade racionalmente formulados. Por isso, a procura de soluções
exeqüíveis é uma questão de tomada de consciência ao nível das instituições e dos
indivíduos, das relações sociedade-território.

Carlos (2005, p. 33) coloca que “[...] pensar numa cidade humana, num novo
urbano signi�ca a superação da atual ordem econômica, social, jurídica,
política e ideológica, a partir da participação de toda a sociedade brasileira”.
Assim, para que haja melhor distribuição do solo e de seu uso é preciso rever o
modo de (re)produção do espaço, sendo este fundamental para uma sociedade
mais justa e equitativa.

A discussão do uso do solo na Geogra�a Urbana é de grande relevância. Ela


aborda várias questões que interferem no desenvolvimento e planejamento
das cidades, tais como: estrutura fundiária, preço, localização, atividades e
melhorias sobre a terra, produção de periferias etc. Carlos (2005, p. 42) a�rma
que:

São os diversos modos de apropriação do espaço que vão pressupor as


diferenciações de uso do solo e a competição que será criada pelos usos, e no
interior do mesmo uso. Como os interesses e as necessidades dos indivíduos são
contraditórios, a ocupação do espaço não se fará sem contradições e, portanto, sem
luta.

Dessa forma, o uso do solo pode ser visto como a base das contradições,
injustiças e desigualdades sociais que estão presentes no processo de
produção do espaço urbano.

5. A cidade
O que é a cidade?

Essa pergunta deveria ser fácil de ser respondida, a�nal, segundo o censo do
IBGE (2000), a população urbana do Brasil é de 81,25 %. Logo, é bem provável
que você viva em uma cidade, ou, ao menos, já esteve em uma. Se pensarmos
na palavra cidade, certamente conseguiremos fazer várias analogias: prédios,
ruas, semáforos, pessoas, carros, congestionamento, ruídos, falta de tempo etc.

As cidades possuem variações de lugar para lugar, variam no espaço e no


tempo. Diferentes con�gurações e modos de vida de�nem a cidade, que tem a
concentração de pessoas, serviços e mercadorias como seus elementos forma-
dores.

Há mais de sessenta anos, Lewis Mumford (1985, p. 27), urbanista, disse que
“[...] a cidade é o ponto de concentração máxima de poder e cultura da comuni-
dade”. O geógrafo David Harvey (1972) considera a cidade como a expressão
concreta de processos sociais na forma de um ambiente físico construído so-
bre o espaço geográ�co. Já Pierre George (1983), grande estudioso da geogra�a
urbana, diz que é quase impossível de�nir o que é cidade.
Talvez, seja difícil encontrar uma de�nição exata. No entanto, é possível ado-
tar alguns parâmetros. Por exemplo, a ONU considera que uma cidade é um
todo aglomerado com mais de 20 mil habitantes.

No Brasil, toda sede de município é considerada cidade, adotando, assim, um


critério meramente administrativo, independentemente do número de habi-
tantes.

Vale ressaltar que, segundo o último censo demográ�co (2000), existem no


Brasil 5.507 cidades, sendo que a menor delas, União da Serra, no nordeste
gaúcho, tem apenas dezoito habitantes, com somente quatro casas, nas quais
residem três famílias de agricultores e uma de madeireiro.

O Brasil é um dos únicos países do mundo a adotar o critério administrativo


para de�nir o que é uma cidade. Em outras partes do mundo não existe um
único critério para de�nir o que é cidade e, sim, uma combinação de critérios
estruturais e funcionais, como localização, número de habitantes, de eleitores,
de moradias ou, sobretudo, a densidade demográ�ca (INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL, 2011).

Figura 1 Cidade de Curitiba por César Lobo.

Lynch, em seu livro The image of the city (1960), estudou os principais itens
que compõem uma cidade por meio da imagem que as pessoas fazem dela.
Para tanto, algumas pessoas foram entrevistadas e desenharam o mapa da ci-
dade, cada uma a seu modo. Lynch (1960) levantou os cinco principais ele-
mentos presentes na paisagem urbana, nos mapas desenhados: caminhos,
bordas ou margens, nós, bairros e marcos (Figura 2).
Fonte: Clark (1982, p. 39).

Figura 2 Os cincos principais elementos dos mapas mentais de Lynch.

Os caminhos são as ruas e avenidas, ou seja, as vias que permitem a movi-


mentação na cidade. As bordas ou margens são interrupções na continuidade
da cidade, como um rio, uma linha férrea, um grande espaço verde �orestado.
Os nós são cruzamentos onde as atividades estão concentradas, como, por
exemplo, uma área de lojas. Os bairros são grandes áreas onde as pessoas cir-
culam e vivem. E, por último, os marcos locais, que também são pontos de re-
ferência. Esses elementos são conjuntamente estruturados como imagens
mentais, de maneiras complexas, e nenhum deles existe isoladamente
(CLARK, 1982).
Não há uma de�nição simples para o termo “cidade”. A paisagem urbana é um
conjunto de elementos físicos, mas também sociais, que, muitas vezes, não po-
dem ser representados nos mapas. Por conseguinte, a cidade pode ser estuda-
da não apenas a partir da sua geogra�a física, sítio urbano, con�guração e es-
trutura, como também por sua geogra�a humana, ou seja, suas relações soci-
ais e seu modo de vida.

Um pouco de história...
As cidades, como fenômeno urbano, mudaram muito no decorrer da história.
De acordo com Davis (1972, p. 13), no livro Cidades: urbanização da humanida-
de, “[...] as sociedades urbanizadas, nas quais a maioria das pessoas vive agru-
pada em cidades, representam um estágio novo, e fundamental, da evolução
social”.

A cidade, como a conhecemos hoje, com toda sua estrutura, organização e


aglomerações humanas, é resultado da Revolução Industrial e ganhou propor-
ção a partir de meados do século 19.

As primeiras cidades apareceram há 5500 anos, mas, por serem pequenas e


rodeadas por camponeses, poderiam ser chamadas de “vilas”. Já as cidades
urbanizadas de hoje apresentam uma grande concentração populacional, são,
pois, grandes aglomerações humanas.

As sociedades primitivas iniciaram o longo processo de evolução, as chama-


das “cidades pré-industriais”, há mais de um milênio. E transformaram-se em
sociedades cada vez mais complexas, estabelecendo-se em vilas,
organizando-se e aperfeiçoando suas técnicas.

As primeiras cidades, como Ur e Babilônia (Figura 3), surgiram na


Mesopotâmia, nos vales dos Rios Tigres e Eufrates, no atual Iraque. Acredita-
se que, por volta de 2500 a.C., Ur chegou a ter 50 mil habitantes e, Babilônia, 80
mil. As primeiras cidades surgiram associadas aos rios em função da necessi-
dade de terras férteis e de irrigação para a produção de alimentos excedentes
para abastecê-las (SJOBERG, 1972).
Figura 3 Ruínas de um dos templos da Babilônia.

Podemos destacar como elementos importantes dessa evolução a capacidade


de estocar alimentos (uso da metalurgia, arado e da roda), o uso da escrita (re-
alizar registros) e o uso de fontes de energia (por exemplo, moinho) (SJOBERG,
1972).

Já a cidade industrial moderna é associada a um terceiro nível de complexi-


dade na organização humana, caracterizado pela educação das massas, siste-
mas de classes �uidos e, o mais importante, segundo Sjoberg (1972), um tre-
mendo avanço tecnológico que usa novas fontes de energia.

Sjoberg apud Davis (1972, p. 41) faz a seguinte a�rmação:

A Evolução Urbana inicia-se com as primeiras cidades da Mesopotâmia, segue


com as cidades ao longo do vale do Nilo, estende-se ao Indo e à região mediterrâ-
nea e �nalmente chega à China. Em todas essas regiões, nelas incluídas as cidades
independentes do Novo Mundo, brotaram e morreram cidades, mas a vida urbana,
uma vez estabelecida, nunca chegou a desaparecer.

Assim, a formação e a estruturação das cidades passaram por grandes


transformações nesses 5500 anos de história. Atualmente, a cidade industrial
é a forma urbana praticamente dominante em todo o mundo, a formação das
cidades ocorreu de forma rápida, re�exo do processo de industrialização.
Como consequência desse fenômeno urbano, surgiu uma nova con�guração e
estruturação das cidades, bem como novos problemas urbanos.
6. Tecido urbano
Milton Santos (1989) a�rma que existem duas ou mais cidades dentro da cida-
de. A cidade possui diferentes paisagens, que se diferenciam pelos níveis de
vida e entre setores de atividade econômica, ou seja, entre classes sociais.

A paisagem urbana é de�nida para Santos (1989, p. 185) como:

O conjunto de aspectos materiais, através dos quais a cidade se apresenta aos nos-
sos olhos, ao mesmo tempo como entidade concreta e como organismo vivo.
Compreende os dados do presente e os do passado recente ou mais antigo, mas
também compreende elementos inertes (patrimônio imobiliário) e elementos mó-
veis (as pessoas e as mercadorias).

O modo de vida, moradia, serviços e equipamentos variam em cada bairro. A


violência, as áreas de lazer, a infraestrutura, o comércio, os shoppings, os ser-
viços em geral, são vistos de forma diferente em cada uma das partes da cida-
de, compondo, assim, o tecido urbano.

Infraestrutura
Infraestrutura pode ser conceituada como um sistema técnico de equipamentos e serviços
necessários ao desenvolvimento das funções urbanas, podendo estas funções ser vistas sob
os aspectos social, econômico e institucional. Sob o aspecto social, a infraestrutura urbana
visa promover adequadas condições de moradia, trabalho, saúde, educação, lazer e segu-
rança. No que se refere ao aspecto econômico, a infraestrutura urbana deve propiciar o de-
senvolvimento das atividades produtivas, isto é, a produção e comercialização de bens e
serviços. E sob o aspecto institucional, entende-se que a infraestrutura urbana deva propi-
ciar os meios necessários ao desenvolvimento das atividades político-administrativas, en-
tre os quais se inclui a gerência da própria cidade (ZMITROWICZ, 1997, p. 2).

São considerados sistemas de infraestrutura urbana:

1. Subsistema viário: consiste nas vias urbanas.


2. Subsistema de drenagem pluvial.
3. Subsistema de abastecimento de água.
4. Subsistema de esgotos sanitários.
5. Subsistema energético.
6. Subsistema de comunicações.

O tecido urbano é a forma da cidade, é o modo pelo qual se de�nem as relações


entre espaços públicos e espaços privados. Como coloca Goulart (2006, p. 59):

[...] o tecido urbano é, portanto, uma de�nição geométrica de relações de proprieda-


de e uma de�nição social das formas de uso. É no tecido urbano que se concreti-
zam as formas de desigualdade na apropriação e uso dos espaços.

Milton Santos (1989), em sua obra Manual de Geogra�a Urbana, analisa os ele-
mentos presentes no tecido urbano, bem como aquilo que o compõe. Com base
nessa obra, faremos a análise de alguns desses elementos:

1. O plano urbano: a cidade é marcada pelo traçado das vias, das ferrovias, das
praças, pela distribuição de espaços vazios e ocupados. A esse conjunto deno-
minamos “plano urbano”, que é a forma como o espaço urbano se con�gura.

Nos países subdesenvolvidos, a maioria das cidades não obedece a um plano


urbano especí�co, muitas seguem a topogra�a do local. Na maior parte das
vezes, há uma imbricação e uma justaposição de planos, cujas formas variam
conforme a época.

Dentro do estudo da Arquitetura e Urbanismo existe um estudo bastante com-


plexo sobre planos urbanísticos. Dentre os mais conhecidos, podemos desta-
car:

a) Plano em raios concêntricos: apresenta uma série de círculos em torno


do centro da cidade (é resultado de um longo processo de crescimento ur-
bano).

b) Plano em xadrez: apresenta uma trama retangular, lembrando um ta-


buleiro de xadrez, determinado por ruas que se cruzam em ângulo reto
(surgiu nos Estados Unidos, no século 19).

c) Independentemente de qual seja o plano, a maior parte das cidades é


marcada por uma oposição entre o centro e a periferia. O centro é onde se
concentram as atividades comerciais e os serviços, é um espaço alta-
mente valorizado. A periferia é um espaço heterogêneo, residencial, al-
guns com construções mais antigas e outras mais novas. A periferia pode
ser rica, a chamada “periferia verde”, na maior parte formada por condo-
mínios fechados, mas também pode ser pobre, com habitações precárias
e sem infraestrutura adequada.

2) Densidade de população: há uma grande variabilidade na densidade popu-


lacional em diferentes áreas da cidade, ou de um bairro para outro.
Geralmente as áreas centrais são mais densamente povoadas. No entanto, os
bairros periféricos também apresentam grande densidade populacional devi-
do à existência de favelas, onde uma grande população vive em uma pequena
área, em condições precárias de vida.

3) Equipamentos urbanos de base: podemos destacar como equipamentos ur-


banos essenciais o revestimento de ruas, o transporte público, a rede de água e
esgoto e a rede elétrica.

Esses equipamentos se distribuem desigualmente pelas cidades, de modo que


os bairros mais ricos concentram a maior parte deles, enquanto nos bairros
periféricos esses equipamentos muitas vezes não existem.

4) Habitações: o padrão de habitação varia conforme a região da cidade.


Assim, cada área apresenta um padrão de moradia, re�exo da concentração e
da distribuição de renda no espaço urbano. Esse fato é perceptível não só pela
forma da moradia, mas também pelo seu entorno. Nos bairros mais ricos as
ruas são largas, sinalizadas, arborizadas, com praças e playgrounds. Enquanto
nos bairros mais carentes, o padrão das casas é inferior, com construções
muitas vezes inacabadas e sem pintura, além de as ruas serem estreitas e
pouco arborizadas.

5) Comércio e serviços: o comércio e os serviços (bancos, cartórios, correios


etc.) concentram-se na área central das cidades. Em vista disso, o centro é
fundamental para a cidade. Veremos a importância da área central mais adi-
ante.
Desse modo, o estudo dos elementos aqui destacados são de extrema impor-
tância para o entendimento da cidade, sua dinâmica e estrutura interna.

7. Sítio urbano
Podemos de�nir sítio urbano, grosso modo, como o local onde a cidade foi
construída, ou seja, a sua base topográ�ca, que pode ser uma planície, um
planalto etc. O sítio urbano é responsável pela con�guração da cidade, pela
paisagem propriamente dita e até os modos de vida (SANTOS, 1989).

Em cidades planas do interior de São Paulo, como Rio Claro, é comum o uso de
bicicletas para locomoção. Já em Belo Horizonte (MG), com relevo mais
acidentado, a circulação se dá especialmente por automóveis.

Como o sítio urbano em que está inserida a cidade na qual você vive
in�uencia sua vida?

O geógrafo Ab’Saber (1957) faz um estudo sobre a geomorfologia do sítio


urbano de São Paulo, em que ele coloca algumas imagens e comentários sobre
a in�uência do sítio urbano na con�guração dessa metrópole. Observe as
Figuras 4 e 5.
Fonte: Ab’Saber (1957, p. 16).

Figura 4 Avenida Nove de Julho.

Sobre a Figura 4, Ab’Saber (1957, p. 16) observa que:

Avenida Nove de Julho é a principal artéria de fundo de vale da cidade de São


Paulo. Ao fundo o espigão central. A fotogra�a é um belo documento das relações
entre o relevo e a estrutura urbana na metrópole paulistana pois demonstra bem o
esquema de circulação interna, em planos intercruzados, dominantes na cidade.

Fonte: Ab’Saber (1957, p. 16).

Figura 5 O Vale do Anhangabaú.

Sobre a Figura 5, Ab’Saber, (1957, p. 16) a�rma:

O Vale do Anhangabaú na porção central da cidade. Outrora um ponto de separação


entre dois núcleos de aglomeração urbana, o vale do Anhangabaú é hoje a veia
mestra da circulação metropolitana.
É importante lembrar que o sítio urbano, salvo exceções, orienta o plano urba-
no, o funcionamento da cidade e as articulações do organismo urbano. Ele po-
de impor barreiras e direcionar o crescimento e a expansão das cidades.

Em países ricos, e em algumas áreas de países pobres, essas barreiras podem


ser transponíveis, devido à alta tecnologia desenvolvida (por exemplo, o
Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro ou os diques na Holanda). É a colocação
da natureza a serviço do homem, o que muitas vezes pode ter resultados ca-
tastró�cos.

Quando o homem tenta ultrapassar as barreiras naturais e se apropriar da na-


tureza ele acaba causando danos ao meio ambiente, danos que tendem a cair
sobre a própria sociedade. A ocupação do espaço sem planejamento adequado
pode causar sérias catástrofes.

Vejamos uma das catástrofes recentemente ocorrida no Brasil. O Rio de


Janeiro, no dia 6 de abril de 2010, viveu uma situação de caos. A ocupação ir-
regular de morros, aliada a uma forte chuva, ocasionou um deslizamento de
terra com elevado número de mortos.

A notícia e as fortes imagens chocaram milhares de brasileiros. Inúmeras re-


portagens retratavam o pânico vivido pelas pessoas após o grave deslizamen-
to de terra em áreas de encostas: vários morros vieram abaixo, as casas foram
soterradas por lama e pedras, muitas vidas se perderam e muitas pessoas �-
caram desabrigadas. Houve a paralisação de escolas, o trânsito �cou congesti-
onado devido a alagamentos, empresas e comércio fecharam, vários bairros �-
caram sem energia elétrica.

Na região metropolitana, escolas cancelaram aulas e empresas dispensaram


funcionários. Alagamentos impediram a passagem de carros e ônibus e trens
tiveram a circulação alterada. Esses problemas expõem de�ciência na preven-
ção e combate a enchentes, a falta de proteção às encostas e o descaso com o
planejamento urbano.

Assim, percebemos que o sítio urbano tem papel fundamental na organização


do espaço. É preciso tomar ações planejadas para o uso e a ocupação do solo,
pensando no bem-estar da população e, também, no equilíbrio ambiental.
Como retrata a reportagem, a falta de ordenamento territorial pode trazer vári-
os prejuízos ao meio ambiente e à própria vida humana.

Os especuladores imobiliários que agem nas cidades são os maiores causado-


res de ocupação irregular do solo urbano. Nas cidades, as classes mais abasta-
das ocupam áreas geralmente bem estruturadas e bem equipadas e os mais
pobres são levados para áreas de alto risco e quase sempre com pouca ou ne-
nhuma infraestrutura.

8. Estrutura interna da cidade


A cidade é heterogênea, possui um alto grau de diferenciação interna. Ela é di-
vidida em três funções principais: residencial, secundária (indústria) e terciá-
ria (comércio, serviços e administração). A cidade também é diversi�cada pe-
los diferentes bairros, zonas ou comunidades, que são distinguíveis em termos
de aparência física, de cultura, de população e de problemas sociais.

Os elementos básicos da estrutura urbana são: o centro principal, os subcen-


tros de comércio e serviços e os bairros residenciais. Além disso, ela pode ser
imbricada a outras estruturas territoriais, como os sistemas de transporte e de
saneamento.

A estrutura urbana está fortemente ligada ao uso do solo e à localização. Há


uma forte relação desses elementos com o poder econômico das diferentes
classes sociais. Existem algumas abordagens utilizadas por geógrafos que
buscam entender a estrutura espacial urbana, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1 Estrutura interna da cidade: abordagens analíticas alternativas.

FUNDAMENTO ÁREAS DE PRINCIPAIS


ABORDAGEM
TEÓRICO PESQUISA CONTRIBUIDORES

Luta pelo espaço


Park (1916)
Ecológica Ecologia humana entre os grupos
Mchenzie (1925)
humanos
Maximização da
Economia neo-
Livre-comércio utilização; licita- Thünen (1826)
clássica
ção de renda

Consequências
Análise da área
Urbanização do desenvolvi- Shevky e Bell (1955)
social
mento societário

Padrões sociais e
Ecologia fatori-
Análise fatorial espaciais na ci- Berry (1971)
al
dade

Con�ito/admi- Sociologia webe- Arranjos de po-


Cox (1976); Phal (1975)
nistração riana der: “guardiões”

Teoria do uso do
solo urbano; me-
Materialismo his-
Marxista canismo de alo- Harvey (1973)
tórico
cação de mora-
dores.
Fonte: Clark (1982, p. 182).

As abordagens levam em consideração diferentes elementos a �m de buscar


entender a estruturação interna das cidades. Algumas abordagens dão
destaque ao espaço físico, ao território; outras evidenciam as questões sociais
e econômicas; já algumas delas levam em consideração fatores políticos.

Alguns estudiosos desenvolveram modelos para tentar descrever as


estruturas espaciais urbanas. Vamos ver alguns! A Figura 6 apresenta o
modelo das zonas concêntricas da estrutura social e espacial urbana, de
Burgess.
Fonte: adaptado de Burgess (1925 apud CLARK, 1982, p. 184).

Figura 6 Modelo das zonas concêntricas da estrutura social e espacial urbana, de Burgess.

Burgess (1925) representou a cidade de Chicago por meio de anéis concêntri-


cos, ordenados no entorno do centro principal de negócios. Com base nesse
modelo, o desenvolvimento de uma cidade se processa a partir da sua área
central em direção à periferia, segundo anéis concêntricos correspondentes a
diferentes formas de utilização do solo (CLARK, 1982).

Há um crescente deslocamento de pessoas da periferia para a área central. As


residências espalham-se com uma força centrífuga a partir do centro da cida-
de. A cada aumento da população e dos negócios existe uma luta por melhores
localizações na cidade. Com isso, o valor do solo intensi�ca-se, o que obriga os
menos favorecidos economicamente a procurar novas áreas, cada vez mais
distantes do centro. Criam-se, assim, espaços segregados dentro da cidade.

Agora observe, na Figura 7, o modelo de organização interna da cidade de


Hoyt (1) e Harris e Ullman (2).
Fonte: Souza (2004, p. 74).

Figura 7 Modelo de organização interna da cidade de Hoyt (1) e Harris e Ullman (2).

O modelo setorial de Hoyt (1939), em contraste com o modelo de anéis concên-


tricos, reconhece os contrastes básicos centro-periferia e a�rma que, após a
distinção espacial dos diferentes usos no centro da cidade, as distinções
mantêm-se à medida que se dá a expansão da cidade, formando-se, desse mo-
do, setores de ocupação bem de�nida, estruturados pelos principais eixos de
transportes. Como exempli�ca Clark (1982), estradas de ferro e canais atraem
a indústria pesada.

