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XVI SIMPÓSIO NACIONAL DE ESTUDOS TECTÔNICOS

X INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON TECTONICS


22 a 24 de maio de 2017 | Salvador - BA - Brasil

ESTUDO PETROGRÁFICO E MICROTECTÔNICO DOS GRUPO PARANOÁ E CANASTRA,


NORTE DO DF E ENTORNO

Rafael Henrique Grudka Barroso1, José Oswaldo de Araújo Filho2, Edi Mendes Guimarães2
1
Universidade de Brasília – Programa de Pós-graduação, e-mail:
rafaelhenrique.grudka@gmail.com
2
Universidade de Brasília

1. INTRODUÇÃO
O presente estudo trata da caracterização de rochas pelíticas da porção norte e do entorno do Distrito
Federal, compreendendo rochas pertencentes aos grupos Canastra e Paranoá (Fig. 1; Faria 1995, Freitas-Silva &
Campos 1998, Dardenne 2000, Campos et al. 2013).
Contrariamente ao Grupo Canastra – caracterizado claramente como unidade metassedimentar de fácies
xisto-verde baixo – às rochas do Grupo Paranoá são atribuídas designações tanto de rochas sedimentares, tais
como ritmito, calcário e conglomerado, quanto de rochas metamórficas de muito baixo grau, como ardósia,
metassiltito e quartzito. A nomenclatura utilizada para as rochas do Grupo Paranoá tem tido como base aspectos
macroscópicos, como a presença de clivagem ardosiana, e da coesão/silicificação dos termos psamíticos. Assim,
embora sem apresentar feição metamórficas características às camadas a elas vizinhas e correlacionadas
estratigraficamente, é aqui aplicado o termo “meta”, de forma generalizada, como metarritmito, metassiltito e
metacalcário.
Para investigar a relação entre diagênese e tectônica nas rochas pelíticas do Grupo Paranoá foram feitas
análises de microscopia ótica, com enfoque nas estruturas microtectônicas, enquanto que as rochas do Grupo
Canastra foram utilizadas como o padrão de rocha metamórfica na fácies xisto verde baixo.

Figura 1 - Mapa de localização das áreas de estudos. Modificado de Dardenne 2000

2. GEOLOGIA REGIONAL
Os grupos Canastra e Paranoá (Faria 1995, Freitas-Silva & Campos 1998, Dardenne 2000, Campos et al.
2013), bem como o Grupo Bambuí, são inseridos na Faixa de Dobramento Brasília (FDB) de idade
Neoproterozóica, a qual é posicionada a oeste do Cráton do São Francisco (CSF) e leste da Província Tocantins
(Almeida 1977). Estas unidades mostram, a partir do CSF, intensidade crescente da deformação e metamorfismo
de leste para oeste (Dardenne 1978, 2000, Fuck 1994, Araújo Filho, 2000). Considerando as características de
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deformação, Alvarenga et al. (2012) definiu três domínios tectônicos: 1) deformado com envolvimento do
embasamento (Zona Interna); 2) deformado sem envolvimento de embasamento (Zona Externa); 3) Cratônico
não deformado. A região do Distrito Federal e seu entorno compreende a transição entre as zonas externa e
interna (Fuck 1994, Dardenne 2000).
O Grupo Canastra é uma sequência metassedimentar de fácies xisto verde, que no norte do Distrito
Federal (Fig. 2) é constituída por filitos (localmente carbonosos), com contribuição restrita de quartzitos finos e
mármores (Faria 1995, Araújo Filho 2000), atribuídos às formações Serra do Landim e Paracatu (Freitas-Silva &
Campos 1998). O contato com os grupos Paranoá e Bambuí faz-se através de falhas de empurrão e nappes
geradas no final do Neoproterozóico (Valente 1985, Araújo Filho 2000).
As rochas são constituídas por quartzo, moscovita, clorita e plagioclásio, confirmando uma paragênese
de fácies xisto verde, zona da clorita. Apresentam xistosidade concordante com o acamamento (S1//S0), dobras
abertas com superfície axial subvertical e clivagem de crenulação (Araújo Filho & Faria 1992, Lacerda Filho
1999).
O Grupo Paranoá é a unidade estratigráfica predominante no Distrito Federal (Fig. 2) composta
essencialmente por arenitos, pelitos e ritmitos, contendo também corpos carbonáticos. Os trabalhos de Faria
(1995), Faria et al. (1997), Freitas-Silva & Campos (1998) e Campos et al. (2013) detalham essas unidades.
O presente estudo trata das características petrográficas, mineralógicas e deformacionais de pelitos das
duas unidades do topo do Grupo Paranoá – R4 e PC, para verificar a influência da tectônica sobre os
filossilicatos.
A Unidade R4 (Formação Córrego Sansão - FCS) é representada por metarritmito argiloso formado
pelas intercalações centimétricas de metassiltito e metalamito argiloso com eventuais lâminas de quartzito fino
(Faria 1995; Campos et al. 2013).
A Unidade PC (Formação Córrego Barreiro – FCB) é dominantemente pelítica, com metassiltitos e
ardósias associados a quartzitos e lentes de rochas carbonáticas com extensão de centenas de metros até um
quilômetro (Campos et al. 2013). Nos níveis dolomíticos ocorrem estromatólitos com laminações variadas:
colunares, cônicas e esteiras horizontais (Faria 1995). Os quartzitos ocorrem em lentes métricas a decamétricas
ou em níveis contínuos lateralmente. Caracterizam-se pela granulação média, grossa a conglomerática, mal
selecionados (Faria 1995; Campos et al. 2013).