Já o modelo multinucleado de Harris e Ullman diferencia-se da simplicidade


dos dois anteriores, que consideravam a existência de um único centro, e pas-
sa a considerar vários núcleos em torno dos quais se organizam os diferentes
usos do solo.
Segundo tal modelo, conforme a dimensão da cidade, podem surgir núcleos
mais ou menos especializados, embora exista um deles, o CBD (Distrito Central
de negócios) (o principal), que é manifestamente a zona central de comércio;
os restantes podem ser áreas industriais, de serviços especiais, universitárias,
de recreio etc.

Assim, essas diferentes abordagens e modelos espaciais re�etem a complexi-


dade da estrutura urbana social e espacial, que pode ser estudada por meio de
diferentes perspectivas e pela in�uência de diferentes interesses.

As diferentes abordagens e modelos mostram que a estrutura urbana tem um


estreito vínculo entre os processos socioeconômicos e o padrão urbano.

Veremos com mais atenção os elementos essenciais da estrutura urbana: cen-


tro, subcentro e bairro.

Centralização e área central


Para Corrêa (1989, p. 38):

A Área Central constitui-se no foco principal não apenas da cidade, mas também
de sua hinterlândia. Nela concentram-se principais atividades comerciais, de
serviços, da gestão pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais
e intraurbanos. Ela se destaca na paisagem pela sua verticalização.

A área central é fundamental à cidade. Nela encontram-se todos os serviços e


atividades comerciais necessários, concentrados em um ponto principal, de
fácil acesso, aumentando o tempo disponível e minimizando o custo de deslo-
camento das pessoas.

Toda cidade tem o seu centro, todo centro tem funções e características seme-
lhantes. A área central é um componente essencial da estrutura urbana e
apresenta, segundo Spósito (1991, p. 6), a seguinte caracterização:
No interior da cidade, o centro não está necessariamente no centro geográ�co, e
nem sempre ocupa o sítio histórico onde esta cidade se originou. Ele é antes de tu-
do ponto de convergência/divergência, é o nó de circulação, é o lugar para onde to-
dos se dirigem para algumas atividades e, em contrapartida, é o ponto de onde to-
dos se deslocam para a interação destas atividades aí localizadas com as outras
que se realizam no interior da cidade ou fora dela. Assim, o centro pode ser quali�-
cado como integrador e dispersor ao mesmo tempo.

O centro da cidade sempre teve importância, desde as mais remotas cidades,


pois sempre abrigou as atividades que incorporam os valores dominantes de
cada formação social: a política, nas cidades gregas e romanas; a religião, nas
cidades medievais, incas ou astecas; ambos (união entre Igreja e Estado) na
Plaza Mayor, cidade colonial hispano-americana, e o grande comércio
varejista e serviços (que ali localizados decorrem da procura da maximização
do lucro) no caso da cidade capitalista (VILLAÇA, 1998).

A função principal do centro é diminuir o deslocamento espacial do ser


humano, e, com isso, diminuir o gasto de seu tempo, oferecendo diversi�cadas
atividades comerciais e serviços. O centro é o ponto de mais rápida
acessibilidade da cidade, minimizando o deslocamento das pessoas e
maximizando os lucros. Quando se compra um terreno no centro, compra-se
também tempo, acessibilidade, lazer e serviços (CORRÊA, 1989).

O centro surge, segundo Villaça (1998, p. 50), com a urbanização, como


resultado da transferência para a cidade de funções outrora desempenhadas
na casa:

Chegava o �m da fase em que o serviço ia a casa. Agora o comprador vai à loja e a


família ao serviço; o cliente, ao consultório; o estudante, à escola [...] A necessidade
de aglomerar e ao mesmo tempo de se afastar de um ponto no qual todos gostariam
de se localizar faz surgir o centro da aglomeração, nesse ponto.

Dessa maneira, com a urbanização e a industrialização, e a atuação cada vez


mais forte da economia capitalista, o tempo torna-se dinheiro, e as
aglomerações passam a atrair mais gente e a diminuir o tempo de
deslocamento das pessoas.
Segundo Horwood e Boyce (apud CORRÊA, 1989, p. 42), o centro, a partir da
segunda metade do século 20, passa a ter os seguintes aspectos:

1. Uso intensivo do solo (concentração de atividades, principalmente do setor


terciário).
2. Ampla escala vertical (facilmente distinguível na paisagem urbana, a presen-
ça de edifícios de escritórios, juntos uns dos outros, viabiliza as ligações in-
terpessoais vinculadas aos negócios).
3. Limitada escala horizontal (o centro é limitado em termos de extensão, sendo
possível percorrê-lo a pé).
4. Limitado crescimento horizontal (a expansão se faz pela verticalização, mui-
tas vezes demolindo construções antigas e destruindo o patrimônio histórico
da cidade).
5. Concentração diurna (principalmente nas horas de trabalho, e deserto à noite,
dando margem para atividades ilícitas).
6. Focos de transporte intraurbanos (ponto de convergência do tráfego urbano).
7. Área de decisões (ponto focal de gestão do território, com órgãos e escritórios
do governo e empresas).

A importância e função da área central sofreu (e ainda sofre) alterações nas


últimas décadas, acompanhando as mudanças da sociedade capitalista,
apresentando, assim, um crescimento descentralizado. As atividades
comerciais que antes estavam obrigatoriamente localizadas no centro, hoje,
encontram-se dispersas em diferentes pontos da cidade. Como aponta Corrêa
(1989, p. 44):

A tendência da Área Central, especialmente do núcleo central, é a de sua


rede�nição funcional, tornando-se o foco principal das atividades de gestão e de
escritórios de serviços especializados, enquanto o comércio varejista e certos
serviços encontram-se dispersos pela cidade. Questiona-se então até que ponto a
Área Central não é uma herança do passado, não sendo mais inteiramente
necessária para o capitalismo em sua fase atual.

Atualmente, na Geogra�a Urbana há esta questão em relação à importância da


área central, uma vez que as atividades comerciais têm se dispersado pela ci-
dade em centros secundários, e, especialmente, em shoppings que oferecem
mais segurança e mordomias (como ar-condicionado).

O centro urbano, especialmente o de grandes cidades, vem sofrendo um acele-


rado processo de degradação, como mostra a Figura 8.

Fonte: Jean-Robert Pitte (1998, p. 157).

Figura 8 Densidade demográ�ca e distância em relação ao centro.

A Figura 8 nos mostra a densidade demográ�ca por hora, na região central e


na periferia. Vemos que no horário comercial o centro apresenta uma grande
concentração de pessoas, porém, nos períodos fora do horário comercial, a
presença de pessoas é muito menor. O oposto ocorre na periferia, onde as
pessoas a tem como função de repouso. No período noturno, a área central se
esvazia.

Descentralização e subcentros
O centro não é a única forma de expressão da centralidade urbana. Como uma
organização espacial em contínua transformação, a cidade cresce, fazendo au-
mentar também sua capacidade de ofertar bens e serviços, tanto aos seus ha-
bitantes como aos residentes nas cidades de sua hinterlândia.

Esse processo vai gerar grandes incrementos no setor terciário da cidade, o


que fará expandir sua área central.

Acompanhando essa dinâmica, algumas atividades terciárias tipicamente


centrais irão alocar-se ao longo das vias de maior circulação de veículos, con-
�gurando novos eixos comerciais e de serviços. A esse processo, Spósito (1991,
p. 11) denomina “desdobramento” da área central, o qual se caracteriza pela:

[...] localização de atividades tipicamente centrais, mas de forma especializada. Ou


seja, nelas não se reproduz a alocação de todas as atividades tipicamente centrais,
mas selecionadamente de algumas destas.

Com o desenvolvimento desses eixos, a área central começa a perder espaço


como área de lazer noturno, pois neles irão alocar-se os clubes, bares, lancho-
netes, restaurantes etc., os quais têm grande capacidade de atrair especial-
mente a população jovem.

Esses eixos serão os pontos preferidos pelos empreendedores para alocarem


os novos supermercados, hipermercados, postos de gasolina, lojas de conveni-
ência, fast foods, concessionárias de automóveis, clínicas médicas etc., atrain-
do um público consumidor bastante seletivo, importando em signi�cativa per-
da de atratividade à área central (PATEIS, 2005).
Assim, observamos que a descentralização é um processo mais recente, que
ocorre por diversos fatores ocasionados pelos problemas que a área central
apresenta. Entre eles, destacam-se (COLBY apud CORRÊA, 1989):

1. Valor elevado do preço da terra.


2. Congestionamentos e custos com transporte.
3. Di�culdade de expansão do empreendimento.
4. Restrições legais mais rígidas.

No entanto, para Colby (apud CORRÊA, 1989), a descentralização só ocorre caso


exista alguns pontos favoráveis, criando, assim, atração em áreas não cen-
trais. Alguns desses pontos favoráveis são:

1. Terras não ocupadas a baixos preços e impostos.


2. Infraestrutura implantada.
3. Facilidades de transportes.
4. Qualidades atrativas do sítio, como topogra�a e drenagem.
5. Possibilidade de controle do uso das terras.

Como resultado desses fatores elencados anteriormente, os subcentros, ou


centros secundários, ganham mais espaço e proliferam-se cada vez mais pela
cidade. De acordo com Corrêa (1989, p. 46):

A descentralização está também associada ao crescimento da cidade tanto em ter-


mos demográ�cos como espaciais, ampliando as distâncias entre a Área Central e
as novas áreas residenciais.

Os subcentros surgem da expansão das cidades e do aparecimento de novos


bairros que �cam afastados da área central. Nesses bairros afastados, é difícil
a locomoção de pessoas até o centro da cidade em busca de atividades comer-
ciais e serviços (PATEIS, 2005).

Assim, a partir da criação do subcentro a população pôde ter mais  acesso fá-
cil ao comércio e aos serviços, diminuindo o tempo e o valor gasto com via-
gens.
Segundo Villaça (1998, p. 10), “O subcentro consiste numa réplica em tamanho
menor do centro principal [...]”, uma vez que atende aos mesmos requisitos de
otimização de acesso apresentados anteriormente para o centro principal. A
diferença é que o subcentro apresenta tais requisitos apenas para uma parte
da cidade, enquanto o centro principal cumpre-os para toda a cidade
(VILLAÇA, 1998). Nesse sentido, os subcentros são importantes no intento de
trazer maior conforto à população local.

Concluímos, desse modo, que a descentralização torna o espaço urbano mais


complexo, com vários núcleos secundários de atividades, que atendem a po-
pulação local, evitando deslocamentos desnecessários.

A criação de subcentros bene�cia os moradores locais. Eles passam a gastar


menos tempo e dinheiro com deslocamentos desnecessários. Podem usufruir
melhor das atividades comerciais e serviços oferecidos e consumir mais, o
que traz maior renda ao capital produtivo comercial.

O bairro
De acordo com Carlos (1992, p. 36): “A cidade diferencia-se por bairros, alguns
em extremo processo de mudança; mas cada bairro isoladamente, impede o
entendimento da cidade em sua multiplicidade, em sua unidade”.

Assim, para estudarmos e compreendermos a cidade é preciso analisar o con-


junto, o todo. Isso porque estudar um único bairro não diz como é a cidade a
qual ele pertence.

Os bairros compõem as partes da cidade. Cada bairro é único, com caracterís-


ticas próprias que muitas vezes re�etem as características sociais da popula-
ção que nele vive.

Em vista disso, há bairros de diferentes padrões. Existem os mais nobres, com


casas de alto padrão, ruas arborizadas e bem cuidadas, com toda a infraestru-
tura; outros são de baixo padrão, com casas em construção ou inacabadas, on-
de a infraestrutura e equipamentos urbanos são escassos.
Os bairros possuem uma série de particularidades, o que permite diferenciá-
los pelo aspecto de suas casas. Por exemplo, casas antigas, em estilo colonial,
são características de bairros antigos. A diferença pode se dar, também, pela
especialização de suas funções. Um exemplo é o Brás na capital de São Paulo,
que concentra grande quantidade de lojas de vestimentas. O bairro pode se di-
ferenciar, ainda, pelas características da população (nível social, idade, etnia).

Segundo Ferreira (2004), o bairro constitui o espaço urbano familiar do citadino (aquele que habita a cida-
de).

Embora existam fronteiras que separam um bairro de outro, ou não, o traçado


viário permite que haja uma fácil integração entre eles.

9. Lugar: espaço urbano vivido e percebido


O conceito de lugar está presente nos debates da Geogra�a contemporânea. A
escala geográ�ca deve ser expressa em suas diferentes dimensões, pois há
uma inter-relação entre as diferentes escalas: a global, a nacional, a região e o
lugar. Assim, os acontecimentos mundiais podem ter consequência no lugar, e
vice-versa.

Conforme a Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008, p. 46):

O lugar traduz os espaços nos quais as pessoas constroem os seus laços afetivos e
subjetivos, pois pertencer a um território e fazer parte de sua paisagem signi�ca es-
tabelecer laços de identidade com cada um deles. É no lugar que cada pessoa busca
suas referências pessoais e constrói o seu sistema de valores e são estes valores
que fundamentam a vida em sociedade, permitindo a cada indivíduo indenti�car-
se como pertencente a um lugar, e, a cada lugar, manifestar os elementos que lhe
dão uma identidade única.

Ainda de acordo com a Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008), a


ideia de lugar tem forte relação com a de bairro, pois é  no bairro que passa-
mos a maior parte de nossas vidas.
O lugar na ciência geográ�ca é o espaço vivido e percebido pelo ser humano, é
aquele fortemente relacionado pelos seus sentimentos e sentidos. O bairro, a
praça, a rua de casa são espaços percorridos pelo caminhar e que são do coti-
diano e que dão signi�cado por meio do uso.

A geógrafa Ana Fani Carlos (1996, p. 45), em seu livro O lugar no/do mundo, faz
uma importante análise sobre o signi�cado de lugar na Geogra�a:

[...] (a metrópole) só pode ser vivida parcialmente, o que nos remeteria à discussão
do bairro como espaço imediato da vida das relações cotidianas mais �nas – as re-
lações de vizinhança, o ir às compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jo-
go de bola, as brincadeiras, o percurso de uma prática vivida/reconhecida em pe-
quenos atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido, que criam laços profundos
de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar. São lugares que o homem habi-
ta dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a sua vida – onde se loco-
move, trabalha, passeia, �ana, isto é, pelas formas através das quais o homem se
apropria e que vão ganhando signi�cado dado pelo uso. [...] São a rua, a praça, o
bairro – espaços do vivido, apropriados através do corpo-, espaços públicos, dividi-
dos entre zonas de veículos e a calçada de pedestres, que dizem respeito ao passo e
a um ritmo que é humano e que pode fugir ao do tempo da técnica [...] É também o
espaço da casa e dos circuitos de compras, dos passeios, etc.

Portanto, o lugar faz parte do nosso cotidiano, é o espaço vivido e percebido. O


lugar é essencial a vida, é o lugar que dá sentido ao ser humano, como coloca
Milton Santos (1987, p. 81):

Cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor, ci-
dadão depende da sua localização no território. Seu valor vai mudando, incessante-
mente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tem-
po, freqüência, preço), independente de sua própria condição. Pessoas com as mes-
mas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário têm valor dife-
rente segundo o lugar em que vivem: as OPORTUNIDADES SÃO AS MESMAS. Por
isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do
ponto do território onde se está. Enquanto um lugar vem a ser a condição de sua
pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o acesso
àqueles bens e serviços que lhes são teoricamente devidos, mas que, de fato lhe fal-
tam.
Na citação do professor Milton Santos, podemos perceber a importância do lu-
gar na vida humana e no entendimento do espaço geográ�co. Cada lugar tem
características únicas que vão imprimir particularidades ao cidadão que vive
e mora ali.

10. Leitura complementar: discussões urbanas


Segregação sócio espacial urbana
A segregação é um processo fundamental para compreender a estrutura espa-
cial urbana. A segregação é uma forma de dominação. Como expõe Villaça
(1998, p. 35), “[...] é por meio da segregação que a classe dominante controla o
espaço urbano sujeitando-o aos seus interesses”.

Etimologicamente, o termo segregação refere-se ao ato ou efeito de segregar


(-se). O verbo segregar tem diferentes signi�cados, dentre os quais estão:

• separar, marginalizar;
• desligar, afastar e isolar.

Assim, o termo segregação sócio espacial refere-se ao processo de separação e


marginalização social que vem ocorrendo nas cidades devido à rápida expan-
são urbana que estas vêm apresentando nas últimas décadas. Isso faz com
que as populações de baixa renda se concentrem nas áreas periféricas,
isolando-se da cidade, o que ocasiona uma diferenciação e divisão social do
espaço da cidade (SPÓSITO, 1996).

Com a Revolução Industrial, houve uma forte intensi�cação do processo de ur-


banização das cidades, assim como um aumento no número e tamanho das
cidades como nunca antes ocorrera. As cidades �caram mais populosas e
também mais extensas, o que acabou ocasionando um processo de fragmen-
tação da cidade e, numa tendência à separação das partes da cidade em razão
de interesses fundiários e imobiliários, acabou provocando uma forte segrega-
ção urbana, na qual a população de menor renda localiza-se nas áreas perifé-
ricas,  já que nessas áreas estão os terrenos mais baratos, em consequência da
falta de infraestrutura e pior acessibilidade, enquanto a população de mais al-
ta renda concentra-se no centro da cidade e áreas com melhor infraestrutura
e melhor acessibilidade.

De acordo com Carlos (1992, p. 10):

[...] a cidade cresceu, expandiu seus limites, dispersou-se em periferias cada vez
mais distantes reproduzindo uma hierarquia espacial diferenciada que se articula
ao processo de apropriação que determina os usos e produz guetos, rede�nindo o
uso do espaço público e privado.

A segregação é algo que vem se intensi�cando nas cidades aliado ao aumento


das desigualdades sociais, aumentando a exclusão social, especialmente da
população de menor renda. O que se re�ete na estrutura socioespacial da cida-
de.

Hoje vemos um aumento no número de condomínios fechados. Neles, a elite


se esconde e se segrega do restante da cidade (o que alguns pesquisadores co-
locam como uma volta ao feudalismo), tornando cada vez mais nítida a sepa-
ração entre as classes sociais. Esse fato gera não só problemas sociais, como
também problemas relacionados à estruturação e à con�guração da cidade,
pois os muros dos condomínios fechados impedem a livre circulação de car-
ros e pessoas.

As Figuras 9, 10, 11 e o mapa da Figura 12 apresentam imagens que re�etem a


segregação urbana.
Figura 9 Condomínio fechado.

Propaganda utilizada por imobiliárias para promover condomínios fechados.

Figura 10 Barreira de entrada para condomínio fechado.


Figura 11 Segregação sócio-espacial: prédios nobres x moradias precárias.

Fonte: IPEA (2002).

Figura 12 Região Metropolitana de São Paulo – segregação espacial da renda familiar superior a 15 salários mínimos

(1987).

Todas essas imagens nos mostram o processo de segregação urbana vivenci-


ado nas cidades. As pessoas se isolam em condomínios fechados. Vemos a
pobreza de favelas dividindo o espaço com prédios de alto luxo. No último ma-
pa (Figura 12), podemos ver a concentração de pessoas de maior poder econô-
mico no centro e a população de menor renda vivendo na periferia, em que o
acesso a infraestrutura muitas vezes é precário.

Localização e acessibilidade
Para Santos (1987, p. 30): “Cada homem vale pelo lugar onde está, o seu valor
como produtor, consumidor, cidadão depende de sua localização no território”.
Segundo Villaça (1998, p. 10): “A localização resulta do esforço do homem que
inconscientemente visa um menor deslocamento; é um produto do homem
sobre a natureza”.

Uma boa localização pode trazer melhores vantagens econômicas e sociais à


população e aos investidores. Sobre isso, veja a a�rmação de Villaça (1998, p.
35):

[...] entende-se por localização os atributos de um ponto do território que de�nem


suas possibilidades de relacionamento com os demais pontos desse mesmo territó-
rio. No caso do espaço urbano, o relacionamento mais importante é aquele que en-
volve contatos diretos entre pessoas e por isso exigem deslocamento espacial do
ser humano e, conseqüentemente , há gasto de seu tempo.

A localização é um atributo do espaço, cuja base é a terra, que passa a se valo-


rizar, por estar num lugar privilegiado. Conforme Villaça (1998, p. 36), “[...] no
modo de produção capitalista as localizações são mercadorias inseparáveis de
sua base material, que é a terra, a localização é produzida e distribuída como
valor de troca”.

A análise da localização, segundo Richardson (1978), deve considerar três fa-


tores de importância na economia urbana:

• Mecanismos de mercado e restrições sob as quais eles operam.


• Economias de aglomeração.
• Custo de transportes.

Os mecanismos de mercado decorrem de contratos livres entre fornecedores e


compradores de terras, da competição pelo terreno urbano, em busca do me-
lhor ponto.

A característica principal do mercado de terreno urbano é que o preço do ter-


reno é uma função inversa da distância do centro: quanto mais distante mais
barato �ca. As economias de aglomeração geram maior atração e, por conse-
guinte, um ambiente favorável ao desenvolvimento.
O custo de transportes favorece a acessibilidade aos lugares. Uma vez que
existe um deslocamento diário de pessoas ao centro, em busca de atividades e
serviços, o custo de transportes passa a exercer papel fundamental, pois dimi-
nui o custo e aumenta o tempo disponível das pessoas.

A melhor localização é aquela que reúne todas as necessidades do ser huma-


no, como comércio, serviços, áreas de lazer etc. O centro da cidade é o local
que possui todas essas características. Logo, é fundamental à cidade, pois nele
encontram-se todos os serviços e atividades comerciais necessárias, concen-
tradas em um ponto principal, com fácil acessibilidade, aumentando o tempo
disponível e minimizando o custo de deslocamento das pessoas. Quando se
compra um terreno no centro, compra-se também tempo, acessibilidade, lazer
e serviços (CORRÊA, 1989).