Figura 2: Mapa geológico do norte do DF com pontos de amostragem. Perfil AA' com exagero vertical de 12,5x.
Perfil BB’ com exagero vertical de 25x. Modificado de Freitas-Silva & Campos 1998, Alvarenga et al 2000.
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3. PETROGRAFIA E ANÁLISE MICROESTRUTURAL


O estudo petrográfico teve por foco a descrição das estruturas primárias e secundárias, com enfoque nas
microestruturas, texturas indicativas de processos diagenéticos/ metamórficos/ deformacionais. Esta análise deu
o suporte para a interpretação dos eventos de deformação e metamorfismo, bem como para distingui-los e
ordená-los.
As lâminas delgadas foram confeccionadas no Laboratório de Laminação do Instituto de Geociências –
UnB. As análises e as fotomicrografias foram realizadas em microscópio petrográfico Zeiss Imager A2.M

3.1. Grupo Canastra


No norte do DF afloram moscovita-quartzo filitos, calcifilitos e clorita filitos, indivisos no mapa
geológico, com domínios QF (quartzo - feldspático) e M (micáceo) bem definidos, apresentando sempre duas
foliações: 1) A foliação S1, marcada pela orientação preferencial dos filossilicatos, é levemente ondulada e
paralela a S0. 2) A foliação S2, proeminente no domínio M, é caracterizada por uma clivagem de crenulação
discreta que varia de zonada à contínua, de acordo com a proporção entre o domínio M e QF. Uma terceira
foliação – S3 – ocorre localmente, correspondendo à clivagem espaçada incipiente, discreta, paralela à superfície
axial das microdobras de S1. Há vênulas que cortam S1, por vezes deformadas.

3.2. Grupo Paranoá


Os Ritmitos pertencentes às unidades R4 e PC (formações FCS e FCB), objeto do presente trabalho,
mostram alternância de cores claras e escuras correspondentes, respectivamente, aos termos psamíticos e
pelíticos, podendo ser classificados como ritmitos arenosos ou siltosos, dependendo da proporção areia/silte. A
espessura das camadas e lâminas varia nos dois termos e pode ser milimétrica a decimétricas. No geral, a
composição dos arenitos e dos pelitos é bastante homogênea em todas as amostras analisadas.
O ritmito mostra foliação S1 incipiente paralela ao plano de acamamento, evidenciada pela orientação
dos grãos. Próximos as zonas de falhas contracionais, pode mostrar foliação S2 e estrangulamento das camadas
em lâminas pelíticas. Há duas gerações de vênulas e fraturas: 1) microjuntas e fraturas contendo cristais finos de
quartzo não-orientado, que apresentam rompimento e rotação sinistral dos agregados de quartzo. 2) fraturas
espaçadas a aproximadamente 3 mm, regulares, restritas aos domínios de arenitos finos.

3. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A Zona diagenética tardia, apresenta litologia típica de argilitos, siltitos e folhelhos (O’Brien & Slatt
1990). São característicos dessa zona a orientação preferencial dos grãos de acordo com o plano de acamamento,
formação de clivagens pouco penetrativas (Kisch 1983, 1991).
Anquizona baixa, mostra estruturas de intersecção em lápis e clivagem espaçada (Kisch 1991). Esses
pelitos apresentam microtrama paralela ao acamamento crenulado por uma clivagem ardosiana (Durney & Kisch
1994). Durante os estágios iniciais, formação de clivagem, rotação mecânica de grãos e dissolução por pressão
são os processos dominantes (Kisch 1991).
Anquizona alta é caracterizada por mudanças da clivagem ardosiana penetrativa para uma forte clivagem
filítica (Durney & Kisch 1994). Enquanto que a epizona é litologicamente marcada pelas ardósias e filitos, com
trama predominantemente metamórfica. Apresentam mais de um plano de clivagem e foliações Sn+1
proeminentes.
No norte do DF, feições diagenéticas/ deformacionais indicam 3 fases de litificação e deformação das
rochas do Grupo Paranoá. 1) os sedimentos foram submetidos a desidratação, compactação segundo S0,
compactação diferencial dos sedimentos e encurvamento das lamelas de filossilicatos; 2) fase Dex, de abertura
das fraturas e seu preenchimento; 3) fase D1, de cisalhamento incipiente, indicado pela formação de S1, paralelo
ao plano de acamamento, e estiramento tênue dos grãos de quartzo. A microtrama, orientada segundo o
acamamento, caracteriza a transição da diagênese para o anquimetamorfismo. Fases D2 e D3 sugerem ser
temporalmente muito próximas.
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Próximas as zonas de falha, é observada foliação S2 espaçada, penetrativa e presença de cristais de


quartzo com lamelas de deformação sub-basal. Caracteriza essas rochas em estágio de anquimetamorfismo alto.
Os dados obtidos neste trabalho permitem assumir, sob o ponto de vista da microtectônica que, no geral,
as rochas do Grupo Paranoá, na zona externa da FDB, se situam no estágio de diagênese a anquizona, não tendo
atingido fácies metamórfica.

Agradecimentos: À CAPES pela bolsa de estudos e auxílio financeiro que possibilitaram dedicação integral ao
desenvolvimento desse projeto. Ao Instituto de Geociências pela oportunidade de participar do Programa de Pós-
Graduação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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