A expansão urbana das cidades ocorre tanto em termos demográ�cos quanto


espaciais. Amplia as distâncias entre a área central e as novas áreas residen-
ciais, diminuindo, cada vez mais, a acessibilidade dos moradores das áreas
periféricas. Langenbuch (1983, p. 55) complementa essa ideia dizendo que “[...]
no cotidiano do morador da cidade, o tempo dispendido nos deslocamentos é
inócuo: além de não contribuir para seu ganho geralmente não contribui para
seu lazer”.

A grande expansão urbana tem aumentado muito as áreas periféricas. Essas


regiões, por possuírem terrenos mais baratos, são habitadas pela população de
baixa renda, que, sofrendo com a falta de acessibilidade às áreas de comércio,
serviço e lazer, gasta mais tempo com deslocamentos e tem maior custo com
transporte, prejudicando a qualidade de vida.            

Periferia
Veja o que diz Paviani (1983, p. 44)

[...] a periferia não é só a expansão física da cidade para as áreas periurbanas, cons-
tituindo um processo espacial, mas também como áreas com problemas de inaces-
so (econômico e social) aos bens e serviços por parte de um considerável contin-
gente.
A periferia é re�exo da exploração do trabalho, característica do
desenvolvimento econômico adotado no país. Como expõe Kowarick (1993, p.
44),

[...] a periferia como fórmula de reproduzir nas cidades a força de trabalho é


conseqüência direta do tipo de desenvolvimento econômico que se processou na
sociedade brasileira das últimas décadas. Possibilitou, de um lado, altas taxas de
exploração de trabalho e, de outro, forjou formas espoliativas que se dão no nível da
própria condição urbana de existência a que foi submetida a classe trabalhadora.

A classe trabalhadora passa a buscar formas de moradias a baixo custo,


passando a morar em lugares distantes da área central. Assim, novas áreas
são incorporadas à cidade, por meio da ação do mercado imobiliário. Como
coloca Paul Singer (1980, p. 23),

A produção do espaço urbano se dá, em geral, pela incorporação à cidade de glebas


que antes tinham uso agrícola. O seu custo de produção é, nestes casos, equivalente
à renda (agrícola) da terra que se deixa de auferir. [...] Como a demanda por solo
urbano muda frequentemente, dependendo em última análise, do próprio processo
de ocupação do espaço pela expansão do tecido urbano, o preço de determinada
área deste espaço está sujeito a oscilações violentas, o que torna o mercado
imobiliário essencialmente especulativo.

Santos (1993, p. 106), numa discussão sobre a organização interna das cidades,
evidencia as problemáticas existentes em todas elas, em diferentes graus.
Para o autor, a especulação imobiliária e a produção de periferias fazem parte
de um círculo vicioso:
As cidades são grandes porque há especulação e vice-versa; há especulação porque
há vazios e vice-versa; porque há vazios as cidades são grandes. O modelo rodoviá-
rio urbano é fator do crescimento disperso e de espraiamento da cidade. Havendo
especulação, há criação mercantil da escassez e acentua-se o problema do acesso à
terra e à habitação. Mas o dé�cit de residências também leva à especulação, e os
dois juntos conduzem à periferização da população mais pobre e, de novo, ao au-
mento do tamanho urbano. As carências em serviços alimentam a especulação,
pela valorização diferencial das diversas frações do território urbano. A organiza-
ção dos transportes obedece a essa lógica e torna ainda mais pobres os que devem
viver longe dos centros, não apenas porque devem pagar caro seus deslocamentos
como porque os serviços e bens são mais dispendiosos nas periferias. E isso forta-
lece os centros em detrimento das periferias, num verdadeiro círculo vicioso.

Vale ressaltar que os vazios urbanos são espaços não construídos na cidade
(grandes terrenos) à espera de valorização, por meio da instalação de infraes-
trutura e equipamentos públicos no seu entorno, pelo poder público.

A dinâmica de ocupação do solo urbano, produzida pelo mercado imobiliário,


gera vazios urbanos, tendo em vista sua posterior valorização, causando a
fragmentação do espaço urbano (CAMPOS FILHO, 2001).

Para romper com esse círculo vicioso deveria existir maior intervenção do po-
der público. Desse modo, o crescimento e a expansão das cidades ocorreriam
de forma planejada, e não de forma aleatória, conforme os anseios das classes
dominantes, do capital.

Nesse processo de crescimento e de expansão urbana, a população de menor


renda é a mais prejudicada, pois vê na periferia da cidade a possibilidade de
moradia a um menor custo, como os loteamentos produzidos para famílias de
baixa renda.

Muitas vezes, esses loteamentos são irregulares, desprovidos de qualquer in-


fraestrutura, localizando-se em áreas impróprias para o estabelecimento hu-
mano, tais como áreas de proteção ambiental e de risco como encostas e vár-
zeas.

Na periferia a qualidade de vida dos habitantes é precária, visto que eles se de-
param com diversos problemas, como a segregação social, a falta de acessibi-
lidade, a falta de infraestrutura e outros.

Segundo Grostein (1987), os loteamentos periféricos caracterizam-se pela ca-


rência de serviços públicos em dois níveis: de infraestrutura (esgotos, pavi-
mentação de vias, escoamento de águas pluviais, traçado viário inclinado etc.)
e de superestrutura (escolas, postos de saúde, creches, transporte coletivo, co-
leta de lixo e outros).

Os problemas vividos nas periferias são muitos, tanto os sociais como os am-
bientais, o que tem gerado uma degradação cada vez maior do meio ambiente
e da qualidade de vida urbana.

A periferia rica ou periferia verde

Nos últimos anos, podemos ver uma crescente ocupação da periferia pelas
classes média e alta. Elas procuram fugir do caos da cidade, como a poluição,
a violência, os congestionamentos etc., buscando, um ambiente tranquilo, de
paisagem agradável, de modo a garantir melhor qualidade de vida.

Esse deslocamento das classes mais elevadas foi propiciado, entre outros
motivos, pela melhoria nas rodovias e avenidas, pela construção de estradas
modernas e de alta velocidade, possibilitando a diminuição de barreiras e
maior rapidez no deslocamento.

No entanto, a ocupação dessa “periferia rica” ou “periferia verde”, como chama


Scarlato (1995), se dá, na maioria das vezes, pela implantação de condomínios
fechados, acentuando ainda mais o problema da segregação social nas
cidades.

Muitas vezes, essas ocupações ocorrem em áreas de preservação ambiental e


em áreas rurais, o que o Instituto Pólis (2004, p. 87) denomina de
“condomínios rurais”:
[...] são glebas na zona rural dos municípios loteadas e utilizadas como
condomínios, ou seja, cada proprietário recebe uma fração ideal da área, sem que
ela seja o�cialmente urbanizada. Os lotes são frequentemente utilizados para �ns
urbanos, como chácaras, sítios, ou casas para o lazer de �m de semana.

Dessa forma, a produção de periferias, ricas ou pobres, ocorre ao descaso do


poder público, por meio de loteamentos ilegais: clandestinos e irregulares,
trazendo danos e impactos ao meio ambiente e à cidade.

Qualidade de vida urbana


A qualidade de vida urbana é um tema que ganhou grande importância a par-
tir da década de 1960, com a crescente urbanização das cidades brasileiras e a
necessidade de melhores infraestrutura e planejamento urbano.

Desse modo, o crescimento econômico do país e a urbanização trazem, tam-


bém, preocupações com o desenvolvimento social e com a busca por melhor
qualidade de vida.

Wilheim (1976, p. 29) de�ne qualidade de vida como:

[...] a sensação de bem-estar do indivíduo. Esta sensação depende de fatores objeti-


vos e externos, assim como de fatores subjetivos e internos. O ambiente pode in-
�uir sobre ambas as categorias de fatores, mas com e�ciência em momentos diver-
sos.

Sobre o termo, Figueiredo (2001, p. 211) a�rma que:

[...] a de�nição do tema qualidade de vida pode variar de indivíduo para indivíduo,
com diferentes status de cultura e renda, em função da amplitude de elementos ob-
jetivos, subjetivos e coletivos envolvidos na questão.

Segundo Troppmair (1992, p. 13), “[...] qualidade de vida são os parâmetros físi-
cos, químicos, biológicos, psíquicos e sociais que permitam o desenvolvimento
harmonioso, pleno e digno da vida”. Assim, uma boa qualidade de vida possi-
bilita ao homem melhor convivência com o seu meio.

Conforme Wilheim (1976, p. 75), “[...] é necessário investigar os mecanismos e


os fatores que constituem a qualidade de vida e veri�car quais fatores poderi-
am ser realmente considerados”.

Nesse sentido, o autor faz um levantamento do que considera essencial no es-


tudo de qualidade de vida urbana. Em primeiro lugar, para o cidadão ter o mí-
nimo de qualidade de vida, ele deve ter acesso aos direitos básicos: alimenta-
ção de subsistência, cuidado com a saúde mental, segurança em relação ao
emprego e a uma renda, além de um grau mínimo de instrução (alfabetiza-
ção).

Em seguida, Wilheim (1976) menciona outros fatores complementares, mas


não menos importantes para uma boa qualidade de vida. É claro que a impor-
tância de cada fator pode alterar conforme a região de estudo e a classe social
das pessoas. Segundo Wilheim (1976, p. 10), “[...] o grau de demanda pode
alterar-se de um fator para outro em função do grupo social a que pertença o
indivíduo ou, através do tempo, em função da mudança de padrões”.

Assim, Wilheim (1976) destaca como fatores complementares: o prazer, que


seria a sensação de bem-estar, um sentimento de realização pessoal e satisfa-
ção sensorial (música, paisagem bonita); o conforto, o bem-estar físico, do ho-
mem com o meio ambiente (ar, água, paisagem despoluída, limpeza); o silên-
cio, importante para a recuperação física e para a privacidade; o equipamento,
que se divide em familiar (TV, eletrodomésticos, sentimento de possuir coisas
– o valor dado a cada equipamento difere no tempo e por grupo social) e cole-
tivo (serviços como pavimentação, rede de esgoto, água, luz etc.).

Wilheim (1976, p. 34) ressalta, ainda, que:

[...] o conforto oferecido pelo equipamento coletivo dependerá de sua acessibilidade,


o que implica dizer: sua existência, sua adequação à disponibilidade �nanceira dos
usuários e sua distância dentro dos limites confortáveis.
Nesse sentido,  é necessário que os equipamentos se adaptem ao modo de vida
da população, pois a sensação de uma vida equipada é importante para o bem-
estar e conforto do indivíduo na sociedade de consumo.

Outros fatores apontados pelo autor são: a segurança, que seria a preservação
da segurança física contra a agressão, assaltos e roubos (perigos da vida urba-
na), e a liberdade, que abrange a liberdade de escolha, de expressão, de movi-
mento (acessibilidade), de informação e de opção econômica. Observe a Figura
13.
Fonte: Wilheim (1976, p. 15).

Figura 13 Qualidade de vida e bem-estar.

A Figura 13 mostra-nos todos os elementos a serem analisados no estudo da


qualidade de vida urbana, é fundamental que o poder público trabalhe para
oferecer todos esses elementos a sociedade, para que seja possível alcançar o
melhor bem-estar da sociedade.

Diante dos textos, vimos que as cidades possuem variações de lugar para lu-
gar, variam no espaço e no tempo. Diferentes con�gurações e modos de vida
de�nem a cidade, que tem a concentração de pessoas, serviços e mercadorias
como seus elementos formadores. Vimos os principais itens que compõem
uma cidade, quais os fatores levam a descentralização e a formação de sub-
centros, e vimos, também, que foram desenvolvidos modelos para auxiliar o
estudo da estrutura urbana.

 Dica de leitura!

O texto complementar sobre discussões urbanas nos apresenta o proces-


so da segregação socioespacial urbana, algo fundamental para compre-
ender a estrutura espacial urbana. Vamos aprofundar neste processo re-
alizando a leitura das páginas 17 a 37 na obra a seguir:
VASCONCELOS, P. A. Contribuição para o debate sobre processos e formas
socioespaciais nas cidades. In. VASCONCELOS, P. A.; CORRÊA, R. L.;
PINTAUDI, S. M. (Org.). A cidades contemporânea: segregação espacial.
São Paulo: Contexto, 2013. Faça a sua busca pelo nome da obra na página
da Biblioteca Virtual Pearson.

Práticas sócio espaciais e con�itos socioambientais: di-


mensões da análise urbana

 Pronto para saber mais?

Neste tópico, indicamos a leitura de três textos do livro Geogra�a Urbana


Crítica (2018), que pode ser encontrado na Biblioteca Pearson Pearson. O
primeiro artigo (p. 35-52) nos leva a pensar a noção de prática socioespa-
cial, como um re�exo da reprodução social capitalista. Além disso, apre-
senta a noção de prática socioespacial para a Geogra�a, remetendo "ao
modo como o espaço é produzido socialmente e, sobretudo, ao modo co-
mo ele é vivido", citando parágrafo do texto. E �naliza trazendo a discus-
são para o espaço urbano.

"[...] se a luta pela cidadania hoje é cada vez mais uma luta pelo espaço
da reprodução da vida e demanda uma prática socioespacial revolucio-
nário ao nível do cotidiano", como o autor escreve, então podemos suge-
rir a próxima leitura, a da prática socioespacial da resistência (p. 53-64).

E para �nalizar, sugerimos a leitura do texto que foi base para a elabora-
ção deste tópico, que se propõe identi�car e analisar "alguns conjuntos
temáticos e conceituais e dimensões pertinentes para o debate da plura-
lidade teórico-metodológica na Geogra�a atual", por meio das dimensões
dos con�itos socioespaciais, socioambientais e representações: dimen-
sões da análise urbana (p. 65-88).
 

Agora, você será convidado a estudar dois temas de grande importância para
a compreensão da organização do território brasileiro: a urbanização brasilei-
ra, a rede urbana e o crescimento e expansão das cidades.

11. Urbanização brasileira


O objetivo aqui não é fazer uma retrospectiva do longo processo de urbaniza-
ção brasileira, ou seja, buscar suas origens no período colonial, na república e
na ditadura vividas nesse país. A abordagem desse primeiro tópico tem como
objetivo destacar o processo de urbanização brasileira e as modi�cações re-
sultantes desse processo.

Assim, buscaremos entender o crescimento das cidades e a dinâmica territori-


al envolvida. Para tanto, utilizaremos como base de nossos estudos a obra A
urbanização brasileira do professor Milton Santos (1993).

Se comparado a países europeus, o processo de urbanização brasileira é bas-


tante recente. Na Europa, a urbanização dos países desenvolvidos acompa-
nhou a Revolução Industrial, ocorrida no �nal do século 18 na Inglaterra. No
Brasil, esse fato ocorreu efetivamente em meados do século 20, e de forma
acelerada.

A urbanização brasileira, inicialmente, ocorreu na faixa litorânea e, somente


nas últimas décadas, espalhou-se pelo interior do território. Veja o crescimen-
to populacional dos estados nos mapas da Figura 14.
Fonte: PNOT (2006, p. 60).

Figura 14 Crescimento populacional dos estados.

Analisando os mapas, vemos que os estados que compõem a costa litorânea


brasileira foram os que tiveram maior crescimento populacional. Como vimos,
somente a partir da década de 1960 é que alguns estados do interior do país
começam a apresentar crescimento, o que só ocorreu efetivamente a partir da
década de 1980.

O Brasil apresenta não apenas cidades milionárias, mas também cidades in-
termediárias (médias) e cidades locais (pequenas). Porém, segundo Santos
(1993, p. 10), “[...] todas adotando um modelo geográ�co de crescimento esprai-
ado, com um tamanho desmesurado que é causa e efeito da especulação”.

A cidade representa, tanto em suas relações sociais quanto em seu aspecto


material, a concentração da pobreza. Seja no seu modelo socioeconômico, seja
em sua estrutura física, segregada e desigual. Como ressalta Santos (1993, p.
11):
Ao longo do século, mas, sobretudo, nos períodos mais recentes, o processo brasi-
leiro de urbanização revela uma crescente associação com o da pobreza, cujo lócus
passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro
moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem ca-
da vez mais nos espaços urbanos. A indústria se desenvolve com a criação de pe-
queno número de empregos, e o terciário associa formas modernas a formas primi-
tivas que remuneram mal e não garantem a ocupação.

O autor Nestor Gourlart Rei Filho (apud SANTOS, 1993), realizou um estudo so-
bre a urbanização do Brasil, do descobrimento até 1720, e constatou que até o
�nal desse período, o Brasil contava apenas com 63 vilas e oito cidades.

Ainda, segundo o autor, somente a partir do século 18 a urbanização se desen-


volve. A casa da cidade passa a ter mais importância que a propriedade rural e
o senhor de engenho só volta para o campo no período do corte e da moenda
da cana. Todavia, só no século 19 a urbanização brasileira ganha maturidade,
e somente no século 20 adquire as características que conhecemos hoje.

No �nal do século 19, ocorre a primeira aceleração do fenômeno. Em 1872,


eram 5,9% de urbanos; em 1900, esse número salta para 9,4%. Já no início do
século 20, a urbanização brasileira apresenta números cada vez mais crescen-
tes. Enquanto no período colonial até o �nal do século 19 o índice de urbaniza-
ção cresceu apenas 4%, de 1920 a 1940 esse número triplica, passando a 31,24%
(SANTOS, 1993). Durante muitos séculos, o Brasil foi “um grande arquipélago”,
o qual, segundo Santos (1993), era formado por subespaços que evoluíam de
acordo com lógicas próprias.

No entanto, esse quadro foi relativamente quebrado no �nal do século 19, em


decorrência da crescente produção do café no Estado de São Paulo, que se tor-
nou polo dinâmico dos estados mais ao sul do país. A concentração do capital
em São Paulo possibilitou a implantação de estradas de ferro, portos, meios de
comunicação, dando maior �uidez a essa parte do território. “Trata-se, porém,
de uma integração limitada, do espaço e do mercado, de que apenas participa
uma parcela do território nacional” (SANTOS, 1993, p. 29). Observe na Figura
15, a dinâmica da urbanização brasileira.
Fonte: Théry e Mello (2005, p. 30).

Figura 15 Do arquipélago ao continente.

É com base nessa dinâmica que ocorre o processo de industrialização do terri-


tório. O Estado de São Paulo passa a ser polarizador do �uxo de capital e de
pessoas no território brasileiro, situação que se estende por um bom tempo.

Na década de 1930, a industrialização brasileira ganha impulso com as condi-


ções políticas e organizacionais favoráveis. Entre 1940 e 1950, esta é a lógica
da industrialização que prevalece. Conforme expõe Milton Santos (1993, p. 30),
a industrialização pode ser entendida como:

[...]  processo social complexo, que tanto inclui a formação de um mercado nacio-
nal, quanto aos esforços de equipamento do território para torná-lo integrado, como
a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações
(leia-se terceirização) e ativa o próprio processo de urbanização.

A urbanização, concomitantemente à industrialização, perpassa a esfera regi-


onal e se expande pelo território nacional, embora em diferentes proporções. A
urbanização ocorre juntamente com o aumento na densidade demográ�ca,
tanto nas cidades médias e grandes, quanto nas capitais.

Durante séculos, o Brasil foi um país agrícola. Esse quadro, entretanto, reverte-
se no século 20. No período entre 1940 e 1980, há uma inversão quanto ao lugar
de habitação da população brasileira, que se torna predominantemente urba-
na. Em 1940, a taxa de urbanização era de 26,35%; em 1980 já alcançava 68,86%;
assim, em 40 anos, a população urbana mais que dobrou. Esse crescimento é
apresentado nos grá�cos das Figuras 16 e 17.

Fonte: adaptado de Santos (1993, p. 32).

Figura 16 Variação da população total do Brasil (em mil habitantes).


Fonte: adaptado de Santos (1993, p. 32).

Figura 17 Variação da população urbana do Brasil (em mil habitantes).

Os grá�cos ressaltam o crescimento da população brasileira nas décadas de


1940 a 1980, em especial da população urbana, que de 1940 para 1980 mais do
que triplica.

O acelerado processo de urbanização e crescimento populacional, que ocorre


após a Segunda Guerra Mundial, é consequência, de acordo com Santos (1993,
p. 33): “[...] de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, cu-
jas causas essenciais são os progressos sanitários, a melhoria relativa nos pa-
drões de vida e a própria urbanização”.

Nas décadas de 1940 a 1950, a taxa de natalidade era de 44,4%, mas, com o ele-
vado índice de mortalidade, ela passou a ser de 20,6%. Já na década de 1950 a
1960, além de a taxa de natalidade continuar alta, 43,3%, a de mortalidade
apresenta quedas, 13,4%. Esses dados mostram uma melhoria nas condições
de vida (ROSSINI, 1985).

Após a Segunda Guerra Mundial, passa a existir uma maior integração do ter-
ritório. As estradas de ferro ampliam-se e conectam-se em diferentes partes.
Há, também, a construção de rodovias, tornando o deslocamento mais rápido.
Assim, ocorre um grande investimento em infraestrutura, interligando diver-
sas partes do território com a região polar do país.

Com o golpe de Estado de 1964, os investimentos em infraestrutura aumen-


tam, consolidando o processo de integração do território. O país, no processo
de internacionalização econômica, torna-se grande exportador, especialmente
de produtos agrícolas. A classe média amplia-se, os pobres deixam-se seduzir
pelo consumo diversi�cado e há a ampliação do crédito, fatores que levam à
expansão industrial no país (SANTOS, 1993).

As regiões brasileiras apresentam grandes diferenças na organização territo-


rial e urbana. As regiões ao sul possuem alta taxa de urbanização, enquanto as
situadas ao norte do país apresentam taxas menores. Há uma falta de uni�ca-
ção dos transportes, das comunicações e do mercado no território. Por conse-
guinte, o fenômeno da urbanização não ocorre de forma homogênea e genera-
lizada sobre o espaço nacional.

Como escreve Santos (1993, p. 67):

No Sul e no Sudeste, onde existe uma rede urbana mais desenvolvida, a interação
entre as cidades acelera o processo de divisão territorial do trabalho que lhes deu
origem e, por sua vez, vai permitir o avanço dos índices de urbanização, renovando
assim, num círculo virtuoso, os impulsos para um novo patamar na divisão inter-
nacional do trabalho. Enquanto isso, os índices de urbanização �cam estagnados
ou evoluem lentamente no Norte, onde devemos esperar os anos 1960 para que a si-
tuação se desbloqueie, graças ao desenvolvimento das comunicações e do consu-
mo e à amplitude maior do intercâmbio com as demais regiões do País, graças à in-
dustrialização e à modernização da sociedade e do Estado.

No período de 1960, e, especialmente, 1970, o país passa por um processo de


modernização. Com o investimento em infraestrutura (transporte, comunica-
ção), a urbanização recebe novas características, ganhando, assim, uma nova
dinâmica territorial.

Cidades com mais de 20 mil habitantes


Na década de 1970, a urbanização entra em um novo patamar com ganhos
tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo. Na década de 1950, tive-
mos uma revolução demográ�ca, com uma urbanização aglomerada, com au-
mento no número de população e de cidades intermediárias, para depois atin-
gir a metropolização, com o aumento das cidades milionárias e de grandes ci-
dades médias.
Santos (1993, p. 77) ressalta que:

É a partir dos anos 1950 que se nota mais francamente uma tendência à aglomera-
ção da população e da urbanização. Os núcleos com mais de 20 mil habitantes
vêem crescer sua participação no conjunto da população brasileira, passando de
pouco menos de 15% do total em 1940 para quase o dobro (28,43%) em 1960, para
constituir mais de metade (51%) da população em 1980. Esses mesmos núcleos com
mais de 20 mil habitantes reuniam quase metade (47,7%) da população urbana em
1940, mais de três quintos (63,64%) em 1960 e mais de três quartos (75, 48%) em
1980.

Os mapas da Figura 18 apresentam a evolução das cidades com mais de 20 mil


habitantes, entre 1950 e 1996.

Fonte: Santos e Silveira (2001, p. 42).

Figura 18 Cidades com mais de 20 mil habitantes: 1950 e 1996.

Por meio dos mapas (Figura 18), é possível observar o aumento de cidades com
mais de 20 mil habitantes, evidenciando o processo de urbanização.

Cidades com mais de 100 mil habitantes


A Figura 19 apresenta um grá�co que mostra o aumento no número de cidades
com mais de 100 mil habitantes.
Fonte: adaptado de Santos e Silveira (2001, p. 205).

Figura 19 Evolução das aglomerações urbanas (com mais de 100 mil habitantes) no país.

Observa-se pelo grá�co (Figura 19) que, enquanto em 1940 eram apenas 12 ci-
dades em todo o país, em 1996, esse número passa a ser de 175. Veja os mapas
na Figura 20.

Fonte: Santos e Silveira (2001, p. 43).

Figura 20 Cidades com mais de 100 mil habitantes: 1950 e 1996.

Conforme Andrade e Serra (1998, p. 3), “[...] as cidades intermediárias (entre 50


mil e 500 mil habitantes), que em 1970 detinham 19,1% da população urbana
nacional, passaram, em 1991, a agrupar quase 1/3 desta mesma população”.

Cidades milionárias e metropolização


As cidades com mais de um milhão de habitantes (cidades milionárias) eram
apenas duas em 1960 (São Paulo e Rio de Janeiro). Passam a ser cinco em
1970, dez em 1980 e cerca de 15 em 2000.

O fenômeno da macrourbanização e metropolização ganha cada vez mais im-


portância, em seus diferentes aspectos. Como destaca Santos (2001, p. 206):

 [...] concentração da população e da pobreza, contemporânea da rarefação rural e


da dispersão geográ�ca das classes médias; concentração das atividades relacio-
nais modernas, contemporânea da dispersão geográ�ca da população física; locali-
zação privilegiada da crise de ajustamento às mudanças na divisão internacional
de trabalho e às suas repercussões internas, o que inclui a crise �scal; “involução
metropolitana”, com a coexistência de atividades com diversos níveis de capital,
tecnologia, organização e trabalho; maior centralização da irradiação ideológica,
com a concentração dos meios de difusão das idéias, mensagens e ordens; constru-
ção de uma materialidade adequada à realização de objetivos econômicos e socio-
culturais e com impacto causal sobre o conjunto dos demais vetores.

As Regiões Metropolitanas, apresentadas na Figura 21, concentram grande


parcela do crescimento da população total do Brasil, atraída pela imagem que
a cidade grande representa.
Fonte: IBGE (2005).

Figura 21 Regiões metropolitanas.

A Figura 21 mostra-nos o crescimento no número e tamanho das regiões me-


tropolitanas no Brasil, evidenciando a concentração da população nos gran-
des centros urbanos.

Desmetropolização
Ao mesmo tempo em que os números evidenciam o crescimento da metropo-
lização, eles também mostram outro fenômeno: a desmetropolização, ou seja,
a repartição, com outros grandes núcleos, de novos contingentes de população
urbana, como de�ne Santos (1993).

Há, nesse sentido, uma desagregação maior da população urbana segundo o


tamanho do aglomerado. Embora a maior parte da população ainda viva nos
grandes centros urbanos, a partir de 1970 a 1991 podemos observar um proces-
so de reversão neste quadro, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 Crescimento absoluto e participação das cidades brasileiras no cres-


cimento populacional urbano nacional, segundo classes de tamanho das cida-
des — 1950/1991.

1950/1970 1970/1991
Classes de tama- Participação Participação
Crescimento Crescimento
nhos dos centros no cresci- no cresci-
absoluto absoluto
urbanos mento nacio- mento
(1.000 hab.) (1.000 hab.)
(1000 hab.) nal (%) nacional (%)

< 20 8.102 22,12 7.622 13,12


Entre 20 e 50 4.009 10,94 8.175 14,07

Entre 50 e 100 2.215 6,05 7.927 13,65

Entre100 e 250 4.045 11,04 11.064 19,05

Entre 250 e 500 628 1,71 9.353 16,10

Entre 500 e 2000 7.733 21,11 9.899 17,04

> 2.000 9.897 27,02 4.045 6,96

Total – Brasil 36.629 100,00 58.085 100,00


Fonte: Andrade e Serra (1998, p. 4).

A Tabela 2 mostra as modi�cações na dinâmica de crescimento das cidades. É


possível observar um grande aumento na participação do crescimento
populacional das cidades médias, ou seja, aquelas que possuem entre 100 e
250 mil habitantes e as de 250 a 500 mil habitantes, que no total contribuem
com 35,15 % da população nacional.

As mudanças na dinâmica urbano-regional estadual têm levado à


reorganização das atividades econômicas produtivas e sociais,
redirecionando investimentos e reestruturando o papel desempenhado pelas
cidades médias, levando a uma maior urbanização do interior. Um exemplo é
o Estado de São Paulo, representado pelo grá�co da Figura 22. Nele, �ca claro a
diferença do crescimento urbano das cidades médias e da região
metropolitana de São Paulo.
Fonte: Braga (2005, p. 2245).

Figura 22 População por porte de cidade no estado de São Paulo.

A metrópole continua sendo receptáculo da população pobre e despreparada.


De acordo com Santos (2001, p. 209):

[...] os próximos anos marcarão ainda um crescente �uxo de pobres para as grandes
cidades. Em resumo, a metropolização se dará também como “involução”, enquanto
a qualidade de vida poderá melhorar nas cidades médias.

No entanto, como complementa Santos (1993), nenhuma cidade chega à im-


portância da metrópole, nenhuma possui a mesma quantidade e qualidade de
informações como a metrópole. Cordeiro (1987) fala do fenômeno da metrópole
transacional, que é a grande cidade que desempenha poder de controle, sobre
a economia e o território, capaz de manipular a informação para exercer seu
processo produtivo em suas diversas etapas.

Há um processo de mudança da metrópole industrial, de concentração fabril,


para a metrópole informacional, aliado ao processo de desconcentração in-
dustrial, porém a metrópole não perde seu poder sobre o território. O que
Milton Santos (1993) denomina de “metrópole onipresente”. No caso brasileiro,
São Paulo é a grande metrópole onipresente, estando presente em todos os
pontos do território informatizado brasileiro.
Migrações
A partir da década de 1950, o país passa por um rápido processo de urbaniza-
ção, com o qual vemos uma aceleração do movimento migratório. O êxodo ru-
ral, intensi�cado a partir de 1930, tem seu ápice em 1950 com o adensamento
demográ�co das principais cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

Os migrantes, em geral, foram expulsos do campo pela falta da posse de terra,


pela expansão da mecanização e da pecuária e, também, pela necessidade de
mão de obra estacional (mão de obra temporária, que só é requerida na época
da colheita) em lavouras como a de cana-de-açúcar e em culturas modernas.
Com isso, acabaram dirigindo-se para as metrópoles em busca de trabalho e
melhores condições de vida, contribuindo, para a explosão demográ�ca dos
grandes centros urbanos.

A urbanização recente
Hoje, já não se pode mais falar em Brasil rural e Brasil urbano, mas, sim, em
Brasil agrícola e Brasil urbano.

Conforme mostra Santos (1993), a população rural diminui cada vez mais, en-
quanto há um aumento da população agrícola e um crescimento ainda maior
da população urbana. “Entre 1960 e 1980, a população agrícola aumenta cerca
de 36%, ao passo que a população rural cresce somente quatro milésimos por
cento, mais precisamente 0, 0038%” (SANTOS, 1993, p. 132).

Vale lembrar que a população agrícola é aquela que reside na cidade e traba-
lha em atividades rurais, como é o caso dos boias-frias.

Tudo isso mostra uma tendência maior à urbanização, aliada à queda na taxa
de natalidade e mortalidade, e à crescente mobilidade das pessoas no territó-
rio brasileiro.

No entanto, vivenciamos o que Bernard Kayser chama de êxodo urbano, espe-


cialmente nas metrópoles e grandes centros urbanos.
Como escreve Santos (1993, p. 134):

Aumenta o número de cidades locais e sua força, assim como os centros regionais,
ao passo que as metrópoles regionais tendem a crescer relativamente mais que as
próprias metrópoles do Sudeste [...]. Esse salto qualitativo não invalida o fato de São
Paulo, Rio de Janeiro e Brasília manterem posição de comando sobre o território
nacional, com uma espécie de divisão do trabalho metropolitano que permite dis-
tinguir claramente entre as três e, entre elas, as metrópoles regionais.

Assim, o processo de desmetropolização vai ocorrer paralelamente ao


processo de metropolização. As grandes cidades continuarão a crescer,
enquanto surgirão novas grandes cidades. As cidades médias ou
intermediárias, também, apresentarão intenso crescimento, em número de
habitantes e em quantidade.

Segundo Ribeiro e Lago (1994), a urbanização brasileira passa por mudanças a


partir dos anos 1980. Embora as metrópoles continuem tendo alto crescimento
demográ�co, o ritmo de crescimento sofreu uma queda. As cidades de porte
médio, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes, crescem a taxas
maiores do que as metrópoles nos anos 1980 e 1990 (4,8% contra 1,3%).

O Brasil, a partir da década de 1980, passa por mudanças econômicas, e, assim,


por uma reestruturação urbana. De acordo com Ribeiro e Lago (1994, p. 2):

Não estamos vivendo apenas os efeitos de um ciclo de estagnação econômica, mas


a reestruturação sócio-espacial decorrente das transformações no circuito
secundário da acumulação. O padrão periférico de crescimento e organização
metropolitanos que prevalece desde os anos 50 está em esgotamento pelo duplo
movimento de crise e modernização das esferas de produção e circulação do
espaço construído.

Essa reestruturação sócio-espacial, exposta por Ribeiro e Lago (1994), traz mu-
danças na dinâmica urbano-regional. A relocalização industrial no território
brasileiro leva a um novo redirecionamento dos �uxos migratórios e ao cresci-
mento de cidades de porte médio no interior do país.
No �nal dos anos 1970, começamos a presenciar uma tendência à desconcen-
tração industrial em São Paulo, que se consolida na década de 1980, mediante
a dispersão espacial da indústria para o interior do Estado.

Conforme Pintaudi e Carlos (1995, p. 13), “[...] isso ocorre em função do desen-
volvimento de novas tecnologias que produzem transformações na organiza-
ção do trabalho e da produção, fato que produz uma nova articulação espaci-
al”.

Cria-se, assim, uma nova distribuição das indústrias, pois o capital migra
constantemente em busca de melhores condições de acumulação. O resultado
é a procura por novas vantagens locacionais e incentivos �scais, buscando
localizar-se próximo aos principais eixos de circulação (PINTAUDI; CARLOS,
1995).

Segundo o Ipea et al. (2002), o Brasil tem sentido o re�exo das mudanças es-
truturais na economia mundial e no padrão de urbanização. Isso tem in�uen-
ciado as políticas locacionais das indústrias, o que, por sua vez, se re�ete na
dinâmica demográ�ca e no surgimento de novos centros de importância.

Essas transformações não poderiam deixar de causar mudanças signi�cativas não


só no padrão de acumulação, como também na organização da produção no espa-
ço, in�uenciando a organização da hierarquia urbana (IPEA et al., 2002, p. 29).

Uma análise das quatro últimas décadas, não obstante con�rme a distribuição
concentrada da população urbana brasileira, aponta para uma tendência bem
marcada do papel das pequenas e médias cidades no crescimento demográ�-
co do país, na dinâmica territorial e na con�guração da rede urbana brasileira
(IPEA et al., 2002).

12. Rede urbana: conceito e teoria


Como já é sabido, estudamos a cidade individualmente. Porém, é preciso con-
siderar o conjunto de células urbanas de uma região, assim como o organismo
que elas formam no país, para que possamos entender a realidade da econo-
mia urbana.

As cidades diferenciam-se umas das outras – cada uma tem sua especialida-
de e sua função – e ocupam diferentes espaços no território. A localização das
cidades, e como elas se distribuem e se organizam no território, é de grande
importância para o estudo da dinâmica territorial, do ponto de vista econômi-
co, social e político.

Assim, quando localizamos uma cidade no território a relacionamos a outras


cidades. A hierarquização das cidades, segundo a importância de suas fun-
ções, de�ne a rede urbana. As funções das cidades variam, podendo ser: co-
mercial, industrial, �nanceira e política. Quanto maior for uma cidade, mais
intensa será a concentração de atividades altamente especializadas.

O conceito de rede tem origem no latim retiolus, que designa um conjunto de


linhas entrelaçadas (CORRÊA, 1989). A rede urbana é formada por dois ele-
mentos principais: as cidades e as ligações que elas estabelecem entre si. A
rede é hierarquizada de acordo com a importância dos nós, ou seja, as cidades,
e também, dos eixos, isto é, as ligações entre as cidades.

Para representar a rede urbana, é preciso localizar a cidade principal e as de-


mais cidades in�uenciadas por ela. A hierarquização entre as cidades se dá
pela densidade populacional e, também, por critérios como poder político-
administrativo, forte produção industrial etc.

As ligações entre as cidades correspondem às rotas das trocas dominantes, de


modo que a disponibilidade de meios de comunicação como estradas, aero-
portos, ferrovias etc. exerce grande in�uência na hierarquização das cidades.
O número e a ordem das ligações entre as cidades indicam a complexidade de
sua organização.

Como expõe George (apud SANTOS, 1993, p. 63), “[...] para que exista a rede ur-
bana, é necessário discernir diversas relações que estabeleçam conexões fun-
cionais permanentes entre os elementos urbanos da rede e entre eles e o meio
rural”.
Santos (1993, p. 64) ainda a�rma que:

 [...] as especializações do território são a raiz da complementaridade regional: há


uma nova geogra�a regional que se desenha, na base da nova divisão territorial do
trabalho que se impõe estabelecendo, assim, novos arranjos na rede urbana.

Corrêa (2006, p. 27), geógrafo estudioso dessa temática, complementa que a


rede urbana é um re�exo, na realidade:

[...] dos efeitos acumulados da prática de diferentes agentes sociais, sobretudo as


grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas que, efetivamente,
introduzem, tanto na cidade como no campo, atividades que geram diferenciações
entre os centros urbanos.

Para Corrêa (2006, p. 27), a rede urbana caracteriza-se como “[...] um conjunto
de centros funcionalmente articulados e que re�ete e reforça as
características sociais e econômicas de um território”, compreendida aqui
como uma hierarquia urbana. Muitas das teorias sobre a rede urbana partem
da Teoria dos Lugares Centrais desenvolvida por Christaller, a qual veremos a
seguir.

Teoria dos Lugares Centrais


Walter Christaller (1974), geógrafo alemão, foi o autor da mais conhecida teo-
ria geográ�ca sobre a urbanização – a Teoria dos Lugares Centrais, resultado
de sua tese de doutorado, defendida em 1932. Em seu estudo, ele tentou encon-
trar as leis que determinam o número, o tamanho e a distribuição das cidades.
Desde a publicação de sua obra, em 1933, muitos outros autores o elogiaram e o
criticaram, reformularam e ampliaram partes de sua teoria.

Christaller (1974), diferentemente dos demais geógrafos da época, partiu de


uma linha dedutiva para formular sua teoria. Para ele, as condições geográ�-
cas naturais não poderiam explicar o tamanho nem a distribuição das cida-
des; as investigações históricas, apesar de revelarem um material factual
abundante, nunca poderiam chegar a leis como as econômicas; o uso da esta-
tística poderia estabelecer classes, frequências e médias e encontrar algumas
regularidades, mas também não levariam a leis genuínas, apenas a meras
probabilidades (BRAGA, 2001).

Para Christaller (1974), o desenvolvimento e o declínio das cidades dependeri-


am de fatores econômicos, o que incluiria a geogra�a das localidades no rol da
geogra�a econômica. A causa da distribuição aparentemente aleatória das ci-
dades no espaço geográ�co foi o ponto de partida para a formulação de sua te-
oria. Christaller (1974, p. 1) a�rma que:

A situação com cidades é um pouco diferente. Numa mesma região nós vemos ci-
dades grandes e pequenas de todas as categorias, uma categoria ao lado da outra.
Às vezes elas se aglomeram em certas regiões de uma maneira inverossímil e apa-
rentemente insensata. Às vezes há regiões grandes nas quais não há um único lu-
gar que mereça a designação de cidade, ou até mesmo de mercado. Normalmente, é
a�rmado que a conexão entre a cidade e a atividade pro�ssional de seus habitantes
não é acidental, mas baseada na natureza de ambas. Mas por que há, então, cidades
grandes e cidades pequenas; e por que elas estão distribuídas tão irregularmente?

A partir desse questionamento, o geógrafo procurou demonstrar, indo além da


mera descrição das estruturas urbanas, como nos explica Braga (2001), que a
distribuição das cidades no território não era desordenada, mas que havia
uma regularidade e uma hierarquia em sua disposição.

Christaller (1974) começou por de�nir a cidade como uma “localidade central”,
ou seja, um lugar cuja função seria a de suprir de bens e serviços um determi-
nado espaço circundante, sua hinterlândia, sua área de mercado.

Partindo desse conceito, sua explicação para a distribuição das cidades foi for-
mulada em termos funcionais. Ele baseou-se na hipótese de que a rede urbana
poderia ser deduzida das zonas de mercado das localidades centrais, cujas di-
mensões variariam segundo os produtos e os serviços ofertados (de acordo
com sua centralidade).

Desse modo, os serviços urbanos seriam classi�cados como de ordem superi-


or ou inferior, e a hierarquia entre as localidades variariam de acordo com a
ordem dos serviços fornecidos (isto é, o grau de centralidade).

Christaller (apud BRAGA, 2001) elaborou dois conceitos para explicar esse mo-
delo de rede e hierarquia urbana: o Limite Crítico da Demanda, ou seja, a de-
manda mínima necessária para determinar o fornecimento do serviço; e o
Alcance Médio do Serviço, que depende da distância econômica entre os luga-
res (vinculada basicamente aos custos de transporte). A partir de tais funda-
mentos teóricos e do estudo da rede de cidades do sul da Alemanha, o autor
desenvolveu sua tese chegando ao conhecido modelo hexagonal.

Abordaremos as principais ideias que compõem a Teoria dos Lugares


Centrais, baseando-se no texto elaborado por Arthur Getis e Judith Getis
(1984).

Pressupostos e princípios:

1. A principal função ou característica de uma cidade é a de ser o centro de


uma região.
2. Lugares centrais: centros de regiões.
3. Lugares dispersos: lugares que não são centros.
4. Centralidade: alguns lugares centrais são mais importantes do que ou-
tros.
5. Os bens e serviços centrais são aqueles produzidos pelo lugar central.
6. Alcance de um bem: é a distância que a população dispersa dispõe-se a
percorrer para comprar um bem oferecido de um lugar central.
7. Bem de alcance de limite superior: é o raio máximo de vendas além do
qual o preço do bem é demasiado elevado para que seja vendido.
8. Limite ideal: o raio máximo para compra do bem (Figura 23).
9. Limite real: raio determinado pela proximidade de um centro alternativo
(Figura 23).
10. Bem de alcance de limite inferior: é o que inclui o número máximo de
consumidores necessário e proporciona o volume mínimo de vendas que
se exige para que o bem seja produzido e distribuído com lucro a partir do
lugar central.
Fonte: Getis e Getis (1984, p. 1).

Figura 23 Limite real e limite ideal.

A região complementar é a área ao redor de um lugar central envolvida pelo


alcance de um bem. Cada lugar central teria uma área tributária (de mercado)
circular, com ele próprio no centro.

Contudo, ou existiriam lugares não servidos, se esse fosse o caso, ou os


círculos iriam se superar, caso em que a condição de monopólio não seria
satisfeita. Próximos dos círculos, os hexágonos são as �guras mais e�cientes
para servir uma área (os lugares centrais e as distâncias percorridas serão
minimizadas) (GETIS; GETIS, 1984).

A região complementar de um lugar central assume a forma de hexágono.


Observe na Figura 24 três disposições de �guras complementares.
Fonte: Getis e Getis (1984, p. 2).

Figura 24 Três disposições de �guras complementares.

Onde:

• A – “As áreas não servidas estão sombreadas”.


• B – “As áreas sombreadas indicam lugares onde a condição de monopólio
não seria satisfeita”.
• C– “Hexágonos cobrem uma área completamente, sem nenhuma exposi-
ção”.

Getis e Getis (1984) apresentam-nos uma suposição de aplicação da Teoria dos


Lugares Centrais, com base nos escritos de Christaller.

Algumas suposições nos revelam a espécie de paisagem sobre a qual seu sis-
tema seria construído:

1. Uma imensa planície, com solo de igual fertilidade em toda parte e igual
distribuição de recursos.
2. Uma distribuição uniforme da população e do poder de compra.
3. Uma rede de transportes uniforme em todas as direções.
4. Um alcance constante de qualquer bem central, qualquer que seja o lugar
central a partir do qual ele seja oferecido.

Pensada a paisagem, temos que pensar as necessidades das pessoas e as res-


trições que existirão sobre o sistema:

1. Um número máximo de demandas de bens e serviços deve ser satisfeito.


2. Os rendimentos das pessoas que oferecem os bens e serviços devem ser
maximizados.
3. As distâncias percorridas pelos consumidores para adquirir os bens e
serviços devem ser minimizadas, isto é, os bens são adquiridos no ponto
mais próximo.
4. O número de lugares centrais deve ser o mínimo possível.

Em sua teoria, Christaller (1974) considerou o princípio de mercado, mas tam-


bém o princípio de tráfego e o administrativo. Os arranjos espaciais associa-
dos a esses princípios são descritos abreviadamente pelos valores k.

O valor k indica o número de centros dominado por outro centro e a relação


entre o número de áreas de mercado de cada ordem. Ele também mostra as re-
lações entre o número de áreas de mercado de ordem (de importância e de in-
�uência existente entre os centros). O valor de k é sempre igual a três vezes o
número das áreas de ordem imediatamente superior. A relação entre os núme-
ros de lugares centrais de cada ordem é mais complexa, mas sempre baseado
no valor k, exceto para os lugares de ordem superior.

Veja nas Figuras 25, 26, 27 e 28 a representação das estruturas da Teoria dos
Lugares Centrais de Christaller.
Fonte: Clark (1982, p. 130).

Figura 25 Teoria clássica dos Lugares Centrais: relações entre preços, distância e demanda na planície isotrópica de

transporte.
Fonte: Clark (1982, p. 132).

Figura 26 Teoria clássica dos Lugares Centrais: a derivação da hierarquia funcional da provisão de serviços.

Fonte: Clark (1982, p. 134).

Figura 27 Teoria clássica dos Lugares Centrais: a estrutura da rede de k=3.


Fonte: Clark (1982, p. 136).

Figura 28 Teoria clássica dos Lugares Centrais: redes k=3, k=4 e k=7.

Baseado na Teoria dos Lugares Centrais, Corrêa (1989) explica que a


circulação, resultante da articulação entre os núcleos urbanos, reforça a
diferenciação no que tange ao volume de produtos comercializados e
atividades políticas administrativas entre as localidades. Essa diferenciação
traduz-se, portanto, como uma hierarquia entre os centros urbanos.

A Teoria dos Lugares Centrais, desenvolvida por Christaller em 1933, explica a


formação e o desenvolvimento dos centros urbanos. Características que
determinam a relação dos centros urbanos com as demais localidades, como
áreas de mercado, designam sua ideia de importância.
Christaller, no entanto, não se preocupa com a localização, mas com a
organização do espaço. Segundo o autor, a centralidade é de�nida pela
capacidade de oferecer bens e serviços (de melhor qualidade) para outras
localidades (FERREIRA, 2008).

O que foi mostrado aqui é um pequeno resumo do que seria a Teoria dos
Lugares Centrais. O próprio Christaller (1974, p. 73) ressalta alguns pontos
críticos da teoria por ele desenvolvida:

O esquema matemático rígido anteriormente desenvolvido é incompleto sob certos


aspectos, e sua inexatidão reside mesmo em sua rigidez. Devemos aproximar nosso
esquema da realidade; portanto, devemos estudar os fatores que ocasionam
mudanças importantes e que devem ser levadas em consideração.

Contemporâneo a Christaller, o também alemão August Lösch elaborou a


Teoria do Equilíbrio Espacial Geral, em 1939. Atualmente, várias são as teorias
elaboradas com a �nalidade de entender o espaço (rural, urbano ou industrial)
e organizá-lo segundo o desenvolvimento econômico.

Autores como Johann-Heinrich Von Thümen (1826), Alfred Weber (1909),


François Perroux (1955-6) e Albert Hirschiman (1958) ilustraram esse cenário
e continuam a embasar pesquisas e suscitar debates (FERREIRA, 2008).

A hierarquia urbana e as relações de interação ao longo da rede são inerentes


à estrutura dos serviços e bens que a urbanização produz. Com isso, emergem
três níveis principais de sistemas de localidades, como bem observa Faissol
(1994, p. 150):
a) um sistema urbano/metropolitano de grandes cidades, que atrai uma migração
intensa, e que leva a operar em linha contrária à da maior e�ciência que as
economias de escala do tamanho fariam supor;

b) um sistema de cidades médias, bene�ciárias diretas dos transbordamentos


metropolitanos, que amplia a capacidade do sistema espacial de crescer e se
desenvolver, e que precisa fazer a ligação do sistema metropolitano com as
hierarquias menores do sistema urbano, pois o seu segmento superior (as capitais
regionais já fazem uma razoável ligação com o sistema metropolitano)
praticamente atinge apenas o nível imediatamente abaixo, que é este nível
intermediário;

c) um sistema de cidades pequenas, em geral sem centralidade (e às vezes muito


pequenas até mesmo em termos de um conceito de cidade; elas existem por força
de uma de�nição legal de cidade sede de município) [...] Em conjunto com os
centros de zona [...] farão a ligação com o sistema de cidades médias, de um lado, e
com a economia rural de outro, assim integrando todo o sistema.

É com base nessa citação de Faissol (1994) que iniciaremos nossos estudos
sobre a rede urbana brasileira. Vamos lá!

A rede urbana brasileira


Para começar nosso aprendizado sobre esse assunto, é importante
conhecermos a de�nição de rede urbanos. De acordo com Corrêa (2001, p. 359):

Re�exão social, a rede urbana constitui-se também em uma condição social, uma
matriz da qual deverá se veri�car a reprodução das condições de existência,
envolvendo a produção, a circulação e o consumo, assim como diversos aspectos
das relações sociais.

Antes de nos aprofundarmos no estudo da rede urbana brasileira, gostaríamos


de mencionar a importância do conhecimento dessa temática para o melhor
planejamento e desenvolvimento do território. Conforme considerações do
trabalho realizado pelo Regic/IBGE (2007, p. 9), o estudo da rede urbana tem
como objetivo:
[...] subsidiar o planejamento estatal e as decisões quanto à localização das ativida-
des econômicas de produção, consumo privado e coletivo, bem como prover ferra-
mentas para o conhecimento das relações sociais vigentes e dos padrões espaciais
que delas emergem. Num país tão extenso, e com tantas carências, a localização de
serviços de saúde e educação tem de considerar as condições de acessibilidade da
população aos locais onde estão instalados; e, como já ressaltava o primeiro estudo
realizado pelo IBGE, “as cidades constituem os locais onde se podem instalar mais
racionalmente os serviços sociais básicos [...] destinados ao atendimento da popu-
lação de toda uma região”. De fato, a estrutura e a organização do território são o
substrato que condiciona, e sobre o qual atuam as políticas públicas e os agentes
sociais e econômicos que compõem a sociedade. A partir dessas ações, ainda que
nem sempre elas tenham o efeito esperado, reorganiza-se o território, num dina-
mismo que cria e recria a rede urbana, em que pese a tendência de estabilidade es-
trutural no longo prazo.

O conceito de rede urbana e a forma como ela está hierarquizada pode variar
de autor para autor, de trabalho para trabalho, pois há diferentes metodologias
para de�ni-la. Para estudarmos a rede urbana brasileira tomaremos como ba-
se o trabalho desenvolvido pelo IBGE, em 2007, denominado “Região de
In�uência das cidades”, que classi�ca a rede urbana brasileira em cinco gran-
des níveis:

1) Metrópoles: são os doze principais centros urbanos do país, que se caracteri-


zam por seu grande porte e fortes relacionamentos entre si, além de, em geral,
possuírem extensa área de in�uência direta.

O conjunto foi dividido em três subníveis, segundo a extensão territorial e a


intensidade destas relações:

a) Grande metrópole nacional: São Paulo, o maior conjunto urbano do


País, com 19,5 milhões de habitantes em 2007, e alocado no primeiro nível
da gestão territorial.

b) Metrópole nacional: Rio de Janeiro e Brasília, com população de 11,8


milhões e 3,2 milhões em 2007, respectivamente, também estão no pri-
meiro nível da gestão territorial. Juntamente com São Paulo, constituem
foco para centros localizados em todo o País.
c) Metrópole: Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte,
Curitiba, Goiânia e Porto Alegre, com populações que variam de 1,6
(Manaus) a 5,1 milhões (Belo Horizonte), constituem o segundo nível da
gestão territorial. Note-se que Manaus e Goiânia, embora estejam no ter-
ceiro nível da gestão territorial, tem porte e projeção nacional, o que lhes
garante a inclusão nesse conjunto.

2) Capital regional: integram esse nível setenta centros que, como as metrópo-
les, também relacionam-se com o estrato superior da rede urbana. Com capa-
cidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área
de in�uência de âmbito regional, sendo referidas como destino, para um con-
junto de atividades, por grande número de municípios. Assim como o anterior,
este nível também tem três subdivisões. O primeiro grupo inclui as capitais
estaduais não classi�cadas no nível metropolitano e Campinas; o segundo e o
terceiro grupos, além da diferenciação de porte, têm padrão de localização re-
gionalizado, sendo o segundo mais presente no Centro-Sul e o terceiro nas de-
mais regiões do País. Os grupos são:

a) Capital regional A: constituído por onze cidades, com medianas de 955


mil habitantes e 487 relacionamentos.

b) Capital regional B: constituído por vinte cidades, com medianas de 435


mil habitantes e 406 relacionamentos.

c) Capital regional C: constituído por 39 cidades com medianas de 250


mil habitantes e 162 relacionamentos.

3) Centro sub-regional: nível composto por 169 centros com atividades de ges-
tão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da gestão territo-
rial. Além disso, têm área de atuação mais reduzida e os relacionamentos com
centros externos à sua própria rede dão-se, em geral, apenas com as três me-
trópoles nacionais. Com presença mais adensada nas áreas de maior ocupa-
ção do Nordeste e do Centro-Sul, e mais esparsa nos espaços menos densa-
mente povoados das Regiões Norte e Centro-Oeste, estão também subdividi-
dos em:
a) Centro sub-regional A: constituído por 85 cidades, com medianas de 95
mil habitantes e 112 relacionamentos.

b) Centro sub-regional B: constituído por 79 cidades, com medianas de 71


mil habitantes e 71 relacionamentos.

4) Centro de zona: nível formado por 556 cidades de menor porte e com atua-
ção restrita à sua área imediata; exercem funções de gestão elementares.

Subdivide-se em:

a) Centro de zona A: 192 cidades, com medianas de 45 mil habitantes e 49


relacionamentos. Predominam os níveis 5 e 6 da gestão territorial (94 e
72 cidades, respectivamente), com 9 cidades no quarto nível e 16 não
classi�cadas como centros de gestão.

b) Centro de zona B: 364 cidades, com medianas de 23 mil habitantes e 16


relacionamentos. A maior parte, 235, não havia sido classi�cada como
centro de gestão territorial, e outras 107 estavam no último nível daquela
classi�cação.

5) Centro local: as demais 4.473 cidades cuja centralidade e atuação não extra-
polam os limites do seu município, servindo apenas aos seus habitantes, têm
população dominantemente inferior a dez mil habitantes (mediana de 8.133
habitantes).

A Figura 29 mostra o mapa da rede urbana brasileira em 2007.


Fonte: IBGE (2007, p. 12).

Figura 29 Rede urbana brasileira em 2007.

Observando o mapa (Figura 29) e com base nos estudos realizados pelo IBGE
(2007), podemos perceber que a distribuição dos níveis hierárquicos no territó-
rio é desigual. Os estados litorâneos concentram o maior número de lugares
centrais, onde o �uxo de informação e mercadoria é muito maior do que em
relação ao interior do país.

É possível perceber, ainda, que existem áreas que contam com uma rede urba-
na estruturada, com a presença de níveis encaixados e situados em intervalos
regulares. Em contraposição, há áreas onde há ausência de níveis hierárqui-
cos intermediários.

Fazendo uma breve caracterização da rede urbana brasileira podemos chegar


à seguinte conclusão, de acordo com o estudo do IBGE (2007, p. 13).
O Centro-Sul do País é um exemplo do primeiro caso, pois conta com um signi�ca-
tivo número de metrópoles, capitais regionais e centros sub-regionais, com grande
articulação entre si. As Regiões Norte e Nordeste, por sua vez, ilustram o segundo
caso, já que apresentam distribuições truncadas em que faltam níveis hierárquicos,
apresentando um sistema primaz. Este ocorre tanto em áreas da Amazônia e do
Centro-Oeste, onde há esparsa ocupação do território, quanto do Nordeste, apesar de
sua ocupação consolidada e, em muitas áreas, densa. Nesta região, as capitais tra-
dicionalmente concentram a oferta de equipamentos e serviços e são poucas as op-
ções de centros de nível intermediário, ainda que deva ser notado que estes, apesar
de poucos, são tradicionais, e exercem forte polarização em suas áreas, a exemplo
de Campina Grande, Petrolina-Juazeiro, Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha e
Mossoró.

A rede urbana brasileira pode ser vista como “armadura” da estrutura sócio-
espacial contemporânea (IPEA et al., 2002). Formada pelos �uxos de pessoas e
mercadorias, desempenha grande signi�cado na análise territorial e constitui
importante subsídio à formulação de políticas territoriais de âmbito nacional,
regional e municipal.

Segundo o Ipea et al. (2002, p. 29):

Com o surgimento da indústria, a rede urbana dos diferentes países foi profunda-
mente alterada, assim como a organização de seus territórios (crescimento de cen-
tros urbanos existentes, multiplicação do número das cidades, etc.). [...] Essa fase de
desenvolvimento impulsionou a emergência das metrópoles, que, a partir de então,
reforçam o seu poder de decisão e sua participação nas economias nacionais e nos
circuitos econômicos internacionalizados. Mas, a partir dos anos 70, mutações
conjunturais e estruturais na economia mundial levam a novas transformações no
padrão da urbanização. Desde então, os países industrializados vêm passando, si-
multaneamente, por profunda reestruturação de suas bases produtivas e sociais, e
por radical transformação da natureza, dos atores e dos lugares do crescimento
econômico, a qual tem repercutido, por sua vez, em seus vizinhos menos desenvol-
vidos.

O Brasil tem sentido o re�exo dessas mudanças estruturais na economia


mundial e no padrão de urbanização. Isso tem in�uenciado nas políticas loca-
cionais das indústrias, levando a um processo de desconcentração industrial,
que por sua vez se re�ete na dinâmica demográ�ca, e no surgimento de novos
centros de importância.

O Ipea et al. (2002, p. 29) complementa que:

[...] essas transformações não poderiam deixar de causar mudanças signi�cativas


não só no padrão de acumulação, como também na organização da produção no es-
paço, in�uenciando a organização da hierarquia urbana.

Baeninger (1998 apud REANI, 2007, p. 67) acrescenta:

A emergência do processo de reestruturação produtiva em âmbito internacional,


neste �nal de século, tem contribuído, em nível nacional, regional e local, para a
con�guração de espaços urbanos selecionados. Tais espaços têm apresentado
transformações signi�cativas em termos econômicos, políticos e sociais em
esforço e em inserção nessa dinâmica global. Modi�caram-se as formas e os
processos urbanos até então vigentes nas cidades; intensi�cou-se a velocidade das
transformações tecnológicas; as cidades pequenas e de porte médio passaram a
constituir uma importante fatia do dinamismo regional; mudaram a direção e o
sentido dos �uxos migratórios.

Assim, pode-se veri�car o rápido desenvolvimento de centros urbanos inter-


mediários, que têm ganhado importância na dinâmica global. Por exemplo, as
cidades da chamada Terceira Itália, — onde se localizam Milão, Turim,
Bolonha, Florença, Ancona, Veneza, Modena e Gênova — caracterizam-se pela
existência de grupos de pequenas empresas, cuja principal estratégia é a ino-
vação contínua e a utilização de métodos �exíveis de produção.

Essa região apresenta um grande número de pequenas �rmas e um dos mais


altos níveis de renda per capita da Itália. Além disso, emprega grande parte da
força de trabalho da região, seja vinculada a alguma empresa, seja desenvol-
vendo atividades de forma autônoma. Assim como as novas áreas de atração
industrial no Estado do Paraná, além da diversidade de centros médios brasi-
leiros, cujo crescimento está acima da média nacional. Esses novos centros,
de porte médio, têm contribuído cada vez mais para o dinamismo econômico,
social e político do território (REANI, 2007).
Rede urbana paulista
As particularidades da rede urbana paulista também foram tema de estudo.
De acordo com o Ipea (2002, p. 27):

A rede urbana paulista estrutura-se em subsistemas constituídos em razão dos


processos econômicos das regiões onde se localizam, cujas características são bas-
tante diversi�cadas.

Observe na Figura 30 o mapa da rede urbana paulista.

Fonte: REGIC/IBGE (1993).

Figura 30 Mapa da rede urbana paulista.

O Estado de São Paulo possui a mais ampla e complexa rede urbana do país,
apresentando inter-relacionamentos com os estados vizinhos e causando im-
pacto em todo o território nacional. O Ipea et al. (2002, p. 111) aponta que:

a rede urbana foi Estruturada a partir da capital, sua constituição remonta ao sécu-
lo passado, quando, após o dinamismo econômico impulsionado pelo complexo ca-
feeiro, a região passou por processo contínuo e permanente de ocupação.

A rede urbana paulista conta com a participação cada vez maior das cidades
médias, que têm crescido em tamanho e em quantidade, fortalecendo e rearti-
culando o seu papel (REANI, 2007).

Ao contrário da Região Metropolitana de São Paulo, que vem apresentando


queda nas estatísticas demográ�cas e na participação industrial, as cidades
médias apresentam um elevado crescimento econômico e industrial. Esse
crescimento ocorre de forma concentrada em algumas mesorregiões do entor-
no metropolitano e vem ganhando cada vez mais importância e in�uência na
rede urbana paulista.

Conforme o Ipea et al. (2002, p. 111):

[...] o deslocamento das atividades econômicas e da população privilegiou as sedes


regionais e/ou seus entornos, notadamente das mesorregiões de Campinas,
Macrometropolitana, Vale do Paraíba paulista e Ribeirão Preto, fortalecendo o papel
desses centros na rede urbana estadual e levando para o interior um padrão de ur-
banização até então vigente somente na metrópole.

No interior, existem 25 municípios com população superior a 100 mil habitan-


tes, abrigando 16% da população estadual. Deles, 15 apresentam entre 100 mil e
200 mil habitantes e dez, entre 200 mil e 500 mil habitantes. Desses dez, pode-
mos observar que nove encontram-se nas mesorregiões próximas à capital ou
localizadas no nordeste do estado. São eles: São José dos Campos, Taubaté,
Limeira, Sorocaba, Jundiaí, Piracicaba, Bauru, Ribeirão Preto, Franca e São
José do Rio Preto, que se localiza a oeste do estado (IPEA et al., 2002 apud
REANI, 2007).

A grande diversidade e a alta densidade de centros existentes na rede urbana


paulista faz com que esta apresente as interações espaciais mais intensas e
complexas de todo o país. Esses centros foram classi�cados conforme a sua
espacialidade em metrópoles, aglomerações urbanas e centros urbanos
(REANI, 2007).

Foram identi�cadas para o estado de São Paulo, somando-se às três regiões


metropolitanas, dez aglomerações urbanas de diferentes ordens e complexida-
des espaciais e seis centros urbanos principais, possuindo diferentes graus de
centralidade e importância na dinâmica urbano-regional. A identi�cação foi
feita com base em dados de população, densidade, PEA (População
Economicamente Ativa) em atividades urbanas e indicadores da especi�cida-
de regional, além de algumas de�nidas pelo estudo do Ipea/IBGE/Nesur. Veja o
mapa na Figura 31 (REANI, 2007).

Fonte: Ipea et al. (2002, p. 88).

Figura 31 Estado de São Paulo – níveis de centralidade (1998).

O que se tem observado é que o processo de interiorização do desenvolvimento


reforçou a articulação da rede urbana. Também engendrou as atuais estrutu-
ras espaciais existentes no interior paulista. Além da Região Metropolitana de
São Paulo, da Região Metropolitana da Baixada Santista e da área metropolita-
na de Campinas, no restante do estado há diversas aglomerações urbanas –,
com a interiorização de um padrão de urbanização articulado ao grande capi-
tal imobiliário e com a existência de contingentes de excluídos. Esse contin-
gente reside tanto em pequenas cidades do interior como nas metrópoles, nas
grandes e nas médias cidades (IPEA et al., 2002, p. 117).

Esse acelerado crescimento e urbanização das cidades médias traz mudanças


na sua estrutura e dinâmica interna, tendo também, várias consequências ne-
gativas.

Segundo o Ipea et al. (2002, p. 114):

Com a interiorização do desenvolvimento, o padrão de urbanização e, consequente-


mente, as realidades territoriais do interior tornaram-se mais complexas, engen-
drando formações espaciais que re�etem o caráter contraditório do dinamismo
econômico. A estruturação e a ampliação de um mercado imobiliário articulado e
organizado em suas diversas etapas de reprodução do capital mercantil (parcela-
mento, construção, incorporação, �nanciamento e vendas) favoreceram o aumento
do processo e a verticalização das cidades. Bene�ciaram, também, o surgimento de
condomínios fechados horizontais para a classe média e de bairros periféricos sem
infraestrutura urbana e favelas em quase todas as cidades do interior, independen-
temente de seu porte de tamanho. Essas são expressões visíveis desse padrão con-
traditório de urbanização.

A rede urbana paulista caracteriza-se por um crescimento populacional e por


um crescimento do número de cidades médias no interior, que se concentram
em regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas.

Essa interiorização do desenvolvimento, conforme o Ipea et al. (2002, p. 120)


“[...] expressa-se em uma dinâmica sócio-espacial que se repete nas diversas
realidades territoriais como ambientes construídos pelo capital e para o capi-
tal”. Reproduzindo assim, o crescimento econômico e desigual, e não o cresci-
mento social e equitativo (REANI, 2007).

Complementação: de�nindo conceitos


Alguns conceitos são fundamentais. Veja como diferentes estudiosos de�nem
termos que fazem parte da Geogra�a.

Para Bordo, (2005, p. 47) de�ne conurbação como:

[...] este conceito foi criado por Patrick Geddes em 1915, referindo-se à junção de ci-
dades em expansão, mas sem a predominância de um centro principal, como ocor-
re na metrópole. A conurbação é constituída pela proliferação de espaços contínu-
os, com pouca hierarquização entre eles, e sem qualquer plano conjunto[...]

De acordo com o IBGE (2007, p. 33) as metrópoles são de�nidas como:


“Principais centros urbanos do País, que caracterizam-se por seu grande porte
e por fortes relacionamentos entre si, além de, em geral, possuírem extensa
área de in�uência direta”.

As Regiões Metropolitanas brasileiras foram estabelecidas pelo Congresso


Nacional em 1973, o qual as de�niu como “[...] um conjunto de municípios con-
tíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços
públicos e infraestrutura comum” (IBGE, 2007, p. 33).

Para Bordo (2005, p. 3, grifo nosso):

[...] o termo megalópole, criado pelo francês Jean Gottman na década de 1960,
refere-se a uma grande área suburbana ou periurbana que contém mais de uma re-
gião metropolitana. O exemplo clássico de megalópole é o eixo que se estende de
Boston a Washington, por cerca de 600 km na costa atlântica dos Estados Unidos,
englobando as grandes metrópoles de Nova Iorque, Filadél�a e Baltimore.

Já para Sassen (1993, p. 32, grifo nosso), cidade global é:


[...] A combinação da dispersão espacial e da integração mundial – sob a condição
de continuidade da concentração do domínio e do controle econômicos – tem con-
tribuído no desempenho de um papel estratégico das maiores cidades na atual fase
da economia mundial. Muitas vezes devido as suas longas histórias como centros
mundiais de negócios e transações bancárias, estas cidades funcionam hoje como
postos de comando na organização da economia mundial; como lugares-chaves e
praças de mercado fundamentais para as indústrias que lideram neste período, �-
nanceiras e de serviços especializados para empresas; e como campos para a pro-
dução de inovações nas indústrias. Estas cidade vieram a concentrar tão vastos re-
cursos e as industrias de liderança exerceram tão pesada in�uência na ordem
econômica e social destas cidades, que acabam por criar a possibilidade de um no-
vo tipo de urbanização, de uma nova cidade. Eu a chamo de cidade global. Os maio-
res exemplos na década de 80 são Nova York, Londres e Tóquio.

Esses conceitos fazem parte da ciência geográ�ca e são importantes para o


estudo do urbano.

Neste momento, re�ita sobre sua aprendizagem respondendo à questão a se-


guir.

13. Considerações
Neste ciclo, conhecemos o campo da Geogra�a Urbana e vimos que o seu pa-
pel atualmente é o de compreender a cidade com base na realidade vivida.
Vimos também que o pesquisador está inserido no espaço urbano e faz parte
das transformações que ocorrem nesse espaço. Ainda no primeiro tópico tam-
bém vimos uma breve discussão em torno do uso do solo na sociedade capita-
lista e como isso re�ete na formação do espaço urbano. Assim, trouxemos no
segundo tópico a leitura de artigos do livro Geogra�a Urbana Crítica (2018),
nos levando a pensar na noção de práticas socioespaciais, um processo contí-
nuo da reprodução social capitalista. Vimos sobre a da prática socioespacial
da resistência e, em seguida, identi�camos e analisamos por meio das dimen-
sões dos con�itos socioespaciais urbanos, socioambientais e das representa-
ções espaciais, alguns conceitos para o debate da pluralidade teórico-
metodológica na Geogra�a atual. Por �m, vimos dois temas de grande impor-
tância para a compreensão da organização do território brasileiros: a urbani-
zação brasileira e a rede urbana e o crescimento e expansão das cidades.
No próximo ciclo, abordaremos propostas, instrumentos e leis para o planeja-
mento urbano, buscando adequar os padrões físicos espaciais às necessidades
da sociedade, minimizando os con�itos socioespaciais com vistas ao equilí-
brio ambiental e melhor qualidade de vida, se é que isso seja possível em uma
sociedade capitalista.
(https://md.claretiano.edu.br/cargeourbpop-

gp0049-ago-2022-grad-ead-p/)

Ciclo 4 – Planejamento urbano e produção do espaço

Regina Tortorella Reani

Objetivos
• Conhecer a teoria sobre o planejamento urbano e sua aplicação no
Brasil.
• Interpretar o desenvolvimento do planejamento urbano e a sua implan-
tação no país.
• Conhecer a política urbana brasileira, suas principais leis e instrumen-
tos.
• Identi�car o conceito de metropolização no processo da dinâmica e pro-
dução espacial.

Conteúdos
• Planejamento e a Produção do Espaço.
• A leitura do Planejamento e da Política Urbana.
• Metropolização do Espaço.

Problematização
O que é planejamento urbano? Quais as principais concepções teóricas e prá-
ticas do planejamento urbano? Quais as características do planejamento ur-
bano no Brasil? O que é Política Urbana? O que é o Plano Diretor? Qual a im-
portância do Estatuto da Cidade para o planejamento urbano no Brasil? Quais
as principais leis urbanísticas do Brasil? Qual o objetivo de cada uma? Quais
os princípios da Carta de Atenas? Quais as características do planejamento
da cidade de Brasília? O que é metropolização do espaço? E o lugar-
mercadoria?
Orientação para o estudo
Neste ciclo de aprendizagem você deverá �nalizar o Projeto de Prática da dis-
ciplina iniciado no 2º Ciclo de Aprendizagem. Para tanto, é fundamental que
leia atentamente as instruções para seu desenvolvimento. Além disso, suge-
rimos o podcast do canal   Sem Fronteira (https://anchor.fm
/podcastsemfronteira/episodes/A-pesquisa-da-Geogra�a-Urbana-eg28vu),
intitulado “A pesquisa da Geogra�a Urbana”, que retoma, de maneira geral,
tudo o que foi estudado no ciclo anterior permitindo que você se aprofunde
neste, com um olhar mais atento.

1. Introdução
Neste ciclo, conheceremos o que é planejamento urbano e qual a sua impor-
tância para bom desenvolvimento e crescimento das cidades. Estudaremos,
também, que adotar políticas urbanas que dão diretrizes para o ordenamento
espacial, por meio de leis e instrumentos, viabilizam a implantação de tais po-
líticas. E, por �m, traremos uma discussão em torno da Política Urbana no
Brasil.

Bons estudos!

2. Planejamento urbano
Para pensar o planejamento urbano, é preciso adotar as políticas urbanas e di-
retrizes para o ordenamento espacial das cidades, por meio de leis e instru-
mentos que viabilizem a implantação de tais políticas.

O Brasil, como a maioria dos países subdesenvolvidos, passou por um proces-


so de urbanização, com acelerado crescimento urbano. Esse fato aliado a polí-
ticas elitistas adotadas no país contribuíram para o crescimento espraiado e
sem planejamento das cidades, o que resultou na crise urbana a qual vivencia-
mos nos últimos tempos: trânsito caótico, enchentes dos cursos d’água, falta
de saneamento básico, favelas e moradias precárias, com baixo padrão urba-
nístico e de habitabilidade.
Na última década, o país tem apresentado avanços em relação à política urba-
na, com a promulgação do Estatuto da Cidade, que traz novos instrumentos e
diretrizes para a efetivação do planejamento urbano de forma mais justa e
equitativa.

Vamos começar este estudo buscando analisar e discutir o que é o planeja-


mento urbano. Para tanto, vejamos algumas de�nições.

Para Birkholz (1968, p. 3):

Planejamento é um processo de pensamento, um método de trabalho, um meio pa-


ra propiciar um melhor uso da inteligência e das capacidades potenciais do ho-
mem, para o benefício do próprio homem [...] O plano é função dos meios e condi-
ções que a sociedade apresenta numa dada época e, deve ser considerado como vá-
lido em suas diretrizes e objetivos, porém dinâmico em relação aos seus detalhes,
os quais variam com a evolução sócio-econômica do meio para o qual ele foi orga-
nizado [...] O que é importante do ponto de vista do planejamento, não é somente
elaborar o plano, mas sim, organizar a sociedade para que ela continue detalhando
e adaptando o plano em questão, através de seus técnicos durante a sua própria
evolução, em função das modi�cações do meio.

De acordo com Santos (1989, p. 22):

O planejamento é um instrumento orientador do desenvolvimento urbano. Para ser


e�caz, um plano deve compreender três etapas principais: 1. estudo e análise  das
condições concretas de determinada cidade, 2. proposição de situações e metas de-
sejáveis para o futuro; 3. acompanhamento da aplicação das diretrizes e ações re-
comendadas, veri�cação de resultados, elaboração de novas proposições.

Podemos perceber que o planejamento urbano é um processo contínuo, que


envolve a elaboração de planos com o objetivo de organizar o espaço ocupado
pelo homem, e assim obter o melhor aproveitamento desse espaço para o bom
desenvolvimento da vida humana, dotando-o de bens, serviços, equipamentos
e infraestrutura, de modo a respeitar o equilíbrio do meio ambiente e o bem-
estar da população. Para que o planejamento exista, é preciso que ocorra a in-
tervenção governamental e que os indivíduos aceitem a regulação pelo bem
público.

A busca por um melhor planejamento das cidades procura ordenar o espaço, e,


também, trazer uma melhor qualidade de vida à população. Assim, quanto
maior for a adequação do espaço físico melhor será o padrão de qualidade de
vida urbana. Figueiredo (2001) coloca que o planejamento urbano deve ser efe-
tivado a partir de ações dirigidas com a �nalidade de superar os problemas
detectados, atendendo os diferentes níveis de necessidade dos indivíduos.

O planejamento urbano surgiu no �m do século 19 e início do século 20 no


Reino Unido, Europa e Estados Unidos, como uma das respostas aos proble-
mas urbanos surgidos na cidade industrial.

Campos Filho (2001) expõe a ideia inicial do que seria o planejamento urbano
numa de�nição bastante simpli�cada, a�rmando que, para alguns, fazer um
planejamento urbano signi�ca ordenar as cidades e resolver seus problemas.
Para tanto, bastaria listar os problemas e estabelecer uma ordem de priorida-
des na implantação de sua solução, por meio de técnicas adequadas, depen-
dendo dos recursos disponíveis. Seguindo esse método, o objetivo seria alcan-
çado, desde que perseguido honestamente.

Parece ser bem fácil planejar as cidades, mas será que é tão simples assim?

O arquiteto e urbanista Campos Filho (2001) coloca que o planejamento urbano


pode ser estudado por uma abordagem técnico-cientí�ca, e para que sua im-
plementação se dê de forma adequada seria preciso reforçar os centros de pes-
quisa, os órgãos técnicos-governamentais de decisão e  implementar políticas
orientadoras de soluções a �m de excluir os desonestos do processo decisório.

Foi de acordo com esse princípio que se desenvolveu na Europa e nos Estados
Unidos, no �nal do século 19, uma grande ação prática e teórica: o urbanismo
técnico-setorial. Este era baseado na racionalidade da organização e na quali-
dade estética (visual) dos espaços, pouco se importando com a organização
social, onde as cidades industrializadas sofriam um processo de deterioração.
Conhecido, também, como urbanismo sanitarista produziu o saneamento de
áreas inundáveis que, especialmente nos bairros populares, corriam no meio
das ruas, produzindo vários surtos epidêmicos, como a varíola.

Esse urbanismo também tinha como preocupação a abertura de novas vias, a


criação de quadras com densidade máxima, espaços verdes etc. Assim, desde
o �nal do século 19, passou-se a estabelecer normas legais que se constituí-
ram, aos poucos, em códigos de regulamentos urbanísticos quanto às edi�ca-
ções e ao uso, à ocupação e ao parcelamento do solo para �ns urbanos e as po-
líticas de transporte correspondentes que equivalem aos atuais códigos de
obras, trazendo normas para as edi�cações, parcelamento e uso do solo, ou se-
ja, o zoneamento.

Segundo o arquiteto e urbanista Campos Filho (2001, p. 7) esse tipo de planeja-


mento urbano não leva em consideração os problemas sociais.

Essa vertente do urbanismo, que não punha em causa as raízes dos males existen-
tes nas cidades, teve uma aceitação crescente, embora combatida, como ocorre ain-
da hoje, por aqueles que vêem nesses regulamentos administrativos um cercea-
mento do direito ao uso irrestrito da propriedade imobiliária urbana.

Paralelo ao urbanismo técnico-setorial ou sanitarista surge, também, nas ci-


dades europeias e norte-americanas, o urbanismo estético-viário. Este tinha
como preocupação a criação de grandes espaços abertos centrais (praças e
grandes avenidas) destinados a manifestações cívicas burguesas, que abriga-
vam em seu entorno edi�cações monumentais, sedes dos poderes governa-
mentais e civis mais importantes. “O barão Haussman, em Paris é o seu maior
expoente, e a Étoile (estrela) de avenidas tendo ao centro o Arco do Triunfo,
sua maior expressão” (CAMPOS FILHO, 2001, p. 15).

Esse tipo de urbanismo foi bastante funcional para o surgimento e implemen-


tação das cidades contemporâneas, dos veículos automotores (bonde, ônibus,
caminhões e automóveis).

Nos países europeus, em que a industrialização e urbanização estavam mais


avançadas, surgem as correntes socialistas utópicas, que vão de encontro ao
urbanismo e planejamento urbano até então propostos na época. Tal corrente
vai buscar pensar a sociedade como um todo, e os defensores dessa corrente
são denominados por Françoise Choay de culturalistas. Entre os culturalistas,
o estudo mais importante foi o do inglês E. Howard, que no �nal do século 19
publicou: Garden-cities for tomorrow (Cidades para o amanhã).

Howard propôs uma propriedade coletiva da terra com uma organização produtiva
agrícola e industrial de pequena escala, em uma cidade jardim de 32 mil habitan-
tes, proposta como modelo universal e antídoto para os males causados por uma
industrialização selvagem (CAMPOS FILHO, 2001, p. 10).

Após a Segunda Guerra Mundial, em meados do século 20, ocorre uma aproxi-
mação entre os urbanistas utópicos e os urbanistas técnico-setoriais. As cida-
des passam desse modo, a serem pensadas levando-se em consideração uma
ação prática governamental e globalizante, política, teorizada e reformuladora
das instituições sociais, ou seja, o planejamento urbano passa a levar em con-
sideração algumas das questões sociais da época (CAMPOS FILHO, 2001).

Outra corrente urbanística moderna, pró-industrialização e pró-urbana, foi a


classi�cada por Françoise Choay como racionalista-progressista, que teve co-
mo principal representante Le Corbusier. Essa linha também ignorou as dife-
renças entre as classes sociais, pois baseava-se na criação de áreas verdes e
edi�cações verticais, com alta densidade urbana, redutora de custos de urba-
nização pela menor extensão da infraestrutura e equipamentos urbanos.

Brasília indiretamente, por intermédio do urbanista Lúcio Costa, e Chandighard


(capital de um Estado do Norte da Índia), diretamente saída de plano urbano de Le
Corbusier, foram os frutos maiores desse urbanismo racionalista-progressista [...]
Já Belo Horizonte (1886) e Goiânia (1930) nasceram sob orientação do urbanismo
técnico-setorial, tanto sanitário como estético-viário (CAMPOS FILHO, 2001, p. 11).

Essa linha urbanística também não foi capaz de resolver os problemas urba-
nos, pois pautava-se especialmente na construção e na desconstrução de bair-
ros inteiros. Não era capaz de perceber a lógica da desordem urbana, da deteri-
oração ambiental, das habitações precárias e da falta de infraestrutura gene-
ralizada.
Podemos destacar como grande contribuição para o estudo das questões urba-
nas as pesquisas desenvolvidas por Engels e Marx, que analisando o sistema
capitalista, colocaram este como a base da organização da sociedade e ocupa-
ção do espaço urbano. Assim, a terra passa a ser entendida como mercadoria e
a renda da terra fator causal para os problemas urbanos.

Com base na teoria de renda da terra, começou a se pensar na forma como a


cidade se estrutura. Por exemplo, uma área pode ser valorizada, ou não, pela
instalação de determinada infraestrutura urbana. O que leva alguns proprietá-
rios a deixarem de vender suas terras, esperando a instalação de infraestrutu-
ra, que será produzida pelo poder público. Como explica Campos Filho (2001, p.
20):

Esse fenômeno de ganho privado pelo proprietário de imóveis à custa de um inves-


timento da comunidade, através, inclusive da ação estatal, é denominado especula-
ção imobiliária [...] o debate sobre a justiça da apropriação privada desse valor pro-
duzido coletivamente desembocou, em 1975 e 1977 respectivamente, na instituição
de instrumentos �scais que possibilitam, sem garantir, o retorno dessa mais-valia
comunitária para o seu bolso [...] No Brasil, é chamado de “solo criado”, na ocorrên-
cia da urbanização com ou sem edi�cação vertical.

Outra corrente que vem se destacando nas últimas décadas é a do


Planejamento estratégico, que tem como um dos principais autores o econo-
mista chileno Carlos Matus, que prioriza a implantação de uma política demo-
crática e o fortalecimento da cidadania. Esse planejamento rejeita a ideia de
uma só racionalidade, a econômica, na solução de questões políticas e sociais,
e o reconhecimento da pluralidade dos autores envolvidos numa dada realida-
de local.

No Brasil, o planejamento urbano é algo que passou a ser pensado efetivamen-


te a partir da década de 1950 com a crescente urbanização do país. No entanto,
o acelerado crescimento urbano, aliado à falta de iniciativa política, di�cultou
sua prática. O zoneamento urbano e o plano diretor foram adotados como
principais instrumentos para ordenar o crescimento urbano, porém, deixam
certas lacunas no processo de ordenamento da cidade.
50 anos de Brasília

A capital Brasília teve sua obra �nalizada na década de 1960. A cidade é exemplo
de planejamento no mundo todo. Ela foi baseada na corrente urbanística
racionalista-progressita que teve como principal precursor o arquiteto e urbanista,
franco-suiço, Le Corbusier. O plano de Brasília segue os princípios colocados na
Carta de Atenas, documento escrito em 1933, mas publicado em 1942. A Carta de
Atenas foi resultado do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) e
escrita fundamentalmente por Le Corbusier. Nesse documento o autor coloca as
principais concepções do urbanismo moderno.

A cidade de Brasília é considerada como o mais avançado experimento urbano no


mundo que tenha aplicado todos os princípios da Carta de Antenas, este docu-
mento, desenvolve os princípios da chamada “Cidade Funcional”, a cidade, em re-
sumo, deve compreender quatro funções básicas: habitação, trabalho, lazer e cir-
culação. A setorização, ou seja, criação de áreas para moradia, comércio, recreação
e trabalho é uma dos principais pontos da Carta de Atenas.

No entanto, o urbanismo baseado na cidade funcional e na setorização de áreas


apresenta vários pontos negativos, sendo muito criticado, entre esses pontos
destaca-se o fato de não pensar na questão humana, seja do ponto de vista funcio-
nal (caminhalidade, é dada preferência ao veículo do que ao pedestre) ou social
(diferenças sociais).

O mentor de Brasília foi o arquiteto e urbanista Lucio Costa, ele conseguiu repro-
duzir os princípios e formas criados na Carta de Atenas, dando vida ao urbanismo
moderno, através da Cidade Funcional. Lucio Costa foi responsável pelo projeto do
Plano Piloto, enquanto que o arquiteto Oscar Niemeyer foi quem projetou os monu-
mentos e criou as formas. Segundo ele:

Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, in�exível, cria-
da pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que en-
contro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas
ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o
universo, o universo curvo de Einstein (NIEMEYER apud IAB, 2011).

A criação de Brasília foi um marco na história do Brasil, tanto do ponto de vista


urbanístico e de planejamento urbano, mas também da formação e constituição
do território nacional. Como destaca Silva (1983, p. 09):
Brasília não foi uma improvisação, mas o resultado de um amadureci-
mento. Não foi apenas uma mudança da Capital, mas o anuncio de uma
reforma. Não se visa apenas a construção de uma cidade, nem se bata-
lhava apenas pela emancipação de uma região. O Brasil em toda sua ex-
tensão receberia, por igual, os benefícios da interiorização da capital.

Para o Prof. Dr. Roberto Segre (2010 apud UOL, 2010), a capital Brasília representa a
grandiosidade do urbanismo moderno, é um modelo único de cidade. Porém, a sua
concepção envolve não só beleza e grandiosidade, mas também, traços negativos
que retratam o terceiro mundo. A pobreza e a desigualdade social também estão
presentes em Brasília, a cidade foi planejada e projetada para parcela economica-
mente favorecida da sociedade brasileira. A classe com menos poder aquisitivo
coube a ocupação de suas margens, dando origem as cidades satélites, que cresce-
ram e se devolveram sem nenhum planejamento urbano, circundado um dos mai-
ores projetos do urbanismo moderno que foi Brasília.

O arquiteto Frederico de Holanda (2010, apud UOL 2010) faz uma discussão acerca
do uso do solo e especulação imobiliária, para ele o modo como ocorreu a constru-
ção ocupação de Brasília, acabou gerando uma forte segregação e exclusão social.
Tal fato mostra que o Plano urbanístico baseado na Carta de Atenas e no urbanis-
mo moderno ainda não atingiu o planejamento ideal para as cidades. Fica o pen-
samento: será possível construir cidades sustentáveis?

Assim, nesses 50 anos da capital brasileira comemorado em 21 de abril de 2010,


vemos o contraste entre o desenvolvimento e a desigualdade social. Brasília uma
cidade planejada, uma das mais importantes obras do urbanismo moderno de Le
Corbusier, apresenta hoje uma grande desigualdade social, que é evidenciada na
periferia do “projeto piloto”. Brasíla é cercada de cidades satélites, estas são os es-
paços que couberam a população de baixa renda. Brasília é a capital não só do
pais mas também da enorme barreira social no modo de morar do brasileiro.

Ao redor da cidade construída por JK, encontram-se as cidades satélites


do Distrito Federal que circundam o Plano Piloto formando uma com-
plexa periferia. Atualmente, há 19 Regioes Administrativas (RA) criadas
por lei no DF, e Brasília é uma das regiões. Nenhuma RA pode ser politi-
camente autônoma do DF, de acordo com a constituição. Por isso elas
não são e não podem ser municípios. Segundo o Censo Demográ�co de
2000. feito pelo IBGE, a população de Brasília é de 198, 4 mil habitantes e
a do Distrito Federal é de 2,05 milhões (GONÇALVES, 2002, p. 2).
Através desses números podemos ver o contraste existente na capital brasileira,
na parte planejada apenas vivem aproximadamente 184 mil habitantes, enquanto
que nas cidades satélites a população aproximada é de 2 milhões de habitantes.
Os mapas disponíveis nas Figuras 1, 2 e 3 mostram que o Distrito Federal é muito
mais que Brasília, e no entanto, grande parte de sua região está esquecida, e a esta
não coube o planejamento moderno e revolucionário.

Fonte: Gonçalves (2002, p. 3).

Figura 1 Distrito Federal: Brasília e as cidades satélites

Figura 2 Distrito Federal: Brasília


Figura 3 Distrito Federal: regiões administrativas

Planejamento urbano e política urbana no Brasil


O governo intervém sobre as cidades de diferentes maneiras, com instalação
de redes de esgoto, abastecimento de água, construção de avenidas, parques,
casas populares, regulamentação da delimitação de zonas urbanas, abertura
de loteamentos, construção de edifícios pela iniciativa privada, regula a oferta
de transporte público dentre outros. Nos anos 1970 e 1980, o governo federal
teve grande atuação nos campos de saneamento, transporte e habitação.

Porém, todas essas medidas tomadas pelo Estado não são o que caracteriza-
mos como planejamento urbano, pois não têm como objetivo a organização e a
ordenação do espaço urbano e não foram formuladas e aplicadas para cada ci-
dade individualmente. São medidas pontuais para solucionar problemas mo-
mentâneos, sem pensar em longo prazo.

Como explica Scarlato (1995), o planejamento urbano no Brasil sempre foi pou-
co aplicado. A ação do Estado pouco se manifestou enquanto se veri�cava a
grande urbanização/industrialização que comandava a produção do espaço
urbano. Sua ação deu-se sempre no sentido de intervir para ajustar a desor-
dem, e não para suprimi-la.

Como nos coloca Flávio Villaça (1995, p. 45), “no Brasil, o que se pode chamar
de ‘planejamento urbano’ tem dois componentes fundamentais e bastante in-
dependentes um do outro. Um é o zoneamento e o outro o planejamento, este
representado pela �gura do plano diretor e seus equivalentes”.

Assim, o Brasil não tem planejado suas cidades com e�ciência. Podemos ver
isso quando caminhamos pelas ruas ou assistimos ao noticiário: o tráfego car-
regado, os transportes públicos lotados, as habitações em encostas, as en-
chentes, e assim por diante.

A política de zoneamento urbano é o principal instrumento para o planeja-


mento das cidades brasileiras desde as últimas décadas. Villaça (1995, p. 45) o
de�ne: “[...] entende-se por zoneamento a legislação urbanística que varia no
espaço urbano”. Em sua forma mais “completa’’, toda a área urbana e de ex-
pansão urbana é dividida em zonas, sendo que para cada uma a lei de�ne: o
coe�ciente máximo de aproveitamento dos terrenos (relação entre a área total
construída e a área do terreno); a taxa máxima de ocupação dos terrenos (rela-
ção entre a área ocupada por edi�cações e a área do terreno); e, �nalmente, os
usos (atividades que vão ser desenvolvidas no terreno ou na edi�cação) per-
mitidos e proibidos na zona.

O zoneamento tornou-se um instrumento de grande relevância para o planeja-


mento urbano, presente em diferentes países do mundo. Todavia, esse planeja-
mento não se esgota nesse recurso. No Brasil, grande parte do planejamento
urbano já realizado, pauta-se somente nesse instrumento, o qual muitos, erro-
neamente, o chamam de plano diretor, já outros o consideram parte indispen-
sável de um plano diretor.

Villaça (1995) a�rma que o plano diretor está em crise. Inicialmente, ele surge
no país no início do século 20 com o objetivo de “melhoramento e embeleza-
mento”, para melhorar as condições higiênicas e facilitar a circulação entre
seus diversos pontos, dando ao mesmo tempo mais beleza e harmonia e suas
construções. Esse tipo de planejamento/plano diretor perdurou até meados do
século 20. A partir de então, o plano diretor passa a ser substituído por um pla-
no que “[...] nunca atingira seus objetivos e que passará a ser, como ainda é ho-
je, o plano discurso, o plano inconseqüente” (1995, p. 46).

Existe, no Brasil, um abismo entre o discurso do plano diretor e a sua prática.


Como nos expõe Villaça (1999, p. 171):
[...] a partir da década de 1950 desenvolve-se no Brasil um discurso que passa a pre-
gar a necessidade de integração entre os vários objetivos (e ações para atingi-los)
dos planos urbanos. Esse discurso passou a centrar-se (mas não necessariamente a
se restringir) na �gura do plano diretor e a receber, na década de 1960, o nome de
planejamento urbano ou planejamento urbano (local) integrado.

Nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, as cidades sofreram um impacto


da urbanização/industrialização muito mais dramática e acelerada. Desse
modo, nunca conseguiram implantar o planejamento urbano moderno de mo-
do e�ciente, devido à dimensão dos problemas sociais.

Conforme o Instituto Pólis (2005, p. 25):

O planejamento – principalmente por meio de Planos Diretores e de zoneamentos –


estabelece uma cidade virtual, que não se relaciona com as condições reais de pro-
dução da cidade pelo mercado, ignorando que a maior parte das populações urba-
nas tem baixíssima renda e nula capacidade de investimento [...] Desta forma,
de�nem-se no âmbito local os interlocutores dos planos e zoneamentos, destinan-
do para os mais pobres o espaço da política habitacional e a gestão da ilegalidade.
Produzidos de forma autoconstruída nos espaços ‘que sobram’ da cidade regulada –
ou seja, áreas vedadas para o estabelecimento dos mercados formais (como beirais
de córrego, encostas, áreas rurais ou de preservação), os assentamentos precários
serão, então, objeto de gestão cotidiana. Esta trata de incorporar, a conta gotas, es-
tas áreas à cidade, regularizando, urbanizando, dotando de infra-estrutura e nunca
eliminando de�nitivamente a precariedade e as marcas da diferença em relação às
áreas reguladas. Perpetua-se assim uma dinâmica altamente perversa sob o ponto
de vista urbanístico – de um lado, áreas reguladas, são produzidos ‘vazios’ e áreas
subutilizadas; de outro, reproduz-se ao in�nito a precariedade dos assentamentos
populares. A despeito de sua aparente irracionalidade urbanística, esta dinâmica
tem alta rentabilidade política.

Maricato (2000, p. 123) complementa dizendo que:


A ilegalidade é, portanto, funcional – para as relações políticas e arcaicas, para um
mercado imobiliário restrito e especulativo, para a aplicação arbitrária da lei de
acordo com a relação de favor. Dependendo do ponto de vista, no entanto, ele é mui-
to disfuncional: para a sustentabilidade ambiental, para as relações democráticas e
mais igualitárias, para a qualidade de vida urbana, para a ampliação da cidadania.

Foi durante o regime militar que a atividade de planejamento urbano mais se


desenvolveu no Brasil. As diretrizes foram dadas pela PNDU – Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano, prevista no II PND – Plano Nacional de
Desenvolvimento, elaborado para o governo do General Ernesto Geisel, em
1973. Ocasião em que foram criados dois órgãos importantes, a SAREM –
Secretaria de Articulação entre Estados e Municípios, e o SERFHAU – Serviço
Federal de Habitação e Urbanismo. Mais adiante, foram também criadas a
Comissão Nacional de Política Urbana – CNPU, a Fundação Nacional de
Desenvolvimento Urbano – FNDU e a Empresa Brasileira de Transporte
Urbano – EBTU.

Assim, o Brasil tinha um sistema de diretrizes de planejamento que vigoraram


até 1980. Nesse período, uma grande quantidade de Planos Diretores foi elabo-
rada, porém, em sua maioria, por especialistas pouco engajados na realidade
sociocultural local. A população não foi ouvida, nem mesmo os técnicos mu-
nicipais (MARICATO, 2000).

Atualmente, muitas cidades têm plano diretor, mas muitas vezes esses são ex-
tremamente técnicos e pouco utilizados, como coloca Maricato (2000, p. 124):

[...] não é por falta de Planos Urbanísticos que as cidades brasileiras apresentam
problemas graves [...], mas por que seu crescimento se faz ao largo dos planos apro-
vados nas Câmaras Municipais, que seguem interesses tradicionais da política lo-
cal e grupos especí�cos ligados ao governo de plantão.

Há, hoje, uma abundante legislação urbanística e aparatos regulatórios que


normatizam a produção do espaço urbano no Brasil – leis de zoneamento, de
parcelamento dos solos, de proteção de mananciais – e não é por falta dessas
que as cidades crescem de forma caótica. Segundo Maricato (2000, p. 147), “[...]
a ine�cácia dessa legislação é, de fato, apenas aparente, pois, constitui um ins-
trumento fundamental para o exercício arbitrário do poder além de favorecer
pequenos interesses corporativos”. E acrescenta que: “[...] a ocupação ilegal da
terra urbana é não só permitida como faz parte do modelo de desenvolvimento
urbano no Brasil”.

Dessa maneira, podemos concluir aqui que o planejamento urbano no Brasil


carece de maiores estudos e maiores esforços para a sua implantação. Existe
uma distância muito grande entre teoria e prática. Muitas das medidas adota-
das nas cidades são intervenções pontuais, para resolver um problema mo-
mentâneo. Contudo, é preciso pensar em políticas a longo prazo, que bene�ci-
em a qualidade de vida nas cidades, nesse intenso processo de urbanização.

O Brasil deu dois passos de grande importância nesse sentido, o primeiro foi a
aprovação do Estatuto da Cidade, Lei no 10.257/01, que regulamenta os Artigos
182 e 183 da Constituição Federal e o segundo, a criação do Ministério das
Cidades, instituído em 1º de janeiro de 2003, por meio da Medida Provisória nº
103, depois convertida na Lei nº 10.683, de 28 de maio do mesmo ano, sendo
responsável pelas seguintes Secretarias Nacionais: de Habitação, de
Saneamento Ambiental, de Transporte e Mobilidade e de Programas Urbanos.

Agora que já entendemos o que é o planejamento urbano, vamos assistir ao ví-


deo que procura responder a seguinte questão: Como o planejamento urbano
pode reduzir a desigualdade e promover a equidade em uma cidade?

Quem tentará responder essa questão será o arquiteto e urbanista Anthony


Ling, fundador da Caos Planejado. Con�ra!
O conceito de segregação espacial e as inúmeras representações
 no espaço urbano

Para �nalizar este tópico, traremos o artigo A cidade contemporânea: se-


gregação espacial (https://revista.fct.unesp.br/index.php/cpg/article/vi-
ew/3067/2587), de Vasconcelos; Corrêa e Pintaudi (2013), que analisou a
abordagem da segregação sócio espacial no Ensino Básico de Geogra�a.
Inicialmente, a autora faz uma análise dos livros do PNLD (Programa
Nacional do Livro Didático) e, em seguida, dos materiais produzidos pela
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Lembrando que neste ciclo você deve �nalizar o Projeto de Prática e este
será um texto fundamental em sua formação pro�ssional e para a con-
clusão desta disciplina.

3. Política Urbana e Legislação Urbanística


A cidade e o espaço urbano, como já estudamos, são os locais de representação
dos con�itos sociais, da desigualdade de classes, das injustiças sociais, onde a
divisão do trabalho se estabelece de maneira mais forte. A atuação de políti-
cas nessa área é, também, bastante complexa.

A política urbana tem como objetivo propiciar o crescimento e o desenvolvi-


mento das cidades, por meio de leis e instrumentos que possibilitem o melhor
planejamento e ordenamento das cidades, de modo a garantir uma boa quali-
dade de vida para a sociedade.

A legislação urbanística tem grande importância no crescimento e expansão


das cidades, visto que estabelece normas e diretrizes para o melhor planeja-
mento urbano, visando à qualidade de vida.

O Brasil possui uma legislação urbanística e ambiental bastante avançada.


Porém, muitas vezes, esta não é aplicada como deveria. As cidades estão po-
tencialmente instrumentalizadas técnica e juridicamente para ordenarem o
uso do solo, de forma a proteger o meio ambiente. No entanto, segundo
Leonelli (2003, p. 37):

[...] na prática atribuir usos e ocupações desejáveis ao solo urbano confronta direta-
mente com a propriedade da terra e o mercado imobiliário local e consequente-
mente com poder social, econômico e político de um dado território.

Assim, a aplicação das leis acaba encontrando diversas barreiras,


confrontando-se com o poder político e social.

De acordo com o Instituto Pólis (2005, p. 25):

[...] perpetua-se assim uma dinâmica altamente perversa sob o ponto de vista urba-
nístico – de um lado, áreas reguladas, são produzidos “vazios” e áreas subutiliza-
das; de outro, reproduz-se ao in�nito a precariedade dos assentamentos populares.
A despeito de sua aparente irracionalidade urbanística, esta dinâmica tem alta ren-
tabilidade política.

Desse modo, o planejamento urbano tem sua funcionalidade, quando atende


os interesses econômicos (do capital), e sua disfuncionalidade, quando atende
aos interesses sociais e ambientais, sendo que, na verdade, deveria atender as
necessidades do todo, e não das partes mais favorecidas economicamente.

Observa-se a existência de uma abundante legislação urbanística e aparatos


regulatórios que normatizam a produção do espaço urbano no Brasil – leis de
zoneamento, parcelamento do solo, proteção de mananciais – e não é por falta
dessas que as cidades crescem de forma caótica. Rolnik (2001, apud
LEONELLI, 2003, p. 37), por meio de estudo realizado em São Paulo, a�rma que:

[...] não se trata de desordem ou falta de plano, mas sim da formulação de um pacto
territorial que preside o desenvolvimento da cidade há mais de 50 anos,
impedindo-o de crescer com graça, justiça e beleza.

A autora demonstra por intermédio da base jurídica-urbanística que: “[...] a


ine�cácia da legislação urbanística em regular a produção da cidade é a ver-
dadeira fonte de seu sucesso político”(ROLNIK apud LEONELLI, 2003, p. 37).

A legislação urbanística refere-se ao conjunto de leis que ordenam o uso e a


ocupação do solo. Tal legislação é fundamental para a vida urbana, por nor-
matizar construções e de�nir o que pode ser feito em cada terreno particular.

A legislação ambiental visa à proteção e à preservação do meio ambiente, bus-


cando regularizar o seu uso, de modo a garantir o equilíbrio ambiental. Nas
áreas urbanas, isso tem se tornado um importante desa�o, uma vez que a ur-
banização ocorre de forma impactante, causando degradações e depredações
ambientais.

As Leis Federais, Estaduais e Municipais são de extrema importância na ad-


ministração e no desenvolvimento da união, dos estados e municípios.
Existindo uma hierarquia entre elas, uma lei municipal não pode se contrapor
ao disposto pelo Estado que, por sua vez, deve obedecer ao que foi estabelecido
pela União.

Veremos, agora, algumas das principais leis federais urbanísticas e, também,


ambientais, e seus principais instrumentos, os quais são de grande relevância
para a implantação da política urbana, ordenamento e planejamento do espa-
ço urbano.

Constituição Federal de 1988


A Constituição Federal de 1988 teve grande in�uência do movimento de
Reforma Urbana. O principal ganho foram os Artigos 182 e 183 (BRASIL, 2011a)
que tratam da Política Urbana:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público mu-
nicipal, conforme diretrizes gerais �xadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus ha-
bitantes. § 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de de-
senvolvimento e de expansão urbana. § 2º - A propriedade urbana cumpre sua fun-
ção social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade ex-
pressas no plano diretor.§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas
com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público
municipal, mediante lei especí�ca para área incluída no plano diretor, exigir, nos
termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edi�cado, subutilizado ou
não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessiva-
mente, de: I - parcelamento ou edi�cação compulsórios; II - imposto sobre a propri-
edade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com
pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada
pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais,
iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta me-
tros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a pa-
ra sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja pro-
prietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão
de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil.

O Artigo 182 torna obrigatório o Plano Diretor, aprovado pela Câmara, para ci-
dades com mais de 20 mil habitantes, controlando assim o desenvolvimento e
a expansão urbana. O município passa a ter autonomia para legislar sobre as-
suntos de interesses locais (Artigo 30). As desapropriações de imóveis urba-
nos passam a ser feitos mediante indenização. O artigo ainda prevê o parcela-
mento ou edi�cação compulsórios; imposto sobre a propriedade predial e ter-
ritorial urbana progressiva no tempo; desapropriação com pagamento medi-
ante títulos da dívida pública. No entanto, esses instrumentos são facultados
ao poder municipal. O Artigo 183 prevê o domínio de área urbana de até 250
m2, ocupada por cinco anos ininterruptamente, e coloca, ainda, que os imóveis
públicos não serão adquiridos por usucapião.

Podemos destacar aqui, também, o Artigo 225 (BRASIL, 2011), que é comple-
mentar na medida em que coloca como sendo importante o meio ambiente
para proporcionar sadia qualidade de vida, sendo este direito de todos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e fu-
turas gerações.

Como vimos, a Constituição Federal atribui ao governo municipal o planeja-


mento das cidades, de modo a proporcionar o direito à moradia, à função soci-
al da propriedade, bem como a um meio ambiente saudável para as presentes
e futuras gerações.

Estatuto da Cidade – Lei no 10.257/01


Após as promulgações da Constituição Federal de 1988, o Senador Pompeu de
Souza apresentou o Projeto de Lei nº 5.788/90, visando a regulamentar os
Artigos 182 e 183 da Constituição Federal. Foram realizados inúmeros debates,
seminários e congressos e, após mais de 10 anos, a Lei nº 10.257/01 – Estatuto
da Cidade, foi aprovada. Está regulamentada, assim, a Política Urbana no
Brasil.

É importante ressaltar que o Estatuto da Cidade teve seus instrumentos de po-


lítica urbana regulamentados com base nas experiências de política urbana,
habitacional e de regularização fundiária e de participação popular vivencia-
das em diversas cidades brasileiras na década de 1990 (SAULE JR., 2001).

O Estatuto da Cidade foi encarregado pela Constituição de de�nir o que signi�-


ca cumprir a função social da cidade e da propriedade urbana. Conforme
Rolnik (2001, p. 5):

 [...] a nova lei delega esta tarefa para os municípios, oferecendo para as cidades um
conjunto inovador de instrumentos de intervenção sobre seus territórios, além de
uma nova concepção de planejamento e gestão urbanos.

A nova lei veio nortear o planejamento urbano, tendo como objetivo a promo-
ção da equidade e um ambiente mais equilibrado. Em seu Capítulo I “Diretrizes
Gerais”, no Artigo 1º, Parágrafo Único (BRASIL, 2011b), coloca que:

[...] Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do
bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

As inovações contidas no Estatuto situam-se em três campos, os quais, segun-


do Rolnik (2001, p. 5) são:

[...] um conjunto de novos instrumentos de natureza urbanística voltados para in-


duzir, não mais do que normatizar, as formas de uso ocupação do solo; uma nova
estratégia de gestão que incorpora a idéia de participação direta do cidadão em pro-
cessos decisórios sobre o destino da cidade e a ampliação das possibilidades de re-
gularização das posses urbanas, até hoje situadas na ambígua fronteira entre o le-
gal e o ilegal.

Assim, o Estatuto da Cidade traz novos instrumentos para induzir as formas


de uso e ocupação do solo, a gestão participativa e a ampliação da possibilida-
de de regularização das posses urbanas. Rolnik (2001, p. 15) complementa, ain-
da, dizendo que:

[...] ao invés de declarar a crença em um suposto planejamento urbano racional e


salvador e desa�ar um receituário dos passos e instrumentos que garantem uma
cidade perfeita e sem con�itos, estabelece de forma clara e aberta formas possíveis
de diálogo entre planejamento e gestão, planejamento e política.

Desse modo, o Estatuto da Cidade veio contribuir para um planejamento urba-


no mais justo e igual, incorporando uma parcela excluída da sociedade na ad-
ministração pública, por meio da gestão democrática.

Um dos pontos principais discutido no Estatuto da Cidade é a questão do uso


do solo, por meio da regularização fundiária, que diminui os impactos da urba-
nização desigual sofrida pelo país, e a regularização da cidade informal. De
acordo com Bezerra e Fernandes (2000, p. 7), “[...] não há dúvida sobre a ênfase
dos legisladores na questão do controle social do uso e da ocupação do solo ur-
bano. De fato a questão é crucial para o desenvolvimento local sustentável”.

Entre as diretrizes gerais de política urbana, previstas no Artigo 2º (BRASIL,


2011b), do Estatuto da Cidade, cabe destacar:

I- Garantia do direito à cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urba-


na, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações re-


presentativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

IV – planejamento do desenvolvimento das cidades [...] de modo a evitar e corrigir


as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambien-
te;

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: [...] a poluição e degra-


dação ambiental;

XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de


baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e
ocupação do solo e edi�cação, consideradas a situação socioeconômica da popula-
ção e as normas ambientais.

Dessa forma, o Estatuto tem como objetivo organizar as cidades de forma mais
justa e equitativa, com distribuição de bens e serviços à população, de modo a
garantir um ambiente equilibrado. Para isso, o Estatuto pode se utilizar dos
instrumentos de regulação e ordenação urbanística, produzindo, assim, cida-
des sustentáveis.

São previstos como instrumentos da política urbana, Capítulo II, Seção I,


Artigo 4º (BRASIL, 2011b):
I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desen-
volvimento econômico e social;

II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrre-


giões;

III – planejamento municipal, em especial:

a) plano diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;
c) zoneamento ambiental;
d) plano plurianual;
e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;
f) gestão orçamentária participativa;
g) planos, programas e projetos setoriais;
h) planos de desenvolvimento econômico e social;

IV – institutos tributários e �nanceiros:

a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU;


b) contribuição de melhoria;
c) incentivos e benefícios �scais e �nanceiros;

V – institutos jurídicos e políticos:

a) desapropriação;
b) servidão administrativa;
c) limitações administrativas;
d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;
e) instituição de unidades de conservação;
f) instituição de zonas especiais de interesse social;
g) concessão de direito real de uso;
h) concessão de uso especial para �ns de moradia;
i) parcelamento, edi�cação ou utilização compulsórios;
j) usucapião especial de imóvel urbano;
l) direito de superfície;
m) direito de preempção;
n) outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso;
o) transferência do direito de construir;
p) operações urbanas consorciadas;
q) regularização fundiária;
r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais me-
nos favorecidos;
s) referendo popular e plebiscito;

VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizi-


nhança (EIV).

O Estatuto da Cidade, segundo Saule Jr. (2001), de�ne quais são as ferramentas
que o Poder Público, especialmente o município, deve utilizar para enfrentar
os problemas de desigualdade social e territorial nas cidades, mediante a apli-
cação das seguintes diretrizes e instrumentos de política urbana:

• Diretrizes gerais da política urbana, cabendo destacar a garantia do direi-


to às cidades sustentáveis, à gestão democrática da cidade, à ordenação e
controle do uso do solo visando evitar a retenção especulativa de imóvel
urbano, à regularização fundiária e à urbanização de áreas ocupadas por
população de baixa renda.

Instrumentos destinados a assegurar que a propriedade urbana atenda a sua


função social, tais como o Plano Diretor, o parcelamento e edi�cação compul-
sória de áreas e imóveis urbanos, o imposto sobre a propriedade urbana (IPTU)
progressivo no tempo, a desapropriação para �ns de reforma urbana, o direito
de preempção, a outorga onerosa do direito de construir (solo criado).

• Instrumentos de regularização fundiária, como a usucapião urbano, a


concessão de direito real de uso, as zonas especiais de interesse social.
• Instrumentos de gestão democrática da cidade: conselhos de política ur-
bana, conferências da cidade, orçamento participativo, audiências públi-
cas, iniciativa popular de projetos de lei, estudo de impacto de vizinhan-
ça.

Os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade tentam coibir a lógica da for-


mação de preços do mercado imobiliário de áreas vazias e subutilizadas, as-
sim como o IPTU progressivo no tempo e a edi�cação e parcelamento compul-
sórios, tentando, assim, controlar a expansão horizontal das cidades, que inva-
dem as áreas rurais e de preservação ambiental. Boa parte dos instrumentos
depende de planos diretores ou leis municipais especí�cas para serem aplica-
dos. Desse modo, �ca fácil prever a dimensão dos obstáculos que surgirão para
suas aprovações em qualquer Câmara (ROLNIK, 2001).

O Estatuto da Cidade pode ser um poderoso instrumento dos municípios para


a promoção do desenvolvimento urbano. Como aponta Moreira (2001, p. 17):

[...] este poderá ser utilizado para evitar a ocupação de áreas não su�cientemente
equipadas, evitar a retenção especulativa de imóveis vagos ou subutilizados, pre-
servar o patrimônio cultural ou ambiental, exigir a urbanização ou ocupação com-
pulsórias de imóveis ociosos, captar recursos �nanceiros destinados ao desenvolvi-
mento urbano e exigir a reparação de impactos ambientais.

Dessa forma, os municípios encontram no Estatuto da Cidade um importante


subsídio para controlar seu crescimento, amenizando os impactos socioambi-
entais existentes nas últimas décadas, e, assim, produzir um planejamento ur-
bano mais e�ciente. Para tanto, porém, é essencial que se realize a gestão de-
mocrática da cidade, de modo a garantir o meio ambiente saudável e melhores
condições de vida a toda população.

Lei de Parcelamento do Solo – Lei no 6.766/79 (Lei


Lehman) e alterações pela Lei no 9.785/99
Essa lei, mais antiga, é considerada como uma das mais importantes para o
planejamento urbano. Ela normaliza as várias modalidades de parcelamento
do solo: loteamentos e desmembramentos. Visa dar garantias técnicas e jurí-
dicas aos adquirentes dos lotes.

O Artigo 2º da Lei nº 6.766/79 (BRASIL, 2011c), alterado pela Lei nº 9.785/99


(BRASIL, 2011e), coloca algumas de�nições importantes, que normatizam os
loteamentos e desmembramentos, o lote e a infraestrutura básica:
Art. 2º. O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou
desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das Legislações
Estaduais e Municipais pertinentes.

§ 1º - Considera-se loteamento a subdivisão da gleba em lotes destinados à edi�ca-


ção, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolon-
gamento, modi�cação ou ampliação das vias existentes.

§ 2º - Considera-se desmembramento a subdivisão de glebas em lotes destinados à


edi�cação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não impli-
que na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, mo-
di�cação ou ampliação dos já existentes.

§ 3º - Considera-se lote o terreno servido de infra-estrutura básica cujas dimensões


atendam aos índices urbanísticos de�nidos pelo plano diretor ou lei municipal pa-
ra a zona em que se situe.

§ 4º - Consideram-se infra-estrutura básica os equipamentos urbanos de escoa-


mento das águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abasteci-
mento de água potável, e de energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circu-
lação pavimentadas ou não.

A Lei Federal nº 6.766, publicada em 19 de dezembro de 1979, estabelece regras


para o parcelamento do solo urbano. A referida lei tem como objetivo princi-
pal, dentro do parcelamento do solo para �ns urbanos, o processo de transfe-
rência da propriedade, bem como ordenar a expansão do solo urbano, visando
prevenir problemas urbanísticos, e o ordenamento urbanístico em todo territó-
rio nacional, a despeito das enormes desigualdades regionais existentes no
Brasil.

Mota (1999) a�rma que o parcelamento do solo (tanto na forma de loteamento


ou desmembramento) é um dos instrumentos urbanísticos utilizados para
promover a organização territorial dos municípios brasileiros, uma vez que a
expansão urbana se faz por meio de novos lotes urbanos. Devido a este instru-
mento pode-se exigir uma distribuição adequada dos lotes, equipamentos, vi-
as, dimensões dos lotes, infraestrutura mínima etc.

Como expõe Leonelli (2003), ao parcelar uma terra privada, está se de�nindo o
uso coletivo. Uso e destinação que todos os cidadãos terão que compartilhar
nessa e nas futuras gerações. Portanto, a aprovação de loteamentos consiste
em um ato do poder público municipal de mais alta responsabilidade quanto à
qualidade de vida urbana.

Segundo Villaça (1999, p. 172), “[...] a Lei Federal 6766/79, que regula os lotea-
mentos, é a mais próxima do planejamento urbano, pois trata-se de uma lei es-
peci�camente espacial. Seu objetivo é organizar o espaço”. Desse modo, essa
lei tem sido o principal meio para normatizar a organização das cidades nas
últimas décadas no país. A lei disciplina o parcelamento do solo, com parâme-
tros urbanísticos mínimos para implantação de loteamentos, além de poderes
para criminalizar o promotor de loteamentos ilegais, entre outros.

Os principais requisitos urbanísticos apresentados pela lei são:

1. Área mínima de lote igual ou maior do que 125 m² e frente mínima de 5 me-
tros, exceto nos casos de urbanização especí�ca ou edi�cação de conjuntos
habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos órgãos com-
petentes.
2. Reserva obrigatória de faixa não edi�cante de 15 metros de cada lado ao longo
das águas correntes, dormentes, dutos, rodovias e ferrovias.
3. Proporcionalidade entre a densidade de ocupação prevista para a gleba e as
áreas de circulação, equipamentos urbanos e comunitários e espaços livres
de uso público.
4. Percentagem de áreas públicas não inferior a 35% do total da área da gleba lo-
teada.
5. Proibição do parcelamento em terrenos com declividade superior a 30%, exce-
to se atendidas as exigências especí�cas das autoridades competentes
(BRASIL, 2011c).

Os requisitos urbanísticos proporcionam uma melhor adequação do espaço


construído ao espaço natural, bene�ciando a própria população e o meio am-
biente, relacionando os aspectos sócio-econômicos e físicos das áreas urba-
nas.

Código Florestal – Lei n° 4.771/65, alterado pela Lei n°


7.803/89
O Código Florestal, de 1965, é um importante instrumento de preservação do
meio ambiente urbano. O Artigo 2º do Código Florestal, Lei n° 4.771/65 alterado
pela Lei n° 7.803/89 (BRASIL, 2011d), delimita áreas de preservação permanen-
te (APPs):

Art. 2° Consideram-se áreas de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as


�orestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em fai-
xa marginal cuja largura mínima seja:

1- de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largu-


ra;
2- de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinqüenta) metros de largura;
3- de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
4- de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a
600 (seiscentos) metros de largura;
5- de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou arti�ciais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados "olhos d'água", qualquer
que seja a sua situação topográ�ca, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de
largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a


100% na linha de maior declive;

f) nas restingas, como �xadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em


faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vege-
tação.
Ficam, assim, estabelecidas, mediante o Código Florestal, as áreas de preser-
vação permanente (APPs) como sendo aquelas: ao longo dos cursos d’água,
nascentes, olhos d’água, lagoas, lagos ou reservatórios, com respectivas faixas
de largura, que variam conforme a largura do curso d’água. Cabe salientar que
o Código Florestal é posterior a Lei nº 6.766/79, que previa a faixa não edi�-
cante de 15 metros ao longo de cursos d’água. Segundo o Código Florestal, a
faixa mínima é de 30 metros, variando para maior conforme a largura do cur-
so d’água.

Foram levantadas aqui algumas das principais Leis Federais de grande rele-
vância para a implantação da política urbana. Essas leis trazem as diretrizes e
instrumentos para efetivação do planejamento urbano com qualidade e justiça
social, por meio da gestão democrática, garantia da função social da proprie-
dade urbana e preservação do meio ambiente equilibrado.

Como vimos, o Brasil possui uma legislação urbanística e ambiental bastante


avançada. Porém, muitas vezes, esta não é aplicada como deveria. Conheça a
lei 10.257/01 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001
/L10257.htm), denominada Estatuto da Cidade, que regulamenta os arts. 182 e
183 da Constituição Federal (1988). E, para �nalizar, assista ao vídeo a seguir
de uma palestra realizada em um curso de extensão em Planejamento Urbano,
coordenado pelo Laboratório de Estudos Urbanos (LEUrb) - Grupo de Pesquisa
da UGRGS, que aproxima comunidade e universidade. É um vídeo comple-
mentar, com vários exemplos e que aborda a discussão sobre a práxis do
Estatuto da Cidade.

4. Metropolização do Espaço
Neste último tópico, vamos ler artigos do livro A necessidade da Geogra�a
(2019), que traz questões respondidas por renomados geógrafos brasileiros. O
primeiro texto (que indicamos a seguir), é de Sandra Lencioni, sobre a metro-
polização do espaço. A pesquisadora entende que a metropolização, enquanto
conceito, se coloca na pauta atual das discussões para compreender a dinâmi-
ca espacial. Ela parte da de�nição do conceito para, em seguida, discutir algu-
mas das principais concepções de metropolização, "procurando desvelar sua
potencialidade para a compreensão do real", como escreveu.

 Vamos conhecer as principais concepções de metropolização?

Para enriquecer ainda mais seu conhecimento e complementar o que es-


tudamos até o momento, indicamos a seguinte leitura:   LENCIONI, S.
Metropolização do espaço. In. CARLOS, A. F. A.; CRUZ, R. C. A. (Org.). A ne-
cessidade da Geogra�a. São Paulo: Contexto, p. 131-139, 2019.
Faça a sua busca pelo nome da obra na página da Biblioteca Virtual
Pearson.

Entende-se que a metropolização não é o processo de transformação de espa-


ços urbanos em metropolitanos, mas sim, um conceito polissêmico, e se refere
as transformações da produção do espaço. Assim, refere-se à globalização e ao
contexto neoliberal. É "o momento em que o urbano e o mundial, maximizam
o amálgama que os constituíram e que os modi�cam reciprocamente em no-
me do capital". Para tanto, indicamos outro artigo.

Que tal aprofundarmos sobre as transformações da produção do


 espaço?

Sugerimos a leitura do artigo recomendado a seguir, para melhor contex-


tualização sobre a dinâmica espacial:

CRUZ, R. C. A. O lugar-mercadoria. In. CARLOS, A. F. A.; CRUZ, R. C. A.


(Org.). A necessidade da Geogra�a. São Paulo: Contexto, p. 163-172, 2019.
Faça a sua busca pelo nome da obra na página da Biblioteca Virtual
Pearson.

Sugerimos, agora, que você dê uma pausa na sua leitura e re�ita sobre
sua aprendizagem realizando a questão a seguir.

5. Considerações
Neste ciclo de aprendizagem você estudou o planejamento urbano e a po-
lítica urbana, a partir de uma discussão em torno do nosso país.
Trouxemos as legislações mais importantes que ditam as diretrizes para
o ordenamento espacial e ousamos, ao inserir a análise do conceito de
metropolização do espaço, uma discussão atual, necessária, para a com-
preensão da dinâmica do espaço.

Mas, como pensar em planejamento urbano ou qualquer plano que envol-


va a sociedade sem conhecer a sua população? Esse desa�o será o nosso
foco do quinto e último ciclo de aprendizagem desta disciplina.
(https://md.claretiano.edu.br/cargeourbpop-

gp0049-ago-2022-grad-ead-p/)

Ciclo 5 – Análise Populacional

Objetivos
• Identi�car e re�etir sobre os fundamentos da Geogra�a da População.
• Identi�car as fases do crescimento demográ�co, bem como a estrutura
da população.
• Compreender os fatores que impulsionam os movimentos migratórios
nacionais e internacionais.

Conteúdos
• Fundamentos da Geogra�a da População e o Crescimento Demográ�co.
• Principais Estruturas da População.
• Movimentos Migratórios.

Problematização
O que é população? Como este conceito evoluiu? Qual a importância do estu-
do demográ�co? Qual o conceito de demogra�a? Qual a importância do estu-
do da demogra�a na Geogra�a? Quais são as fases do crescimento demográ-
�co? Quais são as estruturas da população etária e ocupacional? O que é pirâ-
mide etária? O que é estrutura populacional? Quais são as teorias demográ�-
cas? O que são movimentos migratórios? Quais fatores impulsionam os mo-
vimentos populacionais? Quais as diferenças entre os movimentos migrató-
rios internacionais e nacionais?

Orientação para o estudo


Neste ciclo de aprendizagem veremos mais a fundo a Geogra�a da
População, um ramo da Geogra�a Humana. Para tanto, vamos utilizar como
base a obra Geogra�a da População, de 2016, organizada por Wiviany Mattozo
Araujo, geógrafa formada na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Sugerimos a leitura da introdução deste livro (disponível na Biblioteca
Virtual Pearson) para que tenha uma experiência convidativa para as próxi-
mas leituras.

1. Introdução
Neste quinto e último ciclo de aprendizagem, estudaremos a Geogra�a da
População, identi�cando e re�etindo sobre os fundamentos deste ramo da
Geogra�a. Veremos as fases do crescimento demográ�co, assim como a estru-
tura da população. E, por �m, veremos os fatores que impulsionam os movi-
mentos migratórios nacionais e internacionais.

Bons estudos!

2. Fundamentos da geogra�a da população


Agora que você já leu a introdução, podemos prosseguir na leitura da obra a
seguir. No capítulo 1, veremos os fundamentos da Geogra�a da População, um
tópico essencial para entender o conceito de "população" e como este é insepa-
rável do objeto de estudo da Geogra�a, o espaço geográ�co. Para tanto, e para
além do que é população, também veremos que este estudo sempre foi uma
preocupação da sociedade, e o recorte proposto tem início desde a antiguidade
aos dias atuais. Por �m, veremos alguns termos que são amplamente utiliza-
dos na análise dos fenômenos em demogra�a, como taxa, razão, proporção e
idade, além de de�nir o que é população absoluta e densidade demográ�ca,
passando por natalidade, fecundidade e mortalidade, e �nalizando com expec-
tativa de vida, estrutura etária e migração. Ou seja, veremos uma apresentação
de termos fundamentais para prosseguir.

 Pronto para saber mais sobre a geogra�a da população?

O capítulo 1 da obra indicada, traz o essencial para entender o conceito


de "população" e como este é inseparável do objeto de estudo da
Geogra�a, o espaço geográ�co.

ARAUJO, Wiviany Mattozo de. Geogra�a da População. Curitiba:


InterSaberes, p.15-46, 2016. Faça a sua busca pelo nome da obra na pági-
na da Biblioteca Virtual Pearson.

Um material interessante para nós, cidadãos e professores de Geogra�a, pode


ser visto no canal do IBGE (https://www.youtube.com/c/ibgeo�cial/videos), no
YouTube. São vários vídeos que trazem temas diversos, com abordagem didá-
tica, lúdica e simples, em sua maioria curtos, que podem ser utilizados em au-
las remotas ou mesmo presenciais. Vale a pena conferir e assistir aos vídeos
relacionados com as temáticas abordadas neste tópico. Como sugestão, segue
o vídeo abaixo:

3. Crescimento demográ�co: estrutura da po-


pulação
Neste item, veremos as fases do crescimento demográ�co, a estrutura da po-
pulação etária e ocupacional, pirâmide etária, estrutura ocupacional e teorias
demográ�cas. A ideia é retratar o crescimento demográ�co e suas alterações
ao longo do tempo, seja na expansão ou retração de uma população. Faça a lei-
tura das páginas 55 a 81, da obra Geogra�a da População (ARAUJO, 2016) e veja
como foi associado esse processo ao momento histórico que in�uenciou essa
dinâmica.

 Vamos aprender mais sobre o crescimento demográ�co?


Nas páginas 55 à 81, da referida obra, trataremos sobre o crescimento de-
mográ�co. Boa leitura!

ARAUJO, Wiviany Mattozo de. Geogra�a da População. Curitiba:


InterSaberes, p. 55-81, 2016. Faça a sua busca pelo nome da obra na pági-
na da Biblioteca Virtual Pearson.

 Alguns podcasts que você precisa ouvir!

Para complementar seus estudos, sugerimos alguns podcasts sobre os


temas aqui abordados. Todos os áudios foram retirados do canal
Geogra�a em Pauta e atendem aos objetivos desta disciplina, pelo menos
para este tópico. Con�ra!

• Demogra�a: Conceitos Demográ�cos (https://anchor.fm


/rogerdautry-praxedes-arca/episodes/Demogra�a-Conceitos-
Demogr�cos-eir5aj).
• Estrutura Etária Ocupacional (https://anchor.fm/rogerdautry-
praxedes-arca/episodes/Estrutura-Etria-Ocupacional-emer5p).
• Teorias Demográ�cas (https://anchor.fm/rogerdautry-praxedes-
arca/episodes/Teorias-Demogr�cas-ekhr2j).

4. Movimentos migratórios
Neste tópico, veremos os fatores que impulsionam os movimentos populacio-
nais, internacionais e nacionais. Estudaremos de�nições que, sabemos, são
carregadas de carga ideológica e histórica e, porque não dizer de senso co-
mum, sobre imigrante e refugiado. Dê início, o texto parte das classi�cações
utilizando o termo migração. E, em seguida, propõe uma análise a partir dos
fatores de ordem socioeconômica, culturais, políticos e de aspectos naturais.
Por �m, são colocadas situações nacionais e internacionais, identi�cando as
suas causas e contribuições para a formação de uma sociedade multicultural
e multiétnica. Retorne a obra Geogra�a da População (ARAUJO, 2016), anteri-
ormente citada, e leia as páginas 123 a 141.
 Vídeo complementar

Para encerrar esse tópico, sugerimos o vídeo do Canal Pesquisa Fapesp


(https://www.youtube.com/channel/UCYhTgGdeaBbbZ-h_LVJ_6bw), que
traz uma fala sobre a situação migratória e as razões da hostilidade aos
imigrantes atuais no país. E, em seguida, vídeo do canal Casa do Saber
(https://www.youtube.com/channel/UCtvvTFp0XANyllOdmzZr9VQ), que
procura responder por que o número de refugiados está aumentando no
mundo.

• Pesquisa Fapesp - Séculos de migração (https://www.youtube.com


/watch?v=c_JMoYXbZSM&ab_channel=PesquisaFapesp).
• Casa do saber - Por que o número de refugiados está aumentando?
(https://www.youtube.com/watch?v=GchFrFHByKo&ab_chan-
nel=CasadoSaber)

Neste momento, re�ita sobre sua aprendizagem respondendo à questão a se-


guir.

5. Considerações
Neste ciclo de aprendizagem, vimos como a Geogra�a da População é impor-
tante e não pode ser analisada separadamente do espaço geográ�co, o objeto
de estudo da Geogra�a. Desse modo, conceituou-se "população" e vimos os
fundamentos deste ramo da Geogra�a Humana. Vimos, também que este estu-
do não é novo e trouxemos uma análise desde a antiguidade até os tempos
atuais.

Na sequência, vimos alguns termos e conceitos que são amplamente utiliza-


dos na análise dos fenômenos demográ�cos e assim passamos para o estudo
do crescimento populacional, também trazendo elementos que permitiram a
análise desta estrutura, como a pirâmide etária, a estrutura ocupacional e as
teorias demográ�cas.
Por �m, vimos os fatores que impulsionam os movimentos populacionais.
Esperamos que, com essa base, você continue os seus estudos e tenha sucesso
na vida acadêmica e com a Geogra�a.

6. Considerações Finais
Nesta disciplina você teve a oportunidade de re�etir sobre temas relacionados
à Cartogra�a, Geogra�a Urbana e da População, os quais serão de muita valia
para a sua vida pro�ssional e formação continuada.

Para tanto, o estudo desta disciplina baseou-se em atividades práticas, englo-


bou a pesquisa bibliográ�ca e o hábito do questionamento, entre outros atribu-
tos que você, estudante da EaD, precisa cultivar. Nesse sentido, foi de extrema
importância a realização dos exercícios, aqui, propostos.

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